Os efeitos da Contra-Reforma foram sentidos durante todo o século XVII e manifestaram-se fortemente na arte barroca. No século XVIII, entretanto, os esforços dos artistas e intelectuais concentram-se no combate tanto à mentalidade religiosa quanto às formas de expressão do Barroco. Assim, a arte neoclássica, que no Brasil se manifestou sob a forma de Arcadismo, procura resgatar o racionalismo e o equilíbrio do Classicismo do século XVI como meio de combater a influência do Barroco. Essa postura foi associada imediatamente à metáfora das “luzes”, que iluminariam a cultura barroca, dominada pelas “trevas” e pelo obscurantismo religioso. O grande símbolo da postura iluminista foi o físico Isaac Newton. Na base de seus estudos, a tríade definidora do Iluminismo: a Razão, a Natureza e a Verdade. No âmbito estético, o iluminista se mostra saudosista, buscando reviver os modelos da Antiguidade Clássica. Na Grécia Antiga, a Arcádia era uma região montanhosa, habitada por pastores. Já na Antiguidade, a região era vista como um lugar mítico, onde os habitantes associavam o trabalho á poesia. No século XVIII, Arcádia passa a designar as agremiações de poetas clássico-renascentistas que deveriam seguir as regras clássicas. Por esse motivo, a expressão Neoclassicismo passou a ser utilizada como sinônimo de Arcadismo. Características literárias do Arcadismo Desenvolvimento de temas bucólicos, ligados à natureza, retratando a tranquilidade da vida rural. Imitação dos antigos, principalmente nas referências à mitologia e na observância das regras de composição. Simplicidade linguística. Desenvolvimento de temas clássicos, referidos por expressões latinas que os definem: fugere urbem (fuga da cidade), aurea mediocritas ( valorização das coisas simples), locus amoenus ( lugar tranquilo), inutilia truncat ( “cortar o inútil”, eliminar os excessos). Designação dos poetas e suas musas como pastores e pastoras; os poetas adotavam pseudônimos latinos para eles e suas amadas. O ARCADISMO PORTUGUÊS O Ano de 1756 é marcado pela fundação da Arcádia Lusitana, assinalando a chegada do Arcadismo a Portugal. O Arcadismo português coincidiu com o momento em que o Marquês de Pombal ( Sebastião José de Carvalho) liderava a economia e a política do país. Nomeado primeiro-ministro pelo rei D. José I, procurou elevar Portugal à condição das demais nações européias Bocage nasceu em Setúbal (1765) e morreu em Lisboa (1805). A amada “Gertrúria” ( pseudônimo de Gertrudes da Cunha de Eça), casou-se com o irmão mais velho de bocage, durante o período em que este esteve em Macau, depois de ter desertado da carreira militar. Desiludido, entregou-se à vida boêmia. Convidado a ingressar na Nova Arcádia, adotou o pseudônimo de Elmano Sadino (anagrama de Manoel e referência ao rio Sado, que banha Setúbal). Sua poesia na fase inicial tem uma acomodação aos clichês árcades: pastores, pastoras, ovelhinhas, rios e pastos tranquilos. Uma vez livre dos clichês árcades, a poesia de Bocage floresce e passa a prenunciar um lirismo carregado de subjetividade e sentimento, próprio da estética do Romantismo. Olha Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores? Vê como ali beijando-se os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores! Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha para, Ora nos ares sussurrando gira. Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu não te vira, Mais tristeza que a morte me causara. BOCAGE, Obras de Bocage.