23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
III-196 - MONITORAMENTO MICROBIOLÓGICO DO LIXO EM LISÍMETRO NO
ATERRO SANITÁRIO DA MURIBECA
Fabrícia Maria Santana Silva(1)
Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade de Pernambuco – UPE; Bolsista do Projeto PROSAB pelo
CNPq/ UFPE e integrante do Grupo de Resíduos Sólidos – GRS/UFPE.
Perboyre Barbosa Alcântara
Engenheiro Civil Mestre em Geotecnia pela UFPB; Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de
Pernambuco (CEFET-PE) de 1993 a 2000 e Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceará
(CEFET-CE) desde 2000. Doutorando em Geotecnia pela Universidade Federal de Pernambuco.
Maria Alice Gomes de Andrade Lima
Doutora em Processos Químicos e Bioquímicos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Professora do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Chefe
do Laboratório de Microbiologia Ambiental e Membro do Grupo de Resíduos Sólidos – GRS/UFPE.
Maria de Los Angeles Perez Palha
Doutora em Processos Químicos e Bioquímicos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ);
Professora do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); Chefe
do Laboratório de Processos Biotecnológicos e Membro do Grupo de Resíduos Sólidos – GRS/UFPE.
Endereço(1): Rua Professor Pedro Augusto, nº 71, Jardim São Paulo - Recife - Pernambuco - CEP: 50910-510 Brasil – Tel: (81) 34554312- e-mail: [email protected]
RESUMO
Os aterros são amplamente utilizados para a disposição final de resíduos sólidos por serem considerados um
método eficiente de tratamento. A geração de resíduos sólidos urbanos é inesgotável e é um problema que
afeta todos os países mundo, pois toda e qualquer atividade da população de alguma forma, gera resíduos,
diante desse fato busca-se soluções para minimizar os problemas ambientais causados pela decomposição
desse material. Para melhor compreender o comportamento dos resíduos sólidos dispostos no Aterro da
Muribeca, foi construído um lisímetro com a finalidade de monitorar os parâmetros microbiológicos e físicoquímicos que ocorrem naturalmente na biodegradação em uma escala reduzida e sob condições controladas.
Este estudo teve por objetivo analisar o comportamento microbiológico aeróbio da biodegradação, para isso
foram quantificadas as bactérias pertencentes ao grupo coliforme, Pseudomonas aeruginosa, heterotróficas
aeróbias totais e os fungos. Observou-se que mesmo num período curto de monitoramento esses
microrganismos apresentaram valores bastante significativos.
PALAVRAS-CHAVE: Lisímetro, biodegradação, resíduos sólidos urbanos, bactérias e fungos.
INTRODUÇÃO
O problema dos resíduos sólidos no Brasil tem sido amplamente discutido na sociedade, por ser uma questão
de interesse político, econômico e social. Por muito tempo essa problemática foi negligenciada pela sociedade,
porém ao longo dos últimos anos, diversos estudos tem sido realizados com o propósito de avaliar os impactos
que as atividades humanas exercem sobre o meio ambiente (Jucá, 2003).
O acentuado crescimento populacional, associado ao crescimento do poder aquisitivo, ao aumento da
concentração urbana, a mudança de hábitos de consumo da população e ao desenvolvimento tecnológico e
industrial, são alguns motivos que justificam o aumento da produção de resíduos sólidos urbanos e as suas
variações qualitativas (Picanço, 2004). Nesse contexto faz-se necessário a busca de novas alternativas para o
destino final quanto para o estudo da biodegradação.
Os aterros municipais são considerados uma ameaça aos seres humanos e ao ambientes quando mal
gerenciados, devido à geração de lixiviado e de gases provenientes da elevada quantidade de material
biodegradável. O lixiviado pode causar a contaminação e poluição hídrica e os gases emitidos podem causar
problemas adversos à saúde, odores, perigo de explosão e ainda contribuem para o aumento do efeito estufa
(Kelly, 2002). Segundo Ilyin e colaboradores (2004) o gerenciamento de resíduos sólidos urbanos e a
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aplicação de novas tecnologias proporcionam benefícios para a segurança da humanidade e do meio ambiente,
por isso o estudo e aplicação da capacidade de biodegradação de microrganismos são de grande valor
científico.
Os resíduos sólidos constituem uma condição única para o desenvolvimento de diversas comunidades
microbiológicas. A degradação da fração orgânica dos resíduos sólidos se dá pela ação de diferentes
populações de microrganismos. Dentre os microrganismos presentes no processo de biodegradação às
bactérias apresentam maior destaque (aproximadamente 100%), pois elas podem extrair poluentes que se
combinam com o solo e a água e que, naturalmente, não são fáceis de serem removidos do meio ambiente
(Tortora et al., 2000; Liwarska-Bizukojc et al, 2002). Nesse contexto, é importante o estudo dos
microrganismos decompositores, sejam elas aeróbias e anaeróbias, por serem responsáveis pela formação de
lixiviado e geração de gases de grande impacto ambiental.
Os resíduos sólidos urbanos acumulados ao longo do tempo em aterros não são totalmente inativos. A mistura
de uma grande variedade química, sob a influencia de agentes naturais tais como, chuva e microrganismos,
desencadeia reações complexas, nas quais fazem parte mecanismos físicos, químicos e biológicos. O principal
responsável pela degradação dos resíduos sólidos é a bioconversão da meteria orgânica em formas solúveis e
gasosas e junto com o carreamento pela água de moléculas diversas originam os vetores de poluição em
aterros sanitários: o biogás e os lixiviados (Monteiro, 2003). O período de estabilização dos resíduos sólidos,
pelos microrganismos, pode levar muitas décadas e depende da composição dos resíduos e das condições do
aterro (Kelly, 2002).
De acordo com Komilis (2005) a decomposição de resíduos sólidos á afetada por todos os fatores que
comumente afetam o crescimento microbiano (temperatura, umidade, pH, nível de nutrientes) bem como pela
composição dos resíduos. Dentre os processo biológico de degradação de matéria orgânica dos resíduos
sólidos urbanos encontra-se a decomposição aeróbia que é realizada pela ação de diversas espécies de
microrganismos aeróbios. Esse processo ocorre logo após a deposição de lixo na célula, na presença de
oxigênio e os compostos orgânicos facilmente degradáveis encontrados nos resíduos podem ser decompostos
em intervalos de tempo significativamente curto, devido a entrada de ar e umidade (Hudgins e Harper, 1999).
No ciclo de vida de um aterro há também a fase anaeróbica de degradação, essa só ocorre na ausência de
oxigênio e permanece por toda a vida do aterro (Maciel e Jucá, 2002).
Uma das grandes dificuldades enfrentadas no desenvolvimento de pesquisas relacionadas a aterros em escala
real é o grande número de variáveis envolvidas no processo (especialmente no caso de aterro controlado),
além do elevado custo e da dificuldade de obtenção sistemática de dados sob condições conhecidas ou
controladas devido à própria dinâmica de operação do aterro. Para melhor compreender as interações físicoquímicas e biológicas que ocorrem em aterros de resíduos sólidos urbanos ao longo do tempo, faz-se
necessário desenvolver métodos que facilitem o estudo dos fatores que interferem no processo de
biodegradação. Um método eficiente é a construção de células experimentais em escala reduzida (lisímetros)
que representam uma técnica bastante interessante, barata e pode contribuir para uma melhor compreensão de
rotas metabólicas da degradação de produtos orgânicos e para obtenção de parâmetros de projeto,
dimensionamento, construção e operação de aterros. Várias pesquisas com células de dimensões reduzidas tem
sido conduzida com sucesso, como os trabalhos relatados por Youcai et al (2002) e Schiappacasse et al.
(1998).
Os lisimetros ou bioreatores são modelos de aterros em escala laboratorial, cuja finalidade é simular e acelerar
a decomposição aeróbia e anaeróbia dos resíduos, proporcionando o maior conhecimento dos processos
microbiológicos (Barlaz et al, 1989).
Este trabalho teve como objetivo acompanhar o processo de biodegradação de uma massa de resíduos sólidos
depositada dentro de uma célula experimental (lisímetro), através de análises de diversos parâmentros, entre
eles os microbiológicos. Esse monitoramento baseou-se na pesquisa de microrganismos aeróbios, tais como
aqueles pertencentes ao grupo coliforme, Pseudomonas aeruginosa, bactérias heterotróficas e fungos, visto
que são responsáveis pela primeira fase de degradação de matéria orgânica.
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MICRORGANISMOS
GRUPO COLIFORME
As bactérias do grupo coliforme são classificadas como bacilos Gram-negativos, não esporulados, aeróbios ou
anaeróbios facultativos pertencentes à família Enterobacteriaceae. São capazes de fermentar lactose
produzindo ácido, aldeído e gás em um período de 48hs de incubação em caldo lactosado a 35o C. Fazem parte
deste grupo bactérias pertencentes ao gênero Escherichia, Klebsiella, Enterobacter e Citrobacter (Gleeson e
Gray,1997 ). Estas bactérias são comumente encontradas no trato intestinal de animais de sangue quente, em
solos, vegetação, água e dejetos.
As bactérias classificadas como coliformes termotolorantes ou fecais, apresentam as mesmas características
do grupo coliforme (total), porém fermentam lactose e produzem gás quando incubadas a 44,5o C ± 0,2 por 24
horas. A espécie de maior destaque é a Escherichia coli, que tem como habitat exclusivo o trato intestinal de
animais de sangue quente, sendo consideradas o único coliforme fecal verdadeiro (Tortora et al, 2000).
Pseudomonas aeruginosa
São bactérias Gram-negativas, em formato de bastonetes, aeróbias estritas e que crescem a uma temperatura
ótima de 35o-37o C. Esses microrganismos produzem pigmentos (piocianina e flurosceína) solúveis que
fluorescem quando iluminados por luz ultravioleta e podem sintetizar uma grande variedade de enzimas
diferentes que contribuem significativamente para a decomposição de substâncias químicas (Freitas & Barth,
2004).
Estes microrganismos são de grande interesse médico–hospitalar, apresentam extrema versatilidade e poder de
adaptação e resistência a vários ambientes e antibióticos. São bactérias patogênicas oportunistas e causadoras
de infecções graves, além de serem comumente encontrados em águas, solos, plantas, dejetos, entre outros
ambientes. .Segundo Monteiro (2003) a presença dessas bactérias em resíduos sólidos podem indicar com que
velocidade os resíduos estão sendo degradados.
Tanto a bactéria Pseudomonas aeruginosa quanto os representantes do grupo coliforme, são considerados
agentes de risco biológico 2, isto é, são capazes de causar doenças em seres humanos e animais apesar de
geralmente não apresentarem perigo sério a manipuladores e ao ambiente (Hirata & Mancini Filho, 2002).
MICRORGANISMOS HETEROTRÓFICOS MESÓFILOS AERÓBIOS
A contagem deste tipo de microrganismos incluem todas as bactérias aeróbias e as anaeróbias facultativas que
crescem em aerobiose e temperatura entre 15o C a 45o C, com uma temperatura média de 35o C (Da Rosa,
2004). Essas bactérias participam da fase inicial de biodegradação, ou seja, fase aeróbia, e permanecem por
um período curto de tempo enquanto houver oxigênio disponível.
FUNGOS
São organismos eucarióticos, quimio-heterotróficos, necessitam de componentes orgânicos para energia e
fonte de carbono. A grande maioria dos fungos é aeróbia, porém há espécies anaeróbias facultativas e apenas
poucos, ainda não muito conhecido, são anaeróbios e se reproduzem por esporos, forma de reprodução ou de
resistência a agressões ou estresse externos (Tortora, 2000). Apresentam grande importância médica,
industrial e ambiental.
MATERIAL E MÉTODOS
DESCRIÇÃO DO LISÍMETRO
Um lisímetro foi construído no aterro da Muribeca em Pernambuco. O lisímetro é um biorreator representativo
de uma célula experimental de lixo em escala reduzida, dotado de sistema de drenagem de líquidos e gases,
tubos de coleta de amostras sólidas, medidores de recalque superficial (placas e disco magnético) e profundo
(disco magnético), temperatura, concentração e fluxo de gases, proporcionando a obtenção de parâmetros sob
condições controladas.
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O lísímetro em estudo foi construído em alvenaria e possui 3,50 m de altura, 2,00 m de diâmetro interno e um
volume total de aproximado de 11 m3. Este foi preenchido com resíduos sólidos homogeneizados provenientes
de três áreas da Região Metropolitana do Recife, os bairros de Casa Forte, Encruzilhada e Mangueira,
contemplando assim regiões de diferentes classes sociais.
Inicialmente foram realizados estudos gravimétricos da composição dos resíduos sólidos e análises
microbiológicas das amostras antes de serem depositadas no lisímetro, constituindo o ponto zero do processo.
Posteriormente as amostras de resíduos oriundas do biorreator foram analisadas mensalmente.
CARACTERÍSTICAS DO RSU
Segundo Maciel e Jucá (2002), o aterro da Muribeca recebe diariamente 3 mil toneladas de lixo doméstico,
industrial a hospitalar da cidade de Recife e Jaboatão doa Guararapes. A composição desse lixo é 60% de
matéria orgânica, 15% de papel, 8% de plástico e 2% de metal e vidro. Outros materiais como madeira, resto
de construção e solos são depositados separadamente mais representam 13% no total. De acordo com a
Tabela 1, que representa a caracterização gravimétrica, os resíduos que preencheram o lisímetro encontram-se
bastante próximos da realidade de um aterro.
Tabela 1. Caracterização gravimétrica dos resíduos.
Item
% do Peso Total
Materia orgânica putrescível
45,5
Papel e cartão
23,1
Plástico
19,9
Vidro
3,9
Metal
1,8
Trapos: Pano, couro e borracha
3,1
Fraldas
1,7
Outros
1,0
ENSAIOS MICROBIOLÓGICOS
PREPARAÇÃO DA SUSPENSÃO DE LIXO
As amostras sólidas do lisímetro foram coletadas de cinco pontos localizados em alturas diferentes. Dessas
cinco amostras foram feitas duas: uma amostra correspondente as duas primeiras profundidades (p1+p2) e a
segunda correspondendo as três ultimas profundidades (p3+p4+p5). As amostras sólidas foram suspensas em
água de diluição na proporção de 10% (peso/volume) e posteriormente as soluções foram agitadas em mesa
agitadora por 15 minutos. A seguir são feitas diluições sucessivas até 10-8. Esse procedimento tem a finalidade
de extrair o máximo de microrganismos a partir de amostra de lixo sólida e preparar soluções diluídas que
permitam a quantificação dos contaminantes em estudos.
DETERMINAÇÃO PARA COLIFORMES TOTAIS, TERMOTOLERANTES E Pseudomonas
aeruginosa
A pesquisa da bactéria do grupo Coliforme e gênero Pseudomonas foi fundamentada no Standard Methods for
the Examination of Wather and Wastewater (1998). Utilizou-se a técnica dos tubos múltiplos, que consiste no
inóculo de volumes decrescentes da amostra, em meio de cultura adequada ao crescimento dos
microrganismos pesquisados, sendo cada volume inoculado em uma série de tubos.
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Para análises da suspensão de lixo, foram utilizadas preferencialmente diluições da amostra original até 10-6,
usando séries de cinco tubos para cada diluição a ser inoculada. Os resultados são avaliados através da tabela
de Hoskins, que permite a obtenção de uma estimativa da densidade original das bactérias pesquisadas, através
da aplicação de cálculos de probabilidade que é expressa como NMP por grama (N.M.P. número mais
provável).
Para a determinação de bactérias do grupo coliforme, foi utilizado tubos contendo meio de Lauril Sulfato
Sódio e esses foram incubar em estufa a 35 oC ± 0,5oC durante 48 horas, após esse período, considerando
como resultado positivo todos os tubos que apresentarem formação de gás no tubo de Durham. Dos tubos
positivos foi transferido uma alíquota do meio fermentado em Lauril Sulfato de Sódio (aproximadamente 3
alçadas com o auxílio de uma alça de platina) para o meio de EC e após a inoculação, incubados em banhomaria a 44,5 oC ± 0,2oC, durante 24 horas., para a determinação de coliformes termotolerantes.
A bactéria Pseudomonas aeruginosa foi identificada utilizando tubos contendo meio asparagina e incubada
em estufa a 35 oC ± 0,5oC durante 48 horas, os tubos turvados considerados positivos foram transferidos uma
alíquota do meio de asparagina para o meio de acetamida , para a confirmação, e após a inoculação, incubados
em estufa a 35 oC ± 0,5 oC, durante 48 horas.
CONTAGEM DE BACTÉRIAS HETEROTRÓFICAS AERÓBIAS E FUNGOS
Para os ensaios de contagem de microrganismos foram utilizados dois meios de cultura, o ágar-glicosado
(GA) e o ágar-batata-dextrose (BDA), respectivamente para bactérias e fungos. Foi utilizado 1 ml das
mesmas diluições usadas para as analises anteriores , os ensaios em placas foram realizadas em duplicata. As
placas inoculadas foram incubadas em estufa a 350C por 48 horas para as que contêm o meio GA, e as com o
meio BDA permanecem durante cinco dias a temperatura ambiente. Ao final desse período as colônias
formadas são contadas e o resultado final expresso em Unidade Formadora de Colônias por grama (UFC ⁄g).
Para evitar contaminação nas placas utilizou-se uma 1ml de solução antibiótica de tetraciclina (50μg/ml) nas
placas com BDA, que impede o crescimento de bactérias e 1ml de uma solução antifúngica de Fluconazol
(50μg/ml) nas placas com GA, que impede o crescimento de fungos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de biodegradação da massa de resíduos sólidos dentro do lisímetro foi monitorado num período de
sete meses. No início dos ensaios microbiológicos (mês zero), que corresponde àqueles referentes ao
enchimento do lisímetro, as bactérias do grupo coliformes (coliformes totais) apresentaram valores altos na
ordem de 107 NMP/g. Este fato pode ser explicado por ter se trabalhado com uma amostra recém coletada, não
estando submetida às condições internas do lisímetro.
Ao longo do monitoramento mensal observou-se para a amostra 1 (P1+P2) uma leve diminuição no número de
coliformes totais até o mês 2, após esse período houve uma oscilação na faixa de 105 a 107 NMP/g,
possivelmente devido à precipitação pluviométrica ocorrida na região. Segundo Monteiro et al (2001), a
infiltração de água proveniente das chuvas, promove a entrada de uma quantidade extra de oxigênio dentro da
célula, aumentando assim o número de bactérias aeróbias ou anaeróbias facultativas e gerando uma
desestabilização do meio. Com relação à amostra 2 (P3+P4+P5), o perfil para essas bactérias mostra um
decaimento progressivo até o mês 5, no entanto com relação ao mês 7, ocorreu um aumento nesse grupo de
microrganismos devido provavelmente ao aumento do lixiviado no reator ( Figura 1).
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NMP/g
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1,00E+08
1,00E+07
1,00E+06
1,00E+05
1,00E+04
1,00E+03
1,00E+02
1,00E+01
Amostra 1
(P1+P2)
Amostra 2
(P3+P4+P5)
0
1
2
4
5
7
MESES
Figura 1: Análise quantitativa de coliformes totais (NMP/g) para as amostras 1 e 2 durante sete meses
de monitoramento.
NMP/g
Analisando a Figura 2, o comportamento apresentado para os coliformes termotolerantes na amostra 1 é
semelhante aquele observado na Figura 1 para os coliformes totais. Os coliformes termotolerantes da amostra
2 apresentaram um decaimento até o mês 2, permanecendo em oscilação na ordem de 103 a 105 NMP/g nos
meses seguintes até o último mês de amostragem.
1,00E+08
1,00E+07
1,00E+06
1,00E+05
1,00E+04
1,00E+03
1,00E+02
1,00E+01
Amostra 1
(P1+P2)
Amostra 2
(P3+P4+P5)
0
1
2
4
5
7
Meses
Figura 2: Análise quantitativa de coliformes termotolerantes (NMP/g) para as amostras 1 e 2 durante
sete meses de monitoramento.
O comportamento das bactérias heterotróficas aeróbias totais é visto na Figura 3. Inicialmente no mês zero,
estas bactérias apresentaram valores altos na ordem de 109 UFC/g. Trata-se de uma amostra recém coletada e
por apresentar uma quantidade matéria orgânica maior, facilita o crescimento microbiano. À medida que as
coletas foram realizadas foi observada uma redução dos valores na contagem para a amostra 1 até o mês 2,
porém nos meses seguintes ocorreu um aumento progressivo na quantidade desses microrganismos, esse fato
pode ser explicado devido a essa amostra ser mais superficial e está sujeita a uma maior entrada de oxigênio
no meio. O perfil apresentado pela amostra 2 foi bastante típico até o mês 5, mostrando uma redução
progressiva e bastante significativa nos valores , possivelmente devido a uma diminuição de oxigênio. No
entanto no mês 7 , a contagem da amostra 2 apresentou um valor alto na ordem de 107 UFC/g , diante disso
conclui-se que o material dentro do lisímetro ainda está sofrendo modificações físico-quimicas e biológicas.
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UFC/g
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1,00E+10
1,00E+09
1,00E+08
1,00E+07
1,00E+06
1,00E+05
1,00E+04
1,00E+03
1,00E+02
1,00E+01
Amostra 1
(P1+P2)
Amostra 2
(P3+P4+P5)
0
1
2
4
5
7
MESES
Figura 3: Contagem de Bactérias heterotróficas aeróbias totais (UFC/g) para as amostras 1 e 2 durante
sete meses de monitoramento.
NMP/g
Com relação às analises feitas para a bactéria Pseudomonas aeruginosa vistas na Figura 4, há uma constante
predominância na amostra 1, devido ao fato de ser uma amostra mais superficial e haver uma maior
disponibilidade de oxigênio. Para amostra 2 ocorreu uma acentuada diminuição, não sendo detectada nos
meses 2 e 4. Vale ressaltar que por ser um reator heterogêneo cuja composição física e química varia em
função da granulometria e acomodação do lisímetro, dificulta a transferência de nutrientes e oxigênio no
meio. Este fato explica os resultados obtidos neste período, uma vez que a P. aeruginosa necessita de
oxigênio para sua sobrevivência. No entanto, nos meses 5 e 7 para a amostra 2 foi observada a presença dessa
bactéria, indicando que ainda há oxigênio disponível na parte mais profunda do lisímetro, num ambiente
teoricamente escasso desse elemento.
1,00E+08
1,00E+07
1,00E+06
1,00E+05
1,00E+04
1,00E+03
1,00E+02
1,00E+01
1,00E+00
Amostra 1
(P1+P2)
Amostra 2
(P3+P4+P5)
0
1
2
4
5
7
Meses
Figura 4: Análise quantitativa de Pseudomonas aeruginosa (NMP/g) para as amostras 1 e 2 durante sete
meses de monitoramento.
Na Figura 5 encontra-se os resultados referentes às análises para fungos. Os valores encontrados para o
enchimento do lisímetro (mês zero) nas duas amostras são da mesma ordem de grandeza 105 UFC/g. Havendo
para a amostra 1 uma oscilação ao longo dos meses , com uma pequena redução dos valores no mês 5, no
entanto para a amostra 2 não foi detectada a presença de fungos no mês 4 , voltando a aparecer nos meses
seguintes. Diante desses fatos pode-se concluir que os valores relativamente altos referentes à amostra 1
ocorrem devido a constante entrada de oxigênio pela camada de cobertura, já que se trata de uma amostra mais
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superficial. Em relação a amostra 2 (mais profunda) apesar dos fungos serem microrganismos aeróbios, a sua
presença pode ser justificada pela entrada de ar , por haver oxigênio retido nos vazios devido a uma má
compactação ( Melo, 2003) ou ainda pode ser explicado pela presença de esporos, forma de resistência
produzida pro alguns microrganismos para suportar as agressões e estresse externos (Harper, 2001).
1,00E+06
UFC/g
1,00E+05
1,00E+04
Amostra 1
(P1+P2)
1,00E+03
Amostra 2
(P3+P4+P5)
1,00E+02
1,00E+01
0
1
2
4
5
7
Meses
Figura 5: Contagem de fungos (UFC/g) para as amostras 1 e 2 durante sete meses de monitoramento.
CONCLUSÕES
Apesar do monitoramento ter sido realizado em um período curto de sete meses, os valores para os
microrganismos aeróbios foram bastante significativos.
As análises para coliformes totais e termotolerantes apresentaram valores altos na ordem de 109NMP/g para o
mês de enchimento, havendo variações ao longo dos meses indicando a presença desses microrganismos em
ambas as profundidades.
Com relação à bactéria Pseudomonas aeruginosa, os valores para a amostra 1 foram em torno de 106 NMP/g e
para a amostra 2 foi verificada ausência em alguns meses. Esses resultados mostram que há presença de O2 em
todas as profundidades do lisímetro.
Os fungos e as bactérias heterotróficas aeróbias totais estiveram presentes em todos os meses de
monitoramento com valores significativos, demonstrando que as condições dentro do lisímetro para o
crescimento desses microrganismos são favoráveis e conseqüentemente, o processo de biodegradação da
matéria orgânica encontra-se satisfatória.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao PROSAB/FINEP e PRONEX pelo apoio financeiro.
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ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
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Monitoramento microbiológico do lixo em lisímetro no