Divulgação
visão de diversas religiões
sobre um assunto polêmico e
divergente
pg_3
Ligados
diretamente
com Deus
Aumenta número de pessoas que dizem
não precisar de religião para entrar em
contato com um ser superior
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
ABRIL/MAIO 2O12
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO - UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA - UNIVAP - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS | ANO 13 ED 01
Tabu: sexo antes
do casamento, é
pecado?
Artigo
A cada ano, uma turma
de alunos assume o
Foca em Foco, dando
uma nova identidade ao
jornal.
Em 2012, muitas coisas
do projeto editorial
adotado no ano anterior,
bem como as edições
monotemáticas foram
mantidas, mas como
resultado da inquietação
dos alunos que estão
assumindo a produção da
publicação, as temáticas
tornaram-se um pouco
mais polêmicas.
O assunto escolhido para
esta primeira edição,
após um acalorado
debate, sobre tabus
e possibilidades, foi
religião. Com isso,
surgiram vários
questionamentos
sobre o que era atual
e contemporâneo em
relação a um tema já
bastante debatido, mas
ainda polêmico.
O resultado foram
matérias que
apresentaram crenças
diferentes, as formas
como os jovens veem a
religião e se relacionam
com Deus, questões
que sobre a ótica das
igrejas se tornaram
tabus como o sexo e o
relacionamento entre
pessoas do mesmo sexo
e ainda matérias de
comportamento e sobre
como a religião pode
gerar pressões sobre as
pessoas ou libertá-las.
O resultado ficou
bastante interessante
e representa bem a
diversidade de ideias,
opiniões e pontos de
vistas desta turma
barulhenta.
Esperamos que todos
gostem e nos enviem
sugestões para novas
pautas e polêmicas.
A editora
EXPEDIENTE
JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO
DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
[FCSAC] TURMA 2012
Reitor: Prof. Dr. Jair Cândido de Melo
Diretor FCSAC: Prof. Dr. Manoel Otelino da C. Peixoto
Coord. de Comunicação Social - Jornalismo: Profa. Msc. Vânia Braz
de Oliveira
Editora-chefe: Prof. Areta Braga [MTB 38.005]
Projeto e Editor-gráfico: Celeste Marinho, Nathália Colt e Rod Reis
Logotipo: Rod Reis
Conselho editorial: Prof. Msc. Veriano Takuji Miura, Profa. Msc.
Vânia Braz de Oliveira, Prof. Msc. José Aparecido de Siqueira e
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Dúvidas&Sugestões
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2
Homossexualismo não é coisa de Deus?!
Paulo Rodrigo e Victor Copola
D
esde que o mundo é mundo, a religião
está em conflito com aqueles que não se
mostram dispostos a seguirem seus ditames, se curvem à seus dogmas e aceitem, inquestionavelmente, suas imposições.
Nessa eterna necessidade de demonstrar que seu
poder, desde tempos históricos, continua tão forte
e vigorante como outrora, a religião se tornou uma
faca de dois gumes. No básico da religião, o que se
sabe e o que afirmam padres, pastores, estudiosos
e afins, é que Deus veio para unir o homem e não
separá-lo. É nessa tecla em que, repetidas vezes
se bate, quando o assunto tem como foco os homossexuais.
Para a Igreja, não importa se o homossexual é um
bom filho, cidadão, neto, que tem deveres e obrigações para com a sociedade, pois antes de ser um
filho de Deus, ele é um “homossexual” e não um
ser humano. Todavia, o mais triste e vergonhoso
é ver a igreja dizendo que aceita o homossexual,
todavia não o aprova. Seria isso hipocrisia ou um
simples jogo do “manda quem é mais forte e obedece aquele que tem juízo”?
Venha para a missa, homossexual, mas não comungue, dizem os padres e pastores com palavras
sutis e cheias de maquiagem. Não comunguem
do corpo e do sangue de cristo, pois suas almas e
seus corpos estão em estado de pecado constante e permanente, é explicação dada por aqueles
que estão à frente do ritual da comunhão que não
permite a comunhão. Todavia, homossexual, seu
dízimo não é pecador e seu dinheiro é muito bem
aceito, obrigado.
Estamos no ano de 2012, nossa civilização é altamente avançada em incontáveis coisas e assuntos,
já descobriu a cura para várias doenças, inventou
os melhores e maiores meios de transporte e hoje,
devido à globalização, interage de uma forma incalculavelmente veloz. Será que, que mesmo com
todos esses avanços, somos tão retrógados que
precisamos nos esconder atrás do nome de Deus
para dizer que não gostamos, não queremos, não
suportamos e, principalmente, não aceitamos o
diferente? E como fica o homossexual, que como
cidadão, também ajuda para que todo esse processo e avanço aconteçam e seja possíveis?
Crônica
Religar
Lina Campos
Marta era uma mulher como várias outras, com o
plus de que não se entregava ao que fazia.
Ela tinha 30 anos, um filho de seis, o Betinho, o
marido, o Betão, e a cadela Perdeu, que recebeu
esse nome por ter se perdido várias vezes.
A rotina de Marta consistia em acordar, arrumar o
Betinho, levá-lo à escola, trabalhar como secretária
executiva, voltar às 18h, arrumar a casa, fazer o jantar
e, se os Betos deixassem, dormir.
O que era sonho de várias mulheres, ter uma família
para cuidar e um marido que a ajudasse, era um pesadelo para Marta.
Ela vivia aquilo como se fosse uma atriz. Como se a
qualquer momento um diretor dissesse “corta” e ela
sairia daquilo e viveria como ela mesma.
Marta não era feliz, mas viver daquela maneira era
melhor que brigar com a mãe e o padrasto todos os
dias. Já fazia 10 anos que não os via ou falava com
eles, mas as lembranças dos piores momentos a remoíam como se fossem recentes.
Quando ela voltava para casa era a hora que mais
chorava ao se lembrar deles. Marta chegava em
casa com a blusa encharcada e quando Betão perguntava o que era, ela dizia que era suor. Ele sabia
que não era, mas não insistia, porque sabia que ela
não se abriria com ele.
Outra coisa que assombrava Marta era o fato de não
sentir aquele amor pelo marido, o filho e a Perdeu e
isso a matava de culpa.
Marta pensou em várias vezes abandoná-los, mas
não o fazia, para não ser irresponsável como seu pai.
Uma depressão profunda a abateu. Ela não sabia
o que fazer, nem com quem contar, porque não
tinha amigos.
Em um domingo, aguando as plantas na frente
de casa, Marta chorou. Muito. A vizinha, vendo
aquilo, se aproximou e perguntou o que estava
acontecendo. Marta não respondeu e a vizinha a
convidou para ir à igreja. A secretária limpou as
lágrimas e disse que não tinha tempo. Dona Nélia
respondeu que Deus podia esperar quando ela
estivesse pronta. Marta entrou em casa e ficou
pensando naquilo. Dormiu e não fez o almoço.
Na semana seguinte, voltando do trabalho e chorando, sofreu um acidente. Ela bateu com um caminhão que tinha atravessado o sinal vermelho.
Marta sofreu escoriações, bateu a cabeça, quebrou o braço e rompeu a o tendão do joelho.
Quando acordou no hospital, o primeiro que viu
foi o Betão. Entre moleza e consciência, pediu
para o marido chamar a mãe dela.
_ Por que isso agora?
_ Eu poderia ter morrido... Beto?
_ Oi, tô aqui.
_ Eu amo você.
Demorou seis meses para o Betão encontrar
dona Rafaela. Marta fez as pazes com ela. Com
o padrasto já não poderia mais, pois ele tinha
morrido. Ela também saiu do emprego e pediu
desculpas para o marido, o filho e até a Perdeu. E
começou a ter novas ambições.
Foi para a igreja e agradeceu sinceramente tudo
o que tinha. E ganhou amigas, a dona Nélia e a
filha dela, Fernanda.
Religou-se a ela mesma, a família, a Deus e o
tendão do joelho. Marta teve de quase morrer
para se achar grata pelo o que tinha. E ela não
deseja que isso aconteça a mais ninguém.
Tabu: sexo antes do casamento, é pecado?
Mariana Guedes e Mayara Moleiro
D
esde que o ser humano existe o sexo faz
parte do seu cotidiano, seja para reprodução ou prazer. No entanto, o tema traz
muitas divergências entre as religiões e opiniões
pessoais. Em cada crença o ato sexual é visto de
uma maneira e tem uma importância.
O catolicismo, que é a religião com o maior número de praticantes no mundo, defende que dentro
do casamento a relação sexual existe tanto para
procriação quanto para dar prazer, mas a igreja
católica condena o sexo antes do casamento.
De acordo com o professor e blogueiro da Canção
Nova, comunidade católica brasileira fundada pelo
Monsenhor Jonas Abib, em 1978, Felipe Aquino, a
união sexual só tem sentido no casamento porque
só nele existe um “comprometimento” de vida conjugal, no qual cada um assumiu um compromisso
de �idelidade com o outro, para sempre, diante da
comunidade e diante de Deus.
Segundo a professora de catequese da Igreja
São Benedito de Caçapava, Daniele Lorenzão
Rocha, se um casal já iniciou sua vida sexual
sem ser casado e depois começou a frequentar
a igreja, é necessário que eles se confessem com
um padre, frei ou bispo.
Daniele alerta que depois de se confessar, o casal
deve abandonar o ato sexual até o casamento. Ela
ainda lembra a passagem bíblica que está em Salmos 32, versículo 5. “Então reconheci diante de
ti o meu pecado e não encobri as minhas culpas.
Eu disse: Confessarei as minhas transgressões ao
Senhor, e tu perdoaste a culpa do meu pecado”.
Já o espiritismo a�irma que não há nenhum tipo
de restrição com relação a compartilhar sentimentos e intimidade com outra pessoa antes da
formalização do casamento.
“Encontramos pela vida vários casais que ainda
não moram sobre o mesmo teto ou não formali-
zaram sua união perante a sociedade, mas dizer
que eles estão errados em compartilhar entre
si o amor e a intimidade não é correto”, a�irma
Fabio Mazzarino frequentador do Centro Mensageiros de São Francisco.
Ele ainda defende que o casamento conforme
conhecemos hoje é apenas uma formalização da
vontade de duas pessoas, seja social, religiosa
ou civilmente. “O fato de não haver esta formalização não modi�ica o sentimento entre estas
pessoas”, a�irma.
Mesmo sem esta restrição a prática sexual antes do casamento, os espíritas deixam claro que
deve haver muita responsabilidade de ambas
as partes. Amor e intimidade implicam em envolvimento e atitudes impensadas que podem
trazer mágoas e sofrimento para uma ou ambas
as partes. “Portanto o que se faz necessário é a
responsabilidade”, diz Fabio.
“Venerado seja entre todos o matrimônio e o
leito sem mácula; porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará”. O texto
de Hebreus 13, versículo 4 da versão Almeida
Revista e Corrigida da bíblia é uma das tantas
passagens que os evangélicos usam para explicar porque o sexo é considerado pecado quando
praticado fora do casamento. Dentro do universo protestante o sexo é visto como algo natural
e criado por Deus para satisfação, prazer e procriação do ser humano. Porém deve ser praticado apenas dentro de um matrimônio sólido e
selado perante Deus e a sociedade.
Para o pastor de jovens da Comunidade Cristã
Esperança e Vida, William Sousa, o sexo foi um
presente dado por Deus ao ser humano. “É bom
destacarmos que Deus não é contra o prazer sexual. Foi Ele quem fez o sexo e o deu de presente
para o ser humano”, a�irma William.
Divulgação
A visão de diversas religiões sobre um assunto polêmico e divergente
Porém ele passa a ser um “problema” quando não
está dentro daquilo que Deus estabeleceu como
padrão. “Quando nos criou, Deus sabia como poderíamos desfrutar plenamente do prazer sexual
dentro do casamento”, explica o pastor de jovens.
Os evangélicos a�irmam ainda que quando há um
ato sexual existe uma “ligação de almas” entre as
duas pessoas. Muitos pastores usam o seguinte
exemplo em suas pregações para demonstrar o
que acontece quando o sexo é praticado. Pegue
duas folhas de papel sul�ite, passe cola em uma
delas e grude na outra, deixe secar por uns minutos e depois tente descolá-las. Quando se tenta
fazer isso as folhas não se desgrudam totalmente,
�icando sempre o resto de uma na outra.
William a�irma ainda que o sexo é saudável quando praticado dentro de um contexto correto e que
Deus se agrada em ver que um casal tem vida sexual plena e satisfeita. “O sexo é saudável quando
você pode conciliar satisfação sexual, integridade,
compromisso, bem-estar a outra pessoa e um senso de auto-estima e dignidade. E isto só é possível
dentro do casamento”, completa.
Turismo religioso em Aparecida divide opiniões
Aparecida a cidade que recebe dezenas de romeiros todos os anos, vista pelos olhos dos moradores
Adenir Britto
Luma David
O
turismo religioso é uma atividade lucrativa para os moradores de Aparecida, cidade de São Paulo, que no ano de 2011 recebeu dez milhões e quinhentas mil pessoas, segundo
dados da prefeitura. Boa parte desses visitante são
romeiros que vem à Basílica de Nossa Senhora de
Aparecida, que é uma das maiores do mundo.
Nesse cenário pessoas ligadas ou não ao turismo
religioso vivem das mais diversas formas e professam diversos credos.
Jandira Donato é dona de uma ‘barraquinha’ na
feira mais tradicional da cidade. Ela não tem nenhuma religião, mas vive do comércio movido
pela fé, vendendo estatuetas e chaveiros da santa padroeira.“Não creio em nenhuma religião,
acredito em Deus, mas não vou a igreja desde
que o meu marido morreu”, disse Jandira, 52
anos viúva há 4.
A feira onde ela trabalha é muito grande e �ica
localizada nos arredores do Santuário. Trata-se de um atrativo à parte na cidade, onde se
pode encontrar de tudo um pouco, de artigos
religiosos a lembranças do município.
Encontrar alguém em Aparecida que viva desse turismo e a�irme não ser católico é algo di�ícil, porém
católicos não praticantes é o que mais se encontra.
Luís Paulo da Silva, 31 anos, solteiro é de Volta
Redonda e vive em Aparecida há 8 anos. Ele se
diz católico não praticante, vende calendários,
estatuetas, chaveiros e adesivos da santa. “A
padroeira já fez muitos milagres na minha vida,
mesmo sem eu frequentar a igreja”, disse.
André Augusto de Oliveira, 46 anos, é dono de
um restaurante frequentado pelos romeiros.
Apesar de ser evangélico, não vê nenhum problema em tirar o seu sustento da romaria. “Todos precisam de comida e Deus é algo muito
além da religião”.
Questionado em reação a Padroeira, André
disse que não acredita que ela faça milagres,
mas respeita a fé das pessoas.
Na cidade também vivem pessoas que não encontram no turismo religioso o seu meio de sustento, é
o caso da Ana Júlia Uchoa, de 23 anos que trabalha
em um escritório de advogados. Ela é estudante de
direito e católica não praticante.
Para Ana o turismo é fundamental para a cidade, já
que movimenta a economia local, mas ela reclama
da falta de lazer em Aparecida. “Não temos para
onde ir sábado de noite, é uma cidade que investe
tudo no turismo e acaba deixando de lado as necessidades dos moradores”, a�irma a estudante.
Basta andar pelas ruas de Aparecida para notar
imagens da santa padroeira por toda a parte. Fica
praticamente impossível desvincular a cidade da
basílica. Frequentadores de uma igreja evangélica
acham absurda a exploração dos romeiros.
“Eles �icam iludidos com as possibilidades de
milagres, uma imagem não vai salvar ninguém,
isso é comércio e só”, disse Ana Joaquina da Silva,
aposentada de 65 anos, evangélica.
Carlos AugustoPeneluppi é outro morador que
não aprova o turismo religioso,. “Trabalho em um
hotel, e não acho certo e vender coisa de santo
pela cidade toda, é chato porque eu sofro preconceito por ser de uma religião diferente”.
3
Ore a Deus e vote em mim
A presença de lideres religiosos na política aumenta a cada dia. O fato gera polêmica na sociedade
Helen Martins
Divulgação
Padre Afonso Lobato,
deputado do PV
T
odos os �inais de semana, a diarista, Regina Almeida vai ao culto da igreja e faz
a doação do dízimo.
A colaboração cobre os gastos de manutenção da
igreja e impulsiona a evangelização, costume tradicional entre igrejas cristãs. Regina mantém este
hábito desde que se tornou evangélica, há 16 anos,
quando também conheceu outra maneira de ajudar sua religião: votar em pastores da igreja que
são candidatos na politica.
“Os pastores pregavam durante as eleições e nos
orientavam que precisávamos votar nos políticos
da igreja Universal do Reino de Deus, para defendê-la contra perseguição”, a�irma.
Por este motivo Regina votou no pastor e vereador Roberto de Jesus. “Comecei a votar nele e em
outros pastores, depois que fui aprendendo na
igreja, mas eles não obrigaram”, explica.
Contudo a presença de lideres religiosos na politica não é exclusividade da igreja de Regina. Padres
católicos e representantes destas instituições são
cada vez mais comuns no meio político. Alguns nomes podem re�letir esta realidade: Pastor Adilson
Rossi, deputado estadual do PSB; Pastor Roberto
Lucena, deputado estadual do PV; Padre Afonso
Lobato, deputado estadual também do PV e deputado federal, Gabriel Chalita do PMDB.
Todos os políticos citados têm em comum o fato de
serem muito conhecidos principalmente nas igrejas católicas ou evangélicas. “Candidatos que usam
o codinome “Padre ou Pastor” durante a campanha, aproveitam deste arti�ício para conquistar
eleitores adeptos da mesma religião que eles professam”, a�irma o comentarista político, Jose Marcio Mendonça.
Segundo ele estes candidatos não conseguem muitos votos fora de grupos religiosos, mas facilmente
se elegem com os milhares de votos dos �iéis. Não
por acaso a bancada evangélica no Senado conta
hoje com 76 deputados evangélicos e três senadores. Já a bancada católica, não consta no sistema do
Congresso Nacional, segundo informou uma funcionaria da câmara dos deputados em Brasília, que
se identi�icou apenas como Lucimara.
Por falar em catolicismo, o engenheiro eletricista
e católico desde que nasceu, Thiago Holanda não
apoia a ideia de líderes religiosos serem candidatos na política. “Eu não acho legal porque são arenas diferentes, mas ter uma formação religiosa é
importante para o candidato”, diz o engenheiro.
Thiago acredita que a função da religião é educativa, onde aos poucos a pessoa aprende a ter uma
postura moral e ética. “O candidato tem que ser
moralistae fazer o que prega. Mesmo assim, não
votaria em um candidato apenas por ele ser um representante da igreja católica, e sim por suas propostas e histórico”, diz.
Mas lideres religiosos no meio politico tem sua
importância não apenas para alguns �iéis. O Governo também costuma aproveitar as vantagens
que eles têm a oferecer.
O jornalista Jose Marcio Mendonça cita como
exemplo de típica articulação para conquistar mais
eleitores, a nomeação do Bispo Marcelo Crivella
como Ministro da pesca. “Ele foi eleito como senador no Rio de janeiro, após uma série de acordos
Dogmas da fé sobre o homossexualismo
com o PT e com o PMDB, e um dos motivos para a nomeação foi atrair evangélicos para o governo”.
Mendonça explica que esta foi uma alternativa desesperada para não afastar eleitores evangélicos descontentes com o posicionamento de ministros a favor do
aborto e união homoafetiva no governo Dilma. “Fizeram isso para que os evangélicos não fossem contra a
candidatura do ex-ministro Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo”, a�irma.
Para o comentarista, eleitores e políticos protestantes, têm votos muito unidos, em função dos dogmas
e interesses que possuem. Já candidatos Padres não
conseguem tanto impacto sobre os eleitores, porque
segundo Mendonça, a igreja católica é mais difundida
e tem menos fanatismo.
Entretanto há alguns aspectos que trazem consequências para a sociedade. “Quando há momentos como
este, com uma negociação deste tipo, para entregar
um ministério como o da pesca ao Crivella por causa
da posição religiosa do grupo, você tem uma de�iciência ética”, conclui.
Já o ateu, atendente de telemarketing e estudante de
publicidade e propaganda, Jean Pitta, acredita que é
válido ter pessoas e religiões diferentes no meio político para ajudar a democracia. “Porém sou contra uma
bancada, partido ou estado inteiro, com representantes da mesma religião”, diz.
Jean defende um estado laico, e conta que já fez opções
improváveis para um ateu. “Existem exceções entre
estes candidatos, tanto que eu já votei em um padre.
Porque as propostas dele pareciam mais atraentes ou
mais viáveis.”
Segundo o professor e especialista em Marketing politico, Marcelo Pimentel, os estudos demostram que
a emoção é a responsável pela decisão eleitoral. “As
campanhas políticas têm que estar ligadas ao imaginário popular, e quem emocionar mais o eleitor, tende a
vencer a eleição”, diz.
Pimentel explica que candidatos que são lideres religiosos trazem consigo valores que constroem uma
relação diferenciada com o eleitor, o que lhes garante vantagem com relação aos demais candidatos.
A participação de homossexuais nas igrejas gera polêmica e descontentamento
Rodrigo Martinis e Victor Copola
U
ma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) fez um levantamento do mapa das
religiões no Brasil e mostrou uma queda de
7,26% no número de pessoas que se declararam
católicas. Em 2003, eles representavam 73,79%
da população, contra 68,43%, em 2009. O estudo
também apontou um signi�icativo aumento no numero de brasileiros que se declaram ‘sem religião’.
Em 2009, eram 6,72%, seis anos antes esse índice
era de de 1,59%. Diversos fatores levaram a essas
mudanças no ‘status religioso’ da população, entre
eles discordâncias com dogmas relacionados à sexualidade e a outros comportamentos.
A professora universitária Celeste Marinho é católica praticante e não acredita que o homossexualismo deva ser considerado pecado. “O mundo
mudou e seria interessante que a igreja acompanhasse a mudança, pois só assim teríamos mais �iéis dentro das igrejas e menos espaço para certas
discriminações”, comenta.
O estudante Danilo Dantas (nome trocado para
preservar entrevistado), 21 anos, nasceu em uma
família católica fervorosa e cresceu seguindo os
ensinamentos religiosos, mas quando se descobriu homossexual começou a se sentir culpado e
buscar formas de se penitenciar. “Fui até Aparecida a pé. Quando cheguei lá, fui à Basílica me confessar com um padre e contar tudo que se passava
comigo. Para minha surpresa, ele disse que minha
opção não era pecado e que exercer esse amor
também não. Pecaminoso seria se eu fosse um
�ilho ruim, uma pessoa que não ajudasse os
mais necessitados, não fosse temente a Deus e
não o amasse como Senhor de todas as coisas”,
recordou.
Em entrevista para o programa ‘De Frente com
Gabi’, apresentado no dia 20 de junho de 2011, o
4
padre Fábio de Melo a�irmou que a igreja tem muita consciência de que precisa descobrir uma forma
melhor de tratar os homossexuais. ‘Ela precisa descobrir um jeito de acolher quem tem o problema
da homossexualidade e tentar resolver esse con�lito moral. Converso com pessoas que enfrentam
isso no dia a dia e já ouvi de muitos que se pudessem escolher, jamais teriam nascido assim”, contou.
Para alguns homossexuais, a religião não tem muita importância e in�luência, mas a fé em um Deus
protetor sim. “Meu relacionamento com Deus é
muito próximo. Antes de sair de casa, faço uma
oração pedindo por segurança, caminhos sempre
Para o pastor Eucélio Pereira da Silva, da igreja
Adventista do Sétimo Dia, de acordo com a bíblia
e com sua própria interpretação, o amor gay é pecado. Segundo ele, a lésbica, o homossexual, o travesti ou qualquer outro gênero cuja atração se dê
por alguém do mesmo sexo são acolhidos na sua
igreja. “O que é bem diferente de participar de alguns ritos, pois eles estão vivendo em pecado de
acordo com Romanos, capítulo 1, versículo 22,
que diz que viver em homossexualidade é viver em
‘loucura’”,explica
Ao ser questionado sobre a opinião das igrejas
com relação a sua pro�issão e condição sexual,
abertos e iluminação. Não me sinto amparado se
não faço isso. Não vejo nada de errado em sentir
amor pelo mesmo sexo, seja ele fraternal, sexual ou
incondicional. Pecado para mim é outra coisa”, diz
o ator Marcelo Macrina, que há cerca de 20 anos
interpreta a drag queem Morgana Loren.
Segundo a estudante, futura seminarista e frequentadora da Primeira Igreja Batista de Mogi das Cruzes, Fernanda Sonnewend, a religião ama o homossexual, mas não concorda com a opção sexual dele.
Após uma entrevista feita por telefone, ela deixou
claro que a religião prioriza o que a Bíblia prega,
acreditando que um casamento entre pessoas do
mesmo sexo, por exemplo, não pode ser realizado
por não haver a possibilidade de procriação.
Marcelo a�irma que nunca conseguiu pensar que
sua escolha fosse errada. “Ela, a personagem, é a
melhor parte de mim! Minha beleza, con�iança, carinho sem pudor, meu sorriso mais aberto, minha
criatividade exposta para quem quiser ver. Mas ela
é uma parte de mim e não tudo o que eu represento”, explica.
Durante a entrevista, ao ser questionado sobre o
fato de acreditar se Deus aplaudiria sua personagem, Marcelo sorriu e a�irmou que acreditava que
sim. “Porque pra mim ele quer ver seus �ilhos felizes e espalhando felicidade. E eu me sinto feliz
ao interpretar minha personagem e sei que estou
espalhando um pouco de alegria para quem me
assiste, se não fosse assim, não o faria”, encerrou.
Relacionamento e religião se põem a mesa
Felicidade para uns e tristezas para outros, essa é a realidade dos casais de crenças diferentes
C
ada religião tem seus símbolos, tradições
e costumes e muitos casais são de crenças
antagônicas. A união destas pessoas tem
se tornado comum nos dias de hoje e quando
elas aceitam essa escolha dentro do relacionamento, a convivência, pensamentos e ideias acabam se adaptando.
Segundo a Psicóloga Letícia de Oliveira a religião
é uma instancia da sociedade, que possui leis
próprias, assim como o estado e ela pode interferir muito na relação dos casais.
Ariane Martins, 21 anos, pratica há sete anos a
religião Cristã Protestante, que tem como características não seguir rituais, símbolos, não adorar ídolos e imagens, namorou Felipe Moreira
que é praticante da religião Hare Krishna, durante seis meses.
Ao conhecer o ex-namorado, eles tiveram alguns
contra tempos porque os familiares e amigos
dela, não apoiavam o namoro devido a diferença de religiões. Já ela nunca foi rejeitada, pelos
poucos familiares e amigos dele que conheceu.
Ariane acreditou que o relacionamento poderia
dar certo, pois em ambas as religiões o sexo é
permitido somente após o casamento.
Com o desgaste causado pelas diferenças religiosas, o casal percebeu que não tinha o mesmo
objetivo de vida e que nenhum dos dois estava
disposto a mudar de crença. “Acredito que foi
Amanda Germano
Amanda Germando
“Piamente acredito que foi Deus que
nos afastou.”
Deus que nos afastou. Estava totalmente apaixonada! Então comecei a pedir para Deus me
desse uma solução e que o Felipe terminasse comigo, pois nem mesmo com a razão me dizendo
que eu deveria terminar o coração não deixava”
diz Ariane.
“Ter uma pessoa muito diferente de nós, nos faz
sentir menos próxima, menos vinculada a ela” a�irma a psicóloga.
Seis anos de uma história linda e real, é assim que
Paloma Monteiro, 25, e Daniel Maciel, 31, de�inem
a realação que têm. Ele é Evangélico e ela é Católica.
O casal que já está de casamento marcado passou por pequenos desconfortos no começo do
relacionamento, mas com o tempo foram se
conhecendo e perceberam que isso não atrapalharia no crescimento do namoro. “Acreditamos
que para dar certo, um relacionamento precisa
ser construído de amor e de fé”, conta Paloma.
As igrejas e familiares aceitaram muito bem
suas escolhas, a cerimônia será ecumênica com
a presença de um padre e um pastor, para se casar Paloma e Daniel terão apenas que fazer um
curso de noivos, em cada uma das duas igrejas.
Por existir muitas coisas em comum entre suas religiões, cada um consegue seguir sua doutrina e fé
tranquilamente. Quanto aos �ilhos que pretender
ter, eles a�imam que os educarão como cristãos. “O
que importa para nós é que eles sejam bons cristãos, evangélicos ou católicos”.
Arlete Soares casada há cinco anos era Católica não
praticante, antes mesmo de se casar se converteu
para a religião de seu marido Dárcio Aquino, membro da Igreja Evangélica Presbiteriana (IPE). “Tive
o prazer de conhecer a palavra de Deus, aceitar o
Senhor Jesus como meu único salvador e entender
o verdadeiro signi�icado do casamento”, Arlete conta com entusiasmo.
O casal espera que os �ilhos sigam a mesma religião,
por isso desde já as crianças os acompanham a igreja.
A intolerância religiosa ataca por outros fronts
A ilusão de segurança e impunidade dadas pela internet são os principais motivos que levam internautas a falarem mais do
que deveriam
Rod Reis
Arthur Rodrigues
O
s religiosos encontram na internet um
interessante meio para propagar suas
crenças e conquistar novos adeptos para
sua fé. Mesmo sem esforço dos líderes, os adeptos de cada religião se encarregam de disseminar informação, criando publicidade gratuita
para cada instituição e assim aumentando o número de seguidores.
Porém, a internet é apenas um re�lexo da sociedade, com isso, os vários problemas já existentes no mundo real acabam se transferindo para
o novo ambiente. Entre deles, a intolerância
religiosa, que se tornou mais forte e perigosa.
Ela pode acontecer contra praticantes todas as
crenças, ou até mesmo contra aqueles que se
declaram sem religião.
Em 2010, o jornalista brasileiro e apresentador
do programa Brasil Urgente, José Luiz Datena,
fez declarações preconceituosas contra ateus.
“Tudo isso só pode ser coisa de gente que não
tem Deus no coração, de gente que é aliada do
capeta, só pode ser”, a�irmou o jornalista em
uma edição do programa Brasil Urgente, em
julho de 2010. De acordo com o Ministério Público Federal, o apresentador fez comentários
preconceituosos por 50 minutos de programa.
Com a sensação de impunidade trazida pela in-
ternet, situações pouco convencionais no mundo real acontecem com freqüência na rede. Adeptos religiosos, principalmente jovens, não medem
palavras para criticar rituais e seguidores de outra
crença, sem se preocupar com consequências.
Um exemplo é o jovem Matheus Sousa Lima,
estudante colegial com histórico de brigas na
internet. “Eu sou ateu e acho divertidíssimo
quando algum crente vem com aquele mesmo
discurso de sempre e tenta me converter. Não
posso deixar de trollar (sic)”, disse o jovem. “Algumas pessoas levam muito a sério. Para mim, é
tudo brincadeira, mas ouvi dizer que teve gente
que já foi processada por coisas que falou na internet, por isso tento manter o nível e não entrar em problemas”, completou.
Enquanto muitos jovens pensam da mesma maneira que Matheus, outros pouco se importam
com o que dizem, esquecendo que o que foi dito
nas redes sociais, pode trazer problemas.
Diferente do que muitos jovens acreditam a
internet não uma área sem lei. Coisas ditas em
redes sociais, principalmente, �icam guardadas
por muito tempo e podem ser usadas contra
quem as escreveu.
O caso mais recente e famoso foi com a estudante de direito Mayara Petruso, que durante
as eleições de 2010, colocou comentários preconceituosos no Twitter, contra nordestinos. A
estudante foi processada pela Ordem dos Advogados do Brasil secção Pernambuco (OAB-PE).
Em seguida, ela se desligou do escritório de advocacia onde estagiava.
“O direito virtual ainda tem de evoluir muito,
mas existe responsabilidade sim, e punições”,
contou o advogado criminalista Arthur Frasca
Grillo. “Às vezes é di�ícil provar, mas caso consigam, a pessoa pode ser processada sim”.
A diversidade de religiões sempre existiu, e com
isso os intolerantes que não respeitam uns aos outros. Os maiores exemplos são a inquisição e o holocausto, ambos que consistiram de perseguições
gigantescas contra �ieis de alguma religião.
No Brasil, crenças afro-brasileiras, como batuque, candomblé e umbanda são exemplos de
algumas das religiões que mais sofrem preconceito no país. Uma pesquisa feita pela Ponti�ícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) sobre religiões afro-brasileiras no estado
do Rio de Janeiro apontou diversos casos de intolerância religiosa. Dados identi�icaram que de
847 templos, mais da metade, 451 foram vítimas
de algum tipo de ação que pode ser classi�icada
como intolerância em razão da crença ou culto.
5
Fotos: Danilo Sardinha
''Não gosto de rótulos de religiosidade, como cristão e pertencente a uma igreja evangélica. Prefiro
ser chamado simplesmente de
cristão.'' (Lázaro de Carvalho)
''Da mesma maneira que não acho correto
viver exclusivamente em prol de Deus, não
me sinto no direito de exigir milagres ou
coisa do tipo. Prefiro ter Deus como essa
figura de conforto a tê-lo como milagreiro.''
(Arthur Costa)
“Brasileiros têm passado a procurar
Deus fora das igrejas”
6
Ligados
diretamente
com Deus
Aumenta número de pessoas que dizem não precisar de religião para entrar em contato com um ser superior
Danilo Sardinha
A
rthur Costa, 24 anos, não segue os dez
mandamentos. Para ele, a arte de viver
requer apenas um: praticar o bem. A
partir deste princípio, acredita estar em sintonia com Deus mesmo sem ter o hábito de frequentar templos ou igrejas.
O pensamento do jovem jornalista é semelhante
ao de uma parcela que cresce, cada vez mais, na
sociedade. Dados dos últimos censos demográ�icos, realizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro
de Geogra�ia e Estatística), comprovam a crescente. Em 1991, 4,7% dos brasileiros diziam
acreditar na existência de algo superior sem ter
uma religião. Já nos anos 2000, este número saltou para 7,4%, o equivalente a cerca de 13 milhões de pessoas.
“Não preciso de um padre, um pastor, ou alguém
semelhante, para me dizer o que é certo ou errado”, a�irma Costa. “Procuro fazer o bem por convicção própria, independente de religião. Desde
que me lembro de tomar minhas decisões, sempre optei por manter certa distância da igreja”.
A falta de a�inidade com os grupos religiosos foi
o motivo para este distanciamento. Criado por
uma família católica, com alguns membros fervorosos inclusive, Arthur chegou a frequentar
missas na infância. As pregações do padre, entretanto, não iam ao encontro com a visão que
tem da vida.
Mesmo assim, Arthur diz que respeita todas as
religiões. O papel social desempenhado por elas
desperta a admiração do jovem. A�inal, ajudar o
próximo para ele é fazer o bem e, consequentemente, se aproximar de Deus.
“Enxergo Deus como uma espécie de razão, um
porto seguro. Em momentos de di�iculdades, é
sempre bom ter a �igura de alguém que possa
lhe mostrar o melhor caminho”, destaca.
Tendência – Para o livre-docente em sociologia
pela USP, Reginaldo Prandi, o comportamento
do jornalista Arthur Costa é re�lexo da nova fase
vivida pela sociedade brasileira. Especialista na
sociologia da religião, ele a�irma que este momento se dá desde que houve o rompimento entre o Estado e a Igreja no Brasil.
Antes da proclamação da república, em 1889, a
Igreja Católica exercia forte in�luência nas decisões civis do país. A certidão de nascimento, por
exemplo, era emitida pela igreja. Desta forma,
uma pessoa precisava ser católica para ser considerada cidadã.
“Hoje, todos são livres para seguir a religião que
quiser. Tanto que é fácil encontrarmos famílias
em que seus membros têm crenças diferentes”,
diz Prandi. “A religião agora está condicionada
apenas ao tratamento do indivíduo. Porém, algumas pessoas não precisam de um líder religioso para acreditar e con�iar em Deus”.
Segundo o sociólogo, o número de pessoas sem
religião deve aumentar nos próximos anos,
principalmente em regiões onde a igreja tem
menos in�luência sobre a sociedade.
“Os jovens são maioria neste grupo sem religião
porque ainda estão na fase de escolhas, enquanto os mais velhos já passaram por isso. Em meio
a este momento da sociedade, alguns deles preferem não seguir uma religião.”
Igrejas – A realidade, no entanto, não assusta
as duas maiores religiões do Brasil. Católicos e
evangélicos, que juntos correspondem a quase
90% da população brasileira de acordo com o
IBGE, enxergam com naturalidade esta crescente de pessoas sem religião. Para eles, a fé em
Deus deve estar acima de tudo.
O ministro Lázaro de Carvalho, da Primeira
Igreja Batista de São José dos Campos, é um dos
que compartilham dessa ideia. Segundo ele, o
foco do cristianismo deve priorizar o ser humano, mas lamenta que as religiões cristãs esqueçam isto em alguns momentos.
“O indivíduo pós-moderno criou uma religiosidade interiorizada e subjetiva”, comenta Carvalho. “Daí o pensamento de muitos teólogos
de que o mundo nunca foi tão espiritual como
agora, mas uma boa parte das pessoas está fora
das igrejas”.
A opinião é semelhante ao do Padre Reginaldo
Braga, membro da Congregação dos Padres do
Sagrado Coração de Jesus. Ele, entretanto, faz
uma ressalva:
“Os jovens são os mais afetados por uma onda
individualista, que surge principalmente na internet. Por isso, acabam querendo viver a fé ao
seu modo, sem compromisso, sem deveres. Só
que também perdem os direitos e o convívio
com um grupo que alimenta e esclarece a fé.”
Para atrair mais �ieis, ambos a�irmam que as religiões precisam mudar alguns conceitos, como
a linguagem e a forma de enxergar o ser humano. Tudo em prol não apenas da sobrevivência
dos grupos religiosos, mas, principalmente, da
fé no Brasil.
“Tradicionalmente religioso, Brasil
vê fé da população crescer fora das
igrejas”
7
A origem dos Sete Pecados Capitais
Saiba mais sobre esse conceito tão falado
Jéssica Almeida
M
enino não seja guloso, cuidado com a
vaidade mocinha, olha a preguiça. Quase todo mundo já ouviu isso. Os pecados capitais são de conhecimento da maioria das
pessoas, mas você sabe de onde eles vieram?
Tudo começou com o papa Gregório Magno no
século seis que com base nas Epístolas de São
Paulo, cartas do Apóstolo Paulo do Novo Testamento da bíblia, decretou como os sete principais vícios de conduta: gula, luxúria, avareza, ira,
soberba, preguiça e inveja. Mas estes só foram
o�icializados como os pecados capitais pela Igreja Católica no século 13, com a Suma Teológica,
documento do teólogo são Tomás de Aquino.
Mas porque pecados capitais?
Capital vem do latim caput, que signi�ica cabeça,
líder ou chefe, ou seja, o objetivo é mostrar que
essas infrações são as principais, sendo a base
para todos os outros pecados. E dentre esses sete
principais pecados que os humanos podem cometer, a soberba é o mais grave, pois é nele que
se encaixa o pecado original, quando Adão e Eva
comeram o fruto proibido da árvore do conhecimento, com o desejo de se igualarem a Deus.
Esse conceito dos pecados capitais é utilizado
como base nas religiões cristãs, mas outras
também acreditam como a messiânica e a espirita kardecista.
Porém outras religiões não creem na con�issão,
que é uma das bases da Igreja Católica, por meio
da qual o �iel tem a garantia de segredo para confessar as coisas erradas que fez para um padre.
Para a dona de casa católica Cláudia Maria
Nunes Serra, 46 anos a confissão serve para
todos os fiéis receberem o perdão por seus
pecados e assim darem um passo decisivo no
caminho da conversão.
Já para a estudante e messiânica, Karolen Passos,
17 anos a con�issão é algo forçado. “Dizer que
o verdadeiro católico precisa se confessar é o
mesmo que forçá-lo a fazer tal coisa. A con�issão
deveria ser algo mais leve, opcional. Se a pessoa
sente algum aperto ou passa por algum proble-
ma, vai até o padre, conversa com ele e pede auxílio. E não algo que você deve fazer sempre.”
A in�luência do pecado existe na vida do religioso, porém a intensidade em que eles intervêm
na vida das pessoas depende de sua fé.
“Posto que o pecado é um conceito, não me in�luencio por eles. Eu pecaria ainda que os desconhecesse. Não deixo de sentir preguiça num
�im de tarde ou faço gula diante de um prato que
me agrada porque isso é considerado pecado”,
disse Isabella Rabello Silva, 19 anos , estagiária
de jornalismo.
Enquanto muitas pessoas se �lagelam por pecar,
outras não se sentem presas por medo da punição prometida.
Essa temática de sete pecados é muito explorada pelas artes em geral, existem muitos quadros
sobre esse assunto como o famoso do pintor
neerlandês Hieronymus Bosch, além disso é
bastante usado como tema na moda, em livros,
novelas e peças teatrais.
“Os Sete Pecados Capitais são muito explorados por aí como temática pra coleção de roupa,
novela, séries, �ilmes. Já vi até mesmo no cardápio de um restaurante, em que cada drink
correspondia a um pecado, acredita?”, conta
Isabella Rabello.
Com tudo isso, �ica a pergunta, qual a real importância dos sete pecados capitais para a sociedade
como um todo? A Igreja Católica os o�icializou e os
usa como doutrina, para guiar seus �iéis. Já para os
que não acreditam nesse conceito, ele apenas é um
senso comum que não afeta suas vidas.
“Cada ser humano controlando o exagero destes
pecados ou deixando de cometê-los, ajuda para a
construção de um mundo melhor. Na minha ignorância, eles foram criados para evitarmos o desastre que seria se ninguém soubesse de sua existência assim não tentando controlá-los para ser uma
pessoa melhor. Esta então seria a sua importância
no mundo: Evitar um desastre maior do que o que
vivemos no tempo atual”, explica Karolen Passos.
Wicca, a religião dos Deuses
Wicca envolve mistério, sedução e magia
Barbara Stephanie
U
ma das mais antigas religiões do mundo, a
wicca, desperta sentimentos contraditórios
nas pessoas. Escritores, cineastas, pintores
e músicos atraídos pelos mistérios do wicca criaram obras baseadas nessa religião, como a pintura. “O nascimento de Vênus”, o livro “As Brumas de
Avalon” e o �ilme “As Bruxas de Blair” são exemplos
dessa inspiração.
Devido a essa exposição o número de seguidores e
curiosos em conhecer essa religião aumentou. Por
outro lado também cresceu o número de pessoas
que repugnam e têm medo, porque muitas vezes
os artistas que abordam esse gênero distorcem o
paganismo e abordam o satanismo.
Na região do Vale do Paraíba o número de pagãos
aumentou, um exemplo é o encontro de pagãos
que foi criado em 2009 e dois anos mais tarde se
transformou em uma convenção. A princípio eram
5 participantes e atualmente cerca de 20 pessoas
frequentam os encontros, que são realizados em
parques da região, uma vez por mês.
Segundo um dos fundadores da Convenção de
Pagãos e Bruxos no Vale, Felipe Castro, a ideia de
criar uma convenção surgiu em conversa com um
amigo. “A intenção dos encontros é reunir os pagãos
e intercambiar estudos, com palestras, workshops,
debates, focando em temas relacionados ao Paganismo e à Bruxaria e que visa fortalecer o sentimento de comunidade pagã e bruxa.”, a�irma Felipe.
Castro, a�irma que o preconceito ainda é muito
grande. “Já passei por situações de preconceito, mas
nada que através de uma postura �irme e muita con-
8
versa e informação não resolvesse. O melhor é nunca �icar passivo diante da situação, sempre que possível buscar trazer conhecimento que é a melhor
arma contra qualquer tipo de preconceito”, disse.
Para Jéssica Aureliano, 20, estudante, católica, a
religião é interessante embora ela a�irme que não
conhece muito sobre o assunto, mas mesmo assim
não tem preconceito. “Conheço muito pouco sobre o wicca, mas acho que toda religião deve ser
respeitada, principalmente se não prega o mal.
Cada um deve viver sua espiritualidade da forma
que achar mais confortável, até porque se eu não
vivencio a realidade de outras religiões não posso
julgar”, a�irmou.
“Não posso julgar os praticantes desta religião,
a�inal, muitos nem sabem o que estão fazendo, ou
seja, para mim são todos inocentes. Preconceito
não tenho, só não acredito em vários deuses. Não
sei se os seguidores da wicca vão para o inferno.
A salvação das pessoas pertence as atitudes no decorrer da vida”, a�irmou o estudante Jefferson Santos da Silva, 18, católico.
Apesar do fetiche criado em vassouras, varinhas,
caldeirões esses instrumentos são utilizados pelos bruxos somente em celebrações e rituais, mas
não da forma que a maioria imagina. Cada um tem
seu signi�icado, a vassoura, por exemplo, não serve para o bruxo sair voando e sim para limpar as
energias ruins do ambiente, a varinha serve para
direcionar a energia, o caldeirão é a representação
do que para os wiccas seria o útero da deusa, onde
tudo teria sido criado e transformado.
Acreditar em um ‘poder superior’
ajuda na recuperação
De acordo com especialista a crença traz a esperança, que
auxilia no processo de recuperação
Beatriz Scotti
E
studos e terapeutas são enfáticos ao a�irmar que
acreditar em um poder superior pode ajudar a se
recuperar de doenças e superar vícios. Para a terapeuta Eliane Amaral, a crença auxilia, pois gera esperança.
“A pessoa sem esperança perde a razão de viver”, explica.
Uma pesquisa da Universidade de Toronto, no Canadá, publicado em 2009 na revista “Psychological Science”, identi�icou que acreditar em Deus pode ajudar a acabar com a
ansiedade e reduzir o estresse.
O estudo contou com voluntários cristãos, muçulmanos,
hinduístas, budistas e ateus, e a conclusão que os cientistas chegaram é que aqueles que tinham mais fé eram mais
tranquilos, e que os participantes que obtiveram os melhores resultados não eram os mais fundamentalistas com religiões declaradas e sim os que acreditavam simplesmente
em Deus, e que Ele é que deu um sentido as suas vidas.
Nos Estados Unidos, também em 2009, os cientistas Michael McCullough e Brian Willoughby publicaram um estudo
na revista “Psychological Bulletin” que dizia que ter uma
religião ajuda as pessoas a terem um maior autocontrole.
“O autocontrole, e a redução do estresse são importantes
na recuperação porque a pessoa precisa ter continência.
Todos nós precisamos saber os nossos limites”, explica
Eliane.
Na maioria das histórias de pessoas que passaram pelo
processo de recuperação e que decidiram deixar as drogas, pode-se notar a presença de um ser superior. Esse
é o caso do Cláudio Lopes. Ele começou a beber cedo
e aos 13 anos teve o primeiro contato com as drogas.
“Sobrevivia a cada dia sem saber ao certo para onde ir.
Abandonei a escola, depois me alistei no serviço militar,
mas me pegaram usando maconha no banheiro do batalhão, tive baixa e me mandaram de volta pra casa, meu pai
me colocou para fora e a vida continuou. Eu arrumava empregos por 6 meses só. Com o nascimento do meu �ilho dei
uma parada nas drogas e só fumava maconha esporadicamente de duas a três vezes por ano”, conta Cláudio.
No entanto, ele conta que só conseguiu se recuperar depois
do seu encontro com o seu poder superior.
“Se não fosse por Deus eu não teria recuperação. Na noite
de Natal, conversando com a minha mãe eu abri meu coração e disse a Deus, me ajudasse, pois não queria mais isso
para minha vida”, conta Cláudio.
Eliane explica que o acreditar em um poder superior pode
ajudar, porém não é um fator determinante na recuperação. No caso de Claúdio a fé foi o ponto crucial para a recuperação e mudança de vida, mas ela não é necessariamente
o único caminho.
“A fé não é algo imprescindível na recuperação, ela ajuda.
Mas para a recuperação de uma doença ou um vício são
utilizadas diversas técnicas, que não dependem da fé. Então não é porque uma pessoa não acredita em algo que ela
não vai se recuperar. A crença ajuda, mas não é imprescindível”, conclui Eliane.
“Elementos utilizados no ritual Wicca”
“Ritual Wicca”
Fotos: Divulgação
A educação assistida nas instituições religiosas
Os projetos sociais semeando a favor das comunidades e promovendo a abertura de novas oportunidades
Monica Barbosa
V
isando a pro�issionalização e a melhora
da condição de vida de pessoas em situação de risco ou de baixa renda, diversos
projetos sociais desenvolvidos por instituições
religiosas, têm auxiliado na restauração da identidade, oferecendo oportunidade de crescimento e
capacitação pro�issional em São José dos Campos.
Na Associação Bene�icente de Ajuda ao Próximo (ABAP), braço social da Primeira Igreja Batista, o projeto “Trilhas da Pro�issão” consiste
em capacitar pro�issionalmente, jovens de 18 a
29 anos, em cursos pro�issionalizantes além de
fornecer conhecimentos especí�icos em noções
de ética, direitos humanos e cidadania, comenta
Sérgio Ivo, coordenador de ação social. Cursos
como auxiliar de coxinha, cabeleireiro, pani�icação entre outros, oferecem aos assistidos um
cardápio de oportunidades.
“O curso auxiliar de cozinha é a porta que me
permitirá entrar na faculdade de Publicidade
e Propaganda”, revela o estudante Matheus
Marcos de 19 anos, um dos assistidos pelo
projeto. Buscando novos caminhos, a auxiliar
de cozinha Janaína Ilário, de 33 anos, é uma
das alunas que são beneficiadas pelo curso e
destaca a importância da formação para enriquecer seu currículo.
Indo ao encontro dessa visão, o ditado “ensinar
a pescar”, tem sido o alvo no cuidado às mais de
300 crianças atendidas nas creches dos bairros
Flamboyant e Jardim Primavera que tem em seu
programa, o desenvolvimento social e intelectual saudável para o futuro dessa geração, ressalta
Alexandra Diacov, presidente da instituição.
Outra área de atuação é encontrada no Centro
Espírita Francisco Paula Otis, localizado em Jacareí que através do projeto Cura-te busca resgatar dependentes químicos, alcoólatras e seus
familiares do vínculo criado com a droga em
todas as suas formas. “Os encontros são ministrados uma vez por semana, onde acontece no
primeiro momento uma palestra de 30 minutos
por parte do coordenador e depois seguem com
as partilhas nas divisões dos grupos”, destaca
Joanina Barros, integrante do grupo.
O trabalho da instituição é baseado nos 12 passos do programa dos Alcoólicos Anônimos (AA).
A freqüência gira em torno de 30 a 35 pessoas
A cobrança vem de fora
por encontro, porém há uma rotatividade entre
o grupo, pois muitos interrompem o ciclo não �inalizando a proposta oferecida pela instituição.
Há 14 anos em Jacareí, a instituição comemora
em agosto o aniversário de sua criação. Através
de um calendário especial, muitas atividades
são divulgadas a toda a comunidade local convidando para eventos e palestras especiais.
De acordo com Lionésia Ramon, secretária da
Igreja Metodista, os cursos oferecidos pela Coordenação de Ação Social são gratuitos, voltado
a toda comunidade e não precisa ser membro.
Na sala de educação da instituição, encontra-se a
Escola de Artes Lídia, que toda semana, às 3ªs feiras reúnem um grupo de 25 pessoas para aprender tricô, crochê, pintura em tecido e em quadro.
Quem deseja participar desse tempo, é só vir dispensando qualquer triagem.
A nova turma é a de corte e costura que acontece
uma vez por semana. O candidato (a) passa por
uma entrevista para avaliar o interesse uma vez
que o número de vagas é limitado. Para a turma da
terceira idade, é oferecido o curso de informática
básica uma vez por semana, hoje com 4 alunos.
Populares acreditam que há pressão social para que líderes religiosos sejam “perfeitos”; líderes rebatem que não sentem tal influência
Lina Campos
A
na sede da igreja na Vila Ady’Ana.
Capitão, como é chamado, comentou que a escolha de ser preletor não causou rejeição, nem
surpresa por parte da família dele, pois se trata
de um desenvolvimento gradual. Mesmo assim, o
preletor citou um tio dele que fez “pouco caso” da
igreja Seicho-no-ie. “Todas as religiões tem uma
só origem”, destacou.
Benedito Tabajara da Silva, 65, é reservista da
Aeronáutica e advogado há 20 anos. Ele não atua
mais como bispo na Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias, apesar de ainda ostentar o título. No entanto, Tabajara é ativo na igreja
e falou de sua experiência como bispo. “Para nós,
em primeiro lugar é a família. Existe um princípio
na igreja que a gente usa muito que é ‘sucesso nenhum na vida pode compensar o fracasso no lar’”.
Quando Tabajara começou a frequentar a igreja
mórmon, tinha 29 anos e estava na Aeronáutica. O bispo comentou que seus colegas militares
estranhavam e às vezes queriam fazer brincadeiras. Mas isso foi no começo, e, com o tempo,
passaram a respeitá-lo.
Para falar sobre isso, o pastor Fabiano dos Santos
Ribeiro, 38, especialista em gestão de pessoas,
atendeu em seu escritório na sede da Primeira
Igreja Batista (PIB) de São José dos Campos. Ele
é pastor de 10 mil pessoas na igreja que tem o
maior em número de congregados da cidade e o
maior templo também.
Ele, como o padre Cândido, nasceu numa família
que já era da religião em que atua. Fabiano comentou que é muito admirado pelos familiares,
apesar de a decisão tê-los surpreendido, bem
como aos amigos.
“Hoje, nós temos o respeito conquistado na nossa sociedade até em função da nossa liderança,
que é o pastor Carlito Paes. Não há nada que seja
acentuado de preconceito ou pressão. Acho que
mais na época da juventude, quando optei pelo
seminário, alguns amigos não entenderam, mas
não foi nada traumático. As amizades foram se
reciclando”, contou.
Pastor da PIB há nove anos, ele falou que ao dar
palestras em lugares fora da igreja, como cor-
porações e instituições, já percebeu o assédio
feminino, o que, segundo o pastor, acontece com
todo ministro. “Pessoas que não estão prontas
espiritualmente ou que não estão maduras, acabam sendo usadas para que soframos este tipo
de abordagem. Já vi muitos pastores caindo”, relatou Fabiano, casado com a pastora Vivian e pai
de duas meninas.
Por falar na família do pastor, ele enfatizou que
não coloca nada na sua vida em ordem de importância. “Se estou na igreja, estou 100% na igreja;
se estou num momento acadêmico, me preparando, eu estou 100% naquilo; se estou atendendo uma pessoa, estou 100% com a pessoa; se
estou com minha família, estou 100% com eles”,
exempli�icou.
Os líderes religiosos são unânimes em dizer que
não sentem pressão própria ou alheia para se
comportarem diferente. Eles disseram que suas
religiões é que os faz proceder de maneira correta, mas isso aconteceu naturalmente. O pastor
Fabiano, por exemplo, justi�icou que se porta
melhor para não enfraquecer a fé dos �ieis, con�irmando a teoria do ambulante Paulo.
Lina Campos
sociedade carece de apoio espiritual
para enfrentar as demandas da vida moderna. As pessoas hoje em dia têm de ser
boas em tudo. Bons pais, marido, empregado,
chefe, ter boa forma, etc. O líder religioso é uma
pessoa que se prepara para atender esta demanda. Em contrapartida, a sociedade também espera que ele represente tudo que ela deseja ser e o
enquadra em um modelo de perfeição.
Vários entrevistados consideram que é cobrada perfeição dos líderes, tanto pela sociedade,
quanto pela própria religião.
O ambulante Paulo Roberto Lopes, 59, opinou
que todo o líder tem de servir de exemplo. “Não
é nem pressão, é uma condição. Se ‘esses caras’
não têm condições de serem o que se espera
deles, têm de deixar a liderança. Não tem como
você acreditar numa pessoa que prega uma coisa e faz outra. Se o líder cai, todo mundo cai”.
A psicóloga Ângela Queiroz Veneziani, 45, justi�ica a opinião pública dizendo que, apesar de
acontecerem “fragilidades” nas igrejas, líderes
são treinados para conduzir os �ieis da melhor
forma. “Todos cometem erros, mas eles têm de
tentar não desestruturar a igreja, a instituição
em si. O papel deles é di�ícil”, avaliou.
Em entrevista, o padre José Cândido Pereira, 68,
cientista social pela Fundação Valeparaibana de
Ensino con�irmou o parecer da psicóloga sobre
o treinamento para a condução e atendimento
da demanda dos �ieis pela Igreja, que, no caso
dele seriam reforçados pela sua formação. Segundo ele, ser cientista social o torna melhor
conhecedor das pessoas e não enfrenta preconceito por ser líder religioso.
Padre Cândido é pároco da Paróquia Matriz de
São José dos Campos, que �ica ao lado da Rodoviária Velha. Ele comentou também sobre a reação da sua família ao seu desejo de ser padre,
revelado há mais de 30 anos. “Sou de uma família eminentemente religiosa de Minas Gerais, foi
um motivo de grande alegria para eles”, lembrou.
O preletor, como é nomeado o líder religioso do
Seicho-No-Ie, Luiz Augusto Capitão Garcia, 57,
representante comercial, opinou sobre o assunto
Pastor Fabiano Ribeiro
9
Fotos: Divulgação
Integrantes do Oficina G3
Mercado musical religioso dispara
mana anterior. Em entrevista para a revista Veja, o diretor de núcleo
da emissora, Luiz Gleiser, chegou a a�irmar que o novo gênero já faz
parte da expressão cultural do país, e não pode ser ignorado.
Além do crescimento e consolidação cultural do estilo, os fatores que
mantém o setor movimentado é o baixo custo dos discos (em média
15 reais) e a questão religiosa. Moralmente, a igreja é contra a pirataria, por burlar a lei. Segundo Glauber Ribat, produtor da Oversonic
Music, gravadora da região que já trabalhou com cerca de 50 artistas
do segmento, o faturamento se deve ao fato das pessoas valorizarem o trabalho daqueles que compartilham da mesma religião. “As
igrejas incentivam seus �iéis a contribuírem com os músicos que dedicam suas carreiras a Deus e esses, por sua vez, compram apenas
produtos originais, o que dá suporte ao crescimento do mercado”.
O desenvolvimento da música gospel brasileira já deixou de contar
com um único estilo. Hoje há bandas cristãs de todos os ritmos rock,
pop, forró, reggae, sertanejo e até o funk, o que atrai público dos
mais variados gostos e idades. Para Fábio Alba, dono da Oversonic
Music, apesar dos CDs religiosos venderem mais do que os seculares,
não quer dizer que a música gospel é a mais consumida. “O fato é que
atualmente o público secular se recusa a pagar para ouvir música,
uma vez que ele tem acesso gratuito. É uma questão ética mesmo,
na qual a igreja acaba tendo um poder maior de controle sobre seu
público, limitando a pirataria”.
Venda de CDs continua em crise, mas nicho religioso cresce
Cristina Ortuño
E
mbora a indústria dos discos esteja sofrendo queda nas vendas graças ao fácil acesso
à internet e a downloads de conteúdo, o
mercado musical gospel tem conquistado espaço.
Uma pesquisa da Federação Internacional da
Indústria Fonográ�ica (International Federation
of the Phonographic Industry), IFPI na sigla em
inglês, aponta que 45% das músicas consumidas pela população são downloads ilegais, e
52% do total de discos vendidos são piratas.
Estes dados, entretanto, não valem para o mercado religioso. Segundo a Associação Brasileira
de Produtores de Discos (ABPD), o gospel é o
segundo gênero musical mais consumido, atrás
apenas do sertanejo, que lucra a maior parcela
dos R$ 500 milhões movimentados por ano com
a venda de CDs. A valorização deve-se principalmente ao contínuo crescimento de evangélicos no país. Dados do IBGE demonstram que de
2000 a 2010, houve um aumento de cerca de 30
milhões no número de pessoas que professam
essa fé, totalizando 55 milhões de evangélicos
no Brasil. Todos os dias as igrejas recebem novos convertidos, que consomem cada vez mais
os produtos religiosos.
Grandes gravadoras como a Sony Music e a
Som Livre resolveram investir nesse mercado.
Juntas, elas reúnem 11 contratos de artistas do
segmento. A Rede Globo, proprietária da Som
Livre, realizou em dezembro do ano passado o
1º Festival Promessas, reunindo nove artistas
da música gospel brasileira. Apoiado pela prefeitura do Rio de Janeiro, o festival não poupou
verba. Houve investimento em uma estrutura de
som semelhante a do Rock in Rio. O evento recebeu 200 mil pessoas e durante a transmissão
exibida às 13h de um domingo, a Globo auferiu
13 pontos de audiência – seis a mais que na se-
Aline Barros
Mescla os estilos Pop, Rock e
Louvor & Adoração e possui 23
álbuns gravados. Reúne diversos
prêmios nacionais e internacionais, como o Grammy Latino. No
último (2011), Aline foi premiada
na categoria “Melhor Álbum de
Música Cristã em Língua Portuguesa”, com o disco “Extraordinário Amor de Deus”.
Imposição da “religião” na adolescência
Arquivo Pessoal
Koroline e sua
mãe Alice
A escolha da religião, imposição dos pais ou livre-arbítrio?
Rod Reis
ormalmente, os pais costumam levar os
�ilhos para igreja desde pequenos até a
adolescência e assim tentam ensinar e
mostrar os bons princípios da religião que seguem. Mas será que o fato de levar os adolescentes para a igreja e fazer com que eles sigam a
mesma religião não é visto pelo jovem como uma
forma de imposição?
“Crer implica em uma decisão própria. Deus
respeita algo muito importante denominado
livre-arbítrio, que é a faculdade de cada pes-
N
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soa tomar suas próprias decisões, inclusive
na área espiritual”, afirma o líder religioso
Adilson Luiz Barbosa da Comunidade da Graça de Guaratinguetá.
Para a jovem, Karoline Pereira de Assis, 20 anos
os pais não devem obrigar os �ilhos a seguirem
a mesma religião deles. “Não concordo, porque
isso não vai adiantar. A gente tem que ir para a
igreja de coração e não por vontade dos pais”.
Alice de Assis, mãe da Karoline, reforça o que
diz a filha. “Eu jamais obrigaria meus filhos
de seguirem a minha religião, eu quero que
eles se sintam felizes onde estão. Que tenham
fé no que estão fazendo. Que coloquem Deus
na frente de tudo. Qualquer caminho, todas as
religiões nos levam a Deus”.
O Psicológo Ralpho Cláudio Costa, a�irma que
cabe aos pais a educação dos �ilhos. “Num país
católico muitas vezes ou na maioria das vezes
associamos a moral, o bem e o mal, pecado e
perdão. Explicar a moral a ética e valores pelo
viés da religião é mais fácil, mais aceitável e
culturalmente transmitido”.
Para Adilson, os pais não devem obrigar seus �ilhos a seguirem a mesma religião que a deles e
sim orientá-los de qual o melhor caminho a ser
seguido. “Os pais se assustam quando pensam
na hipótese de um �ilho pagar por seus próprios
atos, por isso muitas vezes acham que simplesmente uma “religião” resolverá. A verdadeira
espiritualidade está em crer em um Deus que
se preocupa com cada ser humano. Deus está
mais preocupado com seus �ilhos e deseja que
os mesmos não sejam “religiosos”, mas tenham
prazer em seguir a Sua Palavra, ou seja, obedecê-lo voluntariamente”, a�irma.
Alguns jovens pensam que seus pais poderiam ficar desapontados com a escolha de
outra religião. Mas não seria ao certo o pai
apoiar seu filho na sua escolha ao invés de
criticar e obrigar ele a participar de algo onde
ele não se sinta bem?
“Meus pais ficariam desapontados, mas se eu
acho que aquele caminho é para mim eles não
tem que impor nada”, a�irma Karoline.
A influencia da fé no comportamento das pessoas no dia a dia
Pesquisa comprova que pessoas são influenciadas pela fé quando tomam decisões
Nathalia Colt e Luiz Eugênio
E
m algumas religiões usar determinado
tipo de roupa, ou fazer certo tipo de penteado não é aceitável, mas o que dizer
quando essa limitação não está relacionada apenas à aparência, mas sim as decisões tomadas no
dia-a-dia? Sabe-se que a fé é um instrumento de
transformações na vida de uma pessoa. Con�irmando isso, uma pesquisa realizada em 2010,
na cidade de Londrina – Paraná, a�irmou que 97%
das pessoas a�irmam que a religião exerce in�luência em seu comportamento.
Segundo os pesquisadores, Ricardo Baracho dos
Anjos e José Antônio Baltazar, o tema surgiu devido
à inquietação diante de tantos movimentos religiosos que ocorreram nos últimos anos. E teve como
objetivo mostrar o que leva uma pessoa a seguir
determinada religião e também mostrar a in�luência dela no comportamento das pessoas.
Eles usaram como base livros de estudiosos como
Freud e Jüng e partiram daquelas teorias para elaborar sua tese. Freud abordava a religião como sendo o lugar das nossas patologias; Jüng mostrava a
religião inserida nos arquétipos; Viorst falou sobre
a reconexão através da religião; e Frankl, contribuiu com a Logoterapia, segundo a qual, a descoberta do sentido para a vida é o que impulsiona
as pessoas a uma vida melhor. Os resultados provaram a necessidade do homem de crer em algo
Fé racional
para ter um alívio e um suporte. Foi colocada a
proposta de que a religião pode ser o sentido da
vida, fazendo com que as pessoas tenham um comportamento saudável e um melhor enfrentamento
de seus problemas.
Um exemplo disso é Cláudia Santos de 44 anos,
quando criança, foi educada com as crenças católicas e durante toda sua vida seguiu este rumo.
Porém, após sua separação ela já não se sentia bem
nas missas, era discriminada por ser divorciada e
ter uma �ilha para criar. Desde então deixou de frequentar a igreja, mas não de crer em Deus. Com o
passar do tempo, Claudia passou a procurar outro
sentido espiritual, foi quando começou a estudar a
bíblia com as Testemunhas de Jeová. “Não sabia se
era o certo, mas me senti tão bem quando soube
que Deus se importava mais com meu apreço por
ele do que pelo meu estado civil que não tive dúvidas e continuei o estudo. Hoje tenho orgulho de
dizer que sou Testemunha de Jeová”.
Mesmo quando há con�litos com sua antiga crença,
ela acredita que a atual está mais de acordo com
seu modo de vida e se esforça ao máximo para
segui-la. A posição religiosa das Testemunhas de
Jeová em relação ao uso de sangue na medicina
e na alimentação é uma das mais controversas e
criticadas ao longo dos anos. Baseando-se na interpretação da Bíblia, elas entendem que o uso de
transfusões de sangue total ou dos seus componentes primários é proibido pela lei divina. “ Sei que é
um caso sério, mas acredito que a minha fé vai além
da vida. Não deixaria de cuidar de meus �ilhos por
causa da transfusão, apenas procuraria uma alternativa”, a�irma Cláudia.
Por outro lado, André Delgado, cansado da culpa
imposta pela religião, há 10 anos entrou em uma
busca pela verdade. E chegou a conclusão de que
o Deus não criou o homem e sim o homem criou
Deus. “A partir do momento que eu soube da verdade, eu me libertei. Nunca tive a bíblia como guia do
que é certo ou errado. Eu acho que isso está dentro
da gente, no fundo sabemos o que é direito ou não,
ou seja, tudo o que ofende a si ou ao outro. Assim
como eu, todo mundo quer rir o tempo todo e ser
feliz, praticar ações do bem é isso”, a�irma.
Seguindo a teoria Matheus Vieira, estudante, se
diz sem religião e a�irma, “quando vou tomar uma
decisão penso nas consequências que ela pode
me causar ou causar às pessoas no futuro. Quem
não é louco sabe o que é certo e errado. ” Matheus
acredita que a religião in�luencia sim alguns a melhorarem de vida. “Conheço algumas pessoas que
entraram na igreja e largaram maus hábitos, mas
não acredito que seja apenas a igreja que fez isso,
é preciso força de vontade. Talvez a mesma pessoa teria conseguido sozinha”, conclui.
Cientistas renomados acreditam na existência de um Deus criador
Débora Carvalho
Q
ual a origem de tudo é uma dúvida que
permeia os pensamentos das pessoas ao
longo dos séculos. Fé e ciência. Criacionismo e evolucionismo. Formação �ilosó�ica humanista e doutrina religiosa. São contrapontos e
divergências que atingem a todos que procuram
obter suas respostas.
Para o �ísico e cosmológico britânico Stephen
Hawking, não é preciso um Deus para criar o
universo, pois o Big Bang seria uma consquência
de leis da �ísica.
“O fato de que nosso Universo pareça milagrosamente ajustado em suas leis �ísicas, para que
possa haver vida, não seria uma demonstração
conclusiva de que foi criado por Deus, mas um
resultado do acaso”, explica Hawking em seu
mais recente livro, The Grand Design (O grande
Projeto, tradução livre do título ainda não publicado em português).
Em pesquisa realizada pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, aponta que 72% dos cientistas não acreditam na
existência de um Deus criador. Mas será que a
ciência pode andar com a fé?
Enquanto a compatibilidade entre as duas
formas de pensar tem sido negada por alguns,
é defendida por outros.
Alguns dos maiores cientistas de todos os
tempos, que são lembrados até os dias de
hoje, tinham a convicção em um Deus criador.
Dentre os exemplos encontram-se: Johannes
Kepler, André-Marie Ampère, Isaac Newton.
O criador da pilha voltaica, Alessandro Volta,
também faz parte deste grupo..
Assim como eles, o pesquisador e professor
de engenharia do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Karl Kienitz, também professa a fé em Deus.
Em seu site, onde o tema central é fé e ciência, o cientista esclarece dúvidas e explica
como estes dois caminhos podem andar para-
lelamente e no mesmo sentido.
Segundo Kienitz, quando pensa, em ciência,
as pessoas a associam ao Evolucionismo e fé
ao Criacionismo, mas estas ligações são equivocadas, pois tratam-se de assuntos distintos.
“Existe uma confusão por de trás da teoria da
evolução e evolucionismo, são dois assuntos
diferentes. A ideia do evolucionismo é que tudo
se evolui sozinho,enquanto que o criacionismo
é a compreensão de que tudo foi criado por
Deus, aceitando que a minha capacidade de explicação é limitada. A�inal eu não sei explicar
tudo, nunca vamos saber explicar tudo”, esclarece o pesquisador.
Quando a pergunta é relacionada aos dois primeiros capítulos do livro de Gênesis da bíblia,
onde é narrada a criação do mundo - que muitos cientistas questionam – se de fato precisam
ser entendidos de forma literal, a resposta do
cientista é que não. “Do ponto de vista cientis-
ta pragmático e como um engenheiro também,
não preciso saber como Deus criou todas as coisas, eu simplismente sei que ele criou”, diz Karl.
Para sustentar sua posição, ele ainda citou uma
frase de um poeta alemão, que diz ‘Uma admiração satisfeita evita que exija explicação’. “Eu estou admirado pela criação de Deus do ponto de
vista de origem, deixo para o artista tratar desse
assunto”, acrescenta.
Para Karl, fé e ciência não se excluem mutuamente, pelo contrário, elas têm coexistido na
cultura ocidental e não ocupam lugares separados na vida humana.
Já dizia o ganhador do Prêmio Nobel de Física
de 1919 Max Planck (1858-1947), religião e ciência natural combatem unidos numa batalha
incessante contra o ceticismo e o dogmatismo,
contra a descrença e a superstição. E a palavra
de ordem nesta luta sempre foi e para todo sempre será: em direção a Deus!
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Educação e religião, uma relação complexa
Lei municipal que prevê inclusão do ensino religioso nas escolas públicas de São José dos Campos gera polêmica
Estudantes em aula de ensino
religioso em escola de São José
dos Campos
Jéssica Magalhães e Gislaine Nunes
P
ela Constituição Federal, o Brasil é considerado um estado laico, ou seja, que
não possui uma religião o�icial, havendo, portanto, separação entre governo e igreja.
Ao mesmo tempo a constituição em seu artigo
210, parágrafo 1°, prevê que o ensino religioso,
de matrícula facultativa, constitui disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental. Esse artigo, no entanto, geram dúvidas e abrem espaços para várias interpretações.
Há doutrinadores, por exemplo, que entendem
que o disposto no artigo mencionado impõe a
obrigatoriedade da educação religiosa nas instituições de ensino público. Por outro lado, há os
que defendem que este apenas assegura e reconhece o direito ao ensino.
Dentre os que acreditam nessa obrigatoriedade,
está o vereador Walter Hayashi (PSB), que em
2011, propôs um projeto na Câmara dos Vereadores, para incluir no ensino fundamental público do município de São José dos Campos, aulas
de educação religiosa.
Esse projeto está em conformidade com a Lei
9.475, de 22 de julho de 1997, que rege as Diretrizes e Base da Educação Nacional. O artigo 33
desta lei diz que o ensino religioso, de matrícula
facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurando o respeito à diversidade
cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer
formas de proselitismo.
Na justi�icativa do projeto, o vereador, a�ima entender que a religião não é apenas um fenômeno individual, mas universal, histórico, cultural e
social, justi�icando, assim, sua inclusão na formação do aluno.
Além disso, considera que o respeito à natureza e aos semelhantes não é um conhecimento
que possa ser aprendido através das matérias
normais da grade escolar, mas sim, por meio da
dimensão espiritual da humanidade. E �inaliza
defendendo que, em São José dos Campos, este
ensino deve ser pautado no respeito às diversidades religiosas existentes, sem qualquer �inalidade de converter os alunos a uma única religão.
“O projeto vem atender ao comando insculpido
na atual Constituição da República que impõe a
obrigatoriedade de o Estado ofertar a disciplina
no quadro curricular das escolas, sendo a matrícula de caráter facultativo”, a�irmou Hayashi.
Entre pais e comunidade pedagógica, a discussão está sob quais aspectos este ensino será
ministrado, uma vez que o tema envolve credos
religiosos num país laico e multicultural. Sendo
a escola um espaço que promove o conhecimento e a re�lexão, essa abordagem deve ser no
sentido de valorizar a diversidade religiosa sem
quaisquer formas de discriminação.
É o que defende a pedagoga Rose Sampaio que
já trabalha na área há mais de dez anos. “Os pais
são responsáveis pela orientação religiosa de
seu �ilhos, pelo menos enquanto criança, aulas
sobre religião é outro caso, pois não se trata de
crença e sim de conhecimento”, a�irma.
A dona de Casa Ana Sayuri Ihara que é budista
se diz contra essa inserção religiosa, pois mesmo
que se defenda uma abordagem neutra do assunto, na prática isto não aconteceria. “Crianças
são muito in�luenciáveis, por isso a apresentação
Fotos: Jéssica Magalhães
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desse assunto requer muito cuidado. E eu acredito que o professor sempre terá uma tendência
a sobressaltar sua própria religião”, alega.
Já para a motorista escolar Sandra Maria, o
ensino religioso nas escolas públicas, deve ser
ministrado independentemente de sua abordagem, pois mesmo este sendo um papel que cabe
aos país, muitas vezes eles não o fazem e a escola deve assumir essa função. “Apesar de religião vir do berço, o conhecimento é valido para
todos”. A�irma Sandra.
O projeto de lei que encontra-se em tramitação, pendente de decisão plenária, se aprovado,
entrará em vigor na mesma data de publicação. Apesar do modo como defende o tema, o
conteúdo não foi apreciado pela Secretaria de
Educação da cidade, que se encaixa no grupo
dos que acreditam que esse enfoque não tem
cunho obrigatório na lei e se pronunciou em
nota, contrária à ideia. “O estado prevê que toda
e qualquer abordagem religiosa deve ter caráter
ecumênico, não garantido por uma proposta do
ensino religioso na escola”, diz a nota.
A secretaria também informou que já desenvolve no ambiente escolar a valorização humana
e religiosa da convivência, pautada em valores
que estimulam respeito.
senvolve no ambiente escolar a valorização humana e religiosa da convivência, pautada em valores que estimulam respeito.
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