NÓ
Do ventre da baleia ergui meu grito:
Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)…:
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca.
Daniel Jonas
Daniel Jonas
NÓ
Daniel Jonas
NÓ
ASSÍRIO & ALVIM
www.assirio.pt
79385.10
1 0
9 789723 717679
ISBN 978-972-37-1767-9
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sonetos
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Do ventre da baleia ergui meu grito:
Senhor! (dizer teu nome só é bom),
Em fé, em fé o digo, mesmo com
Um coração pesado e contrito
Que és de tudo verdade e não mito,
O coração do amor, de todo o dom,
Conquanto seja raro o bem e o bom
E toda a luz aqui me falhe, és grito
Que chama toda a chama de esperança
E acorda a luz que resta à réstia eterna,
Conquanto viva o mártir na espelunca
Da vida (quem espera amiúde alcança)…:
Possa o nazireu preso na cisterna
Sofrer de ser só tarde mas não nunca.
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Serei digno de apenas pronunciar-te,
Ou resvalando os lábios plo teu nome,
Passando o fio santo que os consome,
Carnais hão-de pecar em só chamar-te?
Quem dera não errasse em ser teu filho
E alegre recebesse a tua graça
E como o caçador que absolve a caça
Me ouvisses contristado um estribilho.
Sou teu, que posso eu sequer dizer-te?
A ti te reconheço meu Senhor.
Em nada te acrescento; o meu amor
Não pode adiantar-te ou comover-te.
Aqui estão os meus fins nas tuas mãos.
Ensina-me os meus sins com os teus nãos.
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O que resta, janela, da limpeza
Do meu olhar, pra onde irá, e admira
Que eu não o veja já, o que antes vira?
É só voragem de asas, ou certeza
De lobrigar o vulto da beleza?
Pra onde, sobranceiro, o precipitam
Fulgurações de luz que mal imitam?
Oh, isso é simulacro, não clareza!
À confusão convidas, vil fenestra,
Ao salto triste e ansioso do lamento…
E em meio de vencidos funda fresta
De amor tu abres, festa dos perdidos.
Não vou fazer de ti o meu assento.
Não vá precipitar-me entre caídos.
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Demoro-me nas horas mais tardias.
É tempo que entretenho e o detenho
(Plo menos no meu espírito o tenho),
É tempo que ficou de outros dias.
E o tempo que me sobra é para nada…
É todo para o meu entardecer.
Gostava, enfim, de ver, enfim, de ter
Por toda a grande casa a pequenada!…
A vida… bem, tem dias… gosto dela…
Mas ela não é nada nem é grande.
Às vezes ela é tudo, às vezes nada.
Enfim… não há senão sem haver bela.
No escuro o tempo pára, mesmo que ande.
É um cortejo fúnebre e uma estrada.
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