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Amigas
p ara sem pre ?
Durante meses a Kitty MacLean escondeu
a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente,
o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar
que nunca conseguirá ficar com ele.
Segue
teu
Coração
Até que...
p a r a se m p r e ?
Em vez de ir acampar
com as amigas, a Kitty
vai de férias para a praia
com a popular Persephone.
Ela tem a certeza de
encontrar o Rio. Mas terá a
Kitty agido corretamente?
E será que o Rio vai gostar
dela apesar do que fez?
Amigas
A Kitty vai acampar
com as suas melhores
amigas e descobre que o
Rio está a passar férias ali
bem perto. Será que um
acampamento sem água
corrente é o local ideal
para encontrar
a sua megapaixão?
Tu é que decides!
Segue o teu coração até ao final perfeito,
ou volta atrás e começa tudo de novo.
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apresentação
deste livro.
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Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_CAPA.indd 1
ISBN 978-989-707-304-5
JULIE FISON
Depois de leres
este livro,
segue o teu
coração até
ao próximo:
eu
Segue o tté ao
coração arfeito,
final pe que
Tu é !
decides
Segue
teu
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Cora
Amigas
p ara se m pre ?
ISBN 978-989-707-304-5
9 789897 073045
Literatura Juvenil
JULIE FISON
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Capítulo
Um
— A­‑cam­‑par — eu pronunciei a palavra como se estivesse
a aprender um novo vocábulo. — O quê, tipo, numa tenda
a sério?
A Izzy revirou os olhos.
— Claro — respondeu. — Então, o que te parece?
— Vai ser uma farra completa — exclamou a Mia. Eu
não estava assim tão certa.
— Mas da última vez que foram acampar não foi a pior
semana das vossas vidas? — perguntei­‑lhes. — Não disseram
que choveu o tempo todo? E um dos vossos irmãos não
vomitou para cima dos sacos­‑cama?
— Anda lá, Kitty — disse a Izzy, a tirar os livros de Matemática do cacifo. — Que mais tens para fazer?
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Nada. Era esse o problema. Estávamos na última semana
de aulas e, na seguinte, a minha mãe e o meu pai estariam
a trabalhar e eu ficaria presa em casa, as férias inteiras. Não
me importaria com isso se tivesse alguém com quem conviver, mas as amigas iam­‑se todas embora, o que me deixava sozinha com a minha irmã mais nova e o seu gangue de
parvinhos. Encolhi os ombros.
— Está bem, pronto, eu vou. — Sabia que a minha mãe
e o meu pai me deixariam ir. A Izzy e a Mia sorriram e
aproximaram­‑se para darmos um abraço de grupo. — Isso
desde que eu sobreviva a este primeiro período da escola. Ainda não fiz o trabalho de Geografia para a Blackmore.
— Prometo que nos vamos divertir muitíssimo — guinchou a Mia.
— Boa sorte com esse trabalho — disse a Izzy.
Fiquei a vê­‑las a apressarem­‑se para a sala de aula, com
os rabos­‑de­‑cavalo molhados do treino de polo aquático
dessa manhã a escorrerem pelas costas abaixo. A Izzy e a Mia
pareciam gémeas, assim vistas de trás. Aliás, também eram
bastante parecidas de frente. A stora da sala delas chamava
Mizzy às duas porque não as conseguia distinguir.
Virei­‑me para o cacifo, a fazer má cara. Adorava mesmo
a Izzy e a Mia. Conhecia­‑as desde a escola primária, eram
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realmente as minhas melhores amigas. E por isso era evidente que eu queria passar as férias com elas, mas acampar?
A única tenda em que eu tinha dormido fora uma com
fadas e princesas que a minha mãe comprara pelos meus
três anos. Mas era uma tenda montada no meu quarto, e não
no meio do mato.
As famílias da Mia e da Izzy eram fanáticas pelo ar livre
e acampavam juntas montes de vezes. Mas dormir no chão
não me parece nada divertido. Já para não falar das aranhas,
cobras e sei lá que mais que há de tentar meter­‑se no saco­
‑cama comigo. Acrescentem­‑se casas de banho públicas e
caminhadas imensas no mato. Népias. «Farra» não era a palavra que me vinha à ideia, mas que alternativa tinha, se quisesse passar as férias com as minhas melhores amigas?
Agarrei nos livros de Geografia que estavam no cacifo,
rodei nos calcanhares e quase embati na Perséfone. Estávamos tão perto que consegui cheirar o perfume intenso dela
e ver bem de perto o seu brinco de pérola.
Eu tinha a certezinha absoluta de que os planos de férias
da Perséfone não implicavam montar uma tenda e andar à
bulha por causa da dose de feijão cozido. Para ela, só poderia ser uma pausa de cinco estrelas.
— Olá — disse eu, a sorrir.
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— Olá, Kitty. — A Perséfone selecionou o código no
cadeado e escancarou a porta do cacifo. — Aguenta só um
segundo, eu vou contigo.
E eu esperei, a sentir­‑me ligeiramente confusa. Eu e a
Perséfone não éramos propriamente amigas. Estamos na
mesma turma, às vezes ficamos juntas na carteira em Geografia e Expressão Plástica, mas não convivemos. Depois
lembrei­‑me de que ela nos últimos tempos me tem guardado lugar. Mesmo assim, não é propriamente conviver.
E nunca tinha ido comigo para a sala. Andava sempre com as
amigas dela — o grupo fixe. Olhei em redor à procura delas.
— Não estás à espera das…?
— Népias — respondeu logo a Perséfone.
A caminho da sala, eu ia algo siderada por caminhar
com uma das raparigas mais fixes do nosso ano.
Olá, sou eu, a Kitty, apetecia­‑me dizer. Não ando propria‑
mente no teu grupo. As tuas amigas são aquelas que fazem férias
espetaculares, moram em mansões e têm namorados e tudo. A minha
casa é pequena, quase nunca vou a lado nenhum e o mais certo é
nunca vir sequer a ter namorado.
Não disse nada disto, evidentemente. Antes pelo contrário, espreitei para trás para verificar que a Izzy e a Mia não
me viam. Elas não achavam graça nenhuma ao grupo fixe.
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Fui andando ao lado da Perséfone, na esperança de apanhar um bocadinho do fixe dela e guardá­‑lo para mim. Ela ia
falando do trabalho de Geografia que era para entregar hoje
e que eu ainda não tinha terminado. Provavelmente devia
ter tomado atenção, mas tinha a cabeça a mil. Se eu possuísse
uma fração do fixe da Perséfone, talvez tivesse hipóteses com o Rio.
O Rio: o espampanante e fofíssimo Rio Sanchez. Completamente perdido de bom e integralmente inatingível
para mim. Há meses que eu andava a sonhar com ele, desde
a primeira vez que o vira no autocarro.
Estava uma tarde de calor opressivo e não ia a mais do que
um metro de distância dele, na parte de trás do autocarro.
Soube logo pelo uniforme que ele andava na minha escola,
versão rapazes. Dei uma olhadela e vi­‑lhe o nome na lateral
da mochila. Quando os meus olhos chegaram por fim àquela cara fofa e bronzeada e àquele cabelo preto despenteado,
já eu estava em transe. Felizmente, ele entretinha-se rindo
à gargalhada com os amigos e não reparou em mim a babar­
‑me. Antes mesmo de me aperceber disso, tive uma visão
do nosso futuro: a caminhar de mãos dadas, a rirmo­‑nos das
piadas um do outro, o nosso primeiro beijo.
Nisto, a realidade meteu o bedelho. O autocarro fez
uma curva apertada e, como eu estava a olhar para o Rio
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em vez de me segurar bem, caí para a frente no corredor.
Em pânico, agarrei­‑me à única coisa que me apareceu
— a camisa do Rio. Ele olhou para mim com um olhar
aterrorizado. Devia achar­‑me completamente louca. Foi
confrangedor. Murmurei qualquer coisa a pedir desculpa e
saí do autocarro na paragem seguinte, a qual ficava a cerca
de cem quilómetros da minha casa.
Desde então, tenho mantido uma distância de segurança do Rio, mas a minha missão na vida é conhecê­‑lo — mas
sem ter propriamente de falar com ele.
Todos os dias, quando o autocarro chegava à paragem
dele, eu sustinha o fôlego, desejosa de que ele surgisse pela
porta da frente. Nos dias em que aparecia, eu mirava­‑o.
Ele dava­‑se com os desportistas. Não eram malucos como
outros rapazes que apanhavam o autocarro e se portavam
como uma cambada de orangotangos. O Rio e os amigos
estavam sempre a rir. Os olhos castanhos dele faziam ruguinhas quando sorria, ficava tão giro que parecia impossível.
Por vezes, eu chegava­‑me perto o bastante para ouvir
as conversas deles. A maioria era sobre equipas de futebol
de que eu nem nunca ouvira falar, e de jogadores que não
significavam nada para mim. Mas não me importava com
isso. Gostava de ouvir a voz do Rio. Ele tinha um bocadinho
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de sotaque que eu não sabia dizer de onde vinha, mas era
amoroso!
Depois, houve uma altura em que me apercebi de
outro aspeto do Rio. Entrara sozinho e sentara­‑se mesmo
à minha frente.Tinha os auscultadores e encostara a cabeça ao vidro da janela. Do meio do nada, apareceu uma bola
perdida pelo autocarro fora na minha direção. Antes que
eu tivesse sequer hipótese de levantar as mãos para me
proteger, o Rio apanhou­‑a no ar. Atirou­‑a de volta e
depois virou­‑se para mim.
— Tu estás bem? — perguntou­‑me.
Eu estava toda entaramelada, não consegui dizer nada,
limitei­‑me a fazer que sim com a cabeça vigorosamente.
O Rio sorriu e voltou à sua música como se não tivesse acontecido nada, mas quando eu saí do autocarro, três
paragens depois, ia completamente nas nuvens: o Rio San‑
chez sorriu para mim!
Fui a correr para casa. Depois sentei­‑me com o meu
caderno de desenho e esbocei o rosto do Rio.Tentei captar­
‑lhe a expressão. Tinha sido forte mas atenciosa. E o sorriso — de tão abrasador podia derreter um glaciar. Lindo!
Estava toda contente com os meus esquissos. Se ao menos
falar com o Rio fosse tão fácil como era desenhá­‑lo.
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Descartei estes sonhos e lembrei­‑me de onde estava
— no corredor a caminho da sala com a Perséfone. Olhei
para ela, a pensar se seria maquilhagem ou um creme especial que fazia a pele dela brilhar daquela maneira. Foi quando me apercebi de que ela me estava a perguntar qualquer
coisa.
— Kitty? — perguntou a Perséfone, a erguer uma sobrancelha. — Tu fizeste?
Não fazia a mais pálida ideia do que ela estava a dizer, mas
tentei não dar a entender que não tinha ouvido patavina.
— Hum…
— Fizeste o trabalho de Geografia?
Até praguejei.
— Não, vou pedir adiamento. — Era óbvio que tinha
passado demasiado tempo em devaneios sobre o Rio e pouco
ou nenhum com os trabalhos de casa. A Perséfone sorriu.
— Encontrei na Internet montes de cenas que ajudam.
Posso mandar­‑te os links, se quiseres.
— Isso era fantástico! — Senti­‑me genuinamente grata.
— Anseio pela chegada das férias. Estou tão fartinha das aulas!
— Eu também.Vai ser divertido.Vamos para Paradise
Point — disse a Perséfone. — A tua família também vai
para lá?
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Abanei a cabeça.
— Nem por isso.
Só fomos uma vez, aliás. Paradise Point era fixe demais
para nós. Era a central das celebridades. Toda a gente que
fosse alguém na vida tinha lá um lugar. Praia perfeita, lojas
perfeitas e gente perfeita. Não era nada o estilo da minha
família.
— Nós temos um apartamento mesmo à beira da praia
— disse a Perséfone.
Pois claro que têm, pensei eu.
— Devias ir lá um dia destes e ficavas connosco.
Parei e olhei em redor. Mas a Perséfone ainda estava
realmente a falar comigo? Se calhar, tinha entretanto aparecido uma das amigas. Não. Ela estava mesmo a olhar para
mim.
— Ficar convosco? Em Paradise Point?
A Perséfone fez uma cara de quem se arrependeu da
proposta.
— Quer dizer, não faz mal que não queiras ir.
— Não, não. Quer dizer, sim! — exclamei. — Gostaria
muito.
— Só não sei quando, mas temos mesmo de combinar! —
A Perséfone parecia mais animada. — Aquilo é tão divertido.
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Dias grandes e quentes na praia, gelados deliciosos, bateladas
de tipos giros, e depois à noite deixamo­‑nos ficar até tarde.
Temos de combinar um dia destes.
— Completamente. — Ora cá estava aquilo a que eu
chamo diversão.
— Mas há uma condição.
Devia ter calculado que tinha de haver uma condição.
Estar com a miúda mais fixe da escola no seu apartamento
de praia parecia­‑me mesmo demasiado bom para ser verdade. A Perséfone estava muito séria.
— Tu não podes nunca, jamais — pausa — tratar­‑me
pela minha alcunha.
— Ah, isso é fácil — disse eu, aliviada por não ter de
passar a nenhum exame do «fixe». — Eu nem sequer sei
qual é a tua alcunha.
Por segundos, a Perséfone parecia mesmo tímida.
— A minha família chama­‑me Percy Pony. Foi o meu
irmão quem começou, tinha ele três anos, e a alcunha ficou.
Eu sorri.
— É fofo.
— Mato­‑te se me tratares assim — disse ela, meio a rir.
Eu levei a mão ao peito num gesto solene.
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— Prometo que nunca te tratarei assim. — Depois hesitei. — Sabes qual é a alcunha que a minha família me dá?
A Perséfone chegou­‑se mais, a sorrir.
— Bichaninha.
A Perséfone riu­‑se.
— Isso é que é mesmo fofo.
Eu fiz má cara.
— Quando tinha seis anos, talvez; mas agora é embaraçoso, especialmente quando temos amigos lá em casa e
a minha mãe me chama assim. — Até estremeci só de pensar nisso. Talvez não o devesse ter contado à miúda mais fixe da
escola.
Todavia, a Perséfone limitou­‑se a abanar a cabeça.
— Os pais são uma seca. Espero que os meus cresçam
um dia!
Desatámos as duas a rir. A Perséfone enlaçou o braço no
meu e lá fomos as duas para a sala.
Eu ia a fervilhar de tão empolgada. Teria acabado de
ganhar uma nova amiga muito fixe?
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Capítulo
s
i
o
D
Quando deu o toque para o almoço, apercebi­‑me de que
se passava na minha vida algo novo e emocionante. Parecia
cedo demais para pensar na Perséfone como minha amiga,
mas as coisas estavam mesmo a mudar entre nós. Pormenores, como ela a guardar­‑me lugar e fazer­‑me companhia no
caminho para a sala, eram pequenos sinais. Havia também
grandes sinais. Afinal, ela tinha­‑me convidado para ficar em
sua casa e até me contara acerca da alcunha secreta. O gelo
entre nós estava a quebrar­‑se. Ainda não éramos amigas
propriamente ditas e andávamos por enquanto em grupinhos diferentes. Porém, eu agora sentia que teria mesmo
hipótese de a conhecer e apercebi­‑me de que ela também
me queria conhecer melhor.
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Talvez pudéssemos encontrar­‑nos numa das semanas de
férias? Quem sabe irmos às compras ou ao cinema? Eu só
iria acampar por uma semana. Depois disso, a Izzy e a Mia
voltavam à piscina, para treinar. Eu ficaria de certeza com
tempo livre para me dar com a Perséfone.
Não era que quisesse trocar de melhores amigas, mas a
ideia de uma amiga nova agradava­‑me. Especialmente uma
que tivesse tempo para se divertir. E o mais certo era a
Perséfone estar ocupadíssima nas férias, mas calculei que
não faria mal em lhe perguntar.
Esperei por ela à saída da sala. Ela apareceu finalmente
com a Tori, a melhor amiga. A Tori não era bonita como a
Perséfone, mas destacava­‑se do grupo porque tinha autoconfiança, bateladas dela.
A Tori tinha começado a moda das tranças na escola.
Um dia, viera de trança e, no dia seguinte, toda a gente usava
o cabelo assim. Toda a gente, menos as raparigas do polo
aquático e eu. Nós usávamos rabos­‑de­‑cavalo. Não era que
eu jogasse polo aquático, mas usava o cabelo assim porque
me dava com elas.
— Então — começou a Perséfone. Mas, antes que eu
lhe pudesse perguntar pelas férias, a Tori levou­‑a dali.
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A Perséfone levantou o braço no ar teatralmente e
arqueou o corpo para trás, como se estivesse a ser arrastada
para a prisão. Depois fez­‑me sinal para que fosse com elas.
— Queres almoçar connosco? — chamou ela.
Sorri perante a ideia, mas depois abanei a cabeça negativamente. Eu almoçava sempre com a Izzy e a Mia. Não era
todos os dias que me convidavam para almoçar com as miúdas fixes, mas eu sabia que não seria nada fixe dar tampa às
minhas amigas.
A Mia e a Izzy estavam no banco do costume. Sorriram­
‑me, mas eu não as conseguia encarar. De repente, senti­‑me
um pouco culpada por ter sequer considerado almoçar com
a Perséfone e as miúdas fixes.
— Estás bem? — perguntou a Izzy quando me sentei.
— Safaste­‑te com a Blackmore?
— Safei — respondi. — Deu­‑me mais tempo. Até quinta­
‑feira.
— Ai que bom, fazer trabalhos na última semana de
aulas — disse a Mia, a revirar os olhos.
— Pois é — disse eu, e suspirei —, mas a Perséfone disse
que me podia dar uma mãozinha com uns endereços de
uns sites úteis.
A cara da Izzy torceu­‑se numa careta. Parecia que acabava de chupar um limão.
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— Percebes? — Ela pronunciou mal, de propósito, o nome
da Perséfone. — Desde quando é que vocês são amigas do
peito?
— Não somos — respondi logo. — Só estamos na mesma
sala e às vezes ficamos sentadas na mesma carteira, mais nada.
— Hesitei. — Ah, além disso, eu encontro­‑a na paragem
quando vocês têm treino de polo aquático depois das aulas.
Seja como for, ela só queria ajudar.
A Izzy enfiou um bocado de um queque que parecia
muito nutritivo na boca. Ainda tinha cara de limão azedo
quando rematou:
— Eu cá não confio nela.
— Mas nem sequer a conheces!
A Izzy encolheu os ombros.
— Conheço que chegue. — Depois começou a desfiar um rol enorme de razões para não gostar da Perséfone. A maioria, coisas parvas. Não gostava do nome dela, nem
da forma como ela usava o cabelo, ou da maneira como ela
falava. Contudo, o principal crime da Perséfone, segundo a
Izzy, era fazer parte do grupo da Tori. — São todas umas
empertigadas.
Olhei com má cara para a minha barra de cereais meio
comida. A Izzy não sabia nada da Perséfone.Talvez houvesse
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raparigas empertigadas no grupo da Perséfone, mas ela não
era assim. Além disso, eu não precisava da autorização da
Izzy para ser amiga da Perséfone, ou fosse de quem fosse.
— A Perséfone até é bem fixe — disse eu. — E também
adora os The Lads.
A Mia e a Izzy praguejaram. Não suportavam os The
Lads e gemiam sempre que eu punha a tocar canções deles.
— Não sei — disse a Izzy devagar. — Há qualquer coisa
que não está bem numa rapariga tão bonita.
Eu não podia acreditar no que estava a ouvir.
— Então é por isso que não gostas dela? Porque é demasiado bonita?
A Izzy encolheu os ombros.
— Izzy, o que é que isso quer dizer? — perguntou a
Mia. — Gostas de nós porque não somos bonitas?
A Izzy abanou a cabeça.
— Eu não disse…
A Mia interrompeu­‑a.
— A Kitty é mais bonita do que a Perséfone. Então
como é que gostas da Kitty?
A Izzy tornou a encolher os ombros.
— A Kitty é diferente. Conheço­‑a desde sempre. Já a
conhecia ainda ela não era tão bonita.
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— Então? — refilei eu.
— Lembras­‑te de quando foste a uma festa do terceiro
ano mascarada de miúda das cavernas — disse a Izzy, aos
risinhos — e vestias uma coisa de pele velha que vinha da
cama do teu cão? E tinhas a cara mascarrada com carvão?
E o cabelo todo empastado e cheio de folhas, como se tivesses dormido no quintal uma semana inteira? — A Izzy
começou a engasgar­‑se com a risota. — Não, Kitty, tu não
eras mesmo nada bonita. A tua mãe deve ter mesmo um
sentido de humor tramado.
— Pois tem — disse eu, e ri­‑me. Era sempre difícil continuar zangada com a Izzy, especialmente tendo ela na
manga tantas histórias embaraçosas que nos aconteceram
na escola primária. — Onde é que a minha mãe estava com
a cabeça?
A Mia sorriu­‑nos. Detestava zangas e parecia contente
por estarmos amigas outra vez.
— É tão bom irmos acampar juntas.
— Pois é! — Exclamei, embora ainda me provocasse
um nervoso miudinho só de pensar nisso. — Uma semana
inteira numa tenda. Boa! Vai ser mais do que espetacular!
A Izzy e a Mia entreolharam­‑se. Percebi que tinha exagerado no entusiasmo.
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— Tu vais adorar — disse a Mia. — Acredita no que te
digo.
A Izzy sorriu, descarada.
— Mas sabes que vamos improvisar, não sabes?
Encolhi os ombros.
— Hei de safar­‑me sem alisar o cabelo uma semana.
Não tenho medo de duches frios.
A Izzy riu­‑se.
— Não há chuveiros no sítio para onde vamos e teremos de cavar um buraco para as necessidades.
Até me encolhi ao pensar numa sanita «faça você
mesma» — a humilhação de sair do acampamento com uma
pá e um rolo de papel higiénico, já para não falar nas moscas e
no cheiro. Ai, o cheiro! E se desenterrasse a que alguém já tinha
cavado? Que nojo! Depois reparei no ar preocupado da Mia.
— Estás bem? — perguntou ela. A mim só me apetecia
apagar o piaçaba da minha cabeça.
— Portanto, há mais alguma coisa que eu deva saber
sobre esse acampamento?
— Não te importas com cobras, pois não? — perguntou a Izzy.
A Izzy sabia que eu me importava sim com tudo o que
rastejasse. Até as lagartixas me faziam impressão. Sei que elas
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têm patas e não rastejam propriamente, mas continuam a
parecer­‑se demasiado com cobras para o meu gosto.
Contudo, via­‑se bem a emoção que as minhas amigas
do peito sentiam com a minha adesão a ir finalmente acampar com elas.
— Não me importo com as cobras. Desde que fiquem
fora da tenda.
— E não te importas com carraças? Provavelmente há
algumas nesta altura do ano — disse a Mia.
Só de pensar num desses bichos do inferno pegajosos e
sugadores de sangue agarrados a um tornozelo, ficava toda
arrepiada. Com o sapato, enxotei uma carraça imaginária
do outro tornozelo.
A Izzy soltou uns risinhos, e eu ri­‑me mesmo, como se
fosse tudo uma brincadeira. Porém, sabia que não teria graça
nenhuma quando estivesse realmente no meio do mato.
Não me achava nada resistente para lidar com carraças e
cobras. Queria passar uma semana com a Izzy e a Mia, mas
não me agradava ter de aturar carraças ou não tomar duche,
e de certezinha que não queria cavar a minha própria sanita. Já me começava a arrepender de ter aceitado ir com elas.
— Agrada­‑me o teu feitio, menina — disse a Izzy, em
voz de stora de Educação Física e a dar­‑me um palmadão
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nas costas. — Sei que detestas carraças, mas não vais deixar
que te levem a melhor.
Nisto, ocorreu­‑me uma ideia.Talvez eu conseguisse safar­
‑me daquela viagem.
— Espero que a minha mãe me deixe ir — arrisquei,
em voz incerta.
— Claro que vai deixar — disse a Mia. — A minha mãe
comentou que ia ligar à tua ainda hoje.
— Ótimo — concordei eu com a voz débil. Sabia que a
minha mãe provavelmente diria que sim. Estava tramada.
—Vai ser tão fixe — disse a Mia. — Comer marshmallows
à roda da fogueira, ficar acordada até tarde a contar histórias
de fantasmas.Vais ver.
Deu o toque para o fim da hora de almoço.
— Kitty, não te esqueças de que temos encontro de polo
aquático mais logo. São as provas, lembras­‑te? — perguntou
a Izzy. Abanei a cabeça.
— Nem por sombras consigo entrar para a equipa.
— Tu és ótima.Vá lá, experimenta — pediu a Mia.
— Népias, tenho de fazer o trabalho de Geografia. — Suspirei. — Seja como for, o polo aquático não é a minha cena.
Ainda não sabia bem qual era «a minha cena». Andava
ainda à procura.
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Até não era nada má a desporto, mas a Izzy e a Mia eram
tão espetaculares que toda a gente parecia inútil em comparação com elas.Também eram empenhadíssimas naquilo. As duas tinham entrado para a secção de elite do polo aquático no princípio do ano. Desde então, quase não tinham
tempo livre. Estavam sempre a treinar.
Devia ser por isso que me agradava a ideia de passar
algum tempo com a Perséfone. Embora ela fosse uma das
raparigas fixes, até era bastante normal, comparada com a
Izzy e a Mia. Eu e a Perséfone até devíamos ter bastante em
comum. Parecia que ela gostava de ir às compras, de arranjar as unhas, de ir à praia. A Izzy e a Mia, por outro lado,
achavam que acampar é que era fixe. Elas praticamente só
tinham uma semana por período sem treinos e queriam
passá­‑la com cobras e carraças. Mas quem é que faz uma
coisa dessas?
Encaminhei­‑me para as aulas, perdida em conjeturas
para me safar das férias num acampamento. Porque é que
tinha de ser campismo?
Engoli em seco. As férias iam ser um inferno.
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a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente,
o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar
que nunca conseguirá ficar com ele. Segue
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Até que...
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Em vez de ir acampar
com as amigas, a Kitty
vai de férias para a praia
com a popular Persephone.
Ela tem a certeza de
encontrar o Rio. Mas terá a
Kitty agido corretamente?
E será que o Rio vai gostar
dela apesar do que fez?
Amigas
A Kitty vai acampar
com as suas melhores
amigas e descobre que o
Rio está a passar férias ali
bem perto. Será que um
acampamento sem água
corrente é o local ideal
para encontrar
a sua megapaixão?
Tu é que decides!
Segue o teu coração até ao final perfeito,
ou volta atrás e começa tudo de novo.
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apresentação
deste livro.
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Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_CAPA.indd 1
ISBN 978-989-707-304-5
JULIE FISON
Depois de leres
este livro,
segue o teu
coração até
ao próximo:
eu
Segue o tté ao
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Tu é !
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ISBN 978-989-707-304-5
9 789897 073045
Literatura Juvenil
JULIE FISON
5/12/14 11:52
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Amigas para sempre?