1 Amigas p ara sem pre ? Durante meses a Kitty MacLean escondeu a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente, o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar que nunca conseguirá ficar com ele. Segue teu Coração Até que... p a r a se m p r e ? Em vez de ir acampar com as amigas, a Kitty vai de férias para a praia com a popular Persephone. Ela tem a certeza de encontrar o Rio. Mas terá a Kitty agido corretamente? E será que o Rio vai gostar dela apesar do que fez? Amigas A Kitty vai acampar com as suas melhores amigas e descobre que o Rio está a passar férias ali bem perto. Será que um acampamento sem água corrente é o local ideal para encontrar a sua megapaixão? Tu é que decides! Segue o teu coração até ao final perfeito, ou volta atrás e começa tudo de novo. Vê o vídeo de apresentação deste livro. www.booksmile.pt Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_CAPA.indd 1 ISBN 978-989-707-304-5 JULIE FISON Depois de leres este livro, segue o teu coração até ao próximo: eu Segue o tté ao coração arfeito, final pe que Tu é ! decides Segue teu o ã ç Cora Amigas p ara se m pre ? ISBN 978-989-707-304-5 9 789897 073045 Literatura Juvenil JULIE FISON 5/12/14 11:52 Capítulo Um — A‑cam‑par — eu pronunciei a palavra como se estivesse a aprender um novo vocábulo. — O quê, tipo, numa tenda a sério? A Izzy revirou os olhos. — Claro — respondeu. — Então, o que te parece? — Vai ser uma farra completa — exclamou a Mia. Eu não estava assim tão certa. — Mas da última vez que foram acampar não foi a pior semana das vossas vidas? — perguntei‑lhes. — Não disseram que choveu o tempo todo? E um dos vossos irmãos não vomitou para cima dos sacos‑cama? — Anda lá, Kitty — disse a Izzy, a tirar os livros de Matemática do cacifo. — Que mais tens para fazer? 1 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 1 5/12/14 14:37 Nada. Era esse o problema. Estávamos na última semana de aulas e, na seguinte, a minha mãe e o meu pai estariam a trabalhar e eu ficaria presa em casa, as férias inteiras. Não me importaria com isso se tivesse alguém com quem conviver, mas as amigas iam‑se todas embora, o que me deixava sozinha com a minha irmã mais nova e o seu gangue de parvinhos. Encolhi os ombros. — Está bem, pronto, eu vou. — Sabia que a minha mãe e o meu pai me deixariam ir. A Izzy e a Mia sorriram e aproximaram‑se para darmos um abraço de grupo. — Isso desde que eu sobreviva a este primeiro período da escola. Ainda não fiz o trabalho de Geografia para a Blackmore. — Prometo que nos vamos divertir muitíssimo — guinchou a Mia. — Boa sorte com esse trabalho — disse a Izzy. Fiquei a vê‑las a apressarem‑se para a sala de aula, com os rabos‑de‑cavalo molhados do treino de polo aquático dessa manhã a escorrerem pelas costas abaixo. A Izzy e a Mia pareciam gémeas, assim vistas de trás. Aliás, também eram bastante parecidas de frente. A stora da sala delas chamava Mizzy às duas porque não as conseguia distinguir. Virei‑me para o cacifo, a fazer má cara. Adorava mesmo a Izzy e a Mia. Conhecia‑as desde a escola primária, eram 2 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 2 5/12/14 14:37 realmente as minhas melhores amigas. E por isso era evidente que eu queria passar as férias com elas, mas acampar? A única tenda em que eu tinha dormido fora uma com fadas e princesas que a minha mãe comprara pelos meus três anos. Mas era uma tenda montada no meu quarto, e não no meio do mato. As famílias da Mia e da Izzy eram fanáticas pelo ar livre e acampavam juntas montes de vezes. Mas dormir no chão não me parece nada divertido. Já para não falar das aranhas, cobras e sei lá que mais que há de tentar meter‑se no saco ‑cama comigo. Acrescentem‑se casas de banho públicas e caminhadas imensas no mato. Népias. «Farra» não era a palavra que me vinha à ideia, mas que alternativa tinha, se quisesse passar as férias com as minhas melhores amigas? Agarrei nos livros de Geografia que estavam no cacifo, rodei nos calcanhares e quase embati na Perséfone. Estávamos tão perto que consegui cheirar o perfume intenso dela e ver bem de perto o seu brinco de pérola. Eu tinha a certezinha absoluta de que os planos de férias da Perséfone não implicavam montar uma tenda e andar à bulha por causa da dose de feijão cozido. Para ela, só poderia ser uma pausa de cinco estrelas. — Olá — disse eu, a sorrir. 3 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 3 5/12/14 14:37 — Olá, Kitty. — A Perséfone selecionou o código no cadeado e escancarou a porta do cacifo. — Aguenta só um segundo, eu vou contigo. E eu esperei, a sentir‑me ligeiramente confusa. Eu e a Perséfone não éramos propriamente amigas. Estamos na mesma turma, às vezes ficamos juntas na carteira em Geografia e Expressão Plástica, mas não convivemos. Depois lembrei‑me de que ela nos últimos tempos me tem guardado lugar. Mesmo assim, não é propriamente conviver. E nunca tinha ido comigo para a sala. Andava sempre com as amigas dela — o grupo fixe. Olhei em redor à procura delas. — Não estás à espera das…? — Népias — respondeu logo a Perséfone. A caminho da sala, eu ia algo siderada por caminhar com uma das raparigas mais fixes do nosso ano. Olá, sou eu, a Kitty, apetecia‑me dizer. Não ando propria‑ mente no teu grupo. As tuas amigas são aquelas que fazem férias espetaculares, moram em mansões e têm namorados e tudo. A minha casa é pequena, quase nunca vou a lado nenhum e o mais certo é nunca vir sequer a ter namorado. Não disse nada disto, evidentemente. Antes pelo contrário, espreitei para trás para verificar que a Izzy e a Mia não me viam. Elas não achavam graça nenhuma ao grupo fixe. 4 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 4 5/12/14 14:37 Fui andando ao lado da Perséfone, na esperança de apanhar um bocadinho do fixe dela e guardá‑lo para mim. Ela ia falando do trabalho de Geografia que era para entregar hoje e que eu ainda não tinha terminado. Provavelmente devia ter tomado atenção, mas tinha a cabeça a mil. Se eu possuísse uma fração do fixe da Perséfone, talvez tivesse hipóteses com o Rio. O Rio: o espampanante e fofíssimo Rio Sanchez. Completamente perdido de bom e integralmente inatingível para mim. Há meses que eu andava a sonhar com ele, desde a primeira vez que o vira no autocarro. Estava uma tarde de calor opressivo e não ia a mais do que um metro de distância dele, na parte de trás do autocarro. Soube logo pelo uniforme que ele andava na minha escola, versão rapazes. Dei uma olhadela e vi‑lhe o nome na lateral da mochila. Quando os meus olhos chegaram por fim àquela cara fofa e bronzeada e àquele cabelo preto despenteado, já eu estava em transe. Felizmente, ele entretinha-se rindo à gargalhada com os amigos e não reparou em mim a babar ‑me. Antes mesmo de me aperceber disso, tive uma visão do nosso futuro: a caminhar de mãos dadas, a rirmo‑nos das piadas um do outro, o nosso primeiro beijo. Nisto, a realidade meteu o bedelho. O autocarro fez uma curva apertada e, como eu estava a olhar para o Rio 5 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 5 5/12/14 14:37 em vez de me segurar bem, caí para a frente no corredor. Em pânico, agarrei‑me à única coisa que me apareceu — a camisa do Rio. Ele olhou para mim com um olhar aterrorizado. Devia achar‑me completamente louca. Foi confrangedor. Murmurei qualquer coisa a pedir desculpa e saí do autocarro na paragem seguinte, a qual ficava a cerca de cem quilómetros da minha casa. Desde então, tenho mantido uma distância de segurança do Rio, mas a minha missão na vida é conhecê‑lo — mas sem ter propriamente de falar com ele. Todos os dias, quando o autocarro chegava à paragem dele, eu sustinha o fôlego, desejosa de que ele surgisse pela porta da frente. Nos dias em que aparecia, eu mirava‑o. Ele dava‑se com os desportistas. Não eram malucos como outros rapazes que apanhavam o autocarro e se portavam como uma cambada de orangotangos. O Rio e os amigos estavam sempre a rir. Os olhos castanhos dele faziam ruguinhas quando sorria, ficava tão giro que parecia impossível. Por vezes, eu chegava‑me perto o bastante para ouvir as conversas deles. A maioria era sobre equipas de futebol de que eu nem nunca ouvira falar, e de jogadores que não significavam nada para mim. Mas não me importava com isso. Gostava de ouvir a voz do Rio. Ele tinha um bocadinho 6 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 6 5/12/14 14:37 de sotaque que eu não sabia dizer de onde vinha, mas era amoroso! Depois, houve uma altura em que me apercebi de outro aspeto do Rio. Entrara sozinho e sentara‑se mesmo à minha frente.Tinha os auscultadores e encostara a cabeça ao vidro da janela. Do meio do nada, apareceu uma bola perdida pelo autocarro fora na minha direção. Antes que eu tivesse sequer hipótese de levantar as mãos para me proteger, o Rio apanhou‑a no ar. Atirou‑a de volta e depois virou‑se para mim. — Tu estás bem? — perguntou‑me. Eu estava toda entaramelada, não consegui dizer nada, limitei‑me a fazer que sim com a cabeça vigorosamente. O Rio sorriu e voltou à sua música como se não tivesse acontecido nada, mas quando eu saí do autocarro, três paragens depois, ia completamente nas nuvens: o Rio San‑ chez sorriu para mim! Fui a correr para casa. Depois sentei‑me com o meu caderno de desenho e esbocei o rosto do Rio.Tentei captar ‑lhe a expressão. Tinha sido forte mas atenciosa. E o sorriso — de tão abrasador podia derreter um glaciar. Lindo! Estava toda contente com os meus esquissos. Se ao menos falar com o Rio fosse tão fácil como era desenhá‑lo. 7 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 7 5/12/14 14:37 Descartei estes sonhos e lembrei‑me de onde estava — no corredor a caminho da sala com a Perséfone. Olhei para ela, a pensar se seria maquilhagem ou um creme especial que fazia a pele dela brilhar daquela maneira. Foi quando me apercebi de que ela me estava a perguntar qualquer coisa. — Kitty? — perguntou a Perséfone, a erguer uma sobrancelha. — Tu fizeste? Não fazia a mais pálida ideia do que ela estava a dizer, mas tentei não dar a entender que não tinha ouvido patavina. — Hum… — Fizeste o trabalho de Geografia? Até praguejei. — Não, vou pedir adiamento. — Era óbvio que tinha passado demasiado tempo em devaneios sobre o Rio e pouco ou nenhum com os trabalhos de casa. A Perséfone sorriu. — Encontrei na Internet montes de cenas que ajudam. Posso mandar‑te os links, se quiseres. — Isso era fantástico! — Senti‑me genuinamente grata. — Anseio pela chegada das férias. Estou tão fartinha das aulas! — Eu também.Vai ser divertido.Vamos para Paradise Point — disse a Perséfone. — A tua família também vai para lá? 8 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 8 5/12/14 14:37 Abanei a cabeça. — Nem por isso. Só fomos uma vez, aliás. Paradise Point era fixe demais para nós. Era a central das celebridades. Toda a gente que fosse alguém na vida tinha lá um lugar. Praia perfeita, lojas perfeitas e gente perfeita. Não era nada o estilo da minha família. — Nós temos um apartamento mesmo à beira da praia — disse a Perséfone. Pois claro que têm, pensei eu. — Devias ir lá um dia destes e ficavas connosco. Parei e olhei em redor. Mas a Perséfone ainda estava realmente a falar comigo? Se calhar, tinha entretanto aparecido uma das amigas. Não. Ela estava mesmo a olhar para mim. — Ficar convosco? Em Paradise Point? A Perséfone fez uma cara de quem se arrependeu da proposta. — Quer dizer, não faz mal que não queiras ir. — Não, não. Quer dizer, sim! — exclamei. — Gostaria muito. — Só não sei quando, mas temos mesmo de combinar! — A Perséfone parecia mais animada. — Aquilo é tão divertido. 9 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 9 5/12/14 14:37 Dias grandes e quentes na praia, gelados deliciosos, bateladas de tipos giros, e depois à noite deixamo‑nos ficar até tarde. Temos de combinar um dia destes. — Completamente. — Ora cá estava aquilo a que eu chamo diversão. — Mas há uma condição. Devia ter calculado que tinha de haver uma condição. Estar com a miúda mais fixe da escola no seu apartamento de praia parecia‑me mesmo demasiado bom para ser verdade. A Perséfone estava muito séria. — Tu não podes nunca, jamais — pausa — tratar‑me pela minha alcunha. — Ah, isso é fácil — disse eu, aliviada por não ter de passar a nenhum exame do «fixe». — Eu nem sequer sei qual é a tua alcunha. Por segundos, a Perséfone parecia mesmo tímida. — A minha família chama‑me Percy Pony. Foi o meu irmão quem começou, tinha ele três anos, e a alcunha ficou. Eu sorri. — É fofo. — Mato‑te se me tratares assim — disse ela, meio a rir. Eu levei a mão ao peito num gesto solene. 10 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 10 5/12/14 14:37 — Prometo que nunca te tratarei assim. — Depois hesitei. — Sabes qual é a alcunha que a minha família me dá? A Perséfone chegou‑se mais, a sorrir. — Bichaninha. A Perséfone riu‑se. — Isso é que é mesmo fofo. Eu fiz má cara. — Quando tinha seis anos, talvez; mas agora é embaraçoso, especialmente quando temos amigos lá em casa e a minha mãe me chama assim. — Até estremeci só de pensar nisso. Talvez não o devesse ter contado à miúda mais fixe da escola. Todavia, a Perséfone limitou‑se a abanar a cabeça. — Os pais são uma seca. Espero que os meus cresçam um dia! Desatámos as duas a rir. A Perséfone enlaçou o braço no meu e lá fomos as duas para a sala. Eu ia a fervilhar de tão empolgada. Teria acabado de ganhar uma nova amiga muito fixe? 11 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 11 5/12/14 14:37 Capítulo s i o D Quando deu o toque para o almoço, apercebi‑me de que se passava na minha vida algo novo e emocionante. Parecia cedo demais para pensar na Perséfone como minha amiga, mas as coisas estavam mesmo a mudar entre nós. Pormenores, como ela a guardar‑me lugar e fazer‑me companhia no caminho para a sala, eram pequenos sinais. Havia também grandes sinais. Afinal, ela tinha‑me convidado para ficar em sua casa e até me contara acerca da alcunha secreta. O gelo entre nós estava a quebrar‑se. Ainda não éramos amigas propriamente ditas e andávamos por enquanto em grupinhos diferentes. Porém, eu agora sentia que teria mesmo hipótese de a conhecer e apercebi‑me de que ela também me queria conhecer melhor. 12 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 12 5/12/14 14:37 Talvez pudéssemos encontrar‑nos numa das semanas de férias? Quem sabe irmos às compras ou ao cinema? Eu só iria acampar por uma semana. Depois disso, a Izzy e a Mia voltavam à piscina, para treinar. Eu ficaria de certeza com tempo livre para me dar com a Perséfone. Não era que quisesse trocar de melhores amigas, mas a ideia de uma amiga nova agradava‑me. Especialmente uma que tivesse tempo para se divertir. E o mais certo era a Perséfone estar ocupadíssima nas férias, mas calculei que não faria mal em lhe perguntar. Esperei por ela à saída da sala. Ela apareceu finalmente com a Tori, a melhor amiga. A Tori não era bonita como a Perséfone, mas destacava‑se do grupo porque tinha autoconfiança, bateladas dela. A Tori tinha começado a moda das tranças na escola. Um dia, viera de trança e, no dia seguinte, toda a gente usava o cabelo assim. Toda a gente, menos as raparigas do polo aquático e eu. Nós usávamos rabos‑de‑cavalo. Não era que eu jogasse polo aquático, mas usava o cabelo assim porque me dava com elas. — Então — começou a Perséfone. Mas, antes que eu lhe pudesse perguntar pelas férias, a Tori levou‑a dali. 13 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 13 5/12/14 14:37 A Perséfone levantou o braço no ar teatralmente e arqueou o corpo para trás, como se estivesse a ser arrastada para a prisão. Depois fez‑me sinal para que fosse com elas. — Queres almoçar connosco? — chamou ela. Sorri perante a ideia, mas depois abanei a cabeça negativamente. Eu almoçava sempre com a Izzy e a Mia. Não era todos os dias que me convidavam para almoçar com as miúdas fixes, mas eu sabia que não seria nada fixe dar tampa às minhas amigas. A Mia e a Izzy estavam no banco do costume. Sorriram ‑me, mas eu não as conseguia encarar. De repente, senti‑me um pouco culpada por ter sequer considerado almoçar com a Perséfone e as miúdas fixes. — Estás bem? — perguntou a Izzy quando me sentei. — Safaste‑te com a Blackmore? — Safei — respondi. — Deu‑me mais tempo. Até quinta ‑feira. — Ai que bom, fazer trabalhos na última semana de aulas — disse a Mia, a revirar os olhos. — Pois é — disse eu, e suspirei —, mas a Perséfone disse que me podia dar uma mãozinha com uns endereços de uns sites úteis. A cara da Izzy torceu‑se numa careta. Parecia que acabava de chupar um limão. 14 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 14 5/12/14 14:37 — Percebes? — Ela pronunciou mal, de propósito, o nome da Perséfone. — Desde quando é que vocês são amigas do peito? — Não somos — respondi logo. — Só estamos na mesma sala e às vezes ficamos sentadas na mesma carteira, mais nada. — Hesitei. — Ah, além disso, eu encontro‑a na paragem quando vocês têm treino de polo aquático depois das aulas. Seja como for, ela só queria ajudar. A Izzy enfiou um bocado de um queque que parecia muito nutritivo na boca. Ainda tinha cara de limão azedo quando rematou: — Eu cá não confio nela. — Mas nem sequer a conheces! A Izzy encolheu os ombros. — Conheço que chegue. — Depois começou a desfiar um rol enorme de razões para não gostar da Perséfone. A maioria, coisas parvas. Não gostava do nome dela, nem da forma como ela usava o cabelo, ou da maneira como ela falava. Contudo, o principal crime da Perséfone, segundo a Izzy, era fazer parte do grupo da Tori. — São todas umas empertigadas. Olhei com má cara para a minha barra de cereais meio comida. A Izzy não sabia nada da Perséfone.Talvez houvesse 15 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 15 5/12/14 14:37 raparigas empertigadas no grupo da Perséfone, mas ela não era assim. Além disso, eu não precisava da autorização da Izzy para ser amiga da Perséfone, ou fosse de quem fosse. — A Perséfone até é bem fixe — disse eu. — E também adora os The Lads. A Mia e a Izzy praguejaram. Não suportavam os The Lads e gemiam sempre que eu punha a tocar canções deles. — Não sei — disse a Izzy devagar. — Há qualquer coisa que não está bem numa rapariga tão bonita. Eu não podia acreditar no que estava a ouvir. — Então é por isso que não gostas dela? Porque é demasiado bonita? A Izzy encolheu os ombros. — Izzy, o que é que isso quer dizer? — perguntou a Mia. — Gostas de nós porque não somos bonitas? A Izzy abanou a cabeça. — Eu não disse… A Mia interrompeu‑a. — A Kitty é mais bonita do que a Perséfone. Então como é que gostas da Kitty? A Izzy tornou a encolher os ombros. — A Kitty é diferente. Conheço‑a desde sempre. Já a conhecia ainda ela não era tão bonita. 16 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 16 5/12/14 14:37 — Então? — refilei eu. — Lembras‑te de quando foste a uma festa do terceiro ano mascarada de miúda das cavernas — disse a Izzy, aos risinhos — e vestias uma coisa de pele velha que vinha da cama do teu cão? E tinhas a cara mascarrada com carvão? E o cabelo todo empastado e cheio de folhas, como se tivesses dormido no quintal uma semana inteira? — A Izzy começou a engasgar‑se com a risota. — Não, Kitty, tu não eras mesmo nada bonita. A tua mãe deve ter mesmo um sentido de humor tramado. — Pois tem — disse eu, e ri‑me. Era sempre difícil continuar zangada com a Izzy, especialmente tendo ela na manga tantas histórias embaraçosas que nos aconteceram na escola primária. — Onde é que a minha mãe estava com a cabeça? A Mia sorriu‑nos. Detestava zangas e parecia contente por estarmos amigas outra vez. — É tão bom irmos acampar juntas. — Pois é! — Exclamei, embora ainda me provocasse um nervoso miudinho só de pensar nisso. — Uma semana inteira numa tenda. Boa! Vai ser mais do que espetacular! A Izzy e a Mia entreolharam‑se. Percebi que tinha exagerado no entusiasmo. 17 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 17 5/12/14 14:37 — Tu vais adorar — disse a Mia. — Acredita no que te digo. A Izzy sorriu, descarada. — Mas sabes que vamos improvisar, não sabes? Encolhi os ombros. — Hei de safar‑me sem alisar o cabelo uma semana. Não tenho medo de duches frios. A Izzy riu‑se. — Não há chuveiros no sítio para onde vamos e teremos de cavar um buraco para as necessidades. Até me encolhi ao pensar numa sanita «faça você mesma» — a humilhação de sair do acampamento com uma pá e um rolo de papel higiénico, já para não falar nas moscas e no cheiro. Ai, o cheiro! E se desenterrasse a que alguém já tinha cavado? Que nojo! Depois reparei no ar preocupado da Mia. — Estás bem? — perguntou ela. A mim só me apetecia apagar o piaçaba da minha cabeça. — Portanto, há mais alguma coisa que eu deva saber sobre esse acampamento? — Não te importas com cobras, pois não? — perguntou a Izzy. A Izzy sabia que eu me importava sim com tudo o que rastejasse. Até as lagartixas me faziam impressão. Sei que elas 18 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 18 5/12/14 14:37 têm patas e não rastejam propriamente, mas continuam a parecer‑se demasiado com cobras para o meu gosto. Contudo, via‑se bem a emoção que as minhas amigas do peito sentiam com a minha adesão a ir finalmente acampar com elas. — Não me importo com as cobras. Desde que fiquem fora da tenda. — E não te importas com carraças? Provavelmente há algumas nesta altura do ano — disse a Mia. Só de pensar num desses bichos do inferno pegajosos e sugadores de sangue agarrados a um tornozelo, ficava toda arrepiada. Com o sapato, enxotei uma carraça imaginária do outro tornozelo. A Izzy soltou uns risinhos, e eu ri‑me mesmo, como se fosse tudo uma brincadeira. Porém, sabia que não teria graça nenhuma quando estivesse realmente no meio do mato. Não me achava nada resistente para lidar com carraças e cobras. Queria passar uma semana com a Izzy e a Mia, mas não me agradava ter de aturar carraças ou não tomar duche, e de certezinha que não queria cavar a minha própria sanita. Já me começava a arrepender de ter aceitado ir com elas. — Agrada‑me o teu feitio, menina — disse a Izzy, em voz de stora de Educação Física e a dar‑me um palmadão 19 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 19 5/12/14 14:37 nas costas. — Sei que detestas carraças, mas não vais deixar que te levem a melhor. Nisto, ocorreu‑me uma ideia.Talvez eu conseguisse safar ‑me daquela viagem. — Espero que a minha mãe me deixe ir — arrisquei, em voz incerta. — Claro que vai deixar — disse a Mia. — A minha mãe comentou que ia ligar à tua ainda hoje. — Ótimo — concordei eu com a voz débil. Sabia que a minha mãe provavelmente diria que sim. Estava tramada. —Vai ser tão fixe — disse a Mia. — Comer marshmallows à roda da fogueira, ficar acordada até tarde a contar histórias de fantasmas.Vais ver. Deu o toque para o fim da hora de almoço. — Kitty, não te esqueças de que temos encontro de polo aquático mais logo. São as provas, lembras‑te? — perguntou a Izzy. Abanei a cabeça. — Nem por sombras consigo entrar para a equipa. — Tu és ótima.Vá lá, experimenta — pediu a Mia. — Népias, tenho de fazer o trabalho de Geografia. — Suspirei. — Seja como for, o polo aquático não é a minha cena. Ainda não sabia bem qual era «a minha cena». Andava ainda à procura. 20 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 20 5/12/14 14:37 Até não era nada má a desporto, mas a Izzy e a Mia eram tão espetaculares que toda a gente parecia inútil em comparação com elas.Também eram empenhadíssimas naquilo. As duas tinham entrado para a secção de elite do polo aquático no princípio do ano. Desde então, quase não tinham tempo livre. Estavam sempre a treinar. Devia ser por isso que me agradava a ideia de passar algum tempo com a Perséfone. Embora ela fosse uma das raparigas fixes, até era bastante normal, comparada com a Izzy e a Mia. Eu e a Perséfone até devíamos ter bastante em comum. Parecia que ela gostava de ir às compras, de arranjar as unhas, de ir à praia. A Izzy e a Mia, por outro lado, achavam que acampar é que era fixe. Elas praticamente só tinham uma semana por período sem treinos e queriam passá‑la com cobras e carraças. Mas quem é que faz uma coisa dessas? Encaminhei‑me para as aulas, perdida em conjeturas para me safar das férias num acampamento. Porque é que tinha de ser campismo? Engoli em seco. As férias iam ser um inferno. 21 Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_MIOLO.indd 21 5/12/14 14:37 1 Amigas p ara sem pre ? Durante meses a Kitty MacLean escondeu a sua paixão pelo Rio Sanchez – que é, provavelmente, o rapaz mais giro do mundo. Tudo parece indicar que nunca conseguirá ficar com ele. Segue teu Coração Até que... p a r a se m p r e ? Em vez de ir acampar com as amigas, a Kitty vai de férias para a praia com a popular Persephone. Ela tem a certeza de encontrar o Rio. Mas terá a Kitty agido corretamente? E será que o Rio vai gostar dela apesar do que fez? Amigas A Kitty vai acampar com as suas melhores amigas e descobre que o Rio está a passar férias ali bem perto. Será que um acampamento sem água corrente é o local ideal para encontrar a sua megapaixão? Tu é que decides! Segue o teu coração até ao final perfeito, ou volta atrás e começa tudo de novo. Vê o vídeo de apresentação deste livro. www.booksmile.pt Segue o teu coração 1 - Amigas para sempre_dp_CAPA.indd 1 ISBN 978-989-707-304-5 JULIE FISON Depois de leres este livro, segue o teu coração até ao próximo: eu Segue o tté ao coração arfeito, final pe que Tu é ! decides Segue teu o ã ç Cora Amigas p ara se m pre ? ISBN 978-989-707-304-5 9 789897 073045 Literatura Juvenil JULIE FISON 5/12/14 11:52