Jornal Valor Econômico
“BB foca oportunidades de crescimento no
Nordeste
Alex Ribeiro
20/09/2007
De olho em um mercado com forte potencial de crescimento, o Banco do Brasil começa a colocar em
pratica uma nova estratégia para o Nordeste. O alvo são nichos de negócio que, embora rentáveis,
ainda não despertaram o interesse dos grandes bancos de varejo privados. "Falta banco público no
Nordeste", avalia o presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco Lima Neto.
Os antigos bancos estaduais, que foram privatizados nos últimos dez anos, mudaram o foco de sua
atuação, tornando-se bancos urbanos, voltados para os segmentos mais rentáveis do mercado, como
a classe média.
O Banco do Nordeste (BNB) tem uma atuação forte em alguns segmentos, como microcrédito
orientado produtivo e projetos de desenvolvimento, mas sua atuação é limitada pela rede de
agências relativamente pequena e pela capacidade restrita de alavancagem de fundos.
O BB concluiu que pode ocupar essa lacuna, fazendo uso, por exemplo, de sua experiência na
agricultura e no atendimento de governos. "Os Estados precisam de bancos regionais para colocar
em prática suas estratégias", afirma Lima Neto. "Estamos conversando com eles para identificar o
que podemos fazer juntos."
O objetivo, explica, é colocar a placa do Banco do Brasil em mercados que tendem a se tornar cada
vez mais importantes no futuro. O município de Picos, no Piauí, é um bom exemplo, afirma Lima
Neto. O Banco do Brasil ajudou a organizar duas cadeias produtivas nesta localidade, uma de de
castanha de caju e outra de mel, dentro de um programa conhecido como Desenvolvimento Regional
Sustentável (DRS). O município de Picos está em um lugar privilegiado, num entroncamento que
leva à Bahia, Pernambuco e Ceará, e no traçado projetado para a ferrovia Transnordestina.
"Esse será um dos pólos mais dinâmicos do Nordeste, e só temos a ganhar se chegarmos primeiro",
afirma Lima Neto. "É como se construíssemos mais uma fileira de tijolos em um grande muro,
tornando ainda mais difícil a entrada de concorrentes." Atualmente, o BB já tem uma posição
preponderante no Nordeste - a instituição responde por 38,9% das agências bancárias instaladas na
região.
Hoje, o BB assina um protocolo com o governo de Alagoas que formaliza a implantação do projeto no
Estado. Já há um acordo firmado com o Rio Grande do Norte e, dentro de duas semanas, espera-se
assinar com o Piauí.
O estreitamento de laços com os governos locais também amplia a chances de o BB conquistar
novos contratos no cobiçado mercado de folhas de pagamentos dos Estados. Recentemente, o
Estado do Maranhão rompeu contrato com o Bradesco e assinou acordo com o BB. O BB já
administra as contas do Rio Grande do Norte e negocia a incorporação do Banco do Estado do Piauí
(BEP), levando junto a folha de pagamento. O Bradesco mantém as contas dos Estados da Bahia e
do Ceará, que obteve quando venceu os leilões de privatização. O ABN AMRO comprou os bancos de
Pernambuco e Paraíba. O Sergipe tem um banco próprio, o Banese, e Alagoas é cliente da Caixa
Econômica Federal.
O BB vê oportunidades para aumentar sua carteira de crédito também em outras áreas. Uma delas
são os programas de desenvolvimento dos Estados, em que, por exemplo, os governo locais definem
incentivos tributários. "A concessão de incentivos tributários mitiga riscos dos negócios, permitindo
que os juros fiquem mais baixos", afirma o diretor de governo do BB, Sérgio Nazaré. Em Alagoas,
por exemplo, o BB acha que essas parcerias podem ajudar a triplicar a carteira de crédito para micro
e pequenas empresas em quatro anos, chegando a R$ 308,3 milhões.
No "Projeto Nordeste", o BB quer trabalhar em parceria inclusive nas operações de financiamento
dos projetos de infra-estrutura. Mas, ao contrário do modelo que esteve em vigor até a década de
1990, em que bancos públicos financiavam diretamente os Estados, a idéia é financiar empresas
privadas que tocam os projetos. "Também queremos usar nossa experiência para fazer, por
exemplo, a securitização da cobrança de impostos", afirma Nazaré.
Lima Neto diz que as taxas de crescimento econômico de algumas regiões do Nordeste têm ficado
acima da média do país. A expectativa de crescimento do consumo em 2007 é de 20%, bem maior
do que os 8% observados em 2006. Salvo em alguns segmentos, como o de cartão de crédito, esse
potencial não tem sido bem aproveitado pela indústria bancária de forma geral.
Dados do Banco Central mostram uma redução na participação do Nordeste no crédito total do país,
de 6,15% para 5,51% entre junho de 2006 e de 2007. No mesmo período, o volume de crédito no
Sudeste aumentou de 69,74% para 73,09%. O quadro geral é de maior competição pela oferta do
crédito no Sudeste, onde as margens tendem a decrescer mais rapidamente. No Nordeste, há um
mercado ainda não explorado, que tende a ter taxas de retorno mais elevadas do que no resto do
país. “
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