ASPECTOS DO ENSINO DA TERMINOLOGIA TÉCNICO-CIENTÍFICA
Maria Margarida de Andrade, Universidade Mackenzie (Mack)
Este trabalho tem um duplo objetivo: evidenciar que o domínio da terminologia técnico –
científica é requisito indispensável para a redação e difusão dos textos técnico-científicos e
que esse domínio só pode ser alcançado por meio de técnicas de ensino transdisciplinares.
O léxico geral de uma língua abriga inúmeras variedades de linguagens, destacando-se as
linguagens comuns e as linguagens especializadas. Essa grande variedade de tipos de
linguagens corresponde às finalidades específicas de diferentes situações de comunicação.
Não se pode confundir o uso geral de um vocábulo com o uso específico, pois na área das
linguagens especializadas, embora apresente apenas uma acepção, a significação de um termo
muda, conforme o tipo de terminologia na qual ele é empregado. A norma ISO 1087 (1990)
define terminologia como o “estudo científico das noções e dos termos usados nas línguas de
especialidades.”Certamente, se uma linguagem especializada não se reduz a uma
terminologia, sem dúvida, os conhecimentos especializados são denominados lingüisticamente
pelos termos. Portanto, a terminologia é o elemento básico para a caracterização das
linguagens de especialidades e também para a distinção das linguagens de especialidades
entre si. O termo parábola, por exemplo, significa, na literatura: narrativa alegórica que evoca
outras realidades de ordem superior; na Matemática, representa uma forma geométrica; na
Física, um tipo de equação. Note-se que parábola apresenta um único significado em cada
terminologia apontada.
Cabré (1993, p. 103) afirma:
As linguagens de especialidade são os instrumentos básicos de comunicação entre os
especialistas. A terminologia é o elemento mais importante, que diferencia não só as
linguagens de especialidade da linguagem comum, mas também as diferentes linguagens de
especialidade entre si (tradução nossa).
Os textos redigidos com o emprego de uma linguagem especializada diferem dos demais, das
linguagens comuns pelos aspectos relativos, principalmente, à terminologia, que lhes confere
características peculiares. .
As terminologias técnico-científicas não constituem por si mesmas um tipo de linguagem
especializada, a técnico-científica; elas fazem parte do que se denomina metalinguagem
científica, esta sim, indispensável para a comunicação dos textos técnico-científicos, bem como
para a compreensão dos livros e comunicações científicas de especialistas, em cada área do
conhecimento.
Genouvrier; Peytard (1974, p. 288) estabelecem distinção entre terminologia e metalinguagem
científica: à primeira compete a denominação dos termos específicos de uma linguagem de
especialidade, enquanto atividade; a segunda trata dos termos que designam conceitos
operatórios de uma pesquisa ou reflexão científica, nas diversas áreas do conhecimento.
Deduz-se daí que a terminologia, na acepção de conjunto de termos referentes a determinada
técnica, ciência ou atividade, constitui o suporte das linguagens especializadas. Inegavelmente,
o emprego da terminologia técnico-científica é uma imposição a que se obrigam professores e
estudantes, cientistas, especialistas de todas as áreas do conhecimento. O ensino de uma
terminologia corresponde, de modo geral, ao ensino de uma língua estrangeira, pois ainda que
a maioria dos termos provenha da língua comum, os percursos que levam á transmutação da
palavra em termo fazem com que a terminologia se transforme em uma segunda língua,
dentro da língua geral. Modernamente, o estudo do vocabulário, seja qual for sua natureza,
não se faz isoladamente, mas relacionando-o com outras atividades e disciplinas. O ensino de
uma terminologia, ou seja, de um vocabulário técnico-científico não foge a essa regra. Para
utilizar a linguagem técnico-científica indispensável à redação e divulgação dos documentos
técnico-científicos torna-se necessário o emprego de uma linguagem referencial, clara,
objetiva, em outras palavras, o uso de uma metalinguagem científica, acrescida dos termos
técnicos da área em questão, vale dizer, da terminologia específica daquela área do saber.
Deste modo, fica esclarecido que o ensino da terminologia técnico-científica depende da
aquisição, num primeiro momento, da linguagem técnico-científica, tarefa dos professores de
Língua Portuguesa e Metodologia Científica. Num segundo momento, o aprendizado se volta
para a terminologia própria de cada área, ensino que envolve, no mínimo, professores de
Lingüística, de Semântica e de Lexicologia, no estudo das relações inter-universos lexicais. Os
professores especialistas de cada disciplina completarão o ensino da terminologia relativa a
sua própria área de atuação. Somente com as contribuições advindas das várias disciplinas
relacionadas com o assunto será possível chegar-se a um resultado satisfatório, no ensino da
terminologia técnico-científica. Naturalmente, antes da tarefa de ensinar os alunos, existe
outra, fundamental, que é a formação dos formadores (LERAT, 1995, p. 191). Preparar
professores, lingüistas, administradores, juristas, engenheiros, técnicos e cientistas é
indispensável para o ensino e difusão das terminologias, normalizadas por meio de Boletins,
publicações de léxicos e outras publicações especializadas. Pelo exposto, conclui-se que o
ensino da terminologia técnico-científica é atividade fundamentalmente interdisciplinar, que
só poderá se realizar com o concurso de estratégias transdisciplinares, voltadas para o mesmo
objetivo.
BIBLIOGRAFIA
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ANDRADE, M. M. de Aspectos do Ensino da Terminologia Técnico-Científica . Anais da 58ª
Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006
Disponível em http://www.sbpcnet.org.br/livro/58ra/atividades/TEXTOS/texto_265.html
acesso em 03/12/2009
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