INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - ICS FUNORTE- SOEBRAS Fernando Ferreira Pena Lopes A importância do ajuste oclusal pós-tratamento ortodôntico Contagem – MG 2010 FERNANDO FERREIRA PENA LOPES A importância do ajuste oclusal pós-tratamento ortodôntico Monografia apresentada ao Instituto de Ciências da Saúde Funorte/Soebras, como parte dos requisitos necessários para obtenção do título de Especialista em Ortodontia. Orientador: Prof. Dra. Louise Reis Co-orientador: Prof. Dr. Frederico Marques Contagem - MG 2010 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho ao meu pai (in memorian), minha mãe por me dar oportunidade de me formar e pelo exemplo de vida que ela é, as minhas irmãs, aos meus sobrinhos, ao meu filho e a minha esposa. AGRADECIMENTOS A Deus por ter me dado força, coragem, sabedoria, paciência, e proteção para vencer este grande desafio. A minha mãe Penha Maria, por sempre estar ao meu lado em todos os momentos da minha vida, me apoiando, incentivando e ajudando no que for preciso Obrigado Mãe. Amo você! Ao meu pai Glorinho Lopes, pelos momentos alegres que passamos juntos e por me mostrar que a vida tem apenas dois caminhos o certo e o errado e que basta nós escolhermos o qual devemos seguir. Que Deus esteja convosco onde estiveres. Uma pena que fostes tão cedo! As minhas irmãs, Flaviana e Fabiana, e aos meus sobrinhos. Que vocês sempre busquem seus sonhos com garra, dedicação e esperança! À minha esposa Elianey que sempre esteve ao meu lado nos momentos alegres e difíceis me apoiando para que eu realizasse mais este sonho, Admiro-lhe e me inspiro em sua determinação, força de vontade, garra, dedicação para com nosso filho, seu amor de mãe e de esposa. Você é muito especial! Obrigado, Te amo. Ao meu filho Fernando Júnior, peço perdão pelos momentos de ausência, talvez este seja o preço mais caro na dedicação aos estudos, sei que minha esposa Elianey supre de maneira redobrada minha falta, mas é a forma que tenho de crescer como profissional e dar-lhe uma melhor condição de vida. Peço à Deus que meus filhos me vejam como exemplo de dedicação ao trabalho e à família e que nos momentos que passamos juntos tenham em qualidade o que falta em quantidade. Te amo filho. A minha orientadora, Prof. Dra. Louise Reis, pela oportunidade de poder trabalhar ao seu lado, pelos valiosos ensinamentos, pela amizade, pela paciência e pela confiança e apoio na realização deste trabalho. Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Frederico Marques por me dar todo apoio , incentivo, motivação e por ser atencioso sempre. Obrigado meu amigo. Ao Prof. Dr. Renato Andrade pela amizade, pelos conselhos, pela confiança demonstrada, em minha pessoa, e por tudo que tem me ensinado desde a época do meu aperfeiçoamento. A todos os professores da especialização que participaram diretamente na minha formação acadêmica. Às minhas colegas de especialização Kátia, Elaine, Débora, Geisler, Isa, Marilan, Isabela e Maria Aparecida, pelo carinho, pela confiança, pela boa vontade de sempre poder ajudar. Cada uma com suas peculiaridades, mas com o coração sempre aberto e com um sorriso no rosto! Vocês são especiais! Aos meus colegas de especialização, Bruno, Carlos e José Lourenço pela intensa convivência, pelos ensinamentos, pelos conselhos, pela confiança e, principalmente, pela amizade sincera. A todos os funcionários e atendentes pela simpatia e boa vontade, sempre nos atendendo com alegria. A todos que torceram por esta conquista! Obrigado pela força! RESUMO Este trabalho tem como finalidade fazer uma revisão de literatura sobre a importância do ajuste oclusal após tratamento ortodôntico, bem como sua indicação, beneficio da técnica sobre a estabilidade e conforto mandibular. Com isto, concluímos que o ajuste pós-ortodontia torna-se imprescindível ao término de todo tratamento com a finalidade de diminuir a recidiva, eliminar as interferências oclusais, promover coincidência entre a máxima intercuspidação habitual e a relação cêntrica e principalmente ser realizado como complemento do tratamento ortodôntico e não um substituto de uma ortodontia bem feita. ABSTRACT This paper aims to review the literature on the importance of occlusal adjustment after orthodontic treatment, as well as his statement, the benefit of the technique on mandibular stability and comfort. With this, we conclude that the post-orthodontic adjustment becomes essential to the completion of all treatment in order to reduce recurrence, eliminating the interference, occlusal, promote coincidence between the maximum intercuspal position and centric relation and habitual mainly be performed as a complement to treatment Orthodontic and not a substitute for a well made orthodontics. SUMÁRIO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT 1 – INTRODUÇÃO.......................................................................................................9 2 – PROPOSIÇÃO.....................................................................................................11 3 - REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................12 4 – DISCUSSÃO........................................................................................................20 5 – CONCLUSÃO.......................................................................................................22 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................23 1 – INTRODUÇÃO A ortodontia vem se tornando, há anos, a área da odontologia com maior crescimento no número de profissionais atuantes, com grande procura por parte de pacientes jovens e adultos na busca de uma dentição considerada ideal, no que diz respeito aos quesitos estéticos e funcionais. Um tratamento ortodôntico com qualidade deve exigir do profissional, especialista nesta área, grande conhecimento de biomecânica, fisiologia da mastigação e da deglutição, princípios de estética e oclusão dentária. O conhecimento dos princípios básicos e fisiológicos da oclusão como auxiliares no planejamento inicial, durante o período de tratamento e, principalmente, na finalização dos casos tratados são de fundamental importância clínica. Estes princípios devem ser entendidos e praticados por todos os especialistas com o objetivo de se obter, após remoção do aparelho ortodôntico, uma oclusão estável e satisfatória para cada paciente, com a menor probabilidade de recidiva e insucesso do tratamento. Dentre as diversas causas de insucesso dos tratamentos ortodônticos finalizados, a interferência oclusal se destaca como um dos fatores mais relevantes e responsáveis pelas recidivas pós-tratamento, tanto na posição de relação cêntrica quanto na máxima intercuspidação habitual. Como conseqüências clínicas de uma interferência oclusal, não identificada após finalização de um caso clínico, podemos observar mobilidade dentária, recessão gengival, abfração cervical, desgastes incisais ou de pontas de cúspides, fraturas de restaurações, entre outras. (CONSOLARO, 2008). Um dos procedimentos mais importantes da odontologia e responsável por eliminar uma ou mais interferências oclusais, dando estabilidade e conforto ao sistema estomatognático, principalmente nas áreas que se relacionam diretamente com a oclusão dentária, é o ajuste oclusal. Este procedimento pode ser realizado por meio de pequenos desgastes seletivos ou por acréscimo seletivo de contatos oclusais com restaurações diretas ou indiretas. O conceito da multidisciplinaridade no exercício da odontologia é considerado fundamental para o alcance da excelência nos tratamentos (McCOLLUM e EVANS, 1970). Sendo assim, existe grande necessidade de se fazer uma avaliação oclusal, na posição de relação cêntrica e na máxima intercuspidação habitual, ao término de cada tratamento oclusal. Esta avaliação, visando uma maior harmonia, equilíbrio e estabilidade oclusal, pode ser feita tanto pelo ortodontista, caso tenha conhecimento específico nesta área, ou por um protesista experiente em avaliação e ajuste oclusal. O domínio dos conceitos de oclusão ideal e estável, do conhecimento das técnicas de ajuste oclusal e das conseqüências que um trauma oclusal pósortodôntico pode gerar, é de fundamental importância para que os ortodontistas possam finalizar os tratamentos ortodônticos com maior segurança e qualidade profissional, minimizando as chances de recidiva e insucessos, além de promover uma maior satisfação do paciente. (BURSTONE, 1995). Baseado nos conceitos de oclusão dentária e na relação direta desta com a ortodontia, este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre a importância do ajuste oclusal na finalização dos tratamentos ortodônticos, estudando a forma de se obter uma maior harmonia e estabilidade oclusal, melhor estética e função oclusal e, consequentemente, satisfação do paciente e do profissional com o sucesso duradouro do tratamento. 2 - PROPOSIÇÃO Ante o exposto, neste trabalho realizou-se uma Revisão da Literatura sobre o Ajuste Oclusal pós tratamento ortodôntico. Destacando os benefícios desta técnica sobre a estabilidade e conforto da oclusão dentária. 3 - REVISÃO DA LITERATURA Em 1880, Kingsley (apud JANSON,1986), já observou a importância da oclusão na ortodontia, afirmando que “a oclusão dos dentes é o fator mais importante da estabilidade da nova posição dentária”. Considerando os conhecimentos da época, provavelmente ele se referia apenas ao aspecto estático da oclusão. A atenção dos profissionais daquela época estava voltada para um tipo de aparelho mais eficiente para movimentar os dentes, um método mais preciso de diagnóstico e uma melhor ancoragem. A preocupação principal consistia em movimentar os dentes de uma má posição para uma posição estática e esteticamente normal, não se preocupando tanto com o fator oclusal. Como a especialidade estava se iniciando, os pacientes eram poucos, e os problemas relacionados a uma oclusão funcionalmente insatisfatória, raríssimas vezes eram comparados com a oclusão estabelecida pelo tratamento. Em 1927, Arnold verificou a presença de oclusão traumática, em casos tratados ortodonticamente, atribuindo esta condição ao fato de existirem interferências oclusais, tanto em relação cêntrica quanto nos movimentos funcionais, sendo capazes de provocar problemas periodontais. O ajuste oclusal era utilizado como uma terapêutica para estes problemas e como complemento ao tratamento ortodôntico para todos os casos. Thompson (1956) constatou que o aspecto funcional da oclusão era de vital importância na fisiologia do sistema estomatognático e que a maioria dos ortodontistas negligenciavam este aspecto funcional na finalização dos tratamentos ortodônticos. Observou-se que os casos terminados ortodonticamente geralmente apresentavam contatos prematuros, constituindo um grande potencial para desenvolver a oclusão traumática e, posteriormente, distúrbios na região da articulação temporomandibular. Salientou que os dentes ficariam abalados com o tempo, pois os contatos não corrigiam por si só, e que os sintomas anormais da articulação temporomandibular incluindo estalos, dores, movimentos mandibulares irregulares, subluxação, fadiga muscular poderiam acontecer e que para prevenir esses problemas o ideal seria fazer o ajuste oclusal após tratamento ortodôntico ensejando assim o aspecto funcional. Com o principal objetivo de constatar a presença ou não de prematuridades oclusais em casos pós ortodônticos, Blume (1958) avaliou dez casos na posição de relação cêntrica. Verificou que a maioria apresentava contato prematuro, na referida posição. Observou que os contatos poderiam ser responsáveis por uma movimentação dentária indesejável, e assim, alterar a oclusão tratada, causando a recidiva. Também salientou os benefícios do ajuste oclusal para propiciar um refinamento da oclusão funcional e, consequentemente, diminuir a tendência da recidiva pela eliminação dos contatos prematuros. Complementando o trabalho de Blume (1958), Riedel (1960), estudando métodos de contenção, verificou que para prevenir recidiva o ortodontista deveria se esforçar para produzir uma melhor oclusão estática e funcional, propiciando maior estabilidade dos casos concluídos. Também em 1960, Heimlich, analisando as interferências nos casos pósortodonticos, concluiu que os problemas não se autocorrigiam e futuramente, estas interferências poderiam levar à disfunção temporomandibular, tornando o ajuste oclusal como fator indispensável e integrante do tratamento ortodôntico. Em 1962, Mciver constatou, clinicamente, que alguns pacientes que haviam terminado o tratamento ortodôntico com uma discrepância entre a máxima intercuspidação e a relação cêntrica e estavam em crescimento, após dois anos, não mais apresentavam esta discrepância. Observou também que o crescimento da mandíbula, na região condilar, encarregou-se de corrigí-la. Mas com ressalva disse que esta ocorrência não era freqüente, e que não seria viável depender deste crescimento para corrigir a discrepância, principalmente em pacientes do sexo feminino. Segundo ele, as interferências oclusais deveriam ser eliminadas através da movimentação dentária. Sendo que do lado de trabalho deve ocorrer desoclusão em grupo e, no lado de balanceio não deve haver contatos e os dentes posteriores não deveriam tocar durante os movimentos de protusão. Relatou que ajuste oclusal deveria ser empregado naqueles casos em que o dentista tivesse certeza de que não haveria crescimento condilar, e concluiu que com uma oclusão funcionalmente satisfatória os resultados obtidos seriam mais estáveis. Como o ajuste oclusal era um procedimento amplamente utilizado pelas diversas especialidades, no tratamento das disfunções mandibulares e da musculatura mastigatória, Ahlgren e Posselt (1963) realizaram uma pesquisa eletromiográfica em 6 pacientes, que concluíram seus tratamentos ortodônticos e apresentavam interferências. O objetivo seria avaliar se com a eliminação das interferências haveria uma melhora na coordenação muscular. Comparou-se os registros antes e após o ajuste e observaram que os ajustes proporcionavam uma melhora da coordenação muscular. Ressaltaram, então, a necessidade de se avaliar os resultados ortodônticos quanto as interferências, e caso existam, corrigí-las com o ajuste oclusal. Apesar de vários autores relatarem a importância do ajuste oclusal pós tratamento ortodôntico, em 1965, Heide e Thorpe verificaram em 10 casos corrigidos ortodonticamente que a presença da máxima intercuspidação, coincidindo com a relação cêntrica, não existia, e que haviam interferências nas excursões excêntricas. Enfatizaram que muitas das recidivas dos incisivos superiores e inferiores tanto de apinhamentos como de diastemas são devidas às pressões exercidas durante os movimentos funcionais. Alertaram para o fato de que o ajuste oclusal é um procedimento auxiliar, mas não um substituto para o tratamento ortodôntico correto. Andrews, em 1972, descreveu as seis chaves de oclusão normal depois de ter feito um estudo com 120 pacientes que nunca submeteram a tratamento ortodôntico e que tinham oclusão normal. Este estudo foi feito ao perceber que os casos eram terminados sem uma regra específica, ou seja, cada um terminava seus casos de acordo com seus conhecimentos. Desde então, as seis chaves de oclusão passaram a ser uma meta para todos os casos terminados, sendo elas: relação molar de classe 1; angulação ( inclinação mesio-distal);Torque( inclinação vestíbulolingual); pontos de contatos interproximais rígidos; coordenação e diagramação dos arcos e ausência de rotações dentais. Preocupado com os problemas de dor relacionada com a disfunção temporomandibular e como solucioná-las Roth em 1973, fez um trabalho em 9 pacientes, sendo que 7 deles apresentavam dores e 2 não apresentavam. Todos tinham sido tratados ortodonticamente e concluiu que os que apresentavam dor tinham interferências oclusais, sendo que aqueles com dores mais severas apresentavam maiores desvios da cêntrica em relação a máxima intercuspidação habitual. Nos movimentos de lateralidade apresentavam interferências no lado de balanceio ou interferências nos dentes posteriores nos movimentos de protrusiva, ocorrendo uma correlação entre a severidade e a localização dos sintomas. Após a realização do ajuste oclusal nos pacientes, houve eliminação dos sintomas, comprovando a validade do ajuste após o tratamento ortodôntico. Observou ainda que as interferências em balanceio eram causadas pelo torque lingual de coroa insuficiente, nos molares superiores, pela falta de relacionamento ântero-posterior correto da relação maxilomandibular, pela forma e largura desproporcionais dos arcos dentários e por torque lingual acentuado de coroa nos molares inferiores. Ressaltou que para evitar as interferências nos dentes posteriores durante os movimentos funcionais deveria existir guia anterior correta. Em 1976, Costa realizou um trabalho com 15 modelos de pacientes tratados ortodonticamente, montados em articulador totalmente ajustável. Confeccionou dois pares de modelos de cada paciente, um servindo como controle e outro para a realização do ajuste oclusal. Os resultados demonstraram que o ajuste proporcionou maior estabilidade em relação cêntrica, aumentou o número de contatos nesta posição e nos movimentos de excursões mandibulares eliminou as interferências. Analisando diversos casos ortodônticos concluídos, com a finalidade de comprovar se as seis chaves de oclusão de ANDREWS proporcionavam realmente uma oclusão funcionalmente ideal e um posicionamento dentário estático, Roth (1976), concluiu que quando as seis chaves são alcançadas, com a mandíbula em relação cêntrica, a oclusão é verdadeiramente ideal tanto funcional com estaticamente. Janson em 1986, em um estudo de 20 casos terminados ortodonticamente, com o objetivo de avaliar alguns aspectos como: a coincidência da MIH com a RC, a existência de guia anterior imediata, a incidência de interferências durante os movimentos funcionais, a presença ou não de disfunção mandibular e os benefícios proporcionados pelo ajuste oclusal efetuados nestes casos, conclui que 90% dos casos apresentaram guia anterior imediata para excursão protrusiva, 50% apresentaram guia imediata para excursão de lateralidade, 85% dos casos não terminaram coincidindo a MIH com a RC, com isso ocorreu uma alta incidência de interferências durante os movimentos funcionais e a presença de disfunção mandibular em 10% dos pacientes estudados. Após o ajuste oclusal foi observado a obtenção da oclusão em relação cêntrica, um melhor padrão de desoclusão durante os movimentos funcionais, a eliminação dos sintomas dos pacientes com disfunção e aumento de contatos na oclusão de relação cêntrica justificando, assim, a importância do ajuste oclusal após conclusão do tratamento ortodôntico. Compagnoni et al , em 1994, realizaram um estudo em 40 pacientes com objetivo de verificar a análise e o ajuste oclusal obtido através de um método clínico e através de uma análise oclusal computadorizada utilizando o sistema T- scan em pacientes com dentes naturais e que não se submeteram a ajustes oclusais previamente. Concluíram que somente justifica a utilização do sistema T- scan para verificar com mais sensibilidade os pontos oclusais e a igualdade da intensidade das forças oclusais que incidem sobre os dentes após o ajuste oclusal. Apesar do sistema T- scan ser muito eficiente não deve ser utilizado como método isolado e sim como complemento do método convencional clínico, pois ele nos fornece apenas o local ou a região que devemos atuar. Conti e Sábio em 1999, com objetivo de revisar as teorias e conceitos atuais sobre a utilização do ajuste oclusal, como método terapêutico na finalização dos pacientes que concluíram o tratamento ortodôntico, concluíram que muitas controvérsias ainda persistem, mas que uma avaliação correta da indicação ou não do ajuste oclusal é de grande importância, sendo que contatos que desviam a mandíbula da posição de relação cêntrica para máxima intercuspidação habitual de mais ou menos 2 mm, são aceitáveis, pois são encontrados em uma oclusão fisiológica não tratada. Algum tipo de ajuste parcial pode ser indicado como auxiliar na estabilidade pós - tratamento, mas é contra-indicado como prevenção de distúrbios da ATM. Segundo Madeira e Vanzelli (1999) o tratamento ortodôntico ao alcançar a oclusão normal deveria ter como características os movimentos mandibulares livres de interferências oclusais. Quando estes objetivos não são alcançados os ortodontistas devem usar o ajuste das superfícies dentárias como método de complementação do tratamento ortodôntico, pois os contatos prematuros são desencadeadores de instabilidade dos resultados e necessitam ser eliminados refinando a oclusão. Em relato de caso clínico, Ferreira Neto et al. (2003) mostraram que os desgastes dentários no ajuste oclusal devem ser seletivos e conservadores e as mesmas dimensões de contatos verticais devem ser alcançadas para todos os dentes em cêntrica, com isso, os contatos iguais em fechamento resultarão em uma pressão igual nas porções centrais dos discos articulares, avasculares desprovidos de nervos sensitivos capazes de suportarem o estress sem injúria ou dor. Como resultado ocorreram homogeinização dos contatos dentários em relação cêntrica, movimentos de lateralidade guiados pelos caninos com desoclusão dos demais dentes, guia anterior com desoclusão pelos quatro incisivos inferiores e superiores, diminuição e até eliminação dos espaços negros com os arcos dentários em oclusão. Segundo Simamoto Junior et al. (2005) todo tratamento que envolver mudança na condição oclusal existente deverá fazer o ajuste oclusal como terapia complementar para promover condições oclusais fisiológicas, sendo que, estas condições devem proporcionar harmonia entre a estrutura dental, sistema neuromuscular, ATM, periodonto, mastigação, fonação e deglutição não limitando apenas em fatores estéticos e estáticos. Pereira et al em 2006, fizeram um estudo no período de 2001 a 2003 e avaliaram em 50 pacientes entre 20 e 40 anos, dentro das regras de ajuste oclusal, a posição de relação cêntrica com o intuito de observar o primeiro contato prematuro, a localização e o tipo de contato e para onde a mandíbula desviava em cada paciente. Concluíram que 22 pacientes (44%) apresentavam contato oclusais de deslize em direção a linha média, 16 pacientes (32%) deslize contrário a linha média, 5 pacientes (10%) sem deslize, 2 pacientes (4%) em protrusão e 5 pacientes (10%) deslize para anterior. Observaram também que 96% dos pacientes apresentavam dor referida e imediata mais diretamente presente no músculo pterigiodeo lateral causando dores no ouvido e no seio maxilar. Consolaro em 2008, afirmou que o trauma oclusal pode ser definido como a lesão induzida nos tecidos de inserção dentária decorrente de forças oclusais excessivas. Segundo ele, existem 4 momentos na evolução do trauma oclusal: no primeiro momento o trauma oclusal pode ser assintomático ou subclínico. Em muitos casos produz dor difusa associada a um discreto aumento da mobilidade dentária, que pode durar dias, semanas e até meses. No ligamento periodontal podemos encontrar um discreto edema caracterizando uma inflamação crônica identificada como pericementite crônica. No segundo momento, algumas semanas depois de iniciado o processo pode notar-se radiograficamente alargamento uniforme do espaço periodontal com espessamento da lâmina dura que representa a cortical óssea alveolar, aumenta-se assim, a espessura do ligamento periodontal. No terceiro momento caracteriza-se com a continuidade da demanda funcional aumentada pela força oclusal excessiva promovendo um estress excessivo as células do ligamento periodontal causando reabsorção óssea vertical ou angulada da face periodontal na crista óssea alveolar. Neste estágio, caso ocorra remoção do trauma oclusal haverá neoformação óssea voltando a normalidade. Clinicamente observa-se um discreto aumento da mobilidade dentária, presença de recessões em forma de “V” e abfração. Esta última acrescenta ao quadro clínico a perda cervical do esmalte e a sensibilidade aumentada frente aos fatores bucais variáveis como alimentação, líquidos, respiração e outros. No quarto momento, após muitos meses de persistência das forças oclusais excessivas, irão aparecer ao redor da raiz afetada áreas de esclerose distribuídas de forma irregular ou concentrada na lateral e ou na região apical causando assim a reabsorção radicular. Conclui em seu estudo que são muitos os casos de reabsorções radiculares que continuam ou ocorrem após tratamento ortodôntico ter sido completado. Quase sempre são dentes que estão em trauma oclusal cuja reabsorção radicular, dano gengival e abfração poderiam ter sido evitado com uma análise oclusal criteriosa logo após a remoção do aparelho ortodôntico. Brandão & Brandão (2008) afirmaram que o ajuste oclusal não está indicado como substituto do movimento dentário, mas é determinante para evitar seqüelas de trauma oclusal. O ajuste por desgaste deve ser realizado seis meses após o tratamento ortodôntico para corrigir pequenos erros e promover melhor estabilidade oclusal e mandibular. Para entender melhor o equilíbrio oclusal é importante conhecermos os tipos de contatos: Contato no sentido vestíbulo-lingual: Contato “A” é estabelecido entre a vertente triturante da cúspide de não contenção do dente superior (vestibular) com a vertente lisa da cúspide de contenção do dente inferior (vestibular). Gera uma força diagonal que pode ser decomposta em vetores que vão agir sobre os dentes nos planos vertical e horizontal. Contato “B” é estabelecido entre a vertente triturante da cúspide de contenção do dente superior (lingual) com a vertente triturante da cúspide de contenção do dente inferior (vestibular). Neste caso uma força diagonal é sempre gerada e sua decomposição em vetores levam a resultantes verticais ( axiais) desejáveis e resultantes horizontais indesejáveis, quando este for o único contato oclusal presente. Contato “C” é estabelecido entre a vertente lisa da cúspide de contenção do dente superior (lingual) com a vertente da cúspide de não contenção do dente inferior (lingual). A prevalência deste contato resultaria em vetores de força e consequências similares aquelas descritas para o contato “A”. Contato no sentido mesio-distal : Contato de “parada” estabelecido entre a crista distal da cúspide do dente superior com a aresta mesial da cúspide inferior.Por serem planos inclinados gera-se uma força diagonal que pode ser decomposta em vetores que vão agir sobre os dentes no plano vertical e horizontal. Contato de” equilíbrio” estabelecido entre a aresta mesial da cúspide do dente superior com a aresta distal da cúspide inferior. A prevalência deste contato gera resultantes horizontais que tendem á movimentação para distal dos dentes superiores abrindo os contatos interproximais. Concluíram que o ajuste oclusal é um dos determinantes da estabilização dentária, devendo-se obter para cada dente posterior contatos oclusais “A e B”, ou “B e C” no sentido vestíbulo-lingual além dos contatos de “parada” e “equilíbrio” no sentido mesiodistal. Os dentes anteriores nos movimentos mandibulares desocluem de imediato os dentes posteriores o que é denominado de guia anterior visando equilíbrio muscular e proteção do sistema estomatognático. 4 - DISCUSSÃO Ao termino da revisão de literatura observamos que todos os autores foram unânimes ao concordar com a importância do ajuste oclusal pós - tratamento ortodôntico. Segundo Brandão e Brandão (2008) o ajuste oclusal por desgaste como complemento do tratamento ortodôntico deve ser realizado 6 meses após a remoção do aparelho. Todos os outros autores pesquisados concordaram que o ajuste oclusal deve ser feito imediatamente após a finalização do tratamento ortodôntico. Em 1927, Arnold verificou a presença da oclusão traumática em casos tratados ortodonticamente, sendo esta capaz de provocar problemas periodontais. Já Thompson (1956) afirmou que uma oclusão funcional era de vital importância para o sistema estomatognático, mas que a maioria dos ortodontistas negligenciavam este aspecto funcional. De acordo com Blume(1958), Riedel(1960), Heimlich(1960), Mciver(1962), Ahlgren e Posselt(1963), Heide e Thorpe(1965), Janson(1986), Madeira e Vanzelli(1999) e Consolaro(2008), o ajuste oclusal é de suma importância para eliminar as interferências oclusais. Autores como Mciver(1962), Heide e Thorpe(1965), Janson(1986) e Ferreira Neto et al(2003), observaram a importância da máxima intercuspidação habitual e da relação cêntrica com o ajuste oclusal. Heide e Thorpe (1965) relataram que muitos casos tratados ortodonticamente a RC não coincidia com a MIH. Janson (1986) analizando vários casos terminados ortodonticamente observou que 85% dos casos não terminavam a RC coincidindo com a MIH. Ferreira Neto et al (2003) mostraram que o ajuste oclusal com desgaste devem ser seletivos e conservadores e as mesmas dimensões de contatos verticais devem ser alcançadas para todos os dentes em cêntrica. Em 1976 Costa comprovou através do articulador totalmente ajustável que o ajuste oclusal proporcionou maior estabilidade em relação cêntrica, aumentando o número de contatos e eliminando as interferências nos movimentos de excursões mandibulares. Autores como Heide e Thorpe (1965), Janson (1986), Madeira e Vanzelli (1999) e Brandão e Brandão (2008) afirmaram que o ajuste oclusal deve ser feito como complemento do tratamento ortodôntico e não como um substituto de uma ortodontia bem feita. Conti e Sábio (1999) revisando as teorias e conceitos do ajuste oclusal concluíram que muitas controvérsias ainda persistem, mas que deve ser feito uma avaliação correta da indicação ou não do ajuste oclusal. 5 - CONCLUSÃO Diante da revisão da literatura efetuada conclui-se que: 1- Contatos prematuros são responsáveis por recidiva do tratamento ortodôntico. 2- A oclusão traumática em casos tratados ortodonticamente causam problemas periodontais. 3- O ajuste oclusal é de suma importância para eliminar as interferências oclusais. 4- Nos casos finalizados ortodonticamente a Máxima Intercuspidação Habitual deve coincidir com a relação cêntrica para que ocorra maior estabilidade do tratamento ortodôntico e com isso eliminação das interferências nos movimentos de excursões mandibulares. 5- O ajuste oclusal deve ser feito como complemento e não como substituto de uma ortodontia bem feita. 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