Pontes Quinzenal Revisão quinzenal das mais importantes notícias para o Brasil sobre comércio e desenvolvimento sustentável Vol. 4 · No. 10 - 8 de junho de 2009 NOTÍCIA MULTILATERAL Empresários atentam para Copenhage ................. 1 NOTÍCIAS REGIONAIS Inovações na legislação ambiental provocam oposição de ativistas................................................. 3 Políticas anti-crise argentinas exigem novo arranjo do comércio bilateral.................................. 5 Investimentos agrícolas em países africanos: riscos ou oportunidades?......................................... 7 BREVES MULTILATERAIS Lamy sugere estratégia em duas frentes para conclusão de Doha .......................................... 9 Acordo bilateral Brasil-UE deve aumentar exportações de carne e açúcar .............................. 10 BREVE REGIONAL Índia e Mercosul aprofundam relações econômicas............................................... 11 EVENTOS e INFORMAÇÕES ÚTEIS Fóruns Multilaterais ............................................... 12 Fóruns Regionais .................................................... 12 Informações Úteis .................................................. 13 PONTES é publicado pelo Centro Internacional para o Comércio e o Desenvolvimento Sustentável (ICTSD) e pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (DireitoGV). Equipe editorial: Adriana Verdier Manuela Trindade Viana Daniela Helena Oliveira Godoy Leonardo Margonato Ribeiro Lima Adriane Nakagawa Thiago Dias Oliva ICTSD é uma organização independente e sem fins lucrativos com sede em Genebra, Suíça, tel: (41-22) 917-8492; fax: 917-8093. Trechos de PONTES Quinzenal podem ser usados em outras publicações se forem citados de forma apropriada. Comentários e sugestões serão bem vindos e podem ser enviados para [email protected]. Caso deseje cadastrar-se (gratuitamente) em nossa lista de envio do Pontes Quinzenal ou deseje acessar números passados, visite nosso site http://ictsd.net/news/pontesquinzenal/. A produção de PONTES Quinzenal tem sido possível graças ao apoio generoso da Agência suíça para o desenvolvimento. NOTÍCIA MULTILATERAL Empresários atentam para Copenhage O encontro de empresários no mais recente evento importante rumo a Copenhague endossou declaração encorajando negociadores ambientais a concordar com o corte de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 50% até 2050. O “Chamado de Copenhague” inclui seis pontos importantes que empresários e outras lideranças no âmbito dos negócios consideram elementos essenciais ao sucessor do Protocolo de Quioto, o qual expirará em 2012. Além do comparecimento de mais de 500 empresários de diversos países do mundo, a Cúpula Mundial de Negócios sobre Mudanças Climáticas, realizada entre os dias 24 e 26 de maio, também contou com a participação de grandes nomes, como o secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, o ex-vice-presidente estadunidense, Al Gore e a atriz Cate Blanchett. Gore, o qual teve destacável atuação na defesa da redução das emissões nos últimos anos, ressaltou a necessidade de a área dos negócios participar ativamente na criação de um novo pacto ambiental e enfatizou a urgência da situação. “Nós temos que fazer isso neste ano. Não no próximo. Neste ano”, disse o ganhador do Prêmio Nobel. Segundo Gore, o passar do tempo só agrava a situação atual, já que a Mãe Natureza não solucionará os problemas ambientais sozinha. Por seu turno, os empresários participantes da conferência argumentaram que, embora existam posicionamentos contrários, o combate às mudanças climáticas poderá representar uma grande vantagem para o setor privado. Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Os empresários pediram financiamento de pesquisas com vistas ao desenvolvimento de tecnologias limpas para a geração de energia. Além disso, solicitaram o fim dos subsídios que salvam empresas que causam danos ao meio ambiente. “Os governos deveriam esforçar-se para colocar fim aos subsídios perversos que favorecem o transporte e a infra-estrutura de energia muito poluentes, além daqueles que promovem o desmatamento”, indica o documento. Segundo Steve Howard, presidente do The Climate Group, coalizão representante de grandes empresas – como British Petroleum, Starbucks e Coca-cola – e de governos municipais e estaduais, o ramo dos negócios deseja acordo global sobre mudanças climáticas que seja longo, claro e legal. Howard entende que as políticas climáticas devem criar certeza de incentivos, objetivos e limites temporais de longo prazo para desencadear estratégias do setor privado. Acredita, ainda, que o acordo deva fixar prazos para obtenção dos recursos necessários à viabilização de uma economia ambiental. Seis princípios Copenhague” do “Chamado Vol. 4 No. 10 Reações ao encontro Em geral, a cúpula foi bem avaliada: muitos especialistas reconheceram a importância do papel dos negócios nas soluções de longo prazo para as mudanças climáticas. No entanto, os críticos apontaram prontamente as fraquezas do documento final. de Os seis elementos destacados no “Chamado de Copenhague” são: assinatura de acordo de base científica com objetivos de cortes nas emissões de GEE estabelecidos para os anos de 2020 e 2050; realização de mensuração efetiva, por meio da qual os níveis de emissão serão anunciados e verificados; provimento de incentivos para aumentar o financiamento de tecnologias relacionadas à baixa emissão de GEE; implementação das tecnologias de baixa emissão de GEE já existentes e desenvolvimento de novas; criação de fundos para tornar as comunidades mais complacentes e passíveis de adaptação aos efeitos das mudanças climáticas; e inovação tendo em vista novas formas de proteger florestas e balancear o ciclo de carbono. Segundo a Oxfam, grupo de organizações nãogovernamentais que esteve presente na reunião, o “Chamado de Copenhague” poderia ter representado progresso muito mais significativo. O grupo também criticou os demais presentes por não aperfeiçoarem a minuta inicial do documento por meio do estabelecimento de metas claras e específicas. “O documento oficial da Cúpula continua igual à minuta que foi escrita no começo do encontro”, disse Jeremy Hobbs, diretor executivo da Oxfam. “É um mistério como vozes tão influentes e apaixonadas – de Ban Ki-Moon e Al Gore a empresários progressistas – exigem mais urgência e comprometimento por parte do setor de negócios mundial e são ignoradas no documento final”. No tocante aos objetivos de redução de GEE, o texto apoia o estabelecimento de medidas que diminuam as emissões, a fim de limitar, até o ano de 2050, o aumento da temperatura média mundial a 2ºC e possibilitar a redução de 50% nos níveis de emissão dos GEE do ano de 1990 até 2050. Grupos de ambientalistas que incluem Greenpeace e Friends of the Earth criticaram os organizadores do encontro por incluir nos debates companhias que emitem GEE intensamente, tais como Shell e a fornecedora de energia elétrica baseada nos Estados Unidos da América (EUA), Duke Energy. No entanto, tais companhias reconheceram a necessidade de avanço nas mudanças. “Nós teremos que redefinir de forma fundamental nossos modelos de negócios em um mundo de baixa produção de carbono”, disse o presidente da Duke Energy, James Rogers. “Nós acreditamos que trabalhar para reduzir as emissões agora é menos custoso que atrasar os nossos esforços”, indica o documento. “Não há o que se ganhar com o atraso. As maiores reduções devem ser feitas, inicialmente, por países desenvolvidos, muito embora a redução nas emissões globais requeira a participação de todas as nações”. 2 Pontes Quinzenal Expectativas Washington continuam 8 de junho de 2009 voltadas Vol. 4 No. 10 para Encontros relacionados às mudanças climáticas têm ocorrido em todo o mundo. Espera-se que esta tendência seja intensificada, visto que a cúpula de dezembro sobre a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, sigla em inglês) se aproxima. NOTÍCIAS REGIONAIS Inovações na legislação ambiental provocam oposição de ativistas Duas medidas provisórias (MPs) que alteram a legislação ambiental brasileira têm ensejado a mobilização por parte dos defensores da causa ambientalista. As MPs 452 e 458, que disciplinam diferentes aspectos da regulação ambiental, trazem alterações apontadas pelos ativistas como um retrocesso nas conquistas alcançadas nas últimas décadas no campo da preservação do meio ambiente. No entanto, de acordo com especialistas, a falta de pronunciamento do presidente dos EUA, Barack Obama, acerca do comprometimento do país com as causas relacionadas às mudanças climáticas, está causando consternação entre outros países, os quais aguardam que Washington defina o tom de Copenhague. No Fórum das Maiores Economias, ocorrido em Paris no final de maio, as questões relativas às mudanças climáticas também foram abordadas. Na ocasião, o ministro francês do meio ambiente, Jean-Louis Borloo, criticou os EUA por sua falta de comprometimento. Em contraste, Borloo elogiou a China, a maior emissora de GEE, pela determinação a realizar cortes significativos demonstrada por seus representantes políticos. A MP 452, que trata também da criação do Fundo Soberano do Brasil, revoga a necessidade de licenciamento prévio para a construção de estradas, o que, na prática, reduz em uma etapa o controle ambiental para intervenções nas rodovias federais, como reparo, melhoria e duplicação. Comemorada como medida de desburocratização por alguns setores, a flexibilização em questão tem sido repudiada pelos ambientalistas, que a consideram como parte de uma ofensiva das bancadas ruralistas e econômica do Congresso. Todd Stern, negociador chefe de Obama para as mudanças climáticas, defendeu os compromissos do governo dizendo que as metas dos EUA estão em sintonia com as da Europa, ainda que calculadas diferentemente. Segundo o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), Hideraldo Caron, a MP 452 não se aplica às rodovias que perpassam a região amazônica, pois apenas trata das rodovias já existentes, enquanto as estradas na Amazônia ainda necessitam ser pavimentadas. Entretanto, para a senadora Marina Silva, a mudança tem como finalidade driblar os impedimentos legais ao asfaltamento da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. Em Washington, os democratas trabalham para aprovar um projeto de lei no Congresso (ver Bridges Trade BioRes, Vol. 9, No. 9, http://ictsd.net/i/news/biores/46678/). No entanto, tendo em vista a aprovação do projeto de lei Waxman-Markey pelo Comitê Nacional de Energia e Comércio em 21 de maio, especialistas acreditam que novo projeto deverá ser menos ambicioso para ser aprovado pelo Senado estadunidense. O ministro do meio ambiente, Carlos Minc, divide a opinião de Marina Silva sobre a intenção oculta da medida ser dirigida à obra da rodovia, prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em razão dessa questão, Minc tem-se indisposto com o ministro dos transportes, Alfredo Nascimento, a quem acusa de ter interesses pessoais na aprovação da MP 452. Em A próxima grande rodada de debates preparatórios para Copenhague ocorrerá entre os dias 1º e 12 de junho em Bonn, Alemanha. Tradução e adaptação de texto originalmente publicado em Bridges Trade BioRes, Vol. 9, No. 10 29 mai. 2009. 3 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 função de sua candidatura ao governo do Amazonas em 2010, Nascimento tem como bandeira a conclusão das obras da BR-319. Sobre esse ponto, Minc atacou: “O ministro Nascimento está com pressa e quer primeiro fazer a obra e só depois cumprir as exigências ambientais. Eu disse ao presidente Lula que estou moralmente impedido de concordar com isso. Seria a morte em vida”. Vol. 4 No. 10 precisa ser implementada de modo a beneficiar as pessoas físicas moradoras, porém com cuidado para evitar o favorecimento de grileiros e latifundiários. Marina Silva, contudo, não vislumbra esse caráter positivo na medida. A senadora entende que o projeto, da forma como modificado pelo Senado – que emendou a proposta inicial para permitir que proprietários de parcelas maiores do que quatro módulos fiscais vendam as terras após três anos, ao invés de dez –, favorecerá o aproveitamento econômico da região por grileiros e grandes exploradores. Relator do projeto na Câmara, o deputado José Guimarães defendeu que as alterações incorporadas pela medida funcionariam no sentido de agilizar as obras – especialmente as inclusas no PAC –, paradas por excesso de burocracia e lentidão na concessão de licenças ambientais. Maiores prejudicadas seriam obras de melhoria, em que estudos de impacto ambiental já foram realizados. "O País, muitas vezes, fica travado e é preciso desburocratizar. Não é razoável que uma obra fique parada por 24 meses à espera de uma licença ambiental”, declarou. Apesar das críticas pontuadas por Marina Silva, 37 dos 40 senadores presentes à votação decidiram por aprová-la com as emendas acrescentadas. Representante da postura assumida pela Casa, a senadora Kátia Abreu argumentou que o texto foi resultado do consenso a que se pôde chegar após difícil processo de entendimento e do reduzido prazo de vigência de uma MP. A aprovação do projeto como se encontrava evitaria que retornasse à Câmara, e assim, que os beneficiados tivessem o atendimento retardado. Como o prazo para que a medida fosse aprovada pelo Senado foi ultrapassado (último dia 1 de junho), sem que a Casa apreciasse a proposta, a medida precisará ser reeditada pelo governo, caso este mantenha o propósito de sua implementação. A aprovação foi duramente criticada por Minc, que repudiou o apoio de outros ministros, como Reinhold Stephanes, da agricultura, a quem atribuiu o lobby em prol dos interesses da bancada ruralista no Congresso. Á oposição oferecida por Minc e Marina Silva, soma-se o protesto de diversas entidades ambientalistas. As principais organizações do setor divulgaram no dia 3 de junho um manifesto por meio do qual atacam o que chamaram de desmonte da estrutura de proteção ambiental, entre as quais se encontram as MPs mencionadas. Outro objeto de ataque por parte de Minc, a MP 458, aprovada pela Câmara dos Deputados no último dia 3 – e ainda a ser debatida no Senado –, viabiliza a regularização fundiária de terras ocupadas na região da Amazônia e altera os mecanismos de fiscalização. O texto determina que a legalização será feita sem licitação para pessoas físicas, e de forma gratuita para áreas de até 76 hectares. O presidente Luís Inácio Lula da Silva, apesar de ter assinado o manifesto, criticou as divergências públicas lançadas entre os ministros e parlamentares contra seus colegas. Lula prometeu atuar como conciliador do debate e pontuou que, quando não houver consenso, as questões devem ser tratadas dentro do Planalto e arbitradas por ele, em última instância. As modificações da competência para fiscalizar violações à lei ambiental soaram mais incômodas a Minc, uma vez que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) ficaria impedido de tomar parte na observação e punição desse tipo de infração. Caso a MP entre em vigor, a competência passará a ser exclusiva dos órgãos encarregados da concessão de licença. Reportagem Equipe Pontes. Fontes consultadas: Acerca dos dispositivos relativos à regularização fundiária, as ressalvas do ministro foram mais moderadas. Minc defendeu que a legalização 4 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Presidência da República. Medida Provisória Nº 452, de 24 de dezembro de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20 07-2010/2008/Mpv/452.htm>. Acesso em: 05 jun. 2009. Vol. 4 No. 10 Políticas anti-crise argentinas exigem novo arranjo do comércio bilateral Presidência da República. Medida Provisória Nº 458, de 10 de fevereiro de 2009. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20 07-2010/2009/Mpv/458.htm>. Acesso em: 05 jun. 2009. Um clima de apreensão tem permeado as relações comerciais Brasil-Argentina nos últimos meses. O motivo são as implicações ecônomicas das políticas de combate à crise, adotadas tanto pelo Brasil, quanto pelo país vizinho. De acordo com setores empresariais e governamentais de ambos os países, medidas de natureza protecionista impactaram negativamente o fluxo comercial entre as duas maiores economias do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul). Ministério do Meio Ambiente. Minc critica desmonte da legislação ambiental no Senado. (26/05/2009). Disponível em: <http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=a scom.noticiaMMA&idEstrutura=8&codigo=4796 >. Acesso em: 05 jun. 2009. Do lado brasileiro, o governo dificulta a entrada de produtos argentinos por meio da criação de novas barreiras não tarifárias – como as licenças prévias à importação – para, pelo menos, 17 produtos da pauta de exportação argentina. As licenças prévias são autorizações, previstas no Acordo sobre Procedimentos de Licenciamento da Organização Mundial do Comércio (OMC), que cumprem o papel de informar os órgãos de controle do país de destino acerca da qualidade e quantidade das mercadorias envolvidas. Jornal do Senado. MP 458/09 aumenta invasão e desmatamento, alertam ativistas. (14/05/2009). Disponível em: <http://www.senado.gov.br/jornal/noticia.asp?c odEditoria=1127&dataEdicaoVer=20090514&dat aEdicaoAtual=20090514&nomeEditoria=Amaz% F4nia&codNoticia=83490>. Acesso em: 05 jun. 2009. O Estado de São Paulo. Câmara aprova MP 452, que destina R$ 14,2 bi para FSB. (04/04/2009). Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/economia, camara-aprova-mp-452-que-destina-r-142-bi-parafsb,354721,0.htm>. Acesso em: 05 jun. 2009. Já do lado argentino, o rol de medidas empregadas para limitar as exportações brasileiras abrangem cotas de exportação, medidas anti-dumping, além de licenças prévias e valores-critério. Cabe destacar que medida anti-dumping constitui recurso a instrumentos comerciais legítimos para reduzir as distorções geradas pela redução artificial dos custos de produção – dumping – e, consequentemente, dos preços finais. Por sua vez, o valor-critério refere-se ao preço mínimo que deve ser fixado para determinado produto, tendo por base o preço médio de produtos equivalentes nos últimos dois ou três anos, ou o preço praticado em outros mercados. O Globo. Novas regras da MP 452 não incluem obras da região Amazônica, diz diretor do Dnit. (05/05/2009). Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/05/0 5/novas-regras-da-mp-452-nao-incluem-obras-daregiao-amazonica-diz-diretor-do-dnit755700638.asp>. Acesso em: 05 jun. 2009. O Globo. Entidades criticam governo e Congresso por 'desmonte' de proteção ao meio ambiente e pregam dia de luto. (04/06/2009). Disponível em: <http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/06/0 4/entidades-criticam-governo-congresso-pordesmonte-de-protecao-ao-meio-ambiente-pregamdia-de-luto-756207654.asp>. Acesso em: 05 jun. 2009. Cada uma dessas ferramentas atua em menor ou maior grau na proteção da indústria nacional, através da restrição à entrada de itens estrangeiros muito baratos, o que em geral aumenta a demanda por produtos domésticos e, por conseguinte, mantém a indústria local aquecida e ativa. Na 5 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 prática comercial, o uso moderado desses instrumentos mostra-se necessário e é aceito pelos Estados. Os problemas surgem com o recurso irrefreado a tais medidas, o que provoca entraves ao comércio e danos às economias dos parceiros comerciais. Enfraquecimento das relações Argentina e intra-Mercosul Vol. 4 No. 10 Todos esses fatores têm contribuído para o enfraquecimento do bloco e para o crescimento do déficit estrutural histórico com o Mercosul: o preterimento dos interesses regionais conjuntos em benefício dos objetivos individuais dos Estados, conforme declaração da presidente argentina, Cristina Kirchner, por ocasião de um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 20 de março. Brasil- A utilização maciça desses mecanismos já acarretou redução de 36% no comércio entre Brasil e Argentina no primeiro trimestre de 2009. As estatísticas negativas persistem se considerarmos um cenário mais amplo, como o das relações comerciais com os países do Mercosul. De acordo com relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) divulgado em 1º de abril, as exportações brasileiras para o bloco decaíram 41,2%, de setembro de 2008 a março de 2009. Em termos absolutos, o volume de negócios passou dos US$ 4,799 bilhões para US$ 2,824 bilhões. Quando analisada separadamente, a Argentina, principal parceira do Brasil no bloco, a queda é ainda mais significativa: 43,7%. Perspectivas de reconciliação e retomada do comércio Sem oficialmente transferir a responsabilidade pelas negociações ao setor privado, o governo brasileiro tem adotado um papel mais de intermediador nas conversas entre grupos empresariais dos dois países. Desde março, esses grupos têm se reunido para discutir estratégias de amenização da retração comercial. O resultado das negociações, encerradas na semana passada, foi a princípio favorável à indústria argentina. Os setores de freio, embreagens, calçados e móveis brasileiros concordaram em auto-restringir suas exportações entre 19 e 40%. Embora não haja consenso oficial em relação ao setor têxtil, de vinhos, tornos mecânicos e linha branca (freezer, geladeira, TV, entre outros), as perspectivas de realização de outros acordos são positivas, sobretudo em vista da previsão de novas rodadas de negociações para os setores de celulares, pneus e aerossóis ainda no mês de junho. Tais dados implicaram insatisfação generalizada entre os governos e grupos empresariais regionais que, a despeito das tentativas de conciliação, trocaram acusações de protecionismo. No Brasil, os setores têxtil e calçadista foram os mais afetados, enquanto que, na Argentina, foram sensivelmente afetados os setores agrícola e de bens de capital. Para diversos especialistas, a imposição de restrições ao comércio no âmbito dos países do Mercosul é altamente condenável, já que a adoção dessas estratégias obsta o processo de integração. Além disso, o crescimento e a paulatina consolidação da China como parceira preferencial dos países do Cone Sul é outro aspecto que merece atenção, pois na mesma toada em que houve retração do fluxo comercial regional, a China aumentou sua participação em 8 setores de exportação na Argentina, ao passo que o Brasil conseguiu elevar a sua participação em apenas 2. Igualmente, o país asiático alçou, em fevereiro deste ano, o posto de maior parceiro do Brasil, suplantando Argentina e Estados Unidos da América (EUA). Reportagem Equipe Pontes. Fontes Consultadas: El Argentino. Giorgi ratificó el uso de licencias en importación. (8/05/2009). Disponível em: <http://www.elargentino.com/nota-40112Giorgi-ratifico-el-uso-de-licencias-enimportacion.html>. Acesso em: 3 jun. 2009. O Estado de São Paulo. Argentina troca Brasil por China. (17/05/2009). Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/n acional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=57 7383>. Acesso em: 3 jun.2009. 6 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Vol. 4 No. 10 Algumas das conclusões do relatório podem ser consideradas surpreendentes. O documento afirma, por exemplo, que ao contrário do que se imaginava, é mais constante a ocorrência de transações entre agentes do setor privado, apesar da recorrente participação governamental. Com frequência, os investimentos são feitos por investidores domésticos – e não apenas estrangeiros –, embora estes últimos permaneçam preponderantes. As negociações envolvem volume significativo de terras – de acordo com o estudo, desde 2004, foram negociados cerca de 2,5 milhões de hectares – e apontam para uma tendência ascendente tanto no preço da área como no tamanho das propriedades negociadas. OEA. Sistema de Informação sobre Comércio Exterior. Disponível em: <http://www.sice.oas.org/Dictionary/TNTM_p. asp#315>. Acesso em: 3 jun. 2009. Folha Online. Brasil restringe vendas à Argentina em mais 4 setores. (6/06/2009). Disponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinhei ro/ult91u577549.shtml>. Acesso em: 7 jun. 2009. OMC. Technical Information. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ul t91u577549.shtml>. Acesso em: 6 jun. 2009. MDIC. Balança Comercial Brasileira (1/04/2009). Disponível: <http://www.mdic.gov.br/arquivos/dwnl_12411 19059.doc>. Acesso em: 6 jun. 2009. Entre as motivações identificadas para esta prática, estão, em primeiro lugar, as preocupações com a segurança alimentar dos países investidores. Não raro estas são exacerbadas por problemas de fornecimento de alimentos, geralmente associados à quantidade limitada de terras aráveis, à limitações na infra-estrutura de distribuição e armazenamento e à expansão da produção de biocombustíveis, os quais competem com a utilização da terra para o cultivo de alimentos. Investimentos agrícolas em países africanos: riscos ou oportunidades? Embora a recente onda de aquisições de grandes propriedades rurais em países em desenvolvimento (PEDs) tenha conquistado a atenção da mídia internacional, a escassa documentação publicada até o momento torna rarefeito o conhecimento sobre a natureza e as modalidades que contornam estas transações. Em segundo lugar, identificam-se motivações econômicas orientadas pela expectativa de aumento do retorno dos investimentos. Dada a tendência de aumento no preço das commodities agrícolas, grandes multinacionais do agronegócio tradicionalmente envolvidas no processamento e na distribuição de alimentos estão agora adotando estratégias de integração horizontal de modo a permitir que participem de todas as etapas da produção. Com vistas a aprofundar o conhecimento sobre os riscos e oportunidades gerados por esta nova tendência, um extenso relatório sobre o tema foi elaborado conjuntamente por três entidades internacionais de relevo: a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO, sigla em inglês), o Instituto Internacional para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (IIED, sigla em inglês) e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA). O estudo intitulado Land grab or development opportunity? Agricultural investment and international land deals in Africa estuda aquisições efetuadas a partir de 2004 em cinco países africanos (Etiópia, Gana, Madagascar, Mali e Sudão), propondo linhas de ação para os principais atores envolvidos. Por fim, também é mencionada como fator motivador a perspectiva do aumento do consumo dos biocombustíveis, promovida financeiramente por políticas governamentais – ao exemplo notório das metas de consumo estabelecidas pela União Europeia, ou da adição obrigatória de biocombustíveis aos combustíveis fósseis, comuns em países como Brasil e Estados Unidos da América (EUA). Algumas linhas gerais parecem orientar as transações estudadas. Em primeiro lugar, é mais recorrente a locação de longo prazo de terras – durante 50 a 99 anos –, do que sua venda. Em 7 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 segundo lugar, os investimentos em questão não se restringem à aquisição das terras: englobam, ainda, compromissos com a continuidade dos investimentos produtivos, com o desenvolvimento de infra-estrutura e com a criação de empregos. Neste mesmo sentido, o pagamento obtido pela cessão das terras deixa de constituir o principal benefício obtido pelo país receptor. No entanto, coloca-se neste ponto um problema de natureza jurídica, na medida em que os compromissos do investidor pela manutenção de níveis contínuos de investimentos, pela criação de empregos e pelo desenvolvimento de infra-estrutura quase nunca são incorporados de maneira expressa nos contratos realizados – frequentemente estes instrumentos adotam traços rudimentares, o que demonstra insuficiência na regulação da realidade complexa dos negócios agrícolas. Vol. 4 No. 10 habilidade para gerenciar um empreendimento agrícola de grande porte, o que implica prestações que transcendem a atividade puramente agrícola. Afirma que os contratos de locação a longo termo não são sustentáveis a menos que prevejam mecanismos de satisfação das necessidades locais. Afirma, ainda, que não deveria ser subestimada a importância de uma boa imagem e reputação dos investidores, e que estes últimos deveriam firmar compromissos com todos os atores envolvidos, não apenas com as elites locais. O contato com as populações locais deveria ser orientado pela regra geral do consentimento livre, prévio e informado. Em seguida, o relatório ressalta a importância de que os governos receptores definam as modalidades de investimento que desejam atrair. A atenção não deve ser centrada apenas no objetivo de aumento da produtividade rural, mas deve ser dirigida aos meios de produção (mão-deobra empregada e respeito ao meio ambiente) e para a repartição dos benefícios. O relatório ressalta ainda a crucial necessidade de avaliações sofisticadas sobre os impactos ambientais e sociais dos investimentos. Os contratos devem ser estruturados de modo a maximizar a contribuição do investimento em questão ao desenvolvimento sustentável. As aquisições puramente especulativas devem ser desencorajadas. Por fim, devem ser criados mecanismos para asssegurar de maneira efetiva os direitos das comunidades locais, tais como a clareza na regularização fundiária. A situação é agravada pelo fato de que os ordenamentos jurídicos envolvidos não contam com mecanismos que permitem à população local a garantia e a obtenção dos mínimos benefícios esperados dos investimentos, como a defesa de seus interesses, de sua sobrevivência e seu bem estar. No que diz respeito a este ponto, o relatório ressalta que as populações locais não estão apenas diante de novas oportunidades, mas também de sérios riscos. Se por um lado os fluxos crescentes de investimentos podem gerar benefícios macroeconômicos como crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), aumento da receita tributária e desenvolvimento de áreas rurais; por outro, as aquisições massivas de terras podem significar, para as comunidades locais, a perda do acesso a recursos essenciais à sua sobrevivência. Quanto à sociedade civil, é sugerida como prioridade às organizações de defesa de agricultores pobres a promoção da transparência nos negócios fundiários, a assistência jurídica às pessoas afetadas pelas transações e a promoção do registro coletivo de propriedades rurais como mecanismos para assegurar os direitos dos pequenos proprietários face aos grandes investidores. Às agências internacionais de desenvolvimento, identificam-se as seguintes prioridades: (i) obter compromissos dos investidores e dos governos locais de que os investimentos serão norteados pela consecução do desenvolvimento sustentável; (ii) promover sistemas de monitoramento das transações que tornem as informações acessíveis aos interessados; e (iii) oferecer serviços de consultoria, capacitação e apoio aos governos locais e à sociedade civil em matéria de negociação dos contratos, segurança O relatório sustenta que a percepção da existência de terra em abundância deve ser tratada com cautela em diversos dos países estudados. O estudo conclui que, em última instância, serão os termos e condições específicos a cada negócio que determinarão o equilíbrio entre os riscos e benefícios oferecidos, razão pela qual o estudo é encerrado com a elaboração de recomendações aos distintos grupos considerados mais influentes neste processo. Aos investidores, em primeiro lugar, o relatório ressalta a necessidade de avaliação realista de sua 8 Pontes Quinzenal alimentar, promoção população local. 8 de junho de 2009 Vol. 4 No. 10 de assistência legal à “A ‘prova de força’ do sistema multilateral de comércio ainda está por vir”, afirmou Lamy, ao urgir os Membros a impulsionar as negociações de Doha e dar continuidade ao monitoramento às práticas protecionistas. Reportagem Equipe Pontes. Fonte consultada: Alguns Membros – incluindo Canadá e Estados Unidos da América (EUA) – defenderam, informalmente, deixar de lado as negociações baseadas em modalidades – linhas gerais de um acordo de corte em tarifas e subsídios em uma série de setores – e seguir diretamente à fase de estabelecimento de tarifas (ver Pontes Quinzenal, 11 mai.2009,http://ictsd.net/i/news/pontesquinzena l/46433/). Washington argumentou que tal abordagem permitiria às partes compreender melhor o que poderiam ganhar com o acordo antes mesmo de oferecerem concessões nas negociações. FAO. Land grab or development opportunity? Agricultural investment and international land deals in Africa. Junho, 2009. Disponível em: <ftp://ftp.fao.org/docrep/fao/011/ak241e/ak24 1e.pdf>. Acesso em: 08 jun. 2009. BREVES MULTILATERAIS Lamy sugere estratégia em duas frentes para conclusão de Doha A noção de não dar continuidade às negociações baseadaa em modalidades constituiu, entretanto, alvo de fortes críticas de diversos países em desenvolvimento (PEDs), que argumentaram que tal medida prejudicaria suas posições nas negociações. Tais países reforçaram sua oposição à ideia ao representante comercial dos EUA (USTR, sigla em inglês), Ron Kirk, durante a visita deste a Genebra, no início de junho (ver Bridges Weekly Trade News Digest, 13 May 2009, http://ictsd.net/i/news/bridgesweekly/46571/). Nessa ocasião, Kirk reconheceu a validade das preocupações dos PEDs e sugeriu que os oficiais de comércio encontrassem “uma terceira via” para dar prosseguimento às negociações. O diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, sugeriu uma nova estratégia de negociação comercial para que a Rodada Doha – iniciada há oito anos – seja concluída. Segundo a proposta de Lamy, apresentada durante a reunião de 21 de maio do Conselho Geral da OMC, a estratégia em duas frentes parece conciliar duas visões divergentes sobre como as negociações devem prosseguir no futuro. O diretor geral acredita que tais visões não são excludentes, de modo que é possível trabalhá-las em duas frentes simultâneas. Em uma delas, os diálogos mais técnicos seriam desenvolvidos em ritmo acelerado, de modo a cobrir o maior número possível de temas. Em outra, os Membros dariam início a uma espécie de “teste de resultado” mediante discussões bilaterais ou plurilaterais, nas quais os delegados esclareceriam aos demais o uso de flexibilidades no acordo e, por meio disso, a validade deste. A proposta de estratégia apresentada por Lamy parece acomodar as duas vertentes observadas no debate informal, realizado recentemente, sobre como as negociações devem proceder futuramente. Lamy acredita tratar-se de uma estratégia exequível, mas advertiu que esta exige “sério engajamento político” dos oficiais de comércio dos mais altos cargos. Apesar de não estar em curso uma Reunião Ministerial com foco na Rodada Doha, Lamy observou que as reuniões de diversos fóruns internacionais podem constituir oportunidades para que os ministros de comércio dinamizem as negociações sobre os temas da Rodada. Por exemplo, os ministros de Cairns, grupo de países exportadores agrícolas, participarão de reunião em junho. Além disso, os ministros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) realizarão encontro em Paris no final deste mês. Ainda, de acordo com Lamy, as reuniões do G8, G8+ e grupo de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC, sigla em 9 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 inglês) poderiam contribuir para as discussões de Doha. Vol. 4 No. 10 na medida em que permite a inclusão de carne fresca, congelada ou refrigerada dentre os cortes autorizados, razão pela qual os negociadores defendem sua importância ao agregar valor às exportações. O acordo prevê ainda uma cota de 9 mil toneladas com tarifas intermediárias para carne bovina congelada, a adição de 2,5 mil toneladas à cota de exportação de frango livre de tarifas, bem como a criação de uma nova cota de 2,5 mil toneladas para a exportação de peru, igualmente livre de tarifas. Tradução e adaptação de texto originalmente publicado em Bridges Weekly Trade News Digest, Vol. 13, No. 19 - 27 mai. 2009. Acordo bilateral Brasil-UE deve aumentar exportações de carne e açúcar Afirma-se que o principal ganho do acordo bilateral será experimentado nas exportações de açúcar, pois são previstas expressivas aberturas de mercado ao produto brasileiro. Foi estabelecida uma nova cota de 300 mil toneladas, exclusiva aos exportadores do Nordeste, com tarifa de € 98 por tonelada. Uma segunda cota de 250 mil toneladas será concedida, com base no princípio da Nação Mais Favorecida (NMF) da OMC, para exportadores dos demais países. Em uma projeção considerada otimista, se o Brasil preencher apenas 20% desta última cota, a exportação total do país somará € 140 milhões sob o acordo. Projeções otimistas indicam exportações potenciais de € 280 milhões, caso o país preencha parcelas maiores da cota. Novas regras passarão a reger as exportações brasileiras de carne e açúcar para a União Europeia (UE). No acordo firmado na última semana, são previstas compensações ao Brasil pelas perdas sofridas no mercado europeu após a entrada de Bulgária e Romênia na UE em 2007. Segundo as estimativas mais conservadoras, o acordo poderia incrementar as exportações brasileiras destes produtos em € 200 milhões. "Passaremos a exportar maior volume em alguns casos, e com valor muito mais alto do que ocorria para aqueles dois países", afirmou o embaixador brasileiro perante a Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo. Um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA, sigla em inglês) parece corroborar a tese mais otimista, ao ressaltar a crise por que estariam passando os produtores europeus de açúcar. Segundo o estudo, a UE teria deixado de ser um exportador líquido do produto em 2008, passando a importador líquido. A crise seria provocada, ao menos parcialmente, pelas reformas dos subsídios europeus à produção de açúcar, iniciada após a vitória brasileira no contencioso movido perante a OMC. Os preços mínimos pagos aos produtores caíram 36%, o que teria provocado uma queda no volume de produção e o fechamento de, pelo menos, 75 usinas. Ainda, o estudo do USDA projeta que, apesar das preferências comerciais concedidas aos países de menor desenvolvimento relativo (PMDRs), limitações de infra-estrutura os impedirão de ocupar parcelas significativas do mercado europeu, deixando o caminho livre para exportações brasileiras e australianas, mais competitivas. Em relação às exportações de carne bovina, o acordo prevê a realocação da chamada Cota Hilton – que prevê tarifas de importação menores (20%) para cortes de alta qualidade. Esta cota passará a reservar 5 mil toneladas adicionais aos exportadores brasileiros, dobrando o volume autorizado no momento. Tal número foi considerado insuficiente pelos frigoríficos brasileiros, que afirmam necessitar de uma cota de 20 mil toneladas para compensar as perdas sofridas. Contudo, o país não vem conseguindo preencher as 5 mil toneladas previstas pela cota em função do número restrito de fazendas autorizadas pelo bloco europeu – o que revela que ainda está distante a resolução do contencioso acerca das medidas sanitárias de rastreabilidade (ver Pontes Quinzenal, Vol. 3, N. 2, 8 fev. 08, http://ictsd.net/i/news/pontesquinzenal/5226/; e Pontes Quinzenal, Vol. 3, N. 7, 14 abr. 08, http://ictsd.net/i/news/pontesquinzenal/11184/ ). Apesar disso, o acordo traz flexibilidades à cota, 10 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Vol. 4 No. 10 estabelecimento de uma área de livre comércio entre seus signatários. Espera-se, ainda, que o acordo contribua para o aumento do comércio entre Índia e Mercosul, que totalizou, em 2008, US$ 3,9 bilhões. Reportagem equipe Pontes Fontes consultadas: Correio do Povo. UE eleva Cota Hilton ao Brasil Fonte. (29/05/09). Disponível em: <http://www.global21.com.br/materias/materia. asp?cod=24935&tipo=noticia>. Acesso em: 06 jun. 2009. Nos termos do acordo, a Índia dará acesso preferencial a 450 mercadorias dos países do Mercosul, incluindo produtos da indústria química e petroquímica, além de equipamentos eletrônicos. Em troca, o Mercosul abrirá os seus mercados a 452 produtos indianos, o que inclui sistemas de ar condicionado, refrigeradores, seda e vidro. O Estado de S. Paulo. País deve voltar a vender 50% da carne embargada pela UE. (29/05/09). Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/n acional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=58 1878>. Acesso em: 06 jun. 2009. Em encontro recente organizado pela Associação de Câmaras de Comércio e Indústria da Índia, autoridades da região do Mercosul apontaram os principais benefícios que seus países podem oferecer à Índia em matéria comercial. O representante argentino ressaltou que o mercado de seu país é o terceiro maior da América Latina, depois de Brasil e México. O Uruguai chamou atenção para a transparência e a previsibilidade de suas políticas governamentais, enquanto que o Paraguai enfatizou a possibilidade de trabalhar em conjunto com a Índia no campo do agronegócio. Valor Econômico. Acordo deverá elevar vendas do Brasil à UE. (27/05/09). Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/n acional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=58 1230>. Acesso em: 06 jun. 2009. Valor Econômico. Acordo entre UE e EUA na carne gera controvérsias. (29/05/09). Disponível em: <http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/n acional/selecao_detalhe3.asp?ID_RESENHA=58 1953>. Acesso em: 06 jun. 2009. “Muito em breve nós teremos que nos reunir novamente para analisar a possibilidade de ampliar o escopo do acordo, dando impulso a uma nova onda de cooperação econômica e de negócios com a Índia”, afirmou durante o encontro José Carlos Fonseca, ministro conselheiro do Brasil na Índia, de acordo com o periódico indiano Financial Express. Website ABAFRIGO. Acordo com União Europeia não agrada frigoríficos. (28/05/09). Disponível em: <http://www.abrafrigo.com.br/index.php?option =com_content&task=view&id=4597&Itemid=26 >. Acesso em: 06 jun. 2009. Índia e Mercosul definiram a estrutura do pacto em junho de 2003 e assinaram o PTA em janeiro de 2004. O acordo constitui o segundo maior da Índia com a região da América Latina. Nova Délhi assinou PTA semelhante com o Chile em 2005. No início deste mês, Santiago comunicou que os dois países iniciarão, em breve, negociações com o objetivo de ampliar o PTA para um acordo de livre comércio. BREVE REGIONAL Índia e Mercosul aprofundam relações econômicas O Acordo de Comércio Preferencial (PTA, sigla em inglês) assinado por Índia e países do Mercado Comum do Cone Sul (Mercosul) – bloco formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai – deve produzir efeitos a partir de 1º de junho. O pacto, que reduzirá as tarifas incidentes sobre uma ampla variedade de mercadorias, foi firmado com o objetivo de iniciar o processo que levará ao Tradução e adaptação de texto originalmente publicado em Bridges Weekly Trade News Digest, Vol. 13, No. 19 - 27 mai. 2009. 11 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Vol. 4 No. 10 Informações: <http://www.unctad.org/Templates/StartPage.as p?intItemID=2068> EVENTOS e INFORMAÇÕES ÚTEIS Fóruns Multilaterais 8 a 12 de junho Grupo de Trabalho para Estrutura e Orçamento, 52ª Sessão Genebra, Suíça Local: Genebra, Suíça. Informações: <http://www.wto.org/meets_public/meets_e.pdf > 8 a 12 de junho Seminário para reforço das capacidades locais de utilização dos TIC dentro do setor de turismo: etourismo para o desenvolvimento Quagadougou, Burkina Faso OMC 10 de junho Conselho para Aspectos Comerciais dos Direitos de Propriedade Intelectual – sessão especial 9 de junho Curso breve sobre elementos econômicos internacionais relevantes: promoção aos investimentos Genebra, Suíça 10 de junho Órgão de Solução de Controvérsias 15 a 19 de junho Curso de treinamento regional em: elementos essenciais nos acordos internacionais de investimentos na região do grupo de Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC, sigla em inglês) Kuala Lumpur, Malásia 10 e 12 de junho Comitê de Revisão de Políticas Comerciais – Nova Zelândia 11 de junho Comitê sobre Regras de Origem 11 de junho Comitê sobre Comércio e Desenvolvimento – Sessão Auxílio ao Comércio (Aid for Trade) Fóruns Regionais Mercosul 12 de junho Sub-Comitê para os PMDRs Informações: <http://www.mre.gov.py/protempore/calendario .asp> 19 de junho Órgão de Solução de Controvérsias 11 de junho Comissão Intergovernamental de Gestão de Riscos e Redução de Vulnerabilidades do Mercosul Assunção, Paraguai 22 de junho Grupo de Trabalho para as regras do Acordo Geral sobre Comércio de Serviços (GATS, sigla em inglês) 22 de junho Comitê para Regras Sanitárias e Fitossanitárias 18 de junho LVII Fórum de Consulta e Articulação Política do Mercosul Assunção, Paraguai 22 e 23 de junho Conselho sobre Comércio de Serviços 22 de junho UNCTAD 12 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 Seminário da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Mercosul sobre Sangue e Hemoderivados Córdoba, Argentina Fórum Econômico Mundial no Sudeste Asiático: implicações da crise global sobre o sudeste asiático Seul, Coreia do Sul Informações Úteis Cepal Mais uma derrota contencioso “zeroing” Local: Santiago, Chile Informações: <http://www.eclac.org/noticias/calendarioactivid ades/> estadunidense no O Órgão de Apelação (OA) da OMC veiculou, em 14 de maio, relatório sobre a implementação pelos Estados Unidos da América (EUA) da decisão no contencioso sobre “zeroing” movido pela União Europeia (UE). A deliberação reforma a decisão do painel sobre implementação (Art. 21.5 do Entendimento sobre Solução de Controvérsias), interpretando estritamente as obrigações oriundas de seu relatório sobre o caso: os EUA não podem utilizar a metodologia “zeroing” ou coletar direitos antidumping que tenham sido calculados por meio deste artifício, após a data de 9 de Abril de 2007. Mais informações em <http://www.wto.org/english/news_e/news09_e /294abrw_e.htm>. 8 de junho 12ª Conferência GTAP sobre Análise Econômica Global 13 de junho 1ª Reunião de Especialistas dos Ministérios da Fazenda após a Cúpula da América Latina e Caribe sobre Integração e Desenvolvimento 16 de junho Seminário sobre Gastos Sociais e Crise 19 de junho Seminário sobre Implicações da Crise Econômica e Financeira no Setor Agropecuário Ramírez e Van den Bossche serão juízes do Órgão de Apelação da OMC OCDE Ricardo Ramírez, mexicano, e Peter Van den Bossche, belga, serão os próximos juízes do OA da OMC, o tribunal de mais alto nível em termos de comércio multilateral. Os 153 Membros da OMC deverão finalizar o processo de seleção dos dois novos juízes do Órgão na próxima reunião do Órgão de Solução de Disputas, agendada para 19 de junho. Para mais notícias, ver: <http://ictsd.net/i/news/bridgesweekly/47821/ >. Informações: <http://www.oecd.org/document/49/0,3343,en_ 2649_34487_32618737_1_1_1_1,00.html> 9 e 10 de junho Fórum Global sobre Comércio e Mudanças Climáticas 10 a 12 de junho Fórum Econômico Mundial na implicações da crise global sobre a África Vol. 4 No. 10 África: São Paulo abriga um dos mais importantes eventos sobre etanol no mundo 11 e 12 de junho Seminário sobre Cidades Verdes: novas abordagens diante das mudanças climáticas A segunda edição de um dos principais eventos relacionados a biocombustíveis do mundo, o Ethanol International Summit, ocorreu entre os dias 1 e 3 de junho em São Paulo. O evento contou com a participação de empresários, representantes do governo, produtores e pesquisadores de diversos países do mundo. Para o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank, “apesar da crise econômica mundial, fizemos 11 a 13 de junho Reunião de Ministros do G-8 Roma e Lecce, Itália 18 e 19 de junho 13 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 questão de realizar o evento para mostrar ao mundo que acreditamos na competitividade e na sustentabilidade do etanol brasileiro”. Parte significativa da reunião concentrou-se no debate das vantagens ambientais da utilização do etanol como fonte de energia. Nesse sentido, o governador de São Paulo, José Serra, afirmou, durante o evento, que, entre 2004 e 2008, a frota de veículos flex fuel no Estado economizou cerca de 35 milhões de toneladas de CO2, que deixaram de ser emitidos na atmosfera. Além das vantagens econômicas e ambientais, a produção e o consumo de etanol no Brasil permitiram bilhões de dólares de economia em importação de petróleo e seus derivados nas últimas três décadas. Para mais informações sobre o Etanol Summit, ver: <www.ethanolsummit.com.br>. Vol. 4 No. 10 Revista Direito GV abre chamada de artigos A Revista Direito GV abriu, em finais de maio, chamada de artigos sobre “Metodologia de ensino do Direito”. A ideia surgiu da multiplicação de espaços de ensino do Direito. Atualmente, existem mais de mil cursos jurídicos no país. Esse quadro favorece reflexões sobre sua abordagem em sala de aula e sobre métodos que contribuam para a formação e capacitação do aluno do curso de Direito frente a esta nova conjuntura. Serão bem vindos textos inéditos que contribuam com discussões teóricas acerca das formas de avaliação, da metodologia e métodos de ensino do direito. Também serão considerados relatos que problematizem experiências individuais em sala de aula e que venham a contribuir, portanto, com essa proposta. Os textos – que podem ser escritos em português, inglês ou espanhol – deverão ser enviados para [email protected] até 13 de outubro de 2009. Relatório mostra avanços para PEDs no mercado de carbono No dia 15 de maio, o Banco Mundial lançou um relatório sobre uma década de atividades e investimentos no mercado de carbono. Os países em desenvolvimento (PEDs) e, particularmente, a África teriam sido os maiores beneficiários das iniciativas do Banco, que possui mais de 180 projetos em seu portfolio e atualmente conta com mais de US$ 2,6 bilhões para financiamento. Para mais informações, ver: <http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERN AL/NEWS/0,,contentMDK:22182123~menuPK: 34463~pagePK:34370~piPK:34424~theSitePK:4 607,00.html>. Conferência de Budapeste abordará avaliação de desenvolvimento sustentável A próxima conferência da série de treinamentos e conferências organizadas pela EASY-ECO ocorrerá entre os dias 16 e 18 de outubro em Budapeste (Hungria). A Conferência de Budapeste de 2009 tem por tema “Perspectivas de Stakeholders na avaliação do desenvolvimento sustentável”, como foco em ligações entre responsabilidade social corporativa (CSR, sigla em inglês) e gestão de avaliação de sustentabilidade no domínio corporativo da Europa. OMC abre chamada para Fórum Público sobre a crise A edição de 2009 do Fórum Público da OMC, que ocorrerá entre os dias 28 e 30 de setembro, trabalhará com o tema “Problemas globais, soluções globais: rumo a uma melhor governança global”. De acordo com os organizadores, o Fórum adquire pertinência ainda maior na busca por soluções globais face à desaceleração da economia global e à multiplicação de práticas protecionistas. Neste ano, o Fórum atentará para o pepel do sistema multilateral de comércio e para as negociações da Rodada Doha no contexto da crise econômica. Para mais informações, ver: <http://www.wto.org/english/forums_e/ngo_e/ forum09_background_e.htm>. Programa de cooperação técnica une Brasil e Angola A Embrapa está atuando em parceria com o Ministério da Agricultura de Angola para a reestruturação do Instituto de Agricultura (IAA) daquele país. O programa faz parte de um projeto de cooperação técnica, no qual se prevê a assessoria e construção de pelo menos 16 centros de pesquisa até 2013. Para mais informações, ver: <http://extranet.agricultura.gov.br/pubacs_cons/ 14 Pontes Quinzenal 8 de junho de 2009 !ap_detalhe_noticia_cons_web?p_id_publicacao= 15046>. Especialistas discutem a produção do etanol celulósico Entre 26 e 28 de maio, a Organização Internacional do Açúcar organizou, em Antígua (Guatemala), reunião de especialistas para debate sobre os desafios e perspectivas dos biocombustíveis de segunda geração. O destaque foi para a produção do etanol celulósico. Para mais informações, ver: <http://extranet.agricultura.gov.br/pubacs_cons/ !ap_detalhe_noticia_cons_web?p_id_publicacao= 15002 >. PDs e PEDs assinam acordo de eficiência energética Os países do G8, União Europeia, além de Brasil, China e México firmaram no dia 25 de maio um acordo para troca de informação e experiência em matéria de eficiência energética. As linhas gerais do acordo foram o aprimoramento de tecnologias de baixa emissão de dióxido de carbono, investimentos nos setores de construção e transportes, e captação e armazenamento de dióxido de carbono. Para mais informações, ver: <http://comexgui.wordpress.com/2009/05/26/p aises-fecham-acordo-global/>. 15 Vol. 4 No. 10