REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 DIRETORA ACADÊMICA DA FACULDADE Prof.ª ESP. Liliana Magalhães Nogueira Bello DIRETORA ADMINISTRATIVA DA FACULDADE Prof.ª Alessandra Arlete Azarias COMISSÃO EDITORIAL . EDITOR CHEFE PROF. Dr. Roque Lucio . SECRETARIA DA REVISTA Bernadete De Martini Cleide Agostinho Martins BIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL Rita de Cássia Martinelli - CRB: 8 2160 CONSELHO EDITORIAL . Profa. Me. Ana Lucia Porfírio (FEUC) Prof. Dr. Ary Menardi Júnior (FEUC) Profa. Dra. Cláudia Raquel Cantareli Costa (FEUC) Prof. Dr. Edílson José Guerra (FEUC) Prof. Me. Edson Luiz da Silveira (FEUC) Profa. Me. Leiri Valentin (FEUC) Prof. Me. Marcos De Martini (FEUC) Prof. Dr. Roque Lucio (FEUC) Profa. Me. Rosani Cristina Rigamonte (FEUC) Profa. Me. Vera Lucia Monelli Sossai (FEUC) DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINAL PROF. Dr. Roque Lucio PROF. ESP. Luis Paulo Fagiolo Augusto (site) Periodicidade: Semestral REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 EDITORIAL Está “on line” a 22.ª edição da Revista LOGOS, que representa o esforço, de docentes e alunos da Faculdade Euclides da Cunha, em divulgar a produção intelectual da FACULDADE. Neste número tivemos a colaboração do Prof. Dr. Antônio Carlos Will Ludwig, Professor da Academia da Força Área de Pirassununga, com Pós-doutorado pela Universidade de São Paulo, meu colega do Grupo de Pesquisa – LAGE (Laboratório de Gestão Educacional) da UNICAMP, com o artigo “Repensando a qualidade na Educação”. Contamos também com o artigo original produzido por ex-aluna da FEUC– Nicole Caroline Bilotta; da docente da Faculdade Euclides da Cunha, Sophia Valeriano Silva Ratz e do Professor da USP de Ribeirão Preto Dr.Marcelo Tadeu Motokane discutindo a Polinização nos livros didáticos de Biologia. Ainda, na seção de artigos originais, eu apresento artigo discutindo os caminhos da formação docente no Brasil. Na área de Iniciação Científica fizemos a edição de Trabalhos de Conclusão de Curso selecionados do Curso de Arte e Educação Física, suprimindo a parte pré-textual e alguns Trabalhos de Conclusão de Curso transformados em artigos. Nossa preocupação maior é apresentar trabalhos que apontem possíveis soluções para a construção de uma educação de qualidade para todos e uma sociedade justa e solidária. Destacamos que a Revista LOGOS continua aberta a colaboração dos docentes e alunos da FEUC e de colaboradores externos. São José do Rio Pardo, 03 de março de 2014 Prof. Dr. Roque Lucio Editor 1 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 SUMÁRIO p. 1 EDITORIAL BILOTTA, Nicole Caroline; RATZ, Sofia Valeriano Silva ; MOTOKANE, Marcelo Tadeu. A polinização nos livros didáticos de Biologia 3 LUCIO, Roque. Breve história da formação do magistério no Brasil 15 LUDWIG,Antônio Carlos Will. Repensando a qualidade na educação 31 LUCIO,Lígia de Araújo; CARNEIRO, José Renato; MENARDI JUNIOR, Ary. Folia de reis: o fazer artístico na representatividade do rito 39 SANTOS , Maria Betania Soares dos ; GUERRA, Edilson José. Ecologia da apis mellifera mellifera com ênfase em observações ex situ de seus padrões 105 comportamentais frente à variações de temperatura e umidade ABELINI, Henrique Augusto; MARTINS, Gustavo Celestino. Agilidade de crianças praticantes de futsal comparadas com crianças que praticam educação 145 física escolar através do teste de Shuttle Run CARDOSO, Diogo Franco; ALVES, Rogério José Gomes; PORFIRIO, Ana Lucia. Obesidade na escola em adolescentes de 14 e 15 anos de São José do Rio 156 Pardo CARVALHO, Natália Ramos; CAMPOS, Marcus Vinícius Almeida; DIPE, Eliana Lúcia. Benefícios das atividades lúdicas na melhora da autoestima dos 169 idosos do Asilo Padre Euclides Carneiro em São José do Rio Pardo- SP COSTA, Rodolfo da Silva Amalfi; MIGUEL, Henrique. A influência da temperatura da água no rendimento de nadadores de 7 à 12 anos FLORINDO, Reinaldo Modesto; PORFÍRIO, Ana Lúcia ; PEIXOTO, Maria Tereza Moreira Theodoro. Educação Física e inclusão escolar: fundamentos e perspectivas FRANÇA, Paulo. C.; MIGUEL, Henrique; CAMPOS, Marcus Vinicius Almeida. Efeitos da suplementação de Maltodextrina em uma partida de Futsal sub 18 SILVA, Danilo Cristiano da; ALVES, Rogério José Gomes. Inclusão social com auxílio da educação física nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP. 194 218 243 251 SOUZA, Leslisleine Jandira Moraes de; LUCIO, Roque. Os benefícios da prática e os malefícios da falta de exercício físico na visão dos pais e dos alunos do 6º 269 ano do ensino fundamental . APOLINÁRIO, Benedita Helena; BLASCHI, Clarinda de Fátima; LUCIO, 301 Roque. Evolução da creche: a creche em São José do Rio Pardo 2 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ARTIGOS ORIGINAIS A POLINIZAÇÃO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA 1 BILOTTA, Nicole Caroline; 2RATZ, Sofia Valeriano Silva ; 3 MOTOKANE, Marcelo Tadeu 1 Graduação pela Faculdade Euclides da Cunha 2 Docente da Faculdade Euclides da Cunha 3 Departamento de Biologia – FFCLRP – Universidade de São Paulo RESUMO Por conta da coevolução entre planta e agente polinizador, muitas culturas estão diretamente ligadas ao seu polinizador, como o maracujá amarelo, que dependente dos serviços de polinização para a produção de frutos e para terem sucesso na perpetuação de sua espécie (YAMAMOTO, M.; BARBOSA, A. A. A., 2007). Essas informações muitas vezes não são apresentadas de forma clara nos livros didáticos, com base nesse argumento analisamos quatro livros didáticos e verificamos se há um total conhecimento sobre o que é realmente a polinização, desde a relação entre agente polinizador, polinização e coevolução ou se esse conhecimento é apenas citado de uma forma superficial. Os livros analisados mostram um déficit de conteúdo, quando o tema polinização se apresenta de forma pouco assimilável e superficial. Os livros poderiam abordar mais afundo este tema, pois a coevolução entre animais e angiospermas são muito importantes para a biodiversidade. Palavras-chave: coevolução, polinização, livro didático, ensino de Biologia. INTRODUÇÃO Não há como falar de angiospermas sem citar a grande importância da polinização para estas espécies, uma vez que é por meio da polinização que esse grupo de plantas garantirá sua reprodução e variabilidade genética. Registros fósseis indicam um surgimento tardio das angiospermas comparado aos outros grupos de planta, com aparecimento de registros fósseis datados de 130 milhões de anos (RAVEN et al, 2007). Apesar de seu aparecimento tardio, algumas características das angiospermas, como as flores e sua relação com agentes polinizadores, fizeram com que esse grupo tivesse uma grande diversificação de suas espécies. Segundo Raven et al. (2007), a polinização por insetos muito provavelmente acelerou a evolução inicial das angiospermas, pela possibilidade que ela proporcionava para o isolamento de pequenas populações e pela polinização indireta, a qual promove a competição entre numerosos grãos de pólen germinando no tecido estigmático. À medida que as angiospermas continuaram a evoluir, as relações com polinizadores especializados se tornaram mais sólidas. 3 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Desta forma, angiospermas e polinizadores criam uma relação de coevolução, as características da planta se tornam tão específicas a um único tipo de visitante que outras espécies polinizadoras não conseguem realizar. Isso quer dizer que essa coevolução entre as duas espécies pode levar a extinção caso o agente polinizador, que favorece a perpetuação da espécie de angiosperma, desapareça (RAVEN et al, 1999). O estudo de Botânica e sua real dimensão para a vida em nosso planeta é quase sempre ofuscada pelo conhecimento fragmentado e distorções para o público, como também pela baixa compreensão geral de como ela ocorre e suas consequências para o meio ambiente. (BITENCOURT et al. 2011; ARÊDES e WINAGRASKI, 2012). Segundo Menezes et al. (2010) o ensino de Botânica no Ensino Médio é marcado por diversos problemas, muitos deles gerados pela falta de interesse por parte dos estudantes por esse conteúdo e pela deficiência no processo de ensino e aprendizagem. No ensino específico de polinização também observamos deficiências que prejudicam o processo de ensino e aprendizagem. A pesquisa de Soares et al. (2005) apontou a relação entre dificuldade de mudança no perfil conceitual de estudantes sobre a reprodução das plantas e a metodologia tradicional utilizada pelo professor. Além disso, Arêdes e Winagraski (2012) apontam deficiências relacionadas a erros conceituais em livros didáticos de Ciências que prejudicam o processo de ensino e aprendizagem. Os livros didáticos são bastante valorizados e representam um papel muito importante para a educação (TORRES GARCÍA et al., 2002). Ainda segundo Vasconcelos e Souto (2003), os livros didáticos de Ciências devem ser capazes de promover a reflexão sobre vários aspectos da realidade e ainda estimular o sentimento de investigação do aluno. Em 1995 o Ministério da Educação estabeleceu como prioridade o aprimoramento dos livros didáticos, implantou-se então o Plano Nacional sobre o Livro Didático (PNLD). Segundo o decreto 9154/85, que é o mecanismo que regulamenta legalmente a questão do livro didático. Recentemente a Resolução/CD/FNDE nº 603, de 21 de fevereiro de 2001, passou a ser o mecanismo que organiza e regula o PNLD (NÚÑEZ et al., 2003). O Guia do PNLD foi criado pela Secretaria de Educação Básica do MEC em 1997. Esse guia é encaminhado às escolas públicas, que escolhem, entre os títulos disponíveis, aqueles que melhor atendem ao seu projeto político pedagógico (BATISTA; CUNHA; CANDIDO, 2010). Os livros didáticos têm como função estimular os alunos a analisarem os fenômenos e assim formularem conclusões, para que o aluno tenha compreensão científica, filosófica e estética de sua realidade (VASCONCELLOS, 1993) A polinização está muito além do que é mostrado nos livros didáticos. Esses utilizados por professores como o principal material didático que orienta o conteúdo a ser ministrado nas aulas de Ciências (SPIASSI, 2008). O livro didático é um aliado de grande importância nos estudos em salas de aula, que pode contribuir para o entendimento cientifico e mais aprofundado das situações diárias. Claro que desde que tenha recursos suficientes para o aprofundamento dos estudos (VASCONCELOS, 1993). Mas o livro didático não é o único instrumento de ensino que pode ser usado em tarefas na sala de aula, como exemplo podemos optar também pelo movimento CTSA, que é um instrumento de grande importância na aprendizagem, pois, podemos encontrar na literatura uma infinidade de temas sociais, bem como estratégias que podem ser abordados dentro do tema (SANTOS e MORTIMER, 2000). Segundo Santos e Schnetzler (1997), alfabetizar os cidadãos em ciência e tecnologia é uma necessidade do mundo contemporâneo, pois a ciência e a tecnologia interferem em todas as esferas da sociedade. O movimento CTSA (Ciência, tecnologia, sociedade e ambiente) é uma perspectiva na área de Ensino de Ciências em que aproxima o aluno da realidade, fazendo com que o 4 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 conhecimento científico tenha um real significado (VASCONCELLOS; SANTOS; 2008). Ainda, os parâmetros do CTSA não priorizam conceitos e conteúdos, pois estes são vias que darão sentido para os alunos quando questionarem algo (MARTINS, 2002). O ensino do CTSA nas escolas busca a formação de cidadãos críticos, que possam contribuir para a preservação da vida do planeta, assim como melhores condições sociais (MONTEIRO; GOUVEA; SANCHES; 2010). JUSTIFICATIVA A precariedade das informações sobre o que é a polinização, além de ser citada dando-se ênfase somente para a reprodução das angiospermas, deixa uma incógnita sobre o real aprendizado dos alunos (ARÊDES e WINAGRASKI, 2012). A partir de um aprendizado mais elaborado e aprofundado que os estudantes terão opinião formada e serão capazes de conhecer os principais conceitos, fenômenos e teorias científica, habilitando o aluno a ler, escrever e falar sobre ciências. Dessa forma, o habilita a aplicar esse conhecimento no mundo à sua volta e avaliar as implicações das teorias para a sociedade e ambiente (SASSERON e CARVALHO, 2011). Em situações do cotidiano seria de fácil entendimento que o uso de agrotóxicos em cultivos dizimaria não só pragas e outros animais que utilizam de atrativos florais produzidos pelas plantas e não fazem uma polinização eficiente, mas também, agentes polinizadores que dependem destes cultivos, assim como os cultivos dependem destes agentes para uma produção melhor. É o caso do maracujá amarelo, este é polinizado com melhor eficiência pelas mamangavas de toco, do gênero Xylocopa. As flores do maracujá amarelo, são diretamente dependentes da polinização feita pelas mamangavas, segundo Camilo (2003), a principal razão dessa eficiência é o seu tamanho já que essas abelhas conseguem chegar ao estigma da flor e depositar os grãos de pólen amarelados, que foram retirados da antera de outra flor. A grande importância de um estudo mais elaborado para a formação de cidadãos que saibam intervir em situações do cotidiano e entender o que realmente acontece ao seu redor é um passo muito importante que deve ser tomado. Para isso é necessário o auxilio de materiais que possibilitem professores e alunos terem uma noção dos problemas reais e que possibilitem a tomada de decisões eficientes. OBJETIVO Mediante a relevância do tema, o objetivo desse trabalho é analisar como os livros didáticos de biologia para o Ensino Médio, aprovados no PNLD 2012, apresentam a polinização. METODOLOGIA A metodologia empregada para o desenvolvimento deste trabalho consistiu em uma análise do tema polinização apresentado nos livros didático de Biologia. Os livros foram selecionados, 5 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 tendo em vista a disponibilidade de melhor acesso e constam no guia Guia PNLD (Plano Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio) do ano de 2012. O estudo foi realizado por meio da leitura e avaliação dos textos e imagens relacionados ao tema polinização, foi utilizando como parâmetro para a análise, o livro Biologia Vegetal (RAVEN, EVERT, EICHHORN; 2007) de referência botânica para o Ensino Superior. O objetivo foi o de verificar a presença de erros conceituais ou equivocados e alguns elementos pedagógicos que favoreçam um aspecto investigativo dentro do ensino de ciências. A analise teve inicio à capítulos que abordavam o tema polinização dentro dos livros didáticos. Os textos dos livros foram avaliados verificando como o conteúdo científico “polinização” está sendo apresentado, considerando a ênfase dada, a clareza na escrita e a ilustração utilizada. Após a leitura do tema foi verificado se tais informações coincidem com as referencias de Raven. As imagens também foram avaliadas, verificando se havia entendimento com o tema. Dessa forma, podemos avaliar se houve uma abordagem sobre a importância da polinização, se os exemplos e as imagens utilizados eram apresentados de forma clara, objetiva e interligada ao assunto. Foram analisados nos livros se existia dentro do tema a importância da coevolução entre polinizadores e angiospermas, para que os alunos reflitam e percebam a real dimensão que é a polinização. A análise dos conteúdos didáticos ajudaram a analisar e estabelecer especificidades e padrões de regularidades. Diante da analise obtida foi verificado se havia dentro dos livros didáticos, algum tema correlacionado à coevolução, que pudesse dar um melhor entendimento sobre a relação entre dois indivíduos que juntos tiveram a oportunidade de evoluir. Após os dados obtidos foi formulado um resultado para que pudesse ser melhor compreendido e discutido. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foram selecionados quatro livros didáticos que constam no Guia PNLD (Plano Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio) do ano de 2012. Esse Guia foi disponibilizado às escolas públicas, nas quais os professores realizaram a escolha do livro didático de Biologia que seria utilizado nos três anos posteriores à entrega dos mesmos. Os livros didáticos analisados foram colocados em uma tabela e enumerados para a melhor compreensão e leitura. 6 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 QUADRO N.º 1. Lista de livros analisados Obra Autor Editora Ano de Edição Abreviação 1. Bio vol.3 Lopes, S.; Rosso, S. Saraiva 2010 L1 2. Biologia vol.2 Amabis, J. M.; Martho, G. R. Moderna 2010 L2 3. Biologia vol. 2 César; Sezar; Caldini Saraiva 2010 L3 Bizzo, N. Ática 2011 L4 4. Novas Bases da Biologia vol. 2 No L1 o tema polinização se apresenta de forma não muito clara, apenas citando duas formas que ela pode ocorrer sem dar muita continuidade ao assunto. Os exemplos de polinização que são citados no L1, é a polinização pelo vento e por animais, não foi citado a polinização feita pela agua e também não apresenta exemplos nem imagens que ajudam na associação do modo que a polinização se realiza. Isto seria muito importante, pois, segundo MARTINS e GOUVA (2005), a importância das imagens nos livros didáticos está no fornecimento de subsídios para uma melhor compreensão e avaliação da natureza das demandas desse texto. O L2 apresenta um conteúdo mais completo no capítulo do que o L1. O L2 apresenta um título destinado somente a polinização e cita com detalhes as adaptações evolutivas que as angiospermas desenvolveram para a polinização, tanto para a polinização realizada pelo vento, quanto a polinização realizada por animais. Segundo RAVEN et al. (2007), as plantas diferentemente da grande maioria dos animais não podem mover-se de um lugar para o outro para procurar um parceiro reprodutivo. Entretanto, muitas angiospermas desenvolveram um conjunto de características que, na prática, lhes proporcionou uma mobilidade direcionada na busca por um parceiro reprodutivo: a flor. Ao atrair insetos e outros animais com suas flores, as angiospermas junto com esses animais começam a realizar a polinização. Porém não é citado em nenhum momento a importância da coevolução entre as espécies de animais polinizadores e as angiospermas, e o grande problema no meio ambiente que pode levar caso esses polinizadores desapareçam. Notamos que o livro apresenta uma imagem destinada a polinização (figura 1), onde mostra uma abelha com grãos de pólen aderidos ao corpo, porém nada é citado sobre a importância deste grupo de insetos polinizadores. Segundo RAVEN (2007), as abelhas representam o grupo mais importante de insetos que visitam flores, sendo responsáveis pela 7 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 polinização de mais espécies de plantas do que qualquer outro grupo. A imagem no entanto poderia confundir no entendimento sobre o tema, pois ao ser a única ilustração sobre os agentes polinizadores, a abelha seria a única referencia que o aluno pode ter dentro do livro, sendo que há uma variedade de outros animais que realizam a polinização. Figura 1: Imagens ilustrativas do livro 2. Como mostra a imagem a seguir (figura 2) o L2 apresenta algumas concepções sobre a forma e as cores de algumas flores como adaptações, evolutivas entre essas espécies, considerando a coevolução entre ambas. Segundo RAVEN (2007), quando uma dada espécie vegetal é polinizada por somente um ou poucos tipos de visitantes, a seleção favorece especializações relacionadas às características destes visitantes. 8 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 2: Concepções sobre adaptações evolutivas do livro 2. Observamos no L3 que o tema está amplo e com uma escrita clara. Além de constar exemplos e imagens, o que poderia potencializar a interação do aluno com o tema. Há um titulo destinado somente ao tema polinização. O conteúdo apresenta exemplos de polinização e conceitos sobre as adaptações evolutivas das angiospermas. Foi observado também que o L3 fala sobre a importância de uma polinização bem sucedida para a variabilidade genética da espécie. O L3, também, traz exemplos sobre a polinização feita por cada espécie de animal polinizador. Segundo RAVEN (2007), cada grupo de animais visitantes de flores está associada a um conjunto especifico de características florais relacionadas aos sentidos visuais e olfativo destes animais. Detalhe para o exemplo da imagem ilustrativa do L3 (figura 3), que traz um beija flor coletando o néctar de uma planta, que ao longo de milhares de anos teve uma evolução morfológica ligada a este tipo de polinizador. Quando o néctar é coletado pelo polinizador, os grãos de pólen se aderem ao corpo desse e são transportados para outra flor. 9 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 3: imagens ilustrativas do livro 3. O L4 apresenta também o tema polinização, porém, o traz juntamente com o conceito de dispersão das sementes. Podemos observar exemplos dos agentes polinizadores e dados mostrando em porcentagem quais são os elementos que realizam a polinização. 10 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 4: exemplo do livro 2 mostrando em porcentagem as formas de polinização. Porém foi observado no L4 que o conteúdo não apresenta conceitos sobre adaptações evolutivas das angiospermas, nem o conceito de coevolução entre as plantas e os animais. O L4 também traz imagens ilustrativas que mostram animais fazendo a polinização. Figura 5: imagens ilustrativas do livro 4. Como foi observado nenhum dos livros pesquisados apresenta dentro do conteúdo a importância da coevolução entre angiospermas e polinizadores, o que poderia ser importante para um melhor entendimento cientifico das adaptações evolutivas das angiospermas. 11 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Este é um item importante dentro do estudo da polinização, pois, entendendo a coevolução entre estas espécies é que pode se ter uma base de quais agentes polinizadores determinadas angiospermas estão interligadas através da evolução de ambos. Além disso, compreender que algumas plantas se tornam tão dependentes destes agentes polinizadores que a ausência dos mesmos pode leva-las à extinção. Por isso é interessante ter uma melhor apresentação do tema dentro dos livros didáticos, para que os alunos tenham conscientização do grande benefício que a polinização traz para a manutenção da biodiversidade. Pouco se apresentou nos livros uma abordagem na linguagem do CTSA, que visa relacionar o conteúdo com o cotidiano dos alunos, para que haja uma melhor interação do tema e um melhor entendimento do que acontece ao seu redor. Um aprendizado que visa o aluno a olhar em volta, dentro da sociedade em que vive e ver os problemas ao seu redor, pode gerar uma conscientização melhor dos atos tomados pelos mesmos. Isso inclui apresentar nos conteúdos uma problematização ao longo do tema, para que os alunos tomem decisões favoráveis, isto não foi visto em nenhum dos livros analisados. CONCLUSÃO A polinização é um importante processo realizado pelos agentes polinizadores que prestam um grande serviço ecológico para a manutenção dos ecossistemas e conservação da biodiversidade e também para a economia mundial, ajudando na produção de alimentos. Muitos cultivos como, por exemplo, o maracujá amarelo depende de agentes polinizadores para realizar uma polinização eficiente e uma melhor produção de frutos. A degradação do meio está fazendo com que o número desses polinizadores diminua, prejudicando culturas que muitas vezes são especializadas a um único tipo de polinizador, como no caso do maracujá amarelo, afetando assim a economia dos produtores de culturas que dependem desses animais. Hoje, cada vez mais, as questões ambientais estão sendo discutidas nos meios de comunicação, como preservação ou destruição do meio ambiente e as consequências para a sociedade. Atualizar e conscientizar os jovens sobre essas questões muitas vezes se torna papel da escola, onde é o ambiente favorável para colocar os conhecimentos adquiridos em prática não só no meio escolar, como na sociedade, fazendo com que os alunos reflitam a respeito das atitudes tomadas pelo homem nos últimos tempos para atender a vontade de seu bem estar. A real dimensão da polinização pode ser ofuscada pela falta do conteúdo aprofundado. Os livros didáticos são muito importantes para os professores em sala de aula (SPIASSI, 2008), muitas vezes são o único material de apoio utilizado pelos mesmos. Porém os livros didáticos apresentam basicamente apenas conceitos e teorias descontextualizadas, muitas vezes, distancia-se do real objetivo da perspectiva CTSA e Alfabetização Científica. Isso pode levar à falta de interesse dos alunos em entender as relações que existem entre os seres vivos, como por exemplo, na polinização por insetos, onde ocorre uma relação mutualística entre flores e insetos. Basicamente o tema polinização nos livros didáticos é abordado como uma das formas de reprodução de angiospermas. Porém, apenas destacam características que as flores apresentam para atrair os polinizadores. Em alguns livros didáticos ainda podemos encontrar alguns exemplos e imagens de polinizadores, mas nenhum dos livros cita as especializações que as angiospermas desenvolveram para certos tipos de polinizadores. Essa coevolução entre as espécies é um 12 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 conhecimento importante, levando em conta que essa relação mutualística é de grande importância para a manutenção da biodiversidade. O processo de ensino e aprendizagem deve ser amplamente trabalhado e bem elaborado dando as informações necessárias para que os estudantes estejam atualizados e bem informados sobre a importância da polinização e os benefícios dos “serviços” ambientais prestados pelos agentes polinizadores, para que assim possa influenciar os tomadores de decisão, na formulação de diretrizes para conservação desse importante trabalho. Uma metodologia apropriada poderia ocorrer em etapas, junto aos livros didáticos, pois estes são os matérias mais utilizados pelos professores em salas de aulas (SPIASSI, 2008). Por conta das limitações dos livros didáticos, as aulas poderiam ser combinadas com outros materiais e abordariam desde questões relacionadas à evolução das interações entre plantas e animais até a biologia da conservação, dando ênfase à linguagem científica escolar. Elaborar argumentos e justificativas são habilidades importantes a serem desenvolvidas pelos alunos. Isso permite uma aproximação com a linguagem científica, o que habilita o educando a compreender o mundo natural e intervir nele, na perspectiva das relações existentes entre ciências, tecnologia, sociedade e ambiente. REFERÊNCIAS ARÊDES, M. S.; WINAGRASKI, E. Polinização nos livros didáticos de ciências: uma avalição das imagens e do conteúdo teórico. Niterói, p.01-12, 2012. BATISTA, M. V. A.; CUNHA, M. M. S.; CANDIDO, A. L. 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A FORMAÇÃO DO MAGISTÉRIO NOS SÉCULO XIX E XX Outra legislação, a lei de 15 de outubro de 1827, de abrangência nacional, previa a formação de professores como obrigação do Império; porém, não houve, por parte do governo central, o estímulo necessário para a criação de cursos. O Ato Adicional de 1834 2 definiu, como obrigação das Províncias, a oferta da educação de primeiras letras, assim como a abertura de cursos de formação de professores, disciplinando a descentralização da educação no Brasil Império (KULESKA, 2000 e TANURI, 2000). A criação da primeira escola normal do Brasil, na província do Rio de Janeiro, foi em 1835. Cabe destacar que, por mais de uma década, ela funcionou com um único professor, número reduzido de alunos e conteúdo rarefeito (VILLELA, 2005). Os alunos eram preparados individualmente até que fossem considerados prontos para os exames, sendo grande o número de desistências, e moroso o processo de formação do magistério. Apesar do incentivo das pensões concedidas aos estudantes pelo governo, eram constantes as críticas dos presidentes de províncias e chefes de instrução ao funcionamento das escolas, demonstrando que o investimento estava aquém das expectativas de provimento das escolas públicas (VILLELA, 2005, p. 105-106). 1 Também conhecido como ensino mútuo ou sistema monitorial, esse método pregava, dentre outros princípios, que um aluno treinado ou mais adiantado (decurião) deveria ensinar um grupo de dez alunos (decúria), sob a orientação e supervisão de um inspetor. Ou seja, os alunos mais adiantados deveriam ajudar o professor na tarefa de ensino. 2 Ato Adicional de 1834, aprovado pela Lei nº. 16 de 12 de agosto nos seus 32 artigos, estabeleceu algumas mudanças significativas, principalmente no que se referiu ao Capítulo V da Constituição, que definia as atribuições dos Conselhos Gerais de Província. Ele extinguiu os Conselhos Gerais das províncias e criou, em seu lugar, as assembleias legislativas provinciais com poderes para legislar sobre economia, justiça, educação, entre outros. Além disso, a cidade do Rio de Janeiro foi transformada em Município Neutro, desmembrado da Província do Rio de Janeiro, que passou a ser a sede do governo em Niterói. 15 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A Reforma Couto Ferraz, na década de 1850, ao incentivar a provisão das Cadeiras do magistério com a figura do Adjunto, valorizar os concursos e a fiscalização em serviço, em detrimento da formação institucional do professor, refreou o impulso inicial de organização das Escolas Normais. A primeira proposta de Escola Normal Superior Pública surgiu ainda no Império, em Decreto de 1892. Seria anexa à Escola Normal da Capital Paulista, porém, não chegou a ser concretizada (MOACYR, 1942). Acrescente-se a este fato a concorrência do modelo artesanal (ou de formação na prática) à formação institucional. O modelo artesanal predominou no Brasil durante praticamente todo o Período Imperial; supõe-se que isso ocorreu, por sua maior proximidade com os modos tradicionais de formação para os ofícios, e por seu menor custo com o futuro professor, que aprendia as técnicas e os usos do trabalho acompanhando a prática de um professor experiente. Este sistema de formação docente constituía-se na nomeação como professores adjuntos dos melhores alunos das escolas públicas de primeiras letras (a partir dos 12 ou 13 anos de idade). Os alunos recebiam um pequeno pagamento para acompanhar o professor em exercício (VILLELA, 2005). Não por acaso, muitas escolas normais extinguiram-se ou viveram de forma agonizante a partir de então. Inicialmente, essas escolas foram instituídas em Minas Gerais e em Niterói, e na Província do Rio de Janeiro, no ano de 1835. Em seguida, foram abertos cursos na Bahia, em 1836; no Ceará, em 1845 e em São Paulo, em 1846. Todas essas escolas eram de responsabilidade dos governos provinciais, tal como estabelecido pelo Ato Adicional de 1834. Isso significou que essas escolas foram abertas por opção dos dirigentes de cada Estado e estavam condicionadas à disponibilidade de recursos, sempre escassos, tendo em vista as dificuldades materiais que todas enfrentavam. Em parte, a precariedade da estrutura fez com que esse tipo de ensino tivesse, durante muito tempo, uma existência incerta, atraindo alunos (não eram admitidas mulheres) em número insuficiente para manter-se em atividade. Foram frequentes, até meados do século XIX, as noticias de fechamentos e reaberturas sucessivas dos poucos cursos existentes no país. Foi o caso da Escola Normal de São Paulo: aberta em 1846, fechada em 1867, reaberta em 1876, fechada novamente em 1877, e reabrindo ainda outra vez em 1880 (TANURI, 1969). As reclamações dos dirigentes, em várias províncias, apontavam as dificuldades que encontravam para manter um curso desprestigiado, uma vez que pretendentes despreparados ascendiam ao magistério por concurso ou nomeações, não poucas vezes fraudadas (VILELLA, 2005). Os concursos orais e/ou escritos reforçavam a ideia de que apenas uma preparação teórica era suficiente para a seleção de bons mestres. As primeiras iniciativas de formação dos professores só ocorreram após a descentralização administrativa proposta pelo Ato Adicional de 1834. No início da República, não houve modificação substancial no que concerne à formação do magistério. A Reforma Sampaio Dória, em São Paulo, em 1920, criou pela Lei Estadual n.º 1.759/20, uma faculdade de educação, que também não chegou a ser instalada (MOACYR, 1942). Do início do século XIX até os anos de 1930, a formação docente no Brasil era restrita à escola normal de nível médio. A formação docente em nível superior só teria início em 1930. O Curso de Aperfeiçoamento, fundado em 1931, na Escola Normal da Capital, transformada em Instituto Pedagógico de São Paulo, foi a primeira experiência de elevação dos estudos pedagógicos ao nível superior e que logrou sucesso. Este curso preparava Inspetores, Delegados de Ensino, Diretores e Professores da Escola Normal. No Brasil do século XIX, o provimento de cargos no magistério mobilizava um complexo sistema de concessão ou intermediação de favores, em que o emprego público ocupava lugar central. Relações clientelísticas amarravam o sistema social e político de alto a baixo, definindo 16 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 redes de lealdades baseadas em laços de família, amizade e proteção. O emprego público era um dos principais elementos nessa configuração de trocas materiais e simbólicas e uma cadeira numa escola pública não escapava a esse jogo de interesses (VILLELA, 2005). Segundo Villela (2005), a República aprofundou a descentralização e cada unidade da federação pôde criar estabelecimentos voltados para a formação docente: as escolas normais estaduais. Não havia, no âmbito federal, normas gerais sobre o assunto, não existia um órgão central nacional que articulasse e integrasse todas as escolas normais do País. O Decreto n.º 19.851/1931, do Ministério da Educação e Saúde Pública, criou o Estatuto das Universidades Brasileiras, cuja base seria formada pelas Faculdades de Direito, Engenharia e Medicina, possibilitando que uma delas fosse substituída por uma Faculdade de Letras, Ciências e Educação (CURY, 2003). Esta Faculdade teria três seções: a de Educação, a de Ciências (compreendendo esta os cursos de Matemática, Física, Química e Ciências Naturais), e a de Letras (com os cursos de Letras, Filosofia, História e Geografia, e Línguas Vivas). Seriam esses os cursos de licenciatura, e os formados deveriam lecionar as disciplinas de sua especialidade no ensino normal (licenciados em Educação) e no ensino secundário (licenciados em Ciências e Letras). Conforme Cury (2003), os cursos de formação pedagógica, propostos tanto no Estatuto das Universidades Brasileiras, como nos Projetos da Universidade de São Paulo, em 1934, e da Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro, em 1935, apresentavam caráter à parte, distinto do caráter exclusivamente científico dos demais cursos. Nas Universidades, esses cursos seriam centros de formação pedagógica para o ensino secundário, integrando, em âmbito superior, os campos de conhecimentos específicos das áreas específicas, com aspectos propriamente pedagógicos, sem descurar das disciplinas de caráter não profissional e do desenvolvimento da investigação científica. A Universidade do Distrito Federal, ao organizar o Instituto de Educação, foi a primeira a elevar os estudos pedagógicos para o nível superior, com a preocupação de formar professores, numa estrutura verticalizada de formação de professores num único local (CURY, 2003, p. 129130). É importante lembrar que, em 1937, um golpe de Estado instituiu no Brasil a Ditadura Vargas, regime político autoritário, unitário, antiliberal e antidemocrático, que se autodenominou Estado Novo. A fim de debelar as forças políticas que poderiam ameaçar o Estado Novo, esse regime desencadeou um processo que favorecia a divulgação de práticas fascistas e nazistas. Conforme Brzezinski (1996), neste contexto político, a intelectualidade brasileira, envolvida com a universidade e que pertencia aos grupos defensores do liberalismo, do socialismo, do comunismo e outros que faziam oposição ao regime, veio a sofrer duros golpes em seus empreendimentos. O Movimento Renovação Educacional, ou seja, dos Pioneiros da Educação Nova, e o ideário que informava suas ações democráticas na esfera educacional entraram em visível declínio. O governo autoritário cometeu atos repressivos, dentre eles, a prisão de Anísio Teixeira e a desativação da Universidade do Distrito Federal com a instalação da Universidade do Brasil e, nesta, a Faculdade Nacional de Filosofia. Segundo Brzezinski (1996), a constituição da Universidade do Brasil foi bastante influenciada pelo contrato de poder entre o governo e a Igreja Católica. No Estado de São Paulo, o Instituto de Educação da Universidade de São Paulo foi, a partir de 1938, transformado sucessivamente em Seção de Educação da Faculdade de Filosofia, depois Seção de Pedagogia e em Departamento de Educação (CURY, 2003, p. 130; BRZEZINSKI, 1996, p.39). Ao Instituto de Educação, caberia a especialização em magistério para a educação especial e a habilitação para administradores e inspetores escolares para o ensino primário. Junto aos Institutos, deveria haver um grupo escolar e o jardim da infância (CURY, 2003, p. 130). Fétizon 17 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 (1986, p.431) ressaltou que a incorporação de cursos de educação (1939) à Faculdade de Filosofia, dela alijados no inicio da sua instalação, foi por diversos motivos um “desacerto” [...] “do ponto de vista prático funcionou como feliz arranjo de circunstância” . O “arranjo” foi a solução para a falta de alunos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Concretizado o “arranjo”, o índice de alunos aumentou, porque os egressos das seções de conteúdo específico buscavam, em mais um ano de estudos nas matérias de cunho pedagógico, o grau de licenciado, titulação obrigatória para exercer a profissão de professor do ensino secundário. Segundo Cury (2003), a Lei 452 de 1937, no governo Vargas, organizou a Universidade do Brasil. Na lei, constava uma Faculdade Nacional de Filosofia com um curso de educação. Esta faculdade foi regulamentada pelo Decreto- Lei n.º 1.190, de 4 de abril de 1939, que determinava, como finalidades da Faculdade Nacional de Filosofia, a preparação de trabalhadores intelectuais, a realização de pesquisas e a preparação de candidatos ao magistério, dos ensinos secundário e normal. Possuiria uma seção de Pedagogia, constituída de um curso de Pedagogia de três anos, que forneceria o título de Bacharel em Pedagogia. Faria parte também uma seção especial: o curso de Didática, de 1 ano, e que, quando cursado por bacharéis, resultaria no título de licenciado. Recebeu a denominação de 3 + 1, ou seja, aquele que cursasse três anos de bacharelado mais um ano de Didática teria o direito ao título de licenciado, podendo exercer a docência. A Lei Orgânica do Ensino Normal, que instituiu o curso normal em nível de segundo grau, foi editada em 02 de janeiro de 1946 e estabelecia a formação do pessoal docente necessário às escolas primárias. A lei foi implantada pelo Decreto–Lei n.º 8.530, de 2/01/1946, e previa a existência de dois ciclos. O primeiro, de 4 anos, para regentes, era oferecido pela escola normal regional; e o segundo, para professores primários, com três anos, era ministrado na escola normal, junto à qual havia um grupo escolar. A Lei 4.024/61, que fixou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, não alterou significativamente a preparação de normalistas para o ensino primário, prevista na Lei Orgânica do Ensino Normal (Decreto n.º 8.530, de 1946). A Lei permitiu a formação de docentes para o ensino primário em dois níveis: em escola normal de grau ginasial com o mínimo de 4 séries anuais onde, além das disciplinas obrigatórias do curso secundário ginasial, seria ministrada preparação pedagógica; e em escola normal de grau colegial, de três séries anuais, no mínimo, em prosseguimento ao grau ginasial (Artigo 53). As escolas normais, de grau ginasial, expediam diplomas de regente de ensino primário, e as de colegial, os de professor primário. Os diplomados como regentes de ensino primário podiam lecionar em localidades com menos de mil habitantes; e os professores do ensino primário podiam lecionar em quaisquer localidades, sem restrições. Os institutos de educação, além dos cursos de grau médio, ministravam cursos de especialização, de administradores escolares e de aperfeiçoamento, abertos aos graduados em escolas normais de grau colegial. A Lei determinava que a formação de professores para o ensino médio fosse feita nas faculdades de filosofia, ciências e letras; e a de professores de disciplinas específicas do ensino médio técnico, em cursos especiais de educação técnica. Os institutos de educação podiam manter cursos de formação de professores para o ensino normal, desde que dentro das normas estabelecidas para os cursos pedagógicos das faculdades de filosofia, ciências e letras. 18 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O Parecer n.º 251/623 do Conselho Federal de Educação (CFE), redigido por Valnir Chagas, introduziu algumas alterações curriculares no curso de Pedagogia. Neste parecer, o relator apontou a necessidade de o professor primário vir a ser formado em ensino superior. Este Parecer introduziu um mecanismo inovador, a saber, a fixação dos currículos mínimos, e tentou eliminar o esquema 3 + 1, alterando o tempo de duração do bacharelado e da licenciatura para quatro anos de duração. O Parecer 292/62 do CFE, também redigido por Valnir Chagas, regulamentou os cursos de licenciaturas, na tentativa de superar a dicotomia expressa no esquema 3 + 1, que significava cursar três anos de bacharelado mais um ano em que as disciplinas básicas da licenciatura eram predominantes. Este Parecer estabeleceu a carga horária das matérias de formação pedagógica, a qual deveria ser acrescida aos que quisessem ir além do bacharelado. Esta duração deveria ser de, no mínimo, 1/8 do tempo dos respectivos cursos e que, neste momento, eram escalonados em 8 semestres letivos e seriados. Deve-se lembrar que, a partir de 1961, houve algumas experiências de funcionamento de Faculdade de Educação no País, como foi o caso da Universidade de Brasília (1961), o Instituto Estadual de Santa Catarina (1963) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967) (BRZEZINSKI, 1996). Pela leitura dos Pareceres n.º 251/62, 251/69 e das Indicações de 1975 e 1976 de Valnir Chagas, constatamos que a formação de professores para as séries iniciais da escolarização como função do Curso de Pedagogia foi uma ideia retomada de propostas anteriores. Em 1.º de abril de 1964, o país foi surpreendido pelo golpe Militar. O Ato Institucional n.º 1 (AI -1), de 10 de abril de 1964, dava poder ao governo de cassar mandatos e suspender direitos políticos sem necessidade de justificação, julgamento ou direito de defesa. Começaram as delações em grande escala como efeito do medo que se instalou na sociedade (FAUSTO, 1996, P. 466). O AI – 2, de 27 de outubro de 1964, acabou com as eleições diretas para presidente e governador, extinguiu os partidos políticos existentes até então e impôs o “bipartidarismo”, com a instituição de um partido de apoio ao governo, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), e um outro, de oposição, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). O A I-3, de 5 de fevereiro de 1966, estabeleceu normas para eleições federais, estaduais e municipais. O AI- 4, de 6 de dezembro de 1966, estabeleceu as condições em que seria votado, pelo Congresso Nacional, o projeto de Constituição elaborado pelo Executivo. Tal projeto foi aprovado em 22 de dezembro de 1966, depois de sofrer algumas emendas. Em 24 de janeiro de 1967 a nova Constituição foi promulgada. No Plano Econômico, o governo brasileiro fez opção monetarista de combate à inflação (aumento dos impostos, restrições de crédito bancário e arrocho salarial, com reposição salarial abaixo dos índices inflacionários). O arrocho salarial veio, evidentemente, acompanhado da proibição do direito de greve e do fim da estabilidade no emprego (Lei do Fundo de Garantia de Tempo de Serviço). O Golpe Militar que, pretensamente, tinha o objetivo declarado de acabar com a corrupção, com a inflação e com a subversão (identificada com o perigo soviético),uma vez analisados os atos dos governos militares que se seguiram, representou, na verdade, a possibilidade de instalação, pela força, de um Estado que tinha como tarefa concreta a eliminação dos obstáculos à expansão do capitalismo internacional. Com a explicitação do golpe militar de 1964, passamos, a seguir, a verificar seus efeitos expressos nas leis que iam sendo aprovadas até 1985, principalmente as leis e regulamentos da área educacional. 3 O Parecer 251/62 regulamentado o Curso de Pedagogia, com finalidade bem definida: a preparação de profissionais destinados às funções não-docentes do setor educacional e de professores das Escolas Normais. 19 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O Decreto-Lei 53, de 1966, trazia, como novidade, a fragmentação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras e a criação de uma unidade voltada para a formação de professores destinados ao ensino secundário, e de especialistas em educação: a Faculdade de Educação. Poucas Universidades encamparam este decreto-lei no sentido da alteração propiciada por ele. A Lei n.º 5.540/68 (que promoveu a Reforma Universitária) definiu os especialistas que atuariam nos sistemas de ensino nas funções de Administração, Planejamento, Inspeção, Supervisão e Orientação Educacional. O curso de Pedagogia foi reformulado pelo Parecer n.º 252/69, de 11 de abril de 1969, de Valnir Chagas. Este parecer instituiu no curso a parte comum necessária a todo e qualquer profissional da área de educação, e outra parte diversificada, em função de habilitações específicas de Administração Escolar, Supervisão e Orientação Educacional. O Parecer 252/69, elaborado durante a Ditadura Militar, na vigência da Lei 5.540/68, instituiu uma nova visão do trabalho pedagógico, na medida em que, de um lado, propunha a formação de professores para lecionar as matérias pedagógicas da Habilitação Específica do Magistério do 2.º Grau e, por outro, a formação dos especialistas em Orientação Educacional, Supervisão Escolar, Administração Escolar, Inspeção Escolar e Planejamento Escolar. Possibilitava, ainda, o oferecimento de outras habilitações que fossem propostas pelas instituições de ensino superior. Os professores eram os executores das políticas educacionais, e os especialistas, por sua vez, seriam aqueles que funcionariam como intermediários entre os formuladores das políticas educacionais nos órgãos centrais e os executores. O Parecer n.º 252/ 69 foi elaborado no período de implantação da tendência tecnicista da educação no Brasil, modelo importado dos Estados Unidos, no “pacote” do acordo MEC/USAID 4. Neste sentido, Brzezinski (1996, p.77) critica a prática de formação consagrada nos cursos de Pedagogia de “especializar sem recorrência aos conhecimentos básicos exigidos do professor”. A autora explica que essa prática conferia ao especialista uma base teórica de métodos e técnicas fragmentadores da função do educador. Em outras palavras, ela critica a formação de Orientadores Educacionais, Supervisores Escolares, Administradores Escolares, Inspetores Escolares e Planejadores Escolares que passavam a ser especialistas da educação sem nunca terem entrado numa sala de aula. Segundo Brzezinski (1996, p.78), os educadores posicionavam-se contra o tecnicismo não só porque se previa o preparo de recursos humanos (professores e especialistas) “em massa”, mas também porque os “pacotes pedagógicos” eram impostos pelo poder instituído. Esses pacotes colidem com a tradição brasileira de formação cultural humanística de professores. 4 Os Acordos MEC/ USAID foram uma série de acordos produzidos, nos anos 1960, entre o Ministério da Educação brasileiro (MEC) e a United States Agency for International Development (USAID). Visavam estabelecer convênios de assistência técnica e cooperação financeira à educação brasileira. Entre junho de 1964 e janeiro de 1968, período de maior intensidade nos acordos, foram firmados 12, abrangendo desde a educação primária (atual ensino fundamental) ao ensino superior. O último dos acordos firmados foi no ano de 1976. Esta “ajuda externa” para a educação tinha por objetivo fornecer as diretrizes políticas e técnicas para uma reorientação do sistema educacional brasileiro, à luz das necessidades do desenvolvimento capitalista internacional. Para o estudo dos acordos MEC-USAID, é fundamental consultar as obras de José Oliveira Arapiraca, A USAID e a educação brasileira: um estudo a partir de uma abordagem crítica da teoria do capital humano (1982); Ted Goertzel, MEC-USAID: ideologia de desenvolvimento americano aplicado à educação superior brasileira (1967); Márcio Moreira Alves, O beabá dos MEC-USAID (1968). 20 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Em contrapartida, as funções da Faculdade de Educação foram sendo definidas em decorrência da Reforma Universitária (Lei 5540/68) como esclarece Brzezinski (1969, p.69): Formar professores e especialista em educação; desenvolver pesquisas capazes de formular categorias próprias de uma educação genuinamente nacional; promover a integração nas licenciaturas entre estudantes de diversas áreas do saber em um local comum para o preparo pedagógico; disseminar a concepção de educação que deve iluminar a Universidade visto ser esta uma instituição geral de educação superior, constituindo um elo a ligar os diversos setores básicos da universidade; promover a atualização de professores e especialistas atuantes nas escolas e nos sistemas de ensino, mediante cursos de extensão, graduação e pós- graduação. Em 1972, o Parecer n.º 349/72 do CFE versou sobre o exercício do magistério no 1.º grau, quando foi estabelecida a habilitação profissionalizante específica de magistério (HEM) em nível de 2.º grau, curso de nível médio que formava professor para as séries iniciais do ensino primário. A Indicação 67, de 1975, do CFE, tratou da formação pedagógica nas licenciaturas; e a Indicação 70, de 1976, da formação de Professores de Educação Especial. A Indicação 68 de 1975 discorreu sobre a formação de professores das séries iniciais em nível superior. A homologação das três indicações citadas acima, segundo Brzezinski (1996), estimulou um movimento de educadores, que resistiu ao poder instituído, em especial do CFE. O movimento foi contra a mudança proposta que, em essência, propunha a extinção do curso de Pedagogia, descaracterizando a profissão de Pedagogo que, paulatinamente, seria extinta. Na década de 1980, deve-se destacar a iniciativa do Governo Federal em apoiar a melhoria da chamada Habilitação Específica de Magistério, por meio dos Centros de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério (CEFAM), em nível de 2.º grau. O CEFAM constituiu uma alternativa para a formação do professor (CAVALVANTE, 1994). O CEFAM foi um projeto do Ministério da Educação e Cultura proposto em 1982, numa tentativa de revitalizar e adequar a formação de professores em nível de segundo grau. Tal projeto visava a fortalecer as condições das escolas de formação de professores que atuariam no ensino préescolar e nas séries iniciais do ensino de 1.º grau. O curso oferecido no CEFAM possuía uma carga horária significativamente maior que os cursos de Habilitação Específica para o Magistério. Era ministrado em período integral e tinha a duração de quatro anos. A carga horária semanal distribuía – se em: 30 horas/aula das disciplinas da habilitação Especifica para o Magistério, mais 18 horas/aula de atividade de enriquecimento curricular. O CEFAM tinha uma proposta de trabalho interdisciplinar e, especialmente a disciplina Didática Geral era desdobrada em Metodologias próprias para as diversas matérias das quatro primeiras séries do primeiro grau. Os alunos recebiam uma bolsa no valor de um salário mínimo. Esta bolsa passou a ser um atrativo para os alunos candidatos às vagas do CEFAM, inclusive como complemento do orçamento de muitas famílias. Os professores que atuavam nesses CEFAMs tinham condições especiais de trabalho, com horários específicos para o planejamento e aperfeiçoamento, bem como o apoio de um Coordenador Pedagógico. A seleção desses professores no quadro do magistério era feita a partir da apresentação de um projeto de trabalho e de entrevistas com o Diretor da Instituição que sediava o CEFAM, o que atraía pessoal habilitado e comprometido com o projeto de formação de professores. O Projeto CEFAM, segundo Cavalcante (1994) foi implantado primeiramente em 6 unidades de Federação: Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Alagoas, Piauí, Pernambuco e Bahia, em 21 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 1983, com 55 centros no total, em pareceria com o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em 1987, passaram a participar do projeto mais 9 estados: Santa Catarina, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Pará, Goiás e São Paulo com mais 120 centros no total. O Projeto chegou a ter 75 mil matrículas em todo o Brasil, de acordo com dados de 1991 do MEC (TANURI, 2000). Estudando as reformulações nos cursos de formação de pedagogos no período de 1983 a 1992, confirmamos que houve uma diversidade de tendências nestas reformulações efetivadas pelas instituições de ensino superior. O comum em todas foi a docência tomada como base da identidade da formação. Na década de 1990, a participação do Brasil na Conferência Mundial de Educação para Todos de Jomtien, e as iniciativas de governos estaduais, propiciaram a emergência de institutos superiores voltados para a formação de docentes atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental (CURY, 2003). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), aprovada em 1996, exigiu que a formação de docentes para atuar na educação básica far-se-ia em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a formação oferecida em nível médio, na modalidade Normal (Art. 62). Além dessa exigência, a LDBEN determinou que “até o fim da Década da Educação (2006) somente seriam admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço” (§ 4.º, Art. 87, Lei 9.394/96). Vale ressaltar que § 4.º do Artigo 87 da LDB contém um erro de redação e uma imprecisão de linguagem. Em lugar de “até” o texto deveria conter a palavra “após”, pois a interpretação literal de “até o fim” indica que durante a década só seriam admitidos formados em nível superior, e depois da década voltariam a ser admitidos habilitados em nível médio. Na verdade, o legislador pretendeu definir o contrário, ou seja, durante a década haveria a aceitação da habilitação em nível médio e, terminada a década, o ingresso no magistério ocorreria apenas com a formação em nível superior. Ainda, a redação deste trecho contém uma segunda impropriedade, ao equiparar duas coisas distintas, a saber, o nível de escolaridade e modalidade de ensino, tornando imprecisa a expressão formada por treinamento em serviços. É possível afirmar que a intenção do legislador foi: ou o professor ingressaria com nível superior, ou, tendo ele ingressado com nível médio, haveria garantia de treinamento em serviço que equiparasse sua formação à habilitação em nível superior. A formação docente nos anos de 1990 foi influenciada pela aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96) que estipulou a exigência de nível superior para os professores da educação básica. Os Artigos 62 e 63 da LDB dispuseram: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de magistério. § 2º A formação continuada e a capacitação dos profissionais de magistério poderão utilizar recursos e tecnologias de educação a distância. § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo uso de recursos e tecnologias de educação a distância. 22 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I - cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II - programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III - programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis (BRASIL, 1996, GRIFOS NOSSOS). Esta lei fixou, em suas disposições transitórias, prazo de dez anos para que os sistemas de ensino fizessem as devidas adequações à nova norma. Esse prazo foi importante na medida em que no Brasil, naquela época, a maioria dos professores do ensino fundamental (primeiros anos) possuía formação no magistério, em nível médio, havendo também milhares de professores leigos, sem formação no ensino médio, como até então era exigido. Da leitura dos dois artigos da LDB citados, podemos depreender que as universidades preservavam a possibilidade de organizar a formação de professores conforme seus próprios projetos institucionais, desde que os cursos viessem a ser oferecidos em licenciatura plena, podendo, ou não, incorporar a figura dos Institutos Superiores de Educação (ISEs) e da Escola Normal Superior (ENS). Em 1999, o Conselho Nacional de Educação publicou a Resolução CP n.º 1/99 que, no seu artigo 1.º e alíneas respectivas, consolidou a nova proposta de estrutura formativa contida na LDB e , nos Artigos 2.º e 3º, propôs um caráter orgânico para seu funcionamento e flexibilidade de organização e denominação. A flexibilidade de organização permitia que os institutos tivessem projetos institucionais próprios, ou seja, não havia rigidez determinada pelos órgãos regulamentadores, obrigando que todos os institutos tivessem a mesma estrutura organizativa. Nesses institutos, ou faculdades de educação, ou faculdade integrada (cf. texto da resolução CP n.01/99), os projetos pedagógicos das diferentes licenciaturas deveriam ter obrigatoriamente uma articulação entre si, evitando-se, portanto, que funcionassem de modo fragmentado como é nossa tradição. A preocupação com a articulação das diferentes formas institucionais ficou evidente, conforme (ficou) estabelecido nestes Artigos da Resolução CNE/CP n.º 1/99: Art. 2º Visando assegurar a especificidade e o caráter orgânico do processo de formação profissional, os institutos superiores de educação terão projeto institucional próprio de formação de professores, que articule os projetos pedagógicos dos cursos e integre: I – as diferentes áreas de fundamentos da educação básica; II – os conteúdos curriculares da educação básica; III – as características da sociedade de comunicação e informação. Art. 3º Os institutos superiores de educação poderão ser organizados: I – como instituto superior propriamente dito, ou em faculdade, ou em faculdade integrada ou em escola superior, com direção ou coordenação do conjunto das licenciaturas ministradas; II – como unidade de uma universidade ou centro universitário, com direção ou coordenação do conjunto das licenciaturas ministradas; III – como coordenação única de cursos ministrados em diferentes unidades de uma mesma instituição. Parágrafo único. Em qualquer hipótese, os institutos superiores de educação contarão com uma instância de direção ou coordenação, formalmente constituída, a qual será responsável por articular a formulação, execução e avaliação do projeto institucional de formação de professores, base para os projetos pedagógicos específicos dos cursos (BRASIL, 1999, GRIFOS NOSSOS). A articulação acima referida deveria ser garantida com a coordenação única de cursos ministrados em diferentes unidades da mesma instituição. Nessa resolução, cuidou-se também da qualificação do corpo docente para os ISEs, em seu artigo 4.º, §1.º e incisos, estabelecendo exigências bem maiores do que para outros cursos de graduação no País: 23 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Art. 4º Os institutos superiores de educação contarão com corpo docente próprio apto a ministrar, integradamente, o conjunto dos conteúdos curriculares e a supervisionar as atividades dos cursos e programas que ofereçam. § 1º O corpo docente dos institutos superiores de educação, obedecendo ao disposto no Art. 66 da LDB, terá titulação pós-graduada, preferencialmente em área relacionada aos conteúdos curriculares da educação básica, e incluirá, pelo menos: I - 10% (dez por cento) com titulação de mestre ou doutor; II - 1/3 (um terço) em regime de tempo integral; III - metade com comprovada experiência na educação básica. Considerou-se, nessa resolução, necessária a participação coletiva dos docentes na elaboração e avaliação do projeto pedagógico: “Art. 5º - O corpo docente dos institutos superiores de educação, articulado por instância de direção ou coordenação, participará, em seu conjunto, da elaboração, execução e avaliação dos respectivos projetos pedagógicos específicos” (BRASIL, 1999). Essas proposições caracterizam, conforme podemos contemplar, um novo momento nas perspectivas sobre formação de professores, tanto do ponto de vista da estrutura, como da articulação formativa dos currículos; e ainda revelam a preocupação com a qualificação dos formadores de formadores, com clareza da posição institucional no que diz respeito à formação dos professores para a educação básica. Em que pese a ausência no trato das questões da pesquisa relacionada à formação pretendida, em princípio foi preciso lembrar que, no que diz respeito às universidades, a atividade científica é intrínseca à carreira universitária. Segundo Gatti e Barreto (2009), as normatizações e autorizações de cursos formadores de professores, posteriores a essa resolução, permitiram a instauração de escolas normais superiores, isoladamente, e o número destas cresceu, mas o mesmo não aconteceu com os ISEs, com o que se foi perdendo, gradativamente, a ideia de organicidade na formação de docentes. Essa perda também se acentuou com as diretrizes curriculares para cada curso de professor “especialista”, sendo deixada em segundo plano a consideração das Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores, ao mesmo tempo em que proliferaram licenciaturas independentes umas das outras, sem as articulações previstas. A desagregação evidenciada pelas pesquisas no que se refere à formação de professores e sua fragmentação interna em termos de currículo, pareceram corresponder a interesses institucionais diversos, como a existência de nichos institucionais cristalizados, ou a falta de perspectivas quanto ao perfil formador do profissional professor, e a redução de custos. Além da estrutura integrada exigida dos ISEs, as condições definidas para contratação de docentes especificamente para estes Institutos também podem ter concorrido, no âmbito das instituições privadas, em virtude de seu custo maior, para que a ideia de um centro formador de docentes fosse instituído ou uma faculdade, não vingasse. Para as instituições universitárias públicas, alterações estratégicas de currículo ou de estrutura organizacional implicariam remanejamentos institucionais e de docentes, o que demandaria mudança da cultura formativa, de representações cristalizadas (GATTI; BARRETO, 2009). AS COMPETÊNCIAS PARA O SÉCULO XXI Em 2001 o Conselho Nacional de Educação emitiu os Pareceres CNE/CP 9/2001 e 27/2001 (BRASIL, CNE, 2001), que versaram sobre a formação de professores da Educação Básica, em nível superior em Cursos de licenciatura, de graduação plena, adequando-se à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996. 24 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Em consonância com estes últimos pareceres, o CNE instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professor da Educação Básica (BRASIL, CNE/CP, 2002). Estas diretrizes trouxeram orientações inerentes à formação para a atividade docente, entre as quais: o preparo, acolhimento e o trato da diversidade, o exercício de atividades de enriquecimento cultural, o aprimoramento em práticas investigativas, a elaboração e execução de projetos de desenvolvimento dos conteúdos curriculares, o uso de tecnologias da informação e da comunicação e de metodologias, estratégias e materiais de apoio inovadores (RESOLUÇÃO CNE/CP n.º 1, 2002). Estas Diretrizes Curriculares Nacionais estabeleceram princípios norteadores para o preparo profissional específico em que se deveria construir a competência como concepção nuclear na orientação do curso; a coerência entre formação oferecida e a prática esperada do futuro professor e também a pesquisa, como foco no processo de ensino e de aprendizagem, uma vez que ensinar requer, tanto dispor de conhecimentos e mobilizá-los para a ação, como compreender o processo de construção do conhecimento (BRASIL, CNE, 2002). O Artigo 4.º da Resolução CNE/CP n.º 1 de 2002 considerou que, na concepção, no desenvolvimento e na abrangência dos cursos de formação, seria fundamental que se buscasse o conjunto das competências necessárias à atuação profissional e se adotassem essas competências como norteadoras, tanto da proposta pedagógica, em especial do currículo e da avaliação, quanto da organização institucional e da gestão da escola de formação. Novamente foram enfocadas as competências no Artigo 5.º, ao determinar que o projeto pedagógico de cada curso devesse levar em conta uma formação que garantisse a constituição das competências objetivadas na educação básica e que o desenvolvimento destas competências exigiria que a formação contemplasse diferentes âmbitos do conhecimento profissional do professor. No Artigo 6.º, foram elencadas as competências que deveriam ser consideradas na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes tais como: as competências referentes ao comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática; as referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em diferentes contextos e a articulação interdisciplinar; as referentes ao domínio do conhecimento pedagógico; as referentes ao conhecimento de processos de investigação que possibilitassem o aperfeiçoamento da prática pedagógica e as competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional (BRASIL, CNE/CP, 2002). O termo competência (do latim competentia), em sua origem, significava aptidão, idoneidade, habilidade que a pessoa tinha para resolver ou julgar um assunto, e surgiu para designar a legitimidade e autoridade das instituições (por exemplo, o Tribunal) para tratar de determinados problemas. Em seguida, ampliou-se o seu significado para o nível individual, indicando a capacidade devida ao saber e à experiência. A partir dos anos de 1970, a palavra competência passou a ser associada à qualificação profissional, vinculando-se ao posto de trabalho e associandose ao coletivo, à organização. Canário (1997) considerou que falar de ‘competências’ não é a mesma coisa que falar de ‘qualificações’. As qualificações referem-se à aquisição de saberes requeridos para o exercício de uma profissão; e a confirmação legal dessa aquisição mediante diplomas e certificados. As competências referem-se a conhecimentos, habilidades e atitudes obtidas nas situações de trabalho, no confronto de experiências, no contexto do exercício profissional. A competência profissional é a qualificação em ação, são formas de desempenho profissional em que a qualificação se torna eficiente e atualizada nas situações concretas de trabalho. Para Roldão (2003), a competência emerge quando, perante uma situação, o sujeito é capaz de mobilizar adequadamente diversos conhecimentos prévios, selecioná-los e integrá-los de forma 25 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ajustada à situação em questão. Desta forma, a competência exige apropriação sólida e ampla de saberes, de modo a permitir ao sujeito que os mobilize quando se encontra em face de diferentes situações e contextos. Recorre, desta forma, a noções, conhecimentos, informações, procedimentos, métodos e técnicas. Conforme Ferretti (1997,p.225-269), o chamado “modelo de competência” surgiu como alternativa, no plano empresarial, para orientar a formação de recursos humanos compatível com a organização do trabalho que lhe convinha. Tal conceito é contraposto ao de qualificação profissional (e, ás vezes, usada como seu sinônimo), mas em conotações diferentes, na medida em que enfatiza menos a posse dos saberes técnicos e mais sua mobilização para a resolução de problemas e o enfrentamento de imprevisto na situação de trabalho, tendo em vista a maior produtividade com qualidade. Por outro lado, embora seu desenvolvimento dependa da correlação de forças entre os envolvidos, tende, por sua ênfase na individualização e nos resultados, a privilegiar a negociação ao embate, o envolvimento à postura crítica. Segundo Hirata (1994), a noção de competência é oriunda do discurso empresarial na França e retomada, em seguida, por Economistas e Sociólogos. É uma noção bastante imprecisa e decorreu da necessidade de avaliar e classificar novos conhecimentos e novas habilidades gestadas a partir das novas exigências de situações concretas de trabalho, associada, portanto, aos novos modelos de produção e gerenciamento, e substitutiva da noção de qualificação ancorada nos postos de trabalho, e das classificações profissionais que lhe eram correspondentes. Segundo Manfredi (1999), no Brasil, a noção de competência, apesar de já ser conhecida nas áreas de ciências humanas desde os anos de 1970, passou a ser incorporada nos discursos dos empresários, dos técnicos dos órgãos públicos que lidavam com o trabalho e por alguns cientistas sociais, como se fosse uma decorrência natural e imanente ao processo de transformação na base material do trabalho. Para Leite (1997), a noção de competência, é usada de forma generalizada, sendo empregada, indistintamente, nos campos educacionais e do trabalho, como se fosse portadora de uma conotação universal. Há uma tendência a defini-la menos como “estoque de conhecimentos/habilidades”, mas, sobretudo, como capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas ou previsíveis. O desempenho e a própria produtividade passam a depender em muito dessa capacidade e da agilidade de julgamento e de resolução de problemas. Conforme Hirata (1994), algumas razões pelas quais o “modelo de competências” ganhou relevo, como diretriz para a formação do trabalhador, em substituição ao conceito de qualificação foram as seguintes: a globalização da economia de mercado e suas pressões por produtividade e competitividade, por sua vez indutoras/beneficiárias das transformações na produção, baseadas nas potencialidades das inovações tecnológicas; o papel central atribuído aos recursos humanos no processo de adoção e implantação dos paradigmas que se assentam sobre o binômio flexibilidade e integração, seja no setor produtivo, seja no setor de serviços; a reestruturação da produção colocou em questão o trabalhador que atuava no posto específico de trabalho para o qual tinha sido preparado por meio da qualificação formal ou para a qual se capacitava na prática, ao enfatizar uma forma de organização do trabalho que tende a apoiar-se menos nos “componentes ‘organizados’ e explícitos [da qualificação]: educação escolar, formação técnica, educação profissionais [e mais nos seus] componentes implícitos e ‘não organizados’”. Hirata (1994) destacou, ainda, dois outros fatores (a sociologia dos modos de vida e sociologia das relações de gênero) que contribuíram, juntamente com os acima descritos, para produzir a distinção entre qualificações formais e organizadas (supostamente mais adequadas ao paradigma taylorista/fordista) e qualificações tácitas ou sociais, mais próximas do modelo de 26 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 competência que passou a ser priorizado pelas empresas reestruturadas. Para a autora, o novo paradigma afirma a desqualificação do antigo trabalhador para atender às novas exigências produtivas, mas, de outro lado, descortina as possibilidades de requalificação desencadeada pelas próprias características inovadoras do paradigma que passou a orientar a produção e, também, em boa parte, os serviços. Vale destacar que a indução do “modelo de competência” via Diretrizes Curriculares para a formação de professores teve objetivos claros, a saber, estabelecer percursos formativos, que levariam a formar docentes que estivessem a serviço da reestruturação produtiva, em beneficio do capital. O Artigo 11 das Diretrizes Curriculares para Formação de Professores fixou os critérios de organização da matriz curricular, alocação de tempos e espaços expressando em eixos em torno dos quais se articulam dimensões a serem contempladas, conforme o que se segue: eixo articulador dos diferentes âmbitos de conhecimento profissional; eixo articulador da interação e da comunicação, bem como do desenvolvimento da autonomia intelectual e profissional; eixo articulador entre disciplinaridade e interdisciplinaridade; eixo articulador da formação comum com a formação específica; eixo articulador dos conhecimentos a serem ensinados e dos conhecimentos filosóficos, educacionais e pedagógicos que fundamentam a ação educativa, e eixo articulador das dimensões teóricas e práticas. Ainda, as Diretrizes Curriculares trouxeram para a Formação de Professores determinações sobre a prática que deve transcender o estágio, estabelecendo a prática com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão. Estas diretrizes enfatizaram a flexibilidade necessária, permitindo que cada instituição formadora construa projetos inovadores e próprios, integrando os eixos articuladores mencionados. Após 8 (oito) anos da aprovação da Lei 9394/96, foi aprovado, em 13 de dezembro de 2005, pelo CNE, o Parecer CNE/CP n.º 5/2005 (BRASIL, CNE, 2005), reexaminado pelo Parecer CNE/CP nº.3/2006 (BRASIL, CNE, 2006), aprovado em 21 de fevereiro de 2006 e homologado pelo Ministro da Educação em 10 de abril de 2006, dando origem às Diretrizes Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia. No âmbito da formação dos profissionais da educação, o Conselho Nacional de Educação instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia em 2006 (RESOLUÇÃO CNE/CP n.º 1/2006). Tais Diretrizes disciplinaram a formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais fossem previstos conhecimentos pedagógicos. As Habilitações do Curso de Pedagogia previstos na Resolução CFE n.º 2 de 1969 entraram em regime de extinção a partir do ano letivo de 2007 (Art. 10 da RESOLUÇÃO CNE/CP N.º 1/2006), deixando de existir as Habilitações em Administração Escolar, Supervisão Escolar, Orientação Educacional, entre outras. Os cursos de Licenciatura em Pedagogia, nos termos dos Pareceres CNE/CP n.º 5/2005 e 3/2006, e da Resolução CNE/CP n.º 1, de 15 de maio de 2006, asseguraram a formação de profissionais da educação prevista no Artigo 645 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/96). 5 Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pósgraduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. 27 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, a formação daqueles profissionais deveria ser realizada nos termos do princípio da gestão democrática do ensino público (Inciso VIII do Art. 3.º da Lei 9.394/96). Vale dizer que esta legislação rompeu com a tendência tecnicista da educação ao extinguir as habilitações no curso de Pedagogia, prevendo uma preparação global, interdisciplinar, aproveitando contribuições da Filosofia, História, Antropologia, Ecologia, Psicologia, Linguística, Sociologia, Política, Economia e da Cultura para a formação dos professores da Educação Infantil e das séries iniciais do Ensino Fundamental e dos profissionais da área de serviços e apoio escolar. CONCLUSÃO Como se pode inferir, a história da formação do magistério no Brasil apresentou um movimento de incorporação de tendências que, paulatinamente, foram sendo incorporadas nas escolas de formação, sendo predominante a formação técnica em detrimento da formação de caráter científico e de cultura geral. Houve a preocupação da União em descentralizar a formação docente, passando esta incumbência para as províncias, no Império, e aos Estados, a partir da República. O tecnicismo impregnou nossa legislação educacional, aprofundando a divisão do trabalho no interior da escola, levando à implantação das habilitações em Pedagogia, e formando os “Especialistas da Educação”. Esta tendência teve fim, no plano dos objetivos proclamados, com a aprovação da LDB, em 1996. REFERÊNCIAS BRASIL. Senado Federal. Decreto n. 19.851 - de 11 de abril de 1931. Dispõe que, o ensino superior no Brasil obedecerá, de preferência, ao sistema universitário, podendo ainda ser ministrado em institutos isolados, e que a organização técnica e administrativa das universidades é instituída no presente decreto, regendo-se os institutos isolados pelos respectivos regulamentos, observados os dispositivos do seguinte Estatuto das Universidades Brasileiras. Senado Federal. 1931. ______. Lei n.º452 , de 05 de julho de 1937. Organiza a Universidade do Brasil. Disponível em <www. planalto.gov.br /ccivl03/Leis/1930-1949/L0452.htlm> ______. Decreto-Lei 1190de 04 de abril de 1939. 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Ele expõe os motivos que a tornam um assunto atual, revela o entendimento do vocábulo qualidade segundo alguns filósofos, faz uma análise desse vocábulo levando em conta a relação com a quantidade, a sua expressão nas formas de processo e produto e a intervenção dos valores e da ideologia. Aplica esta análise na educação escolar e apresenta uma proposta para ser examinada e avaliada. Palavras-Chave: Qualidade, Quantidade, Neoliberalismo e Cidadania INTRODUÇÃO Qualidade na educação é um tema bastante atual e frequentemente incluído no discurso de muitas pessoas. De fato, desde fins do século passado esta matéria encontra-se na berlinda. Nota-se na fala da maioria dos oradores que o significado de qualidade na educação raramente é explicitado, alguns deles, inclusive, apresentam propostas para melhorá-la, porém sem clarificar o seu sentido. Este assunto tem sido repetidamente abordado por dois importantes motivos. Um deles diz respeito à universalização do ensino fundamental. Sabemos hoje que quase cem por cento das crianças em idade escolar encontram uma vaga na escola pública. Entretanto, até há algum tempo, grande parte delas não conseguia iniciar o processo de escolarização. O oferecimento de vagas constituía o grande problema das autoridades educacionais. 31 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O outro motivo refere-se ao avanço do neoliberalismo, da globalização e do pós- fordismo. Esta tríade se apresenta como o novo cenário onde a escola encontra-se incluída. A ideologia neoliberal dominante em quase todos os recantos do mundo valoriza as competências pessoais como recurso de sustentação do indivíduo em contendas sociais relacionadas à sua sobrevivência. A globalização exige a capacidade de comunicação entre pessoas de diversos países. O pós-fordismo, por sua vez, requer um profissional que saiba atuar em diversos setores ocupacionais. A escola enquanto instituição social não possui força suficiente para escapar dos influxos dessa tríade. No entanto, ela tem o poder necessário para desenvolver certas ações que considera importantes para a formação de seus alunos e que não estejam, obrigatoriamente, em consonância com as exigências deste novo cenário. A legislação atual bem como as suas lacunas garantem à escola a prática de uma autonomia relativa, haja vista a previsão da gestão democrática e da construção coletiva do projeto pedagógico. Ademais, vale ressaltar que a educação escolar, apesar de inclinar-se a atender aos interesses dominantes dos diversos momentos históricos, nunca foi capaz de realizar a proeza de alcançar totalmente esta meta. Semelhante a outros setores da sociedade, a escola é um espaço onde existem divergências e conflitos. Assim sendo ela não possui a capacidade para produzir uma formação rigorosamente homogênea. Até aquelas mais severas e rígidas tais como as religiosas e militares não conseguem este intento. Basta lembrar que o clero encontra-se dividido entre progressistas e conservadores e que durante o período dos governos militares milhares de funcionários fardados foram presos e torturados por não concordarem com os rumos da revolução. Mesmo que seus responsáveis estejam comprometidos com os interesse dominantes o fracasso pode ocorrer pela falta do apoio necessário em termos de recursos financeiros, materiais e humanos. HISTÓRICO De acordo com o senso comum a palavra qualidade utilizada cotidianamente por muitas pessoas diz respeito aos aspectos relevantes de um objeto ou pessoa, tais como a durabilidade de um sapato ou a honestidade e a seriedade de um indivíduo. A etimologia desta palavra registra uma semelhança com a representação do senso comum. Com efeito, este vocábulo é oriundo do latim qualitas que significa as características de um objeto as quais permitem distinguir um dos outros. Conseguimos por exemplo fazer a distinção entre um europeu e um indígena através de suas particularidades. O europeu normalmente é visto como uma pessoa branca, alta e olhos claros enquanto o indígena geralmente é visto como uma pessoa que possui cabelos negros e longos e pele morena. Este vocábulo já foi examinado desde há muitos séculos por alguns filósofos. Um deles foi Aristóteles o qual afirmava que a qualidade ou a quiditas poderia significar um hábito, isto é, o ter ou possuir algo, tal como um conhecimento específico ou uma virtude qualquer (bondade, sabedoria). Poderia significar, também, uma capacidade, ou seja, estar dotado das condições para alcançar um determinado fim. Ilustrando, somente um atleta com um alto grau de resistência pode chegar ao término ou vencer a corrida da maratona, que exige correr mais de quarenta quilômetros. Poderia significar, ainda, a forma de alguma coisa tal como a aparência arredondada da bola. Refletindo mais sobre o tema Aristóteles chegou à conclusão de que a qualidade também poderia se manifestar de duas outras maneiras. Primeiro, como algo essencial, cujo exemplo pode 32 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ser a definição de homem como um ser racional, e, segundo, como algo acidental, ou seja, as particularidades das coisas que estão sujeitas à transformação. No caso do homem, o fato de ele ser branco, negro, baixo, alto, etc. O conceito em questão proposto por Aristóteles avançou no tempo. É sabido que na idade média, certos filósofos cristãos , dentro os quais podem ser citados S. Tomás de Aquino e Roger Bacon, abordaram o tema da qualidade sob os aspectos primário e secundário de modo semelhante a Aristóteles. Na idade moderna o filósofo francês Renê Descartes, em sua obra intitulada Meditações, retoma novamente o conceito de qualidade utilizando com ilustração um pedaço de cera. Segundo Descartes, este produto, ao aproximar-se do fogo perde suas características secundárias, isto é, o cheiro, o sabor, a cor, no entanto, conserva suas características fundamentais que são a flexibilidade o movimento e a extensão. Ainda neste período da história, porém um pouco mais adiante, ou seja no século dezenove, emerge a concepção dialética de realidade através de Marx. Esta nova visão de mundo propôs que tanto a natureza quanto a sociedade devem ser encaradas como fenômenos dinâmicos, como processos, como movimentos constantes carregados de alterações acidentais e essenciais. Assim sendo permanece a ideia de qualidade enquanto peculiaridades básicas de um ente, porém estas peculiaridades também estão sujeitas a modificações. O que destaca esta nova concepção é a existência do denominado salto qualitativo que significa uma mudança na estrutura de um determinado fenômeno. Como exemplos ilustrativos podemos citar a passagem da água do estado líquido para o de vapor, a transposição do regime político monárquico para o republicano e a permutação do modo de produção feudal para o capitalista. ANÁLISE DO CONCEITO O nosso entendimento a respeito do vocábulo em pauta leva em conta, o que disseram estes filósofos. Porém, consideramos que o que eles afirmaram não é suficiente para se estabelecer uma compreensão satisfatória. No entanto, levando em conta o resultado de suas reflexões podemos conceituar a qualidade como a propriedade ou o conjunto de propriedades que indica(m) o que uma coisa é ou representa ser. Exemplificando: algumas pessoas podem afirmar que uma determinada escola é muito boa (de qualidade) porque o prédio é bem conservado, os professores são licenciados e possui os recursos tecnológicos mais modernos. As expressões o que uma coisa é ou representa ser utilizadas no conceito exige comentários. De fato, muitas de nossas afirmações tais como a pedra é um objeto duro e a prata é um metal, embora dependam da ideia de dureza e metal que possuímos em nossa mente constituem verdades que ninguém contesta porquanto a consonância entre o que é dito do objeto e a sua natureza é evidente. Entretanto, outras afirmações tais como Maria é uma mulher bonita e a moto é um veículo caro, apresentam-se como verdades questionáveis, porque o que é belo ou caro para alguns pode não ser para outros. De qualquer forma, as duas expressões, com menos ou mais ênfase encontram-se atreladas à subjetividade. No segundo caso, sabemos que as representações humanas, ou seja os sentidos que nós atribuímos aos objetos, pessoas e acontecimentos ( qual a imagem que fazemos dos políticos, do casamento, da riqueza, etc. ) são construídas através do processo de socialização, portanto são profundamente influenciadas pelas características do meio onde as pessoas encontram-se inseridas, 33 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 pelos seus interesses, preocupações e desejos momentâneos, pela ideologia assumida, e até pelas manifestações oriundas do inconsciente. Percebe-se, pois que o aspecto valorativo, isto é, o julgamento pessoal ou grupal que cotidianamente se faz, é fundamental na definição de qualidade. Ilustrando: para determinada pessoa ou conjunto de pessoas um bom jogo de futebol (de qualidade) é aquele em que o placar é dilatado, enquanto que para outro indivíduo ou grupo de indivíduos esse mesmo jogo se mostrará qualitativo se os jogadores se empenharem bastante. Para outras pessoas o critério de qualidade pode significar a junção do placar dilatado com o empenho dos jogadores. O aspecto valorativo, porém, não esgota a análise. Precisamos incluir agora um vocábulo que geralmente é visto como o oposto da qualidade, ou seja a quantidade. Este termo, também mereceu a atenção dos filósofos, apesar de ser bem menos polêmico pois dificilmente alguém pode discordar de seu significado comum que é o de grandeza expressa em números, por exemplo um prédio de quinhentos metros de altura. Quantidade e qualidade, como pode ser notado, são conceitos claramente distintos para nós. No entanto, a manifestação de muitos fenômenos nos mostra que eles encontram-se intimamente relacionados. Vejamos o caso da dissolução do sal pela água. As particularidades do processo de dissolução diz respeito à qualidade, enquanto que o montante de sal que essa água pode dissolver constitui a quantidade. Este exemplo nos permite dizer que não há nem pode haver determinadas propriedades fora da quantidade e da qualidade. Ele revela, também, que os fenômenos trazem dentro de si as dimensões quantitativa e qualitativa. É importante destacar que certas alterações no aspecto quantitativo de um fenômeno podem provocar mudanças no aspecto qualitativo deste fenômeno. É o caso da água que se encontra no estado líquido dentro de uma panela sobre o fogo. Quando a temperatura em seu interior atinge os cem graus centígrados ela transforma-se em vapor, o que representa um outro estado qualitativo. Por sua vez, essa nova qualidade implica uma alteração quantitativa, pois o volume de água vaporizada é diferente do volume de água que se encontrava em estado líquido. Ressalte-se, também que o aspecto quantitativo de um fenômeno pode indicar a sua qualidade. É o caso do ouro e de algumas pedras preciosas cuja qualidade é expressa em quilates, onde cada unidade básica equivale a cento e noventa e nove miligramas. Apenas para ilustrar, lembramos que o ouro de dezoito quilates é considerado o mais valioso no mercado de joias. Cabe mencionar ainda que a qualidade pode-se apresentar em duas dimensões. Primeiro como processo, ou seja o modo pelo qual alguma coisa é elaborada, e, segundo, como produto, isto é, o resultado do emprego de determinado processo. Neste caso vale apresentar como exemplo a atividade industrial que se destina a fabricar diversos objetos de consumo. APLICAÇÃO NA ESCOLA A análise que acabamos de fazer é de fundamental importância para entendermos o significado de qualidade na educação, particularmente a educação que é oferecida às pessoas pelas instituições escolares. Em relação ao aspecto valorativo do conceito podemos dizer que o significado de educação de qualidade tende a variar tanto individual como grupalmente. Por exemplo: para os pais dos alunos de classe média uma escola de qualidade é aquela que aprova a maioria dos discentes no 34 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 vestibular da universidade pública, enquanto que para os pais dos alunos dos setores majoritários da sociedade uma escola de qualidade é aquela que possibilita a inserção rápida de seus filhos no mercado de trabalho. Quanto às relações entre quantidade e qualidade destacamos que alterações quantitativas podem provocar mudanças qualitativas. Se adotarmos a aprendizagem do aluno como critério de qualidade, podemos dizer que a diminuição do número de alunos em classe predispõe ao aumento da aprendizagem deles. Por sua vez, elementos quantitativos podem ser indicadores de qualidade. Exemplo: noventa por cento dos alunos de uma determinada escola aprendem tudo do que é previsto aprender. No que diz respeito às dimensões processo e produto podemos dizer que um processo educativo de qualidade é aquele onde: alunos e professores encontram-se motivados para aprender e ensinar, ocorre a unidade entre teoria e prática e emprega-se a interdisciplinaridade. Um produto educativo de qualidade, ou seja o resultado do ato de aprender e ensinar pode ser constatado num aluno que faz com sucesso operações aritméticas, manuseia adequadamente um computador e mantém diálogos em língua inglesa de maneira satisfatória. Algumas observações precisam ser feitas em relação à qualidade enquanto produto. A mais importante talvez é a possibilidade de se adotar um enfoque instrumental, isto é, conceber a educação escolar como uma mera atividade adaptadora à vida em sociedade. Esta adaptação pode, inclusive, voltar-se apenas ao atendimento às exigências do mercado de trabalho, provocando um reducionismo pedagógico incontestável. Outra observação é a de que os fins justificam os meios. Neste caso pode ocorrer uma negação de certos valores considerados importantes em benefício de outros. A profissionalização do ensino que visa atender aos requerimentos das diversas ocupações pode provocar, por exemplo, uma diminuição da carga horária destinada às matérias das ciências sociais e humanas. Em decorrência é possível que uma prática de aprendizagem alienante por parte dos alunos, cujo sentido é o de deixar de lado interesses, necessidades e aspirações pessoais em favor de certas expectativas sociais venha a ser concretizada. A afirmação de uma injustificada relação causal entre o ensino e a aprendizagem, o que significa que os prováveis efeitos indesejáveis apresentados pelos alunos podem ser sanados corrigindo-se o processo educativo também é uma advertência importante. É difícil colocar em prática estratégias de ensino que garantam o aprendizado de conteúdos previamente estabelecidos, porquanto cada aluno aprende de um determinado jeito, precisa de um tempo específico para aprender, bem como necessita de uma boa dose de estímulo motivador. Da mesma forma, é difícil estabelecer uma correta ligação entre os objetivos que se pretende alcançar e os recursos empregados para atingi-los. A ausência de unidade do corpo docente comumente existente no interior da escola, também se apresenta como um óbice bastante significativo. Chamamos a atenção ainda para um provável fortalecimento da concepção tecnicista de educação. Como sabemos esta concepção dominou o panorama educacional de nosso país a partir da vigência do regime militar. Embora não pretendamos descartá-la precisamos destacar os seus aspectos negativos, a suas falsidades, que dizem respeito à pretensão de ser uma panaceia pedagógica, ou seja um recurso capaz de resolver todos os problemas educacionais e a pretensão de neutralidade ou desvinculação de qualquer tipo de ideologia. Parece notório que a política educacional de qualidade adotada pelos governantes de nosso país, assim como em muitos países do mundo, centra-se nesta concepção de produto juntamente com a representação quantitativa. Os exames periódicos realizados pelos alunos dos diversos níveis de ensino coordenados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais comprova esta asserção. Esta política baseia-se no rendimento escolar do aluno, que inclui taxas de aprovação, 35 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 reprovação e abandono e médias de desempenho. A qualidade enquanto processo, embora levada em conta, é colocada em plano secundário. Em decorrência, há um espaço significativo de autonomia aos dirigentes escolares para definirem os seus componentes, bem como alterá-los em função dos resultados obtidos pelos alunos em tais exames. Apesar de esta política apresentar um resultado positivo, pois tem contribuído para a reorganização do sistema de ensino brasileiro, não pode ser esquecido que ela fundamenta-se na ideologia neoliberal que é consonante ao avanço da globalização e do estágio pós-fordista de produção. Cabe ressaltar que a globalização embora tenha apresentado alguns efeitos positivos está potencializando as desigualdades. O pós-fordismo, por sua vez está favorecendo a crescente diminuição do mercado de trabalho. O neoliberalismo constitui a superestrutura ideológica do capitalismo atual. Uma de suas características principais, portanto, é apontar o próprio capitalismo como o melhor tipo de regime econômico, o principal beneficiador da sociedade contemporânea. Outras duas importantes peculiaridades são a defesa do mercado livre, que é essencial para a manutenção da eficiência econômica e a sensível redução do papel do Estado, porquanto ele é visto como um órgão ineficiente e causador de crises. Na área da educação a ideologia neoliberal apregoa que a atividade de ensino deve ser encarada como um produto a ser oferecido aos consumidores. Estes consumidores devem ser devidamente informados sobre a eficiência das escolas para poderem fazer a escolha certa. A concorrência entre as escolas contribui para a melhoria do processo educativo. E o critério de qualidade mais adequado é o resultado acadêmico dos alunos. A ideologia neoliberal tem como símbolo a denominada qualidade total, um recurso inventado para tornar as empresas extremamente competitivas, uma exigência do atual estágio de desenvolvimento capitalista. É um enfoque sistêmico que engloba a todos as áreas de uma instituição. Em se tratando da educação ela envolve toda a escola, requer a participação de todos os envolvidos no trabalho educativo e tem por objetivo otimizar todos os setores escolares. Além de ser uma prática de custo muito elevado ela apresenta-se apenas como um procedimento eficaz de conformação do indivíduo à sociedade. O que precisa ser colocado a partir desse novo contexto que integra a ideologia neoliberal, a globalização e o pós-fordismo é a questão relativa à finalidade de educação e ao papel da escola na sociedade. É necessário que tenhamos bem claro em nossa mente se a educação escolar tem por meta adaptar o indivíduo à vida social ou torná-lo um agente de sua transformação. Esta definição é de fundamental importância para se estabelecer o significado de qualidade que almejamos para a escola. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tal como foi dito anteriormente, desde há alguns anos possuímos uma política de qualidade educacional centrada no produto e nos dados estatísticos. Esta política, sem dúvida, tem condicionado bastante o trabalho pedagógico das escolas, porquanto os responsáveis pela aplicação dos exames nacionais periódicos costumam divulgar o desempenho dos alunos, além de fazerem comparações de todos os tipos, inclusive em relação a outros países. Embora este condicionamento seja significativo, não podemos olvidar que nossas escolas possuem uma boa dose de autonomia que é respaldada em documentos legais. A lei garante a 36 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 prática da gestão democrática e da construção coletiva do projeto pedagógico. Sem desprezar a busca de resultados exigida por esta política é bem possível aos integrantes de um estabelecimento escolar chegarem a um acordo quanto ao significado de uma educação de qualidade em termos de processo e produto. Este significado pode ser construído no momento da elaboração do projeto pedagógico que é o lapso destinado ao diálogo, ao debate, à tomada de decisões. Apoiado na ideologia progressista sustentamos que a educação escolar tem por finalidade preparar o aluno para a vida em sociedade. No entanto, este preparo revela-se contraditório porque significa, ao mesmo tempo, adaptação e transformação. A adaptação é fundamental para a sua sobrevivência. Assim sendo, ele precisa assimilar conhecimentos, habilidades e atitudes que possibilitem a sua integração social. Precisa também, e de forma simultânea, adquirir conteúdos cognitivos, atitudinais e procedimentais que favoreçam uma atuação transformadora da sociedade. Este segundo aspecto da finalidade possui uma extrema relevância porquanto por conta do avanço do neoliberalismo, da globalização e do pós-fordismo as injustiças e as desigualdades sociais encontram-se acirradas. Sem uma constante e crescente reação das pessoas será difícil evitar o encaminhamento das relações sociais rumo á barbárie. Baseado nesta finalidade propomos um modelo de qualidade. Em termos de processo defendemos que escola ponha em prática a gestão democrática, a interdisciplinaridade, a unidade entre teoria e prática, a metodologia participativa e a socialização dos conteúdos. Em termos de produto resultante desse processo esperamos que sejam formadas pessoas dotadas de iniciativa, criatividade, capacidade para resolver problemas e disposição continuada para adquirir novos saberes. Ainda, em termos de produto, também decorrente do processo mencionado, almejamos que os alunos desta escola venham a praticar a denominada cidadania ativa. A cidadania ativa é oposta à passiva cuja maioria das pessoas costuma exercer. A passiva se caracteriza por uma predominância do ato de viver na esfera privada, o que significa trabalhar, ir à igreja, frequentar o clube, cuidar dos familiares e votar na época das eleições. A ativa caracteriza-se por uma forte presença na esfera pública, isto é nos espaços destinados à manifestação popular tais como as ruas e as praças. Participar de movimentos reivindicatórios, fazer cobrança aos políticos, vigiar os atos dos administradores públicos, apresentar propostas às autoridades constituídas e ajudar os segmentos sociais desfavorecidos da sociedade a se organizarem para conseguirem valer seus direitos são exemplos de práticas próprias da cidadania ativa. Também faz parte dela os atos de solidariedade. Isto significa disponibilizar gratuitamente os saberes pessoais ao segmento social majoritário não privilegiado da sociedade, o que exige utilizar um determinado tempo de nosso dia ou semana em benefício a pessoas que necessitam ser apoiadas. REFERÊNCIAS CHEPTULIN, Alexandre. A Dialética Materialista. São Paulo: Alfa-Omega, 1982. DEMO, Pedro. Educação e Qualidade. Campinas: Papirus, 1990. GENTLLI, Pablo. Neoliberalismo, Qualidade Total e Educação. Petrópolis: Vozes, 1994. MARCHESI, Álvaro; MARTIN, Elena. Qualidade do Ensino em Tempos de Mudança. Porto Alegre: Artmed: 1998. MORA, José. Diccionario de Filosofia. 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Trazido para o Brasil ainda nos primórdios da formação da identidade cultural brasileira, ainda hoje se mantém vivo nas manifestações folclóricas de muitas regiões do país, caracterizandose como uma importante festa da cultura popular. É, também, espaço de resgate, consolidação de memória, e de criação e recriação de um fazer artístico-cultural nas comunidades onde acontece. O presente trabalho pretende averiguar como o fazer artístico nas performances rituais destas festas pode funcionar como avatar das culturas subalternas no distrito de Milagre, município de Monte Santo de Minas – MG. Na História Cultural, ocorre o estudo de vários traços que compõem a cultura de um determinado povo em um lugar e tempo específicos. É valida a observação de como a identidade dos homens se constitui com base nos elementos históricos, culturais, mesmo diante das diferenças individuais, possibilitando a transmissão de manifestações culturais, como a Folia de Reis. As maneiras como os sujeitos se relacionam socialmente são frutos do momento histórico no qual estão inseridos. Nas manifestações das linguagens, diferentes atitudes e escolhas cotidianas do sujeito estão implícitas às trocas estabelecidas com os significados que a cultura demanda. Assim, para o estudo do fenômeno cultural e tradicional da Folia de Reis, se faz necessário o entendimento do que seja a História Cultural. A História Cultural aborda o estudo das representações e imaginários junto com as práticas sociais que as produzem, também se ocupa dos modos de circulação dos objetos culturais, bem como afirma Chartier (1991). Para Chartier, a história cultural traz novas categorias como a experiência ou representação, permitindo observar a mediação simbólica, ou seja, a prática através da qual os indivíduos aprendem e organizam significativamente a realidade social. Neste contexto, também, para um melhor entendimento da Folia de Reis enquanto fenômeno cultural explicitamos o entendimento de cultura que permeia o trabalho. A cultura aqui é entendida como o produto da atuação humana na história e está em constante modificação, além de ser influenciada por valores que se solidificam em tradições que são transmitidos de geração a geração. 39 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 No Brasil, Folia de Reis teria sido introduzida no século XVI, como instrumento pedagógico dos jesuítas para catequizar os índios e, logo depois, os escravizados. Em terras brasileiras, esta festa popular foi composta pelas manifestações culturais de povos e etnias distintas, com uma gama repleta de variações regionais com relação ao estilo, ritmo e som, mas mantendo sempre a devoção à Sagrada Família (Jesus menino, Maria e José) e aos Reis Magos. Uma das características marcantes das festas de Folia de Reis é uma forte religiosidade. Na discussão teórica que se dará ao longo desta pesquisa, procuramos compreender o sagrado e o profano como manifestação popular. Para Brandão (1981), a melhor maneira de se compreender a cultura popular é através de estudos sobre a religião, pois é ali que ela aparece viva e multiforme, existindo em um estado constante de luta por sobrevivência e autonomia. No contexto desta luta, buscaremos averiguar o quê, no fazer artístico destes ritos, pode funcionar como avatar das culturas subalternas que as produzem. Entenda-se como avatar, ou avatares – manifestações concretas da essência divina em diferentes formas e em diferentes momentos históricos. Aplicando o conceito de avatar à analise do fazer artístico na representatividade do rito das Folias de Reis, ele funcionaria como um fator de identificação de características intrínsecas à cultura subalterna. Para melhor entendimento do leitor, apontamos abaixo, grosso modo, como se pode dar a organização deste folguedo sacro-profano,que é ao mesmo tempo manifestação da religiosidade e do folclore. Os foliões se organizam em grupos denominados Companhia de Reis, em resposta a uma promessa. A responsabilidade pela organização das mesmas é do Mestre da Companhia, também denominado de Capitão da Folia. Numa folia há no mínimo 12 foliões, podendo acima deste número variar ao infinito. Quando existem muitos componentes, pode haver um fiscal que ajuda na organização da jornada. A afiliação dos foliões ocorre de maneira espontânea, porém, uma vez que o compromisso é assumido, a folia tem um prazo mínimo de sete anos para acontecer em ciclo completo de jornada, com intuído de conseguir ou agradecer a graça almejada. É importante ressaltar que é de responsabilidade do mestre, também, o financiamento da Companhia, ou seja, o dinheiro recolhido nas visitas de casa em casa que constitui parte do recurso para o encerramento solene e festivo da folia. É ele quem cria, como um repentista, os versos principais, de acordo com a profecia, ou seja, de acordo com as passagens da viagem dos três reis magos até Belém, a história de Maria e São José e o nascimento do menino Jesus. As companhias vão de porta em porta durante os seis dias de festa. Segundo a tradição, os versos só podem ser cantados na casa da pessoa, que deve ter uma imagem do menino Jesus na manjedoura ou um presépio. Aqueles que recebem a visita em suas casas (representando a visita dos Reis Magos a Jesus) devem oferecer alguma comida a seus integrantes, que agradecem ao hospedeiro e seguem para o próximo destino. No levantamento das definições existentes sobre a Folia de Reis, deve ficar claro que, por mais ilustradas e elaboradas que elas sejam ainda significam pouco perto da profundidade com que os foliões a descrevem. A conceituação é frequentemente constituída de subjetivações, de abstrações. Os sujeitos culturais que compõem, produzem e reproduzem as manifestações culturais falam delas com a força da própria vida, por se tratar de fator constituinte de suas identidades. Como o conhecimento acerca do assunto é muito extenso e denso, é considerado que as impressões aqui apresentadas são apenas iniciais e existem como forma de incentivo e despertar para estudos futuros. A principal finalidade deste trabalho é averiguar se o fazer artístico (cantoria,danças, indumentária e objetos rituais) nas performances rituais das Folias de Reis podem funcionar como avatar das culturas subalternas na comunidade estudada. Temos também a intenção de criar espaços de comunicabilidade entre o mundo acadêmico e os saberes das culturas subalternas; compreender o fazer artístico das comunidades estudadas - considerando sua contribuição para a cultura popular 40 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 local, além de contribuir para ampliação do referencial teórico no campo da Arte em relação às Folias de Reis e a cultura popular. A escolha do universo de pesquisa voltado para a Folia de Reis e o fazer artístico em suas performances rituais está relacionada com a escassez de estudos ou mesmo de uma documentação sobre a representatividade desses ritos nas comunidades estudada e sua importância como tradição identitária e bem cultural imaterial da cultura popular do nosso país. Responsável, em grande parte, pelo importante papel de guardiã de um saber muito especial, passado de geração para geração e vivo até os dias atuais, mesmo engendrando as transformações decorrentes do processo histórico. A relevância deste trabalho se reflete na possibilidade de uma melhor educação patrimonial em relação a nossos bens culturais, materiais e imateriais, sobretudo no que concerne à Cultura Popular. Há ainda a justificativa pessoal, afetiva para a escolha do tema, pois meu avô paterno era muito devoto de Santos Reis e instrumentista na folia da comunidade rural onde residia. Meu tio é hoje, Embaixador da Companhia de Reis “Estrela Brilhante do Oriente”, de Tapiratiba, na qual seu neto, meu primo em segundo grau, já segue seus passos. Este estudo é uma maneira de homenageálos e resgatar através da memória afetiva este importante legado cultural – familiar, comunitário e identitário. Metodologicamente, este trabalho adotou o referencial dialético, contrapondo a literatura encontrada a respeito (pesquisa documental) com o material recolhido em pesquisa de campo (pesquisa de campo qualitativa) para recompor o que, no momento, caracterizará ou não o avatar das culturas subalternas nas festas de Folia de Reis da comunidade estudada. Tal objeto de estudo está inserido em uma realidade concreta, portanto o método dialético parece-nos o mais adequado, já que a performance ritual nas festas de Folia de Reis deixam transparecer uma dinâmica de constante evolução e adaptação apresentada no tempo e no espaço. Durante a pesquisa documental, a fundamentação teórica se deu através de livros indicados pelo orientador, revistas, fotos, sites, monografias e teses sobre o tema. A pesquisa de campo qualitativa se deu a partir da participação nas jornadas da Folia de Reis, na Festa de Arremate e através de entrevistas e conversas informais com os devotos-foliões e outras pessoas da comunidade. Optamos por dividir o trabalho em cinco capítulos, de modo a compor um encadeamento de ideias que nos levassem à resposta ou às respostas para os questionamentos que levantamos na pesquisa. No primeiro, abordamos o folclore e a cultura popular, assim como a trajetória histórica da devoção aos Três Reis Magos - como forma de abordar de maneira mais abrangente o tema do trabalho. No segundo capítulo fizemos uma contextualização espacial e histórica numa perspectiva local, focalizando a comunidade estudada, levantando dados a respeito de elementos fundamentais que compõem a festa de Folia de Reis, a saber: O mito, o rito e a devoção. Durante a elaboração do terceiro capítulo procuramos delimitar o conceito de fazer artístico dentro do universo da Cultura Popular. Abordamos a questão da importância de alguns símbolos que dão sentido à festa e a devoção, lançando um olhar mais apurado sobre a perfomance em seus aspectos religiosos, artísticos e culturais. No capítulo quarto, delimitamos conceitos que serviram de referências para a análise dos dados da pesquisa e relacionamos aos fazeres artísticos a fim de comprovar ou refutar nossa hipótese inicial. Finalmente, por ser este um trabalho de conclusão de curso de Licenciatura em Arte, no quinto capítulo, consideramos relevante considerar um “olhar” sobre as possibilidades educativas da 41 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 festa popular – Folia de Reis e sobre a importância de uma Educação Patrimonial para preservação cultural. PROCESSO METODOLOGICO No processo de estudos de graduação da Licenciatura em Arte, interessei-me pela disciplina de Folclore e encaminhei estudos extracurriculares sobre cultura popular, realizando pesquisas bibliográficas sobre o tema. Ao debruçar-me sobre a temática deparei-me com a questão das festas populares, dos folguedos e a memória afetiva começou a dar pistas do que poderia vir a ser meu projeto de trabalho de conclusão de curso. As Festas de Folia de Reis tinham uma relação intrínseca com a história cultural do meu país, da minha família e com a minha história. Dei inicio ás pesquisas bibliográficas a respeito das Folias de Reis em março de 2012 e fui à campo do final de dezembro do mesmo ano, até janeiro de 2013. Fiz contato com Companhias de Reis de Arceburgo – MG, de Tapiratiba-SP,de Mococa – SP,e com a Companhia de Reis Estrela Guia de Milagre, distrito do município de Monte Santo de Minas – MG e que se configurou como principal objeto de estudo deste projeto. Neste distrito participei de cortejos e da festa do Arremate, em outras localidades participei de apresentações espetacularizadas, melhor dizendo, fora do seu local e da data habitual de realização. Fiz muitos registros fotográficos de diversas fases do giro da folia e recolhi entrevistas informais dos integrantes da folia, tanto de foliões fardados como de espectadores da folia, assim como de devotos que acompanhavam e prestigiavam a festa do arremate. Desenvolvi pesquisa bibliográfica que apresentou elementos do processo histórico no qual a folia de reis se deu e se estabeleceu em nossa cultura, envolvendo elementos da formação da cultura rural ou “caipira”, o processo histórico de colonização e processos de transformação socioeconômicas e sistemas de produção que de alguma maneira interferiram de forma específica nas manifestações culturais das classes subalternas, ou seja, na cultura popular, notadamente nas Festas de Folia de Reis e Reisados de maneira geral. Desenvolvi também estudos bibliográficos específicos sobre as folias de reis no Brasil sob o olhar da Sociologia, Antropologia, História, das Artes e até da Gerontologia. Diante dos dados recolhidos pude testemunhar um processo de resistência cultural nas manifestações das Folias de Reis, mais notadamente no caso de MILAGRE, ainda que o hibridismo cultural apareça nos fazeres artísticos e na representatividade do rito. Na pulsação dialética da vida a cultura popular prossegue, o folclore continua... CAPÍTULO I 1. FOLCLORE E CULTURA POPULAR: UMA BREVE ABORDAGEM ARTE MATUTA Eu nasci ouvindo os cantos das aves de minha serra e vendo os belos encantos que a mata bonita encerra foi ali que eu fui crescendo fui vendo e fui aprendendo no livro da natureza 42 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 onde Deus é mais visível o coração mais sensível e a vida tem mais pureza. Sem poder fazer escolhas de livro artificial estudei nas lindas folhas do meu livro natural e, assim, longe da cidade lendo nessa faculdade que tem todos os sinais com esses estudos meus aprendi amar a Deus na vida dos animais. Quando canta o sabiá sem nunca ter tido estudo eu vejo que Deus está por dentro daquilo tudo aquele pássaro amado no seu gorjeio sagrado nunca uma nota falhou na sua canção amena só canta o que Deus ordena só diz o que Deus mandou. (Patativa do Assaré) A Folia de Reis é uma das muitas manifestações da cultura popular brasileira, é tida como um folguedo, uma festa folclórica. Ao adentrar esse universo faz-se necessário conhecer, mesmo que grosso modo, o que nos traz o termo folclore. Cascudo (1954) define que: “É a cultura do popular tornada normativa pela tradição. Compreende técnicas e processos utilitários que se valorizam numa ampliação emocional, além do ângulo do funcionamento racional”. Vale lembrar que, em 1878, um grupo de pesquisadores fundou, na Inglaterra, a Sociedade do Folclore, formada por filósofos, sociólogos, antropólogos, entre outros interessados em estudar os sistemas populares de crenças, costumes e tradições, formas de linguagens populares e suas expressões. Partindo desse conceito, a Folia de Reis, tal como a conhecemos no Brasil, é a fusão, o hibridismo que nasce do encontro da História de europeus, índios, negros e mestiços e que dão forma ao termo. Com a colonização por Portugal há a tentativa de aculturação da população indígena e negra, com a imposição de seu próprio modelo cultural e de organização social. No entanto, no encontro dessa multiplicidade de culturas há reorganizações, resistências e re-existências que tornaram possíveis a manutenção de tradições e costumes, em meio a imposições traçadas por seus colonizadores. Na interação desses grupos, importantes elementos constitutivos de um povo são transformados, como língua, dança, música, religião e cultura oral. Através da integração entre essas transformações culturais e dos ecos desse passado histórico é moldado o folclore e a cultura. Uma cultura que não possui uma forma fixa e que também não possui um centro irradiador, mas uma cultura que se renova, reinventa e ressignifica, que está em contínuo movimento, sem passar por processos de cristalização. Sendo assim, percebemos que o folclore é uma ciência que acompanha as mudanças do homem no tempo e no espaço e que permanece com ele numa fusão de influências. Os fenômenos 43 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 folclóricos correspondem a uma realidade dinâmica que se adapta sempre que necessário às novas formas adquiridas pela sociedade. Folclore então é a soma de ensinamentos e saberes passados de geração a geração, que se mantêm vivos e são reinventados e ressignificados de acordo com o modo particular de cada um ou de cada grupo em sua expressão. Assim esclarece Barbeu (apud Brandão, 1984, p. 22): Sempre que se cante a uma criança cantiga de ninar, sempre que se use uma canção, uma adivinha, uma parlenda, uma rima de cantar, no quarto das crianças ou na escola, sempre que ditos, provérbios, fábulas, estórias bobas e contos populares sejam reapresentados; sempre que, por hábito ou inclinação, a gente se entregue a cantos e danças, a jogos antigos, a folguedos, para marcar a passagem do ano e as festividades usuais, sempre que uma mãe ensina a filha a costurar, tricotar, fiar, tecer, bordar, fazer uma coberta, trançar um cinto, assar uma torta à moda antiga; sempre que um profissional da aldeia (...) adestre seu aprendiz no uso de um instrumento e lhe mostre como fazer um encaixe e um tarugo para uma junta, como levantar uma casa ou celeiro de madeira, como encordoar um sapato-raqueta de andar na neve (...) aí veremos o folclore em seu próprio domínio, sempre em ação, vivo em seu caminho. Para que uma manifestação seja identificada como folclórica ela deve observar os seguintes fatores: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade. A tradição, de certa forma, é um campo crucial para o fenômeno folclórico, é o campo que resistiu e resiste, não no sentido de se limitar ou se fechar ao novo, mas como identificadora do que é fundamental para um determinado grupo ou comunidade. A tradição não é cristalizada, ela adere às mudanças ocorridas na sociedade e, no entanto, conserva algo dos saberes populares que resistem às tais mudanças, demonstrando apego ao passado. Assim, podemos pensar na tradição como um modo de resistência à degenerescência das manifestações da cultura popular, aberta, porém às novas formas de expressão na contemporaneidade. No que se refere à Folia de Reis, podemos exemplificar com as palavras de Chaves (2011, p.15): Vejamos o motivo pelo qual a Folia de Reis é celebrada, desde o século XVI. A festa é realizada para comemorar o nascimento do Menino Jesus, sendo sempre uma representação da viagem dos três Reis Magos ao seu encontro. À medida que os anos foram se passando, estas festas foram se reinventando e ganhando características próprias de cada região. A cultura oral também desempenha um importante papel na transmissão dos saberes populares e que são passados de geração a geração, e assim como acontece com as cantigas de roda, as parlendas e as canções de ninar, sofrem pequenas variações de geração para geração, de grupo para grupo, de região para região e, no entanto, continuam sendo as mesmas canções e cantigas. A oralidade faz com que os fenômenos folclóricos se coletivizem e, à medida que isso acontece, são aceitos pelo povo como “verdades”, integrando-se à realidade de seu cotidiano. Voltando ao exemplo anterior, as mesmas cantigas que possivelmente embalaram bisavós e avós, hoje embalam bisnetas e netas, ignorando a autoria das mesmas o folclore segue adiante. O povo, aceitando o fato, toma-o para si, considerando-o como seu, e o modifica e o transforma, dando origem a inúmeras variantes. Assim, uma estória é contada de várias maneiras, uma cantiga tem trechos diferentes na melodia, os acontecimentos são alterados e o próprio povo diz: ‘quem conta um conto, acrescenta um ponto’. A mesma coisa acontece com danças, o teatro, as técnicas. Tudo pode ser modificado, porque o povo dança, mas suas danças não têm regulamentos não são codificadas: tanto pode o conjunto 44 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 de dançadores dar três voltas complexas, como apenas uma; a indumentária tanto pode ser rica e colorida como simples e ingênua. Há, contudo, uma certa estrutura que determinamos aquela estória, aquela indumentária, aquela cerâmica e as modificações não invalidam o modelo (RIBEIRO apud BRANDÃO, 1984, p.37). O folclore passa, portanto, a ser além dos costumes tradicionais unidos a heranças orais, uma forma de viver através dos saberes populares, ligados a aspectos sociais que, normalmente, conceituam “popular” como sendo um produto das camadas subalternas da sociedade, mas que por conta desta aceitação coletiva, que inclui o popular e o erudito, atua de maneira universal. A cultura popular, pela representação e reprodução material e imaterial de seus saberes, e a cultura erudita, por estudar a cultura popular e seus saberes, abarcam toda uma gama social. Qualquer que seja o tipo de mundo social onde exista, o folclore é sempre uma fala. É uma linguagem que o uso torna coletiva. O folclore são símbolos. Através dele as pessoas dizem que querem dizer. A mulher poteira que desenha flores no pote de barro que queima no forno do quintal sabe disso. Potes servem para guardar água, mas flores no pote servem para guardar símbolos. Servem para guardar a memória de quem fez, de quem bebe a água e de quem, vendo as flores, lembra de onde veio. E quem é. Por isso há potes com flores, Folias de Santos Reis e flores bordadas em saias de camponesas (BRANDÃO op. cit. p. 107).” Para muitos autores os conceitos de folclore e cultura popular se interpenetram. O folclore e a cultura popular existem um no outro, não há uma fronteira, uma delimitação de limites que permitam distingui-las de modo categórico. No entanto, quando se coloca a questão sob o prisma da oposição cultura popular folclore/cultura erudita, algumas distinções podem ser observadas, pois dizem respeito a camadas ou classes distintas na sociedade. Assim, tudo que é tido como folclore faz parte do campo de estudo da cultura popular brasileira, pois este é responsável pelas pesquisas e análises das manifestações do “povo” ou das “camadas subalternas” da sociedade. Entretanto, tudo que é tido como cultura popular faz parte do estudo da cultura como um todo, porque cultura é um todo que reúne as manifestações do homem em sua evolução. Vale lembrar que nem tudo que envolve cultura popular é folclore, como por exemplo, o samba, pois não observamos características básicas de um fato folclórico, como por exemplo, o anonimato. No entanto, tudo que é considerado folclore é cultura popular. 1.2. Traços históricos da Folia de Reis Balt-hazar acendeu sua lâmpada de azeite e iluminou, com sua luz bruxuleante, o mapa que abrira sobre o chão. “Aqui está ela”, disse marcando com o seu dedo um lugar no mapa. “Bethléhem. Fica precisamente na divisa entre dois grandes reinos. À esquerda está o Reino da Fantasia. À direita está o Reino da Realidade. São reinos perigosos. Quem mora só no Reino da Fantasia fica louco. Quem mora só no Reino da Realidade fica louco. Para se fugir da loucura há de se ficar transitando de um para outro, o tempo todo. Somente os moradores de Beth-léhem estão livres da 45 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 necessidade de estar, o tempo todo, indo de um reino para outro. Porque Beth-léhem fica bem na divisa (...). (Rubem Alves. Os três reis) A Folia de Reis é uma festa popular de caráter profano-religioso ligada ao culto católico do natal sendo realizada geralmente, de 24 de dezembro a 6 de janeiro. Busca homenagear de maneira festiva, alegre e devotada a figura dos Reis Magos que, segundo a crença popular, viajaram do oriente guiados por uma estrela para adorar e presentear o menino-deus em ocasião de seu nascimento. Retomemos a trajetória histórica da Folia de Reis. Para alguns autores, ela faz parte de uma tradição de festas da natividade de divindades que remonta à Antiguidade Clássica, como as festas de culto ao Deus-Sol romanas, que, posteriormente, foram adotadas pelos egípcios. Ao longo dos anos, essas festas denominadas “pagãs” foram sendo apropriadas pelo cristianismo, que mesclava seus conteúdos a elementos cristãos. No século II da Era Cristã, o Papa São Telésforo as regulamentou, colocando-as no calendário católico. Para outros autores a Folia de Reis começa com o relato da aparição dos personagens principais nas passagens bíblicas que retratam o nascimento de Jesus. No livro escrito por Mateus, ele relata magos vindos do oriente, no entanto, o texto não menciona quantos eram ou quais eram seus nomes. A quantidade de reis arrolada pela cultura popular talvez esteja relacionada à quantidade de presentes oferecidos ao Deus-Menino: ouro, incenso e mirra. Em Mateus está escrito: Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes, eis que vieram magos do Oriente a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela no céu surgir e viemos homenageá-lo”. Ouvindo isso, o rei Herodes ficou alarmado e com ele toda Jerusalém. E, convocando todos os chefes dos sacerdotes e os escribas do povo, procurou saber deles onde havia de nascer o Cristo. Eles responderam: “Em Belém da Judéia, pois é isto que foi escrito pelo profeta: E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és menor entre os clãs de Judá, pois de ti sairá um chefe que apascentará Israel, o meu povo”. Então Herodes mandou chamar secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em que a estrela tinha aparecido. E, enviando-os a Belém, disse-lhes: “Ide e procurai obter informações exatas a respeito do menino e, ao encontrá-lo, avisai-me, para que também eu vá homenageá-lo”. A essas palavras do rei, eles partiram. E eis que a estrela que eles tinham visto no céu surgir ia à frente deles até que parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, alegraram-se imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e, prostrando-se, o homenagearam. Em seguida, abriram seus cofres e ofereceramlhe presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho que não voltassem a Herodes, regressaram por outro caminho para a sua região. (Mateus 2, 1-12) No campo da Arte, uma pintura datada do século III, na catacumba de Santa Priscilla, em Roma, também revela a quantidade de magos que acabou por se perpetuar, o que denota mais uma vez, a associação com a quantidade de presentes oferecidos a Jesus-menino. 46 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 1 – 6Três Magos (com Maria e Jesus), Catacumba de Santa Priscilla. O Papa Júlio I, em 378, observando que não havia data fixa para a comemoração do nascimento de Jesus, determinou que o dia 25 de dezembro ficasse dedicado a esta recordação, ficando o dia 6 de janeiro como Dia de Reis7. Figura 2. 8Adoração dos Magos, Sarcófago romano do séc. IV cemitério de Santa Agnes, Roma. Na passagem da Antiguidade para o Medievo, a sociedade buscava conhecer mais sobre esses Magos, isso fica patente também nas representações artísticas, como no mosaico de Santo Apolinário, o novo, em Ravena, datado do século VI, onde aparecem grafados os nomes pelos quais ficaram conhecidos os Magos: Gaspar, Baltazar e Belchior. 6 Fonte: (HILDESHEIM, 2004, p. 1) Apud in: Antonio, 2012. Segundo Dossiê de Registro de Bem Imaterial Cultural da Folia de Reis do Bairro de Santo Afonso, Betim, MG, a partir de tal posicionamento do Papa Julio I, às festas de natividade no contexto do cristianismo foram sendo acrescentados elementos diversos, como por exemplo, as figuras dos três reis magos. 8 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Adoration_magi_Pio_Christiano_Inv31459.jpg 7 47 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 39. Mosaico: Adoração dos Magos, Santo Apolinário, o Novo. As tradições ocidentais irão se basear nesses três reis que a partir do século VIII foram referidos como Santos Reis. Algumas personalidades ao longo da história tiveram diversas versões, pois suas memórias foram se modificando com o tempo. Isso aconteceu com os Magos, que a principio, na história do cristianismo, eram vistos apenas como estrangeiros que foram adorar a Jesus Menino, seguindo a tradição canônica do Evangelho de Mateus e de alguns apócrifos, como o Protoevangelho de Santiago, Evangelho do Pseudo Mateus e Evangelho Árabe da Infância. Posteriormente percebe que de simples Magos, passaram a ser Reis Magos, e com a transladação das supostas relíquias destes homens para a Catedral de Colônia, ficaram conhecidos como santos. (ANTONIO, 2012, p.2). Acompanhando as mudanças de mentalidade da sociedade Medieval a transformação dos Magos em “Reis” figurou nas inscrições sociais, artísticas e políticas deste período, pois era de interesse do poder monárquico, uma identificação teológica que colaborasse para a construção do poder divino dos reis. O uso de coroas pelos Magos nas representações artísticas começa a figurar próximo ao séc. IX, no reinado do Imperador do Sacro Império Romano, Otto II. Conforme ANTONIO (op. cit.), na dinastia Otoniana (919-1024) é visualizada a emergência de exaltar a representação política sobre o um modelo teológico. 9 Fonte: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/especial/200705-artereligiao.php 48 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 410. Iluminura Alemã com duas cenas dos magos. Autor Anônimo, cerca de 1220 . Na Baixa Idade Média, a ideia dos Magos como Reis já havia se consolidado. Passa-se, então, a evidenciar a ligação dos Reis Magos com a sacralidade, como podemos observar na seguinte obra de Giotto. 10 Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Codex_Bruchsal_1_11r.jpg 49 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 511: Adoração dos Magos, Giotto, 1306. Capela Arena. A idéia de sacralidade aparece também na obra de Lorenzo Monaco, pintor do período gótico, como denota o halo pintado em suas cabeças. Figura 6 12- Adoração dos Magos, Lorenzo Monaco, c. 1422. Têmpera sobre madeira, 115 x 177 cm. Galleria degli Uffizi, Florença. 11 12 Fonte: http://www.mystudios.com/gallery/giotto/17a.html Acessado em: 23 de setembro de 2012 http://pt.wahooart.com/@@/8XZN99-Lorenzo-Monaco-Adora%C3%A7%C3%A3o-dos-Magos-(2) 50 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 . Durante a Idade Média a devoção aos Santos Reis desenvolveu-se e espalhou-se por toda a Europa. Segundo Pessoa (2007), isso pode ter ocorrido devida à chegada dos restos mortais desses entes míticos, como despojos de guerra, transladados de Milão, na Itália, à catedral de Colônia, na Alemanha, em 1164, como conquista de Frederico Barba Roxa. Observemos o que diz PESSOA e FELIX (2007, p. 114): Em contrapartida, desde o final do século XII, no ocidente, príncipes, peregrinos, monges, artistas fizeram-se verdadeiros andarilhos, disseminadores do culto dos magos. As abadias abrangiam relíquias que servem, também, de bases estratégicas para essa devoção. Além dos imperadores alemães, muitos soberanos ou grandes senhores de diferentes reinos europeus – entre os quais se pode citar Guilaune o marechal, tutor do príncipe herdeiro da Inglaterra, Felipe, príncipe de Borgonha e o Francês Luis XI – visitaram Colônia, onde deixaram importantes doações para tal ou tal obra de arte a ser criada em honra dos reis: urna, candelabro, vitrais, tapeçarias e, mais tarde, pinturas. Sob sua influência também numerosas igrejas ou capelas foram erguidas e lhes foram consagradas e não apenas no trajeto das relíquias. Figura 7 13- Relicário dos três reis magos, séc. XII, Madeira, ouro, prata, esmalte de filigrana, pedras e contas, Colônia, Alemanha.14 No percurso deste translado, foram surgindo, em diversas localidades, pinturas, quadros, altosrelevos em sarcófagos e tumbas, esculturas remetendo e apresentando a peregrinação, a visita, a adoração dos Três Reis Magos ao Menino-Deus. Então, a partir de Colônia, a devoção aos Santos Reis espalhou-se por toda Europa como parte das grandes peregrinações, a exemplo do que já ocorria em Roma e na Terra Santa. Em torno 13 Fonte: http://peregrinosdaestrela.blogspot.com.br/ em 14/12/2012 A urna que supostamente guarda os restos mortais dos Três Reis Magos é considerada uma obra prima da ourivesaria e um dos maiores tesouros da arte medieval. Foi projetada pelo mestre ourives Nikolaus Van Verdun em 1181, e concluída por seus seguidores em 1220. 14 51 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 dessa devoção, cristãos de toda a Europa criaram músicas, cantos, danças, peças teatrais e obras de arte para celebrar a ‘visita’ dos Reis. Figura 8 15- Fotocromo16 da Catedral de Colônia tirada em 1890, dez anos após sua conclusão. França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha, Itália, Espanha e Portugal, entre outros, festejavam os três Reis Magos na época de Natal. O Presépio e os Autos Natalinos já eram conhecidos desde o século XIV em Portugal, mas as primeiras notícias da Folia, tal como a conhecemos hoje, remontam ao século XVI (MACHADO, Op.Cit. p. 213-214). A literatura indica que a tradição deste festejo foi trazida ao Brasil pelos colonizadores portugueses no século XVI, embora não haja consenso científico a respeito, pois não existem estudos detalhados que comprovem tal afirmação. É um tanto obscura e certamente remota a origem das folias. Nos países ibéricos, de onde provavelmente nos veio a tradição, esses cortejos existem desde tempos imemoriáveis. A maioria dos estudiosos concorda sobre as origens ibéricas, ou pelo menos européia das Folias de Reis (PORTO, 1982, p.14). No entanto, o Forte dos Reis Magos em Natal (RN), foi fundado em 6 de janeiro de 1598, o que marca o cultos aos Santos Reis no Brasil, ainda no século XVI, ou seja, no início da colonização. 15 16 http://aleph.helderdarocha.com.br/2006/07/catedral-de-colnia.html Fotocromo é uma técnica de coloração que combina fotografia em branco e preto e litografia colorida. 52 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 917 - Forte dos reis magos18, Natal, RN. No Brasil, os colonizadores portugueses, sobretudo os missionários da Companhia de Jesus, mantiveram a tradição de culto aos reis magos, através de autos religiosos, pregações, procissões e outras atividades, e abriram, inclusive, caminhos para o surgimento do teatro brasileiro, que, nesse período, tinha um viés pedagógico, baseado na Bíblia Sagrada. Os jesuítas utilizaram-na na forma de auto catequético tematizada nos Reis Magos para converter e catequizar, primeiramente, populações indígenas e, posteriormente, os negros escravizados e mestiços, como instrumento de consolidação do processo de colonização. Autos populares eram então compostos de breves diálogos ingênuos, pastoris, pequenos cantos que, perdidos mais tarde dos textos do teatro erudito, difundiram-se no meio do povo, tanto em Portugal como no Brasil. Serão a origem da memória do modo como se canta até hoje a Folia de Santos Reis (BRANDÃO, 1984, p.21)? Os Magos foram considerados por Padre Antônio Vieira 19(1608 - 1697) os fundadores da cristandade, pois foram os primeiros a reconhecer Jesus como o Senhor e a adorá-lo, ofertando-lhe presentes. Os reis magos aparecem como personagens importantes na primeira Epifania 20 do Senhor e abrem um novo tempo com a postura de adoração e reverência a Jesus Cristo. É a fundação ideológica do mundo tal qual nós conhecemos (tradição judaico-cristã). 17 Fonte: http://historiaediversidadecultural.blogspot.com.br/2011/09/forte-dos-reis-magos-em-natal-rn.html acessado em: 18 /12/2012. 18 Em torno desse forte desenvolve-se um povoado que recebeu mais tarde o nome de cidade dos Três Reis, vindo depois a ser renomeado com o nome de cidade de Natal. 19 Religioso português da Companhia de Jesus que foi também orador, filósofo e escritor. Famoso por seus sermões, Padre Antônio Vieira, em termos de Literatura, possui uma grande relevância no Barroco brasileiro e também português. 20 Palavra de origem grega que quer dizer “aparição divina” ou “manifestação divina”. Durante anos a Epifânia do Senhor foi considerada a data mais importante do calendário católico,sendo aos poucos substituída pela celebração do Natal. 53 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 10 21- Adoração dos Reis Magos, Belchior Paulo. Óleo sobre madeira, século XVI, Igreja dos Reis Magos, em Nova Almeida, Espírito Santo. Canesin e Silva (1983), em seus estudos sobre a Folia de Santos Reis, afirmam que quando os Portugueses chegaram ao Brasil já existiam várias manifestações populares em vários países, conhecidas pelo nome de “Folia”. As folias tiveram suas origens na península ibérica, eram danças acompanhadas de instrumentos musicais, principalmente castanholas e pandeiros, onde os homens se vestiam de mulheres e saíam às ruas numa dança selvagem. Gil Vicente, no Auto de Sibila Cassandra22 (1511), apresenta um personagem cantando folia, assim como outros autores fazem referência às folias como uma dança ligada aos ritos de fecundidade em sua origem, nelas era comum o uso de máscaras. Eram essas folias e outras manifestações festivas, dramatizações e jogos que animavam as festas religiosas e laicas do reino e da colônia, das quais nem sempre o povo podia tomar parte. (KODAMA, 2009, p.87) Em Portugal, havia as Janeiras23, as Reisadas24 (cantar os reis ou pedir os Reis), as Pastorinhas25, no entanto, não se pode negligenciar a influências de outras festividades do ciclo 21 Fonte: Deniseludwig. blogspot.com. br/2013/01/arte-em-pinturas-do-dia-dos-reis-magos.html. Acessado em 24 de janeiro de 2013 22 Obra de Gil Vicente que retrata um auto natalino, com características cômicas, onde canções e danças são apresentadas em forma de folia. 23 As Janeiras são festas populares da tradição portuguesa que ocorrem de 1º a 6 de janeiro e é caracterizada pela performance de um grupo peditório, cantando e anunciando o nascimento de Jesus pelas ruas, desejando um feliz ano novo. 24 Tradição portuguesa de celebração aos Reis Magos que acontece a 6 de janeiro. Um grupo de pessoas tocando,cantando à porta das casas em procissões que invocam os Reis Magos. Nessa celebração há uma espécie de encenação do auto dos Reis. 54 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 natalino, como os Villancicos26 e mascaradas da Espanha, os Noëls27 franceses e os Sternsinger28 na Alemanha. As folias existentes no Brasil representavam e ainda hoje representam um grande número de grupos devocionais de santos do catolicismo como, por exemplo: Festa de São Gonçalo, Festa do Rosário, São Sebastião, São José, São Bendito, Divino Espírito Santo e Santos Reis. No Brasil, a tradição desse folguedo, ou seja, das Folias de Reis, foi adentrando o país chegando ao interior e não se limitava a reproduzir o que acontecia na Europa. Tomava o estrangeiro como modelo e reinventava o festejo a partir das misturas culturais e étnicas que caracterizavam a população subalterna do país, impregnando-o de nuances locais e especificidades das várias e diferentes regiões, gerando tipos e características distintas de Folia de Reis e Reisados, de região para região. Confirmando esta ideia, acrescemos com a contribuição de Kimo (2006), a prática da Folia de Santo Reis chegou ao Brasil com os Europeus e aqui assumiu particularidades brasileiras próprias. As denominações de tais festas no país também possuem variações de região para região: Pastorais do Senhor Menino, Pastoris, Reisados, Terno de reis, Folias e Reisadas, Boi de Reis, Bailes Pastoris, Reis de Bois, Companhia de Reis. As raízes das Folias de Reis, no Brasil, estão diretamente ligadas ao meio e ao modo de vida rural, uma vez que a ocupação do território nacional esteve ligada às atividades agropastoris. Nesse período, ou seja, nos primórdios do Brasil Colônia, apesar da Igreja exercer influência social, ela não estava presente nos meios rurais. A religiosidade nesses meios era praticada por leigos, através de procissões, promessas, entre outras manifestações que, juntamente com as devoções, adquiriram caráter lúdico, como as cantorias, modas de viola, bailes. Assim essas comunidades alcançavam certo equilíbrio em tais práticas sociais da religiosidade e cotidianas. Uma vez que o povo incorporava seus saberes e crenças profanas, suas danças, seus ritmos às festividades outrora controladas pela Igreja, esvaziava-se o poder e o controle tanto da própria Igreja como do Estado. Dessa forma, havia três possibilidades de acontecimento de tais festas, uma promovida pelos religiosos jesuítas, outra promovida pela elite portuguesa e a terceira realizada pelo povo – índios, negros e mestiços, ou seja, pela classe subalterna. Esta dinâmica constitui uma dualidade entre práticas profanas e da religiosidade oficial que Bastide (1960) define como “catolicismo oficial” e “catolicismo popular”. As Folias de Reis abrangem esse hibridismo religioso desde o Brasil colonial até os dias de hoje. Retomemos o Brasil Imperial do século XIX para melhor entendermos como se deu essa dualidade no decorrer de nossa História. A partir da segunda metade do século XIX, o ultramontismo29 começa a ser implementado no país, instituindo um novo modelo clerical católico. Esse modelo esteve marcado pelo poder centralizador de Roma enquanto instituição eclesial, pelo fechamento sobre si mesmo, e por recusar-se a uma abertura ao mundo moderno. A partir de Roma, 25 Bailado folclórico do ciclo natalino, de origem portuguesa, compõe-se de cantos e danças dramatizados principalmente por moças e cujo mote principal é a viagem dos pastores, no caso, “pastoras” à Belém para homenagear Jesus - Menino. 26 Villancicos são pequenas composições utilizadas em igrejas e povoados da Espanha em ocasião do Natal. 27 Festa do ciclo natalino na França. 28 São os cantadores da estrela e caracterizam-se por grupos de crianças, cada uma representando um dos reis, que saem de casa em casa pedindo doces e donativos, cantando e desejando um bom Ano, são sempre acompanhadas de um adulto e nas casas por onde já passaram deixam escrito as inicias dos reis magos e o ano. (G+ B+ M+ 2013, por exemplo). 29 O termo ultramontismo significa para além das montanhas e representou na História da Igreja Católica uma reação às mudanças e ideais modernizantes, apresentou-se como uma doutrina que afirmava a autoridade absoluta do Papa em matéria de fé e disciplina religiosa. 55 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 desde o Papa Gregório XVI até o papado de Pio XII, a Igreja creditou a esse modelo a força mantenedora de sua unidade e empreendeu grandes esforços para consolidação do mesmo. O Modelo católico ultramontano via-se como único manancial de salvação e verdade, fora isso, estava a condenação. Esse modelo maniqueísta considerava o não-católico como fonte de erro e maldição e o católico não-ultramontano como “ovelha perdida” e que, portanto, poderia ser resgatada desde que abandonasse as antigas práticas e vícios. Essa nova espiritualidade seguia as normas dos ritos católicos românicos e desclassificou e condenou as práticas religiosas vigentes desde o período colonial, ou seja, de um catolicismo popular, muitas vezes praticado por leigos e desprovido de rigor teológico, em detrimento de uma prática ritual rígida que negava a pluralidade de manifestações devocionais, sobretudo as das classes subalternas. Com esse processo romanizador o padre tornou-se a figura responsável por toda a dinâmica política e sacralidade da Igreja. A partir de então, toda programação festiva ou de administração caberia à autoridade clerical competente. No entanto, esse esforço reformador da Igreja não se deu de forma totalmente harmônica, pois, conforme Gaeta (1997), Esse deslocamento do poderio leigo para o paroquial não se deu de forma harmônica, mas foi um processo manchado por conflitos entre as partes. Nos santuários de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, de Jardinópolis, em São Paulo, e no de Alto Paraguai, em Mato Grosso, entre outros, em maior ou menor grau, os desentendimentos com autoridades eclesiais se explicitaram, sobretudo, nas festas do patrono. Em Jardinópolis-SP, chegou-se a realizar duas comemorações ao mesmo tempo: a da matriz e a da capelinha do santo. Contudo, ameaças de excomunhão a quem participasse da festa leiga pairavam a cidade. No final do século XIX, há um esforço por parte do ideal ultramontano de arrefecer as devoções do catolicismo popular. Ainda conforme Gaeta (op. cit.), as devoções que possuíam uma larga expressão popular, como a de São Benedito e a do Divino Espírito Santo, a de Nossa Senhora do Rosário, a de Santa Efigênia, a de Santo Elesbão e a dos Reis Magos começaram a ser rebaixadas pelos agentes ultramontanos. De forma discreta, as imagens eram retiradas dos altares centrais e alojadas em capelinhas. O mesmo ocorreu com as devoções brancas, de fortes raízes populares – como o culto ao Bom Jesus Sofredor, expresso nas diferentes figurações do Bom Jesus da Cana Verde, da Lapa, dos Perdões, do Senhor dos Passos, do Bom Fim, do Senhor Morto – assim como outras devoções. Os padres ultramontanos não combatiam diretamente as devoções populares, mas delas não mais participavam, criticavam o mau uso do dinheiro recolhido pelos devotos e condenavam o que, para eles, caracterizavam-se como os excessos cometidos durante as festas – a dança, os jogos e a bebida. Aos poucos os santos considerados populares foram aposentados às sacristias das igrejas enquanto os de devoção branca católica européia foram entronizados em lugares centrais. Festas, procissões, folias e foliões foram alvo da fiscalização e da normatização do ideal romanizador, todo um corpo de práticas e comportamentos socialmente aceitos até então sofreram uma marginalização e passaram a ser criticados e condenados. As Folias de Reis foram também parte desse corpo de práticas postos à margem. A fim de garantir a eficiência desse processo de marginalização, as hierarquias clericais contavam com os poderes públicos para a imposição de valores culturais. Esses poderes públicos se revelavam na presença da polícia e num conjunto de Posturas Municipais30 que estabeleciam os padrões de moralidade e decoro, o que visava garantir a erradicação dos elementos populares da religiosidade católica, sobretudo das classes subalternas. As músicas, tambores, danças, máscaras, palhaços, bandas, fogos, que outrora eram representações simbólicas do sagrado e consentidas pelo catolicismo tradicional, passaram a ser alvo de criteriosos regulamentos. Apesar desses esforços da Igreja em 30 São um conjunto de normas que regulam a utilização do espaço urbano pelos cidadãos. 56 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 regulamentar as ações do catolicismo popular em busca da purificação de suas características profanas, o mesmo resistiu e permaneceu vivo em amplas camadas da população, sobretudo a mais simples. Podemos observar e confirmar a presença dele através da permanência das Folias de Reis e outras manifestações dessa religiosidade, tais como as Congadas e as Festas do Divino em território brasileiro. Continuou vivo para todos aqueles que projetavam na vida religiosa, nas expressões devocionais, um abrandamento das suas penas e sofrimentos cotidianos e uma esperança para seus desejos. Estabelecendo certa ruptura com o momento em que a Igreja apresentava ideais romanizadores, na década 1960, a Igreja percebe seu frágil engendramento na vida da população e, a partir do Conselho do Vaticano II31, reavalia sua postura perante as situações de abandono e injustiça social que faziam (e fazem) parte da experiência do cotidiano de grande parte da população no país. Enfim, volta-se para questões sociais do povo, em defesa do povo oprimido e marginalizado, tendo Cristo como referencial de vida e de prática eclesiástica. Nesse momento, a Igreja católica buscava compreender as manifestações culturais e religiosas dessa classe subalterna, que eram diversas e complexas, para que pudesse atuar junto a esse povo, corrigindo uma postura considerada imprópria. A partir daí, a Igreja Católica busca legitimidade junto ao povo. Essa nova reestruturação, com identidades mais plurais, híbridas, permitiu que diversos grupos religiosos tivessem um sentimento de pertencimento ligado a ela, embora em alguns casos a recíproca não fosse verdadeira. Ao longo dessa pesquisa, percebemos que seria impossível referenciar-se à presença das Folias de Reis no Brasil sem observar sua intrínseca relação com o catolicismo. No entanto, esse estudo extrapola a História da Igreja, uma vez que é também uma história de sujeitos, de trânsito de religiosidades, de festas que reinterpretam e ressignificam ensinamentos cristãos para melhor atender as suas necessidades. Essa tradição segue até os dias atuais, recontando a história sagrada dos Santos Reis, sendo importante elemento de construção de fluxos de comunicabilidade sagradas e profanas e na constituição de subjetividades. CAPÍTULO II – A FOLIA DE REIS NO DISTRITO DE MILAGRE 2.1. Contextualização geográfica e histórica O Distrito de Milagres pertence ao município de Monte Santo de Minas e está localizado na região sul/sudeste (mesorregião) do estado de Minas Gerais, microrregião de São Sebastião do Paraíso. Sua área é de 594, 632 km², e o contingente populacional total, segundo o IBGE, é de 21.234 habitantes (censo 2010). Seu índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) é considerado alto – 0, 710 em 2010 (PNDU, IPEA, FJP, 2013). Mapa n.° 132 – Localização de Monte Santo de Minas, em Minas Gerais 31 O Concílio do Vaticano II foi, grosso modo, uma série de conferências realizadas entre 1962 e 1965 que visavam refletir sobre a atuação da Igreja no mundo moderno. A responsabilidade da Igreja a partir dele seria se pensar a instituição e a sociedade dentro de um prisma histórico, “ler através dos tempos”. 32 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Santo_de_Minas acesso: 20 de setembro de 2013 57 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O clima é tropical de altitude e sua topografia apresenta-se predominantemente ondulada com formação de serras e planaltos elevados. É praticamente impossível remeter à História do Distrito sem antes recorrer à História do município que lhe contém - Monte Santo de Minas. Localizado a 495 km da capital mineira, Monte Santo de Minas já teve a denominação de São Francisco do Tijuco Preto. Em 1855, passou de distrito à freguesia, e devido a um acordo entre missionários católicos e o povo, passou a chamar-se São Francisco de Monte Santo. Segundo a tradição corrente seus primeiros habitantes foram garimpeiros no século XVIII, que à época da mineração do ouro em Minas Gerais, estiveram pela região de São Carlos do Jacuí e, devida à exaustão das jazidas em Jacuí, procuravam terras férteis para prática da agricultura. Como outras muitas cidades, pelas Minas Gerais e pelo Brasil, Monte Santo de Minas começou com uma doação de terra e a construção de uma capela. Com a licença do Bispo de São Paulo, foi erguida a capela sob invocação de São Francisco do Tijuco, sendo empregada em sua execução, quase que totalmente, mão de obra escrava. No início do século XIX, seus habitantes dedicaram-se à cultura do café. Em 1911, o município tem seu nome alterado para Monte Santo e, em 1948, há nova alteração para Monte Santo de Minas. Com a expansão da cultura do café e a construção da estação ferroviária da mogiana, houve um acelerado desenvolvimento do município em termos populacionais e econômicos. Por volta dos anos 30, do século XX, recebeu um considerável contingente de imigrantes italianos, portugueses, espanhóis e sírio-libaneses, mas, com a crise do café, houve novo movimento migratório, dessa vez para São Paulo, em busca de trabalho na indústria. A economia local gira em torno da agricultura e devido ao processo de mecanização das lavouras que ocorreu a partir dos anos 1980, houve um processo de êxodo da população rural para a área urbana, o que acarretou o aparecimento de novos bairros na periferia da cidade. Atualmente a economia ainda se apresenta baseada na cultura cafeeira, sendo essa a maior responsável pela entrada de recursos no município. Contudo, nos últimos anos tem-se notado a expansão da cultura da cana-de-açúcar, para a qual, as culturas de gado e café têm perdido espaço. Pudemos observar que o turismo tem se apresentado como possibilidade econômica promissora, 58 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 uma vez que festas populares como o Carnaval (bastante famoso na região) e as Folias de Reis têm atraído um número crescente de pessoas, como nos coloca Carvalho (2011, p. 6): Um ramo econômico muito promissor para a cidade seria o turismo, se contasse com um marketing e apoio mais efetivos da prefeitura, a exemplo dos encontros de Folia de Reis e do carnaval, considerado um dos melhores da região, que chega a reunir em torno de 14.000 pessoas. O município apresenta características basicamente rurais em seus aspectos de formação sociais, culturais, e novamente, econômicos, assim como o Distrito de Milagre que é nosso alvo de estudo.Mapa nº 2 - Vista aérea do Distrito de Milagre, Monte Santo de Minas - MG. 33 Mapa nº 3 - Vista aérea do Distrito de Milagre, Monte Santo de Minas - MG. 34 Segundo dados da prefeitura de Monte Santo de Minas, Milagre é um distrito criado pela lei estadual 843, de 07 de setembro de 1923. Em 1948, quando o então município de Monte Santo, 33 34 Fonte: https://maps.google.com.br/. Acesso: 21/10/2013 Fonte: https://maps.google.com.br/.Acesso: 21/10/2013 59 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 recebe a denominação de Monte Santo de Minas, pela lei número 336, de 12 de dezembro do corrente ano, o distrito de Milagre é anexado à cidade. Pudemos observar que na busca por informações em sítios virtuais a respeito da cidade de Monte Santo de Minas, a tradição da Folia de Reis já é referida como festa folclórica e religiosa que se incorpora a história e a cultura da cidade. 2.2 A Festa e a devoção Foto 1 35. A emoção dos foliões diante da Bandeira. A Festa de Folia de Reis em Milagre, assim como em muitos lugares, é uma festa tipicamente rural36. Revive, rememora e comemora a jornada dos Três Reis Magos que, seguindo a estrela guia, encontraram o menino-deus por ocasião de seu nascimento, e o adoraram. Caracteriza-se por manifestações de grupos de foliões – devotos que saem do dia 24 de dezembro a 06 de janeiro em cortejo, visitando as casas da circunvizinhança, pedindo donativos, tocando e cantando canções em louvor aos “Santos Reis” e ao nascimento de Jesus. As expressões da religiosidade popular manifestas nas Folias de Reis em Milagre não são apenas arcabouços histórico-culturais, mas expressões da vida das pessoas que compõem os grupos devocionais em sua jornada. A imitação da jornada empreendida pelos Magos do Oriente exerce uma função fundamental para as Folias de Reis – representa sua missão. Brandão (1985, p.138) nos conta que: As folias de reis são a viagem ritual mais difundida no Brasil e a mais rica de ritmos e crenças próprias. Os devotos e promesseiros saem na noite de Natal ou Ano Novo, é percorrido um território de estradas e casas pré-determinadas até a tarde do dia 06 de janeiro, a “Festa dos Três Reis Santos”, no imaginário popular. É difícil haver um município ou povoado [...] onde não haja pelo menos um, às vezes alguns “ternos de Folia de Reis” no exercício devoto de “cumprimento a missão”. Essa jornada retrata o espaço percorrido pela Folia emanando as riquezas de sua cultura e sua fé. Os grupos que se orientam diante dessa jornada recebem o nome de Terno de Reis, Embaixada de Reis, Companhia de Reis e outras denominações. No Distrito de Milagre esses grupos são denominados Companhia de reis. Tomamos conhecimento da existência de duas 35 Fonte: acervo pessoal. Muito embora tenhamos relatos de Folias de Reis em grandes cidades e regiões metropolitanas. 36 60 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Companhias no Distrito – A Companhia “Ouro, Incenso e Mirra” e a Companhia “Estrela Guia”, com a qual estabelecemos maiores contatos e que é principal referência neste estudo. O intuito deste subcapítulo é apresentar uma visão geral da folia em Milagre, aproximando o leitor do ciclo ritual que a caracteriza, além de subsidiar os questionamentos que serão levantados no decorrer deste estudo. Antes de problematizar a jornada e descrever o giro37, vamos conhecer a organização interna das Companhias. Os grupos se organizam em torno da liderança do Embaixador38 da Folia e seguem a Bandeira39 que vai à frente do grupo, representando a estrela guia. Observa-se uma hierarquia dentro dos grupos que são compostos por instrumentistas, cantores, palhaços, além das pessoas que representam um grupo de apoio, como por exemplo, as cozinheiras que preparam os alimentos na festa do arremate, e as pessoas que acompanham os cortejos motivados pela devoção ou pelo interesse na manifestação cultural, e que não têm função definida dentro da Companhia. O número de foliões depende da Companhia, da região, enfim, das características da folia em determinado local. No entanto, percebe-se que na maioria dos grupos há no mínimo 12 foliões. A afiliação dos foliões à companhia ocorre de forma espontânea, porém uma vez que o compromisso é firmado, a folia tem um prazo mínimo de sete anos para acontecer em ciclo completo de jornada, com a intenção de alcançar ou agradecer uma graça. Foto 2 40– Bastião afiliado por ocasião de uma promessa cuja graça foi alcançada 41. 37 Giro aqui tem a significação análoga a de jornada, é a trajetória que a Companhia realiza, desde os ritos de saída da Bandeira, até o rito da Entrega da Bandeira 38 Embaixador, também conhecido como Mestre, que acumula funções administrativas e religiosas. 39 Por ser a Bandeira um objeto ritual de grande valor simbólico nas Folias de Reis, estabelecemos que ela devesse ser grafada com letra maiúscula. 40 Fonte: acervo pessoal 61 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 É importante ressaltar que é de responsabilidade do Embaixador o financiamento da Companhia, ou seja, a administração do dinheiro ou dos donativos recebidos durante as visitas de casa em casa e que constitui parte do recurso para o encerramento solene e festivo da folia 42. Ele também é o responsável pela coordenação e pela obediência de todos os foliões às regras e procedimentos necessários à tradição. É também ele quem cria, muitas vezes como um repentista, os versos principais declamados ou cantados durante a jornada, que será respondido por seu contramestre (ou contraguia, entre outros nomes) completando os dizeres conhecidos pela tradição, e muitas vezes improvisados, conforme as situações encontradas pela folia na visita a uma casa. Tudo de acordo com o que eles chamam de “profecia”, ou seja, de acordo com as passagens bíblicas aludindo à viagem dos Magos do Oriente até Belém, à história de Maria e São José e o nascimento do menino Jesus. Cabe ressaltar que Jesus Menino é o real protagonista que fundamenta a existência devocional da Folia de Reis, é por ele que se peregrina, em Milagre ou em qualquer outro lugar, é ele o responsável pela renovação da esperança. O bandeireiro, que também pode receber outras denominações como bandeirista ou alferes da Bandeira, é a pessoa responsável pela Bandeira e geralmente é aquela que tem alguma promessa feita aos Santos Reis. Os Palhaços ou Bastiões também são responsáveis por procedimentos rituais na folia, como, por exemplo, desvendar desafios propostos pelo dono da casa visitada, pedir a oferta, avisar o Embaixador sobre a oferta recebida, fazer as brincadeiras que alegram a folia, dançar. Existem várias restrições em relação à conduta dos Bastiões numa folia e estes, além de terem um bom conhecimento sobre a profecia, devem manter obediência ao Embaixador. 41 Em 2013 segundo relato do próprio bastião Renato, completou o ciclo de sete anos na folia cumprindo sua obrigação para com os Santos Reis. É residente em São Paulo – capital, no entanto, sua devoção aos Santos Reis, fez com que se deslocasse nesses sete anos para Milagres afim de participar da jornada. 42 Festa do Arremate, geralmente no dia 06 de janeiro. 62 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 343 – Bastião aguardando a folia fora da casa visitada. Os demais foliões são distribuídos de acordo com a entonação de voz para a cantoria e com os instrumentos que tocam. 43 Fonte: acervo pessoal 63 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 4 44– Companhia Estrela Guia preparando-se para executar a meia-lua. Sobre o espaço feminino nas Folias de Reis, gostaríamos de fazer algumas considerações apoiadas nos estudos de Porto (apud MACHADO et.al, 2008, p.64) sobre as Folias de Reis no Sul de Minas, onde ele coloca duas abordagens a respeito da presença/ausência feminina nas Folias de Reis. A primeira remonta a origem da presença feminina nas “Jornadas das Pastorinhas”: [...] eram meninas-moças que, no período litúrgico do Natal, percorriam as casas de famílias citadinas, pedindo esmolas para as finalidades assistenciais. Usavam-se graciosamente da música instrumental e vocal para pedir os donativos e para agradecê-los. As “Companhias de Reis” inicialmente eram uma revivescência no campo daquilo que as pastorinhas faziam nas cidades. Com o passar do tempo, o povo foi criando os ritos, que até hoje são observados com fidelidade. Enquanto que havia criatividade no tocante às letras, eram religiosamente conservadas as melodias, sem dúvida originárias do cancioneiro religioso do catolicismo ibérico 44 Fonte: acervo pessoal. 64 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A outra abordagem se contrapõe à primeira e justifica a ausência da presença feminina nas Folias de Reis com base na historicidade do nascimento de Jesus. Ainda segundo Porto (op. cit. p. 54): [...] os Reis Magos não trouxeram consigo suas esposas; se os foliões levassem mulher na folia, estariam deturpando o sentido da representação; também, dizem outros, nenhuma mulher visitou o presépio de Jesus: admitir mulher entre os foliões, como participante, seria desviar o sentido da dramatização. Embora algumas companhias façam restrição de gênero, excluindo as mulheres das jornadas, isso não foi observado em Milagres. Havia algumas mulheres participando do cortejo fardadas45 e tocando instrumentos e não somente nas atividades domésticas de apoio, necessárias ao bom funcionamento do grupo. Foto 546 – Homenagem dos foliões em agradecimento às cozinheiras. Também pudemos notar a presença feminina no que tange aos cuidados com as crianças, principalmente quando há algum grau de parentesco. 45 46 Utilizando o uniforme da Companhia, que no caso de Milagres na Companhia Estrela Guia é uma camiseta. Fonte: acervo pessoal 65 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FOTO 6 47– Os cuidados da avó com o pequeno bastiãozinho. Fonte: acervo pessoal. A participação da mulher mostra não só uma mudança na tradição, mas uma ressignificação das relações no interior dessas festas. Conforme Guiddens e Hobsbawn (apud Sonza, 2006), as tradições se atualizam incorporando comportamentos sociais que se modificam com o passar do tempo. Como as Folias de Reis são fenômenos culturais complexos, suas verdades estão sempre sendo redefinidas. 47 Fonte: acervo pessoal. 66 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 748 – A presença da mulher na Companhia Estrela Guia, no Distrito de Milagre. Os instrumentos utilizados neste grupo são: viola, violão, violão de sete cordas, cavaquinho, violino, acordeom, pandeiro, bumbo e caixa. No entanto, a utilização deste ou daquele instrumento varia de grupo para grupo, segundo a aptidão dos foliões. A cantoria é um elemento muito importante no rito da folia, uma vez que é responsável pela contextualização dos ritos. É por meio dos cantos que são anunciadas as chegadas (chegada dos Reis Magos), o momento da saudação ao Menino- Deus e que também são feitos os agradecimentos e as despedidas. Alguns ensaios são realizados antes do Natal, mas a jornada se inicia mesmo no dia 24 de dezembro, saindo da capelinha dos Três Reis. A partir desta data até o dia 6 de janeiro, os foliões ficam envolvidos nas tarefas da Companhia, ficam, na medida do possível, em função da jornada, uma vez que muitos têm compromissos profissionais e não podem dispor de muito tempo durante a execução da mesma. Entretanto, dia 6 de janeiro que é quando, geralmente acontece a festa do arremate, ficou homologado como feriado no município de Monte Santo de Minas, e ao menos nesta data os foliões podem dedicar-se inteiramente a sua cultura e devoção. 48 Fonte: acervo pessoal. 67 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 8 49– Almoço na chegada da Bandeira, no barracão ao lado da capela dos Três Reis, em Milagres. Obedecendo a uma hierarquia o ritual da Folia de Reis sempre segue uma sequência. Essa sequência é mais uma manifestação das tradições dentro de uma Companhia de Reis e geralmente é transmitida de pai para filho, de geração em geração. Em frente às casas por onde passam, os foliões cantam versos e pedem que o dono da casa abra a porta para receber os Santos Reis. São cantos que eles denominam cantos de “chegada”. Depois a Bandeira é passada pelo bandeireiro ao dono da casa que a segura e após saudá-la com um beijo, leva-a para dentro da casa, passando-a por todos os cômodos da casa, para que sejam abençoados. 49 Fonte: acervo pessoal. 68 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 9 50– Bandeireiro passando a Bandeira à dona da casa. Os Bastiões (quando são convidados a entrar na casa) entram logo depois da Bandeira, dançando em sintonia com a cantoria, saúdam os donos da casa. Logo um dos bastiões pede a oferta, os foliões agradecem com um canto a oferta recebida, depois a Bandeira é devolvida ao bandeireiro. O bastião convida o dono da casa a participar da festa de arremate. Por fim são cantados os versos de despedida e os foliões saem da casa, sempre atrás da Bandeira até o próximo destino. Na Chegada da Folia ao espaço festivo, onde o Embaixador fará o fechamento da Bandeira, os Bastiões param diante dos três arcos dispostos no caminho até a capela. Eles ajoelham-se a partir do primeiro arco e seguem assim: o Embaixador canta, os foliões cantam respondendo e os bastiões cantam ou recitam uma jaculatória51 que irá se repetir diante dos três arcos até chegar à capela. Segundo relatos dos foliões, cada arco tem um significado e representam a entrada para a gruta de Belém. O primeiro arco anuncia a chegada da Bandeira e simboliza o portão de Belém, por onde os Magos passaram; o segundo anuncia a chegada de Jesus ao Mundo e simboliza a chegada dos Três reis ao local de nascimento do Menino-Deus; o terceiro arco anuncia as bênçãos dos Santos Reis sobre o promesseiro daquele ano e sobre todos os que têm fé e simboliza o encontro dos mesmos com Jesus na manjedoura . 50 51 Fonte: acervo pessoal Oração curta e fervorosa 69 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 10 52– Imagem do terceiro arco, na entrada da capela. . Depois de recitadas as jaculatórias, os foliões entram na capela, os bastiões, já sem as máscaras após fazerem suas orações, também podem entrar. É a partir daí que festejam o nascimento de Jesus, cantam à Sagrada Família diante do presépio. São feitas orações do Pai-Nosso e Ave-Maria, o folião ou qualquer outra pessoa devota dos Reis Magos, nesse momento, também pode fazer uma oração em agradecimento. Em seguida, os foliões podem guardar os instrumentos e retirar a farda para comer e beber as iguarias da festa – que recebe o nome de festa do remate ou arremate, festa esta que é feita em louvor aos Santos Reis e em agradecimento à comunidade pelas ofertas recebidas. Podemos observar que é um momento de grande regalo, com fartura de comidas e bebidas, muitos fogos de artifício e muito alvoroço e alegria na comunidade. Após esta festa, há o ritual de fechamento da Bandeira, onde são renovados os votos do bandeireiro de cuidar da Bandeira até a próxima jornada ou é tomada a decisão da passagem dessa responsabilidade a outro indivíduo. Neste momento é feito o canto da Entrega. Nossa participação nessa festa nos permitiu conhecer alguns elementos importantes que a constituem, além de observar as dificuldades de se levar adiante essa tradição tão rica e tão importante na constituição identitária dos foliões no Distrito de Milagre e patrimônio cultural imaterial daquela comunidade. 52 Fonte: acervo pessoal. 70 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Quando a Folia de Reis se apresenta, é demonstrada a devoção e a fé do folião no que foi ensaiado e apreendido ao longo de seu aprendizado dentro da Companhia em que se filiou. É quando sua comunidade pode conhecer e reconhecer as potencialidades de seu grupo, sua religiosidade, sua manifestação cultural. Como os Reis Magos seguiram a Estrela Guia, a jornada sagrada completa suas obrigações de reciprocidade e estimula os participantes a continuarem sua caminhada. A música, a dança e a oração fornecem o meio para que a jornada se concretize, e, através do verso, estimule o equilíbrio entre o mundano e o espiritual. É através da verdadeira expressão artística da Folia de Reis que seus participantes e pessoas da comunidade manifestam seus desejos e cumprem suas obrigações religiosas e sociais. E, desta forma, através destas manifestações folclórica/culturais, os povos se mostram ao mundo. (CHAVES, 2011, p.60). 2.3 O mito Figura 11 53–. Adoração dos Magos.Fabriano da Gentile. Capela de Santa Trinita, Florença. 1423. Têmpera sobre madeira. Galeria Uffizi, Florence, Itália As Folias de Reis, por intermédio de seus cantos, danças, religiosidade e outros tantos símbolos, fortalecem vínculos de coesão e identidade comunitária e grupal, congregam pessoas para preservação de memórias e conjugam revivescências dos tempos longínquos do nascimento de Jesus na celebração renovada a cada jornada, na esperança de um novo mundo. Partindo desse olhar, a respeito dessa manifestação cultural, observamos que sua expressão guarda uma estreita relação com a vivência mítica. Vivência esta que preserva a identidade e confere sentido à realidade grupal. Frente a isso, propomo-nos a discutir alguns pontos de relação entre os conceitos de Folia de Reis e Mito. Mito é um termo complexo e muito difícil de ser definido. Segundo Crippa (1975), mito é uma manifestação primordial que para quem vive é uma forma de realidade e, para o mundo inteligível que dele nasce, uma totalidade indefinível. Devida à dificuldade de conceituação, 53 Fonte: http://www.abcgallery.com/F/fabriano/fabriano2.html acesso em 28/08/2013. 71 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 especialistas tendem a concordar que mito é um tipo específico de narrativa das origens. Assim, sua função seria revelar o mistério das origens, como se relacionavam e quais eram os modos de ação dos antepassados, por essa característica ele tem o papel de orientar o comportamento de determinado grupo e revela modelos exemplares que fundamentam atividades e interações humanas. Além disso, o mito é uma experiência de realidade que permite entender a existência e confere sentido ao “mundo” de determinado grupo. E, no que primordialmente interessa a esse momento do nosso estudo – fundamenta rituais. Partindo dessa argumentação, retomemos as narrativas míticas que sustentam as festas de Folia de Reis. A mais tradicional se baseia nas passagens bíblicas em que o evangelista Mateus, narra o nascimento de Jesus, a viagem e o encontro dos magos com o menino. De certa maneira, na realização das festas de Folia de Reis, o núcleo dessa narrativa é mantido ao mesmo tempo em que são agregados a narrativas elementos comuns a cada grupo, a cada companhia. A apropriação e a recriação do evento mítico, segundo a situação vivencial do grupo, dão origem a processos rituais diferentes, o que reforça sua riqueza enquanto manifestação. As possibilidades de interpretação e reinterpretação dos relatos sagrados justificam, por exemplo, o fato de a tradição popular atribuir aos magos os títulos de “reis” e santificá-los pela religiosidade popular. É em torno dessa crença que se renovam e perduram as Folias de Reis, através da devoção nos poderes milagrosos dos “Santos Reis” que as pessoas fazem promessas e oferendas, estabelecendo acordos simbólicos com esses entes míticos. Acompanhando a Companhia de Reis Estrela Guia, de Milagres, pudemos observar que ela busca preservar os mitos originais da Folia, no entanto, recontam a mesma história de maneira peculiar, imprimindo características específicas do grupo, como, por exemplo, ressaltar em suas histórias a importância da estrela guia – elo de comunicação entre o mundo natural e o sobrenatural, símbolo sagrado que orientou os Magos em sua jornada e continua a orientar e iluminar os foliões – representantes dos mesmos. Muitos devotos pedem a estrela guia que norteie suas decisões e de seus familiares, lembrando que foi por meio dela que Deus transmitiu sua mensagem aos magos e assim a profecia do nascimento de Jesus pôde se realizar renovando a esperança. Cada elemento da Folia possui um sentido mítico, que remete à narrativa de suas origens. A tradição popular também nos oferece outra interpretação mítica das passagens sagradas que sustentam as Folias de Reis. Vamos recontá-la aqui de maneira que fique claro que essa interpretação nos foi transmitida por tradição oral, portanto por nós apropriada. Ela nos conta que, ao avistarem a Estrela Guia, os Magos Gaspar, Melchior e Baltazar, cada qual em seu reino, entenderam o sinal divino e seguiram em jornada a procura do local onde haveria de ter nascido Jesus. Ao encontrá-lo em Belém, os Três Reis reconheceram sua realeza e santidade e prostraram-se diante dele para adorá-lo e presenteá-lo. Ofereceram ao menino ouro, incenso e mirra, que simbolizavam a realeza, a divindade e mortalidade. No entanto Maria não pode aceitar a oferta de ouro, pois Jesus havia de ser um rei que exaltaria os humildes. Então, os reis Magos saíram pela vizinhança tocando e cantando a chegada do Menino-Deus e pedindo donativos para distribuir aos humildes em sua homenagem. “Os três reis na sua chegada ofertaram seus presentes Era incenso, mirra e ouro pro menino onipotente A virgem tão contente: o incenso eu posso aceitar O presente é tão sagrado pra santificar meu altar Mas a virgem contrariou a mirra e o ouro O menino nasceu pobre não podia ter tesouro” (Versos citados por Bastião do grupo “incenso, ouro e mirra”, Distrito de Milagres– MG ) 72 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Assim, essa outra reinterpretação mítica nos remete às origens das Folias de Reis. Existem tantas outras, variando de grupo para grupo, mas todas exaltando a importância dos Santos Reis, justificando e conferindo o sentido sacralizado dos rituais. Pode-se perceber a revivescência da narrativa mítica em três momentos marcantes nas Folias de Reis: a jornada (que remete à viagem dos Três Reis, guiados pela Estrela Guia); a visitação das casas (remete à visita dos Reis Magos ao menino Jesus, representado no presépio); e a despedida (que remete ao retorno dos reis aos seus reinos). 2.4 O rito O rito é a expressão encarnada, materializada do mito, é sua força de exaltação – representa sua capacidade de ser vivido e repetido. Isso somente é possível através de um conjunto de práticas estabelecidas segundo uma sequência, ou seja, um conjunto de ações e ou palavras ordenadas de forma sequencial que permite ao homem recriar o tempo, recuar aos primórdios, conferindo a ele um poder mágico-religioso sobre aquilo que o rodeia. Para melhor entendermos a questão ritualística dentro das festas de Folia de Reis, temos de recorrer à ciência que mais tem se debruçado sobre o assunto – a Antropologia. Em breves palavras, utilizando uma das linhas mestras do pensamento antropológico acerca dos rituais, baseamo-nos nos estudos do escocês Victor W. Turner, (que, desde a década de 60 até os dias atuais, representa em sua abordagem referências clássicas obrigatórias no campo antropológico). Para Turner (apud, O’NIEILL, 2008, p.11) os rituais são um “processo social altamente complexo e intrincado que, em vez de ser algo mecanicamente rotineiro, tende a incorporar ações, inversões e contestações à ordem estabelecida. É a partir dessa abordagem, mas não a tomando como única orientação, que iremos nos remeter às Folias de Reis. Visaremos o espaço da festa para refletir a respeito dos rituais. Isto posto, é necessário lembrar que as manifestações ritualísticas já estão presentes mesmo antes do início da jornada com os preparativos referentes às vestimentas, à culinária e à arrumação das casas que irão receber a bandeira, entre outros. Sobre os rituais coloca Geetz (1989, p.128): É no ritual – isto é, no comportamento consagrado – que se origina, de alguma forma, essa convicção de que as concepções religiosas são corretas. E em alguma espécie de forma cerimonial – ainda que essa forma nada mais seja que a recitação de um mito, a consulta a um oráculo ou a decoração de um túmulo – que as disposições e motivações induzidas pelos símbolos sagrados nos homens e as concepções gerais da ordem da existência que eles formulam para os homens se encontram e se reforçam umas às outras. As Folias de Reis observadas pelo viés da relação mito/rito, podem ser tomadas como rituais de rememoração mítica e celebração do nascimento de Jesus, que atualizam todos os anos a jornada dos Reis Magos que saíram de suas terras para encontrar o “Rei dos Reis”54 . Geralmente, os rituais de atualização se iniciam na noite do dia 24 ou no dia 25 de dezembro, data em que tradicionalmente se celebra o nascimento do Menino-Deus e terminam no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, (em alguns casos e Companhias estas datas podem variar). No caso da Folias de Reis, podemos abordar a questão do rito, classificando-o em dois momentos. O rito profano, no que se refere a um conjunto de práticas realizadas pelos foliões que remetem à festa (a dança, a conversa descontraída, a contação de histórias entre os membros do grupo e, em alguns casos, a bebericagem 54 Remetendo às falas de muitos foliões. 73 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 de água ardente55) e o rito sagrado, que remete às práticas da religiosidade popular como, por exemplo, a recitação dos versos aludindo à Sagrada Escritura, a cantoria dentro das casas visitadas, as rezas e os gestos de submissão ao poder sagrado dos Três Reis, como, por exemplo, o ritual dos Bastiões que se ajoelham no caminho, representado pelos arcos até a capela. Assim, a função social do rito nas Folias de reis é contribuir para a manutenção da coesão grupal, uma vez que através dos rituais os foliões afirmam suas crenças, valores, cultura, suas histórias, e são vividos não apenas como manutenção dos costumes transmitidos de geração em geração, mas como forma de sobrevivência daquela comunidade em determinado molde. Ainda segundo Turner (op. Cit.), o ritual, a longo prazo, tem o efeito de manter e reproduzir as funções essenciais de um grupo social. A fim de referendar o exposto, recorremos às palavras de Sonza (2006, p. 49): “Os rituais são ricos em simbolismo carregados de sentidos múltiplos e simultâneos que refletem o imaginário cultural e afetivo dos participantes. Os rituais permitem conhecer o mundo, criando outro análogo a ele”. Ao reviver o mito através dos símbolos, as Folias de Reis criam e recriam um universo mágico-religioso que remete a um tempo sagrado, renovando a esperança da dádiva e da alegria. Os que recebem Santos Reis entende-se que aceitam as regras da jornada: dar, receber, retribuir. Cada parada da Folia em um giro ou em um pouso repete uma vez mais a mesma sequência de atos: o dono da casa é obrigado a receber os foliões que, por sua vez, são obrigados a se apresentar e a pedir para serem recebidos; o dono da casa é obrigado a dar alimentos e hospedagem nos pousos, e a Folia é obrigada a recebê-los e agradecer, abençoando por isso; o dono, outros moradores e promesseiros são obrigados a dar alguns dos seus bens como ofertas pedidas, e os foliões são obrigados a retribuir distribuindo bênçãos, proclamando o feito e atualizando promessas aos Reis (BRANDÃO, 1981, p.44). E por isso, esses breves apontamentos a respeito desses sistemas de comunicação simbólicos foram abordados no presente estudo. 55 Algumas Companhias têm o hábito de servir água ardente a seus foliões. Por vários motivos, alguns dizem que é pra limpar a voz, outros assumem o caráter lúdico da bebericagem e bebem para “descontrair”. No entanto, algumas Companhias ligadas de maneira mais contundente às praticas devocionais consideradas por eles sagradas, não aceitam o consumo de bebidas alcoólicas durante as jornadas. 74 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 11 56- Ritual em que os bastiões tiram a máscara para adentrar a Igreja. CAPITULO III - OS FAZERES E OS SÍMBOLOS O MISTÉRIO DAS COUSAS O mistério das cousas, onde está ele? Onde está ele que não aparece Pelo menos a mostrar-nos que é mistério? Que sabe o rio disso e que sabe a árvore? E eu, que não sou mais do que eles, que sei disso? Sempre que olho para as cousas e penso no que os homens pensam delas, Rio como um regato que soa fresco numa pedra. Porque o único sentido oculto das cousas É elas não terem sentido oculto nenhum, É mais estranho do que todas as estranhezas E do que os sonhos de todos os poetas E os pensamentos de todos os filósofos, 56 Fonte: acervo pessoal 75 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Que as cousas sejam realmente o que parecem ser E não haja nada que compreender. Sim, eis o que os meus sentidos aprenderam sozinhos: — As cousas não têm significação: têm existência. As cousas são o único sentido oculto das cousas. do “Guardador de Rebanhos” – Alberto Caeiro) 3.1. – O Fazer Artístico Popular A respeito do fazer artístico popular comecemos por elencar aspectos que o distingue do fazer artístico erudito. Esses conceitos podem ser interpretados de maneira antagônica, complementar ou concordante, uma vez que não existe uma definição clara e precisa das realidades a que eles se referem. Ficamos aqui apenas com diferenciações, com aspectos que percebemos delimitar um certo limite entre popular e erudito. Um desses aspectos diz respeito à questão da autoria e em correlação com ela as noções de originalidade e inovação. Nas culturas subalternas, o fazer artístico tradicional valoriza a criação dentro dos paradigmas da tradição, ou seja , a inovação pode acontecer , desde que não se transfigure o legado dos antepassados. Podemos utilizar como exemplo o uso dos improvisos poéticos nos versos cantados das Folias de Reis. Esses improvisos contemplam a originalidade nos versos, mantendo, contudo, a toada – legado das gerações passadas. Neste contexto, percebemos que as contribuições pessoais passam a pertencer ao grupo, adquirindo uma dimensão coletiva. Outro aspecto que distingue o fazer artístico popular, típico das classes subalternas, dos fazeres artísticos eruditos é que ele está na maior parte das vezes associado às celebrações de natureza religiosa. As relações humanas, e dos homens com a esfera sagrada se encontram no centro desse fazer artístico. Suas formas de expressão não se destinam unicamente a entreter e nem se apresentam meramente como espetáculos. É uma arte com função social, uma vez que não se dissocia das vivências cotidianas da comunidade, não se constitui de maneira separada da vida social do grupo. Segundo Ayres (apud Saldanha 2008, p.107): Num sentido mais alargado, a «arte popular» tem sido entendida como aquela arte que se desenvolve fora dos cânones de gosto estabelecidos por, ou para os líderes de uma dada sociedade, onde a tradição desempenha um papel preponderante, em termos de conteúdo, de temas e utilização, mas também de estrutura, técnicas, instrumentos e materiais A arte popular e seus fazeres artísticos não se separam de seus contextos humanos, assim como não são separáveis as várias linguagens artísticas utilizadas em suas formas de expressão. Diferentemente do que ocorre nos setores da produção artística erudita, os detentores das expressões artísticas populares e seus intérpretes (mestres, mascareiros, músicos, bailarinos, cozinheiros, etc.), são reconhecidos em suas comunidades como artistas, muito embora, não haja uma separação nítida entre quem “produz” e quem “consome” a arte, uma vez que todos são participantes do evento festivo, todos são componentes da Festa. A Festa é um evento coletivo onde toda a comunidade em suas relações se envolve nos fazeres artísticos, compondo uma obra. Na apresentação de uma Folia de Reis estão presentes simultaneamente os cantos, a poesia, a dança, a execução de instrumentos musicais, o versejar, a representação dramática, a indumentária, a culinária, compondo uma obra multiperformática coletiva. Nesse fazer artístico popular, manifesta-se a presença do sagrado e a divisão do espaçotempo do homem através das marcas das celebrações. Por serem transmitidos, em grande parte, por 76 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 vias de oralidade, esses saberes e fazeres artísticos se constituem em manifestações de uma cultura de resistência àquela que se impôs historicamente como cultura oficial, pois prescinde da escrita para sua permanência e transmissão. Nos contatos que fizemos com essa arte coletiva, pudemos compreender que é fazendo a arte popular que se preserva tal patrimônio, é participando que se aprende na própria comunidade, o saber e o fazer tradicional que segue pulsando nas veias, nas mãos, nas ideias, na imaginação das camadas mais simples da população. Como os Reis Magos seguiram a Estrela Guia, a jornada sagrada completa suas obrigações de reciprocidade e estimula os participantes a continuarem sua caminhada. A música, a dança e a oração fornecem o meio para que a jornada se concretize, e, através do verso, estimule o equilíbrio entre o mundano e o espiritual. É através da verdadeira expressão artística da Folia de Reis que seus participantes e pessoas da comunidade manifestam seus desejos e cumprem suas obrigações religiosas e sociais. E, desta forma, através destas manifestações folclóricas\ culturais os povos se mostram ao mundo (CHAVES, op. cit. p. 60). Foto 12 57-Folia de Reis - arte popular onde o fazer artístico se coletiviza 3.2 - Os Símbolos Os elementos simbólicos nas Folias Ao longo da história da humanidade, podemos perceber que homem manifestou desde os primórdios a necessidade de crer em algo divino. Essa necessidade se apresentou e se apresenta de diversas formas, mas existe entre elas a busca de diferenciar o sagrado do profano. A fim de melhor entendermos o sagrado e o profano devemos considerá-los um em oposição ao outro. O sagrado tem relação direta com a ordem divina, o profano não. A manifestação da cultura popular – Folia de Reis, apesar de ser considerada por muitos autores uma festa sacro-profana, tem aqui no Brasil, um caráter mais religioso do que profano, pois, a partir dela, tem-se a expressão de devoção e agradecimento ou cumprimento de alguma promessa, reproduzindo simbolicamente a visita dos Reis Magos à Belém. Para o folião, a folia é em si mesma um acontecimento de valor religioso. Quando o embaixador ou o gerente se dirigem aos seus “companheiros”, sempre se acentuam duas coisas: o caráter sagrado do ritual e a obrigação contraída de realizá-lo uma vez por ano (BRANDÃO, 2004, p.383). Há nas Folias de reis toda uma ritualização que distingue o sagrado do profano, ações (ritos) e objetos simbólicos (bandeira, presépio, arcos, etc.) que permitem uma apropriação de uma visão 57 Fonte: acervo pessoal 77 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 de mundo. Desde as orações cantadas, as danças, as flores e fitas colocadas na bandeira, a forma como são confeccionadas as indumentárias, sobretudo as máscaras dos bastiões, o modo como guardam os instrumentos ao fim da jornada, enfim, tudo isso, forma um interessante ritual cultural repleto de simbolismo. Simbolismo este que pretendemos abordar, de maneira mais pormenorizada, a partir daqui. Abordaremos alguns elementos das Folias de Reis, ricos em simbolismo que visam rememorar as passagens míticas, agregadas às ressignificações58 originadas da tradição oral. 3.2.1 – A BANDEIRA A Bandeira é um objeto de grande valor simbólico e ritual para os devotos- foliões de Santos Reis. Ocupa lugar central em diversas manifestações religiosas. Nas Folias de Reis, é tomada como um meio privilegiado de intermediação com o sagrado. Neste contexto, sua importância pode ser resumida na crença de que a Bandeira é capaz de distribuir graças, dádivas, curar, proteger de infortúnios, propiciar ganhos materiais e imateriais. Pudemos observar que os devotos esperam que as graças venham diretamente da bandeira (objeto material) através do contato ou da proximidade com a mesma. Assim, a Bandeira confunde-se com as próprias divindades que representam. Segundo uma história recolhida pela tradição popular, a Bandeira simboliza o manto do menino Jesus, ofertado por Maria aos Reis Magos para que espalhassem a boa nova por onde passassem. Dentro de uma Companhia de Reis é o elemento mais respeitado e também lhe serve de identificação, uma vez que, muitas vezes, o nome do grupo é bordado em seu tecido. Ao longo da jornada, a Bandeira recebe diversos elementos que passam a fazer parte de sua estética: fitas coloridas, flores de papel ou plástico, fotografias, notas de dinheiro, mechas de cabelos entre outros. Também denominada “Doutrina”, a Bandeira é, geralmente, confeccionada com tecido brilhante e vistoso. Nela é pintada, colada ou bordada a imagem dos Três Reis Magos; algumas carregam também a imagem da Sagrada Família ou de uma pomba, simbolizando o Espírito Santo. A maior parte das Bandeiras é produzida localmente, às vezes por artistas, outras vezes por pessoas habilidosas no desenho e na pintura. No mais das vezes, as imagens representadas são cópias das encontradas no mercado, onde a inventividade reprocessa a iconografia consagrada pela produção em massa. Muitos devotos beijam a Bandeira demonstrando grande emoção ao recebê-la em suas casas enquanto os foliões cantam diante do presépio. O objeto de devoção pode ser levado por toda a casa, a fim de abençoar e proteger os locais por onde passar. “No universo cultural de nosso povo, a Bandeira é a representação dos três Reis; por isso, explicam os Mestres, ela deve ir sempre à frente pelos representantes dos pastores que seguiram os Reis Magos” (PORTO, 1982, p. 19). 58 Essas ressignificações se referem às modificações que esses elementos sofreram ao longo da História, sendo-lhes acrescidos novos significados, sem que, contudo, perdessem a estrutura do símbolo. 78 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 13 59– A Bandeira da Companhia “Os Dragões de Santos Reis” Foto 14 60- Devota segurando a Bandeira da Companhia “Estrela Guia” de Milagres 59 Fonte : Acervo pessoal Fonte: Acervo pessoal. 60 79 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 3.2.2 - A estrela guia A estrela guia faz parte do conjunto de símbolos sagrados dos devotos das Folias de Reis, pois os Reis Magos foram por ela guiados até onde se encontrava o Menino-Deus, e, assim como serviu de guia aos Santos Reis, também serve de guia a seus devotos que cantam para ela, pedindo proteção e direção nos caminhos para que sua jornada seja cumprida com êxito. Algumas companhias prestam homenagem à estrela guia, batizando suas companhias com nomes que lhe fazem referência. Como a Companhia de Reis “Estrela Guia” de Milagres, referência nesse estudo. Percebemos que para os devotos a estrela guia representa um sinal de comunicação da esfera do sagrado e que homens que até aquele momento eram comuns, a partir da capacidade de codificar esse sinal (o aparecimento da estrela guia), tornaram-se santificados. Vista pela tradição popular como sinal de cumprimento da profecia de que nasceria um Menino-Deus, os homens (Magos) que entenderam a mensagem divina passaram a ser dignos de devoção. Apresentamos a seguir a letra de uma canção gravada por Tonico e Tinoco que faz referência a esse importante símbolo nas Folias de Reis: Estrela do Oriente Eu olhei lá no horizonte e vi a estrela da guia, anunciando a todo o mundo que o menino Deus nascia. Ai, ai. Os três Rei está vortando, trazendo paz e alegria, traz a bênção do Senhor, e o fio de Maria. Ai, ai. Pro caminho de São Tiago uma estrela apareceu, e guiando os três Rei Mago em Belém ela desceu. Ai, ai . Vinte e cinco de dezembro, não se deita no corchão, Jesus Cristo foi nascido na paia seca do chão. Ai, ai. 80 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 15 61- Folião com a indumentária da Companhia 3.2. 3- A meia lua A meia lua é uma evolução tradicional dentro das Folias de Reis. Os devotos-foliões a justificam como representação da contribuição dos Reis Magos para que o Rei Herodes não encontrasse o menino Jesus. Conta a tradição que, ao regressarem para suas terras, os Magos passavam várias vezes pelo mesmo caminho a fim de desviar os soldados de Herodes do caminho que levaria até o Messias, preservando-lhe a vida. A meia lua simboliza esse percurso e é uma coreografia, uma espécie de dança observada também em outras manifestações populares como Congadas e Festas do Divino. 61 Fonte: arquivo pessoal. 81 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 16: 62foliões da Companhia “Estrela Guia” executando a meia lua. 3.2.4 – O presépio A etimologia da palavra presépio remete a curral, lugar onde se recolhe o gado e representam o estábulo em que Maria deu a luz em Belém e as cenas que se seguiram. O presépio é a representação material do contexto enunciado na Bíblia por ocasião do nascimento de Jesus. É também um elemento de importante significado no universo das Folias de Reis. Podemos descrever uma possível organização do evento com a presença do Menino Jesus entre dois animais (uma vaca e um burro), acompanhado de sua mãe Maria e por José e, perante eles, pastores, anjos e Reis (Magos) a adorá-lo e a presenteá-lo. Em algumas representações, como o presépio montado na capela dos Três Reis, em Milagre - os Reis Magos aparecem em diferentes formatos e tamanhos, em outras é possível perceber elementos não originários da cena mítica, como outras imagens de santos e santas. Com isso, podemos observar que o catolicismo popular não está preso à rigidez dos dogmas, ele se reinventa à medida das necessidades de sua comunidade. 62 Fonte: arquivo pessoal 82 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O presépio representa simbolicamente a possibilidade e a tentativa do homem de se renovar, de renascer. Ao celebrar o nascimento de Jesus, festejando o nascimento do Homem Novo, o presépio representa para os devotos de Santos Reis a renovação da Humanidade. Foto1763- Presépio diante do qual cantaram os foliões da Companhia “Estrela Guia”, de Milagre. 3.3 - A performance A perfomance devocional ou ritual se apresenta como um elemento crucial nas formas de configuração do sagrado que emergem das relações entre devotos e santos nas festas de Folia de Reis. A performance ritual, assim como a Bandeira e outros elementos considerados sagrados dentro das Folias de Reis, se apresenta como campo de conexão, de intermediação entre as dimensões físicas e espirituais, tanto do corpo do devoto- folião, quanto do grupo. A presença dos símbolos remetentes dos Santos Reis corporifica a presença dos mesmos. Essa presença, esse “olhar” do sagrado para os devotos-foliões é uma forma de controle das relações sociais na performance ritual das Folias e oferece um espaço de liberdade, sobretudo através das danças que geralmente são praticadas nas ruas, ou seja, fora do espaço sacralizado das casas visitadas pela Bandeira. As Folias de Reis são verdadeiras encenações a céu aberto que têm como cenário as ruas e praças públicas das cidades. Representam ao mesmo tempo performances cotidianas e performances culturais com características ligadas a representação teatral. Podemos entender a performance nas Folias de Reis como performances sociais cotidianas que se transformaram em performances culturais. No entanto, neste caso, não se pode associá-las em termos absolutos, uma vez que na performance social cotidiana não há possibilidade de cortes, repetições, pausas, como ocorre com os atos performáticos de caráter teatral. Para melhor entendermos esta ligação, foi necessário lançar olhares sobre as memórias de uma Companhia de 63 Fonte: Arquivo pessoal 83 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Reis. Assim, relacionamos as ações que têm constância no espaço-tempo das Folias de reis e que compõem narrativas que sustentam os processos de identificação da comunidade. Uma das dimensões performáticas do ritual se dá nas visitas às casas dos devotos, ou seja, o “giro”. Há um processo de sacralização do espaço doméstico dado pela passagem da Folia. Neste caso, não é o devoto que vai à Festa, a Festa é que é levada pelos foliões à casa dos devotos. Esses devotos, ao abrirem suas casas para a Folia de Reis passam a fazer parte do ritual atuando nele e sobre ele. Portanto, a eficácia simbólica da performance é inseparável do tipo de interação estabelecida tanto em termos da ritualização social como em termos de performance cultural de caráter teatral. A prática de levar a Bandeira pelos cômodos da casa a fim de abençoá-la somente fará sentido quando o devoto decodifica o símbolo (Bandeira), compreende e reafirma sua função simbólica e oferece a contrapartida aos foliões, é a partir dessa troca simbólica que a performance ritual se torna cultural. É possível também que apreciemos a performance cultural de caráter mais teatralizado em alguma apresentação das Folias de Reis. Atualmente elas acontecem até mesmo fora da época de seu ciclo (ciclo natalino), no entanto, sem o conhecimento do mito, dos ritos, das trocas simbólicas que proporcionam e representam, há um esvaziamento de sentidos que dirige nosso olhar a espetacularização pura e simples de uma manifestação cultural muito mais profunda e profícua. 84 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 18 64– A performance do Bastião declamando versos da profecia CAPÍTULO IV - OS FAZERES ARTÍSTICOS COMO AVATARES DA CULTURA SUBALTERNA A Festa de Santo Reis 65 Hoje é o dia do Santo Reis Anda meio esquecido Mas é o dia da festa do Santo Reis Hoje é o dia do Santo Reis Anda meio esquecido Mas é o dia da festa do Santo Reis Eles chegam tocando sanfona e violão Os pandeiros de fita carregam sempre na mão Eles vão levando, levando o que pode Se deixar com eles, eles levam até os bode É os bode da gente, é os bode mééé... É os bode da gente, é os bode mééé... Hoje é o dia do Santo Reis (hum...) Hoje é o dia do Santo Reis (Hoje é o dia) Hoje é o dia do Santo Reis (É o dia da festa) (Márcio Leonardo) 4.1 Algumas considerações Neste quarto capítulo pretendemos problematizar Folias de Reis como espaços onde o fazer artístico pode ou não vincular-se como avatar às classes subalternas. Para tanto, é necessário uma pequena digressão histórica que nos reportará ao início do século XX, tempo em que as práticas religioso-devocionais são retomadas no país, no entanto, sem o prestígio social dos tempos coloniais. Neste período, as festas da religiosidade popular permanecem, mas somente entre a classe subalterna, entre as camadas mais simples da sociedade. Para melhor chegarmos à questão que move esse estudo, é preciso explicar o que aqui representam as ideias de “fazer artístico”, “avatar” e “classes e cultura subalternas” e a implicação desse “fazer artístico” na representatividade do rito da Folia de Reis que possam levar a confirmação ou negação da hipótese levantada no início deste estudo. A discussão dos dados se baseará num referencial de orientação histórico-dialética, sobretudo com contribuições do pensador Antônio Gramsci. 64 Fonte: Arquivo Pessoal Disponível em<http://www.vagalume.com.br/tim-maia/a-festa-de-santo-reis.html#ixzz2lmRJaVxe> Acesso em 12/11/2013 65 85 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 4.2 As Classes e a Cultura Subalternas Figura 12 66 JOSÉ ASSUNÇÃO - Folia de Reis - 36 x 63 – 1975 4.2.1 – Antônio Gramsci e a Cultura Popular Procuramos apresentar aqui um resumo muito sintético das ideias do pensador italiano Antônio Gramsci relacionados à religião e cultura popular, fazendo relações e observações que permitem aplicá-las ao estudo do catolicismo popular, especialmente em função de nossa pesquisa. Gramsci concentrou suas análises no papel da cultura e dos intelectuais para os processos de transformação histórica. Para melhor entendê-las é necessário conhecer o conceito de hegemonia – um dos pilares de seu pensamento. Nesses moldes, entende-se por hegemonia as relações de dominação de uma classe social sobre o conjunto da sociedade. Essas relações se mantêm por intermédio de dois elementos; a força – exercida pelas instituições jurídicas e políticas e manifestada através de ações de controle policial-militar; e o consenso que se manifesta na forma de um conjunto de regras comportamentais e de valores morais conquistados entre a maioria de uma sociedade através de liderança ideológica. Para ele seria necessário primeiro dominar mentes, depois se conquistaria o poder. Neste contexto, é que se dá a importância do intelectual no processo de transformação histórica, uma vez que este pode mediar uma “tomada de consciência” por parte dos dominados, de seu valor histórico e assim tornar-se capaz de reivindicar uma vida digna. Considerando que todos os homens são filósofos, Gramsci se interessa pela filosofia espontânea que se expressa no senso comum, na religiosidade popular, no folclore – reflexo das condições de vida cultural do povo67. O conceito de folclore em Gramsci (apud Satriani,1986, p.30) é o de uma concepção de vida e mundo peculiar das classes populares, dos “homens simples” em contraposição a da classe dominante. “É uma concepção do mundo não elaborada e sistemática, do modo que se pode falar de um aglomerado indigesto de fragmentos de todas as concepções do 66 67 Fonte: http://joserosarioart.blogspot.com.br/2011/09/jose-assuncao.html A palavra “povo” aqui pode ser tomada como sinônimo de classe subalterna. 86 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 mundo e da vida que se sucederam na história”. Contudo, para o “homem simples” portador desse folclore ele consiste num todo integrado e coerente. Vejamos o exemplo da medicina popular que procura ver a pessoa de maneira global e não apenas aspectos isolados – como na medicina oficial. Nas Folias de Reis, outro exemplo – domínios do social, do econômico, do familiar, do religioso, do recreativo, estão relacionados e integrados. Assim, o folclore é o patrimônio coletivo das classes dominadas. É ao mesmo tempo produtor de uma cultura de contestação, uma vez que se configura como resistência em relação à aculturação, à absorção pelo sistema cultural “oficial” e, no entanto, uma parte desse mesmo folclore agrega valores totalmente aceitos pela cultura dominante, revelando certo conformismo. Satriani (op.cit. p.80) propõe: a interpretação do mundo popular, visto como produtor de uma cultura de contestação e possuindo também uma função de adaptação à sociedade de classes. Acha que não se pode prescindir desta bipolaridade do folclore, que apresenta cargas contestadoras e cargas imobilizantes. Segundo o pensamento gramsciano é salutar sabermos dessa ambiguidade do folclore para trabalhar lucidamente com a população subalterna, na perspectiva de libertação que seu ideário propõe. Isto posto, podemos analisar o folclore e a Folia de Reis enquanto representante da religiosidade popular na perspectiva do pensamento de Gramsci, considerando-a como produto das classes subalternas. É uma herança cultural, oriunda da miscigenação cultural dos povos que constituíram o país, desde o período colonial. É uma manifestação do catolicismo popular. Constitui de fato, manifestação da cultura popular, que se contrapõe à cultura oficial, hegemônica, numa sociedade que se pretende branca e católica. Nas Folias de Reis, assim como em outras manifestações da cultura popular, podemos encontrar conteúdos contestadores e conteúdos conformistas. Entre os conteúdos contestadores, podemos citar o caráter sacro-profano de alguns ritos, como por exemplo, a chula dos palhaços 68. Entres os conteúdos tendentes a manter o “status quo” podemos indicar a submissão à autoridade e o respeito à hierarquia. 4.2.2- Classes Subalternas À realidade brasileira corresponde uma série de organizações e ações de sujeitos históricos e políticos, que constroem projetos coletivos numa perspectiva de classe. Podemos colocar, grosso modo, que em relação a isso o quadro brasileiro evidencia de um lado – a força da classe dominante, exercida econômica e politicamente, e a classe subalterna representada pela classe trabalhadora, que não detém os meios de produção material e cultural, ou seja, as classes subalternas são aquelas que estão sob o domínio econômico, político e ideológico da classe dominante – detentora do capital. A superação da condição de subalternidade requer, para Gramsci, a construção de novos modos de pensar, a elaboração de uma concepção de mundo crítica e coerente, necessária para suplantar o senso comum e tornar as classes subalternas capazes de produzir uma contra-hegemonia. (SIMIONATTO, 2009, P.43) 4.2.3 - Cultura Subalterna Relacionando o que fora exposto nos subcapítulos supra citados, cultura subalterna é a produzida pela classe subalterna, pelo “homem simples”. No que diz respeito a este estudo, cultura subalterna está relacionada à cultura rural, do homem do campo, trabalhador que não detém os 68 Segundo a tradição popular, Dança ritual dos bastiões (palhaços) nas folias de reis. 87 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 meios de produção. É neste contexto que entendemos a cultura popular e a manifestação folclórica que engendra as festas de Folia de Reis – objeto de nosso estudo. Segundo o pesquisador do pensamento gramsciano, Satriani (1986,p.49): [...] ao se estudar a cultura de uma sociedade ou qualquer subcultura, não se pode deixar de levar em conta as distinções de classe, e que, numa cultura nacional, será fecundo cientificamente distinguir uma cultura hegemônica, das classes dominantes, e uma cultura subalterna, das classes dominadas. 4.3 - O avatar A palavra avatar vem do sânscrito e significa descida do céu à terra. É a transfiguração de uma essência divina numa materialidade terrena. Esta palavra empregada em diversos contextos e com diferentes significados de uma cultura para outra pode ser vista a partir disso como uma “expressão”. A expressão avatar em algumas culturas orientais tais como as da Índia, Nepal, Indonésia, tem a predominância de sentido na palavra de divindade. Já para a cultura ocidental, esta expressão ou conceito está mais ligado a cibercultura, no contexto dos jogos eletrônicos, o avatar é a representação do jogador naquele ambiente. Nas novas mídias como blogs, twitter, facebook o termo também é cunhado e aparece como a representação de uma pessoa online ou em qualquer lugar. Todas essas apropriações do termo amparam o argumento de que o avatar possui uma função didática, como facilitador de um mecanismo de identificação do interator com o contexto cultural. É a partir dessa função que ele nos interessa. Neste estudo, avatar corresponde ao mecanismo facilitador de identificação entre um fazer artístico e uma classe social, a que nos interessa notadamente aqui é a classe subalterna nas Festas de Folia de Reis. Tomaremos a partir daqui o Distrito de Milagre em seus festejos de Reis. Sem a intenção de esgotar o assunto, optamos por não tomar os fazeres artísticos de uma maneira geral, uma vez que percebemos que em alguns existe uma identificação avatártica com a cultura subalterna, em outros, notamos que o processo de hibridização cultural não permite afirmá-la. 4.4- A Cantoria A comunicação através da voz é uma prática que remonta aos primórdios da história das civilizações a até hoje acontece, como importante meio comunicacional de diversas formas em diversos contextos culturais. Dentre os elementos do cortejo de uma Folia de Reis, a cantoria é essencial, percebida pelos foliões-devotos como sagrada. Os cantos relatam profecias com a temática dos Três Reis e o nascimento de Jesus, também são característicos relatos de gratidão e fé aos Santos Reis. Durante o “giro” a música é permanente e fundamental, a cantoria ocupa lugar de destaque narrando os acontecimentos que marcam as diferentes ritualizações dentro da Folia através dos versos cantados, que podem tanto ser improvisados como tradicionais em relação ao momento da performance ritual, operando como elemento de comunicação com a esfera do sagrado. Cada tipo de canto remete a um conteúdo que direciona o “giro”. Por exemplo, no canto de chegada o mestre canta pedindo para o devoto deixar a companhia entrar em sua residência. No canto de louvação do presépio, é preciso destacar a viagem dos Santos a Belém. No canto de oferta, o mestre pede um donativo para a festa de Reis e o agradece através do canto de agradecimento (FALCHETTI, GUIMARÃES E MIRANDA, 2012, p.5). A voz performatizada através das cantorias é um elemento constitutivo da memória do grupo. Memória essa que passa por processos de transformação constante, uma vez que são 88 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 transmitidas via cultura oral e mesmo que se remeta a um passado ancestral a mutabilidade que a oralidade carrega engendra ressignificações na cantoria. Os versos podem ser improvisados, mas, a linha melódica é sempre a mesma. A companhia “Estrela Guia” utiliza, em grande parte da performance ritual, a toada mineira onde nota-se mais acentuadamente os instrumentos harmônicos como o violão, a viola, o cavaquinho e a sanfona. Os instrumentos de percussão em seus ritmos também são relevantes para a companhia, deflagrando toda uma carga emocional e reforçando os versos cantados pelos foliões. A música na Folia de Reis traz a marca da sensibilidade dos foliões que, contrastando com seu cotidiano de trabalho duro, se revela na leveza de uma cantoria ao mesmo tempo rústica e delicada. Simples em sua harmonia e complexa na sobreposição e encaixe das vozes. Na cantoria o Mestre tem entre as suas mais importantes funções a de improvisar os versos que serão cantados; o Contramestre, também chamado “respondedor” é a 2ª voz e sua função é comandar o coro de foliões; o Contrato ou Contralto é também chamado de ajudante do “respondedor, faz dueto com a 2ª voz; o Tipe ou Tiple faz a 3ª voz. O Contratipe ou Contratiple equivale ao tenor69; o Requinta ou Turina: representa uma das vozes mais característica da folia, é um “sopranino”70, cuja voz em falsete se sobressai numa dilatação extraordinária, lembrando os castrati 71. Na qualidade de objetos simbólicos criados por homens do povo, esses cantos, enfim a musicalidade nas Folias de Reis, têm ligações diretas com as condições concretas da luta pela sobrevivência de uma gente que saiu da roça para subempregos na cidade ou que continua trabalhando como lavradores e por essa razão consideramos que ela poder ser entendida como um avatar das culturas subalternas. 69 Tenor é a voz que corresponde a faixa mais aguda de sons que um indivíduo do sexo masculino pode emitir no canto lírico. 70 Voz que pode alcançar uma oitava acima do soprano. 71 Castrati é plural de castrato e corresponde a um cantor que tem uma extensão vocal correspondente ao de mulheres, isso se dá por um processo de castração de canais no testículo que impedem a maturação sexual, responsável pela mudança de voz, ou por problemas endócrinos. 89 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 1972: A cantoria 4.5 A Dança Embora as Companhias de Reis executem a meia-lua, que pode ser vista enquanto coreografia ou dança ritual, a manifestação da dança nas Folias de Reis está centralizada na performance do Bastião, que juntamente com o Mestre detém, de maneira mais sistematizada, os saberes da tradição. Sua consciência espacial durante a festa não concerne somente a sua ocupação espacial, mas a de todos que dela participam. Os Bastiões executam durante suas performances rituais, acrobacias e coreografias que divertem o público ao mesmo tempo em que exercem sua função simbólica na Companhia. Segundo a literatura, o Bastião deve, por tradição, saber dançar Lundu73, O fato é que o palhaço não dança apenas Lundu, a própria dinâmica da festa o estimula a inserir outros conhecimentos a sua performance quando achar necessário. Há, portanto, uma necessidade de saber dançar Lundu, segundo a tradição, mas também uma necessidade de agregar repertório próprio a performance (FREITAS, TELLES, 2004, p.33) Há relatos também de uma coreografia executada pelos Bastiões chamada de corta-jaca, que tem como característica os movimentos dos pés sempre muito juntos e a não flexão dos joelhos. Os movimentos de pés dão a impressão de uma faca cortando uma jaca e exige destreza do Bastião por constituir-se de movimentos muito rápidos. Movimentos, gestos e coreografias abrem passagem para folia em sua jornada de fé e cultura. Os Bastiões utilizam o corpo-brincante enquanto instrumento de expressão dramática. Com a apresentação da sua chula de versos e movimentos, demonstra sua atitude transgressora, lúdica e atemporal. A performance do Bastião brinca entre o sagrado e o profano, ressignificando através da História, a partir do momento que incorpora elementos não tradicionais a sua prática. No entanto, percebemos que a dança ritual, notadamente a do Bastião em seu fazer artístico, ainda se configura como avatar da cultura subalterna, uma vez que a incorporação de elementos novos não se refere à dança erudita e não pode ser compreendida fora do contexto da cultura popular. 72 Fonte: Arquivo pessoal Lundu é aqui compreendido como uma dança de natureza híbrida, criada a partir dos batuques dos escravizados e de ritmos portugueses. 73 90 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 20 74- Balé folclórico de São Paulo - ABAÇAI executando a chula dos palhaços. 4.6 - Indumentária (fardas e máscaras) É bastante comum entre as Companhias de Reis a adoção de uma indumentária padrão, ou seja, uniformes para que sejam identificados os membros de determinada companhia. Denominadas também de farda, os uniformes são geralmente vistosos, confeccionados em cores vibrantes. Algumas Companhias as confeccionam em tecidos brilhantes com franjas e bordados de lantejoula e estabelecem diferenças entre o mestre e o contramestre em relação aos demais foliões, outras estabelecem uma vestimenta igual para todos, muitas vezes mandando estampar em camisetas o nome da Companhia e algum logotipo que a caracterize. É possível observar que alguns usam somente adereços como chapéus ou lenços. No entanto, a companhia de Reis “Estrela Guia” do distrito de Milagres adota a camiseta com estamparia de estrela e o nome da Companhia para todos os foliões, exceto para os bastiões. Como a confecção dessa indumentária é “terceirizada”, o fazer artístico que poderia advir dessa confecção não se apresenta como avatar da cultura subalterna, uma vez que as camisetas são largamente consumidas tanto pela classe dominante como pela classe subalterna, numa cultura de massa. 74 Fonte: Reinaldo Meneguim .Disponível em : <https://www.facebook.com/photo.php?fbid=167463300082544&set=a.167463136749227.1073741829.167450813417 126&type=3&theater> Acessado em 24/10/2013 91 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 2175- indumentária da Companhia de Reis “Estrela Guia”. Fonte: acervo pessoal. A indumentária dos Bastiões desempenha um papel muito importante. Pode ser tomada como o conjunto vestimenta/máscara, ou apenas como máscara. Elas são confeccionadas geralmente com tecido de algodão estampado, ou chitão76, misturado com cetins e fitas, rendas e franjas. A farda é responsável, em grande parte, pelo destaque que as máscaras alcançam na performance ritual, pois com suas sobreposições de franjas, babados, às vezes até saias, alteram a percepção de como o corpo é visto no cotidiano. A confecção das fardas é feita por mulheres da comunidade, ligadas à Companhia por laços de devoção e parentesco com os Bastiões. São complementadas, muitas vezes, por lenços, bastões, chicotes que são elementos determinantes na execução da dança performática. 75 Fonte: acervo pessoal O tecido denominado chitão, também chamado de chita, é um tecido de baixo valor monetário e largamente utilizado na confecção das fardas dos bastiões de Folia de Reis por suas estampas gigantes de cores vibrantes. 76 92 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 2277 - Farda do Bastião. As máscaras são sem sombra de dúvida os elementos iconográficos das Folias de Reis que mais atraem a atenção dos espectadores, sobretudo das crianças. Em algumas Folias, tem a intenção de atrair para si energias denominadas por eles como ruins como por exemplo, maus olhados e maus pensamentos enviados na direção dos foliões-devotos; desviar ou desfazer situações difíceis que poderiam ocorrer durante a jornada. Já em outras Companhias, a aparência bizarra, grotesca, é para referendar aos soldados de Herodes que perseguiam o Menino Jesus. Segundo a tradição, antigamente, eram confeccionadas à mão com couro de carneiro e lã e pintadas por seus próprios usuários, ou seja, os próprios bastiões. Essa confecção dava-lhes o caráter de objeto ritual, uma vez que cada bastião deveria compor a sua máscara e, ao abandonar essa função dentro da companhia, devia passá-la solenemente a seu descendente para a continuação da tradição; em outros casos, o falecimento do bastião, levaria a um ritual de despedida da máscara, que era lançada nas águas de um rio, para que seguisse sozinha sua jornada. No entanto, hoje observamos que as máscaras são confeccionadas com uma gama muito grande de materiais, que vai desde o papelão até a utilização de máscaras de látex comercializadas em lojas de fantasias e que remetem a filmes holiwoodianos. 77 Fonte:Acervo pessoal 93 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Alguns bastiões da Companhia de Reis Estrela Guia, encomendam suas máscaras com um artesão da cidade de Mococa, evidenciando que a tradição da confecção da máscara pelo Bastião já sofreu modificações e atualmente a ritualização em relação à máscara se concentra no caráter performático que ela confere a atuação do Bastião. Assim, verificamos que os fazeres artísticos em relação às máscaras não podem ser considerados avatares da cultura subalterna, muito embora a iconografia que ela representa remeta a essa identificação que denominamos neste estudo como avatártica. Foto 2378- Máscara confeccionada com couro, lã, fitas de cetim e flores artificiais – Companhia de Reis “Estrela Guia” do Distrito de Milagres. 78 Fonte: Arquivo Pessoal 94 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 2479- Alma Negra. (Friburgo-RJ) . Foto 2580- Máscara de bastião. (Santo Antônio da Alegria/SP) Foto 2681- Bastião apresentando sua máscara- Milagres - MG 79 Autoria: Renato Caetano. Disponível em:<blogdaleilucha.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html> Autoria: Leandro Siena. Disponível em:< http://conviviumcampolindo.blogspot.com.br/2011/01/folia-de-reisabencoa-os-jacaratias.html> 81 Fonte: Arquivo pessoal. 80 95 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 4.7 - A Bandeira A Bandeira é um objeto ritual sagrado dentro de uma Companhia, é o símbolo maior da Folia de Reis. O Fazer artístico na confecção das Bandeiras impõe certa formalidade, seriedade e retidão. A ambiência criada ao seu entorno deve conservar, segundo a tradição, um caráter solene. Sua decoração varia de grupo para grupo. Em algumas folias, leva a imagem do menino Jesus na manjedoura junto a José e Maria, em outras a imagem representada é a dos Três Reis Magos guiados pela estrela do Oriente. Este fazer artístico é realizado sempre por pessoas do grupo que apresentam maior habilidade manual e artística, uma vez que é um objeto artesanal. Observamos uma característica comum às Bandeiras de muitas Folias, grande parte é enfeitada com flores de plástico e fitas de cetim de variadas cores. Cada cor possui um significado de acordo com a tradição e relacionaremos estes a seguir: Amarelo\Ouro - na Folia de Reis, o amarelo simboliza o Rei Melchior que representa o povo europeu. O ouro é o símbolo do amor, da realeza. Verde – simboliza a mirra, a esperança e o sofrimento de Cristo pela humanidade. A cor verde na Folia de Reis representa o rei Gaspar e os povos da Ásia. Rei Gaspar presenteou Jesus com mirra, óleo extraído de árvores do Oriente, usado para embalsamar os mortos, dando o sentido da imortalidade. Da mirra também se fazia remédios, tão amargos quanto o fel. Os foliões associam este fato à amargura que Cristo sofreu quando da crucificação. Vermelho - representa o fogo do incenso e simboliza a purificação. Na Folia de Reis, a cor vermelha se refere ao Rei Baltazar, o rei negro representante de todo o povo do continente africano. Baltazar presenteou o menino Jesus com incenso, símbolo da oração e súplica, o agradecimento a Deus, através de seu filho. Azul - representa o manto de Maria, simboliza a divindade e todo o universo criado por Deus. Branco - cor do véu de Maria que representa Jesus e a pomba branca, símbolo da paz em uma Folia. Rosa - representa São José, simboliza o amor e a paciência. Roxo - representa os Três Reis Magos, simboliza a esperança, a fé e a transformação. Preto - é a última cor que deve ser colocada na bandeira. Representa o luto e o respeito dos foliões aos que já faleceram e o luto da humanidade pelas crianças de menos de dois anos que Herodes mandou matar. Neste contexto, a Bandeira - símbolo máximo da devoção caracteriza-se como um avatar da cultura subalterna, uma vez que a tradição está muito arraigada às maneiras do fazer artístico e da performance, ritual e artística concernente a ela. Sua confecção é artesanal e reforça a identidade do grupo, desde o símbolo até a materialidade do objeto ritual. 96 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 2782: Bandeira da Companhia “Os Três Reis” de Juruaia/MG 82 Fonte: Gentilmente cedida por Camila Fernandes. 97 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foto 28: 83Bandeira Da Companhia “Estrela Guia” de Milagres – MG, em performance ritual CAPÍTULO 5 - A FOLIA DE REIS NO PROCESSO EDUCATIVO: 5.1 Possibilidades educativas da Festa Como podemos observar em vários tipos de registro, possivelmente todas as civilizações fizeram e fazem festa. A festa popular conhecida como Folia de Reis é um dos folguedos mais representativos da nossa cultura, uma vez que reúne traços das várias etnias que deram origem à formação do nosso povo. Assim como outros festejos da nossa cultura popular, as Folias de Reis apresentam a história, a cultura e as tradições de um povo. Nós, brasileiros somos festeiros por excelência, como confirma (PESSOA, 2005, p.32). Tendo sido formado por uma fabulosa mistura de povos milenares e festeiros, como o indígena, o europeu e o negro vindo à força da mãe África, o Brasil não poderia fugir a essa universalidade da festa. Fazemos festa por todos os motivos e, quando não os temos, inventamos. Pensemos então a festa popular como experiência educativa. No caso, pensemos a Folia de Reis no contexto das camadas mais pobres da sociedade, do homem simples, das camadas subalternas. É no momento de festejar que essas populações interrompem a dura rotina de trabalho para estar em grupo e partilhar as mesmas crenças e tradições, revelando a partir dos rituais presentes em todas as festas- aquilo que os toca mais profundamente. Desse modo, com os indivíduos em situação de partilha, de convivência, toda dez que uma criança observar o Embaixador da Folia de Reis improvisar versos diante de um presépio, sentirá 83 Fonte: Arquivo Pessoal 98 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 que um dia poderá repetir a mesma cena, toda vez que um menino ao acompanhar a performance de um Bastião em sua dança ritual e sentir vontade de um dia repetir o feito, nesses e em outros casos parecidos estará ocorrendo uma situação de aprendizagem. Para nosso alívio, ao observarmos a jornada das Folias de Reis percebemos a permanente presença de crianças interessadas, esperando uma oportunidade de aprender e fazer parte do ritual, algumas já estão mesmo inseridas no grupo, tornando mais concretas as possibilidades de manutenção dos costumes e tradições que possuem uma dinâmica particular, um movimento dialético de conservação e transformação. Nesta situação a Folia de Reis pode ser caracterizada como uma instância sociocultural que detém, significa, produz, preserva, sistematiza e socializa um conjunto determinado de saberes relacionados ao campo da religiosidade, da arte e da educação. Outro fator importante que deve ser levando em consideração em relação às possibilidades educativas da Festa é a dimensão da coletividade. A Folia de Reis é um ritual coletivo multiperformático sacro-profano, ligado a religiosidade popular que supõe fazer a sua parte, sempre em conexão e intercalada com a parte do outro, ou dos outros. Em termos educacionais, isso implica a vivência de situações e experiências de cooperação, diálogo, paciência para esperar a sua vez de atuar, o exercício de confiança no outro. Contudo no contexto das Festas como possibilidade educativa, nem tudo são flores, as festas refletem as tensões e as relações de poder inerente à sociedade que a produz, trazer essas dinâmicas para situações de aprendizagem sistematizadas, ou seja, para escola, também pode ser bastante produtivo. Como fenômeno sócio-artístico-religioso, a Folia de santos Reis é tanto um produto da educação como um lócus educativo. A Folia é uma práxis humana complexa e dinâmica, historicamente situada e socialmente determinada. É uma realidade sociocultural constituída e mediada por vários sentidos, valores, práticas, inter-relações e determinações. Uma manifestação da/na cultura, na qual se articulam diferente dimensões – a estética-artística, a religiosa devocional e a formativa-educativa – e diferente sujeitos, em especial, os humildes – o homem e a mulher simples, os adultos e as crianças que ,além de todos os afazeres cotidianos, tornam cotidiano os rituais de sua devoção.(SOARES,2006,p.247). Foto 29 Troca e manutenção de saberes entre gerações na Folia de Reis. 5.2 – Educação Patrimonial O que é Educação Patrimonial? 99 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A legislação anterior a Constituição Federal de 1988 privilegiava e se restringia a proteção dos bens materiais da classe dominante, através dos processos de tombamento. A Constituição Federal de 1988 estendeu a proteção ao patrimônio cultural imaterial dos diversos grupos formadores de nossa sociedade, garantindo assim proteção ao patrimônio cultural daqueles que se encontravam à margem das políticas de proteção e conservação estatais. De acordo com Constituição Federal de 1998: Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem as formas de expressão; os modos de criar, fazer e viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; e os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Neste contexto, houve a preocupação com fomento à participação de políticas públicas que salvaguardassem o Patrimônio Cultural, material e imaterial e, a Educação Patrimonial se insere no rol de iniciativas que caminham nesta direção. Educação Patrimonial é um processo educativo centrado no Patrimônio Cultural que tem suas ações voltadas para a aquisição de valores e comportamentos que levem ao conhecimento, reconhecimento, valorização e preservação. Um aspecto a ser considerado, tendo em vista as Folias de Reis, é que a preservação desse patrimônio cultural passa pelo reconhecimento dessa manifestação como referencial identitário do grupo e para o grupo. Para que haja a possibilidade de Educação Patrimonial é necessário que o grupo, mas também o indivíduo possa se apropriar do Patrimônio Cultural, fortalecendo um sentimento de pertença ao grupo ao qual ele representa culturalmente. O que podemos chamar de Patrimônio Cultural vincula-se aos indivíduos e as suas ações, portanto valorizar o Patrimônio Cultural vai muito além de construir uma relação de respeito com as obras de arte, monumentos e museus, é entendê-los e senti-los como patrimônio de uma coletividade a partir de uma relação afetiva com o mesmo. Neste sentido, têm-se desenvolvido aspectos importantes da estratégia e metodologia da ação educativa em prol da Educação Patrimonial, sobretudo no que se refere ao protagonismo. O Protagonismo é aqui entendido como a participação efetiva da comunidade, grupo ou indivíduo, no processo de apropriação cultural e patrimonial, a partir de uma relação afetiva com seus bens culturais. O desenvolvimento do protagonismo vai além do desenvolvimento da afetividade em relação aos bens culturais, passa também por processos de tomada de decisão, onde os sujeitos culturais podem decidir por si mesmos o que é importante ser preservado. Essa postura evita o distanciamento em relação aos bens culturais e define, ainda que de maneira tênue os limiares da identidade e da alteridade. Assim, a ação educativa deve estar voltada na direção da construção de valores que engendrem na sociedade o respeito à manifestação de diferentes expressões culturais da sociedade, tendo em vista uma abordagem pluralista e multicultural, sobretudo no ensino da Arte, embora o enfoque interdisciplinar seja o mais desejável. Em relação ao ritual das Folias de Reis, enquanto patrimônio cultural imaterial deve-se, a partir da ação educativa, promover uma conscientização, sobretudo das novas gerações, da necessidade e importância de salvaguardar tal patrimônio cultural que foi herdado de gerações anteriores, se transmite de geração em geração e é constantemente ressignificado pelas comunidades e grupos em função das transformações sociais e históricas, em função de seu ambiente e sua interação com a natureza, engendrando um sentimento de pertença, de identidade e 100 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 continuidade, vislumbrando a possibilidade de uma educação que promova o respeito à diversidade cultural e o desenvolvimento e valorização da criatividade humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este é o momento de apontarmos algumas ideias conclusivas sobre as pesquisas que desenvolvemos no decorrer deste estudo. O objeto de pesquisa analisado nestas páginas foi a festa de Folia de Reis, notadamente, a que acontece no distrito de Milagres, município de Monte Santo de Minas – MG. Para compor este estudo, foi necessário o amparo na transdisciplinaridade dadas as diversas áreas do saber que embasaram o olhar teórico, iluminaram as razões, emoções, sensações e fazeres – meus, e dos complexos sujeitos culturais estudados. Sem a menor intenção de esgotar as possibilidades analíticas em quaisquer dos pontos levantados na pesquisa, o que apresentaremos aqui são algumas respostas ao questionamento inicial que moveu o trabalho – O fazer artístico na representatividade do rito, que pretendeu averiguar as possibilidades de confirmação ou negação de nossa hipótese científica, na qual esse fazer artístico poderia se configurar como avatar da cultura subalterna. A análise dos fazer artístico no interior das festas de Folia de Reis se deu a partir do aporte teórico relacionado neste estudo e das observações e partilhas decorrentes da nossa participação na jornada da festa. Pudemos observar que a festa da Folia de Reis, tomada como um todo, sem dela distinguir os fazeres sociais, artísticos e religiosos, e a pesar de ser ela uma manifestação cultural hibrida, forjada no encontro das culturas das etnias que deram origem a formação do povo brasileiro, configura-se como avatar da cultura subalterna, uma fez que é um bem cultural imaterial identitário de determinado grupo – no caso, o grupo de devotos-foliões da Companhia “Estrela Guia” do Distrito de Milagre - formado em sua maioria, por uma população de “homens e mulheres simples”, trabalhadores do campo, em uma comunidade com características bastante ligadas à cultura rural, portanto, pertencentes a classe subalterna da sociedade. Fizemos então, um recorte do fazer artístico nas Festas de Folia de Reis, a fim de identificar os fazeres e quais deles dentre esse recorte poderiam funcionar como avatares da cultura subalterna. Como pudemos analisar no quarto capítulo deste estudo: A Cantoria, a Dança, a confecção da Bandeira podem se configurar como avatares da cultura subalterna, uma vez que esses fazeres artísticos não se dissociam do caráter identitário daquele grupo – oriundo da classe subalterna. Já em relação aos fazeres relacionados à indumentária, podemos observar que houve um processo mais agressivo de hibridização cultural que não nos permite confirmar a hipótese, uma vez que não é possível observar uma identificação avatártica desses fazeres com a classe subalterna que os produziu. Exceto no caso da confecção das fardas dos Bastiões que ainda guardam uma profunda identificação com a classe subalterna, uma vez que é confeccionada por mulheres ligadas ao grupo e guardam os modos de fazer tradicionais daquela comunidade. Portanto, devido a um processo de hibridização que levou ao engendramento de modos de fazer e de uso de materiais ligados à cultura de massa, o fazer artístico na representatividade do rito não apresenta de modo absoluto, uma identificação com as classes subalternas. Assim, temos a 101 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 negação da hipótese levantado no início do trabalho e afirmação de que esse campo de estudo tende a ganhar mais e mais atenção por parte das ciências a ele correlatas. REFERÊNCIAS A BÍBLIA Sagrada. 2. Ed. A visita dos magos. Evangelho segundo Mateus, capítulo 2, Versículos 1 – 12. In: A Bíblia Sagrada. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. 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Com a extinção deste, outras espécies da fauna e flora brasileira também correm possíveis riscos de serem extintos. Outro causador do declínio populacional tanto das abelhas nativas silvestres quanto das abelhas africanizadas são os inseticidas, predadores naturais e o homem, que é o principal causador do desmatamento, o que acarreta na supressão de habitats desses importantes insetos e outros animais. A organização social da Apis mellifera mellifera é bastante semelhante à organização social das demais abelhas, porém seu comportamento em sociedade é bastante curioso quando se trata dos feromônios reais. A anatomia, tanto interna quanto externa, é parcialmente semelhante à anatomia dos demais hymenopteros, sendo que apenas algumas características fazem com que estes indivíduos se diferenciam dos demais. A abelha africanizada é por natureza extremamente agressiva. Neste trabalho, estudaram-se os fatores que fazem com seu comportamento sofra variação. A pesquisa foi realizada pelo fato de a abelha africanizada ser de natureza extremamente interessante. A pesquisa deixa vestígios de que a forma como esta abelha se organiza talvez ainda não esteja totalmente esclarecida. PALAVRAS – CHAVE: abelhas, temperatura, umidade. ABSTRACT In 1956, a historical fact in the history of Brazilian apiculture happened in Brazil. This fact has brought many economic benefits and ecological damage to the country: the emergence of the africanized honey bee, or Apis mellifera mellifera. The africanized bee had great participation in the population decline of native wild bees. This decline may lead 105 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 to extinction of our main pollinators are responsible for pollinating 80 to 90% of our native plants. With the extinction of this, other species of fauna and flora are also at potential risk of being extinct. Another cause of the population decline of both wild native bees as Africanized bees are pesticides, natural predators and man, which is the main cause of deforestation, resulting in the suppression of these important habitats for insects and other animals. The social organization of Apis mellifera mellifera is quite similar to other social organization of bees, but their behavior in society is quite curious when ir comes to the actual pheromones.The anatomy, both internal and external, is partially similar to the anatomy of other hymenoptera, with only a few features that make these individuals differ from others. The africanized bee is extremely aggressive by nature. In this work, we studied the factors that cause variation in their behavior suffers. The survey was conducted because of the nature of africanized bee is extremely interesting. The research that leaves traces how this bee is organized perhaps still not entirely clear. KEYWORDS: bees, temperature, moisture. INTRODUÇÃO A apicultura brasileira nunca mais foi a mesma desde 1956, quando ocorreu o cruzamento entre abelhas africanas e europeias, ocorrendo dessa forma o surgimento da Apis mellifera mellifera uma das abelhas mais famosas e estudadas na história da apicultura. Abelhas do gênero Apis tornaram-se temas de extensivos estudos devido a sua grande importância econômica e por sua natureza extremamente interessante. A introdução de uma nova espécie de animal ou vegetal em um habitat é um importante processo ecológico que pode alterar todo um ecossistema que se encontra em equilíbrio. Uma espécie alienígena pode ser introduzida num local de propósito ou acidentalmente, pelo homem, pelo tráfico ou por fenômenos naturais. Estes tipos de introdução são chamados de colonização. De qualquer modo, as novas espécies podem diminuir a população de espécies silvestres nativas, principalmente quando estas são invasoras e competidoras inferiores, não apresentando vantagens competitivas sobre as espécies invasoras. Apesar de as abelhas africanizadas não terem sido domesticadas no Brasil, elas se adaptaram com as condições de nossas florestas e aqui permaneceram e começaram a surgir consequências desastrosas tanto para nossas abelhas nativas quanto para nossa flora. Apesar dos malefícios, a introdução da abelha Apis mellifera mellifera tem seu lado positivo, que também será relatado nesta pesquisa. A presente pesquisa relata fatores que estão causando não somente o desaparecimento das nossas abelhas silvestres nativas, mas também o declínio das abelhas africanizadas. A extinção desses animais certamente trará grandes impactos para a fauna e flora brasileira, comprometendo diversos biossistemas que atualmente encontram-se integrados, resultando no empobrecimento de nossa biodiversidade. As Apis mellifera mellifera são, por natureza, incrivelmente interessantes, a organização extremamente bem definida e por vezes bastante curiosa, passam a vida toda trabalhando e se doando ao serviço e manutenção da colônia. Conseguem regular a temperatura da colmeia, deixando-a ideal para suas atividades fisiológicas. Comunicam-se perfeitamente e defendem a colônia mesmo que isso custe-lhes a própria vida. Esses sim são verdadeiros insetos sociais, onde apenas 5% dos hymenopteros convivem em sociedade. 106 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A pesquisa também enfoca a anatomia desses insetos, que não difere muito da anatomia das demais abelhas do mesmo gênero. Seu corpo possui todas as ferramentas necessárias para trabalhar no dia-a-dia, para a manutenção e organização da colmeia. O fator mais interessante das abelhas do gênero Apis é a sua repentina mudança de comportamento que são desencadeados por fatores ambientais. Sabe-se que elas são extremamente agressivas, e que isso é uma herança genética, porém, através de métodos experimentais pode-se afirmar que fatores naturais e ambientais interferem em seu comportamento, deixando-as mais ou menos agressivas. 1-Introdução da Abelha Apis mellifera no Brasil As abelhas europeias, Apis mellifera, foram introduzidas no Brasil em 1839, pelo padre Antônio Carneiro. Inicialmente foram introduzidas no Rio de Janeiro – RJ e em seguida no horto de Camaquã, no município de Rio Claro – SP. As abelhas africanas, Apis mellifera scutellata foram trazidas da África do Sul para o Brasil em 1956 pelo cientista Warwick Kerr. Ao todo, foram trazidas 133 rainhas da abelha africana. As espécies exóticas foram levadas diretamente para o município de Piracicaba – SP, onde somente 47 rainhas sobreviveram. Posteriormente os insetos foram levados para o horto de Camaquã (MALASPINA, 1979). De acordo com a literatura existente, em 1956, tanto as abelhas europeias como as africanas já se encontravam instaladas no horto em Rio Claro – SP. As abelhas africanas foram trazidas ao Brasil para que fossem realizados estudos comportamentais a fim de eliminar seus traços agressivos e tentar desenvolver uma estirpe melhor adaptada às condições climáticas brasileiras. Já as europeias, foram importadas por serem excelentes produtoras de mel. Devido a um fato acidental, onde foram removidas as telas excluidoras da entrada das colmeias, houve fuga de 26 enxames, e as rainhas africanas se espalharam e acabaram cruzando com as europeias já existentes na região, formando um híbrido, que hoje se conhece por abelha africanizada, ou abelhas de caixão, a Apis mellifera mellifera. O resultado deste proporcionou maior variabilidade genética entre os conjugantes e também em características de comportamento predominantemente variadas, mas com características comportamentais herdadas da Apis mellifera scutellata, a abelha africana, razão da denominação genérica de abelha africanizada a todas elas (MISTRO, 1988). Segundo Malaspina (1979), as abelhas africanizadas foram migrando rapidamente, o suficiente para que hoje em dia, ocupassem boa parte da América do Sul, desde o norte da Argentina até o norte do México. Essas espécies exóticas conseguem suportar grandes pressões ambientais, sendo atualmente encontradas desde o nível do mar até 2.900m de altitude incluindo clima tropical seco, florestas, cerrados e florestas úmidas. As abelhas africanizadas tornaram-se temas de extensivos estudos devido a sua grande importância econômica e por sua natureza extremamente interessante. Essas abelhas se destacaram no cenário brasileiro por serem muito agressivas, característica herdada da Apis mellifera scutellata e por serem excelentes produtoras de mel, característica herdada da Apis mellifera. Atualmente, as abelhas africanizadas são muito utilizadas na apiterapia para a produção de meletina, um poderoso veneno que possui propriedades anti – inflamatórias 100 vezes mais potentes que a cortisona. Apesar desses benefícios, a introdução dessas abelhas em nossos biomas trouxe enormes prejuízos, pois as nossas abelhas silvestres nativas estão desaparecendo muito rapidamente pela competição intraespecífica que ocorre entre ambas. Juntamente com as abelhas, desaparecem também 107 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 as espécies arbóreas que eram por elas polinizadas e, consequentemente, outras espécies de animais que dependiam desses extratos arbóreos, quer seja como moradia ou como fonte de recurso alimentar (GUERRA, 2010). 1.1-Declínio Populacional das Abelhas Silvestres Nativas As abelhas introduzidas no Brasil em meados do século XX não foram domesticadas. Elas se acostumaram com as condições das florestas brasileiras e aqui permaneceram, e então começaram a surgir consequências desastrosas tanto para nossas abelhas nativas quanto para nossa flora. O problema ocorre porque naturalmente, o extrato arbóreo tende a coevoluir juntamente com as espécies nativas que lhes servem de polinizadoras, dessa forma, a anatomia de nossas abelhas torna – se compatível com a anatomia das flores de nossas florestas que elas devem polinizar. A abelha africanizada, Apis mellifera mellifera, que não evoluiu juntamente com as florestas brasileiras não conseguem polinizar grande parte de nossos vegetais, dessa forma, as abelhas brasileiras acabam morrendo de fome, pois não conseguem competir com as abelhas africanizadas em número e em agressividade e acabam sendo extintas, e junto com elas, grande parte dos vegetais que elas deveriam polinizar, desencadeando um serio desequilíbrio ambiental, muitas vezes irreversível (GUERRA, 2010). Junqueira (2005) relata que outro fator que está acabando tanto com as abelhas nativas quanto com as africanizadas é o uso de alguns agrotóxicos. O principal deles, que tem causado a morte de várias abelhas é o fipronil (fenilpirazólico) conhecido comercialmente como Regent, que é usado em fitopatologias. Este produto não mata a abelha imediatamente, dando tempo para ela voar e levar o produto para dentro da colmeia. A partir daí, esse produto vai passando de inseto para inseto reduzindo de forma drástica a população de hymenopteros, matando toda a colmeia no período de uma a duas semanas. O fipronil em doses subletais afeta a percepção gustativa, o aprendizado olfatório e a atividade motora das abelhas que são funções essenciais na vida social em uma colmeia. Outros inseticidas organofosforados ou piretróides causam a morte da abelha no momento em que ela se aproxima do produto, ou seja, imediatamente, não contaminando o restante das abelhas da colmeia. Ela sente o cheiro do inseticida e se afasta, mas mesmo assim morre pelo simples fato de ter sentido o cheiro (JUNQUEIRA, 2005). MALASPINA et al. (2008), afirmaram em seus trabalhos que o consumo de agrotóxicos no Brasil é superior a 300 mil toneladas anuais, sendo que nos últimos 40 anos, o consumo aumentou em 700%. Com esses dados pode – se ter uma ideia da situação em que a agricultura brasileira se encontra devido ao uso irracional desses inseticidas, podendo ocorrer sérios danos ao meio ambiente e ocasionar um desequilíbrio muito grande de abelhas que visitam esses locais. Além da toxicidade que causa a morte das abelhas, os inseticidas podem também provocar alterações comportamentais nesses insetos, que ao longo do tempo ocasionam graves prejuízos na manutenção da colônia. As abelhas perdem a capacidade de comunicação, de aprendizado e de memória, ocasionando grande interferência em suas atividades sociais e dificultando seu retorno à colônia após a colheita. Segundo Mistro (1998), outro fator que vem contribuindo bastante com a extinção das espécies nativas são os predadores naturais. Em regiões de clima tropical é frequente o ataque de predadores como os tatus, por exemplo, pois nessas regiões as colmeias são 108 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 construídas próximas ao chão deixando – as mais vulneráveis aos predadores, principalmente quando a colmeias encontram-se em vias iniciais de estabelecimento. As abelhas raramente sobrevivem por muito tempo na mesma colmeia devido ao ataque dos predadores. Quando as abelhas procuram um novo lar, pesquisam vários aspectos do potencial da região, mas dificilmente conseguem identificar a presença de predadores. Alguns predadores não conseguem se alimentar das abelhas ou do mel sem destruir toda a colmeia, estas por sua vez, enxameiam e acabam fugindo para outros lugares, podendo ser para os centros urbanos, onde nem sempre são muito bem aceitas, e consequentemente são mortas. A dificuldade para arranjar abrigo devido à destruição das florestas também contribui para tal. Em relação ao desmatamento, o homem é o principal destruidor. Como se já não bastasse tudo isso, as abelhas também enfrentam problemas com aparelhos que emitem ondas eletromagnéticas. Essa afirmação foi feita por um grupo de cientistas suíços que realizaram estudos fazendo 83 experimentos em uma colmeia. Nesta, foi colocado um aparelho celular (desligado, ligado e fazendo ligações). O estudo não demorou a mostrar resultados, as abelhas logo começaram a reagir, ficaram irritadas e soltaram zumbidos quando o aparelho celular emitia ruídos ao fazer ligações. Os resultados da pesquisa demonstraram que o ruído emitido pelo celular é como um aviso para que as abelhas deixem a colmeia, estas saem voando e a frequência que o aparelho emite às confunde, fazendo com que elas façam voos totalmente desorientados levando – as à morte. As ondas eletromagnéticas estão por toda parte, pois a maior parte da população possui aparelho celular. A radiação emitida pelos celulares mesmo quando o aparelho encontra-se desligado interfere na navegação aérea desses insetos. Essa descoberta explica, também, o desaparecimento súbito das nossas abelhas, em maior parte, as que vivem em áreas urbanas (GUERRA, 2011). Guerra (2011) descreve em sua publicação que a abelha é um inseto incrivelmente admirável, ela trabalha da manhã à noite, e chegou à Terra a 80 milhões de anos, bem antes do homem. Este, no entanto, está acabando por destruí – las com suas invenções nem sempre ecológicas. Futuramente a extinção desses polinizadores causará grandes problemas ecológicos, pois são responsáveis pela polinização de 80 a 90% dos nossos vegetais nativos. Os outros 10 a 20% restantes são polinizados por borboletas, aves, água, vento, morcegos e, recentemente, por abelhas africanizadas. Essa extinção afetaria não somente a flora brasileira, mas também grande parte de nossa fauna. Com a extinção das abelhas brasileiras os vegetais que estas polinizavam também serão extintos, e se este vegetal for extinto várias espécies de animais que se dependiam deles para alimentação ou nidificação também serão extintas, desequilibrando assim toda a fauna e flora brasileiras. O interesse pela apicultura, na maioria dos casos, é justificado pelo uso nutricional, terapêutico e pelo fato de sua comercialização aumentar a renda familiar, além de ser uma fonte de lazer para muitos seres humanos. Apesar da existência de muitos polinizadores, as abelhas brasileiras são as principais disseminadoras de pólen das plantas nativas, preservá-las contribui para conservar os mais diversos tipos de vegetação e também de animais. Elas, sem dúvida, são responsáveis não somente pela nossa alimentação diária, mas também pela beleza do lugar em que vivemos (KERR et al., 1996). 109 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 1.1. Organização Social das Abelhas FIGURA 01: Abelha rainha e operárias. Fonte: Maria Betânia Soares dos Santos. Nas regiões de clima temperado, a maioria dos insetos permanece em estado de dormência durante o inverno, porém, as abelhas dessas regiões não, elas utilizam o processo de termorregulação. Este processo exige que as abelhas se preparem durante as outras estações do ano, mantendo um estoque superior a 20 kg de mel e uma população de 20.000 operárias. Este número de operárias mostra que abelhas de regiões de clima temperado se desenvolvem em colmeias de grande porte. Nas regiões de clima tropical a temperatura não sofre grandes variações no inverno, nesse caso, as abelhas dessas regiões não necessitam de grande estoque de mel e, portanto constroem colmeias de menor porte. As abelhas africanizadas preferem colmeias mais expostas, em ambientes secos, tais colmeias são encontradas em galhos de árvores, rochas, árvores caídas, fendas no chão e buracos. Também são construídas nas áreas urbanas, desde que haja alimento disponível. Nestes locais constroem seus ninhos em calhas, telhados, prédios, telhados de igrejas, entre outros (MISTRO, 1998). Numa colmeia de Apis mellifera mellifera encontram-se três castas hierárquicas de insetos: a rainha (fêmea fértil), as operárias (fêmeas estéreis) e os machos ou zangões. Existem algumas diferenças entre as operárias e a rainha, como por exemplo, a anatomia, a 110 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 fisiologia e o comportamento. A rainha é fértil e, portanto, é a única ovipostora da colmeia, as operárias se ocupam em cuidar da manutenção da colmeia. A rainha é maior que uma operária, possui o abdômen maior contendo 300 ou mais ovaríolos. A taxa metabólica também é mais alta permitindo-lhe botar 1000 ou mais ovos por dia, o que lhe impede de realizar outras tarefas na colmeia. A rainha possui também uma longevidade significativamente maior que as demais abelhas (FREE, 1980). FIGURA 02: Diferenças de tamanhos entre castas. Fonte: http://projectomsi.zxq.net/Biossintese%20do%20Mel.htm#Morfologia e Fisiologia. Os ovos que vão dar origem à rainha e à operária são idênticos, ambos são fecundados, porém, a alimentação fornecida às larvas é o que diferenciará na função e tempo de vida dos indivíduos. Depois de três dias da ovipostura, o ovo se transforma em larva, as operárias alimentam essas larvas com geleia real, que é um alimento muito rico nutricionalmente o qual é sintetizado nas glândulas faringeanas das abelhas operárias. As operárias são as larvas que receberam como alimento o mel e o pólen. A geleia real constitui, portanto, um fator que diferencia morfológica, fisiológica e funcionalmente uma abelha fêmea. Geneticamente, a rainha é um inseto diploide enquanto que os zangões são haploides (STORT & CAMARGO, 1973). Cada colmeia de Apis mellifera mellifera possui uma única rainha, que nasce de uma célula com formato especial, chamada realeira. A rainha é facilmente identificada por ser visivelmente maior que as operárias e os zangões. Quando nascem duas ou mais rainhas em uma única colmeia elas lutam até a morte, a que sobreviver é a que assume a responsabilidade de reprodução na colmeia e união dos membros que as compõem. Elas também possuem ferrão, porém este é usado somente em lutas contra rivais. A rainha produz uma substância denominada feromônio que faz com que as operárias sejam estimuladas a realizar diversas tarefas. Quando a rainha envelhece ou a colônia está muito grande, as operárias não conseguem mais sentir esses feromônios. Como consequência do envelhecimento, a rainha diminui sua 111 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 capacidade de postura e prejudica, assim, a atividade e produção da colmeia. Embora a rainha possa viver até cinco anos, sua vida útil é de pouco mais de um ano na maioria dos casos, pois é durante esse período que está em sua capacidade máxima de postura (PEREIRA, 2008). Portanto, quando a rainha envelhece ou morre, as operárias escolhem ovos recentemente depositados ou larvas de até três dias de idade, aumenta o tamanho da célula transformando-a em realeira e alimenta essa larva com geleia real (PEREIRA et al., 2003). A rainha pode voar muitos quilômetros à procura de zangões, estes têm como sua única função durante toda a vida fecundar a rainha. Eles são os únicos machos da colmeia, não possuem ferrão e nascem de ovos não fecundados, vinte e quatro dias após a postura do ovo e atingem a maturidade sexual com doze dias de vida. Vivem cerca de oitenta a noventa dias e são alimentados pelas operárias até a chegada do voo nupcial. Após cinco dias de vida a rainha realiza o voo nupcial, na qual é fecundada por diversos zangões. Geralmente, acasala com zangões da mesma colmeia, dentro de um raio de 500 metros. É fecundada por cerca de sete a doze zangões em um único voo, no entanto, poderá voar novamente se necessário. Os espermatozoides vão se localizar na espermateca em um número de aproximadamente 6.000.000 e aí ficam depositados durante toda sua vida. Após esse processo, a rainha começa a botar ovos que podem ser de dois tipos, os fecundados e os não fecundados em dois tipos de alvéolos, os grandes que darão origem aos zangões e os pequenos que darão origem às operárias (STORT & CAMARGO, 1973). Associados à sua esterilidade, uma operária possui poucos ovaríolos, geralmente subdesenvolvidos e não podem acasalar o que faz com que todas as outras tarefas da colmeia sejam desenvolvidas por elas. Em geral, com o aumento da idade, as abelhas tendem a mudar de tarefas, a primeira é a limpeza de células, em seguida alimentação de larvas, construção de favos, recepção de néctar, acondicionamento de pólen, remoção de entulhos, defesa da colmeia ou guarda e coleta (FREE, 1980). Durante toda sua vida cada operária realiza todos esses trabalhos, estando especializada em cada um deles conforme a sua idade (STORT & CAMARGO, 1973). Quando a abelha nasce, primeiramente, ela limpa a si mesma, somente depois de algumas horas de vida começa a limpar as células que contiveram crias, ela faz isso até o seu quinto dia de vida. As bordas gastas dos opérculos são removidas por abelhas mais velhas, de quatro a vinte anos de idade. Carregam detritos como velhos opérculos, cria morta e pólen mofado, realizam este trabalho logo antes de coletarem. As operárias que realizam esses trabalhos limpam-se umas às outras e aos zangões. Uma abelha não é capaz de se limpar inteiramente sozinha, principalmente as partes entre o tórax e o abdômen e na base das asas, portanto necessita da ajuda de outra operária para limpar-se. Para demonstrar que está esperando ajuda para ser limpa a abelha realiza uma dança convidativa na qual bate as asas e vibra seu corpo de um lado para o outro até que outra abelha se aproxime e comece a limpá-la (PEREIRA et al., 2003). Do seu quinto ao décimo dia de vida as abelhas operárias alimentam as larvas, pois essas não possuem patas para locomoção e se alimentam cerca de 1000 a 1300 vezes por dia (RIBEIRO, 2008). Nesse período elas também se empenham com outras tarefas não deixando de se dedicar em nenhum momento de suas obrigações. Os sistemas glandulares das operárias que produzem alimento larval e cera se desenvolvem com a idade. Elas produzem alimento para as larvas, principalmente, pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares, embora também sejam utilizadas secreções das glândulas póscerebrais e torácicas (FREE, 1980). Do décimo ao vigésimo dia de vida a abelha se empenha nas construções dos favos, para isso ela utiliza a cera que também serve para tampar células com mel maduro ou pupas (STORT & CAMARGO, 1973). Para a produção de cera as abelhas se agrupam em locais da 112 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 colmeia onde há mais necessidade de reparos. A cera é emitida por glândulas situadas na superfície do abdômen e saem em formas de finas escamas. Essas escamas são transferidas das patas traseiras para as mandíbulas e para as patas dianteiras, onde são manipuladas e adicionadas ao local necessário (FREE,1980). Entre o décimo oitavo e vigésimo primeiro dia a abelha também se empenha em defender a colmeia (PEREIRA et al., 2003). Nessa fase, os órgãos de defesa das operárias já estão bastante desenvolvidos, com grande acúmulo de veneno. Nessa fase elas também podem participar do controle da temperatura dentro da colmeia, quando está frio, agitam seus corpos para produzirem calor e quando está quente, agitam suas asas para arejá-la (STORT & CAMARGO, 1973). A idade em que uma abelha começa a coletar é, geralmente, a partir do seu vigésimo segundo dia de vida (PEREIRA et al., 2003), sendo que quanto mais cedo elas realizarem o voo de orientação mais cedo elas irão coletar o néctar das flores. Durante o primeiro voo de orientação a abelha não realiza coleta, ela simplesmente se orienta em relação à posição da colmeia fazendo círculos cada vez mais amplos, indo cada vez mais adiante sucessivas vezes. Esse voo ocorre, primeiramente, quando a abelha tem de três a dezessete dias de vida, em dias ensolarados, sem vento e entre 10h00min e 16h00min horas, depois desse estágio, ela já está pronta para coletar. As coletoras coletam pólen, néctar, própolis e água. O pólen e a própolis são transportados na corbícula e o néctar e a água no papo. A abelha Apis mellifera mellifera consegue visitar, mais ou menos, 1500 flores por dia (FREE, 1980). Trabalhos realizados por Lopes (2008) mostram que numa colônia não perturbada, a cria fica sobre o favo central e, de cada lado, em cima e embaixo ficam os favos contendo estoques de mel e pólen. Ainda jovens, as abelhas são encontradas quase exclusivamente sobre os favos de cria. A temperatura na área de cria é de cerca de 36ºC sendo que essa temperatura tende a diminuir em direção à periferia da colônia. À medida que a idade da abelha avança, sua taxa metabólica aumenta e sua temperatura preferida diminui o que faz com que elas se agrupem na periferia da colmeia quando se tornam mais velhas. As abelhas jovens preferem a escuridão do ninho, mas à medida que se tornam mais velhas passam a ser fotopositivas, este é um outro fator que influencia sua preferência pela periferia da colmeia e seu impulso para coletar fora dela. (FREE, 1980), ainda explica que as abelhas sabem onde há necessidade de mais atenção na colmeia, os trabalhos que precisam ser realizados: Como as abelhas empenhadas no trabalho de ninho tendem a estarem no ponto central das atividades de sua colônia, elas podem aprender as necessidades dela através de experiência individual direta. Estas abelhas frequentemente vagueiam pelo ninho, inspecionando células e cria e, enquanto o fazem, cada uma provavelmente recolhe para si mesmas informações sobre as tarefas que estão precisando de atenção. Presumivelmente, os estímulos aí encontrados iniciam a atividade-resposta apropriada, em abelhas fisiológica e comportamentalmente convenientes. Estas visitas de inspeção também servem para estimular o desenvolvimento das glândulas. A presença de espaço vazio no ninho estimula o desenvolvimento das glândulas de cera, pois as abelhas terão que construir favos neste espaço. A presença de cria estimula o desenvolvimento das glândulas hipofaringeanas, pois as abelhas terão que alimentar as larvas. A falta de trabalho dentro do ninho faz com que as abelhas comecem a coletar precocemente quando ainda estão se aproximando da idade normal de coletar, ou quando já realizaram as tarefas de ninho por um longo período tempo (FREE, 1980). 113 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 As células nos favos do gênero Apis, em corte transversal, são hexagonais, ou seja, de seis lados (PEREIRA et al., 2003), e são de dois tipos: as maiores e mais profundas que são usadas para criação de zangões e as menores para a criação de operárias. Células de formato irregular são construídas quando as células de zangões e operárias são contiguas e onde os favos são ligados a seus suportes. A mesma célula utilizada na criação da prole pode também ser utilizada para a estocagem de alimentos, em épocas diferentes. As células para a estocagem de mel tem sua profundidade aumentada para o dobro em relação às células utilizadas para a cria. As células novas são construídas por ceras secretadas pelas operarias, essa cera é na cor branca, depois que a prole for criada em seu interior, elas ficarão forradas de casulos e acumularão excrementos larvais. Os casulos são de cor castanho claro, de modo que, após ser utilizado repetitivas vezes, os favos se tornam castanho escuro. Os favos que não são usados na criação de prole permanecem brancos ou se tornam amarelados devido à absorção de substâncias contidas no pólen (FREE, 1980). Todas as espécies do gênero Apis coletam pólen e néctar mesmo que não estejam necessitando, deixando-os armazenados nos favos. O alimento estando armazenado permitelhes sobreviver em períodos de escassez nos trópicos e de frio nas regiões de clima temperado (MISTRO, 1998). As abelhas estocam mel e néctar em seus papos que posteriormente são transferidos nos favos das colmeias. As que estão prontas para alimentar as larvas possuem papos mais cheios que aquelas que querem somente receber alimento, porém, isso nem sempre é uma regra. Raramente a quantidade de alimento que uma abelha possui em seu papo irá significar que ela está oferecendo ou pedindo alimento. Quando realiza tarefas como alimentar larvas ou secretar cera, a abelha normalmente retém mais alimento em seu papo do que quando está ocupada com outras tarefas. O ambiente particular ocupado por ela também influencia na quantidade de alimento armazenado em seu papo, assim, as abelhas que estão do lado de fora de um agrupamento de inverno possuem mais alimento armazenado em seus papos e consomem bem mais do que as demais (FREE, 1980). Mistro (1998), explica que quando grupos do gênero Apis são colocados em uma caixa sem nenhum favo, as abelhas estocam alimento em seus papos, o mesmo fazem quando enxameiam ou quando são perturbadas por fumaça. A escuridão e a presença de uma rainha encorajam as operárias a estocarem alimento em favos, e a presença de luz e a ausência de uma rainha faz com que estas armazenem o alimento em seus papos, mesmo quando existem favos na colmeia. A boa reputação das abelhas africanizadas de serem excelentes produtoras de mel vem do fato de elas coletarem mais néctar que as abelhas europeias em períodos em que o fluxo de mel é fraco. As operárias saem em grupos à procura de alimento mesmo sabendo que retornarão com pouca quantidade de néctar. As operárias de europeias não saem para coletar sem ter certeza de que irão voltar carregadas. As africanizadas também coletam mais pólen do que as europeias, o que as possibilitam de procriar em condições de escassez. A função de uma célula parece ser determinada em grande parte pela sua posição em relação ao arranjo natural da cria e dos estoques de alimento no ninho ou na colmeia. Na maior parte do ano, a prole é criada na parte mais baixa dos favos centrais do ninho, que consiste de alguns favos grandes. Nesse favo, a cria ocupa uma área semicircular, sendo que os dois cantos superiores do favo e as faixas de células das bordas laterais são usados para estocar pólen e néctar. Os favos acima da área de cria e de cada lado dela geralmente estão vazios ou estocados de mel e pólen, sendo que o pólen fica mais perto dos favos da cria. As células são também escolhidas para diferentes funções de acordo com sua estrutura e uso prévio. Isto foi demonstrado em uma série de experimentos, nos quais favos vazios e de diferentes tipos, ou 114 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 que haviam sido usados por abelhas com diferentes propósitos estavam arranjados como um tabuleiro de xadrez e o uso que as abelhas faziam deles foi comparado. As abelhas preferem estocar mel nas células de operárias do que nas de zangões. Elas armazenam pouco ou nem armazenam pólen em células de zangões. A razão dessa preferência ainda não está clara, mas permite que as células de zangões estejam livres para receber novas crias. (FREE, 1980) comenta sobre o tipo de célula que as operárias preferem para a criação da prole e a ovipostura. Segundo o autor, a ovipostura e a criação da prole ocorrem tão prontamente em favos novos de operárias como em favos nos quais já tenha sido criada prole, mas menos prontamente naqueles usados para estocagem de alimento. Parece provável que as células que recebem ovos sejam marcadas de algum modo com odores da rainha e das operárias. Favos nos quais tenham sido postos ovos ou tenha sido criada prole são subsequentemente favorecidos para a estocagem de néctar ou de pólen. Uma colônia selvagem prefere usar células recém-produzidas do que células velhas para a criação da prole. Para a criação da prole é escolhida uma célula nova ou uma célula de cria que vagou. Entretanto, as células de cria desocupadas são escolhidas para o armazenamento de alimento, que depois de usadas, ficam sendo indesejáveis para a criação de novas proles. Isso resulta na preferência do armazenamento de alimento em favos velhos, que antes eram utilizados para a criação de prole, e a criação de prole fica sendo em favos recém-construídos. As células de operárias são limpas pelas operárias antes de serem novamente reutilizadas. A limpeza é influenciada pela presença da rainha, e durante esta tarefa, não parece que as abelhas estejam-se preparando para nenhuma função em particular. No entanto, é provável que o número de ovos que uma rainha coloca é determinado pelo número de células que as abelhas operárias tenham limpado na área de cria, e que a quantidade de pólen coletado dependa do número de células vazias e limpas na periferia da colmeia (FREE, 1980). 1.2.1-Regulação das Atividades da Colônia A boa distribuição de abelhas Apis mellifera mellifera está relacionada pela facilidade que essas abelhas possuem de se ajustar a mudanças sazonais e de exercer um controle considerável sobre seu meio físico interno. Durante os períodos de escassez, quando não há coleta, as abelhas da colônia pode sobreviver com o alimento armazenado em seus favos. Nessas condições, há pouca cria e a colônia pode consistir somente de um agrupamento de rainha e operárias. Com a chegada de uma estação mais favorável, o número de operárias aumenta, e tem início a criação de zangões, novas rainhas podem ser criadas e novas colônias podem se reproduzir por enxameagem (FREE, 1980). Em climas temperados, a maioria das abelhas vivas que predominam no começo da primavera são abelhas velhas que conseguiram passar o inverno. O tamanho de uma colônia está diretamente relacionado com o número de insetos remanescentes do outono anterior. Estas abelhas senis tem uma baixa expectativa de vida, e a maioria sobreviverá a apenas alguns dias de coleta contínua. No começo da primavera, mais abelhas morrem do que nascem, sendo assim, a colônia diminui até o seu tamanho mínimo (PEREIRA, 2008). Em sua publicação, Arruda (2010) afirma que o caso supramencionado não acontece em colmeias de abelhas africanizadas, pois no inverno, o número de operárias de cada colônia não diminui em demasia como ocorre nas populações de abelhas europeias, uma vez que as rainhas de abelhas africanizadas geralmente mantêm a taxa de postura. Contudo, em períodos chuvosos prolongados, as operárias param de coletar alimento, consomem todo o mel estocado na colmeia e a rainha pode interromper a deposição de ovos. Quando isso acontece, as abelhas 115 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 abandonam a colmeia e procuram um local mais apropriado para construção de um novo ninho, ao invés de se aglomerarem e esperarem a passagem do período crítico, como ocorre com as abelhas de origem europeia. Colônias constituídas de grandes quantidades de abelhas jovens e que, portanto possuem maior expectativa de vida, são mais eficientes na coleta e estocagem de alimento. Como resposta às mudanças na quantidade de alimento coletado, as abelhas regulam o número de crias. Isto se aplica à quantidade de pólen coletado, pois este é a única fonte de proteínas para as abelhas. As operárias podem regular a ovipostura da rainha através do número de células que são limpas e preparadas para recepcioná-los, e podem ainda controlar o suprimento de alimento que oferecem à rainha, controlando dessa forma sua habilidade para produzir ovos. Embora a taxa de ovoposição de uma rainha possa ser influenciada pelas abelhas operárias de sua colônia, ela é capaz de manter a ovoposição de algum modo, independente da interferência das operárias, e isto pode ajudar a igualar os efeitos de pequenas flutuações da entrada de alimento na produção de cria (PEREIRA, 2008). Segundo Free (1980), as operárias também controlam o número de larvas que estão sendo criadas através do canibalismo. Altas taxas de ovoposição aumenta consequentemente a quantidade de suprimento alimentar, e ingerindo alguns ovos e larvas as abelhas operárias podem ajustar a quantidade de prole que está sendo criada veiculada ao suprimento de alimento disponível. Como resultado do aumento na criação de prole que reverte em maior coleta de alimentos, o número de abelhas adultas aumenta, e se a coleta permanecer abundante, o número de coletoras também será maior e a quantidade de alimento coletado também. A quantidade de alimento coletado é influenciada pela quantidade de prole presente. Estes fatores dependem do tamanho da colônia. Na primavera, uma colônia pequena cria mais prole por abelha que as colônias maiores, e as abelhas dessas pequenas colônias coletam mais alimento que as abelhas de colônias maiores. O crescimento da colônia pode permitir que a rainha atinja sua taxa máxima de ovoposição, que pode ser cerca de 1500 ovos por dia, esses dados são determinados parcialmente pelo comportamento de suas operárias e parcialmente pelas suas próprias limitações. Geralmente, quando está chegando o verão, a rainha atinge seu pico de ovoposição, face à elevada disponibilidade alimentar. Quando isso acontece, a proporção de abelhas adultas por cria aumenta, de modo que ha mais abelhas coletando e proporcionalmente menos larvas para alimentar. Esta é a razão pela qual as colônias que possuem mais abelhas adultas do que proles juvenis conseguem estocar maior quantidade de alimento que as colônias que ainda estão crescendo. O autor compara colônias maduras de diferentes tamanhos e afirma que a quantidade de mel estocado por essas são diretamente proporcionais às suas populações. Embora flutuações diárias na quantidade de alimento coletado provavelmente influenciem pouco na criação de prole, flutuações maiores podem ter um efeito considerável. Entretanto, qualquer diminuição na criação de prole e no número de indivíduos adultos é compensada de algum modo por um aumento na longevidade dessas abelhas. 1.2.2-Regulação da Temperatura As abelhas são atraídas uma pelas outras pela visão, vibração, calor e cheiro, e formam um agrupamento dentro da colmeia. O número mínimo de abelhas necessário para formar um agrupamento diminui com a queda da temperatura. Temperaturas de colmeias em torno de 20ºC não favorece o agrupamento, a menos que cinquenta ou mais abelhas estejam presentes. Essas abelhas constroem seus favos de cera, criam prole, estocam alimento e ainda são capazes de 116 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 regular a temperatura e a umidade dentro da colmeia. As abelhas, juntamente com a cria, produzem calor metabólico. A área de cria de uma colônia de abelhas do gênero Apis é geralmente mantida a uma temperatura de 34-35ºC e são admitidas pequenas flutuações de temperatura, principalmente em compartimentos onde haja ovos ou larvas. A poucos graus acima desta temperatura, as abelhas isoladas vivem mais tempo em ar úmido do que seco, porque a dessecação limita a sobrevivência. Temperaturas entre 34 a 35ºC propiciam maiores consumos de água, se esta estiver disponível. Porém, poucos indivíduos podem sobreviver por uma hora a temperaturas acima de 48ºC e ainda assim, somente a baixas umidades relativas, nas quais podem refrescar-se por evaporação. Por outro lado, numa temperatura externa de cerca de 50ºC, as colônias podem manter sua área de cria interna a temperaturas de cerca de 35ºC, mais ou menos, e por períodos mais curtos, a temperaturas de até 70ºC, contanto que tenha acesso à água. Quando a temperatura externa da colmeia se aproxima da temperatura da área de cria, as abelhas regulam-na de um ou mais modos. Com o aumento da temperatura, as abelhas se distanciam dos favos e algumas deixam o ninho e se agrupam fora deste. Com o aumento adicional da temperatura ambiente, elas viram-se para a colônia, na entrada do ninho, e começam a abanar as asas, produzindo assim uma corrente de ar para fora do ninho, ou seja, expelem o ar quente do interior do agrupamento. Suas atividades regulatórias são reforçadas por outras abelhas que estão abanando suas asas logo no interior da entrada e nos favos. Quando a colmeia possui duas entradas, a ventilação será regulada com a aspiração do ar numa entrada, através dos favos e expelida por outra entrada. Numa colmeia com apenas uma entrada, o ar pode ser aspirado através de uma parte e expelido por outra parte. Se o ar da parte externa da colmeia estiver com uma temperatura mais baixa que a de dentro da colmeia, esta será resfriada. Elas também conseguem esfriar a colônia evaporando água ou néctar diluído, espalhando gotículas de água nas células e regurgitando pequenas gotas de água abaixo de suas línguas que são desdobradas, expelindo a água como uma fina película, expondo assim uma área relativamente grande à evaporação. A água não é estocada na colmeia, ela é coletada sempre que necessário e prontamente utilizadas no resfriamento da colônia. A área de cria de uma colônia de Apis mellifera mellifera é geralmente mantida a uma umidade relativa de 40%. Na produção de mel, as abelhas concentram o néctar regurgitando-o e expondo-o abaixo de suas línguas, do mesmo modo que fazem quando esfriam um ninho. Quando muito néctar está sendo manipulado desta maneira, a umidade relativa torna-se excessiva, sendo novamente retificado com ventilação por abanamento, mesmo quando a temperatura do ar for maior que aquela já presente. A ventilação interna do ninho continuará enquanto a umidade relativa da colmeia permanecer alta. As operárias ventilarão a colmeia somente enquanto o ar aspirado for mais quente e tiver um maior conteúdo de dióxido de carbono ou uma umidade relativa maior que a de fora. Como o metabolismo das abelhas africanizadas aumenta com a temperatura, o ninho contém mais dióxido de carbono do que oxigênio a medida que a temperatura da colônia se torna mais quente. O esgotamento do oxigênio por si só não propicia uma resposta de ventilação, porém, o abanamento é induzido pelo aumento do dióxido de carbono do ninho, assim como acontece quando a temperatura aumenta. O autor compara colônia de diferentes tamanhos dizendo que as maiores colônias controlam seu conteúdo atmosférico de dióxido de carbono com mais precisão que as menores, mas ele é geralmente mantido a menos de 1%. Em temperaturas ambientes relativamente altas, nem a ventilação por abanamento e nem a evaporação da água serão suficientes isoladamente. A ventilação por abanamento sem resfriamento por evaporação agravaria a situação em temperaturas externas acima de 35ºC. Por outro lado, o resfriamento 117 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 por evaporação sem ventilação saturaria rapidamente a atmosfera do ninho e deixaria de ser eficaz (FREE, 1980). Em condições nas quais as abelhas africanizadas não podem coletar alimento, cessam a criação da prole e sobrevivem apenas com as reservas acumuladas de alimento. Para aumentar a temperatura do interior do ninho, as abelhas se aglomeram em "cachos". Se a temperatura continuar caindo, as operárias aumentam sua taxa de metabolismo, provocando vibrações dos músculos torácicos, gerando calor. Ocorre também uma troca de posição em que as abelhas que estão no centro do cacho vão para as extremidades e viceversa (PEREIRA, 2008). Geralmente, quando o frio é intenso a ponto de impedir a realização das tarefas da colônia, as abelhas africanizadas mudam o local do ninho para regiões onde o clima é mais suportável (ARRUDA, 2010). 1.2.3 -Coordenação de atividades e comunicação dentro do ninho De acordo com os autores Kerr et al.(1996), foram realizadas muitas pesquisas para se tentar descobrir como as abelhas africanizadas se comunicam entre si e coordenam suas atividades. Dentro da escuridão da colmeia, sistemas visuais devem ter a mínima importância, e os sentidos conhecidos pelos quais as abelhas podem se reconhecer e sinalizar umas as outras são auditivos, táteis e químicos. Numa colônia de Apis mellifera mellifera, o alimento é passado diretamente de uma operária à outra, assim como de operárias para zangões e para a rainha (FREE, 1980). A operária coletora chega à colmeia com seu estomago cheio de néctar que colheu das flores, outra operária se aproxima e introduz sua língua em sua faringe obrigando-a a regurgitar o néctar ingerido nos hexágonos da colmeia, que depois serão utilizados para alimentar todas as abelhas da colmeia, principalmente durante os meses de escassez alimentar (GUERRA, 2011). Quando uma abelha está solicitando alimento para outra, esta tenta inserir sua língua entre as mandíbulas da potencial doadora de alimento. Quando ela está oferecendo alimento, abre suas mandíbulas e move sua língua, ainda dobrada, para baixo e para frente, a partir de sua posição de repouso. Uma gota de alimento regurgitado pode ser vista entre as mandíbulas e nas proximidades da língua. Operárias, zangões e rainha pedem alimento, porém, somente as operárias podem oferecê-lo. Durante a transferência do alimento, as antenas das abelhas que estão sendo alimentadas bem como das doadoras ficam em constante movimento e continuamente entrando em contato (FREE, 1980). As antenas são um estímulo de contato muito importante na liberação de alimento além de ajudar as abelhas a orientar seus aparelhos bucais em relação às outras (STORT & CAMARGO, 1973). Durante seus dois primeiros dias de vida, as abelhas obtém todo seu alimento diretamente das operárias, e não se serve nas células de armazenamento até que tenha cerca de três dias de idade. Até duas semanas de vida as abelhas somente recebem alimento, depois disso elas podem tanto receber como também alimentar as larvas em desenvolvimento. Á medida que as operárias se tornam mais velhas, as idades médias das abelhas que elas alimentam e por quem são alimentadas também aumentam. Como resultado, há uma tendência de o alimento passar rapidamente através da colônia, a partir de abelhas mais velhas, que são coletoras, para as abelhas que estão alimentando a cria, produzindo cera ou amadurecendo o néctar para produzir mel. Foi realizado um experimento no qual era permitido que as abelhas coletassem uma pequena quantidade de xarope de açúcar contendo fósforo radioativo, e 118 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 descobriu-se que, dentro de 24 horas, o alimento era disseminado entre 55% das abelhas na colônia. Mudanças tanto na qualidade como na quantidade dos suprimentos coletados de néctar são rapidamente apreciados. Como estas mudanças podem afetar muitas atividades como a ovipostura, a criação de prole, o amadurecimento de mel, a secreção de cera e a construção de favos, a transferência alimentar é um importante meio de comunicação entre as abelhas, pois o alimento que está sendo circulado entre as habitantes da colônia também determina a concentração limite de néctar aceitável para as coletoras, que varia grandemente em diferentes épocas do ano, além de determinar também a necessidade de néctar e água. A pequena quantidade de néctar fornecido por uma coletora bem sucedida às coletoras potenciais dentro do ninho informa-as tanto sobre o odor quanto o sabor do alimento que deverão procurar (FREE, 1980). O principal meio de comunicação química dentro da colmeia são os feromônios, que são substâncias químicas voláteis, produzidas e descarregadas externamente pela abelha rainha, que produz respostas comportamentais ou fisiológicas específicas em outras castas da mesma espécie (ARRUDA, 2010). A comunicação química envolve a produção e liberação de compostos químicos específicos (semioquímicos) pelo emissor, e a detecção e processamento olfativo desse sinal com uma resposta comportamental apropriada pelo receptor (BENTO, 2007). Deste modo eles permitem que uma colônia de Apis mellifera mellifera se comunique por um código de estímulos químicos reconhecidos através de receptores antenários entre uma abelha e outra. O primeiro feromônio de abelhas do gênero Apis descrito na literatura provém de abelhas operárias que é liberado no campo ou na entrada da colmeia, e é utilizado para atrair outras abelhas nas proximidades do ninho (FREE, 1980). Feromônios liberados por uma abelha que está ferroando atraem outras abelhas guardiãs para o alvo estranho, essa é a razão pela qual abelhas africanizadas somente atacam em bandos (PEREIRA et al., 2003). Free (1980) relata que dentro do ninho, os feromônios produzidos pela cria tanto estimulam as operárias a coletar quanto inibem seu desenvolvimento ovariano. Entretanto, o que se conhece sobre os feromônios de Apis mellifera mellifera é, na melhor das hipóteses, fragmentário, pois a tarefa de identificálos não se mostra nada fácil. Isto ocorre, em partes, porque o mesmo feromônios pode ter significados distintos em diferentes circunstâncias. Atualmente foram identificados trinta e dois feromônios produzidos na cabeça da rainha, que proporcionam inúmeras combinações possíveis. A concentração, a persistência e a duração da produção do feromônio podem variar. Além disso, o mesmo feromônio pode ter efeitos diferentes em situações diferentes. Embora parafinas de cadeia longa na cera cuticular das abelhas tendem a agir como fixadores de feromônios mais voláteis, todo ou parte do complexo do feromônio é muitas vezes altamente volátil e não se presta facilmente às técnicas correntes de análise. Existem três formas pelas quais os feromônios podem ser transferidos entre as abelhas: pelo ar, por contato físico e no alimento (PEREIRA et al, 2003). O interior fechado do tipo de colmeia em que abelhas africanizadas ocupam pode facilitar a transferência de informações por feromônios voláteis no ar. Uma temperatura quase constante e a ausência de correntes de ar ajudariam a acentuar a estabilidade e a disseminação do feromônio, enquanto a ventilação regulada por abelhas abanadoras poderia dispersar ou espalhar rapidamente os feromônios quando necessário. Assim como é um meio de comunicação por si só, o alimento também é um meio pelo qual vários feromônios são circulados através da colônia. 119 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 1.3 -Defesa da Colônia Como o ninho de Apis mellifera mellifera contém materiais nutritivos como mel e pólen e frequentemente, grandes números de crias, ele torna-se atrativo para muitos predadores, inclusive o homem. O comportamento de defesa agressivo que as abelhas exibem frente a tais invasores é uma necessidade fundamental para a sobrevivência da colônia (FREE, 1980). O ferrão, que nada mais é do que um ovopositor modificado é constituído por um estilete usado na perfuração. Possui duas lancetas constituídas de farpas que prendem o inseto na superfície ferroada, dificultando sua retirada dos tecidos animais (PEREIRA et al., 2003). Quando a abelha ferroa um individuo, o ferrão e o sétimo segmento abdominal são deixados no tecido do animal. O receptáculo venenífero também é deixado juntamente com o ferrão no corpo da vítima, de modo que ele continua a injetar veneno no corpo do indivíduo. Dessa forma, a abelha que ferroou logo morre, mas o sacrifício de alguns indivíduos pode deter intrusos grandes, que poderiam destruir a colônia inteira (FREE, 1980). A defesa efetiva depende de um reconhecimento rápido do inimigo. O principal meio de reconhecimento do inimigo é pelo odor, mas outros fatores também podem estar envolvidos na estimulação do comportamento agressivo de defesa (PEREIRA, 2008). A agressividade da defesa também é estimulada por cores escuras, as abelhas africanizadas tendem a ficarem mais agressivas com cores escuras. Esta afirmação foi confirmada por um estudo realizado, onde bolinhas de couro foram introduzidas na entrada de um ninho, muitas abelhas atacaram a bolinha e nela deixaram seus ferrões. Uma vez que a bola tenha sido ferroada por uma abelha, ela receberá outras ferroadas, de modo que o ferrão deixado sobre um inimigo tem o efeito de marcar a área do alvo e facilitar futuras investidas defensivas, isto acontece devido à liberação de um feromônio que a abelha que ferroou primeiro deixou no inimigo, o acetato de isopentil. O aumento da agressividade nas abelhas do gênero Apis tende a estar relacionado tanto com um aumento na quantidade de isopentilacetato quanto com um limiar mais baixo de resposta a ele (FREE, 1980). Na apicultura, os apicultores costumam lançar fumaças sobre uma colônia de abelhas para diminuir suas tendências agressivas. A fumaça faz com que algumas abelhas ingurgitem-se com o mel dos favos, e aquelas que o fazem têm menos probabilidade de ferroar. As abelhas que se empenham na alimentação de crias ou na construção de células possuem mais alimento em seus papos que aquelas empenhadas em outras atividades, tanto antes quanto depois do enfumaçamento, de modo que teriam menor probabilidade de deixar o favo e atacar o inimigo. Entretanto, muitas abelhas de todas as idades não se ingurgitam quando suas colônias são enfumaçadas, porém, a fumaça também tem a função de acalmar as abelhas (FREE, 1980). O enfumaçamento proporciona nas abelhas uma impressão de incêndio, fazendo com que encham o estômago de mel, preparando-se para uma viagem iminente. Com o estômago cheio fica mais difícil defenderem a colmeia e dobrarem o abdômen para efetuar a ferroada. A fumaça desorienta as abelhas, confundindo o cheiro da colônia e atrapalhando a união das mesmas (KERR et al., 1996). Durante sua vida, as abelhas mudam suas funções dentro da colônia, por exemplo, depois de terem completado as tarefas de ninho e antes de começarem a coletar, algumas abelhas africanizadas tornam-se guardas. O número das que assim procedem aumenta com o número de intrusos potenciais, que é maior em algumas épocas do que em outras. Quando a 120 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 coleta é escassa e sua colônia corre perigo de ser saqueada, uma grande proporção de abelhas, incluindo as operárias sem trabalho, assumem a guarda do ninho. As guardiãs assumem uma postura de ameaça típica, mantendo suas patas anteriores fora do chão, as antenas são movidas para frente, e mandíbulas e asas permanecem abertas, prontas para atacar qualquer intruso. Cada guardiã patrulha uma área particular da entrada do ninho (FREE, 1980). Qualquer movimentação estranha no exterior da colmeia, provocado por barulho ou cheiros adversos, desperta um comportamento de defesa nas operárias. Ocorre então, a saída de operárias e guardas para defenderem o ninho de qualquer predador ou intempérie ambiental que possa existir (AIDAR & ROSSINE, 2012). Estas operárias guardas rapidamente arremessam-se sobre o intruso, tentando inserir seus ferrões sobre ele. Várias guardiãs frequentemente atacam o mesmo intrudo. A ferroada não é sempre a defesa mais eficaz; foram vistas abelhas repelindo formigas invasoras, virando-se diretamente à frente delas de modo a encarar a mesma direção que as formigas que avançavam, então, recuar com suas patas posteriores dirigidas para o ar e para trás, e abanar vigorosamente o ar com suas asas, para trás para desalojar as formigas. Para as abelhas do gênero Apis, as ameaças mais sérias vêm de abelhas de outras colônias, que em períodos de escassez, tentam roubar seus estoques de mel. Para defender a colônia, as operárias guardiãs devem ser capazes de distinguir as operárias de sua e de outras colônias. Elas são capazes de fazê-lo em parte pelo comportamento das abelhas que elas estão examinando e em parte pelo seu odor. Todas as operárias adultas de uma colônia possuem o mesmo odor da colônia, que é diferente do de qualquer outra colônia. Parece que este odor não é herdado, mas sim adquirido do meio ambiente. As ceras cuticulares dos corpos das abelhas absorvem os odores de dentro do ninho. O odor do alimento estocado é provavelmente o principal responsável e, como as fontes florais de alimento que uma colônia coleta estão mudando continuamente, também o odor das abelhas da colônia muda. As guardiãs frequentemente interceptam membros de sua própria colônia logo na entrada do ninho. Muitas vezes elas tentam examinar o abdômen da abelha interceptada e seu comportamento sugere que tenham que se aproximar e tocar as antenas, antes que estejam certas de sua identidade. Quando a abelha que está sendo examinada tem o mesmo odor identificador que a própria guardiã, ela raramente hesita por um ou mais segundos, e se é uma coletora que está retornando, continua em direção ao interior do ninho. Uma guardiã raramente tenta examinar um membro de sua própria colônia por mais de dois ou três segundos. Frequentemente varias guardiãs examinam o mesmo indivíduo ao mesmo tempo, e muitas vezes algumas o maltratam, puxando suas asas, patas e cabeça, tentando arrastá-lo para fora da entrada da colmeia. Quando uma guardiã se aproxima da cabeça de uma abelha intrusa submissa, esta lhe oferece uma gota de alimento regurgitado. Este ato é geralmente ignorado, mas mesmo quando é aceito, outras guardiãs continuam a maltratar a abelha intrusa enquanto esta lhe dá o alimento, e a própria guardiã que aceitou a doação frequentemente a maltrata e seguida. Embora a função deste comportamento seja obscura, ele é interessante porque talvez a transferência de alimento entre operárias tenha evoluído o hábito de uma abelha submissa oferecer alimento a uma dominante. Quando as ofertas de alimento de uma abelha submissa foram ignoradas várias vezes, ela estende sua língua e começa a afiá-la com seu par dianteiro das patas. Este comportamento é similar ao comportamento normal de limpeza de língua das abelhas, porém os movimentos são mais rápidos e menos complexos e o processo se prolonga por mais tempo. Provavelmente este comportamento da abelha submissa apazigua de algum modo as tendências agressivas da guardiã. A menos que os intrusos tentem escapar, o que desencadeia imediatamente a resposta de ferroar das guardiãs, estas não tentam matar os 121 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 intrusos submissos, e a alguns deles é eventualmente permitido entrar na colmeia e, após algumas horas, eles deixam de ser maltratados ou examinados pelas abelhas da colônia receptora, presumivelmente porque já adquiriram seu odor. Os intrusos não intencionais são reconhecidos por seu cheiro estranho, já os intencionais, ou seja, as abelhas que tentam roubar os estoques de mel das colônias são reconhecidas por seu voo, que são realizados com movimentos para frente e para trás, diante da entrada da colmeia, buscando entrar sem serem revistadas pelas guardiãs. Quando uma abelha guardiã pega uma abelha ladra, esta tenta ferroála, a ladra revida e a luta continua até a morte de uma delas (FREE, 1980). FIGURA 03: Uma guardiã alerta. Fonte: http://www.flickr.com/photos/fotolimponativebee/page8/. 1.4 -Coleta de Alimento As abelhas operárias que se encarregam da função de coletar, além de pólen e néctar, também coletam própolis e água. O tipo e a quantidade de alimento coletado estão relacionados às necessidades da colônia na ocasião (LOPES, 2008). A própolis é um produto processado pelas abelhas a partir de substâncias resinosas da casca ou brotos de várias plantas. As abelhas o utilizam para calafetar fissuras e pequenas aberturas nas paredes dos ninhos e para reduzir aberturas maiores. Quando uma coletora de própolis retorna ao ninho, ela se direciona onde estão precisando do material recém-chegado e espera que uma abelha cimentadora o remova de suas corbículas femorais (FREE, 1980). A própolis é geralmente coletada no fim do verão e no outono, durante a parte mais quente do dia. A própolis também é usada para envernizar alvéolos para a postura da abelha rainha e embalsamar os animais mortos dentro da colmeia que as abelhas não conseguem remover (KERR et al., 1996). A água não é estocada nos favos, ela é coletada somente quando necessário. É utilizada para diluir os estoques de mel quando se produz alimento para a cria, especialmente na primavera, quando há pouco néctar disponível. As transportadoras de água são particularmente numerosas depois de tempo frio ou chuvoso durante o qual as abelhas não puderam coletar néctar e tiveram que usar o mel estocado. A água também é utilizada para refrescar o interior do 122 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ninho quanto este se torna quente demais, as abelhas esfriam-no colocando gotículas de água nos favos, e aumentam a evaporação, abanando-as com suas asas, elas também ajudam o resfriamento evaporando néctar e água sobre suas línguas (PEREIRA et al., 2003). Free (1980), explica que a coleta de pólen é grandemente influenciada pelas necessidades da colônia. Embora as abelhas obtenham somente pólen e néctar de algumas flores, elas podem coletar ambas as cargas, de muitas espécies de flores. O pólen é o conjunto dos minúsculos grãos produzidos pelas flores das plantas mais evoluídas do sistema biológico vegetal, que são os elementos reprodutores masculinos, onde se encontram os gametas que vão fecundar os óvulos, para transformá-los em frutos. As abelhas coletoras frequentemente coletam pólen em algumas viagens e néctar em outras, no mesmo dia. O tipo de coleta realizada depende de sua disponibilidade, pois em algumas espécies de flores o pólen e o néctar são mais abundantes em diferentes horas do dia. Entretanto, algumas abelhas coletam somente néctar, outras somente pólen, e outras, néctar e pólen, na mesma coleta, ao mesmo tempo. Portanto, as coletoras decidem individualmente o tipo de coleta que realizarão, e foi comprovado que elas mudam rapidamente da coleta de pólen para a de néctar e vice-versa, à medida que mudam as exigências da colônia. Contanto que haja estoques adequados de mel na colmeia, com o aumento na quantidade de cria, também aumenta a proporção de coletoras de pólen e a quantidade de pólen coletado. Por outro lado, a perda de cria pela colônia faz com que muitas coletoras de pólen mudem e coletem néctar. O néctar, matéria – prima para a fabricação de mel é produzido pelas flores de muitas plantas. Basicamente, é uma solução aquosa composta por três açúcares chamados frutose, glicose e sacarose, com um pouco de proteínas e sais (RIBEIRO, 2008). Os fatores que encorajam a coletora de néctar têm sido pouco estudados. Não se sabe se a quantidade de néctar coletado está relacionada com a quantidade de mel estocado, embora a coleta de néctar vá muito além das necessidades imediatas da colmeia. Estudos realizados indicam que uma colônia que se alimenta de xarope de açúcar aumenta sua coleta de pólen. Provavelmente, as abelhas do ninho que normalmente recebem as cargas de néctar estão coletando o xarope, e as coletoras de néctar têm dificuldade em passar à frente seu néctar e então mudam para a coleta de pólen. O néctar é, provavelmente, coletado na ausência de uma necessidade especial de pólen, própolis e água. A presença de cria e uma rainha de colônia estimulam a coleta em geral, inclusive a de néctar (FREE, 1980). O suprimento de coleta flutua com as diversas épocas do ano e com as diversas floradas (STORT & CAMARGO, 1973). Durante as floradas, a quantidade de coleta disponível varia com o tempo, com a temperatura e com o comprimento do dia. Esses fatores devem controlar o número de colmeias selvagens que podem sobreviver sem receber ajuda, numa determinada área. O tempo durante o qual uma determinada coleta está disponível pode ser tão importante quanto sua abundância total. A atratividade de uma determinada florada depende de muitos fatores, como a quantidade e a qualidade do pólen produzido pela flor, a concentração e a quantidade de néctar produzido pela flor, a concentração e a abundância das flores, o número de insetos competidores, a atratividade de floradas competidoras, a distância da florada à colônia, as necessidades da colmeia e a preferência floral desta (FREE, 1980). 123 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 3: Operária coletando. Fonte: http://www.papeisdeparedehd.com/viewhttp://www.papeisdeparedehd.com/viewabelha_coletando_polem-wide.htmlabelha_coletando_polem-wide.html. 1.4.1 -Dança de colheios das Hymenopteras As abelhas africanizadas, Apis mellifera mellifera, também se comunicam umas com as outras através de uma dança. Depois que uma delas encontra alimento, esta retorna à colmeia e conta às outras (BENTO, 2009). Essas abelhas são capazes de informar outras abelhas da colônia sobre a localização de um suprimento atrativo de coleta, e isto lhes permite explorá-lo rapidamente. Quando a coleta está localizada a até 25 metros da colônia, na sua volta ao ninho a coletora bem sucedida realiza uma dança em círculo, na qual ela circula em uma direção, para, vira e circula na direção contrária, alternando entre sentido horário e anti-horário a cada um dois círculos. A dança pode consistir em uma ou duas inversões, ou prosseguir até um máximo de vinte. Quando algumas das abelhas que se encontram próximas são estimuladas pela dançarina, tocam-na com suas antenas e tentam acompanhála. A dançarina, a intervalos, interrompe sua dança e oferece a estas recrutas uma gota do néctar que coletou. Essas recrutas aprendem o odor da coleta que devem procurar a partir do odor do néctar que lhes é dado e a partir do odor das flores que está aderido ao corpo da dançarina. As coletoras recrutas geralmente deixam o ninho dentro de um minuto ou pouco mais e procuram, e suas proximidades, coletas com o odor correto. O recrutamento aumenta com a vivacidade e o vigor da dança e com sua duração (FREE, 1980). Bento (2009), fala sobre a dança do requebrado que é realizada quando a coleta está localizada a cem metros ou mais da colmeia. Segundo o autor, as abelhas dançam um meio círculo em uma direção, volta e corre reto enquanto chacoalha o abdômen (como se estivesse rebolando). Então ela dança outro meio círculo, na direção contrária do primeiro. Estes dois círculos formam a figura de um oito. Essa dança descreve a direção e a distância da fonte de alimento, tendo o sol como referência. 124 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 05: Dança de Apis mellifera mellifera. (a) Dança em círculo. (b) Dança do requebrado. Fonte: A abelha. 1.5-Anatomia Todos os insetos pertencem ao Phylum Arthropoda. O Phylum Arthropoda atualmente encontra-se subdividido em três subfilos: Subphylum Chelicerata, Subphylum Crustacea e Subphylum Uniramia. Neste último estão classificadas as abelhas, formigas, borboletas, besouros, etc, os quais encontram-se reunidos na classe Hexapoda. Dentre os animais compreendidos na classe Hexapoda, destacaremos as abelhas, que pertencem à ordem Hymenoptera, à qual também pertencem as vespas e as formigas. As abelhas se diferenciam dos demais himenópteros pelo tipo de cerdas ou pelos que revestem seu corpo e pelos hábitos alimentares. Os pelos nas abelhas são ramificados ou plumosos, estes revestem todo o corpo do inseto, principalmente a cabeça e o tórax, enquanto nos outros himenópteros são simples. As abelhas alimentam-se de néctar e pólen; Os outros insetos da mesma ordem se alimentam de tecidos animais. Todas as abelhas pertencem à família Apidae, a qual destacaremos o gênero Apis, que se compõe de apenas quatro espécies: flórea, dorsata, cerana e mellifera. A região IndoMalaia é considerada como o centro de origem dessas espécies, pois lá se encontram as três primeiras em estado natural. Já a última, Apis mellifera mellifera, é a mais conhecida entre as abelhas (STORT & CAMARGO, 1973). 1.5.1-Anatomia Externa Ao observarmos uma abelha do gênero Apis verificamos que ela possui o seu corpo segmentado e formado por uma carapaça dura e inteiramente revestida por pelos. Essa carapaça, nada mais é que o exoesqueleto da abelha ou esqueleto externo, característica que todo inseto possui. O exoesqueleto constitui-se de quitina, ele fornece proteção para os órgãos internos e sustentação para os músculos, além de proteger o inseto contra a perda de água. O exoesqueleto se divide em duas camadas: cutícula e epiderme (STORT & CAMARGO, 1973). O corpo das abelhas, bem como o de todos os insetos, constitui-se de três partes principais denominadas tagmas, que são a cabeça, o tórax e o abdômen (PEREIRA et al., 2003). 1.5.1.1- Cabeça Na cabeça, estão localizados um grande número de apêndices e órgãos sensoriais. Nas partes laterais da cabeça existem dois grandes olhos, que são denominados de olhos compostos ou facetados porque é composto de estruturas menores denominadas omatídeos (STORT & CAMARGO, 1973), cuja função é de percepção de luz, cores e movimentos. As abelhas não 125 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 conseguem perceber a cor vermelha, mas podem perceber os espectros ultravioleta, azulvioleta, azul, verde, amarelo e laranja. Além dos olhos compostos, as abelhas também possuem mais três olhos pequenos, ou olhos simples, situados na parte superior da cabeça formando um triângulo. Esses olhos simples são denominados ocelos, e têm como função detectar a intensidade luminosa (PEREIRA et al., 2003). Articuladas na parte frontal mediana da cabeça estão localizadas um par de antenas. Segundo os autores Stort & Camargo (1973), no interior das antenas existem estruturas para o olfato, o tato e para a audição. O olfato é realizado por meio das cavidades olfativas, que existem em número bastante superior nos zangões, quando comparados com as operárias e rainhas. Isso se deve à necessidade que os zangões têm de perceber o odor da rainha. FIGURA 06: Omatídeos. Fonte: http://sociedadealterativa.blogspot.com.br/2010/10/veja-omundopelos-olhos-de-uma-abelha.html. FIGURA 07: Aspectos da morfologia externa da cabeça de operária de Apis mellifera. Fonte: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/morfologia.htm. 126 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A presença de pelos sensoriais na cabeça serve para a percepção das correntes de ar e protegem contra a poeira e água. O aparelho bucal é constituído por duas mandíbulas e uma língua. As mandíbulas são estruturas fortes, utilizadas para cortar e manipular cera, própolis e pólen. Servem também para alimentar as larvas, limpar os favos, retirar abelhas mortas do interior da colmeia e na defesa. A língua é uma peça bastante flexível, membranosa e coberta por bastante pelo, utilizada na coleta e transferência de alimento, na desidratação do néctar e na evaporação da água quando se torna necessário controlar a temperatura da colmeia (STORT & CAMARGO, 1973). No interior da cabeça, encontram-se as glândulas hipofaringeanas, que têm por função a produção da geleia real. As glândulas salivares estão envolvidas no processamento do alimento e as glândulas mandibulares estão relacionadas à produção de geleia real e feromônio. 1.5.1.2-Tórax Segundo os autores Stort & Camargo (1973), o tórax da abelha ocupa a parte mediana do corpo e suporta todos os apêndices locomotores, como pernas e asas. O tórax possui uma grande quantidade de pelos, que possuem importantes funções na fixação dos grãos de pólen quando as abelhas entram em contato com as flores. O tórax pode ser dividido em três partes: protórax, mesotórax e metatórax. Cada uma dessas partes possui um par de pernas articuladas classificadas como anterior, mediana e posterior. Além da função de locomoção, as pernas auxiliam também na manipulação da cera e própolis, na limpeza das antenas, das asas e do corpo. As pernas posteriores possuem um cesto de recolha do pólen, ou seja, possuem pelos em forma de escova que lhes permite agarrar o pólen. As abelhas possuem dois pares de asas de estrutura membranosa e revestidas por minúsculos pelos além de algumas veias que lhe dão resistência durante o voo. Tudo isso possibilita o voo a uma velocidade média de 40 km/h (PEREIRA et al., 2003). Encontra-se um par de asas articuladas no mesotórax e outro no metatórax, que são conhecidas como asas anteriores e posteriores. As posteriores possuem, na parte dorsal, alguns ganchinhos que se prendem em uma dobra existentes nas anteriores, dando assim a possibilidade de se moverem em conjunto (STORT & CAMARGO, 1973). FIGURA 08: Cesto de recolha do pólen na http://projectomsi.zxq.net/Biossintese%20do%20Mel.htm. 127 pata posterior. Fonte: REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 1.5.1.3-Abdômen O abdômen é a porção mais flexível do corpo da abelha, e seus segmentos são ligados por uma fina membrana que possibilita a sua contração e a distinção. Nele, encontram-se órgãos do aparelho digestório, circulatório, reprodutor, excretor, órgãos de defesa e glândulas produtoras de cera (STORT & CAMARGO, 1973). Existem quatro glândulas produtoras de cera (ceríferas), localizadas na parte ventral do abdome das abelhas operárias. A cera secretada pelas glândulas se solidifica em contato com o ar, formando escamas ou placas que são retiradas e manipuladas para a construção dos favos com auxílio das pernas e das mandíbulas. Os autores Pereira et al. (2003), descrevem sobre o ferrão, como o órgão de defesa das abelhas, que estão presentes somente em rainhas e operárias : no final do abdômen, encontra-se o órgão de defesa das abelhas - o ferrão - presente apenas nas operárias e rainhas. O ferrão é constituído por um estilete usado na perfuração e duas lancetas que possuem farpas que prendem o ferrão na superfície ferroada, dificultando sua retirada. O ferrão é ligado a uma pequena bolsa onde o veneno fica armazenado. Essas estruturas são movidas por músculos que auxiliam na introdução do ferrão e injeção do veneno. As contrações musculares da bolsa de veneno permitem que o veneno continue sendo injetado mesmo depois da saída da abelha. Desse modo, quanto mais depressa o ferrão for removido, menor será a quantidade de veneno injetada. Recomenda-se que o ferrão seja removido pela base, utilizando-se uma lâmina ou a própria unha, evitando-se pressioná-lo com os dedos para não injetar uma maior quantidade de veneno. Como, na maioria das vezes, o ferrão fica preso na superfície picada, quando a abelha tenta voar ou sair do local após a ferroada, ocorre uma ruptura de seu abdômen e consequente morte. Na rainha, as farpas do ferrão são menos desenvolvidas que nas operárias e a musculatura ligada ao ferrão é bem forte para que a rainha não o perca após utilizá-lo. FIGURA 09: Aspectos da morfologia externa de operária de Apis mellifera mellifera. Fonte: http://projectomsi.zxq.net/Biossintese%20do%20Mel.htm. 128 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 1.5.2-Anatomia Interna FIGURA 10: Anatomia interna da Apis mellifera. Fonte: http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Mel/SPMel/morfologia.htm. No sistema digestório das abelhas do gênero Apis, o canal alimentar não serve somente para a digestão de alimentos, mas também para transportar néctar da flor à colmeia. Esse sistema é formado pela faringe, esôfago, estômago, proventrículo, ventrículo, intestino delgado e grosso. A parte do tubo digestório que se encontra próxima à boca é a faringe, este termina ao alcançar o alto da cabeça, a partir dai até a base do abdômen temos o esôfago. O proventrículo fica entre o papo e o ventrículo e sua função é regular a entrada de alimento do papo para o ventrículo, e reter no papo o néctar que será aproveitado na colônia. O ventrículo é o estômago funcional das abelhas, serve para completar a digestão e constituir uma grande parte do canal alimentar. Sua superfície possui numerosas dobras. Apesar de o ventrículo ser responsável pela digestão do alimento, é somente no intestino delgado que o alimento será absorvido e distribuído para o corpo (STORT & CAMARGO, 1973). Segundo os autores Stort & Camargo (1973), a perda de água na respiração das abelhas, é feita pelas papilas retais, que desidratam os detritos armazenados no intestino grosso, ou reto. Além dessas estruturas, há também os tubos de Malpighi, porém, estes agem independentes do sistema digestório. Esses tubos são estruturas longas e finas, desembocam no ápice do ventrículo, ou seja, entre o ventrículo e o intestino delgado. É o principal órgão excretor dos insetos. O sistema circulatório apresenta um tubo dorsal chamado coração, localizado no abdômen. Além dele outros órgãos o auxiliam nessa função, como o diafragma dorsal e ventral. Um grande vaso sanguíneo, a aorta, e dois pequenos vasos conduzem o sangue para as antenas. O sistema circulatório dos insetos é do tipo aberto, sendo que o sangue, conhecido como hemolinfa (por ser quase incolor), circula do abdômen para o tórax, através do bombeamento cardíaco, banhando todos os órgãos, ou seja, o sangue não percorre o corpo da abelha através 129 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 de um sistema fechado de vasos, veias, artérias e capilares como acontece nos vertebrados. Na abelha adulta o coração se apresenta de forma alongada, sob o teto do abdômen e ligado ao diafragma dorsal (STORT & CAMARGO, 1973). O sistema nervoso das abelhas é dividido em várias partes, como o cérebro, o gânglio subesofageano e o cordão nervoso ventral (PEREIRA et al., 2003). O cérebro ocupa quase toda a parte anterior da cabeça da abelha. O gânglio subesofageano que fica abaixo do esôfago tem ligação com o cérebro, e dele partem os nervos que se ligam na mandíbula e língua. O cordão nervoso ventral percorre quase todo o corpo da abelha (STORT & CAMARGO, 1973). O sistema respiratório da Apis mellifera mellifera é formado por um conjunto de tubos e traqueias que se ramificam por todo o corpo da abelha. Esta ramificação permite as trocas gasosas, sem auxílio da hemolinfa. As traqueias abrem-se para o exterior ao nível da cutícula em diversos orifícios, denominados espiráculos. Estes apresentam um sistema de fechamento que regula a entrada de oxigênio, a saída de gás carbônico evitando dessa forma a perda de água. A respiração é controlada pelo sistema nervoso central (RUPPERT et al., 2005). O sistema glandular das abelhas africanizadas é composto por várias glândulas. Na cabeça, por exemplo, existem varias, sendo que as mais importantes são as hipofaringeanas que produzem geleia real e que estão presentes somente nas operárias. As glândulas hipofaringeanas são muito desenvolvidas em operárias do gênero Apis. Cada glândula consta de um canal quitinizado, muito longe, ao qual se unem grande número de grupos de células secretoras (LANDIM, 1967). Ocupam a parte anterior da cabeça. A sua parte externa é formada por bolinhas que contêm células secretoras que se ligam ao longo de um duto que conduz a secreção até a parte inferior da faringe, que é onde desemboca. As glândulas salivares possuem células mais numerosas e mais agrupadas que as hipofaringeanas e sua secreção segue um duto único que desemboca perto do lábio. As glândulas mandibulares são diferenciadas, e suas funções variam conforme as castas, na operária, por exemplo, serve para dissolver cera. Sua secreção é direcionada para a parte interna da mandíbula e daí para fora. No tórax só existe um par de glândulas, que são as salivares torácicas. Essas glândulas localizamse na parte anterior, ventral do tórax, sob o tubo digestivo. No abdômen existem as glândulas de cera, de cheiro ou Nassanov e do ferrão. A glândula de cera se localiza na superfície interna ventral (STORT & CAMARGO, 1973). Landim (1967) descreveu as glândulas de cera e estudou seu funcionamento em abelhas do gênero Apis. Segundo o autor, essas glândulas nada mais são que uma especialização da hipoderme que reveste internamente o exoesqueleto das abelhas. Verificou-se ainda que o grau de desenvolvimento da glândula varia com a idade da abelha e as necessidades urgentes da colmeia. A glândula de cheiro não está presente nos zagões. Segundo os autores Stort & Camargo (1973), a secreção é depositada na base externa abdominal. Diversos autores descrevem que o cheiro que as abelhas produzem serve para elas se distinguirem suas companheiras. As glândulas do ferrão são duas: a ácida e a básica. A ácida produz a substância que é injetada pelo ferrão e a básica possui uma secreção que serve para cobrir os ovos com uma camada aderente e protetora. Sobre a faringe e perto do cérebro encontramos um par de glândulas de secreção muito importante chamada de copora allata. Essa glândula produz um hormônio, o hormônio juvenil, substancia produzida em maior quantidade na fase larval, daí a origem do nome. Alguns autores dizem que esse hormônio está relacionado com o crescimento da larva. No inseto adulto ele assume funções relacionadas ao controle do metabolismo geral. Os hormônios que promovem a produção de ecdisona em abelhas jovens são produzidos pela corpora cardíaca. Este órgão está localizado sobre a faringe e ligado a 130 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 copora allata por um curto tendão. A corpora cardíaca produz ecdisotropina. Tem importância na diferenciação de ovários e glândulas reprodutivas acessórias (LANDIM, 1967). FIGURA 11: Glândulas presentes na Apis mellifera Fonte: http://projectomsi.zxq.net/Biossintese%20do%20Mel.htm. mellifera. Encontramos nas abelhas diversos órgãos sensoriais que lhes dão percepção de todo o ambiente em que vivem. Vários experimentos foram realizados comprovando que elas podem ver, cheirar, sentir gosto, pressão, entre outros. Dentre todos esses sensores, destacamos como mais importantes os olhos compostos e as antenas. Elas possuem dois grandes olhos dispostos lateralmente na cabeça, chamados olhos compostos, estes se compõem de milhares de olhinhos menores chamados omatídeos. Também possuem três olhos menores na parte superior da cabeça, chamados ocelos. Um estudo realizado pelo professor Von Frish comprova que as abelhas conseguem sentir o cheiro através dos nove segmentos terminais das antenas. Elas possuem nesse órgão pelos e placas sensoriais que lhes permite ter a sensação do cheiro. Além disso, muitos outros tipos diferentes de órgãos sensoriais ou sensillas sensitivas se desenvolvem nas antenas. Nas antenas das abelhas existem milhares de placas sensoriais, como por exemplo, a sensilla placoidea. Essas estruturas são constituídas por células sensoriais que se ligam ao sistema nervoso. Há também a sensilla trichoidea em que a parte cuticular é 131 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 apenas um pequeno pelo. Esse órgão ocorre em todas as partes do corpo das abelhas, sendo bastante numerosos nas regiões da boca e antenas. A sensilla basicônica, em que a parte cuticular tem a forma de um cone. São quimiorreceptores, ou seja, recebem estímulos químicos relacionados ao sentido do paladar e olfato. Há ainda as sensilla escolopophora que se localizam nas pernas e na cabeça da abelha, elas indicam a pressão e a tensão no exoesqueleto. Na antena ainda existe um estrutura sensorial chamada órgão de Johnston, que detecta e analisa vibrações das antenas, funciona como indicador da velocidade de voo (SORT & CAMARGO, 1973). O aparelho reprodutor das abelhas consiste em um par de ovários, que se conectam a um par de ovidutos laterais (LANDIM, 1967). Cada um deles tem um feixe de mais ou menos cento e cinquenta túbulos chamados ovaríolos. Na parte basal dos ovaríolos há os ovidutos laterais que se unem formando um oviduto médio que se liga à vagina. Na rainha se encontra a espermateca que é um saco onde ficam depositados os espermatozoides durante toda a sua vida após ser fecundada. Um pequeno tubo liga a vagina à espermateca. Na parte terminal do abdômen há o ferrão, que nos ancestrais das abelhas pode ter tido a função de ovipositor, e como não havia necessidade, se tornou uma estrutura de defesa. Nos zangões, o aparelho reprodutor é composto de um par de testículos, onde existem túbulos enrolados onde os espermatozoides são produzidos e armazenados. Em seguida, aparece um par de vesículas seminais, que são estruturas que aumentam de tamanho quando recebem os espermatozoides provenientes dos testículos durante o amadurecimento do inseto. Há também os vasos eferentes, que ligam os testículos às vesículas seminais. É na parede dessas vesículas que é produzida a secreção seminal. Ligadas às vesículas seminais estão as glândulas de muco, que também aumentam de tamanho quando o zangão se torna sexualmente maduro. O duto ejaculatório, por onde os espermatozoides passam durante a cópula, é um tubo longo e fino que se estende desde a região anterior do pênis até o local onde as glândulas de muco se unem. O pênis, ou endofalo, é muito grande e bem típico nessas abelhas. 2-Procedimentos Experimentais 2.1-Teste de Agressividade da Apis mellifera mellifera A abelha africanizada é muito conhecida por sua agressividade extrema, sendo que essa agressividade além de ser hereditária, é também influenciada por uma série de fatores, dentre eles, podemos considerar a movimentação brusca nas proximidades da colmeia, objetos e roupas de lã felpudas, cores fortes como o preto e o marrom, cheiros fortes (perfumes, desinfetantes, entre outros), barulho e fatores climáticos como o vento, chuva e variações na temperatura. A idade da operária também influencia em sua agressividade, pois quanto mais velha maior será sua sensibilidade ao feromônio de alarme e, portanto, mais agressiva (NASCIMENTO et al., 2005). Testes de agressividade realizados por Stort (1974) demonstraram que abelhas africanizadas variam sua agressividade de acordo com diferentes temperaturas. Resultados semelhantes aos obtidos pelo autor supramencionado, também foram observados na presente pesquisa, a qual foi realizada na Universidade Estadual Paulista – UNESP “Júlio de Mesquita Filho” – Campus de Rio Claro, município localizado na região Centro-Leste do estado de São Paulo. 132 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 12: apiário da UNESP. Fonte: Maria Betania Soares dos Santos. A pesquisa foi conduzida com uma única colônia de Apis mellifera mellifera, constituída de uma população adulta com área de cria homogênea. No apiário da Universidade, existem cerca de 40 colmeias, as quais encontramse localizadas às sombras das árvores. Durante a execução da pesquisa, foi feito um quadro com cera artificial para servir de suporte para o abrigo das larvas e ovos de abelhas. Vale a pena ressaltar que no apiário da Universidade existe uma colmeia destituída de abelha rainha. Esse fato atípico chama a atenção e fica aqui a sugestão para investigações posteriores que venham das respaldo ao entendimento desse comportamento raro, pouco observado em insetos sociais. O apicultor da Universidade Sr. Antônio Sergio Pascon, confirma que a supracitada colmeia nunca aceitou uma rainha, nem tão pouco se esforçavam para criar essa casta, mesmo quando eram colocados os potes de cera dentro da colmeia, elas simplesmente não alimentavam essas larvas com geleia real. A colmeia em questão é grande, com uma superpopulação de abelhas adultas, e organização social igual à de uma colmeia normal, porém, sem a rainha. Acreditase que essa colmeia utilize feromônios das rainhas das colmeias vizinhas existentes no apiário para manter a organização social de sua colmeia. 133 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 13: A cobaia antes da realização do teste. Fonte: Maria Betania Soares dos Santos. O teste de agressividade foi realizado de dezembro de 2011 até agosto de 2012. Para a realização dos testes de agressividade, foi utilizada uma cobaia confeccionada em couro na cor preta. Durante a execução dos testes, a cobaia era introduzida na entrada da colmeia (FIGURA 14), e posteriormente cronometrava-se exatamente sessenta segundos de ferroadas a partir do primeiro ataque. Em seguida foram contados o número de ferrões deixados na cobaia durante o teste. FIGURA 14: Durante a execução do teste de agressividade. À esquerda no momento da introdução da cobaia e à direita no momento do ataque. Fonte: Maria Betania Soares dos Santos. 134 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 15: Cobaia após a realização do teste. Observe os ferrões deixados na cobaia. Fonte: Maria Betania Soares dos Santos. 135 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 FIGURA 16: Contagem dos ferrões deixados na cobaia. Fonte: Maria Betania Soares dos Santos. A fim de amenizar os ataques das abelhas, foi aplicada fumaça nas colmeias todas as vezes que a cobaia era introduzida nos ninhos. A agressividade das abelhas foi correlacionada com a temperatura e umidade do ambiente, sempre registradas nos horários dos testes. Os parâmetros de temperatura e umidade foram fornecidos pelo Centro de Análise e Planejamento Ambiental (CEAPLA) da UNESP – Campus de Rio Claro – SP. TABELA 01: Parâmetros (ferroadas) obtidos durante o experimento de observações comportamentais de Apis mellifera mellifera, frente a variações de temperatura e umidade durante os meses de dezembro de 2011 a agosto de 2012. 136 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 DIA/MÊS FERROADAS TEMPERATURA (ºc) 15/12/2011 135 27,2 57 24/01/2012 127 28,8 53 23/03/2012 141 26,5 59 20/04/2012 110 28,8 47 16/07/2012 213 16,0 79 16/07/2012 243 15,4 86 17/07/2012 222 16,0 86 18/07/2012 203 12,2 75 18/07/2012 114 16,6 52 19/07/2012 182 14,4 72 19/07/2012 108 20,4 46 20/07/2012 153 16,9 68 20/07/2012 91 23,4 31 16/08/2012 165 18,8 69 16/08/2012 102 25,8 42 17/08/2012 187 20,3 72 17/08/2012 97 27,5 35 23/08/2012 112 18,9 48 23/08/2012 87 27,1 21 137 UMIDADE (%) REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 300 243 250 222 200 213 203 150 ferroadas 182 temperatura 187 165 141 153 135 127 112 114 110 108 91 102 97 87 umidade 100 50 0 GRÁFICO 01: Ferroadas, temperatura e umidade. 3 -Resultados Durante as investigações, foi possível observar que o grau de agressividade das abelhas aumenta quando a umidade relativa do ar atinge níveis mais elevados. Por outro lado, a agressividade diminui com o declínio da temperatura. Observou-se também que a agressividade aumenta quando a variação de temperatura (mínima e máxima) atinge maiores amplitudes. No dia dezesseis de julho de 2012, quando as ferroadas na cobaia foram mais intensificadas, choveu no período da manhã, e à tarde fez 15,4ºC, o que demonstra, através gráfico, alterações comportamentais diante das variações de temperatura com elevados níveis de umidade relativa. Não foi encontrada na literatura uma explicação plausível para este comportamento, sugerindo-se posteriores investigações que venham explicar essa teoria. Também inexiste nos dados literários casos de colmeias constituídas sem a presença de uma abelha rainha, o que vem a reforçar a necessidade de mais estudos sobre a organização social desses insetos. 3.-Abelhas africanizadas na grade curricular do Ensino Médio -O Ensino de Ciências 138 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O ensino de ciências é totalmente deficiente em algumas escolas, pois não há desenvolvimento de observações, pesquisa e experiência na educação (HAMBURGER, 2009). As Ciências Biológicas é uma das ciências mais destacadas e promissoras do século XXI. Conhecer a natureza da vida é cada vez mais importante para o exercício pleno da cidadania e para ajudar a preservar a nossa fauna e flora (AMABIS & MARTHO, 2010). A Biologia é uma ciência bastante complexa, e que está sempre mudando. Os profissionais da área devem estar sempre se atualizando, pois o que está num livro hoje nem sempre continuará sendo da mesma forma amanhã. Os fenômenos biológicos desenvolvem-se segundo determinados padrões, mas dentro de uma faixa de variação individual que precisa ser considerada e compreendida. O ensino de ciências, ou biologia, deve ser estudado de uma forma dinâmica, pois dinâmica é vida, uma realidade em constante transformação (LAURENCE, 2005). 4 - Procedimentos Metodológicos Para a obtenção dos dados, foi aplicado um questionário para 361 alunos do 1º ao 3º ano do ensino médio, com a finalidade de analisar a formação de conceitos básicos sobre abelhas. O roteiro abordava questões sobre abelhas africanizadas e abelhas silvestres nativas, comparando-as umas com as outras e questionando sobre suas características individuais. Após aplicado o questionário, efetuou-se análise qualitativa dos dados. 5 - Análise dos Dados 400 340 350 300 316 283 259 252 250 246 239 334 262 197 164 200 SIM 150 109 102 NÃO 122 115 78 100 99 45 50 21 27 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 GRÁFICO 02: Resultados obtidos pelo questionário aplicado aos alunos do Ensino Médio. Os dados obtidos do questionário revelam que, apesar de os alunos terem estudado os conceitos básicos referentes à estrutura e fisiologia dos insetos nos seus vários níveis de organização, ainda apresentam ideias espontâneas, algumas vezes, destituídas de significados sobre estes conteúdos. Refletimos que, talvez, isso se deva ao fato de que o ensino não lhes tenha propiciado as atividades necessárias para que o desenvolvimento dos conceitos científicos pudessem ultrapassar os conceitos espontâneos. 139 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A maioria dos estudantes não sabem diferenciar a abelha africanizada da abelha nativa. Este resultado foi abordado na primeira questão do questionário: “1. Você sabe diferenciar a abelha africanizada da abelha nativa?”. A dificuldade dos alunos em diferenciar tais indivíduos é pelo fato de no livro didático adotado pela escola não especificar cada espécie. Apenas 28,3% dos alunos afirmaram saber a diferença entre a abelha africanizada e a abelha nativa. Na segunda questão: “2. Você sabe como se comportar diante de um ataque de abelhas?”. 45,4% dos alunos afirmaram saber se comportar. Nesse assunto entraria também a sétima questão: “7. Você sabia que é perigoso assumir movimentos bruscos quando é atacado por abelhas?”, sendo que nessa questão a maioria dos alunos responderam positivamente. Na abordagem do ensino sobre os insetos, o professor poderia aplicar atividades de como se defender de insetos agressivos, não somente das abelhas, mas também de outros seres vivos que podem provocar reações adversas. A terceira questão também poderia ser abrangida juntamente com o estudo dos insetos: “3. Você sabia que as abelhas europeias competem com as nossas abelhas nativas e que essa competição leva à extinção espécies arbóreas e faunísticas?” Apenas 21,6% dos alunos responderam positivamente. O professor poderia abranger esse assunto tanto no estudo dos insetos em geral como no estudo da competição entre os seres vivos. O aluno poderá reconhecer as competições intra e interespecíficas, além de poder identificar fatores que levam as espécies a competirem entre si. A quarta questão: “4. Você conhece a hierarquia existente em uma colmeia?”, 69,8% dos alunos responderam que não conhecem. O professor ao explicar sobre o assunto, pode também explicar sobre os insetos sociais e as vantagens que eles têm sobre os que vivem solitariamente (CASTAGINI, 2009). Na quinta questão: “5. Você sabe qual abelha é mais agressiva, ou seja, a exótica ou a nativa?”, apenas 33,8% dos alunos sabem. O professor, no ensino dos insetos poderia abranger esse assunto, visando os perigos que apenas uma ferroada da abelha africanizada causa, que ela ataca somente em bandos e que seu veneno pode ser fatal se a vítima tiver reações alérgicas. A sexta questão: “6 Você conhece as consequências proporcionadas pelo domínio das abelhas africanizadas sobre as nativas?”, o professor poderia realizar um projeto incentivando os alunos a pesquisarem sobre os fatores que contribuem para a extinção de espécies nativas. Nesse assunto, poderia abranger a africanização, e quando uma espécie se torna invasora, sendo ela exótica ou não. De acordo com a décima questão: “10. Você sabe quando uma espécie exótica torna-se invasora?”, 92,5% dos alunos responderam que não sabem quando uma espécie exótica se torna invasora. A oitava questão: “8. Você sabia que a temperatura e a umidade influenciam na agressividade das abelhas africanizadas?”, apenas 27,4% dos alunos responderam que sabem. Essa é uma questão mais complexa, que pode ou não ser estudada no ensino médio. Há fatores que interferem na vida dos insetos (GUERRA, 2011), o professor poderia abordar esse assunto relacionado à nona questão: “9. Você sabia que as ondas eletromagnéticas de celulares interferem no voo das abelhas?”. 12,5% dos alunos responderam que sabem e 87,5% responderam que não sabem. O assunto é complexo, mas pode ser abordado no ensino de ciências do ensino médio como um projeto de pesquisa aos alunos, incentivando-os na leitura (CASTAGINI, 2009). O professor tem como ferramenta o livro didático, este nem sempre aborda assuntos relacionados ao dia a dia, como mostrar como se defender de um enxame de abelhas. O 140 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 professor deve utilizar o livro didático, mas não deve ser escravo do livro. O conhecimento do professor é o que vai fazer a diferença numa sala de aula. CONSIDERAÇÕES FINAIS Desvios comportamentais foram observados em colmeias de abelhas africanizadas quando associados à diminuição da temperatura e o aumento da umidade relativa do ar. Seu comportamento também sofre alteração quando existem grandes variações de amplitudes térmicas, ficando assim mais agressivas. Atualmente, a organização social em uma colmeia de Apis mellifera mellifera não é totalmente conhecida, pois como já relatado nessa pesquisa, nem todas as colmeias possuem uma rainha. A ausência dessa casta, no entanto, não altera o comportamento da colmeia. Nas escolas o ensino sobre os artrópodes encontra-se deficiente, com poucas informações e algumas partes desatualizadas. A maioria dos alunos não possuem conhecimento sobre as abelhas, não sabem se defender delas e como se comportar diante de um ataque de abelhas africanizadas. A carência deste conhecimento é um fato preocupante, principalmente nos dias de hoje em que abelhas africanizadas estão migrando para os centros urbanos a procura de abrigo. REFERÊNCIAS AIDAR, D.S.; ROSSINE, J.F. Transporte de colônias de meliponíneos para curtas distâncias e sua relação com a perda de campeiras. Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, Manaus – AM; 49 p, 2012. AMABIS, J.M; MARTHO, G.R. Biologia das Populações. 3 ed. São Paulo: Moderna; 11 p, 2010. ARRUDA, V. M. Efeito da cafeína no comportamento e na longevidade de operárias de abelhas africanizadas Apis mellifera L. (Hymenoptera: Apidae). 2010. 82 f. Tese (Doutorado em Zoologia) – Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro – SP; 27 – 29 p, 2010. BENTO, J. M. S. Feromônios. Piracicaba-SP. Workshop Tecnológico Sobre Pragas da Cana-de-açúcar, 2007. Disponível em: http://www.apta.sp.gov.br/cana/anexos/PPaper_sessao_4_Bento.pdf. Capturado em maio, 2012. BENTO, L. A. 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ANEXOS Questionário aplicado aos alunos do Ensino Médio - Coleta de dados para Trabalho de Conclusão de Curso de Ciências Biológicas. 1. Você sabe diferenciar a abelha africanizada da abelha nativa? ( ) Sim ( ) Não 2. Você sabe como se comportar diante de um ataque de abelhas? ( ) Sim ( ) Não 3. Você sabia que as abelhas europeias competem com as nossas abelhas nativas e que essa competição leva à extinção espécies arbóreas e faunísticas? ( ) Sim ( ) Não 4. Você conhece a hierarquia existente em uma colmeia? ( ) Sim ( ) Não 5. Você sabe qual abelha é mais agressiva, ou seja, a exótica ou a nativa? ( ) Sim ( ) Não 6. Você conhece as consequências proporcionadas pelo domínio das abelhas europeias sobre as nativas? ( ) Sim ( ) Não 7. Você sabia que é perigoso assumir movimentos bruscos quando é atacado por abelhas? ( ) Sim ( ) Não 8. Você sabia que a temperatura e a umidade influenciam na agressividade das abelhas africanizadas? ( ) Sim ( ) Não 9. Você sabia que as ondas eletromagnéticas de celulares interferem no voo das abelhas? ( ) Sim ( ) Não 10. Você saberia dizer quando uma espécie exótica torna-se invasora? ( ) Sim ( ) Não E S T A Ç Ã O M E T E O R O L Ó G I C A D E R I O C LARO - C E A P L A UNESP LATITUDE: 22° 23' S LONGITUDE: 47° 32' W 143 IGCE - REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 144 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 EDUCAÇÃO FÍSICA AGILIDADE DE CRIANÇAS PRATICANTES DE FUTSAL COMPARADAS COM CRIANÇAS QUE PRATICAM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR ATRAVÉS DO TESTE DE SHUTTLE RUN 1 ABELINI, Henrique Augusto 2 MARTINS, Gustavo Celestino 1 Graduado em Educação Física pela Faculdade Euclides da Cunha 2 Orientador – Professor Mestre da Faculdade Euclides da Cunha RESUMO Sendo a agilidade uma capacidade física que permite realizar movimentos de curta duração e alta intensidade, é muito utilizada na prática esportiva e importante ao longo do ciclo de vida dos seres humanos; é uma capacidade física tão importante quanto às outras e é o conjunto de todas elas que torna a pessoa capaz de ser autônoma. Este estudo objetivou saber se crianças que praticam Futsal obtém um maior nível de agilidade do que crianças praticantes de Educação Física Escolar. Foram avaliadas 30 crianças do sexo masculino, sendo 15 praticantes de iniciação esportiva com idade média de 11,53 (±0,52) anos, e 15 praticantes de Educação Física Escolar com idade média de 11,50 (±0,52) anos. Foi realizado o teste denominado Shuttle Run, onde, foi constatado que as crianças que praticam Educação Física Escolar juntamente com o Futsal, obtêm níveis melhores de agilidade do que os participantes de Educação Física. Palavras Chaves: Futsal – Aptidão Física – Agilidade. ABSTRACT Being the agility a physical ability that lets you perform movements of short duration and high intensity, is widely used in sports and important throughout the life cycle of humans; is a physical ability as important as the other and is the set of all of them which makes the person able to be autonomous. This study aimed to find out if children who practice Futsal Gets a higher level of flexibility than children of school physical education practitioners. Were evaluated 30 male children, being 15 practitioners of sports initiation with an average age of 11.53 (± 0.52) years, and 15 practitioners of school physical education with average age of 11.50 (± 0.52) years. The test was held named Shuttle Run, where, it has been found that children who engage in school physical education together with Futsal, obtain better levels of agility than participants of physical education. Keywords: Futsal - Physical Fitness - Agility. INTRODUÇÃO O Futsal obteve uma grande expansão nos últimos anos, se tornando um esporte muito praticado em todo mundo, principalmente em nosso país (ARAÚJO et al, 2012). Por se tratar de uma modalidade de fácil prática, pode se encontrar crianças jogando Futsal tanto em escolas quanto nas ruas, sendo elas mesmas a desenvolverem suas regras (VOSER; GIUSTI, 2002). Sendo o Futsal um esporte que envolve grandes mudanças de direção e inúmeras variações de jogo, a agilidade torna uma capacidade indispensável na prática da modalidade (SILVA et al, 2011), aliás, a agilidade é quesito importante e indispensável em quaisquer modalidade é o que nos relata Coledam et al (2013). 145 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A agilidade é a capacidade motora considerada como uma capacidade condicionante (GUEDES; GUEDES, 2002); segundo autores como Gobbi et al (2005); Barbanti (1994); Bompa (2005) apud SANTA CRUZ (2011); Gallahue e Ozmun (2003) entre outros, descrevem a agilidade como a capacidade de se realizar movimentos intensos e de curta duração, com mudanças de direções e com acelerações e desacelerações. Portanto, este estudo visa comparar a agilidade de praticantes de Educação Física Escolar com estudantes de iniciação esportiva Futsal. Foi utilizado um teste denominado Shuttle Run, logo após foi mensurado os tempos dos avaliados; consequentemente este estudo tende, a saber: Qual dos dois grupos teve uma capacidade física (AGILIDADE) superior, os praticantes de Futsal ou os de Educação Física Escolar? OBJETIVO O principal objetivo foi comparar se crianças com idade entre 11 e 12 anos praticantes de Educação Física e Futsal obtém maior agilidade em relação àquelas que praticam apenas Educação Física Escolar. REVISÃO DA LITERATURA 1. ORIGEM DO FUTSAL Podemos dizer que assim como em outros esportes, no Futsal também não se sabe ao certo sua verdadeira origem; para Sales (2011), o Futsal começou a ser praticado em meados da década de 1930. Há controvérsias, se foi idealizado por brasileiros ou por uruguaios da Associação Cristã de Moços (ACM). Araújo et al (2012) explica que a modalidade foi instituída em nosso país por volta dos anos 40, tendo uma grande expansão e sendo praticado hoje em todo o mundo; segundo a Federação Paulista de Futsal (2013). Segundo Andrade (1997 apud PASSARO, 2005), o Futsal começou a ser praticado, devido o número insuficiente de campos para a prática do Futebol, sendo assim utilizadas quadras improvisadas de Basquete e Hóquei por seus praticantes. A Confederação Brasileira de Futsal (2013) relata que o Futebol de Salão não era praticado com o número de atletas como conhecemos hoje, ou seja, chegou a ser praticado até com seis ou sete praticantes até chegar aos cinco jogadores por equipe de hoje em dia. Segundo Vieira e Freitas (2007), há relatos de que havia um forte intercâmbio entre as sedes da ACM, tanto no Brasil quanto no Uruguai, sendo de tal forma impossível saber na verdade onde o Futsal surgiu. Para Ferreira (2001); Sales (2011), as primeiras regras surgidas foram introduzidas pelo professor da ACM Juan Carlos Ceriani, utilizando-se das regras do Futebol, Basquete, Handebol e Polo Aquático. Por conseguinte, houve um curso realizado pelo Instituto Técnico da Federação Sul Americana da Associação de Moços, onde foram distribuídas as regras da modalidade para membros da América do Sul, onde havia também membros brasileiros (PASSARO, 2005). Segundo Ferreira (2001), no Brasil o Futebol de Salão começou a caminhar também em meados da década de 30, tendo as ACMs de São Paulo e do Rio de Janeiro como pioneiras das praticas da nova modalidade, sendo muito divulgado, chegando a ser praticado em clubes e escolas, e daí por diante sendo cada vez mais disseminado em nosso país. Com isso, a partir dos anos 40 ocorreram mudanças e uma unificação das regras para a prática por todo o país (FERREIRA, 2001). Podemos constatar através de relatos de Vieira e Freitas (2007) que o esporte por sua vez se espalhou tanto no Brasil como no Uruguai, e logo começaram a ser produzidas balizas (traves) para a nova modalidade, por sua vez bolas pequenas e pesadas fabricadas no inicio com crinas vegetais, cortiças e serragens também foram sendo introduzidas. 146 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Por meio de seu site oficial, a CBFS ressalva que o professor da ACM de São Paulo, Habib Maphuz ajudou na elaboração de normas, que programavam a prática de algumas modalidades esportivas, dentre as quais o Futsal; este mesmo, segundo Vieira e Freitas (2007), criou a primeira liga de Futebol de Salão na ACM paulista, contribuindo também para a criação da Federação Paulista de Futebol de Salão em 1955. Na realidade a primeira Federação criada foi a do estado do Rio de Janeiro, que segundo Voser (2004), essa é a mais antiga de nosso país, e que naquela época era denominada Federação Metropolitana de Futebol de Salão, tendo como seu primeiro presidente Ammy de Moraes; por fim depois vieram as federações de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul (VOSER; GIUSTI, 2002). Segundo Voser e Giusti (2002) a antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), oficializou o esporte em março de 1958, e com o apoio das Federações estaduais, foi idealizado o Conselho Técnico de Futebol de Salão, tendo este ponto de vista, Ferreira (2001) afirma que com a união da CBD e das Federações estaduais, houve uma grande padronização das regras, possibilitando, portanto, a realização de competições nacionais entre clubes e seleções de cada estado, e em 1959 houve o Primeiro Campeonato Brasileiro de Seleções, onde o Rio de Janeiro sagrou-se Campeão. O Futebol de Salão obteve daí em diante um crescimento invejado, Vieira e Freitas (2007), relatam que em 1965 foi criada a Federação Uruguaia de Futebol de Salão, o esporte então se espalhou pela América do Sul, sendo então criada a Confederação Sul-Americana de Futebol de Salão; foram então criadas competições a nível Continental entre clubes e seleções (FERREIRA, 2001). No entanto, a entidade que regulamentava o Futebol de Salão, a CBD, deixa de existir por volta dos anos 70, sendo de suma importância à fundação da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), passando daí em diante a ser o órgão máximo da modalidade em nosso País (FERREIRA, 2001). A partir da década de 90 houve a ligação entre o Futebol de cinco (FIFA) e o então Futebol de Salão (FIFUSA), dando origem então ao que hoje denominamos de Futsal. (TENROLLER, 2004). Com dados constatados acima, pode se afirmar, a partir de Vieira e Freitas (2007), que a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) passou a ser o órgão Máximo do Futsal, regulamentando o por todo o mundo. Por fim, o Futsal vem crescendo cada vez mais, modernizando-se, e implementando novos conhecimentos e formas de disputa, sendo o esporte mais praticado por nós brasileiros (VOSER; GIUSTI, 2002). 1.1 FUTSAL ESCOLAR O Futsal é hoje nas escolas públicas e privadas, o esporte mais praticado pelas crianças, tanto nas aulas de Educação Física quanto nos recreios escolares; é segundo Vieira e Freitas (2007) mais praticado devido à paixão dos brasileiros pelo Futebol, e devido à falta de campos, assim as crianças se utilizam das quadras. Pinto e Santana (2005) afirmam que as crianças de nosso país são grande número das que praticam o Futsal, encontrando nas quadras, escolas, clubes, enfim, um lugar para praticarem esse esporte. Atualmente as crianças se deparam com o Futsal tanto dentro quanto fora da escola, sendo por diversas vezes elas as criadoras das regras e das formas de disputas da modalidade (VOSER; GIUSTI, 2002). Para Leal e Chiminazzo (2008), o Futsal escolar teve seu início com a adaptação das regras e de toda a estrutura e padrão do Futebol, tornando-se conteúdo curricular da Educação Física. Ainda segundo Leal e Chiminazzo (2008), o Futsal é praticado na maioria das escolas e em muitas vezes, 147 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 os alunos praticam a modalidade graças a sua grande acessibilidade para a prática do esporte; sendo assim, esta modalidade contribui completamente na educação de seus praticantes, abrangendo de certa forma suas habilidades e capacidades (MELLO; DUTRA, 2007). Devido ao seu grande fascínio sobre as crianças, o Futsal hoje em dia tanto nas escolas quanto em ruas e escolinhas, atraí um grande número de meninas para sua prática (VIEIRA; FREITAS, 2007); é evidente que o esporte possui muitas características importantes, o Futsal, por exemplo, se caracteriza por envolver em sua prática velocidade máxima, com aceleração e desaceleração, obtendo mudanças de direção, incluindo de certa forma o uso intenso de habilidades motoras (chute, drible, condução, etc) (ALVAREZ et al, 2008; RÉ et al, 2010 apud BRAZ; RÉ, 2013). Para Mutti (2003) o condicionamento motor está diretamente ligado ao desenvolvimento que o praticante obteve em sua infância e que em qualquer modalidade esportiva, como o Futsal, é necessário um grande condicionamento motor para realizá-lo. 2. AGILIDADE Segundo Guedes e Guedes (2002), as capacidades motoras se dividem em dois grupos distintos: sendo o grupo das capacidades motoras condicionantes, que tem como características as ações musculares, energia biológica e condições orgânicas (força, resistência, Flexibilidade, velocidade e agilidade) e o grupo das capacidades motoras coordenativas como as capacidades de controle motor, coordenação motora e equilíbrio. A definição de Tani et al (1988), é a de que as habilidades motoras quando desenvolvidas adequadamente, aumentam o nível das habilidades de um individuo, elevando consequentemente os níveis de força, flexibilidade e também de agilidade. Segundo Gallahue e Ozmun (2003:343): [...] os fatores de controle motor (equilíbrio e coordenação) são de particular importância no inicio da infância, quando a criança está obtendo controle de suas habilidades motoras fundamentais. Os fatores de produção de força (velocidade, agilidade e energia) tornam-se mais importantes depois que a criança obtém controle de seus movimentos fundamentais e passa para a fase motora especializada da infância posterior. Segundo Gobbi et al (2005) e Barbanti (1994), a agilidade é o ato de realizar movimentos de curta duração e de maior intensidade, tendo deslocamentos de direção e/ou alterações na altura do centro gravitacional do corpo, tendo aceleração e desaceleração. Bompa (2005 apud SANTA CRUZ, 2011) descrevem a agilidade como a capacidade de mudar rapidamente de direção, utilizando-a no campo de jogo, podendo a utilizar para ludibriar seu adversário; “agilidade é a habilidade de alterar a direção do corpo rápida e precisamente. Com a agilidade, podem-se fazer alterações rápidas e precisas na posição do corpo durante o movimento.” (GALLAHUE; OZMUN, 2003:349). Para Darido e Júnior (2007), a agilidade é o ato de deslocamento de um corpo de forma rápida, alterando de certa forma sua posição em relação à gravidade, não perdendo seu equilíbrio e seus movimentos. Ao expor assuntos sobre testes motores que implicam na agilidade, Guedes e Guedes (2002) definem a agilidade como a capacidade que um indivíduo tem para realizar a mudança de seu corpo em algum espaço físico, com isso Silva; Assis e Neto (2011), trata a agilidade como uma qualidade de suma importância para praticantes de Futsal, devido às inúmeras variações que a modalidade os proporcionam. 148 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Seguindo a este quesito, Tubino (1984 apud DARIDO; JÚNIOR, 2007), pressupõe que a agilidade é muito requisitada em atividades esportivas e recreativas, proporcionando aos seus praticantes movimentos utilizados em nosso dia-a-dia, o Futsal pode ser utilizado como um dos principais exemplos desta afirmação; Bello Júnior (1998 apud DANTAS; FILHO, 2002) afirma que na prática do Futsal moderno, o praticante deve dar ênfase a movimentação em inúmeras posições e desempenhar várias funções. Na prática do Futsal, o participante ao realizar movimentações e deslocamentos ludibriando seu adversário em qualquer momento da atividade e aumentando seu desempenho esportivo, retrata um aspecto de uma excelente agilidade. (MARINHO et al, 2011). Assim como outros autores, Coledam et al (2013), afirmam que a agilidade é uma capacidade motora indispensável para a prática de quaisquer modalidade esportiva. Para Gobbi et al (2005), a agilidade é uma das capacidades físicas que sofrem declínio ao longo dos tempos, contribuindo assim com a debilidade da aptidão funcional de um idoso, devendo, portanto, ser desenvolvida desde a infância. Ao contrario Wilmore e Costill (2001), retratam que não há uma perda significativa nos níveis de agilidade, quando um indivíduo não a estimula, conseguindo a manter com uma limitada quantidade de treinamento. Gobbi et al (2005) enfatiza que o desenvolvimento da agilidade é igual ou tão relevante que outras capacidades físicas, pois é com cada capacidade trabalhando entre si que o individuo se torna autônomo e independente; Araújo et al (1996 apud PENNA; MORAES, 2010), cita que os esforços realizados no Futsal, são relativos as capacidades físicas como a agilidade, portanto, se caracterizam por esforços com mínima duração e com grande intensidade. Portanto assim, Guedes et al (2002 apud BARROS et al, 2006) trata a aptidão física como a capacidade de realizar atividades do dia a dia com vigor sem cansaço, compondo habilidades motoras e uma vida saudável. 3. METODOLOGIA Para a devida comparação entre a agilidade das crianças da escola estadual Dr. “Carlos Lima Dias”, situada no município de Mococa-SP com as que praticam iniciação esportiva de Futsal da mesma cidade, foi realizado o teste de Shuttle Run (MATSUDO,1998), onde foi avaliada a agilidade de meninos com idade entre 11 e 12 anos, sendo utilizado também o programa SPSS versão 20 para windows®, onde foi verificada a correlação de Pearson, intragrupo das duas variáveis IMC (Índice de Massa Corporal) e AGILIDADE. Foram avaliadas 30 crianças, sendo 15 alunos de uma escola estadual da cidade de Mococa (estas praticam somente Educação Física Escolar) e 15 crianças de um time de Futsal sub-13, onde as mesmas frequentam regularmente aulas de Educação Física e escolinha de iniciação esportiva de Futsal. O teste foi realizado primeiramente com as crianças do Futsal e posteriormente com as crianças da escola estadual. No teste em si, foram demarcadas duas linhas paralelas distantes 9,14 metros entre si (uma linha de chegada e a outra de saída), Após 10 centímetros da linha de chegada, são colocados dois blocos de madeira com distância de 30 centímetros entre ambos. Cada criança teve que se posicionar atrás da linha de partida em posição ântero-posterior e ao comando do avaliador (“já” ou “valendo”), teve de correr o mais rápido possível em direção à linha de chegada, tendo como objetivo principal pegar um dos blocos de madeira e levá-lo a linha de saída, repetindo com o outro bloco em seguida. O teste foi encerrado quando a criança conseguia levar os blocos de um lado da linha ao outro, sendo determinado o menor tempo que o avaliado obtivesse em duas baterias, com intervalo entre elas de em média 2 a 3 minutos, vale ressaltar que os blocos de madeira não devem ser jogados e sim colocados ao chão, além de que os pés dos avaliados deverão ultrapassar tanto a linha de chegada quanto a de saída durante a avaliação. 149 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Para realização da coleta de dados antropométricos e do teste de agilidade, foram utilizados alguns materiais como: dois blocos de madeira (5 cm x 5 cm x 10 cm), um cronômetro, uma balança digital, uma fita métrica e uma trena para demarcação dos 9,14 metros. Figura 1 – Shuttle Run 150 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 4. RESULTADOS OBTIDOS A tabela abaixo demonstra os resultados obtidos após a aplicação do teste de Shuttle Run e a mensuração de dados de medidas antropométricas realizadas entre os praticantes de Educação Física e as crianças praticantes de Futsal. COMPARAÇÃO ENTRE PRATICANTES E NÃO PRATICANTES DE FUTSAL Altura IMC Agilidade Participantes Idade Peso (Kg) (metros) (Kg/h²) (segundos) 1 11 11 31 30 1,42 1,44 15,4 14,5 11,07 12,44 2 11 11 34 56 1,41 1,44 17,1 27 10,16 13,1 3 12 11 42 55 1,56 1,53 17,3 23,5 11,41 13,09 4 11 11 34 32 1,43 1,52 16,6 13,9 11,17 12,97 5 12 12 47 31 1,62 1,47 17,9 14,3 11,04 12,09 6 11 11 37 46 1,39 1,44 19,2 22,2 11,19 12,92 7 12 12 49 35 1,68 1,55 17,4 14,6 11,23 12,97 8 11 11 50 29 1,6 1,52 19,5 16,6 11,29 12,22 9 11 11 41 49 1,5 1,59 18,2 19,4 12,04 12 10 12 12 51 34 1,55 1,44 21,2 16,4 10,58 12,49 11 11 11 45 33 1,52 1,51 19,5 14,5 11,33 12,34 12 12 12 48 67 1,69 1,63 16,8 25,2 10,85 13,41 13 12 12 54 40 1,55 1,58 22,5 16 11,38 11,96 14 12 12 46 32 1,52 1,54 19,9 13,5 11,84 11,98 15 12 12 40 51 1,41 1,58 20,1 20,4 11,07 11,94 MÉDIA 11,53 11,47 43,27 1,52 18,57 18,13 11,18 12,53 Desvio Padrão ±0,52 ±0,52 ±6,96 ±11,84 ±0,10 ±0,06 ±1,92 ±4,50 ±0,45 ±0,50 NDA: 41,33 1,52 Praticantes de Futsal Não Praticantes Desvio Padrão Correlação alunos não praticantes 151 Tab ela 1: tabe la com para tiva da aval iaçã o real izad a com prat ican tes e não prat ican tes de Futs al. LE GE REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Agili_naopraticante Pearson Correlation 1 Agili_naopraticante Sig. (2-tailed) N 15 Pearson Correlation ,551* IMC_naopraticante Sig. (2-tailed) ,033 N 15 *. Correlation is significant at the 0.05 level (2-tailed). Tabela 2: tabela de correlação entre IMC e agilidade das crianças não praticantes. IMC_naopraticante ,551* ,033 15 1 15 Correlação alunos participantes IMC_praticante Agil_praticante Pearson Correlation 1 ,169 Sig. (2-tailed) ,548 N 15 15 Pearson Correlation ,169 1 Agil_praticante Sig. (2-tailed) ,548 N 15 15 Tabela 3: tabela de correlação entre IMC e agilidade das crianças praticantes de Educação Física e Futsal. IMC_praticante Analisando os resultados obtidos a partir dos dados coletados com as 30 crianças avaliadas no teste de Shuttle Run, foram utilizados os dados de IMC e de AGILIDADE dos grupos avaliados, onde através do programa utilizado (SPSS, versão 20), foram correlacionadas as variáveis IMC e agilidade, havendo uma correlação significativa em p< 0,05 entre os alunos não praticantes de Futsal, onde podemos constatar que provavelmente quanto maior for o IMC maior será o tempo na realização do teste. Comparando os resultados descritos na tabela 1, pode-se observar que os praticantes de Educação Física e Futsal (AZUL) obtiveram tempos abaixo aos alunos que praticam apenas Educação Física Escolar (AMARELO), sendo assim, podemos afirmar que os praticantes de Futsal obtém uma melhor agilidade se comparados com os nãos praticantes. Embora tenha havido diferença entre os resultados, alguns participantes de Educação Física Escolar, obtiveram bons tempos em relação a alguns praticantes de Futsal, podendo ser explicado devido a que esses participantes devam praticar pelo menos algum tipo de atividade esportiva ou recreativa em suas aulas de Educação Física elevando, portanto, seus níveis de agilidade; por isso podemos reafirmar que se praticassem modalidades esportivas com mais frequência melhorariam suas capacidades físicas e motoras ao longo de sua vida. Corroborando com este trabalho, Ferreira (2009) comparou crianças praticantes de Educação Física Escolar com crianças praticantes de Judô chegando à conclusão de que a agilidade dos praticantes de Judô era superior em relação aos alunos de Educação Física. Já Silva & Orestes (2009) compararam a agilidade de alunos de Educação Física e de alunos praticantes de Natação; nesta comparação também foi constatado que a Natação assim como o Futsal, trabalha e desenvolve aspectos físicos e motores de seus praticantes e que estes praticantes também obtinham sua agilidade acima das crianças apenas praticantes de Educação Física. Podemos concluir, portanto, que se as crianças que praticam Educação Física escolar praticassem o Futsal e/ou outros tipos de atividades esportivas iriam elevar suas capacidades físicas, 152 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 consequentemente iriam aumentar sua agilidade, obtendo assim uma melhora em sua qualidade de vida e levando uma excelente capacidade motora para o resto de suas vidas. 5. CONCLUSÃO Como já visto ao longo deste trabalho, a agilidade é uma capacidade física que deve ser estimulada ao longo do ciclo de nossas vidas, ou seja, se quando crianças ela for bem trabalhada, não trará consequentemente grandes declínios ao longo da vida. Com o teste realizado foi possível identificar que as crianças que praticam Educação Física Escolar e também treinam Futsal possuem um nível de agilidade acima das não praticantes. O Futsal por possuir deslocamentos de jogadores em curtos espaços de tempos e com alta velocidade permite aos seus praticantes um desempenho grande de sua agilidade, sendo, portanto, um esporte que trabalha todo aspecto físico e motor da criança, desenvolvendo ainda mais a aptidão física de seu praticante. Portanto, como já descrito anteriormente, a agilidade junto com outras capacidades físicas se bem estimuladas, colaboram e torna a criança uma pessoa totalmente autônoma. Desta forma a criança uma vez praticando a Educação Física em sua respectiva escola e praticando não somente o Futsal mais sim um grande leque de esportes ou atividades motoras, trará inúmeros benefícios ao praticando, inclusive a capacidade aqui mencionada, a agilidade. Conclui-se, portanto, através de todas as avaliações realizadas, que as crianças que praticam o Futsal juntamente com a Educação Física, obtêm uma maior agilidade se comparadas com as crianças que praticam apenas a Educação Física Escolar. Sendo assim, podemos concluir que quem pratica atividades esportivas com frequência e com uma maior variedade de modalidades, terão ao longo de sua vida um benefício para com suas capacidades físicas e motoras e um nível elevado de sua agilidade. REFERÊNCIAS ALVAREZ, J.C.B.; SOTO, V.M.; BARBERO-ALVAREZ, V.; GRANDA-VERA, J. Match analysis and heart rate of futsal players during competition. J. Sports Sci. 2008; 26 (1): 63-73. ANDRADE, W.L. A arte do Futsal. Lavras: UFLA, 1997. 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Para tanto foi aplicado alguns testes de IMC (índice de massa corpórea), e o de DOBRAS CUTÂNEAS, pautado no protocolo de Slaghuter (1988), com formulas diferentes, sendo que para os homens considerou-se %GC=0,735 x(Ʃ2) + 1,0 e, para as mulheres, %GC=0,610 (Ʃ2) + 5,1. Os dados coletados foram utilizados para avaliarmos os percentual de gordura dos alunos e, assim, abordar o tema em questão e entender um pouco mais sobre os riscos que as crianças e o adolescentes podem estar correndo com o sobrepeso e, alertar sobre os problemas que os adolescentes poderão ter quando atingirem a vida adulta, bem como os riscos que o sobrepeso pode trazer para sua saúde. Para esta pesquisa foram avaliados 55(cinquenta e cinco) estudantes, 30(trinta) do sexo masculino e 25(vinte e cinco) do sexo feminino. Palavras Chave: Crescimento, Obesidade e IMC. ABSTRACT This study was conducted in a public school in São José do Rio Pardo – SP with students of the middle class in order to evaluate the level of obesity in adolescents aged 14 and 15 years old. Some tests was applied such as body mass index (BMI), and the SKINFOLD, using the protocol of slaghuter (1988) with different Formulas %CG=0.735 x(Ʃ2) + 1.0 for men and %BF=0.610 (Ʃ2) + 5.1, for women. The evaluation of the percentage of body fat of the students and all the tests will serve to reach the results and the objective of the work being able to evaluate the risks that children and adolescents may be taken with excessive overweight. The adolescents will know what problems they can have in their adult lives, and the risks it can bring to their health. 55 students (30 male and 25 female) were evaluate. The girls showed a higher rate of overweight than boys, with % more than boys, they had % lower than the percentage of girls. Key words: Growth, Obesity and BMI 156 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 INTRODUÇÃO Segundo Sabia (2004) a obesidade, tanto na infância quanto na adolescência, vem se tornando um problema frequente, uma vez que tem vindo acompanhada de vários tipos de doenças, o que pode ocasionar no aumento de risco de morbidade e mortalidade. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos esta sendo considerado um importante problema para saúde publica com um aumento durante os anos, Como já sabemos existem vários tipos de fatores que contribuem no desenvolvimento da obesidade. Entre eles encontram-se os aspectos bioquímicos, genéticos, fatores psicológicos, fatores fisiológicos e fatores ambientais Terres (2006) aponta que a obesidade não é mais um problema particular, pois tem se tornado, nos dias atuais, um problema de saúde publica, uma vez que nas últimas décadas o mesmo tem tido um grande aumento no mundo todo, ganhando proporções globais, principalmente em países desenvolvidos, por motivos de um aumento repentino e ter se tornado um problema para saúde publica e, também, em países em desenvolvimento, como Brasil, onde a região sul tem se destacado, já que os indicie de obesidade tem aumentado demais nessa região. O IMC é um teste simples e vem sendo muito visto em grandes populações, devido a sua fácil aplicação com um risco mínimo de erro para verificar o sobrepeso e obesidade, principalmente em crianças e adolescentes. O trabalho busca analisar a distribuição de peso corporal dos alunos entre 14 e 15 anos de uma escola pública de São José do Rio Pardo e analisar os resultados com padrões de normalidades indicados pelos órgãos de saúde de acordo com a tabela de índice de massa corpórea normal. 1 - CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO Segundo Gallahue (2001), o que conhecemos pela adolescência é que se trata do período no qual se constituem o crescimento e o desenvolvimento, os quais podem ser afetados tanto pela biologia quanto pela cultura, uma vez que a passagem da infância para o adolescência é variada por um numero de eventos significativos, tanto físicos quanto culturais que contribuem, notavelmente, para o crescimento e o desenvolvimento motor. Podemos dizer que, através os estudos de Robergs (2001), as crianças não crescem com uma taxa uniforme de crescimento ao longo de seu desenvolvimento. É percebido durante este processo que ocorre um rápido aumento em sua altura, bem como aumento de massa corporal, principalmente em meninos, em sua fase puberal, uma vez que nessa há um crescimento acelerado e, além disso, existem as diferenças individuais substanciais em qualquer idade biológica. Esses fatores têm implicações como o condicionamento físico em termos que são adequados para a padronização dos testes e programas de condicionamento físico. O crescimento é considerado quando ocorre o aumento de tamanho das células hiperplasia e hipertrofia devido a o aumento de volume da massa corporal, que pode ser medido como g/dia kg/ano cm/mês e cm/ano. Já no desenvolvimento são outros os tipos de aspectos que diferenciam o crescimento, ou seja, os relacionados aos fatores hormonais que se relacionam mais especificamente como o relacionado com a aprendizagem e com a capacidade de realizar tarefas a aperfeiçoar o movimento com o tempo. (Pereira, 2011). De acordo com Bergmann (2005) o crescimento, durante a puberdade, tem um aumento significativo tanto no sexo masculino quanto no feminino, de 10 a 11 anos no que diz respeito à estatura e na massa corporal. Essas alterações nessa faixa etária ocorrem devido a muitas mudanças relacionadas ao fator hormonal. Durante a puberdade, eleva-se a secreção de três hormônios: os esteroides sexuais, o hormônio de crescimento (GH, growth hormone) e o IGF-1 (SILVA, 2003), 157 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 cujas secreções aumentam durante esse período. Onde alguns estudos da área falam que esses aumentos e mudanças continuam durante toda sua adolescência. 1.1 Puberdade e Menarca De acordo com Gayton & Hall (1997) a puberdade significa o inicio da vida sexual adulta e, a menarca, o inicio da menstruação. No período da puberdade ocorre um aumento de secreção de hormônio gonadotrópico pela hipófise, de forma gradativa cujo início pode ocorrer em torno de oito anos de vida, com a possibilidade de ter uma zona de instalação entre 11 e 16 anos, sendo a média considerada, 13 anos. Para Van de Graaff (2003) a puberdade é o ponto inicial da adolescência, momento este em que os órgãos sexuais secundários (glândulas anexas, órgãos genitais externos, vias genitais) se evidenciam e os órgãos sexuais primários (ovários e testículos) se tornam funcionais. De acordo com Gayton & Hall (1997) tanto na mulher quanto no homem a glândula hipófisiaria infantil e os ovários são capazes de pleno funcionamento se forem, de maneira correta, estimuladas. No entanto, também é verdadeiro que, para o homem e, por razões que são que ainda não compreendidas, o hipotálamo não secreta quantidades significativas de GNRH- Gonadotropinreleasing, hormônio responsável pelo desenvolvimento, durante a infância, fator este que pode estar relacionado à puberdade precoce (PP), de acordo com Silva (2003). Segundo Lourenço (2010) os órgãos se desenvolvem na puberdade, com a exceção, apenas, do tecido linfoide. Neste mesmo período ocorre o aumento da capacidade física, mais observado no sexo masculino tem um aumento gradativo no sistema cardiorrespiratório, alteração hematológica e o aumento da eritropoiese, esse processo ocorre pelo aumento de massa muscular da força e da resistência física. Para Van de Graaff (2003), na puberdade outros fatores que podem influenciar a questão hormonal, como: hábitos alimentares fatores socioeconômico influenciam dês do inicio da puberdade, sendo que para ambos os sexos varias variação indivíduo. 2 - OBESIDADE Segundo Sabia (2004) a obesidade, tanto na infância quanto na adolescência, vem se tornando um problema frequente, uma vez que tem vindo acompanhada de vários tipos de doenças, o que pode ocasionar no aumento de risco de morbidade e mortalidade. Em países desenvolvidos como os Estados Unidos esta sendo considerado um importante problema para saúde publica com um aumento durante os anos, Como já sabemos existem vários tipos de fatores que contribuem no desenvolvimento da obesidade. Entre eles encontram-se os aspectos bioquímicos, genéticos, fatores psicológicos, fatores fisiológicos e fatores ambientais. De acordo com Giugliano & Carneiro (2004) a obesidade pode acometer qualquer idade, sendo que, alguns dos fatores que contribuem para isso são o desmame precoce, consumo inadequado de alimentos, uma alimentação inadequada e também, relacionada à questão familiar, o processo acelerado do crescimento e o meio genético. Para Rodrigues & Boog (2006) o sobrepeso e a obesidade tem atingido o Brasil em um percentual de 50% em homens e 53,1% em mulheres acima de 20 anos de idade segundo a pesquisa de Orçamentos Familiares POF 2002, 2003. Magalhães & Mendonça, atualizando dados em 1996 a 1997, onde avaliaram a prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes de 15 a 19 anos de idade na região norte e sudeste do Brasil, apontando para a região nordeste 8,45% e na sudeste foi de 11,53%. Esses autores pedem e recomendam para que façamos a prevenção e aconselhamos as pessoas ter hábitos alimentares adequados e pratica atividade física. Terres (2006) aponta que a obesidade não é mais um problema particular, pois tem se tornado, nos dias atuais, um problema de saúde publica, uma vez que nas últimas décadas o mesmo 158 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 tem tido um grande aumento no mundo todo, ganhando proporções globais, principalmente em países desenvolvidos, por motivos de um aumento repentino e ter se tornado um problema para saúde publica e, também, em países em desenvolvimento, como Brasil, onde a região sul tem se destacado, já que os indicie de obesidade tem aumentado demais nessa região. Já para Abrantes (2002), a prevalência de sobrepeso em adolescentes tem aumentado muito nos últimos anos e, com relação ao gênero, alguns autores afirmam que a prevalência de sobrepeso e obesidade tem se destacado muito no gênero feminino por motivos e fatores hormonais. Alguns autores dizem que a obesidade tem seu inicio entre 5 e 6 anos de idade, especialmente em meninas. Este estudo também aponta que na Arábia Saudita o sobrepeso aparece entre 6 e 10 anos de idade, enquanto na China o mesmo acontece mais tarde, dos 11 aos 12 anos de idade, o que acaba comprovando que a obesidade no mundo inteiro tem sido detectada desde a infância, com a possibilidade de se tornarem, futuramente, adultos obesos. Para Dutra (2006) o sobrepeso vem sendo um problema crescente na saúde publica de países desenvolvidos devidos seu aumento repentino. No Brasil foram feitos pesquisas na região sudeste e nordeste, onde a região sudeste apresentou 10,4% de aumento de sobre peso em adolescentes de 10 a 19 anos. Em Pelotas, RS, em 1998, por exemplo, foi constatado que os adolescentes de 15 e 16 anos tiveram um aumento de 20,2% uma vez que os estudos sempre são realizados com base na idade escolar, que corresponde à faixa etária em questão. Assim sendo, a maioria dos estudos de base escolar. De acordo com Mcadler (2008), há novas classificações de obesidade, as quais foram estabelecidas, desde 18 de junho de 1998, por um grupo composto de 24 membros qualificados, convocados pelo NATIONAL HEART LUNG AND BLOOD INSTITUTE, os quais classificaram como peso excessivo um IMC (Índice de Massa Corporal) de 25 a 29,9. Desta forma, como tem sido mostrado ao longo deste texto, podemos perceber pelos dados que, a partir desta nova classificação, cresceu o número de obesos entre os jovens nestes últimos 15 anos com, com um hiato cada vez mais largo entre os pesos daqueles que são considerados excessivamente gordos e magros. Estes dados nos permitem concluir que as crianças e adolescentes acima de seus pesos, independentemente do seu peso corporal final, quando adultos, terão maior facilidade de se tornarem pessoas obesas. Uma vez que o sobrepeso é considerado o peso corporal, ou seja, a massa corporal em excesso, em relação ao padrão de referência e, padrão de referencia, geralmente é uma média de peso calculada a partir de uma dada altura e estrutura óssea, relacionada ao gênero, mesmo nos indivíduos que têm pouca gordura corporal, mas possui um grande volume de massa muscular, podem ser considerados indivíduos com sobrepeso, segundo Robergs (2002). Damasceno (2008), em seus estudos, diz que a obesidade pode ser considerada uma doença crônica definida como excesso de tecido adiposo e, o sobrepeso, como uma proporção maior que a desejável de acordo com sua estatura. A obesidade enquanto síndrome multifatorial contribui para alterações fisiológicas, bioquímicas, metabólicas e anatômicas, além de causar alteração psicológica e social, provocado pelo aumento do tecido adiposo no corpo envolvendo dois fatores, o ambiental e o genético, como nos aponta Simon (2009). Ainda temos Ferreira (2006), que considera a obesidade uma doença crônica causada pelo acúmulo de tecido adiposo em nível que compromete a saúde, o que vem contribuir com o fato de que a obesidade tem surpreendido a todos nos últimos anos em virtude do enorme crescimento de seus índices no mundo todo, o qual acarretará, também, um possível aumento nos indicie de 159 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, diabetes não–insulinico dependente, hipertensão arterial e certos tipos de câncer. Podemos dizer, então, que a obesidade ganhou um status preocupante quando relacionado ao aumento dos seus índices, principalmente quando estes se referem às crianças e adolescentes, ou seja, em indivíduos em idade escolar, fator esse que não diz respeito somente a uma localidade, mas como fora exposto, em diversos países do mundo todo. Associado a este problema que vem crescendo dia a dia outros começam a se tornar preocupantes uma vez que suas causas possam estar relacionadas à obesidade, como o aumento de determinados tipos de doenças como as cardiovasculares entre outras, sem dizer que teremos uma população adulta de obesos. Sendo assim, no próximo tópico estaremos abordando um pouco mais sobre os riscos que o excesso de peso pode acarretar à saúde. .2.1 Riscos de Excesso de peso para saúde Segundo Guedes (2006), a obesidade e o sobrepeso são responsáveis pelo desenvolvimento de doenças como cardiovasculares, a hipertenção, a osteoartrite e de alguns tipos de câncer, entre outras doenças degenerativas. Já Mcardle (2008), aponta que o nível cada vez maior de gordura corporal aumenta os riscos específicos para saúde tanto em crianças quanto adolescentes e adultos, tendo em vista que essa gordura excessiva pode contribuir com o aumento alarmante de diabete tipo 2 entre crianças, enquanto que do 70% dos adultos classificados como diabéticos 35% são obesos, ou seja, eles se encontram acima do peso. Sendo assim, podemos perceber que a obesidade pode ser considerada uma doença degenerativa crônica, por conta dos múltiplos perigos biológicos, como a probabilidade de uma enfermidade prematura ou mesmo causadores de morte baixa por excesso de peso de gordura. Em relação a isso, em junho de 1998, a AMERICA HEART ASSOCIATION atribuiu à obesidade a responsabilidade equivalente ao colesterol alto, hipertensão, fumo cigarros e um ataque cardíaco, a partir do seu estado precedente como fator de risco auxiliar. Além do que já foi colocado, de acordo com ( Amato & Amato, 1997 apud Salve 2006 ), a obesidade sobrecarrega todos os órgãos assim atingindo principalmente o coração, envolvendo, também, níveis pressóricos mais elevados cem como a hipercolesterolêmica, hipertrigliceridemia e diabete. De acordo com Mello (2000) as pessoas que não praticam nenhuma atividade física podem ter alguns problemas futuros, aumento a taxa de diabetes e o aparecimento de doenças cardiovasculares e assim aumentando a possibilidade de um enfarte. A patologia essencial da obesidade é uma aumento no conteúdo de gordura do corpo e assim no tamanho das células do tecido adiposo. A falta de atividade física, aparentemente desacelera a queima de gordura dos adipócitos, provavelmente, alterando o equilíbrio entre os adipocítos e os receptores adrenergéticas beta 1 alfa 2, dessa forma reduzindo atividade do lipose de lipoproteína do tecido adiposo ( DESPREs,1194 apud SHEPHARD 2003) De acordo com Terres (2006) o excesso de tecido adiposo no corpo pode trazer vários riscos para nossa saúde como: Diabetes Tipo 1 e Tipo 2, a hipertensão, o aumento de triglicerídeos e do colesterol. Tanto em crianças quanto em adolescentes essa patologia pode estar associada ao 160 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 aparecimento precoce de doenças cardiovasculares, diabetes de Tipo 2, problemas psicológicos, além de comprometer a postura e, assim, causar problemas no aparelho locomotor e trazer desvantagens socioeconômicas na vida adulta. A obesidade é um problema de saúde publica, A obesidade passou a ser considerada um problema de saúde pública tendo em vista, que ela não é identificada somente em alguns indivíduos, mas em diversos grupos e, no caso deste estudo, percebe-se gradativo aumento no grupo em idade escolar tanto nos países em desenvolvimento quanto nos desenvolvidos, o que mostra que ele não escolhe classe social. Uma vez que este problema vem afetando grande parte de população e, em consequência do mesmo, outros problemas e/ou outras doenças podem surgir, pois ela acaba contribuindo para o aparecimento de doenças precoces como: insuficiência cardíaca, diabetes, arteriosclerose, hipertenção cardíaca e aumento de mortalidade, (LEDERER 1991 apud SALVE 2006 ). Desta forma este problema passou a ser estudado e analisado como sendo algo que deve ser combatido e prevenido tendo em vista, como já foram mencionados, os grandes transtornos que podem gerar. 2- A INFLUENCIA DA ATIVIDADE FISICA PARA SAÚDE Hallal (2010), atividade física esta relacionada com benéficos curto e longo prazo para saúde, assim trazendo efeitos diretos na saúde sendo facilitado na adolescência com objetivo da continuidade da pratica na idade adulta. Atividade física contribui para proteção da capacidade funcional em qualquer idade, além de ajudar na capacidade funcional ela promove uma melhora na aptidão física Barros (2005). De acordo com (BARBOSA 2004 apud CHINA 2011 ) atividade física promove uma melhor qualidade de vida tanto física quanto psicológica assim trazendo alguns benefícios para saúde como melhora na força muscular na resistência física, redução da pressão arterial, na autoestima, autoimagem e a diminuição de pressão. Silva (2002), atividade física praticada corretamente promove a redução de riscos e doenças crônicas e assim também reduzindo doença tipo cardiovasculares e ate a mortalidade. Dutra (2009) apud (PAW et al., 2004; POLITO et al. 2004), podemos dizer que atividade física promove uma melhor qualidade de vida e saúde em qualquer idade, pois ela evita doenças crônicas na população fisicamente em atividade, entre elas a hipertensão arterial. E, assim, acaba por gerar outros benefícios para saúde da população. A atividade física praticada corretamente trás muitos benefícios para a saúde física e mental, isso por que ocorre uma influencia direta sobre a morbidade na adolescência, ou seja, a atividade física praticada desde a infância e adolescência pode contribuir para que, lá na frente, o individuo não se torne um adulto sedentário e com problemas de saúde. Hallal (2006). 4 - METÓDO UTILIZADO NO TRABALHO Para este estudo foi utilizado um consulta bibliográfica sobre o assunto e pesquisa de campo. Quanto ao estudo bibliográfico foram utilizados livros e artigos e, quanto ao trabalho de campo, foram aplicados dois testes em uma escola pública estadual do município de São José do Rio Pardo, em estudantes das séries finais do ensino fundamental, adolescentes de 14 e 15 anos, sendo 30 meninos e 25 meninas. O primeiro teste foi o (IMC) – indicie de massa corporal, o segundo foi o de DOBRAS CUTÂNEAS, onde utilizamos as dobras tricipital (DC TR) e peitoral (DC PE). Na aplicação do IMC foi realizada uma coleta da massa e altura². Para obter e descobrir a massa dos indivíduos foi utilizado uma balança portátil da marca G.Tech de ate 130 kg, na qual os indivíduos subiram sem nenhum calçado e posicionando os dois pés juntos para assim achar a 161 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 massa dos participantes. Para obtermos a estatura utilizamos uma fita métrica metálica na qual foi colocada em uma parede a partir de um metro acima do chão onde os alunos foram colocados com as costas encostadas na parede com os pés juntos e sem estar utilizando nenhum tipo de calçado, Acima da cabeça do indivíduo foi colocada uma régua e, assim, pude achar a estatura dos alunos. Para o teste de dobra cutânea foi utilizado um adipômetro cientifico da Marca CESCORF, sendo que para este teste, foi aplicado o teste de avaliação utilizando protocolo de Slaughter de 1988, que utiliza duas dobras a peitoral e a tricipital, para se obter o percentual de gordura. Este teste foi aplicado da seguinte forma nos meninos: foram colocados os mesmos de frente para o avaliador que no caso era um professor que identificou o ponto médio que fica entre axilar anterior e assim pode ser feita a coleta corretamente. Para se obter a dobra nas meninas as mesmas foram colocadas na diagonal e o ponto fica é localizado a um terço da linha axilar anterior ao thelion. Para coletar a dobra tricipital, tanto em meninos quanto meninas, ambos foram colocados de costas para avaliador com as pernas próximas umas das outras e com os braços relaxados e, assim, foram feitas as coletas para encontrar os percentuais de gordura do aluno, o que nos possibilitou ver quantos estavam acima ou abaixo do peso, sendo que, para isso foram utilizadas formulas diferentes para os meninos e para as meninas. Para os meninos aplicou-se a seguinte fórmula: %GC=0,735 x (Ʃ2) +1,0, que, somados aos dois resultados das dobras para Calculamos e achamos o percentual de gordura. Para as meninas a fórmula aplicada foi: %GC = 0,610 x (Ʃ2) + 5,1. Foi feita uma adaptação em duas tabelas, uma de IMC e outra de percentual do livro de medidas e avaliação de (MARINS & BOUZAS 2003), para podermos analisar se os adolescentes se encontravam dentro dos padrões exigidos pela tabela. Tabela 1. Padrões percentuais de gordura corporal para homens mulheres adaptado de Lohman (1992) Homens Fator Condicionante Mulheres ≤5 ≤8 Risco⁽¹⁾ 6 – 14% Abaixo da Média 9 – 22 15 Média 23 16 – 24 Acima da Média 24 – 31 ≥ 25 ≥ 32 Risco⁽²⁾ Adaptado (MARINS & BOUZAS 2003) Tabela 2. Interpretação dos resultados do IMC Valores do IMC KG/ m² Indicie de Mortalidade Classificação da Obesidade 20 – 24.9 Baixo Limite desejável para um homem ou mulher adulto 25 – 29.9 Moderado Grau 1 de Obesidade 30 – 40 Alto* Grau 2 de obesidade > 40 Muito Alto Grau 3 de Obesidade 162 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Adaptado de (MARINS & BOUZAS 2003) 5 - RESULTADOS Foi realizado a coleta de dados na escola EE DR Candido Rodrigues no município de São José do Rio Pardo, em alunos matriculados no 9° ano e que participavam regularmente das aulas de educação física, sendo que a idade foi de 14 e 15 anos e, dos 55 avaliados, 30 são meninos e 25 são meninas. Mais e com esses resultados mostrar para os adolescentes a importância de ter um corpo saudável, sem problemas de saúde que podem acarretar em uma morte mais rápida, devido as doenças que podem gerar estando acima do peso como, hipertensão, diabetes tipo 1 e 2, colesterol e triglicerídeo alto, doenças cardiovasculares e dentre outras doenças degenerativas. Dos 30 meninos avaliados obtivemos a altura média de 1,65 +/- 15 cm de variação, enquanto que o peso médio foi de 59,23 +/- de 14,41, que contribuiu para um IMC médio de 22,42 +/- 7,73, apesar de um desvio padrão alto, a relação entre a massa e a estatura entre os desvios da idade. Foi utilizada à mensuração de dobras cutâneas de tricipital e peitoral sendo que o valor médio foi de 18,90 +/- 11,41 de percentual de gordura. Foi utilizado a equação de %GC=0,735 x(Ʃ2) + 1,0. IMC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Grafico 1: IMC dos meninos 163 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 %GC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Gráfico 2: % Gordura em meninos Em relação às 25 meninas avaliadas obtivemos, através dos testes, uma altura média de 1,62 +/- 6 cm de variação, enquanto que o peso médio foi de 57,68 +/- de 15,04, que contribuiu para um IMC médio de 22,03 +/- 5,60, gráfico 3 apresenta os resultados, apesar de um desvio padrão alto, a relação entre a massa e a estatura entre os desvios estão dentro do recomendado para a idade. Foi utilizada a mensuração de dobras cutâneas de tricipital e peitoral, o valor médio foi de 20,47 +/8,29 do percentual de gordura, para a realização da formula foi utilizado a equação de %GC=0,610 (Ʃ2) + 5,1. 164 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 IMC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Grafico3: Imc das meninas %GC 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Grafico 4 : % gordura das meninas. 6 - DISCUSSÃO A aula de educação fisica tem grande importancia no controle para uma qualidade de vida e para uma manutenção do peso corporal, pois os alunos do 9º ano da escola na qual foi aplicado os testes, a EE Dr Candido Rodrigues, do municipio de São José do Rio Pardo, com media de idade de 14 e 15 anos, possuem um IMC geral 22,24 +/- 6,79, o qual está dentro da media indicada para o baixo indicie de mortalidade no homem e na mulher. Destes adolescentee, 5 meninas, ou seja, 20% dos alunos pesquisados, se encontravam acima do peso, de acordo com os valores indicado no IMC. 165 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Em relação aos meninos, 6 destes, ou sejá, 20 % se encontram acima dos ideais da tabela de IMC, de acordo com (Marins 2003 apud (Lohman 1992), representando um sobrepeso. Mas, como podemos ver nos apontamentos de (Silva 2002) o maior indice de sobrepeso apontou que as crianças tiveram uma maior porcentagem, 34,3%, contra 20,0% dos adolescentes (p<0,001). Logo, percebemos que a obesidade tem se destacado mais em crianças (14,2%) que em adolescentes (4,2%) (p<0,001) e, os adolecentes do sexo masculino tiveram um maior indice de sobrepeso, 34,6% que o sexo feminino, 20,6%, (p<0,001), o que mostra que a prevalência da obesidade esteve mais elavada no sexo masculino (14,7%) do que o feminino (4,4%) (p<0,001), onde a correlação do indicie de massa corporal e espessura da prega tricipital apresentou 0,64 (IC95% = 0,60 a 0,68). Para (Silva 2002) o sobrepeso mostrou um aumento em paises desenvolvidos, e obesidade contudo foi menos frequente. As 25 meninas avaliadas tiveram altura média de 1,62 +/ 6 cm de variação. Já o peso médio de 57,68 +/- de 15,04 contribuiu para um IMC de 22,03 +/- 5,60 estando dentro da média indicada para o baixo índice de risco mortalidade, de acordo com a tabela de (LOHMAN, 1992), ou seja diminuir os riscos de sobrepeso e obesidade e com isso também diminui o indicie de doenças degenerativas, para a qual foi utilizada a mensuração de dobras cutâneas de tricipital e peitoral, o valor médio foi de 20,47 +/- 8,29 do percentual de gordura, para a realização da formula foi utilizado à equação de %GC=0,610 (Ʃ2) + 5,1 onde de acordo coma tabela (Marins 2003) apud (LOHMAN, 1992), se encontram abaixo da média, os 30 meninos avaliados tiveram a altura média de 1,65 +/- 15 cm de variação. Já o peso médio de 59,23 +/- de 14,41 e contribuiu para um IMC médio de 22,42 +/- 7,73, apesar de um desvio padrão alto, a relação entre a massa e a estatura entre os desvios da idade estão dentro do padrão recomendado. Para a mensuração do percentual de gordura utilizamos o método indireto sobre dobras cutâneas e utilizamos as dobras tricipital e peitoral sendo que o valor médio foi de 18,90 +/- 11,41 de percentual de gordura. Foi utilizado a equação de %GC=0,735 x(Ʃ2) + 1,0. Apesar do desvio padrão, e também não posso deixa de ressaltar, a importância da atividade física e uma alimentação saudável e, também, as aulas de Educação Física, são indispensáveis para todas as crianças e adolescentes, para que tenham uma vida saudável, sem problemas com doenças como: diabetes, hipertensão, doenças cardiorrespiratórias dentre outras, já que os ideais estariam dentro dos padrões citado na tabela, assim todos os testes ficariam com o IMC dentro dos padrões como está. Mas tem uma média com um desvio percentual baixo só assim ficaríamos com os resultados, positivos. CONSIDERAÇÕES FINAIS De acordo com os resultados pude ressaltar que ouve o menor indicie de risco de sobrepeso e obesidade nos adolescentes, os resultados das meninas apresentaram uma taxa de 20% e o dos meninos uma taxa 20% ambos tanto o sexo masculino quanto o feminino esses 20% de cada um ,apresentou estar com indicie de sobrepeso e com isso posso dizer que apesar desses, desvios padrão, os meus resultados foram satisfatórios pois ambos apresentaram estar dentro dos padrões e com um menor risco de mortalidade de acordo com a tabela (LOHMAN, 1992 apud MARINS, 2003. E assim através da atividade física podemos oferecê-los uma melhor qualidade de vida, para que futuramente sejas indivíduos com saúde, e não sejam adultos sedentário com riscos de mortalidade devido, estar com sobrepeso e obesos, pois isso pode acarretar vários tipos de doenças que podem levar ate a morte. 166 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 REFERÊNCIAS ABRANTES, Marcelo M. et all. 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A realização deste estudo permitiu o entendimento de que o envelhecimento é uma fase da vida que contempla desafios e obstáculos a serem superados. Essas dificuldades envolvem a saúde, benefícios previdenciários, estrutura familiar, vida profissional, inserção social. Especialmente aos idosos institucionalizados deve-se pensar na saúde como promoção e qualidade de vida, pressupondo pensar não apenas na resolução ou no encaminhamento da recuperação da saúde, no caso de surgimento de algum comprometimento por doença, mas, sobretudo, pensar em atividades de integração, de interseção com outras áreas e com o amparo das políticas públicas, pois, somente assim, será possível edificar o conceito de qualidade de vida tão fundamental na vida de todos. Apurou-se que as atividades lúdicas propostas aos idosos do Asilo Padre Euclides Carneiro, sobretudo àqueles que participam frequentemente das atividades, favorecem uma melhora nos aspectos psicológicos e sociais, proporcionando-lhes sentimento de serem mais úteis, independentes, com mais esperança e vontade de viver, apresentando autoestima mais elevada, maior vitalidade e disposição, tornando-se mais saudáveis, sociáveis e felizes. Portanto, enquanto profissional da Educação Física, é fundamental a conscientização da importância do oferecimento de atividades lúdicas para essa população, trabalhando com grupos de idosos pertencentes a instituições de repouso, grupos de terceira idade, idosos hospitalizados, enfim, com pessoas idosas que gostam e precisam de atenção, ampliando, dessa forma, a interação social desses indivíduos, melhorando sua autoestima e qualidade de vida. Palavras-chave: Atividades Lúdicas; Autoestima; Envelhecimento. 169 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ABSTRACT:With the main objective to reflect on the benefits of play activities in improved selfesteem of individuals institutionalized elderly , this study was conducted from extensive literature review and field research using a questionnaire with the elderly participants in recreational activities Asilo Padre Euclides Carneiro de São José do Rio Pardo/SP. This study allowed the understanding that aging is a stage of life that includes challenges and obstacles to overcome. These difficulties involving health, welfare benefits , family structure, professional life, social inclusion. Especially the institutionalized elderly should be thought of as health promotion and quality of life, assuming thinking not only in resolution or routing of healing , in the case of appearance of any commitment by illness, but especially think of integration activities, intersecting with other areas and with the support of public policy, because only thus will it be possible to build the concept of quality of life as essential in everyone's life. It was found that the recreational activities offered to seniors Asilo Padre Euclides Carneiro, especially those who frequently participate in activities, favor an improvement in psychological and social aspects, giving them the feeling of being more useful , independent, with more hope and desire to live, with higher self-esteem, greater vitality and willingness to become more healthy, sociable and happy. So while professional Physical Education is fundamental awareness of the importance of offering fun activities for this population, working with groups of elderly participating institutions rest, elderly groups , elderly hospitalized, finally, with older people they like and need attention, increasing thus the social interaction these individuals, improving their self-esteem and quality of life. Key-words: Playful Activities; Esteem; Aging. INTRODUÇÃO De acordo com Pont Géis (2003), a sociedade está em permanente evolução, e os temas que despertam preocupação modificam-se a cada momento à medida que modificações ocorrem na população e consequentemente em suas necessidades e interesses. Atualmente, um dos temas mais discutidos é a longevidade de vida da população mundial, o aumento da população pertencente a terceira idade, ou seja, os indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos nos países desenvolvidos e igual ou superior a 60 anos Brasil; e os temas diretamente relacionados a esta faixa etária, tais como o cuidado com o corpo, a melhora da qualidade de vida, a vivência de uma vida saudável e independente, entre outros que envolvam tanto o físico como o psíquico (PONT GÉIS, 2003). Uma das principais preocupações com relação a esta população é a autoestima, pois diversos trabalhos vêm mostrando que paralelamente ao envelhecimento existe uma diminuição da mesma (BENEDETTI, PETROSKI, GONÇALVES, 2003). A diminuição da autoestima após o envelhecimento relaciona-se a diversos fatores físicos e sociais, onde podemos destacar a condição socioeconômica, o nível educacional e as condições de saúde (MEURER, 2011). Além dos fatores descritos anteriormente, a internação de idosos em asilos, onde não existe terapia ocupacional e os mesmos vivam em estado de ociosidade colabora para potencializar o 170 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 abatimento moral e a perda progressiva da autonomia, o que acaba acarretando na perda da autoestima (BENEDETTI; PETROSKI; GONÇALVES, 2003). Em contrapartida, a prática de atividade física pode atenuar tal perda, o que coloca a Educação Física na linha de frente desta batalha do homem contra o tempo, contribuindo para a harmonização biopsicossocial (MEIRELLES, 1997). Dentro dos modelos de atividade física encontram-se as atividades lúdicas, que proporcionam a aquisição de novos conhecimentos e desenvolvendo habilidades de forma natural e agradável, contribuindo para melhorias de ordem psíquica e física em idosos. Tal assertiva encontra na literatura evidencias de que o oferecimento de um programa de atividades lúdicas proporciona uma autoestima positiva dos idosos asilados em relação aos idosos não praticantes (MALUF, 2003). Objetivos Objetivo Geral Verificar possíveis modificações na autoestima de idosos asilados no “Asilo de Inválidos Padre Euclides Carneiro” em São José do Rio Pardo, submetidos a um programa de atividades lúdicas. Objetivos Específicos Comparar a autoestima de idosos asilados submetidos a um programa de atividades lúdicas com a autoestima de idosos não submetidos ao programa. 1- IMPORTÂNCIA DO ESTUDO Amparando-se na compreensão de que a institucionalização do indivíduo idoso pode comprometer sua qualidade de vida de várias formas, uma vez que toda mudança gera fatores positivos e negativos; e na necessidade de se buscar ferramentas capazes de contribuir para a melhoria da qualidade de vida nesta etapa da existência humana; revalorizando os idosos aos seus olhos e aos olhos da comunidade, este estudo busca colaborar com a elucidação da eficácia dos programas de atividade física que fazem uso do elemento lúdico em instituições para idosos, auxiliando os profissionais de educação física na escolha da melhor estratégia de intervenção a se utilizar em instituições para idosos. 1.1- Hipóteses H1 – Um programa de atividades lúdicas é capaz de modificar positivamente a autoestima de idosos asilados. H0 – Um programa de atividades lúdicas não gera modificações ou gera modificações negativas na autoestima de idosos asilados. 1.2 -Delimitação do estudo Foram variáveis controladas durante o período de estudo: local das aulas, conteúdo e tempo das aulas, número de aulas na semana, material utilizado e frequência dos alunos. 171 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Não foram controladas as variáveis: alimentação, stress do dia a dia, tempo de sono e atividades extras. 2 - REVISÃO DE LITERATURA 2.1- Histórico do Asilo Padre Euclides Carneiro O Asilo de Inválidos Padre Euclides Carneiro – Recanto da Esperança -, localizado no município de São José do Rio Pardo, estado de São Paulo, foi fundado em 03/05/1917. Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, tendo por finalidade promover a convivência entre os residentes de diversos graus de deficiência. As fontes de renda para manter a entidade provém de recursos de origem própria, de órgãos governamentais (Municipal, Estadual e Federal), e de atividades que geram renda, além de doações da comunidade em geral. A entidade oferece Serviço de Proteção Social Especial de Alta Complexidade, com a finalidade de acolher e garantir proteção integral ao idoso nos moldes de uma Instituição de Longa Permanência (ILP). Quanto ao público-alvo, o serviço é destinado a idosos com 60 anos ou mais, de ambos os sexos, independentes e/ou com diversos graus de dependência, com ou sem deficiência seja física, seja mental. O objetivo geral da instituição é proteger e assistir integralmente o idoso por meio de serviços que garantam seu acolhimento em ambiente com estrutura física adequada e com pessoal habilitado, treinado e supervisionado por equipe técnica capacitada para auxiliar nas atividades da vida diária do interno. Quanto aos objetivos específicos da entidade, tem-se: - Promover a socialização, proporcionando atendimento das necessidades físicas e mentais, assegurando o fortalecimento dos vínculos familiares e/ou comunitários e o desenvolvimento da autonomia, através de atividade diárias garantindo uma melhor qualidade de vida; - Incentivar o desenvolvimento do protagonismo e de capacidades para a realização de atividades da vida diária; - Desenvolver condições para a independência e o auto-cuidado; - Promover o acesso a renda; - Promover a convivência mista entre os residentes de diversos graus de dependência. No tocante às provisões, o Asilo Padre Euclides Carneiro oferece: a) Ambiente Físico - 18 dormitórios com dois (2) leitos; - 02 dormitórios com um (1) leito; - 01 dormitório com quatro (4) leitos; - 04 enfermarias com oito (8) leitos cada; - 01 lavanderia; - 01 rouparia; - 01 almoxarifado; - 01 cozinha; 172 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 - 04 salas de TV; - 01 área de lazer e recreação; - 01 vestuário para funcionários; - 01 escritório; - 01 pátio para descanso e lazer; - 01 refeitório para internos; - 01 refeitório para funcionários; - 01 cozinha industrial; - 01 dispensa para armazenar alimentos; - 09 banheiros; - 01 posto de enfermagem; - 01 sala de fisioterapia; - 01 salão de festas; - 01 capela; - 01 estacionamento para veículos com 15 vagas. b) Recursos e Materiais Utilizados - alimentos; - material de higiene pessoal; - medicamentos; - combustível; - material de limpeza; - material de escritório; - gás de cozinha; - despesas com telefone; - despesas com energia elétrica; - impostos, taxas e contribuições; - mobília; - vestuário. c) Recursos Humanos - 01 enfermeira padrão; - 01 fisioterapeuta; - 01 estagiário de fisioterapia; - 01 nutricionista; - 10 técnicas de enfermagem; - 10 auxiliares gerais; - 03 cozinheiras; - 01 motorista; - 02 vigias; - 01 assistente administrativo; - 01 assistente social; - médico voluntário. As condições e formas de acesso são realizadas por requisição de serviços de políticas públicas setoriais, CREAS, demais serviços socioassistenciais, Ministério Público ou Poder Judiciário, solicitação da família e busca espontânea. O Asilo Padre Euclides Carneiro atende 24 horas por dia, ou seja, ininterruptamente. 173 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A entidade presta serviço de acolhimento institucional de longa permanência para idosos de abrangência Municipal e Regional. A instituição mantém articulação com: AGRADEF (Associação Grupo Riopardense do Deficiente Físico); CRAS (Centro de Referência de Assistência Social); CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social); CAPS (Centro de Apoio Psicossocial); Centro de Convivência da Terceira Idade; Secretaria da Saúde; Serviço Socioassistenciais; Ministério Público / Poder Público. O impacto social esperado pela instituição inclui: redução da presença de idosos em situação de abandono e/ou com vínculos rompidos com os familiares, vulnerabilidade, risco pessoal e social e sem condições de moradia; construção da autonomia e autocuidado. São algumas das propostas de atividades desenvolvidas com os idosos no Asilo Padre Euclides Carneiro: - Projeto Melhor Saúde na Melhor Idade: o objetivo é oferecer cuidados relacionados à saúde e bem-estar do idoso institucionalizado; - Projeto Socializar: o objetivo é proporcionar socialização e integração dos idosos menos debilitados com a comunidade; - Projeto Vínculos Resgatados: o objetivo é resgatar vínculos familiares fragilizados e/ou rompidos, visando proporcionar aos internos sentimentos de pertencimento e resgate da afetividade com os familiares. Quantidade de idosos por dependência do Asilo Padre Euclides Carneiro: - Número de idosos com grau de dependência I: 26 (independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de autocuidado); - Número de idosos com grau de dependência II: 36 (com dependência em até três atividades de autocuidado para a vida diária); - Número de idosos com grau de dependência III: 51 (necessita de assistência em todas as atividades de vida diária ou com comprometimento cognitivo). Segundo informações coletadas junto ao Asilo Padre Euclides Carneiro, os motivos mais frequentes do encaminhamento à instituição são: abandono familiar; falta de pessoa para cuidar; sem referência familiar. O número de vagas existentes para acolhimento são 120, sendo para 57 homens e 63 para mulheres. No momento existem 113 vagas ocupadas, sendo 55 homens e 58 mulheres. Os idosos recebem visitas, e a entidade procura manter, estabelecer e fortalecer o vínculo das famílias com os idosos. Nesse sentido, a Diretoria e Assistente Social cobram a inserção da família junto ao idoso, promovendo eventos e festas, abrindo dias e horas de visitação (todos os dias das 10h00 às 17h00). São oferecidas aos idosos institucionalizados 5 refeições diárias, sendo: café da manhã, almoço, café da tarde, jantar e lanche noturno. Vale salientar que existem idosos que se alimentam através de sonda ou outro tipo de recurso. O Asilo desenvolve as seguintes atividades junto aos idosos: - Alfabetização; - Bailes; - Música; - Missas; - Cultos; - Recreação com atividades lúdicas; - Festas comemorativas: Natal, Páscoa, Aniversários, Festa Junina. 174 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Em sua estrutura física, o Asilo Padre Euclides Carneiro possui escadas com piso antiderrapante, escadas com corrimãos, rampas em todos os desníveis, rampas com piso antiderrapante e com corrimãos. Tudo na instituição é pensado para contribuir para o bem-estar do idoso e uma melhor qualidade de vida. 2.2 Envelhecimento: Principais Aspectos No entendimento de Meirelles (1997), a velhice pode ser vista por dois lados: Como o apogeu de uma vida ou como a decadência de um indivíduo. O termo “velho” é originado do latim “vetulu”, através de uma forma hipotética “vetlu”; cuja pronúncia é “veclu”; como adjetivo quer dizer muito idoso; que tem muito tempo de existência e como substantivo significa homem idoso (COSTA, 1998). Na Antiguidade, os seres humanos já reclamavam do estrago que o tempo faz nos indivíduos. O filósofo e poeta Ptah-Hotep, no ano de 2.500 antes de Cristo, fez referência sobre o quão penosa era a vida do ancião, que dia a dia se enfraquecia, tinha a visão diminuída, a força declinava, seus ouvidos se tornavam surdos, a boca silenciosa e o corpo não encontrava repouso (PTAH-HOTEP apud MEIRELLES, 1997:1516). Meirelles (1997) conta que entre os gregos a velhice era tratada com extremo desdém. O lema dos gregos era: “Prefiro morrer a envelhecer”. Enquanto os jovens belos eram os preferidos dos deuses, sendo retirados da corrente da vida antes que o tempo os afogasse em velhice. Contudo, os homens de pensamento tinham uma visão diferente. Para Homero, a velhice está relacionada à sabedoria, o idoso possui a experiência e o dom da palavra, mas lhe falta à força física. Sócrates, que não atingiu a plena velhice, mas tinha um espírito jovem, a ponto de ser condenado à morte sob a acusação de corromper com suas ideias a juventude de Atenas, afirmava: “Para indivíduos prudentes e bem preparados, a velhice não constitui peso algum”. Por sua vez, Platão, que chegou aos 80 anos, declarou que “a velhice faz surgir em nós um imenso sentimento de paz e a libertação” (MEIRELLES, 1997:16). A visão da velhice através dos tempos se divide entre os platônicos, defensores de que a velhice é alma, espírito, saber e ordem; e os aristotélicos, para quem a velhice é corpo, é fraqueza, ressentimento e decadência. Hoje, apesar de presente na mídia, a velhice vive seu eterno conflito, ora sendo exaltada como na visão platônica, ora sendo degradada como na visão aristotélica (MEIRELLES, 1997). De acordo com Pont Géis (2003), a velhice é mais uma etapa da vida, e todos devem se preparar para vivê-la da melhor forma possível, uma vez que o processo natural é o nascimento, crescimento, amadurecimento e envelhecimento. Assim, devemos aceitar todo o processo e nos adaptarmos física e psicologicamente a cada uma das etapas. A mesma autora pontua que ao longo de toda a vida os indivíduos vão aprendendo e amadurecendo, sendo que a terceira idade é o momento mais alto da maturidade. Os idosos têm em seu poder um tesouro de sabedoria e de experiência e, por essa razão, merecem respeito, devendo ser valorizados e não marginalizados. Fato é que desde a gênese do homem até o seu presente momento histórico, a preocupação com o envelhecimento está presente no pensamento de teólogos, filósofos, cientistas, homens e mulheres comuns, enfim, em todos os que vivem e morrem neste planeta, buscando através das gerações sucessivas um sentido para a vida e uma explicação para a morte (MEIRELLES, 1997). 2.2.1 Critérios de classificação do envelhecimento 175 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Contribuindo para a conceituação do envelhecimento, Costa (1998) salienta três critérios básicos: cronológico, biológico e pessoal. O critério cronológico considera a idade cronológica, ou seja, segundos, minutos, horas, dias, ano etc. É aquela que consta a partir da certidão de nascimento e que não pode ser negada; presumindo-se a veracidade dos dados constantes nesse documento (COSTA, 1998). O critério biológico relaciona-se a idade orgânica, sendo aquela que o corpo biológico estabelece; um indivíduo de 60 anos, apesar de perceber em si mesmo mudanças corporais, pode sentir-se fisicamente bem, movimentando seu corpo com agilidade, aparentando menos idade biológica do que cronológica (COSTA, 1998). O critério pessoal trata-se de um critério sumamente individual, pois é ligado às vivências internas de cada um. A Organização das Nações Unidas (ONU) divide os idosos de acordo com a idade cronológica em três categorias, pré-idosos, que são indivíduos com idade entre 55 e 64 anos; idosos jovens, entre 65 e 79 anos, sendo que para que vive na Ásia e na região do pacifico esta é de 60 a 69 anos; e os idosos de idade avançada, que são aqueles com mais de 80 anos (TONETO, 2006). Ainda levando se em conta a idade cronológica, é possível destacar a classificação referente ao inicio da terceira idade de Costa apud Ferreira e Simões (2011), dividida em 5 fases: 1. Mediscência na Fase I: Começa aos 30 e vai até os 49 anos. 2. Pré-senescência ou meia idade ou idade média ou idade intermediária ou período de involução: Começa aos 40 (para alguns aos 45) e vai até os 59 ou 65 anos. 3. Mediescência na Fase II ou maturidade tardia: Fase dos 50 aos 65 anos ou 70 anos. 4. Senescência, velhice, terceira idade, maior idade, idade adulta tardia, maturidade, idade madura ou ainda primavera velhice: Vai dos 65 anos (para outros 60 ou 70) até os 75 ou 80 anos. 5. Segunda velhice ou quarta idade ou grande idade: Inicia-se, para alguns, aos 75 anos; para outros aos 80 anos. Papaléo Netto (2006) afirma que não existe uma consciência clara de que, por meio de características físicas, psicológicas, sociais e culturais e espirituais, possa ser anunciado o início da velhice. Assim, o início exato da velhice é indefinido, tornando difícil fixa-lo, residindo a maior dificuldade nas diferentes formas em que a sociedade vê o fenômeno e o idoso: “preconceituosa com aqueles que têm origem em classes sociais mais baixas, benevolente com os que ocupam classes sociais mais elevadas”, o que indica que ao lado dos problemas médicos, psicológicos e bem mais acentuados e frequentes na velhice, assumem particular importância os problemas sociais nas classes mais desfavorecidas. 2.2.2 Processo de Envelhecimento O envelhecimento é uma fase de todo um continuum que é a vida, começando esta com a concepção e terminando com a morte. Ao longo desse continuum se observa as fases de desenvolvimento, puberdade e maturidade, entre as fases, é possível identificar marcadores biofisiológicos que representam limites de transição entre as mesmas (PAPALÉO-NETO, 2006). O processo de envelhecimento tem início desde o momento da concepção, sendo, então, a velhice definida como um processo dinâmico e progressivo onde há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que culminam por levá-los à morte (MEIRELLES, 1997). 176 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Na visão de Melo (1996), envelhecer, muito mais do que acumular anos de vida e mais do que conquistar uma aposentadoria, é qualificar a vida em todas as suas fases, porque é no envelhecer que o indivíduo vislumbra todas as dimensões da existência humana. Alguns idosos têm mais facilidade para lidar com tais mudanças e optam por enfrentar o desafio de aceitar e adaptarem-se a elas, outros, porém, apresentam maiores dificuldades e terminam por se afastar e se isolam cada vez mais (PONT GÉIS, 2003) A velhice não pode ser conceituada como um processo linear que ocorre de forma igual para todos os indivíduos e não se trata somente de se adequar às normas, regras e valores, mas, sim, de sentir, reagir e viver da sua forma e sua maneira esse período da vida (MEIRELLES, 1997). Conforme Fainguelernt (2008), a passagem do tempo é vivenciada com desconcerto, uma vez que o indivíduo não reconhece em si as metamorfoses advindas, passo a passo, com a senescência; conseguindo reconhecer sua velhice apenas no olhar do outro. Papaléo Netto (2006) assinala que os vários aspectos que caracterizam o processo de envelhecimento clamam para a necessidade de propiciar à pessoa idosa atenção abrangente à saúde, colocando em prática o preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Busca-se, dessa forma, não apenas o controle das doenças, mas em especial bem-estar físico, psíquico e social, ou seja, em última análise, a melhora da qualidade de vida. Com relação ao envelhecimento biológico durante o envelhecimento, o organismo transforma-se e vai perdendo progressivamente as suas faculdades. Em cada indivíduo esse processo tem um ritmo diferente. Há quem, ainda estando em ótimas condições físicas, perca as faculdades mentais como, por exemplo, a memória (PONT GEIS, 2003). Melo (1996) afirma que alguns aspectos podem determinar o processo de envelhecimento mais lento ou mais rápido: a constituição genética; o clima; a alimentação; o ritmo de atividades; a quantidade de esforços despendidos. Nota-se que a ideia de envelhecimento constitui-se um processo bem pessoal, que diverge de indivíduo para indivíduo, de cultura para cultura e de época para época. Ferreira e Simões (2011) comentam as quatro áreas do envelhecimento: fisiológico, cognitivo, psicológico e social: - Envelhecimento Fisiológico: Desde que nasce, o ser humano já começa seu processo de envelhecimento. Segundo Ferreira e Simões (2011), as transformações se dão por todos os sistemas do organismo, de formas diferentes, cada qual no seu ritmo, sendo que as mudanças são nítidas, e fazem parte do desenvolvimento normal da espécie humana. Com o envelhecimento, várias alterações podem ocorrer no indivíduo afetando o sistema nervoso central, visão, audição, sistema circulatório e vascular, sistema respiratório, sistema digestivo, musculatura, sistema urinário, sistema endócrino, aparelho locomotor. Além disso, conforme a idade avança ocorrem modificações quanto à altura, estrutura óssea, pele, ou seja, o processo de envelhecimento sob a ótica fisiológica é sinônimo de perdas, marcando uma fase de intensas transformações. - Envelhecimento Cognitivo: Com o decorrer do tempo pode-se observar o declínio das funções cognitivas provocadas pelo envelhecimento, tais como perda de memória, principalmente àquelas relacionadas a números, nomes de pessoas, localização de lugares e objetos guardados e, inclusive, a velocidade de processar determinadas informações (FERREIRA; SIMÕES, 2011). Segundo Abreu e Tamai apud Ferreira e Simões (2011), além das alterações neurofuncionais, os prejuízos cognitivos provocam alterações em diversas áreas do desempenho 177 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ocupacional, influenciando diretamente na vida social, trabalho, lazer, bem como em todas as esferas da vida diária do idoso. Para Vieira e Koenig apud Ferreira e Simões (2011), as transformações cognitivas que ocorrem durante o processo de envelhecimento conduzem, muitas vezes, idosos e familiares a se preocuparem com um declínio maior nessa função, resultando numa possível demência, visto que pode ter como reflexo um diagnóstico de síndromes, como no caso do Alzheimer. Contudo, é importante ressaltar que, embora o idoso apresente dificuldades nas realizações de tarefas e em solucionar problemas com a mesma velocidade com que fazia quando jovem, ele não deve ser excluído da sociedade e nem de sua vida, pois isso não significa ser incapaz ou inútil, visto que todas as pessoas apresentam alguns tipos de dificuldades em determinadas fases de suas vidas (FERREIRA; SIMÕES, 2011). - Envelhecimento Psicológico: A velhice traz perdas que, não raro, conduzem a crises. Mas, independentes se jovens ou idosos, as perdas se fazem presentes na vida de todo ser humano, mas a forma com que cada pessoa vivencia e supera as mudanças são diferentes de pessoa para pessoa (FERREIRA; SIMÕES, 2011). - Envelhecimento Social: A família é um componente essencial no relacionamento humano, pois é por meio dela que cada elemento que a constitui cria laços de afetividade, compromisso e interação, sendo que esses relacionamentos são expandidos na sociedade. Ferreira e Simões (2011) tecem o seguinte comentário: Cada pessoa se relaciona de maneira única, e nestas ligações estão imbricados valores, crenças, história de vida; e para que haja interação, respeito e compreensão dentro de um relacionamento é preciso aceitar também os valores, crenças e história de vida do outro. Viver em família é estar inserido num processo de constantes mudanças de comportamentos e de perdas e ganhos, buscando sempre um estado de equilíbrio frente a um evento, assim, a família é o esteio e o suporte para todo ser humano, principalmente para o idoso que faz dela toda a significância para a sua vida diária (FERREIRA; SIMÕES, 2011:38-39). Percebe-se que para o idoso a família é o seu “porto seguro”, uma vez que é por meio dela que ele realiza suas relações de afetividade, adquire segurança e apoio para os desafios que ainda enfrentará, como as transformações próprias do envelhecimento. É no seio da família que o idoso encontra descritas suas histórias de vida, seu passado, seu presente e o entusiasmo para viver o futuro (FERREIRA; SIMÕES, 2011). Embora existam preconceitos, mitos e indiferenças a respeito do envelhecer, há também projetos e trabalhos que valorizam a grande população idosa, considerando que: Proporcionar condições de vida digna para aqueles que chegaram antes, abriram caminhos, plantaram sementes, criaram raízes é um comportamento de todos e de cada um em particular. O velho é um patrimônio social e, por isso, deve ser assumido e valorizado (MELO, 1996:12). Pode-se dizer que o processo de envelhecimento não se trata de um processo unilateral, mas, sim, a soma de vários processos entre si, os quais envolvem os aspectos biopsicossociais, enfatiza Meirelles (1997). 178 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O envelhecimento biológico é multifatorial; controlado por mecanismos celulares intrínsecos e modulado por numerosas influências do meio ambiente, sendo que a magnitude das alterações estruturais e funcionais, que nem sempre coincidem com a cronologia e a perda social, uma vez que o envelhecimento não se dá da mesma forma para todas as pessoas. No entanto, as alterações biológicas tornam o idoso menos capaz de manter a homeostase quando submetido a um estresse fisiológico. Tais alterações, principalmente quando associadas à idade cronológica avançada, determinam maior suscetibilidade às doenças, maior vulnerabilidade e probabilidade de morte (ANDREOLI, 1998). No que se refere às modificações psicológicas, Néri apud Albuquerque (2003) afirma que o bem-estar psicológico reflete a avaliação pessoal sobre três áreas, a comportamental, ambiental e a perceptiva. A competência comportamental representa a avaliação social e normativa do funcionamento pessoal quanto à saúde, à funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo. É realizada comparando-se indivíduos segundo critérios de idade, educação, gênero, etnia e classe social (NÉRI apud ALBUQUERQUE, 2003). As condições ambientais estão relacionadas diretamente ao bem-estar percebido pelo idoso. Quando os idosos gozam de autonomia funcional, eles próprios podem providenciar arranjos para que seu ambiente torne-se mais seguro, variado e interessante. Assim, este fator trata-se de os idosos, por si mesmos, tomarem providências para construir um mundo em que possam viver melhor. Quando eles já não dispõem de possibilidades de manejo do próprio ambiente físico, é necessário que os membros da família ou das instituições por eles frequentadas, cuidem desses aspectos (NÉRI apud ALBUQUERQUE, 2003). Com relação a qualidade de vida percebida, é uma dimensão subjetiva da qualidade de vida, sendo que está ligada aos julgamentos do indivíduo sobre a sua funcionalidade física, social e psicológica e sobre a sua competência comportamental. Tais julgamentos são afetados pelas condições objetivas de saúde física, pela renda, e pela dimensão, proximidade e funções da rede de relações sociais (NÉRI apud ALBUQUERQUE, 2003). Além da avaliação pessoal descrita anteriormente, o bem estar psicológico do idoso depende da sua capacidade em se adaptar às perdas e de se recuperar de eventos estressantes do curso de vida individual e social, tais como desemprego, doenças, desastres, mortes de membros da família, violência urbana, crises econômicas, guerras, bem como da sua capacidade para assimilar informações positivas sobre si mesmo (NÉRI apud ALBUQUERQUE, 2003). Ainda podemos ressaltar como fator determinante na saúde psíquica do idoso a condição econômica, uma vez que estudos demonstram que a maioria dos idosos, cuja renda é de um a dois salários mínimos acarreta dependência econômica, trazendo consequência em relação aos familiares (COMDIPI, 2005). Segundo o COMDIPI (2005), outro fator que implica na qualidade de vida ao idoso é o referencial criado ao longo do processo de envelhecimento, ou seja, as capacidades de adaptação do ser humano vão diminuindo, tornando-o cada vez mais sensível no aspecto emocional e inclusive em relação às doenças crônicas, que vão se tornando mais agravantes em decorrência da própria idade. Na visão de Melo (1996), levantar as necessidades e as possibilidades de o idoso vir a ser considerado como um verdadeiro cidadão respeitado e valorizado enquanto ser humano e comprometido socialmente enquanto partícipe de uma sociedade em construção, certamente é uma ação urgente e necessária. 179 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A velhice constitui-se de um momento de incertezas, onde o indivíduo deixa a vida ativa e passa a ter tempo livre ao mesmo tempo em que tem que enfrentar a perda de identidade profissional. Nesse contexto, o idoso enfrenta não apenas a negação da realidade vivenciada, como a angústia que o momento desencadeia. Ou seja, é uma fase na qual pode ocorrer a perda do cônjuge, da autoestima, a restrição que limita qualquer tipo de desejo, as enfermidades físicas e atitudes da família e da sociedade. Tudo isso pode resultar em um estado depressivo (FAINGUELERNT, 2008:54). “No dia a dia as pessoas vão levando a vida, e, ao envelhecer, passam a conviver com desafios como a discriminação do idoso na sociedade e na família, a aposentadoria, a solidão, o abandono, a doença” (MEIRELLES, 1997:107). Um dos pontos ressaltados por Meirelles (1997) é que a preocupação com o envelhecimento e com o rejuvenescimento não é um fenômeno da sociedade contemporânea, pois, como visto anteriormente, está presente no pensamento de filósofos e teólogos há muito tempo. Conforme relatos de Meirelles (1997), a enumeração das deficiências da velhice pode ser encontrada em todas as épocas. É importante mencionar que se o sentido e o valor dados à velhice variam com as sociedades, nem por isso ela deixa de ser um fato que transcende a história, suscitando certo número de reações idênticas. Nos dizeres de Pont Géis (2003:15): Uma das coisas mais maravilhosas deste mundo é ver pessoas adultas, entre 80 e 90 anos, envelhecerem saudavelmente, com autonomia e capacidade para resolverem, sozinhas, as suas próprias coisas, para viverem de forma independente e ativa suas vidas sem se abalarem com o envelhecimento e com o que este representa; sem deixar que este crie barreiras para o prosseguimento do ritmo natural da vida. A terceira idade é a mais bela estação da vida, nesta fase, na opinião de Melo (1996), ocorre o coroamento das fases anteriores. A terceira idade apresenta a colheita de tudo o que se aprendeu e viveu; de tudo o que se fez e conseguiu; de tudo o que sofreu e superou, portanto não é uma etapa da vida a ser temida, não é uma fase a ser desprezada. É, sim, um período de descobertas e a valorização da vida fértil que existe em cada um e sobretudo na população que envelhece, muitas vezes sem muita perspectiva (MELO, 1996: 09). 2.3 Institucionalização de idosos Especificamente no que tange à institucionalização dos idosos, Ferreira e Simões (2011) salientam que dentre as várias bibliografias sobre o tema nota-se que os motivos que conduzem à institucionalização do idoso se repetem, aliados à insuficiência de recursos, impossibilidade de encontrar uma moradia, razões familiares, doenças, entre outros. Quanto à institucionalização do idoso por motivos familiares, Ferreira e Simões (2011) destacam alguns fatores que contribuem para tal situação. Entre eles há a redução do número dos componentes familiares em detrimento ao padrão antigo de famílias extensas, os divórcios e separações, a questão financeira que dificulta os cuidados com os idosos, a convivência simultânea entre várias gerações numa mesma família, gerando confronto entre os membros devido à divergência de ideias, valores e comportamentos. 180 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Notadamente a sociedade não está preparada para lidar com tais conflitos e muitos idosos terminam por ser colocados por seus familiares em asilos. Sobre o espaço asilar, as mesmas autoras relatam que a palavra “asilo” denota um significado de abrigo, refúgio, amparo, proteção e antigamente eram oferecidos não apenas aos idosos carentes, mas também, às pessoas deficientes, pessoas sem condições físicas e financeiras de manterem uma moradia. Na definição de Goffman apud Ferreira e Simões (2011:85), a instituição asilar é: “Um local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por um considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada.” Esse autor considera instituições para idosos lugares de segregação, visto que a instituição acaba retirando o idoso da sua vida social, considerando que no ambiente institucional pode haver dificuldades em fazer novos contatos, há a necessidade de seguir regras e normas de funcionamento, existe uma rotina a ser seguida pelos idosos. No entanto, segundo Ferreira e Simões (2011), existem características positivas no ambiente que permeiam essas instituições. Independente de ser gratuita ou particular é possível encontrar uma boa qualidade de atendimento, embora as reações dos idosos nestas experiências estejam associadas às relações emocionais e sociais estabelecidas. Para estas autoras, é possível encontrar em muitas instituições asilares várias ações preventivas e educativas que objetivam à independência física e a autonomia do idoso, favorecendo, dessa forma, o desenvolvimento de sua capacidade e liberdade de livre escolha, proporcionando a ele novas oportunidades e vivências até mais significativas do que tinham antes. Para Ferreira e Simões (2011:88): “Algumas instituições propiciam aos idosos o desenvolvimento de atividades esportivas, culturais, lúdicas e de lazer, estimulando e respeitando a manutenção do seu papel social, melhorando os níveis de saúde e incentivando novas aprendizagens.” Estas instituições, afirmam as autoras, apresentam em seu quadro de recursos humanos o apoio de uma equipe multidisciplinar no atendimento dessa população, suprindo as necessidades do idoso e da família que por um motivo ou outro fica impossibilitada de destinar cuidados a esses idosos em seus lares. “Numa instituição de qualidade, é oferecido cuidado integral ao idoso e não apenas médico, pois, dessa forma, ele pode recuperar a saúde e a vontade de viver, criar relações e continuar se desenvolvendo durante essa fase de vida” (FERREIRA e SIMÕES, 2011:88). Porém, nem sempre as instituições possuem uma equipe multidisciplinar completa, mas esse fato não impede o oferecimento de cuidados com qualidade a essa população, pois, antes de qualquer intervenção profissional, é preciso tratar o idoso com dignidade e respeito. 2.4 Atividades Lúdicas O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus”, cujo significado é “jogo”; entretanto ao utilizarmos o termo “lúdico”, não nos restringimos a sua origem que se refere apenas ao brincar, ao movimento espontâneo, ao jogar. A evolução semântica da palavra “ludico” acompanhou as pesquisas da área de psicomotricidade, o que fez com que o lúdico se fosse reconhecido como traço essencial da psicofisiologia do comportamento humano, passando a ser considerada uma necessidade básica da personalidade, do corpo e da mente, caracterizado por ser espontâneo funcional e satisfatório. Em virtude de sua característica funcional, o lúdico visa produzir o máximo, com o mínimo dispêndio de energia, sem ser monotomo e com objetividade. E para que ocorra o sentimento de satisfação do individuo que realiza a atividade lúdica, é necessário que atividade propicie uma experiência de plenitude, onde o individuo se envolva por inteiro (MALUF, 2003). 181 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O lúdico foi bastante estudado por historiadores, filósofos, lingüistas, antropólogos, psicólogos e educadores, porém na sua maior parte com crianças e adolescentes, sendo ainda poucos os estudos com adultos jovens e idosos (PYLRO, ROSSETTI, 2005). Meirelles (1997:13) comenta que “o corpo lúdico é o velho que faz coisas não produtivas, mas carregadas do significado de uma vida vivida e que deseja se eternizar livremente com a força de quem começa a espiritualizar sua própria vivência”. Evangelista (2009), por sua vez, analisando a importância do lúdico na sociedade atual, defende que a brincadeira é um espelho dos costumes de determinada comunidade ou sociedade, descortinando os hábitos e as prioridades de determinado grupo. Ao se falar de brincadeira pensa-se primeiramente à criança, no entanto, o lúdico faz parte da vida do homem independente da sua idade, cor raça etc. Tem-se em Brougère apud Evangelista (2009) que: A brincadeira é, antes de tudo, uma confrontação com a cultura. Na brincadeira, a criança se relaciona com conteúdos culturais que ela reproduz e transforma, dos quais ela se apropria e lhes dá uma significação. A brincadeira é a entrada na cultura, numa cultura particular, tal como ela existe num dado momento, mas com todo peso histórico. A criança se apodera do universo que a rodeia para harmonizá-lo com sua própria dinâmica. Isso se faz num quadro específico, por meio de uma atividade conduzida pela iniciativa da criança, quer dizer, uma atividade que ela domina, e reproduz em função do interesse e do prazer que extrai dela. A apropriação do mundo exterior passa por transformações, por modificações, por adaptações, para se transformar numa brincadeira: é a liberdade de iniciativa e de desdobramento daquele que brinca, sem a qual não existe a verdadeira brincadeira (BROUGÈRE apud EVANGELISTA, 2009:30). Na opinião de Maluf (2003), brincar é: - comunicação e expressão, associando pensamento e ação; - um ato instintivo voluntário; - ajuda ao desenvolvimento físico, mental, emocional e social; - um meio de aprender a viver e não um mero passatempo. Para essa autora o brincar é importante porque incentiva a utilização de jogos e brincadeiras. No brincar há, segundo a autora, necessariamente, participação e engajamento – com ou sem brinquedo -, sendo uma forma de desenvolver a capacidade de manter-se ativo e participante. Em suas palavras: Quando brincamos exercitamos nossas potencialidades, provocamos o funcionamento do pensamento, adquirimos conhecimento sem estresse ou medo, desenvolvemos a sociabilidade, cultivamos a sensibilidade, nos desenvolvemos intelectualmente, socialmente e emocionalmente (MALUF, 2003:21). Segundo Lee e Ishi-Kuntz apud Deps (1993), bem-estar emocional ou psicológico refere-se ao estado da mente, incluindo sentimentos de felicidade, contentamento e satisfação com as condições da própria vida. Para eles, o bem-estar psicológico ou a qualidade de vida na velhice são também referenciados como “moral”, “estado de espírito” e “satisfação”. Deps (1993) discorre que a maior parte das teorias de ajustamento ao envelhecimento, incluindo a teoria da atividade, postula que o bem-estar emocional é, em parte, resultado da interação social e da força do vínculo social. Segundo a autora: “compartilhar de atividades grupais 182 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 com pessoas da própria geração favorece o bem-estar do idoso, porque facilita a emergência de significados comuns e a maior aproximação interpessoal e permite a ocorrência de catarse”. No entendimento de Leite; Salvador e Araújo (2009), o lúdico favorece a oportunidade do ser humano de despertar sua criatividade, sua imaginação e seu relacionamento com as pessoas a cercam, bem como recordar que o brincar é uma terapia imediata que ajuda na melhora de sua própria saúde e o relacionamento grupal dentro da instituição. Santin apud Leite; Salvador e Araújo (2009:03) consideram que: “Apenas a ludicidade pode resgatar a criatividade das pessoas, levantando sua autoestima e lhes dando motivo para viverem enfrentando suas desigualdades sociais, fazendo com que sejam capazes de superar as situações desumanas”. 2.5 Autoestima Todos os indivíduos possuem autoestima, seja ela positiva ou negativa. Para Branden (2001), a autoestima média conduz a pessoa a um comportamento de incerteza frente às situações que se apresentam, variando constantemente a forma de agir. A autoestima positiva é aquela em que o indivíduo acredita em si e na sua capacidade de pensar, tomar decisões e estar apto para enfrentar as situações que se coloquem à sua frente e, além de tudo, estar consciente das suas limitações, fragilidade, medos e de suas potencialidades. O indivíduo com autoestima positiva enfrenta os desafios, confiante em si mesmo, resolve os problemas que surgem e diante de dificuldades parte para tentar solucionar a questão (BRANDEN, 2001). O mesmo autor afirma que a autoestima positiva é aquela que existe a partir da valorização pessoal, de atitudes positivas em relação a viver e ser feliz, para que se possa desfrutar da vida e que todos os problemas de ordem psicológica estão relacionados a uma autoestima negativa. A autoestima negativa, segundo Branden (2001), indica que o indivíduo apresenta vivências afetivas negativas. A pessoa sente medo de assumir riscos, do fracasso, sente-se incapaz e incompetente para realizar algo, vive se criticando, achando defeitos em si mesmo, enfim, vive se reprovando. Quanto ao círculo de amizades a autoestima negativa leva a pessoa a se afastar do seu grupo social por sentir-se incapaz de manter um relacionamento profundo e significativo, levando-a ao isolamento. Mosquera e Stobäus apud Mourão e Silva (2010) percebem a autoestima como sendo o conjunto de atitudes que cada indivíduo tem de si mesmo, uma autopercepção avaliativa, é dinâmica, visto que apresenta altos e baixos, manifestando-se nos acontecimentos sociais, emocionais e psíquico-fisiológicos. De acordo com Santos apud Fernandes e Oliveira (2012:04-05), “os idosos possuem um grande potencial a ser desenvolvido, seja pela falta de experiências pregressas que não foram ofertadas, seja pela possível timidez a ser combatida.” A participação do idoso em atividades educativas beneficia o desenvolvimento desse potencial e auxilia no resgate da sua autoestima, pois, quando do oferecimento de atividades lúdicas, ao mesmo tempo em que desenvolve um sentimento de utilidade e de ocupação, contribuise para que o idoso torne-se mais ativo e com mais vontade de viver. Não se pode negar que as atividades lúdicas, além de seu caráter prazeroso, também contribuem para o fortalecimento emocional e resgatam possíveis dificuldades intelectuais dos idosos, promovendo, desse modo, um envelhecimento mais sadio, observam Fernandes e Oliveira (2012). Nesse sentido: 183 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 As atividades lúdicas fazem com que os idosos possam aprender ou dar novos significados aos seus conhecimentos de uma forma alegre e prazerosa. Desse modo, essas atividades oportunizam prazer, enquanto incorporam novas informações e saber, transformando assim a realidade da terceira idade. Por meio de dinâmicas de caráter lúdico, é possível proporcionar momentos inovadores ao aluno idoso, criando um novo sentido, qualidade e interesse pela vida (FERNANDES & OLIVEIRA, 2012:09). 3. METODOLOGIA O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva com corte transversal comparativa, visto que tem como objetivo descrever as características de uma determinada população e estabelecer a relação entre a variável apresentada. 3.1 Amostra A amostra do presente estudo foi composta de doze idosos, com idade média de sessenta e sete anos e meio, sendo seis mulheres e seis homens, todos institucionalizados no Asilo de Inválidos Padre Euclides Carneiro – Recanto da Esperança -, localizado no município de São José do Rio Pardo- SP. 3.2 Delineamento Experimental Os idosos foram subdivididos em dois grupos, com seis indivíduos cada: Grupo C: Este grupo refere-se ao grupo controle, estes não realizaram o programa de atividades lúdicas proposto na pesquisa, sendo todos sedentários, este grupo foi composto por três homens e três mulheres. Grupo AL: Este grupo realizou durante três anos um programa de atividades lúdicas, cujas características serão descritas a seguir, sendo composto de três homens e três mulheres. 3.3 Atividades Lúdicas As intervenções tinham duração de uma hora e eram realizadas uma vez por semana, onde os idosos do grupo AL realizaram as seguintes atividades lúdicas: - Jogos (no sentido estrito): Boliche com garrafa pet, brincadeiras com bexigas, brincadeiras com bola, brincadeiras com avião de papel, jogos de tabuleiro, jogos de carteado, jogos cognitivos, jogos de adivinhações, jogos de perguntas e respostas, etc; - Artes: Origami, pintura e desenho, etc; - Músicas: Brincadeiras de roda, dança adaptada, etc; 3.4 Coleta de dados A autoestima dos idosos foi avaliada pelo questionário proposto por Rosenberg (1965), adaptado para a língua portuguesa por Ferreira (2001), o mesmo pode ser encontrado no ANEXO 1. O questionário referido no parágrafo anterior é composto por dez questões objetivas, que avaliam sentimentos e atitudes positivas e negativas relacionados ao próprio indivíduo. Todas as questões têm como opção de resposta: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente, onde cada item de resposta varia de um a quatro pontos. Depois de respondidas as questões, somaram-se os pontos das questões e a autoestima foi classificada de acordo com a escala proposta por Rosemberg (1965), onde: - Alta autoestima (satisfatória) – maior que 30 pontos; - Média autoestima - entre 20 e 30 pontos; - Baixa autoestima (insatisfatória) - menor que 20 pontos. 3.5 Análise estatística 184 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Os resultados encontrados foram previamente normalizados por procedimento estatístico descritivo, sendo determinada a média, mediana e desvio padrão. Para analisar a presença ou não de diferença estatística entre os indivíduos pertencentes ao grupo C e ao grupo AL, utilizou-se o teste t de student não pareado; sendo adotado um intervalo de significância de p<0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores obtidos através da escala de autoestima proposta por Rosenberg (1965) indicaram que todos os idosos entrevistados apresentam autoestima média (entre 20 e 30 pontos), independente do grupo e do sexo ao qual pertencem. Os indivíduos do Grupo C apresentaram uma pontuação média de 24,4 (vinte e quatro vírgula quatro) pontos, sendo o individuo de maior e menor pontuação, 29 (vinte e nove) e 20 (vinte) pontos respectivamente. No grupo Al, a pontuação média foi de 28,2 (vinte e oito vírgula dois) pontos, sendo a menor pontuação 26 (vinte e seis) pontos e a menor 30 (trinta) pontos. Pontos Autoestima Gráfico 1 – Pontuação da autoestima do Grupo C e do Grupo AL Apesar de todos os idosos estarem classificados no padrão de autoestima média, foi possível observar que os idosos praticantes de atividades lúdicas apresentavam pontuação superior a dos indivíduos não praticantes, sendo a diferença, quando comparada à média dos dois grupos, de 3,8 (três vírgula oito) pontos, estando os indivíduos pertencentes ao grupo AL mais próximo do padrão “alta autoestima” do que do padrão “baixa autoestima”; situação inversa a dos indivíduos do grupo C, que se mostraram mais próximos do padrão “baixa autoestima” do que do padrão “alta 185 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 autoestima”. Vale ressaltar que os indivíduos pertencentes ao grupo C mostraram uma variação superior em comparação aos indivíduos do grupo AL. Quando submetidos a análise estatística, os dados coletados indicam que apesar dos grupos estarem dentro do mesmo padrão de autoestima, ou seja, autoestima média, existe uma diferença considerável na pontuação dos mesmos, sendo a mesma estatisticamente significativa, p=0,048. Ao compararmos os escores encontrados neste trabalho, com alguns trabalhos que utilizaram o mesmo instrumento, foi possível observar que autoestima dos indivíduos avaliados nesta pesquisa se mostra abaixo da autoestima encontrada por Schimitt e Allik (2005) que avaliaram a autoestima de idosos em 53 países, utilizando o mesmo instrumento deste estudo. Em trabalho também realizado no Brasil com indivíduos praticantes de exercícios físicos e não praticantes, Meurer et. al. (2011) também encontrou valores mais elevados nos escores de autoestima, inclusive no grupo não praticante. Dados similares aos de Meurer et. al. (2011) também foram encontrados em idosos assistidos por um programa multidisciplinar do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HCFMUSP), onde os idosos apresentaram elevada autoestima (CHAIM ET. AL., 2009). Quando avaliado o efeito do exercício físico na melhora da autoestima, Silva et. al. (2012) verificaram que um programa interdisciplinar, contendo atividade física em caráter lúdico foi capaz de aumentar a autoestima de idosos. Silva et. al. (2011) verificou que o aumento na autoestima dos idosos com a pratica de exercícios físicos foi mais significativa quando a família do idoso esteve envolvida. Nos estudos descritos anteriormente, os idosos avaliados não se encontravam asilados. Em trabalho avaliando a autoestima de idosos asilados, Benedetti et. al. (2003) verificou que o exercício pode ser uma ferramenta eficaz na melhora da autoestima e da imagem corporal de idosos asilados, porém ressalta a dificuldade de afirmar que o exercício físico é capaz de influenciar positivamente na autoestima, devido ao elevado número de fatores que podem ser influenciadores na autoestima dos idosos. CONCLUSÃO Os dados coletados e analisados neste trabalho permitem que se conclua que a atividade lúdica pode influenciar positivamente na autoestima de idosos asilados. Porém, é importante saber que a atividade lúdica por si só não melhora a autoestima dos idosos, já que a mesma sofre influencia multifatorial. Na população estudada em comparação a população de outros estudos possui uma autoestima mais baixa, cabe ressaltar o fato de os mesmos estarem institucionalizados, tendo pouco contato familiar, que de acordo com outros estudos é fator primordial no nível de autoestima. Portanto, é possível afirmar que a atividade lúdica promove uma série de benefícios a saúde física e psíquica do idoso, entretanto este efeito é potencializado quando outros fatores são disponibilizados aos idosos institucionalizados. Estudos com indivíduos institucionalizados ainda são escassos se comparados ao número de estudos com indivíduos não institucionalizados, o que torna necessário um maior número de trabalhos a fim de verificar o nível de autoestima dos idosos institucionalizados e se as atividades lúdicas são capazes de promover os mesmos benefícios verificados nesta população, em comparação as outras populações. 186 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, S. M. R. L. Qualidade de vida do idoso: a assistência domiciliar faz a diferença? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. ANDREOLI, T. E. Cecil.Medicina Interna Básica. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. BENEDETTI, T. B.; PETROSKI, E. L.; GONÇALVES, L. T. 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ANEXOS ANEXO 1 QUESTIONÁRIO APLICADO Os dados coletados serão utilizados apenas para fins desta pesquisa e preservar-se a identidade dos sujeitos pesquisados. Ao responder às questões faça de uma forma sincera e, por favor, não deixe qualquer questão por responder, pois disso dependerá o rigor científico deste trabalho. 1. DADOS PESSOAIS Data de Nascimento:___/____/______ Data de Hoje:___/____/____ Sexo:___________________________ Residência permanente:______________________________________ Estado Civil:________________________ A quanto tempo está no asilo____________ ESCALA DE AUTO – ESTIMA (Rosenberg, 1965) ESCALA DE AUTO – ESTIMA (Rosenberg, 1965) Adaptação efetuada por José Pedro Leitão Ferreira (2001), Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra, a partir da Rosenberg Self-Esteem Scale elaborada por Morris Rosenberg (1965). Para cada item faça uma cruz sobre o retângulo que corresponde à concepção de valor que tem por si próprio (a): Lembre-se de escolher apenas uma das quatro opções para cada afirmação. 188 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Concordo Completamente 1. Sinto que sou uma pessoa de valor, pelo menos num plano de igualdade com os outros. 2. Sinto que tenho um bom número de qualidades. 3. Em termos gerais estou inclinado (a) a sentir que sou um (a) falhado (a). 4. Estou apto (a) para fazer coisas tão bem como a maioria das pessoas. 5. Sinto que não tenho muito de que me orgulhar. 6. Eu tomo uma atitude positiva perante mim mesmo (a). 7. No geral, estou satisfeito (a) comigo mesmo (a). 8. Gostava de ter mais respeito por mim mesmo (a). 9. Sinto-me por vezes inútil. 10. Por vezes penso que não sou nada bom (a). 189 Concordo Discordo Discordo completamente REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ANEXO 2 IMAGENS DE ATIVIDADES LÚDICAS REALIZADAS COM IDOSOS DO ASILO PADRE EUCLIDES CARNEIRO 190 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 191 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 192 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 193 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DA ÁGUA NO RENDIMENTO DE NADADORES DE 7 À 12 ANOS 1 COSTA,Rodolfo da Silva Amalfi Costa 2 MIGUEL, Henrique 1 2 Aluno do Bacharelado em Educação Física – Faculdade Euclides da Cunha Orientador – Professor Especialista da Faculdade Euclides da Cunha Resumo Muito se ouve dizer dos impactos da temperatura sobre o planeta, mas será que a temperatura age sobre o corpo humano? Será que essa reação pode afetar significativamente no rendimento de atletas, em especial na natação? A mesma temperatura que reage com o nosso planeta, interfere em nosso organismo, e no caso da natação, pode influenciar até mesmo na água da piscina. Mediante esses fatores, o objetivo desse estudo é averiguar a relação entre a temperatura da água e sua influência no rendimento de nadadores, tentando mostrar que a prática desse esporte em piscinas com temperaturas muito baixas pode influenciar negativamente em rendimentos de nadadores. Este estudo contou com a participação efetiva de 23 crianças de ambos os sexos, com idades de 7 à 12 anos e que praticam natação à pelo menos 1 ano. O teste aplicado foi de forma direta, onde cada criança teve de nadar 25 metros de estilo livre, em duas piscinas com temperaturas distintas, uma com temperatura de 27,7°C e outra com 22,7°C. Observamos que, a média de tempo em segundos, correlacionadas entre si, nos mostrou uma significativa diferença, ilustrando que a temperatura da água no universo da amostra interferiu de forma significativa no rendimento das crianças. Sabemos que não são apenas os fatores de temperatura os principais influenciadores do processo de rendimento, mas no âmbito da pesquisa, por ter sido aplicada de forma direta e sequenciada, a temperatura teve fundamental influência. Palavras chave: Natação, temperatura, rendimento. Introdução Este trabalho tem por objetivo mostrar a influência da temperatura da água no rendimento de nadadores, possíveis alterações fisiológicas e alterações na água, provenientes da mudança de temperatura. O número de praticantes de atividades físicas aquáticas vem tornando-se cada vez mais expressivo, incluindo tanto indivíduos saudáveis quanto pessoas com necessidades especiais. Embora os prazeres e benefícios do trabalho aquático tenham sido descobertos há vários séculos, somente nos últimos anos mostraram-se amplamente divulgados e popularizados. O exercício físico realizado em meio aquático produz respostas fisiológicas diferentes daquelas relatadas fora deste ambiente, devido ao efeito hidrostático no sistema cardiovascular e à intensificação da perda de calor na água (AVELLINI, et al. 1983); mesmo em situação de repouso, existem modificações cardiovasculares determinadas pela imersão na água (FARHI & LINHARSSON, 1997) Dentre os parâmetros circulatórios influenciados pela imersão aquática destaca-se a frequência cardíaca (FC), muito utilizada durante o exercício devido a sua simplicidade de medição e suas relações com o consumo de oxigênio e com a intensidade de trabalho (FOX et al., 1991). Sendo a FC utilizada para classificar a intensidade do esforço na elaboração de programas de 194 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 treinamento e diante das influências provocadas pelo meio líquido, a aplicação da FC adequada a um treinamento em terra nos programas de exercícios físicos aquáticos é questionável. Para Sheldahl (1985), as alterações na frequência cardíaca em ambiente aquático são causadas pela temperatura da água e/ou pela hipervolemia central (concentração da circulação sanguínea na parte central do corpo), e a frequência cardíaca para o treinamento na água não deve ser a mesma dos exercícios em terra. O comportamento da frequência cardíaca durante a imersão tem relação com a manutenção da temperatura corporal. Uma das principais respostas fisiológicas decorrentes da exposição ao frio é a vasoconstrição periférica, que desvia o sangue da superfície da pele para áreas centrais. Portanto, a diminuição da temperatura deve causar redução na frequência cardíaca (FOX et al., 1991). Um corpo imerso na água participa de um sistema dinâmico, havendo troca de energia calórica entre este corpo e a água até equilibrar o sistema. Um volume de água retira mais calor que um volume igual de ar e está particularidade faz com que o organismo remova mais calor quando em água fresca. Será que pode ter alguma relação da temperatura da água no rendimento, em decorrência de seu efeito na circulação? Além de alterações fisiológicas a temperatura pode mudar aspectos da água, ou da piscina, mudando o arrastro do nadador? O presente estudo busca então, resultados que possam ser discutidas em momentos posteriores pela ciência aplicada da educação física. 1. A história, origem e evolução da natação 1.1. História e evolução O nadar é a habilidade que permite ao ser humano deslocar-se num meio líquido, normalmente na água. Graças às forças propulsivas geradas pelos movimentos de membros superiores, inferiores e tronco, é possível vencer as resistências que se opõem ao avanço na água (SAAVEDRA, ESCALANTE, RODRÍGUEZ, 2003). Tudo indica que as origens da natação se confundem com a da humanidade, sendo praticado por necessidade ou por mero prazer. O homem entrou em contato com o elemento líquido, devido às frágeis embarcações, ou por estar correndo do fogo ou de animais selvagens, conseguindo se salvar lançando-se na água (CATTEAU e GAROFF, 1990). Lotufo (s/d) diz que desde a pré-história o homem se lançava na água em busca de alimento, ou como forma de defesa contra animais ferozes e outros perigos da vida selvagem. Os primeiros registros históricos que fazem referência à natação apareceram no Egito, no ano 5.000 a.C., nas pinturas da Rocha de GilfKebir (LEWILLIE, 1983 apud SAAVEDRA, ESCALANTE, RODRÍGUEZ,2003). A água exerce sobre o ser humano um importante conceito histórico, fácil de entender, pois segundo Sobrinho (1975), depois da época glacial, há milhões de anos, houve o recuo do manto de gelo que cobria grande parte da terra, que formou grandes rios e lagos. As antigas civilizações começaram a fazer da natação um meio de subsistência. Os detalhes dos muros de Wadi Sori, no deserto da Líbia, confirmam isso mostrando desenhos de nadadores da pré-história, embora essa referência (a mais antiga que se tem do uso da natação pelo homem), date apenas do ano de 9.000 A.C. Pode-se facilmente deduzir que, em quase todas as épocas, o homem primitivo deve ter feito 195 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 grande uso da natação, não só como meio de defesa contra seus inúmeros inimigos naturais, mas principalmente como um dos únicos recursos que permitiam, nessa época, a pesca (KRUEL, 1994). Conforme Sobrinho (1975), ao se formarem os primeiros agrupamentos organizados e permanentes, dos quais, mais tarde, resultaram as antigas civilizações, jamais decaiu a utilidade da natação, pois ela, se de um lado deixou de ser necessária como meio de defesa contra feras e outros animais, passou a ser necessária em várias outras atividades. E, principalmente nos dias atuais, como forma de promoção da saúde. Os gregos acreditavam que nadando, o indivíduo teria uma educação integral. Para Platão “o cidadão educado era aquele que sabia ler e nadar” (Lei 689 de Platão). Já na idade média aconteceu a decadência da natação, pois acreditavam que a água ajudava a disseminar epidemias (LOTUFO, s/d). Por volta do século XVI com o Renascimento, a prática da natação volta a ressurgir, e aparecem também os primeiros escritos referentes à natação, como o livro do alemão Nicholas Wymman (1538) titulado: "O nadador ou a arte de nadar, um diálogo festivo e divertido de ler". Este livro, escrito em latim, é considerado o primeiro documento integralmente dedicado à natação (SAAVEDRA, ESCALANTE, RODRÍGUEZ, 2003). Porém, é no século XIX, na Inglaterra, que a natação atinge seu maior apogeu. No ano 1828 se constrói em Londres a primeira piscina coberta, e no ano 1837 se leva a cabo a primeira competição organizada. No século XIX surgiu um estilo parecido com o crawl de nossos dias, mas apenas mais tarde, no início do século XX, aparece o crawl australiano, com as pernas estendidas e movimentação alternada dos braços (LOTUFO, s/d). Junto às primeiras competições, surge a necessidade de regrá-las. Com esse objetivo nasce na Inglaterra, no ano 1874, a primeira federação de clubes que leva por nome "Association Metropolitan Swimming Club", que redige o primeiro regulamento de natação, dando-se a possibilidade de estabelecer recorde do mundo (RODRÍGUEZ, 1997, apud LOTUFO, s/d). Também é durante este século, no ano 1875, que o ser humano cruza à nado pela primeira vez o Canal da Mancha, sendo Matthew Webb, quem estabelece um tempo de 21 h e 45 min. A partir do ano de 1989, passou-se a estudar atividades aquáticas alternativas à prática da natação. Após uma revisão histórica, encontra-se que não apenas a natação, mas a água, era amplamente citada como portadora de propriedades recreacionais e curativas. Conforme Pinheiro e Leão (1989), a água era amplamente utilizada pelos romanos, e no século V A.C. A medicina grega também menciona a importância da água como agente de cura. Muitos autores citam que a natação é a atividade física mais completa que existe, por trabalhar em harmonia, a flexibilidade, a potência, o ritmo e a coordenação. Praticada regularmente, desenvolve mecanismos fisiológicos, como a capacidade pulmonar, o sistema cardiovascular e permite o desenvolvimento da coordenação e equilíbrio (RAMALDES, 1987 apud LOPES e PEREIRA, 2004). Outras vantagens importantes dos efeitos terapêuticos de exercícios na água (tais como promover relaxamento, manter e/ou aumentar a amplitude de movimentação articular, fortalecer os músculos com aumento da força e resistência, além de melhorar funcionalmente a marcha, envolvendo a coordenação motora e o equilíbrio) podem ser proporcionados com maior facilidade. (WEISS et al, 1998, apud LOPES e PEREIRA, 2004). No âmbito das atividades desportivas, a natação, caracteriza-se, de acordo com diversos autores como a atividade física que mais benefícios proporcionam ao ser humano. Tal afirmação baseia-se nas propriedades físicas da água a qual possui densidade muito diferente do meio 196 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 terrestre, possibilitando ao indivíduo diversas formas de movimento, alguns dos quais seriam mais difíceis de serem realizados em terra, (OLIVEIRA LOPES e PEREIRA, 2004). A importância do contato da criança com o meio aquoso se justifica no sentido de que essa possa adquirir maior confiança e domínio em seus padrões de estabilidade e locomoção, ou seja, poderá criar novas sensações ao modificar seu equilíbrio, aumentando, dessa forma, seu campo de experiências motoras sob o efeito da ausência de gravidade. Conforme indicado por Evans, Cureton e Purvis, (1978 apud, KRUEL, 1994) os efeitos de boiar e da resistência da água tornam possível altos níveis de gasto de energia com relativamente pouco movimento e esforço das articulações dos membros inferiores. Em termos de pressão da articulação, quanto mais pesado o indivíduo, maior a força de impacto nas articulações do pé, tornozelo e pelve. Esta pressão aumenta significativamente da caminhada para a corrida ou dança aeróbica de alto impacto e pode causar vários tipos de lesões relacionadas ao esforço nestas articulações. E de acordo com Sheldahl (1985) esta diminuição de peso talvez permita um maior e mais rápido progresso em termos de intensidade, frequência ou duração dos exercícios em indivíduos obesos. Atualmente nota-se que a natação é amplamente utilizada nas mais diversas áreas. Profissionais da educação física, ortopedistas, fisioterapeutas, fisiatras e especialistas em medicina esportiva, estimulam a prática da natação para ajudar a recuperação de atletas lesionados ou pessoas com problemas no sistema locomotor, respiratório e circulatório. Por facilitar os movimentos, os exercícios de recuperação na água tornam-se menos penosos e compõem um primeiro passo na retomada do trabalho físico e muscular. A natação também vem sendo muito utilizada como forma de manutenção de um bom condicionamento físico (KRUEL, 1994). 1.2. Caracterização da natação A Natação, como tantos outros desportos, beneficiou-se com a evolução Técnico/Científica, e com a investigação no campo das diversas ciências. A natação desportiva é uma modalidade desportiva individual, apesar de existirem provas coletivas, e pode-se dividir em várias “categorias” dependendo da distância a percorrer e do estilo em que cada prova é nadada. Esta modalidade tem como objetivo principal nadar cada distância, em determinado estilo ou estilos, no menor tempo possível (ROSÁRIO, 2007). 1.2.1. Caracterização fisiológica da natação A Natação Pura Desportiva pode ser considerada uma modalidade de “Resistência” devido a vários fatores que a caracterizam como, as competições reconhecidas oficialmente, as formas de treino implementadas e as particularidades fisiológicas do nadador de alto rendimento (PEREIRA, 1994; ALVES, 2004). Ao analisarmos as competições reconhecidas oficialmente, identificamos que qualquer uma das provas solicita com maior ou menor grau os três sistemas de produção de energia (Aeróbio, Anaeróbio Láctico e Anaeróbio Alático), A sua utilização depende da duração de cada prova, uma vez que em termos de intensidade, parte-se do pressuposto que estas são sempre nadadas na máxima intensidade, porque o objetivo é percorrer o percurso definido no menor tempo possível, mas mesmo a prova mais curta supõe uma participação bioenergética aeróbia importante (ROSÁRIO, 2007) 197 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 TABELA 1: Participação dos sistemas aeróbio e anaeróbio em diferentes distâncias competitivas, no estilo livre, em nadadores masculinos (Troup, 1990, apud Rosário, 2007) Distância (m) % ANAERÓBIA % AERÓBIA 50 69 31 100 55 45 200 39 61 400 19 81 800 13 87 1500 9 91 TABELA 2: Distribuição aproximada da solicitação metabólica para as diferentes distâncias de competição em Natação Desportiva (Troup, 1990; Navarro, 1990; Maglischo, 1993 apud Rosário, 2007) Solicitação Metabólica Distância (m) % Anaeróbia % Anaeróbia % Aeróbia 50 10-20 Láctica 10-30 Alática 20-50 100 20-30 20-40 30-60 200 35-55 35-45 15-30 400 60-75 15-25 8-15 800 80-90 6-12 5-8 1500 88-94 5-10 1-3 2. O desenvolvimento motor na Infância proveniente da natação O movimento é precioso e está presente em todos os momentos da nossa vida, da inabilidade para a habilidade e, novamente, para a inabilidade na idade avançada, ainda que o significado de ficar em pé pela primeira vez e a dificuldade em levantar-se no final da vida seja diferente (SANTOS, DANTAS e OLIVEIRA 2004). Estudos como os de American Collegeof Sports Medicine (1988), Caspersen, Nixon e Durant (1998), Lazzoli, et al., (1998) comprovam que a atividade física é benéfica em muitos aspectos da vida diária de uma criança, como a competência sócio afetiva (ALMEIDA; VALENTINI; BERLEZE, 2009), benefícios para a composição corporal saudável (GLEIM e GLAICE, 2000), o crescimento das estruturas físicas (BASS; MYBURGH, 2000) e o aspecto motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005) (ROCHA et al. 2010). 198 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O desenvolvimento motor na infância caracteriza-se pela aquisição de um amplo espectro de habilidades motoras, que possibilita a criança um amplo domínio do seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas), locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.) e manipular objetos e instrumentos diversos (receber uma bola, arremessar uma pedra, chutar, escrever, etc.). Essas habilidades básicas são requeridas para a condução de rotinas diárias em casa e na escola, como também servem a propósitos lúdicos, tão característicos na infância. A cultura requer das crianças, já nos primeiros anos de vida e particularmente no início de seu processo de escolarização, o domínio de várias habilidades (SANTOS, DANTAS e OLIVEIRA 2004). 2.1. Habilidade motora: o que é isso? As habilidades motoras podem ser conceituadas de duas formas. Na primeira, as habilidades podem ser vistas como tarefas, como tiro-ao-alvo, sinuca, etc. Vista assim, as habilidades podem ser classificadas ao longo de um número de dimensões ou de acordo com características proeminentes. Na segunda, as habilidades também podem ser vistas em termos das características que distinguem o executante como sendo de alto nível ou de baixo nível (SCHMIDT & WRISBERG, 2001). Alcançar o domínio de habilidades motoras mais complexas exige tempo, daí a necessidade da vivência de todas as experiências motoras proporcionadas desde o nascimento do indivíduo. Todos os movimentos anteriores a essas habilidades motoras mais complexas servirão de base para as próximas etapas (RODRIGUES, 2003, apud SILVA, 2010). Habilidades Motoras Fundamentais são atividades motoras comuns com padrões motores observáveis. Muitas habilidades utilizadas em esportes são versões avançadas das Habilidades Motoras Fundamentais, visto que as crianças normalmente desenvolvem essas habilidades de maneira sequencial (SILVA, 2010). 2.2. O desenvolvimento Motor Crianças em idade escolar e pré-escolar crescem se desenvolvem e aprendem por meio de experiências motoras. Os movimentos, de uma maneira em geral, atuam com impacto sobre o crescimento e atuando de forma crucial no desenvolvimento holístico do indivíduo (SILVA, 2010). Os primeiros anos de desenvolvimento motriz de uma criança provem a base na qual as habilidades mais especializadas e complexas usadas em jogos recreativos ou esportivos, e onde mais forem requeridas estas habilidades específicas, estarão alicerçadas. Consequentemente, é importante que todas as crianças em idade escolar e pré-escolar tenham acesso a um programa de movimentos efetivo e bem planejado, garantindo que seu desenvolvimento motor seja facilitado nos anos posteriores (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Segundo o mesmo autor, a aquisição dessas habilidades fundamentais amadurecidas, está relacionada à idade, a natureza da tarefa, o genótipo e o fenótipo do indivíduo. Os movimentos fundamentais podem ser agrupados em três categorias: movimentos estabilizadores, movimentos manipulativos, movimentos locomotores ou a combinação desses três. Em sua obra, Gallahue e Ozmun (2005) citam a terceira fase do desenvolvimento motor, que ocorre dos dois anos até os seis anos de idade, como a fase dos movimentos fundamentais onde o desenvolvimento motor representa um período no qual as crianças estão ativamente envolvidas na exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos, sendo essa fase dividida em sua sequência de progressão ao longo dos três estágios: inicial, elementar e maduro. A quarta e última fase do desenvolvimento motor na infância abordada pelos autores, é a fase dos movimentos especializados que consiste na consequência de habilidades motoras fundamentais maduras, nas 199 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 quais o movimento torna-se ferramenta aplicada a inúmeras atividades motoras complexas da vida diária, da recreação e dos objetivos específicos dos jogos, por exemplo. Em condições gerais, o estágio de transição de habilidades motoras começa por volta dos sete e oito anos de idade. “O período da infância é marcado por aumentos estáveis da altura, do peso e da massa muscular”, os autores ainda completam dizendo que esse período pode ser dividido em inicial, 2 a 6 anos, e posterior, 6 a 10 anos. Durante a primeira infância, a criança acreditava poder resolver qualquer problema através da fantasia, porém ao passar para a segunda infância, com o desenrolar de seu período escolar, percebe que é necessário utilizar elementos concretos para resolver problemas reais. Gallahue e Osmun completam dizendo que os períodos de atenção, geralmente, são curtos, porém gradualmente se estendem, mas quando a atividade é interessante para eles podem passar várias horas praticando-a. Esse período da infância também é marcado pela curiosidade, boa imaginação e criatividade (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Já de acordo com Santos e Souza (2010), As crianças na fase pré-escolar tendem a desenvolver-se mais no aspecto motor, já que o convívio com a escola e os professores proporciona um estímulo maior para esse desenvolvimento. De acordo com Haywood e Getchell (2004, apud SANTOS e SOUZA, 2010) o desenvolvimento motor abrange uma ampla esfera de tópicos relacionados ao próprio físico e as capacidades de movimento. Também diz respeito a indivíduos de qualquer idade, do nascimento até a morte. A criança de dois a quatro anos possui um crescimento lento, porém seu desenvolvimento motor é constante e está relacionado à sua idade, já que o desenvolvimento motor é diferente para cada idade. Para Haywood e Getchell (2004 apud SANTOS & SOUZA, 2010) o desenvolvimento está relacionado à idade, ele pode ser mais rápido ou mais lento em diferentes períodos. O desenvolvimento motor é de extrema importância, pois o não desenvolvimento na fase pré-escolar acarreta sérios problemas à vida adulta do indivíduo. Os autores ressaltam ainda que, “os organismos vivos estão sempre em desenvolvimento, mas a quantidade de mudanças podem ser mais ou menos observáveis nos diversos períodos da vida” (SANTOS e SOUZA, 2010). Classificado como fundamental para os profissionais da área da saúde, principalmente da educação física, as mudanças do comportamento motor, as quais ocorrem de maneira contínua, sequencial e progressiva, vem sendo alvo de vários pesquisadores ao longo dos anos como, por exemplo, os estudos realizados pelo Laboratório de Comportamento Motor (LACOM) da Universidade de São Paulo que tem como grande preocupação a busca de problemas que sejam centrais à compreensão do comportamento motor humano (MANOEL, 2005 apud SANTOS et al. 2010). Entretanto, é preciso ressaltar que a adequação e estruturação de ambientes e tarefas motoras aos estágios de desenvolvimento é crucial para os profissionais de educação física, na medida em que eles necessitam de informações para o desenvolvimento do seu trabalho (OLIVEIRA & MANOEL, 2004, apud SANTOS et al. 2004), em particular, a partir da segunda metade da segunda infância, quando se evidencia o início de um trabalho sistemático com o objetivo de abordar a relação entre vários tipos de restrições que a criança é submetida na sua vida diária. As restrições da tarefa, do organismo e do ambiente, são exemplos que afetam o processo de desenvolvimento de padrões fundamentais de movimento e que se bem relacionadas, favorecem o surgimento de novas formas de execuções motoras das crianças. O termo desenvolvimento nos remete a uma reflexão sobre os muitos estudos já produzidos e as teorias empregadas para interpretar este fenômeno. 200 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Para Lorenz (1977) citado por MANOEL (1998), este termo desenvolvimento não representa simplesmente o fenômeno que observamos, mas desenvolvimento traz a noção de algo que já existe implicitamente e que vem a tornar-se explícito. No que consiste à explanação dos aspectos observáveis no desenvolvimento motor de uma criança, observa-se uma evolução do referencial teórico no qual o desenvolvimento motor passa a ser visto como o resultado da ação de múltiplas causas: internas (maturação biológica, cognitiva, afetiva e social) e externas (contextos físico e social). Ao mesmo tempo em que há razoável consenso acerca desse referencial teórico, isto também se estabelece como um grande desafio para a investigação dos processos envolvidos no desenvolvimento motor (SANTOS et al. 2004). Dentre esses desafios, poderíamos citar o número de variáveis envolvidas em causas externas e internas no processo. Isso implicaria numa dificuldade em simular ambientes físicos e sociais válidos para suportar a mudança desenvolvimentista, ainda mais, considerando que essas causas estariam presentes por um longo período. Portanto, Manoel e Basso (2004) ao discutirem sobre a falta de consenso acerca do que define uma ação e sobre a natureza das estruturas subjacentes às habilidades simples e complexas, relatam a importância da elaboração de definições operacionais no sentido de abrir novas perspectivas para simular um aspecto importante do processo de desenvolvimento motor. Além disso, a concepção do processo de combinação de habilidades motoras necessita ser mais bem elaborado, como também o uso do referencial teórico do processo adaptativo, na interpretação da aquisição de habilidades motoras no desenvolvimento motor como propõe Manoel (1989) e Oliveira (2004) e (SANTOS et al. 2004). 2.3. O desenvolvimento Motor na Natação O processo de desenvolvimento da habilidade motora aquática em humanos foi abordado primeiramente por Waston (1919) e posteriormente por McGraw (1939). Estes autores procuravam explicações para a gênese do comportamento motor aquático em bebês e crianças. Watson defendia que essa aquisição seria condicionada por processos ambientais, enquanto McGraw (1939) atribuía essa aquisição aos processos de maturação do organismo. Nos primeiros meses de vida, o bebê apresenta movimentos reflexos, sendo estes a via de acesso ao movimento voluntário. Entre os reflexos do bebê, encontrou-se um que muito chamou a atenção, o Reflexo da Natação, no qual o bebê, segundo McGraw (1939), quando colocado em posição ventral, em contato com a água, flexiona e estende braços e pernas e, principalmente, tem a capacidade de realizar apneia, não permitindo a entrada de água para os pulmões (PUGLIESE, 2011). Segundo Filho e Manuel (2002), a primeira caracterização da sequência de desenvolvimento aquático foi realizada por Myrtle Mc Graw, pelo final da década de 30. Mc Graw (1939) constatou que, ao nascerem, os bebês podem apresentar movimentos coordenados de braços e pernas, para se deslocar na água desde que eles sejam colocados na posição de decúbito ventral na água. A automaticidade com que esses movimentos eram efetuados levou Mc GRAW a denominá-los de ”reflexo de nadar”. A sequência de desenvolvimento da locomoção aquática foi dividida em três etapas: fase do reflexo de nadar (até os 4 meses de idade); fase dos movimentos desorganizados (do 4º aos 12 meses de idade); fase dos movimentos voluntários (dos 12 meses de idade em diante). Mc Graw (1939) procedeu à descrição do comportamento de locomoção aquática considerando três elementos: movimentação de braços e pernas, controle postural e controle respiratório. O reflexo de nadar consistia de flexões e extensões alternadas dos membros inferiores e superiores, coordenadas com a flexão e a extensão lateral do tronco. 201 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Esses movimentos apresentam um padrão rítmico que, no entanto, é perdido gradualmente por volta do 4º mês pós nascimento. Com relação ao controle postural, Mc Graw (1939) destacou que os bebês com até quatro meses de idade tinham comportamento semelhante ao de outros mamíferos quadrúpedes, mantendo um bom domínio da postura na locomoção, ainda que fossem incapazes de mudar de decúbito. Com relação ao período compreendido entre o quarto mês e o primeiro ano de vida, Mc Graw (1939) identificou uma perda no controle postural. A capacidade para permanecer na posição ventral só reapareceria por volta do segundo ano de vida. O terceiro componente observado por McGraw (1939) foi o controle respiratório. Nos primeiros meses de vida, ele é muito eficiente, pois os bebês podiam ficar períodos prolongados submersos sem ingerir água. Na fase dos movimentos desorganizados havia a perda do controle respiratório, aumentando a possibilidade de grande ingestão de água. O controle respiratório ressurgia como um comportamento voluntário na terceira fase de desenvolvimento aquático. A manutenção da posição ventral na água é um sinal crucial de desenvolvimento. O controle postural teria, segundo ela, um papel importante na produção de padrões coordenados de locomoção aquática. Pode-se deduzir que o controle postural é realmente relevante, haja vista que uma simples alteração na introdução do bebê na água poderia gerar padrões coordenados (no caso da postura em decúbito ventral) ou desordenados (postura em decúbito dorsal). Em síntese, o desenvolvimento do comportamento motor aquático poderia ser visto com um modelo que compreenderia sete níveis. (Figura 1). Os primeiros níveis corresponderiam à transição entre o reflexo de nadar e o controle postural voluntário. A seguir, os níveis de três a seis corresponderiam às mudanças graduais no padrão de locomoção aquática. Finalmente, o nível sete corresponderia a um período de utilização da habilidade de nadar para vários fins (ocupacionais, recreativos ou esportivos) de forma ampla e diversificada como, por exemplo, polo aquático, mergulho, nado sincronizado etc (MC GRAW, 1939). FIGURA 1: Modelo de desenvolvimento do comportamento motor aquático, adaptado do artigo Desenvolvimento do comportamento motor aquático: implicação para a pedagogia da natação (FILHO E MANOEL, 2002). 202 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Mc Graw, em seus estudos, teve como amostra dois gêmeos univitelinos, Johnny e Jimmy, onde que o primeiro (Johnny), recebeu treinamento aquático, enquanto que Jimmy ficou como método de controle. A instrução de natação para Johnny foi iniciada quando ele tinha 231 dias, ou aproximadamente 8 meses de idade, com a ajuda de um suporte de alças para prevenir sua completa submersão de modo que ele fosse capaz de conservar sua cabeça fora da água. Porém, o abaixamento do suporte com alças, de modo que pudesse ser feito um uso maior dos braços, revelou que Johnny preferiu nadar com seu rosto sob a água. Portanto, com idade de 290 dias em torno dos 9 ou 10 meses de idade, Johnny foi submergido sem o suporte artificial e quando ele tinha 17 meses foi capaz de nadar uma distância de 12 a 15 pés, que representava a distância dentro de um movimento respiratório (ECKERT, 1993). Os estudos de Mc Graw (1939), apontaram ainda que Johnny se tornou uma pessoa bem mais ativa que Jimmy, por praticar atividades aquáticas desde cedo, e mantendo sua rotina de treinamento ao longo de seu desenvolvimento. 3. Os efeitos da temperatura na água Atividades conduzidas nos meios terrestre e aquático apresentam especificidades distintas. Aspectos como volume do corpo imerso, posição corporal e temperatura da água, levam o organismo à condições diferenciadas daquelas observadas no meio terrestre, assim influenciando os indicadores de intensidade do esforço (GRAEF & KRUEL, 2006). No entanto, a imersão, a temperatura da água e as diferentes posições corporais adotadas podem afetar o comportamento desses indicadores de intensidade do esforço durante a execução dos exercícios, ou mesmo em sua recuperação (GRAEF & KRUEL, 2006). 3.1. O comportamento da frequência cardíaca em relação à temperatura da água. Dentre os parâmetros circulatórios influenciados pela imersão aquática, destaca-se a Frequência Cardíaca (FC). A simplicidade de medição da frequência cardíaca e suas relações com o consumo de oxigênio, com a carga de trabalho e com o treinamento, transformaram-na no índice circulatório mais usado durante o exercício (FOX et al., 1991). A FC é uma das variáveis mais utilizadas no controle da intensidade do esforço. Principalmente, devido à facilidade para realizar sua medida, o que a torna bastante prática, bem como a sua relação com o Volume de Oxigênio (VO²) em determinada faixa de esforço (GRAEF & KRUEL, 2006). Um corpo imerso na água participa de um sistema dinâmico, havendo troca de energia calórica entre este corpo e a água até equilibrar o sistema. A água retém 1.000 vezes mais calor que um volume igual de ar (RUOTI et al., 2000), e essa particularidade faz com que o organismo remova mais calor quando em água fresca (SHELDAHL, 1985). A perda de calor na água é considerada cerca de 25 vezes maior em comparação com o ar, segundo Kollias et al. (1974), ou em torno de 20 vezes, conforme Astrand e Rodahl (1987). Esta perda de calor pode acontecer por condução, através do movimento da energia térmica do corpo mais quente para a água mais fria, ou por convecção, por meio do movimento da água contra o corpo, mesmo se ambos estiverem na mesma temperatura (BATES & HANSON, 1998). O exercício físico realizado em meio aquático produz respostas fisiológicas diferentes daquelas relatadas fora deste ambiente, devido ao efeito hidrostático no sistema cardiovascular e à intensificação da perda de calor na água (GRAEF et al. 2005). A perda de calor na água é 203 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 considerada cerca de 25 vezes maior em comparação com o ar. Esta perda de calor durante o exercício na água é diferente da mesma situação em terra, visto que a evaporação, que é a forma principal de dissipação de calor em terra, não ocorre na água. Em contrapartida, a perda ou o ganho através da convecção e condução é muito maior no meio aquático que no meio terrestre (GRAEF et al. 2005). A condução é um mecanismo de transferência direta de calor. O calor é a energia cinética do movimento molecular e pode ser transferido de umas moléculas para outras, e é neste processo que consiste a condução. Exemplificando, as moléculas da pele estão em constante movimento vibratório e a energia cinética deste movimento pode ser transmitida ao ar, que, se for mais frio, aumenta a velocidade das proporções moleculares presentes no ar até que seja atingido um estado de equilíbrio. A pele e os tecidos subcutâneos têm uma função isolante natural, sendo que a camada adiposa conduz o calor com uma velocidade equivalente a 1/3 da condução dos outros tecidos (MAGALHÃES et al. 2005). Pelo que foi descrito anteriormente, percebe-se que a condução é um mecanismo autolimitado (existe apenas até ao momento em que as moléculas possuam uma energia cinética equivalente), contudo se o ar adjacente ao corpo for removido e substituído por um ar “novo”, o equilíbrio jamais será atingido – a transferência de calor pelo meio de correntes de ar é chamada de convecção. Quanto maior a velocidade das correntes de ar (maior renovação do ar adjacente ao corpo), maior a amplitude da transferência de calor. Este processo é semelhante na situação de o organismo estar submergido em água, com a diferença que a água possui uma maior capacidade de absorção e condução para o calor (perda de calor muito mais rápida) (MAGALHÃES et al. 2005). O vestuário minimiza as perdas de calor por condução e convecção ao permitir a criação de uma camada de ar, não renovada, junto à superfície corporal. Contudo, esta capacidade perde-se quando as roupas se tornam molhadas, devido à elevada condutibilidade da água que aumenta a taxa de transferência de calor através da roupa em 20 vezes ou mais (MAGALHÃES et al. 2005). Pesquisas relativas ao comportamento da FC em situação de imersão aquática já encontraram tanto taquicardia, quanto nenhuma alteração na FC e, contudo, a maior parte dos estudos aponta para bradicardia. Porém a tendência mais forte seja aceitar o aumento da bradicardia causado pela diminuição da temperatura da água (GRAEF et al. 2005). No meio aquático, os mecanismos reguladores da temperatura corporal atuam da mesma forma que em outro ambiente, ressalvando-se que há acentuação nas respostas fisiológicas devido à perda de calor de modo mais intenso (BATES & HANSON, 1998). Arborelius et al (1972), analisaram as respostas hemodinâmicas de homens em imersão na agua até a profundidade de pescoço, em temperatura de 35ºC, considerada como termo neutra para repouso. Não foram observadas mudanças significativas na FC de repouso durante 30 minutos de imersão, embora tenha ocorrido tendência ao decréscimo quando comparado com o ambiente terrestre. Da mesma forma, Christie et al (1990), avaliaram a FC de homens imersos com a cabeça para fora da água, em temperaturas de 34ºC a 34,5ºC, comparada com o meio terrestre. Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas nessa variável entre os meios aquático e terrestre. Ao contrário dos estudos anteriores, Watenpaugh et al (2000), encontraram diminuição significativa na FC durante a imersão na água tanto para mulheres (21%) como para homens (16%) ao comparar o meio terrestre com a imersão na água na profundidade do pescoço, em temperatura de 34,6°C (similar a dos estudos supracitados). Já Nakanishi et al (1999), também encontraram redução significativa de 4,7bpm na FC de repouso em imersão na água. Todos os indivíduos eram do sexo masculino e permaneceram com a cabeça fora da água e o corpo em flutuação pelo uso de um cinturão flutuador comparado com a posição sentada em ambiente terrestre. Cabe salientar que a 204 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 temperatura da água utilizada nesse estudo foi de 32,5ºC, abaixo da temperatura considerada como “neutra” para repouso, que foi utilizada nos estudos de Arborelius et al. (1972), Christie et al (1990) e Watenpaugh et al (2000). As temperaturas de água utilizadas nos estudos supracitados variaram de 32,5ºC a 35ºC e os resultados dessas pesquisas diferiram entre si. Outros estudos foram realizados, analisando e comparando as respostas hemodinâmicas em diferentes temperaturas de água. Craig e Dvorak (1966), observaram que a imersão na profundidade do queixo, em temperaturas de agua de 36ºC e 37ºC, conduz a aumento significativo na FC de repouso, quando comparado com o meio terrestre. Em contrapartida, temperaturas iguais ou menores que 35ºC no ambiente aquático resultaram em respostas de FC significativamente menores que no ambiente terrestre. Corroborando com o estudo anterior, Rennie et al (1971), que estudaram a imersão de indivíduos em repouso, durante o período de uma hora, na profundidade do queixo, verificaram que em temperaturas menores que 34ºC, a FC reduziu-se 25% abaixo dos valores do ambiente terrestre. Já na temperatura de 36ºC, os autores não observaram diferenças significativas entre os meios. Park et al (1999), compararam os parâmetros cardiovasculares em homens em ambiente terrestre e em imersão na água em temperaturas de 34,5ºC e 30ºC, na profundidade de pescoço. Analisando-se a FC nas diferentes situações experimentais, foi observada redução significativa de 15% na situação de imersão em 30ºC comparada com as outras situações. Graef et al (2000), estudaram o comportamento da FC de repouso em indivíduos imersos em três diferentes condições de temperatura de água (33ºC, 30ºC e 27ºC), na profundidade entre apêndice xifoide e ombros. De acordo com seus resultados, foi observada redução na FC em imersão aquática comparada com o meio terrestre em todas as temperaturas. Entretanto, diferenças estatisticamente significativas foram detectadas somente entre as médias de redução da FC nas temperaturas de 33ºC (17,85 p/ 10,67bpm) e 27ºC (33,75 p/ 11,27bpm), demonstrando assim diminuição mais acentuada da FC com a redução da temperatura da água. Além das temperaturas de água anteriormente testadas. De forma geral, a partir dos resultados apresentados nos estudos anteriores que analisaram as respostas da FC em imersão em distintas temperaturas, podemos concluir que temperaturas de água maiores ou iguais a 36ºC provocam aumento ou nenhuma alteração no comportamento da FC comparado com o meio terrestre. Já temperaturas menores que 34ºC resultam em redução da FC, excetuando-se temperaturas muito baixas, como, por exemplo, a temperatura de 14ºC utilizada na pesquisa de Sramek et al.(2000). 3.2 A temperatura e a densidade da água. O estudo da biomecânica externa da natação tem como propósito fundamental a análise das relações que se estabelecem entre o corpo do nadador e a água para obter movimento. As forças que estão por trás desse movimento são altamente complexas e, para compreendê-las, é preciso conhecer não só a movimentação do nadador, como também a da água e a interação entre ambas (COSTA, 2009) Segundo Marinho et al. (2007), um fluido é uma substância que pode entrar em escoamento quando sujeito a forças externas, observando-se uma mudança contínua das posições relativas das partículas que o constituem. O termo fluído designa indiferenciada-mente os gases e os líquidos, pois a fluidez observa-se quer no estado líquido, quer no estado gasoso. A compressibilidade é a característica que mede quanto o fluido pode ser comprimido. A menos que contenha bolhas de ar, a água é incompressível, pois as variações da densidade são significantes como acontece com a maioria dos fluidos na natação (Bixler, 2008). O mesmo autor salienta o fato de o fluxo em torno do nadador poder tornar-se compressível, devido às alterações da densidade local causada pela introdução de bolhas de ar, que podem ser provocadas pelos 205 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 movimentos de membros superiores (MS) e membros inferiores (MI) de um nadador. Esse fenômeno muda a densidade média da água na área em que ocorre. Quando os MS e os MI já percorreram uma distância suficiente a ponto de deixar as bolhas de ar para trás, o fluxo torna-se novamente incompressível. A densidade de uma substância mede o grau de compacidade desta substância. É definida pela razão entre a massa da substância e o seu volume. Os sólidos são, geralmente, mais compactos que os líquidos e os gases. Com o aumento da temperatura da substância, a sua densidade decresce, em geral. De fato, a água é a única substância que apresenta uma densidade maior quando se encontra no seu estado líquido. (GOMES & CLÁVICO, 2005) Com baixas temperaturas, a água, na fase líquida, apresenta uma densidade mais alta do que em temperaturas mais elevadas. Sendo a força de arrasto diretamente proporcional à densidade da água, como a elevação da temperatura reduz a densidade da água, ela reduzirá também o arrasto. À medida que a temperatura aumenta, a viscosidade e o arrasto total diminuem. Por viscosidade de um fluido entende-se como sendo a resistência que o fluido apresenta ao escoar. (COSTA, 2009) Os dados da tabela 3, evidenciam que a densidade máxima da água ocorre a 3,98ºC. TABELA 3: Relação da temperatura da água e densidade Temperatura (ºC) 0 0 3,98 10,0 25,0 100,0 Estado Físico Sólido Líquido Líquido Líquido Líquido Líquido Densidade (g/cm3) 0,9170 0,9998 1,0000 0,9997 0,9977 0,9584 4. Procedimentos metodológicos Neste capítulo serão descritos os procedimentos metodológicos empregados. O objetivo dessa pesquisa, foi de analisar se a temperatura da água tem seu papel influenciador e significativo no rendimento de nadadores de 7 à 12 anos de idade. Com o intuito de poder colaborar para uma melhor aplicação de resultados em competições da modalidade e explicação de possíveis quedas no rendimento final. Acredita-se que a temperatura pode influenciar em vários fatores físicos da água e fisiológicos do nadador que acarretam em suas possíveis quedas no rendimento. Para uma melhor compreensão e esclarecimento, a metodologia adotada nesta pesquisa é apresentada em subitens a seguir. 4.1. Universo e amostra O Universo de coleta de dados foi feito em parceria com a Associação Esportiva Mocoquense, em duas piscinas, uma de 25 metros e outra de 50 metros, onde que uma se encontra aquecida (25 metros) e outra não (50 metros). A amostra foi composta de 23 crianças de 7 à 12 anos, sendo 10 do sexo masculino e 13 do sexo feminino. 4.2. Materiais e métodos 4.2.1 Procedimentos Preliminares 206 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Foram analisados num primeiro momento artigos e outros materiais disponíveis na literatura internacional e que abordam o tema temperatura e rendimento, imersão, história da modalidade, entre outros, que tinham empregabilidade direta no esporte. Em nosso caso, na modalidade de natação. Num segundo momento, a busca se concentra nos trabalhos científicos que abordam o rendimento desportivo influenciado pela temperatura, além de artigos específicos desse problema na natação. 4.2.2. Procedimentos para coleta dos dados Para que se possa coletar os dados da pesquisa, os colaboradores tiveram o termo de consentimento livre esclarecido (anexo 1) assinado pelos seus responsáveis e entregues no dia da aplicação dos testes devido a todos os indivíduos serem menores de idade. O teste foi aplicado com três tentativas, onde foi utilizado o melhor resultado das três, em um dia quente, à 32,2ºC, com sol e à tarde, onde as crianças foram submetidas à um deslocamento em intensidade máxima numa distância de 25 metros na piscina aquecida (27,7°C). Logo após, ficarem imersas durante 10 minutos, assim como foi aplicado na pesquisa de Graeff et al. (2005), onde o melhor tempo, das três tentativas, foi utilizado. Após 15 minutos de descanso, sendo 10 minutos imersos na água fria (22,7°C), realizaria novamente o teste, na piscina sem aquecimento, onde o objetivo era apresentar um resultado melhor que o anterior. Todas as saídas foram realizadas de dentro da piscina, sem o uso de balizas ou blocos de partida. 4.2.3. Materiais Foi utilizado um cronômetro da marca SPEEDO®, para a tomada de tempo, e um termômetro digital da marca WESTERN®, para a averiguação e controle da temperatura. Todos os indivíduos da amostra estavam utilizando touca de silicone, óculos para natação e sunga ou maiô. Nenhum indivíduo estava portando materiais auxiliadores, como pé de pato ou nadadeiras, além de snorkel, pranchas ou flutuadores. 4.2.4. Procedimentos estatísticos Os dados foram submetidos à análise estatística pelo teste T-Student, para amostras pareadas, ao nível de 1% de probabilidade 4.3. Riscos e dificuldades esperados A pesquisa em questão não acentua riscos. Toda a pesquisa será realizada com base na literatura nacional e internacional, relacionada à modalidade natação. Por se tratar de uma pesquisa com poucos relatos efetivos, pode-se ressaltar que a escassez da bibliografia inerente ao conteúdo deste trabalho, pudesse ser um empecilho durante a elaboração do trabalho, porém este fator é a lacuna deixada para a efetiva colaboração desta e outras futuras pesquisa. 5. Discussão e resultados A natação por ser um esporte de âmbito abrangente e de ter um público ativo muito grande, se mostra nos dias de hoje um dos esportes que vem crescendo em suas apostas para uma melhora de rendimento nas próxima olimpíadas que acontecerão no Brasil. A amostra foi composta de 23 crianças de 7 à 12 anos, sendo 10 do sexo masculino e 13 do sexo feminino, como pode ser observado no gráfico à seguir: 207 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 14 13 12 10 Quantidade 10 8 6 4 2 0 Masculino Feminino GRÁFICO 1. Quantidade de indivíduos separados por sexo. Segundo Gallahue e Ozmun (2005), a idade dos 6 aos 10 anos, se classifica como o período da infância mais marcado pelos aumentos da altura, do peso e da massa muscular, evidenciando que a prática de toda e qualquer atividade física tem seu papel influenciador nessa fase do desenvolvimento motor, classificada como fundamental durante a primeira infância. A idade dos indivíduos assim com a quantidade também sofreu alterações devido ao sexo, como pode ser observado nos gráfico à seguir: Meninos 4,5 4 4 Quantidade 3,5 3 3 2,5 2 2 1,5 1 1 0,5 0 8 anos 10 anos 11 anos 12 anos GRÁFICO 2. Relação de idade dos indivíduos do sexo masculino 208 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Meninas 7 6 6 Quantidade 5 4 3 3 2 1 1 7 anos 8 anos 1 1 11 anos 12 anos 1 0 9 anos 10 anos GRÁFICO 3. Relação de idade dos indivíduos do sexo feminino Como se esperava, os testes nos mostraram que a temperatura pode ter influenciado significativamente sobre o desempenho dos nadadores de 7 à 12 anos. Em todas as situações os valores de correlação (r), foram maiores ou iguais à 0,90, indicando uma forte correlação linear entre temperatura e rendimento dos nadadores. Como podemos ver no decorrer desta pesquisa, a temperatura tem grande papel nas modificações na frequência cardíaca de homens imersos em diferentes temperaturas, e até na mudança da densidade da água. Como podemos observar nas tabelas à seguir: TABELA 4. Resumo estatístico do tempo (em segundos) na comparação de diferentes temperaturas, com todos os indivíduos. Descrição valor aquecida (27,7 ) 28,17 a fria (22,7) 30,75 b r 0,91 t observado -6,06 ** t critíco 2,07 ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste t pareado Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente do nível de 1% de probabilidade TABELA 5. Resumo estatístico do tempo (em segundos) na comparação de diferentes temperaturas, com os indivíduos do sexo masculino. Descrição Valor aquecida (27,7 ) 26,30 a fria (22,7) 28,40 b 209 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 r 0,92 t observado -4,41** t critíco 2,26 ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste t pareado. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente do nível de 1% de probabilidade TABELA 6. Resumo estatístico do tempo (em segundos) na comparação de diferentes temperaturas, com os indivíduos do sexo feminino. Descrição Valor aquecida (27,7 ) 29,61 a fria (22,7) 32,55 b r 0,90 t observado -4,48 ** t critíco 2,18 ** significativo a 1% de probabilidade pelo teste t pareado. Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem significativamente do nível de 1% de probabilidade Ainda pudemos perceber que existe diferença significativa entre médias de tempo quanto submetido a diferentes temperaturas, ao nível de 1% de probabilidade. Sendo o melhor tempo na piscina com temperatura de 27,7°C, onde tal comportamento pode ser visualizado no gráfico 4. 31,00 30,75 30,50 tempo em segundos 30,00 29,50 29,00 28,50 28,17 28,00 27,50 27,00 26,50 aquecida (27,7 ) fria (22,7) GRÁFICO 4. Tempo em segundos na comparação de diferentes temperaturas em todo o universo da amostra. 210 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Na relação da amostra total, visualizadas as médias de tempo obtidas na piscina aquecida (27,7°C) e não aquecida (22,7°C), observou-se uma diferença de 9,15%, o que corresponde à 2,58 segundos. Numa visão geral se pudéssemos quantificar o tempo total por metro nadado, teríamos na piscina aquecida uma média de 1,12 segundos/metro. Já na piscina não aquecida, teríamos um deslocamento de 1,23 segundos/metro. Isso nos apresentaria um aumento de 0,11 segundos por metro nadado. O mesmo se repete se verificarmos por sexo, como podemos ver nos gráficos à seguir: 29,00 28,40 tempo em segundos 28,50 28,00 27,50 27,00 26,50 26,30 26,00 25,50 25,00 aquecida (27,7 ) fria (22,7) GRÁFICO 5. Tempo em segundos na comparação de diferentes temperaturas no sexo masculino. Quando observamos o grupo teste do sexo masculino através dos dados obtidos, podemos relatar uma diferença de tempo em 7,98% maior, quando comparados a uma piscina aquecida e a não aquecida. Em dados brutos, isso representa uma diferença de tempo de aproximadamente 2,10 segundos. Verificando estas números dentro de metragem realizada, temos um acréscimo de 0,084 segundos por metro, ou seja, um aumento de aproximadamente 8%. 211 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 33,00 32,55 32,50 tempo em segundos 32,00 31,50 31,00 30,50 30,00 29,61 29,50 29,00 28,50 28,00 aquecida (27,7 ) fria (22,7) GRÁFICO 6. Tempo em segundos na comparação de diferentes temperaturas no sexo feminino. Quando verificamos os dados do grupo teste feminino na relação piscina aquecida X piscina não aquecida, observamos um aumento no tempo de 2,94 segundos (9,92%). Isso remete a um aumento de 0,11 segundos por metro percorrido um piscina não aquecida. Comparando os grupos masculino e feminino, verifica-se uma diferença de 0,84 segundos quando relacionamos diretamente, em função do tempo observado em piscina aquecida. Isso representou no grupo feminino, uma diferença de tempo maior de 0,03 segundos por metro percorrido na piscina com temperatura de 27,7°C. A tabela 7 apresenta um resumo destes dados: Masculino Feminino Grupo geral amostral Tempo médio em 27,7°C Média de segundo por metro percorrido, à 27,7°C Tempo médio em 22,7°C Média de segundo por metro percorrido, à 22,7°C 26,30 s 29,61 s 28,17 s 1,05 s 1,18 s 1,23 s 28,40 s 32,55 s 30,75 s 1,13 s 1,30 s 1,12 s Aumento do tempo em comparação das piscinas aquecida e não aquecida 7,98% 9,92% 9,15% Tabela 7: Resumo descritivo dos resultados encontrados Além disso podemos perceber, mediante os gráficos supra citados, a relação da temperatura pode ser usada no rendimento dos nadadores por ter uma influência significativa nos valores de tempo em segundos na distância de 25 metros em relação à piscina aquecida, comparado com uma piscina não aquecida. Tal fato se repete tanto no sexo masculino como no feminino. Sabemos que a 212 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 temperatura não é a única força influenciadora na perda de rendimento dos nadadores, e sim, apenas mais um fator influenciador de forma negativa, pois dentre tais fatores temos a nutrição, o treinamento, os aspectos psicológicos, emocionais entre outros. Vernacchia et al. (2000), entrevistou quinze atletas que participaram de um ou mais Jogos olímpicos no período de 1984 a 1986, de modo a compreender quais os fatores fundamentais que os atletas consideram influenciadores no rendimento desportivo. De uma grande variedade de fatores observados e agrupados em diversas categorias, estes investigadores demonstram que as categorias mais citadas pelos atletas são: 1 – As habilidades mentais e atitudes, que incluem os sonhos, a persistência e perseverança, a ênfase no divertimento e prazer, a imagética e visualização, a paciência e a confidencia; 2 – O desenvolvimento e crescimento individual, que inclui a preparação física, a influência do treinador, as lesões como obstáculo e a participação numa grande variedade de atividades durante a infância; 3 – Fatores socioeconômicos, onde constam o apoio social e da família, a atitude da família, grau de escolaridade e apoio econômico; 4 – Fatores espirituais e religiosos, os atletas acreditam que a sua fé teve e continua a ter influência na sua carreira desportiva. No que diz respeito à preparação física dos atletas, Moreno (1987), relata a importância do treinamentos específicos à modalidade praticada. Este investigador afirma que “a competição desportiva de elite solicita cada vez mais um maior rendimento”. Este fato obriga a que se realize um tipo de treino cada vez mais direcionado. No âmbito das modalidades competitivas, isto manifesta-se nas várias áreas que compõem a totalidade do treino, e de uma forma especial na importância dada à preparação física. Através dos estudos realizados nos últimos anos acerca desta temática, podemos observar que existem variados fatores que podem influenciar o rendimento e a forma desportiva dos atletas. Esta evidência torna complicada a tarefa de tentar evitar todos os fatores que parecem ter um impacto e influência negativa, uma vez que alguns fatores externos são difíceis de controlar. No entanto, este conhecimento sobre todos os aspectos que podem influenciar a forma dos atletas é uma base essencial para que os próximos passos sejam possíveis na procura pela melhor preparação desportiva e consequentemente, a melhora da performance (SEABRA, 2007). 6. CONCLUSÃO Podemos concluir ao final deste estudo, que a temperatura da piscina tem seu papel influenciador no rendimento de nadadores, mesmo não sendo a única forma de perda de desempenho. A temperatura da água, muda suas propriedades físicas, bem como fatores fisiológicos do nadador, onde que tais mudanças em conjunto com o desconforto gerado, acarretam na perda do rendimento e performance de nadadores. Observamos isto com indivíduos de 7 à 12 anos, em distâncias de 25 metros. Acredita-se que quanto mais tempo o nadador passe em contato com tais modificações, maiores serão as alterações fisiológicas acarretadas no atleta, o que farão seus resultados declinem se comparados com situações favoráveis de temperatura. As modificações fisiológicas do nadador e físicas da água, não são modificadas no decorrer da atividade, apenas podem encontrar seu estado de homeostasia. Não foram encontrados riscos durante o estudo, mesmo que a hipertermia, ou a hipotermia, puderam ser variáveis distintas nas situações analisadas durante o estudo, esses fatores (que são considerados de risco), não foram encontrados. 213 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Mesmo em situações de água não aquecida, obtivemos resultados inalterados em alguns atletas do sexo masculino e feminino, o que nos leva a crer que tal controle pode ser treinado ou preparado fisiologicamente em algumas situações, pois esses atletas mantiveram seus tempos em ambas as situações. Com base no conteúdo e nas evidências aqui discutidas, é importante ressaltar que mais estudos se tornam necessários, a fim de uma maior abordagem científica sobre os efeitos da temperatura da água em atletas amadores ou de alto nível. 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ANEXO I Termo de consentimento livre esclarecido FACULDADE EUCLIDES DA CUNHA TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (TCLE) Nome da Pesquisa: INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DA ÁGUA NO RENDIMENTO DE NADADORS DE 7 À 12 ANOS Pesquisador: RODOLFO DA SILVA AMALFI COSTA Orientador: HENRIQUE MIQUEL Para a realização desta pesquisa, eu (participante da pesquisa e/ou responsável por um participante) serei submetido a realização dos seguintes procedimentos: A criança deverá entre três tentativas mostrar seu maior desempenho nos 25 metros do nado livre, em uma piscina aquecida, com 25 metros de comprimento, e logo em seguida, tentar apresentar o mesmo resultado em 25 metros de nado livre, em uma piscina não aquecida de 50 metros de comprimento, por três tentativas novamente. Riscos: Os riscos são mínimos referentes às praticas dos exercícios e realização dos testes, porem serão minimizados com cuidados e explicações detalhadas dos testes. Após ler e receber as explicações sobre a pesquisa, e ter meus direitos de: 1 -Receber resposta a qualquer pergunta e esclarecimento sobre os procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados à pesquisa; 2 - Retirar o consentimento a qualquer momento e deixar de permitir minha participação ou de qualquer indivíduo sob minha responsabilidade de estudo; 3 - Não ser identificado e ser mantido o caráter confidencial das informações relacionadas à privacidade. Declaro por meio deste, estar ciente do exposto e concordar com minha participação na pesquisa, assim como qualquer indivíduo sob minha responsabilidade. Nome do voluntario / Responsável: RG:_____________________________________CPF:____________________________ Assinatura: ______________________________ _______________, _____/_____/_____. Eu RODOLFO DA SILVA AMALFI COSTA, declaro por meio deste que forneci todas as informações referentes ao estudo ao participante e/ou responsável. RG: 47.946.401-7 CPF: 399. 615. 388 - 03 Assinatura do pesquisador:_____________ ______________/_____/_____ 217 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO ESCOLAR: fundamentos e perspectivas 1 FLORINDO, Reinaldo Modesto 2 PORFÍRIO, Ana Lúcia 3 PEIXOTO, Maria Tereza Moreira Theodoro Graduado em Educação Física – Licenciatura pela Faculdade Euclides da Cunha 2 Orientadora. Prof.ª Mestra em Educação da Faculdade Euclides da Cunha 3 Co-orientadora. Prof.ª Especialista da Faculdade Euclides da Cunha 1 RESUMO: Com o objetivo de discorrer sobre os fundamentos e perspectivas da Educação Física e inclusão escolar, este trabalho partiu de ampla revisão de literatura em materiais como livros, artigos e textos e, como forma de enriquecer o trabalho, foi realizada uma pesquisa de campo com aplicação de questionário junto a professores de Educação Física, por meio de entrevista estruturada, que são perguntas pré-elaboradas. Assim, seu conteúdo analisa pontos importantes sobre o tema, como: histórico e importância da Educação Física; principais aspectos da inclusão escolar; contribuições da Educação Física no processo de inclusão escolar. Foi possível verificar que a inclusão trata-se da mudança na compreensão do que sejam as diferenças entre as pessoas e de como podem ser encaradas sem medo e sem preconceitos. Nesse sentido, o papel da escola é viabilizar, através de uma prática pedagógica consistente, o ingresso de todos aqueles que buscam por uma possibilidade de aprendizagem, inclusive as pessoas com deficiências. Verificou-se que, nos dias atuais, a educação precisa rever suas ações e pensar o aluno como um todo, respeitando as suas necessidades e peculiaridades, construindo e criando condições para que seja possível atender às diversidades do ambiente escola. Apurou-se, também, que a Educação Física, concretizada através de atividades físicas, jogos e brincadeiras na infância, é essencial para o desenvolvimento da criança, pois as atividades físicas desenvolvem o conhecimento sobre cultura corporal e esse saber materializa-se na infância do aluno, devendo, assim, a Educação Física atuar com as mais diferentes estratégias e nos mais variados ambientes e alunado. Concluiu-se que os professores de Educação Física, com vistas ao pleno desenvolvimento e êxito do processo de inclusão escolar, devem elaborar atividades inclusivas, adequando atividades aos interesses e necessidades dos grupos minoritários, bem como adotar uma postura de orientação aberta, na qual todos possam participar e, juntos, desenvolver ou melhorar seus potenciais e habilidades, pois a educação inclusiva somente será concretizada quando todos tiverem preparados para receber essa clientela e também quando aqueles que se propuserem a trabalhá-lhos saibam como fazer. Palavras-chave: Educação Física; Inclusão; Prática Docente. ABSTRACT:Aiming to discuss the fundamentals and perspectives of physical education and school enrollment, this work came from extensive literature review on materials such as books, articles and papers, and as a way to enrich the work, we conducted a field survey application a questionnaire to the Physical Education teachers through structured interview questions that are pre-prepared. The contents analyzes important points on the subject, such as history and importance of Physical Education; major aspects of school inclusion; contributions of physical education in school 218 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 inclusion. It was possible to verify that it is the inclusion of the change in understanding what are the differences between people and how they can be faced without fear or prejudice. In this sense, the role of the school is to provide, through a consistent pedagogical practice, the entry of those who seek for a possibility of learning, including people with isabilities. It was found that, nowadays, education needs to review their actions and think the student as a whole, respecting their needs and peculiarities, building and creating conditions so that you can meet the diversity of the school environment. It was found, too, that physical education, achieved through physical activities, games and play in childhood is essential to the development of the child for physical activities develop knowledge about body culture and this knowledge is embodied in infancy student should thus Physical Education act with the most different strategies and in various environments and students. It was concluded that physical education teachers, with a view to the full development and success of the school inclusion, should develop inclusive activities, adapting activities to the interests and needs of minority groups, as well as adopting a stance of open orientation in which all to, and, together, develop or improve their skills and potential, for inclusive education will only be achieved when everyone has prepared to receive this clientele as well as those who intend to work it to them know how to do. Key-words: Physical Education; Inclusion; Teaching Practice. INTRODUÇÃO Segundo Andrade (2005), a escola, enquanto instituição social, não é um espaço neutro aos conflitos e disputas presentes na sociedade. A escola e a sala de aula abrigam sujeitos vindos de diferentes realidades, com características étnico-culturais diversas; saberes, interesses, valores diferentes; portadores de uma história muito particular. Em sua trajetória histórica pessoal, cada um dos atores que participam do espaço escolar (professores, alunos, gestores) vai construindo significados que se encontram em interação no processo educativo, o qual, por sua vez, processa novas simbologias mais amplas e mais complexas, a partir das convergências e divergências que aí se confrontam. Assim: A sala de aula é fundada na diversidade, e o papel do professor é propiciar que se produza conhecimento dentro desta complexa rede de relações sociais. Todo conhecimento aí gerado constitui uma aproximação parcial e provisória da ampla dimensão da vida humana, em toda sua complexidade (ANDRADE, 2005:211). Neste estudo, o problema de pesquisa que se apresenta é: Quais os fundamentos e perspectivas da Educação Física com vistas à inclusão escolar? Existem evidências de que a Educação Física pode contribuir, em muito, para o processo inclusivo no ambiente escolar. 219 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A escolha por discorrer sobre Educação Física e inclusão escolar justifica-se no entendimento de que, segundo Sassaki (1997), incluir é muito mais do que simplesmente colocar juntas crianças “deficientes” com crianças normais em uma sala de aula. Incluir significa trazer de volta ao ensino regular todos aqueles que foram “excluídos”, ou seja: o aluno pobre, os meninos de rua, os deficientes, os hiperativos, os multirrepetentes e os que apresentam aqueles inexplicáveis problemas de comportamento. O trabalho tem como principal objetivo confirmar a importância da Educação Física no processo de inclusão escolar do aluno com necessidades especiais, considerando que a Educação Física no ambiente escolar constitui-se um ótimo campo de adaptação ao favorecer a participação dos alunos em atividades físicas adequadas às suas possibilidades, contribuindo, desse modo, para sua valorização e inclusão. Para atingir esse propósito, os objetivos específicos, por sua vez, buscam: pesquisar sobre o histórico e importância da Educação Física; discorrer sobre os principais aspectos que envolvem a inclusão escolar; focalizar as contribuições da Educação Física no processo de inclusão escolar. Na elaboração desta pesquisa, o referencial metodológico utilizado constou de leituras e análises de documentos, textos, artigos, livros, sites específicos e revistas com informações consideradas relevantes para sua composição. 1 BREVE HISTÓRICO E IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA De acordo com relatos de Marinho (1980), os homens pré-históricos, pelas condições de vida a que os obrigava o ambiente físico, pelo perigo a que estavam expostos, pela necessidade de proteger-se cada vez melhor, pelas lutas de morte a que se condicionava a sua própria sobrevivência, possuíam excelentes qualidades físicas, que governavam com inteligência superior à dos outros animais. É assim que: Um dia vivido pelo homem primitivo nada mais é que uma intensa e longa lição de educação física. Seus movimentos são os mesmos que a ciência sistematizou e trouxe para os métodos modernos de educação física para constituírem o que eles possuem de mais característico e mais útil (MARINHO, 1980:29). Historicamente, segundo Oliveira (1983), consta que os chineses foram os primeiros a racionalizar o movimento humano, atribuindo-lhe, também, um notável conteúdo médico. Com um sistema de ginástica terapêutica. Eles foram hábeis caçadores, lutadores, nadadores, praticantes de esgrima, de hipismo e de um esporte que hoje chamaríamos de futebol (TSU-CHU). Porem a Índia é considerada como a nação que conseguiu atingir o maior grau de elevação espiritual de toda a humanidade. Destaca-se entre as práticas Indus a YOGA, a qual não trata só do corpo físico, mas se preocupa com o intelectual e o emocional, objetivando a identificação da essência divina e a purificação do corpo. Naquele período, Oliveira (op. cit.), alguns povos destacaram-se pela formação guerreira que era destinada aos seus cidadãos. Os egípcios deixaram o seu registro sobretudo nos murais dos seus templos e dos monumentos funerários, assim como de todo o restante de sua arte. A maioria das imagens retrata lutas, que formam um mural rico em detalhes, formando quadros como se fosse 220 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 um filme. Os egípcios foram levados a se exercitarem disciplinadamente para expulsar os invasores, o que gerou um treinamento rigoroso dos seus soldados. Na região localizada entre os rios Tigre e Eufrates (atual Iraque) estavam os sumérios, os caldeus ou babilônios e os assírios, que disputavam com os egípcios a primazia histórica de haverem alcançado o momento cultural denominado civilização. Cultores da força e da resistência física, desenvolveram a sua formação guerreira através de um adestramento no uso do arco e flecha, na prática da equitação, na luta, etc. Motivados por elementos espirituais, serviam também para avaliar o nível de assimilação do treinamento físico dos jovens, marcando profundamente a Educação Física oriental antiga. Segundo Oliveira (1983), muito provavelmente, a China seja a possuidora da mais antiga história do esporte e, sem dúvida, foi a que mais influenciou a Educação Física no Extremo Oriente. Em suas palavras: A civilização grega marca o início de um novo ciclo na História com o nascimento de um novo mundo civilizado, agora o ocidental. É o descobrimento do valor humano, da sua individualidade e o início autêntico da história da Educação Física. A filosofia pedagógica que determinou os caminhos a serem percorridos pela educação grega tem o grande mérito de não divorciar a Educação Física da intelectual e da espiritual. Postulava, dessa forma, o mais significativo de todos os princípios humanistas, considerando que o homem é somente humano enquanto completo (OLIVEIRA, 1983:22). No período da Idade Média a Educação Física recebeu uma atenção cuidadosa na preparação dos cavaleiros. A Cavalaria, conforme relatos de Oliveira (op. cit.), era uma instituição militar destinada a uma minoria, quase sempre aristocrática, objetivando o fiel cumprimento de proteção aos proprietários de terra. Os cavaleiros recebiam um treinamento onde o xadrez era a única prática intelectual, havendo muitos deles que não sabiam ler nem escrever. Eram muito hábeis na equitação, caça, esgrima, lança e arco e flecha. Os torneios e as justas representavam a culminância dos exercícios físicos dos cavaleiros medievais e serviam, nos tempos de paz, como preparação para a guerra. No Brasil, a Educação Física sofreu os efeitos de um processo de transplantação cultural que dificultaram a nossa evolução no campo dos exercícios físicos. Consta que as atividades físicas dos primeiros habitantes do Brasil eram semelhantes às da pré-história. Os indígenas eram muito hábeis e, na luta pela sobrevivência, praticavam diversas atividades físicas. O arco e flecha, natação, luta, caça, pesca, montaria, canoagem e corridas faziam parte do seu dia a dia. Porém, a sua condição de nomadismo impossibilitava o aparecimento de um espaço ocioso que permitisse a criação de hábitos esportivos (OLIVEIRA, 1983). Com a chegada dos jesuítas, no ano de 1549, ocorreu o início oficial da história da educação brasileira, sem que tenha havido, contudo, alguma iniciativa quanto à Educação Física. Com a vinda da Família Real Portuguesa, em 1808, tem início um processo de desenvolvimento cultural, com tendências elitizantes. O período imperial, conforme discorre Oliveira (1983), registra tentativas de organização do sistema educacional que nunca tidas anteriormente e, a partir de então, algumas reformas educacionais buscam minimizar o caos em que se encontrava a educação brasileira. Nessa fase, começa, realmente, a história da Educação Física no Brasil. Nesse sentido, os primeiros livros sobre a matéria chegaram, incluindo em seu conteúdo assuntos diversos da Educação Física atual: eugenia, puericultura, gravidez, etc. Entretanto, apesar dos esforços para a implantação da Educação 221 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Física nas escolas, o período imperial não proporcionou estímulos pedagógicos importantes para os exercícios físicos. Duas vertentes influenciaram a Educação Física na época: médica e militar. A área médica, por meio de teses focalizando a Educação Física, da Faculdade de Medicina. A área militar que, a partir de 1858, teve o exercício físico obrigatório nas Escolas Militares, contribuindo como forma de divulgação das atividades físicas. O remo era a atividade esportiva mais relevante na época, Oliveira (1983). Rui Barbosa foi um importante estadista, político, diplomata e jurista brasileiro. Nasceu em Salvador (Bahia) em 5 de novembro de 1849. Analisou profundamente a história da Educação Física e assim recomendava: - obrigatoriedade de Educação Física no jardim de infância e nas escolas primária e secundária, como matéria de estudos em horas distintas das do recreio e depois das aulas; - distinção entre os exercícios físicos para os alunos (ginástica sueca) e para as alunas (calistenia); - prática de exercícios físicos, pelo menos quatro vezes por semana, durante 30 minutos, sem caráter acrobático; - valorização do professor de Educação Física, dando-lhe paridade, em direitos e vencimentos, categoria e autoridade, aos demais professores; - contratação de professores de Educação Física, de competência reconhecida, na Suécia, Saxônia e Suíça; - instituição de um curso de emergência em cada escola normal para habilitar os professores atuais de primeiras letras ao ensino da ginástica. Após a Abolição e a Proclamação da República, ocorreram importantes momentos em relação a uma preocupação mais sistemática com a Educação Física. O futebol, importado da Inglaterra em 1894, começa a escalada que o levaria, na década de trinta, a suplantar definitivamente o remo. Também outros esportes são introduzidos, ainda no século XIX: a natação, o basquete, o tênis, entre outros. De acordo com Oliveira (op. cit. ), no ano de 1933 foi fundada a Escola de Educação Física do Exército, que permitia, também, a matrícula de professores civis. Já no final da década de 30, surge a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, integrada à Universidade do Brasil (atual UFRJ). A Educação Física, por ocasião da implantação do Estado Novo, passa a servir como instrumento ideológico. Até a década de 50, a Educação Física escolar permaneceu atrelada ao Método Francês. O Esporte para Todos, iniciado com a campanha “Mexa-se”, em 1975, atua como tentativa de democratização esportiva. 1.1 EDUCAÇÃO FÍSICA COMO CULTURA CORPORAL DE MOVIMENTO A Educação Física como cultura corporal de movimento, tem alguns objetos de ação e reflexão: os jogos e brincadeiras, os esportes, as danças, as ginásticas e as lutas. A Educação Física possui uma tradição e um saber-fazer ligados ao jogo, ao esporte, à luta, à dança e à ginástica, e tem em comum a representação corporal de diversos aspectos da cultura humana, sendo mais próxima de atividades lúdicas ou da objetividade (BRASIL, 1997). A Educação Física atual especializou-se no seu objeto de estudo – o movimento humano. 222 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Mattos & Neira (1999) ressaltam a importância do envolvimento das crianças com a atividade, com o viver o brinquedo, sentir as emoções de jogar, arriscar-se experimentar e conseguir. Em tal perspectiva, os autores defendem um trabalho com o corpo, abrangendo a vinculação do movimento com intenções, raciocínios e planos de ações elaborados; as atividades com significado, com o concreto, com o real, com o interesse daquele que é o mais importante no processo: o aluno. Dentro desse entendimento, conforme Mattos & Neira (op. cit.), o educador responsável por esse conteúdo, podendo ou não ser professor de Educação Física educaria o movimento do aluno ao tratar do desenho de letras, do uso dos talheres, da amarração dos cadarços. Mas, no trabalho corporal, educaria através do movimento ou educaria pelo movimento. Tani et al. apud Oliveira (2005) frisam que a Educação Física promove a aquisição de habilidades básicas que contribuem para o desenvolvimento motor da criança. Por sua vez, Rodrigues (1983), salienta que a Educação Física é a educação do homem por meio do movimento, pois este, em suas mais variadas apresentações, constitui um instrumento ou meio para educar, treinar e aperfeiçoar. Quintão et al. (2004) assinalam que a criança que habitualmente pratica atividade física apresenta: - aumento de habilidades para satisfação da demanda de atividades do dia a dia; - melhoria de habilidades motoras; - redução de lesões; - redução de condições para desenvolvimento de doenças crônicas futuras ligadas ao sedentarismo; - melhoria da autoestima; - melhoria do senso de responsabilidade e grupo; - melhoria da auto-confiança; - melhoria da adaptação social; - melhoria de expressão pessoal e liberdade; - maior desenvolvimento espaço-temporal. Analisando a prática da Educação Física pela criança, Freire (1994), afirma que o jogo da amarelinha, basicamente, exige da criança coordenação espacial. Segundo ele, a noção espacial que se forma a partir da relação da criança com o espaço está, entre outras, na base da formação de noções lógicas como a classificação e a seriação. Freire (op. cit.) relata que o fato de a criança saber orientar-se espacialmente no jogo da amarelinha, deslocando-se ora para um lado, ora para o outro, ora para a frente, significa um saberfazer, uma inteligência corporal, que é resultado das interações realizadas entre ela, sujeito, com seus recursos corporais, e os elementos do meio onde brinca. Para Freire (1994:127): A função desse saber-fazer corporal não é apenas servir de suporte para a formação do pensamento lógico; mais que isso, serve para garantir as adaptações no plano das ações práticas. Porém, aquilo que está na base das coordenações motoras é abstraído, podendo vir a transformar-se, no plano da mente, em pensamentos. Freire (op. cit.) esclarece que as variações das atividades motoras existem para que os esquemas motores e mentais sejam utilizados em situações variadas, visto que a repetição exaustiva de uma única situação não constitui estímulo para o desenvolvimento. 223 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A Educação Física, na opinião do referido autor, deve ser uma área de promoção humana, onde devem ser promovidas relações com o mundo de tal forma que se passe do instintivo ao cultural, da necessidade à liberdade, do fazer ao compreender, do sensível à consciência. Portanto, cabe ao professor de Educação Física promover atividades que permitam aos alunos extravasar seus sentimentos e emoções que se formam com a vida. 2 PRINCIPAIS ASPECTOS DA INCLUSÃO ESCOLAR Segundo Mrech (1998), a educação inclusiva teve início nos Estados Unidos, com a Lei Pública 94.142, de 1975. Aqui no Brasil, o atendimento especial às pessoas com deficiência começou, oficialmente, em 12 de outubro de 1854, quando D. Pedro II fundou o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro. Em 1942, quando já havia no país 40 escolas públicas regulares que prestavam algum tipo de atendimento a deficientes mentais e 14 que atendiam alunos com outras deficiências, o Instituto Benjamin Constant editou em braile a Revista Brasileira para Cegos, primeira do gênero no Brasil. Pouco a pouco, graças às Ong’s como a Sociedade Pestalozzi, a AACD (Associação de Assistência à Criança Defeituosa) e a APAE (Associação de Pais e Amigos do Excepcional), a questão da deficiência foi saindo do âmbito da saúde - afinal, deficiente não é doente - para o âmbito da educação (NOVA ESCOLA, 1999). Fato importante ocorreu no ano de 1990, quando o Brasil participou da Conferência Mundial Sobre Educação para Todos na cidade de Jomtiem, na Tailândia, momento em que foram lançadas as sementes da política de educação inclusiva. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, fundamenta-se nos conteúdos do Estatuto da Criança e do Adolescente e determina que: “É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1996). De acordo com Alves (2005), qualquer indivíduo pode ser incluído, pois todos podem e devem envolvê-lo, implicá-lo, juntando-o a qualquer outro ser para somar o seu crescimento a ambos. Para tanto, é preciso respeitar e querer desenvolver o indivíduo em todos os aspectos dentro do processo de aprendizagem. Segundo a autora: Deve haver a inclusão social, respeitando a criança com necessidades especiais, possibilitando-a da convivência com os indivíduos ditos normais. Através de trocas, dandolhes, assim, condições necessárias para a aprendizagem e o ajustamento sócia (ALVES, 2005:15). É preciso oferecer a essas crianças um ambiente saudável e mostrar, a todos, como eles devem contribuir para que não seja formada numa geração preconceituosa. Incluir, de acordo com Alves (2005), significa que se pode deixar pertencer, adaptando-os em todos os aspectos, mostrando-os o que fazer, para que e com quem utilizar o seu corpo fazendoo aprender através de atividades não só específicas, mas transformadas e adaptadas. Mantoan (1997), entendendo que a inclusão implica toda uma reforma na organização e funcionamento dos serviços destinados aos alunos especiais, afirma que a inclusão causa uma mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam 224 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 dificuldades na escola, mas apóia a todos - professores, alunos, pessoal administrativo - para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Segundo a autora, o impacto dessa concepção é considerável porque ela supõe a abolição completa dos serviços segregados. A inclusão propiciou a criação de inúmeras outras maneiras de realizar a educação de alunos com necessidades educacionais especiais nos sistemas de ensino regular, como as "escolas heterogêneas", as "escolas acolhedoras” e os "currículos centrados na comunidade". Indo mais além, a autora destaca que a inclusão institui a inserção de uma forma mais radical, completa e sistemática, visto que o objetivo é incluir um aluno ou um grupo de alunos que não foram anteriormente excluídos. A meta de inclusão é, desde o início, não deixar ninguém fora do sistema escolar, que terá que se adaptar às particularidades de todos os alunos para caracterizar a sua metáfora, o caleidoscópio (MANTOAN, op. cit.). A inclusão concilia-se com uma educação para todos e com um ensino especializado no aluno, mas não se consegue implantar uma opção de inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio ainda maior, recaindo sobre o fator humano, os recursos físicos e os meios materiais para efetivação de um processo escolar de qualidade cedem sua prioridade do desenvolvimento de novas atitudes e forma de interação na escola, exigindo mudanças no relacionamento pessoal e social e na nova maneira de se efetivar os processos de ensino aprendizagem. A adesão à inclusão, como uma possibilidade que se abre para o aperfeiçoamento da educação escolar e para o benefício de alunos com necessidades educacionais especiais, depende, também, de uma disponibilidade interna, que não é comum a todos os professores (MANTOAN, op. cit.). Na orientação de Alves (op. cit.), o ambiente escolar deve ser planejado e estruturado, visto que é através deste método que o desenvolvimento infantil será promovido e terá um papel fundamental no futuro do indivíduo. Alves (op. cit.) deixa claro que a escola inclusiva não é diferente, porque o seu papel será o mesmo, só dependerá de quem irá trabalhar com este aspecto. Portanto, é preciso preparar a escola e o educador para incluir nela e em sua concepção o aluno especial. Para Oliveira (2002) a inclusão constitui-se resultado de uma escola de qualidade, ou seja, uma escola capaz de perceber cada aluno como um enigma a ser desvendado. Segundo a autora: “Cabe à escola criar estratégias para incluir esses alunos com necessidades especiais no ensino regular, reconhecendo as necessidades individuais de cada um” (OLIVEIRA, 2002:02). De acordo com Silva; Sousa & Vidal (2008) alguns autores defendem uma nova forma de organização escolar como forma de concretizar uma escola para todos, o que implica, fundamentalmente, uma mudança de paradigma. Mantoan apud Silva; Sousa & Vidal (2008:02) afirma que “a escola para todos é uma tarefa possível de ser realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos modelos tradicionais de organização do sistema escolar”. Silva; Sousa & Vidal (2008) informam que os autores que sustentam uma nova organização escolar partem de dois princípios básicos, quais sejam: 1) todos os homens são diferentes, têm uma identidade (singularidade), que os distingue dos demais, porém, apresentam algo que também os unem (universalidade), assim, o processo educacional escolar, se constituirá nessa tensão dialética sem primazia de um sobre outro; 2) a construção do conhecimento ocorre nas relações históricas e sociais; nesse sentido, as escolas devem redimensionar o tempo e o espaço escolar, rompendo com a fragmentação do conhecimento e considerando o “estatuto histórico” dos alunos. 225 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Concorda-se com Silva; Sousa & Vidal (2008) quando afirmam que a escola por si só não é capaz de promover a transformação social, mas que esta também não ocorre sem a transformação daquela. Portanto, acredita-se em uma escola capaz de assegurar o que é clássico na instituição escolar – transmissão/assimilação do conhecimento, mas se preocupando com o caráter objetivo e universal do conteúdo a ser veiculado, atuando na compreensão e solução dos problemas sociais. Considera-se importante definir aqui deficiência física, visual, auditiva e intelectual. A deficiência física diz respeito a alteração total ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, comprometendo a função física do indivíduo. A deficiência visual constitui-se a perda ou redução da capacidade visual em ambos os olhos, com caráter definitivo. A deficiência auditiva trata-se da perda parcial ou total de audição; é a diferença existente entre o desempenho do indivíduo e a habilidade normal para a detecção sonora. Por fim, a deficiência intelectual ou atraso mental configura-se um termo utilizado quando o indivíduo apresenta determinadas limitações no seu funcionamento mental e no desempenho de tarefas como as de comunicação, cuidado pessoal e de relacionamento social. A partir destes estudos buscou-se saber um pouco mais sobre como se encontra a realidade de nosso município em relação ao atendimento aos alunos com alguma necessidade especial, ou seja, quantos alunos são cadastrados e, se possível, como vem sendo desenvolvida a prática da disciplina Educação Física com turmas que atendem estes alunos. Para tanto, foi elaborado um questionário com perguntas objetivas e, levando em conta a seguinte nomenclatura: deficiência física, deficiência auditiva, deficiência visual e deficiência intelectual. Optou-se por este formato tendo em vista que uma classificação mais detalhada implicaria um estudo um pouco mais aprofundado sobre o atendimento educacional especializado, objeto de estudo que daria outro rumo a esta pesquisa, já que o objetivo é o de, somente, coletar alguns dados que possam conversar um pouco com os estudos teóricos aqui apresentados. Apesar deste questionário (em anexo) ter sido enviado para todas as escolas da rede municipal, estadual e particular de ensino, foi considerado somente aqueles que retornaram, conforme os quadros a seguir relacionados (Q1 – G1 – A1), que apontam o percentual de escolas por rede e de alunos matriculados por necessidade especial. Também foi levada em consideração a existência, no município de São José do Rio Pardo, de duas escolas de Educação Especial, as quais atendem, aproximadamente, 330 (trezentos e trinta) alunos. 226 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Tabela 1 – Quantificação de Deficientes em Instituições de Ensino Gráfico 1 - Deficiências Pode-se perceber que a matrícula de alunos com necessidades especiais ainda é pequena, tendo em vista o número de alunos que são atendidos em escolas que atendem somente a Educação Especial, sendo que a maior parte dos alunos com necessidades especiais matriculados na rede regular ainda diz respeito ao aspecto cognitivo, ou seja, possuem deficiência intelectual. Logo, ainda fica por conta das escolas de Educação Especial o atendimento aos alunos com outras deficiências, que não a intelectual, como a física e as multideficiências (aquelas patológicas, diagnosticadas por equipe médica) 227 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Tabela 2 – Porcentagens de Constituições Gráfico 2 – Deficientes nas Instituições de Ensino Tabela 3 – Normas de Acessibilidade 228 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 3 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR Um dos princípios que norteiam os Parâmetros Curriculares Nacionais para a área de Educação Física é o da inclusão, que tem como propósito inserir todos os alunos na cultura corporal de movimento, por meio da reflexão e da participação concreta e afetiva (BRUN, 2005). Na disciplina de Educação Física, segundo Brun (2005), a inclusão traz um grande benefício para todos os alunos, mesmo para os que não têm deficiências, visto que grande parte deles se descobre capaz de praticar atos solidários e cooperativos, aumentando sua tolerância e compreensão em relação aos outros, o que é muito importante, principalmente numa sociedade altamente competitiva. Segundo Delours et al. apud Hort & Fischer (2006), aprender a viver com os outros é um dos maiores desafios da Educação do século XXI. E a Educação Física, que é uma parte da educação como um todo, vem sendo conduzida de uma forma competitiva, excludente e seletiva, quando deveria estar mais voltada ao pedagógico, à promoção humana, ao desenvolvimento, às aprendizagens significativas das relações sociais, à criatividade, aos sentimentos e à afetividade. Para Hort & Fischer (2006) a inclusão não pode ser considerada apenas como a presença física do aluno nas aulas, mas, sim, como a sua participação efetiva na interação com os demais, com direito a intervenções e mediações do professor, as quais constituem a garantia das relações sociais com o propósito de expor seus sentimentos e conhecimentos. Os educando aprendem e desenvolvem juntos, embora por processos diferentes, ficando, entretanto, na dependência de uma Educação Física que promova atividades dentro do contexto sociocultural e que favoreça o desenvolvimento humano, já que a prática, na maioria das vezes, é descontextualizada, competitiva, premiando os melhores através de atividades de rendimento (HORT & FISCHER, op. cit.). Alves (op. cit.) esclarece que quando o indivíduo tem alguma restrição, dificuldade, déficit ou comprometimento, a habilidade motora não será restrita, mas terá um ritmo mais lento, contudo, de alguma forma, terá a possibilidade de conseguir ou alcançar alguma alteração. Segundo ela, para uma boa educação psicomotora do indivíduo especial é preciso que haja uma compreensão geral dos processos de crescimento normais e normativos. 229 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Cabe ressaltar que é muito importante que este indivíduo sinta-se apoiado e ajudado e que não seja julgado por todos que o cercam, reforçando suas dificuldades. Quanto à capacitação do professor, Alves (op. cit.) pontua que o importante não é somente capacitar o professor, mas, também, toda a equipe de funcionários da escola, já que o indivíduo não estará apenas dentro da sala de aula. De acordo com Alves (op. cit.), o educador inclusivo deve ter uma clara preocupação no que diz respeito ao caminho que terá que percorrer para conseguir atingir os objetivos. Ele deve estar ciente que é de máxima importância, para o desenvolvimento humano, as condições para uma formação educativa, isto é essencial. O educador inclusivo tem que ser responsável para assegurar ao indivíduo o direito à educação, não se preocupando somente na transmissão de conhecimentos, mas, também, o afeto, o calor humano e oferecer uma escola e ensino de qualidade. Além disso, é fundamental se interessar e conhecer os procedimentos pedagógicos atuais para avaliar as mudanças necessárias de métodos e dos recursos específicos (ALVES, op. cit.). Assim, o educador inclusivo tem que conhecer ou procurar se aprofundar na vida pessoal, no ambiente familiar dos indivíduos que integram o processo de inclusão, para que possa planejar as tarefas de ensinar, com mais profundidade e atenção, pois somente assim a transformação se concretizará. Nesse sentido, é primordial que o educador tenha uma boa formação e procure sempre estudar e pesquisar para melhorá-la. “Este profissional deverá ter noção de ajustamento, correção e reabilitação e, para isto, é muito importante que promova sempre que necessário um atendimento multidisciplinar” (ALVES, 2005:60). A mesma autora orienta que o educador deve ter a clara noção que, a partir do momento que optou lidar com a educação inclusiva, ele tem que ter a plena conscientização de seu sentimento de insegurança em relação ao conteúdo a ser trabalhado com os alunos. “É uma missão, uma tarefa, mas uma grande esperança e isso é o que o educador tem que ter” (ALVES, 2005:60). Como bem observa Freire apud Alves (2005:60): “Ensinar inexiste sem aprender e viceversa e foi aprendendo que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar” Segundo Goellner et al. (2011), a inclusão no ambiente escolar deve minimizar as discriminações, os preconceitos, as desigualdades que ocorrem nas atividades diárias. Assim, entendendo que é fundamental agir em prol de mudanças, os referidos autores apontam sugestões possíveis de serem colocadas em prática: - criar um bom ambiente entre os alunos da atividade proposta e assegurar que cada um possa se expressar livremente e que seja escutado e respeitado em suas opiniões; -incentivar a prática de atividades esportivas para todos, independentemente de gênero, orientação sexual, raça/etnia ou idade; - recusar a naturalização que se faz acerca dos gêneros, bem como as noções tradicionais de que determinados esportes são para os meninos e outros para as meninas; - oferecer atividades em turnos diferenciados, visando adequar-se aos interesses e disponibilidades de horário e às condições de trabalho dos participantes; - prestar atenção para o uso de palavras e expressões que denotam sexismo, racismo e ageísmo (preconceito contra o idoso) e combater esse uso, sem cessar; 230 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 - procurar identificar situações em que acontecem discriminações e buscar interferir de forma a minimizá-las e evitá-las; - não se eximir do papel de educador, pois a intervenção docente faz diferença. Rodrigues (2003) comenta que a Educação Física, como disciplina curricular, não pode ficar indiferente frente ao processo de inclusão escolar. Isto porque esta disciplina pode contribuir efetivamente para que a escola torne-se mais inclusiva. Por isso, como afirma Oliveira (2002), as aulas de Educação física devem propiciar aos alunos através de atividades corporais uma atitude construtiva com os alunos com necessidades educativas especiais, possibilitando uma atitude de respeito, aceitação e solidariedade. Quanto ao professor de Educação Física, cabe a ele desenvolver as potencialidades de seus alunos com necessidades educativas especiais e não excluir das aulas, muitas vezes, sob o pretexto de preservá-los (OLIVEIRA, 2002). A participação dos alunos e essencial nas aulas de Educação Física, que desenvolverão suas capacidades motoras; é nas aulas que os alunos estão o tempo todos juntos vivenciando a mesma atividade, o que faz com que cada um descubra seus valores e cooperem com necessidade dos seus grupos e se conheçam e se aproximem um dos outros. Foi aplicado um questionário junto a professores de Educação Física, através de Entrevista Estruturada - que são perguntas pré-elaboradas. As perguntas foram de acordo com objetivo do trabalho, focalizando a contribuição da Educação Física no processo de inclusão escolar, buscando identificar as maiores dificuldades encontradas nas aulas, condições de trabalho, desinteresse dos alunos, indisciplina e, também, a dos alunos que não têm nenhuma habilidade ou desenvoltura para o esporte, conforme Gil (1999). Tabela 4 – Participação nas Aulas 231 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Gráfico 3 – Participação nas Aulas de Educação Física O gráfico 3 mostra que 71,43% dos alunos participam das aulas regularmente, sendo que 14,29% não participam das aulas e 14,29% não responderam. Analisando o gráfico acima, pode-se constatar que a maioria dos alunos é integrada nas aulas de Educação Física. Salienta-se aqui que inaptidão diz respeito ao indivíduo que não possui ou não demonstra capacidade, habilidade ou aptidão para a prática na Educação Física. Gráfico 4 – As Maiores Dificuldades nas Aulas de Educação Física Verifica-se que 71,43% das escolas apontam o desinteresse dos alunos como sendo umas das maiores dificuldades. Já 28,57% das escolas apontam a falta de materiais e falta de uniforme 232 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 apropriado como sendo outras dificuldades. Somente uma escola não aponta dificuldade alguma nas aulas de Educação Física, pois a mesma pertence à rede particular de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por esta pesquisa, foi possível verificar que a construção de uma escola inclusiva deve contemplar práticas baseadas na valorização da diversidade humana, no respeito pelas diferenças individuais, no desejo de acolher todas as pessoas, na convivência harmoniosa, na participação ativa e central das famílias e da comunidade local em todas as etapas do processo de aprendizagem e, em especial, na crença de que, qualquer pessoa, por mais limitada que seja em sua funcionalidade acadêmica, social ou orgânica, tem uma contribuição significativa a dar a si mesma, às demais pessoas e à sociedade. A inclusão trata-se da mudança na compreensão do que sejam as diferenças entre as pessoas e de como podem ser encaradas sem medo e sem preconceitos. Nesse sentido, o papel da escola é viabilizar, através de uma prática pedagógica consistente, o ingresso de todos aqueles que buscam por uma possibilidade de aprendizagem, inclusive as pessoas com deficiências. E, nesse cenário, é preciso, enquanto sociedade, possibilitar às pessoas com necessidades especiais uma vida digna, onde estes possam exercer o direito à cidadania como qualquer cidadão, sem que se sintam excluídos e discriminados. No processo de inclusão é preciso considerar as peculiaridades da população associadas às estratégias que serão utilizadas. Nessa direção, o professor de Educação Física poderá conhecer a necessidade, os interesses e as possibilidades de cada aluno e de cada grupo com que trabalha. Muitos fatores influem na aprendizagem de pessoas com deficiência entre elas as características das tarefas motoras, o sujeito que aprende, aprendizagem prévia, o contexto da aprendizagem, o tipo de informação, etc. Não existe nenhum método ideal ou perfeito da Educação Física que se aplique no processo de Inclusão, porque o professor sabe e pode combinar vários procedimentos para remover barreiras e promover a aprendizagem dos seus alunos. Os objetivos da Educação Física devem estar em sintonia com a realidade de trabalho de seus professores, para que a proposta adotada seja viável e possa, assim, contribuir para o desenvolvimento da criança. E, para que a Educação Física alcance seus objetivos, é preciso que o professor participe como agente da ação e, para tanto, espera-se um profissional competente e, principalmente, ciente de suas responsabilidades, com vistas ao seu aperfeiçoamento pessoal e técnico-profissional, desenvolvendo, sempre, os atributos necessários ao desempenho de suas tarefas. Hoje, a educação precisa rever suas ações e pensar o aluno como um todo, respeitando as suas necessidades e peculiaridades, construindo e criando condições para que seja possível atender às diversidades do ambiente escola. Constata-se que no processo de inclusão, um dos agentes transformadores mais importantes é o professor, em especial o de Educação Física que, ao olhar as crianças com necessidades especiais com outros olhos, já terá dado o primeiro passo rumo à inclusão, processo este em que é preciso considerar as peculiaridades da população associadas às estratégias que serão utilizadas. Assim, o professor de Educação Física poderá conhecer a necessidade, os interesses e as possibilidades de cada aluno e de cada grupo com que trabalha. À Educação Física cabe rever os objetivos do processo de escolarização, discutir sobre as várias dimensões da formação humana, analisar o tempo e espaço de aprendizagem escolar e, frente 233 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 à necessidade de superar os mecanismos de controle e exclusão das diferenças no âmbito escolar, rever a sua prática sócio-político-pedagógica, e torná-la inclusiva. Assim, a Educação Física, concretizada através de atividades físicas, jogos e brincadeiras na infância, revela-se essencial para o desenvolvimento da criança, pois as atividades físicas desenvolvem o conhecimento sobre cultura corporal e esse saber materializa-se na infância do aluno, devendo, assim, a Educação Física atuar com as mais diferentes estratégias e nos mais variados ambientes e alunado. Portanto, conclui-se que os professores de Educação Física, com vistas ao pleno desenvolvimento e êxito do processo de inclusão escolar, devem elaborar atividades inclusivas, adequando atividades aos interesses e necessidades dos grupos minoritários, bem como adotar uma postura de orientação aberta, na qual todos possam participar e, juntos, desenvolver ou melhorar seus potenciais e habilidades, pois a educação inclusiva somente será concretizada quando todos tiverem preparados para receber essa clientela e também quando aqueles que se propuserem a trabalhá-lhos saibam como fazer. REFERÊNCIAS A EVOLUÇÃO DE UM DIREITO. In: Revista Nova Escola. ed. junho/1999. São Paulo: Abril, 1999. ALVES, F. Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande desafio. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2005. ANDRADE, M. C. M. Cidadania, cultura e diferença na escola. In: BITTENCOURT, A. B.; OLIVEIRA JÚNIOR, W. M. de. Estudo, pensamento e criação. Campinas: FE, 2005. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1996. ______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRUN, G. A Educação Física sem distinção. Artigo publicado em 2005. Disponível em http://www.educacional.com.br. Acesso em 19 Fev. 2013. FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1994. Série Pensamento e Ação no Magistério. GOELLNER, S. V. et al. Política de esporte e lazer de inclusão social. In: ISAYAMA, H. F. et al. Gestão de políticas de esporte e lazer: experiências, inovações, potencialidades e desafios. Belo Horizonte: UFMG, 2011. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. HORT, I. C.; FISCHER, J. Educação Física: caminho para uma prática inclusiva. Artigo publicado em 2006. Disponível em http://www.icpg.com.br. Acesso em 18 Fev. 2013. MANTOAN, M. T. E. (org.). A integração de pessoas com deficiência: contribuições para uma reflexão sobre o tema. São Paulo: Memnon, 1997. MARINHO, I. P. História geral da educação física. São Paulo: Cia. Brasil, 1980. __________. História da educação física no Brasil. São Paulo: Cia. Brasil, s/d. 234 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G. Educação física infantil: construindo o movimento na escola. 2. ed. Guarulhos: Phorte, 1999. MRECH, L. M. O que é educação inclusiva? In: Revista Integração Ministério da Educação e do Desporto - Ano II – nº. 20. Brasília: MEC, 1998. OLIVEIRA, F. F. Dialogando sobre educação, educação física e inclusão escolar. Artigo publicado em 2002. Disponível em http://www.efdeportes.com/efd51/educa.htm. Acesso em 20 Fev. 2013. OLIVEIRA, N. R. C. Concepção de infância na Educação Física brasileira: primeiras aproximações. In: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 26, nº 3, Campinas: maio, 2005. 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ANEXOS ANEXO A QUESTIONÁRIO APLICADO NA PESQUISA DE CAMPO Pesquisa: TCC Educação Física – FEUC - 2013 Titulo: EDUCAÇÃO FÍSICA E INCLUSÃO ESCOLAR FUNDAMENTOS E PERSPECTIVAS Aluno: Reinaldo Modesto Florindo Escola Pesquisada:___________________________Prof.Operacional___________ 1) Sua unidade escolar possui alunos com necessidades especiais? Quantos? Sim ( ) ___ Não ( ) 2) Havendo alunos cadastrados: quantos são: a) Deficiente físico ___________ b) Deficiente auditivo__________ c) Deficiente visual __________ d) Deficiente intelectual __________ 235 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 3) Eles participam das aulas de educação física? Sim ( ) Não ( ) * Se sim, como? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ * Se não, por quê? _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ _______________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 4) A escola está é equipada de acordo com as normas de acessibilidade? a) Portas de aberturas 90 cm de largura b) Identificação Tátil sim ( ) não ( ) sim ( ) não ( ) c) Corrimão nas escadas sim ( ) não ( ) d) Rampas ou elevadores sim ( ) não ( ) e) Piso antiderrapante sim ( ) não ( ) f) Banheiro para deficiente sim ( ) não ( ) 5) Há participação de todos os alunos nas aulas de educação física? Sim ( ) Não ( ). Além dos alunos com necessidades especiais, quais as maiores dificuldades nas aulas de educação física (+ de uma) ( ) Desinteresse do alunos ( ) Indisciplina dos alunos ( ) Falta de material na escola ( ) Tem condições da utilização da quadra ( ) Inaptidão dos alunos ( ) Falta de uniforme próprio nas aulas ANEXO B LEITURA COMPLEMENTAR EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO84 84 Fonte: http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1266 236 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 (Ana Zélia Belo / Roberta Gaio) Introdução [...] A Educação Física como disciplina escolar tem sido foco de discussão há muito tempo, muitos são os estudiosos e estudiosas que levantam problemas relacionados com o planejamento pedagógico, com o descompromisso da relação teoria–prática, com a existência de uma disciplina que está condicionada ao clima — quando chove, não há aula —, com as dispensas que tiram de sala de aula alunos e alunas que trabalham, entre outros. Discutir a possibilidade de ministrar a disciplina de Educação Física na perspectiva de atender todos os alunos e todas as — alunas entendendo-os/as a partir de suas possíveis diferenças e — trabalhar considerando-os/as iguais em relação ao direito de se movimentarem e estimulando as vivências em atividades motoras diversas é o que nos motiva a escrever este texto, tendo como pano de fundo os Parâmetros Curriculares Nacionais e os temas transversais que são apresentados nesses documentos. PCN, Temas Transversais e Educação Física Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), segundo consta do próprio documento, foram elaborados procurando respeitar a diversidade humana, com metas a democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica em Educação — Educação Física. Até que outro documento seja o alicerce do planejar e agir pedagogicamente nas diversas áreas, os/as docentes devem se orientar pelos princípios de inclusão, pela diversidade e pelas categorias de conteúdos presentes nos PCN quanto à prática pedagógica em Educação Física no Ensino Fundamental. O que, para quem, como e por que ensinar devem surgir de uma reflexão com base nesses questionamentos, a partir do perfil de cada escola e dos/das discentes em especial, culminando com o planejamento e a consequente ação pedagógica que contribua com a emancipação intelectual de crianças e jovens, além de estimular o crescimento destes em harmonia com os outros, com a natureza e com o seu próprio eu. Através da Educação Física, dos seus conteúdos de esportes, jogos, lutas e ginásticas, bem como das atividades rítmicas e expressivas, os alunos e as alunas tomam conhecimento sobre o corpo e, em aulas com temáticas de saúde, ética, meio ambiente, pluralidade cultural, sexualidade ou trabalho e consumo, podem ser estimulados a resolverem problemas e se tornarem cidadãos ou cidadãs, como patrimônio da sociedade civil. Todos/as, sem restrição, podem e devem experimentar ambientes, onde os movimentos são explorados como cultura corporal, com significados, sentimentos, emoções, individualmente ou em pequenos e grandes grupos. E os professores e as professoras devem estar preparados/as para entender e atender a todos, inclusive crianças e jovens com alguma deficiência. “Bem-vindo à escola”, é o que nos coloca Santos (2006, p. 129) em sua pesquisa sobre inclusão, pontuando a escola que habita os sonhos de educadores e educadoras do imenso território brasileiro: A escola que pretendemos para a nossa comunidade é a escola crítica, criativa e de qualidade, espaço de cultura e de conhecimentos, capaz de formar o cidadão crítico e consciente, transformador da realidade em que vive. Cabe a ela contribuir para a formação da cidadania, apresentar soluções para os problemas fundamentais da sociedade, planejar, executar e avaliar a prática educativa [...] Cabe à escola também zelar pelo bom relacionamento entre as pessoas e os grupos, valorizar as relações interpessoais, repensar a atuação dos educadores e a democratização do saber. Ou seja, os parâmetros servem para fortalecer a importância do trabalho em grupo, das relações interpessoais aluno/a–aluno/a e professor/a–aluno/a e um melhor desenvolvimento da prática pedagógica e educativa, norteando a construção do conhecimento. Aprendendo com as diferenças 237 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Não é atual nem novidade a existência das diferenças, nem mesmo daquelas que aparentam ser mais agudas, como, por exemplo, as diversas deficiências, porém a ideia de que essas diferenças possam ser “[...] condição imprescindível para entender como aprendemos e como percebemos o mundo e a nós mesmos” (MANTOAN, 2006, p. 189) é uma situação contemporânea, polêmica e que ainda sucinta discussões e gera incertezas, dúvidas e inseguranças. Acreditar que o espaço denominado escola possa receber todas as diferenças — culturais, sociais, étnicas, religiosas, de gênero, biológicas, enfim, a diversidade humana —, valorizando-a no processo ensino– aprendizagem é assumir esse espaço como “[...] um lugar de ser, de viver e de crescer” (MANTOAN, 2006, p. 184). Há muito tempo, a escola deixou de ser um espaço somente para o desenvolvimento cognitivo daqueles que a frequentam; hoje essa instituição deve ser encarada também como um ambiente fundamental para ampliação das relações sociais. Assim, igualdade e diferença devem conviver em harmonia nessa instituição, pois todos, sem exceção, têm o direito à Educação. E, para isso acontecer, precisamos estar preparados para reconhecer e valorizar as diferenças, sem negá-las nem discriminá-las. No modelo educacional elitista de nossas escolas, crianças e jovens são vistos como iguais em tudo, muitas vezes negando que somos seres diferentes, que cada um tem suas particularidades e potencialidades. É necessário “[...] reconhecer a igualdade de aprender como ponto de partida e as diferenças no aprendizado como processo e ponto de chegada” (MANTOAN, 2006 p. 20). Buscar no diferente o reconhecimento da identidade, da troca, do aprendizado, vendo cada aluno/a como único/a, nos torna mais humano e capaz de assumir a responsabilidade de encarar o desafio de criar propostas em Educação Física que levem os/as discentes a buscarem a resolução de problemas quanto à sua realização e vivência. Isso é promover a inclusão, todos vivendo no mesmo espaço, não somente juntos, mas com o mesmo propósito e executando as mesmas atividades. Inclusão: um novo paradigma de Educação Segundo Mantoan (2004), o paradigma da inclusão surge para aprimorar a Educação escolar, beneficiando os alunos com ou sem deficiência, a partir de uma pedagogia focada no/a educando/a, reconhecendo suas diferenças, explorando suas potencialidades e dando oportunidade de vivências cognitivas e sociais para todos. Segundo Freitas (2006, p. 167): Há, na educação inclusiva, a introdução de outro olhar. Uma maneira nova de se ver, ver os outros e ver a Educação. Para incluir todas as pessoas, a sociedade deve ser modificada com base no entendimento de que é ela que precisa ser capaz de atender às necessidades de seus membros. Assim sendo, inclusão significa a modificação da sociedade como pré-requisito para a pessoa com necessidades especiais buscar seu desenvolvimento e exercer sua cidadania. Assim, romper com uma prática, na qual alunos e alunas com deficiência deixem de ser espectadores/as nas aulas de Educação Física, que possam participar ativamente num espírito cooperativo, de aprendizado mútuo e de trocas, é o que propomos a partir do reconhecimento da inclusão escolar como princípio a alicerçar a Educação neste século. A escola deve ser preparada para isso, e todos irão se beneficiar com essa transformação, isto é, alunos e alunas com e sem deficiências, professores/as e a sociedade em geral. No princípio da inclusão, a diversidade de cultura, de raça, de cor, de deficiências faz parte do universo social, cultural, familiar, escolar de crianças e jovens em momentos de estudo e aprendizado sobre a realidade social, sobre a vida. O fenômeno surgiu em defesa da pessoa com deficiência na década de 1980, quando a Organização das Nações Unidas declarou, em 1981, o ano internacional das pessoas com deficiência, e a cada encontro internacional, nacional, municipal e local, buscava-se o mesmo objetivo. Um dos marcos principais se deu na Declaração de Salamanca, na Espanha, no ano de 1994, fortalecendo o objetivo de uma educação para todos. Em se tratando de inclusão escolar, o objetivo é que todos/as os/as alunos/as em condição de deficiência estejam na escola regular, e o sistema escolar, adaptado às suas particularidades. 238 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Que o olhar do professor ou da professora passe a ser de entendimento, aceitação e atendimento aos diferentes e de rejeição ao padrão preestabelecido por uma sociedade que ainda enaltece um corpo perfeito. Buscar sempre uma equiparação de oportunidades, mostrando que todos têm o direito de estar incluídos, e não somente integrados, nas aulas de Educação Física é o papel de professores e professoras nesse novo paradigma de Educação. Explorar os conteúdos da Educação Física com uma metodologia adequada, com criatividade, e motivar todas as crianças e os jovens em suas aulas, oferecendo possibilidades dos alunos ou das alunas em condição de deficiência serem incluídos no universo escolar, participando das diversas atividades motoras, de dança, jogos, lutas, ginásticas ou esportes, é o mote dessa discussão, que se diz emergente e necessária para a construção de uma Escola Inclusiva. Nas palavras de Mantoan (2006, p. 186), a representação dessa escola: Mostra-se útil aos que ainda não compreenderam o que é primordial na escola: a experiência com as diferenças, mas sem exclusões, diferenciações, restrições de qualquer natureza e sempre reconhecendo-as e valorizando-as como essenciais à construção identitária. Uma escola aberta às diferenças é o desafio posto para este século: uma escola na qual o princípio da inclusão seja o leme a orientar sua organização. Assim, a Educação Física escolar deve ter como objetivo fundamental e central os/as diversos/as alunos e alunas. As aulas, nessa disciplina especificamente, devem atender a todos/as a partir do reconhecimento das limitações que emanam das características de cada corpo, procurando estimular as suas potencialidades, favorecendo as trocas de conhecimento e respeitando a pluralidade cultural existente em uma sala de aula. É necessário acreditar que, diferentes, somos todos. Limitados somos sempre em relação a alguma coisa ou a alguém! Misteriosos somos todos, porque insondáveis, inconclusivos e surpreendentes somos como seres humanos (GAIO, 2006, p. 173). Apontamentos finais Neste momento, ao encerrarmos este pequeno bate-papo sobre um assunto tão complexo, queremos apresentar dicas para que os profissionais de Educação Física possam vislumbrar a possibilidade de uma ação pedagógica voltada às diferenças, numa perspectiva inclusiva: As pessoas com deficiências já demonstraram que têm capacidade para aprender habilidades em diversas modalidades esportivas, haja vista a participação destas nos Jogos Paraolímpicos; então, deve-se valorizar esse fato em aulas de Educação Física Escolar. Preparar-se cada vez mais para oferecer Educação de qualidade, o que significa fazer adaptações estruturais e pedagógicas na escola e em aulas, inclusive na disciplina de Educação Física. Participar ativamente das reuniões com meta a colaborar com a criação de uma equipe multidisciplinar em prol da Educação Inclusiva e da construção de uma Escola Inclusiva. Pesquisar, estudar, seguir modelos já concretizados e de sucesso. Se precisar, fazer parcerias com outras instituições, em busca de atendimento especializado, a fim de estimular o desenvolvimento motor das crianças e dos jovens com deficiência, buscando cada vez mais torná-los capazes de vivenciar propostas em aulas regulares de Educação Física. O esporte adaptado praticado em outros espaços pode ser um fator impulsionador para a presença de crianças e jovens com deficiências em aulas regulares de Educação Física, mas jamais poderão substituir o convívio desses alunos e dessas alunas com os/as demais colegas da classe. O/a professor/a deve ser criativo/a, atualizado/a, organizado/a e planejar atividades para promover a inclusão com aprendizagem, pois não basta os alunos ou as alunas com deficiências estarem junto aos/às demais, devem estar participando ativamente das atividades propostas em classe. Não basta questionar os possíveis recursos que não vêem para a realização da inclusão, devemos nos unir para brigar ostensivamente pela construção da Escola Inclusiva. 239 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 ANEXO C DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 201185 Dispõe sobre a educação especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências. A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso III, da Constituição, arts. 58 a 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, art. 9o, § 2o, da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, art. 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, aprovados por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda constitucional, e promulgados pelo Decreto no 6.949, de 25 de agosto de 2009, DECRETA: Art. 1o O dever do Estado com a educação das pessoas público-alvo da educação especial será efetivado de acordo com as seguintes diretrizes: I - garantia de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis, sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades; II - aprendizado ao longo de toda a vida; III - não exclusão do sistema educacional geral sob alegação de deficiência; IV - garantia de ensino fundamental gratuito e compulsório, asseguradas adaptações razoáveis de acordo com as necessidades individuais; V - oferta de apoio necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar sua efetiva educação; VI - adoção de medidas de apoio individualizadas e efetivas, em ambientes que maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena; VII - oferta de educação especial preferencialmente na rede regular de ensino; e VIII - apoio técnico e financeiro pelo Poder Público às instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva em educação especial. § 1o Para fins deste Decreto, considera-se público-alvo da educação especial as pessoas com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades ou superdotação. § 2o No caso dos estudantes surdos e com deficiência auditiva serão observadas as diretrizes e princípios dispostos no Decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Art. 2o A educação especial deve garantir os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. § 1º Para fins deste Decreto, os serviços de que trata o caput serão denominados atendimento educacional especializado, compreendido como o 45 conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestado das seguintes formas: I - complementar à formação dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e limitado no tempo e na freqüência dos estudantes às salas de recursos multifuncionais; ou II - suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou superdotação. § 2o O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família para garantir pleno acesso e participação dos estudantes, atender às necessidades específicas das pessoas público-alvo da educação especial, e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. Art. 3o São objetivos do atendimento educacional especializado: 85 Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Decreto/D7611.htm 240 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular e garantir serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis, etapas e modalidades de ensino. Art. 4o O Poder Público estimulará o acesso ao atendimento educacional especializado de forma complementar ou suplementar ao ensino regular, assegurando a dupla matrícula nos termos do art. 9º-A do Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007. Art. 5o A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, Municípios e Distrito Federal, e a instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. § 1o As instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos de que trata o caput devem ter atuação na educação especial e serem conveniadas com o Poder Executivo do ente federativo competente. § 2o O apoio técnico e financeiro de que trata o caput contemplará as seguintes ações: I - aprimoramento do atendimento educacional especializado já ofertado; II - implantação de salas de recursos multifuncionais; III - formação continuada de professores, inclusive para o desenvolvimento da educação bilíngue para estudantes surdos ou com deficiência auditiva e do ensino do Braile para estudantes cegos ou com baixa visão; IV - formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação na perspectiva da educação inclusiva, particularmente na aprendizagem, na participação e na criação de vínculos interpessoais; V - adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade; VI - elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade; e VII – estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior. § 3o As salas de recursos multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado. § 4o A produção e a distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade e aprendizagem incluem materiais didáticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo. § 5o Os núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de estudantes com deficiência. Art. 6o O Ministério da Educação disciplinará os requisitos, as condições de participação e os procedimentos para apresentação de demandas para apoio técnico e financeiro direcionado ao atendimento educacional especializado. Art. 7o O Ministério da Educação realizará o acompanhamento e o monitoramento do acesso à escola por parte dos beneficiários do benefício de prestação continuada, em colaboração com o Ministério da Saúde, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Art. 8o O Decreto no 6.253, de 2007, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 9º-A. Para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, será admitida a dupla matrícula dos estudantes da educação regular da rede pública que recebem atendimento educacional especializado. 241 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 § 1o A dupla matrícula implica o cômputo do estudante tanto na educação regular da rede pública, quanto no atendimento educacional especializado. § 2o O atendimento educacional especializado aos estudantes da rede pública de ensino regular poderá ser oferecido pelos sistemas públicos de ensino ou por instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com atuação exclusiva na educação especial, conveniadas com o Poder Executivo competente, sem prejuízo do disposto no art. 14.” (NR) “Art. 14. Admitir-se-á, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o cômputo das matrículas efetivadas na educação especial oferecida por instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, com atuação exclusiva na educação especial, conveniadas com o Poder Executivo competente. § 1o Serão consideradas, para a educação especial, as matrículas na rede regular de ensino, em classes comuns ou em classes especiais de escolas regulares, e em escolas especiais ou especializadas. § 2o O credenciamento perante o órgão competente do sistema de ensino, na forma do art. 10, inciso IV e parágrafo único, e art. 11, inciso IV, da Lei no9.394, de 1996, depende de aprovação de projeto pedagógico.” (NR) Art. 9o As despesas decorrentes da execução das disposições constantes deste Decreto correrão por conta das dotações próprias consignadas ao Ministério da Educação. Art. 10. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 11. Fica revogado o Decreto no 6.571, de 17 de setembro de 2008. Brasília, 17 de novembro de 2011; 190o da Independência e 123o da República. DILMA ROUSSEFF / Fernando Haddad 242 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 EFEITOS DA SUPLEMENTAÇÃO DE MALTODEXTRINA EM UMA PARTIDA DE FUTSAL SUB 18 1 FRANÇA, P.C.; 2MIGUEL, H..; 3CAMPOS, M.V.A. 1 Graduado em Educação Física FFCL de São José do Rio Pardo 2,3 Docentes do curso de Educação Física da FFCL de São José do Rio Pardo Email: [email protected] RESUMO O futsal é uma modalidade desportiva acíclica, cujos esforços são sustentados por um sistema energético misto, tendo o carboidrato participação fundamental neste processo. Portanto, com o objetivo de verificar a influencia da suplementação de maltodextrina em atletas de futsal durante uma partida, 16 atletas foram subdivididos em 3 grupos, controle, placebo e maltodextrina tendo os mesmos a glicemia mensurada antes do inicio da partida, logo após o término do primeiro tempo de jogo e logo após a partida. Os dados foram parametrizados e receberam tratamento estatístico, sendo verificado aumento da glicemia dos atletas dos 3 grupos após o término do primeiro tempo de jogo e um aumento, após a partida o que se verificou foi que apenas o grupo suplementado manteve a glicemia mais elevada se comparada a glicemia mensurada ao final do primeiro tempo de jogo, entretanto não de forma estatisticamente significativa. Os resultados nos permitem afirmar que uma partida de futsal promove a elevação da glicemia sanguínea e que a suplementação isolada não promove alterações, não sendo, portanto um recurso ergogênico eficaz. PALAVRAS- CHAVES: FUTSAL – GLICEMIA - MALTODEXTRINA INTRODUÇÃO O futsal é um dos desportos coletivos mais praticados no Brasil, sendo característica desta modalidade a intensa movimentação dos atletas, mantém elevados níveis de velocidade, resistência e força, a fim de realizarem chutes, arranques e mudanças rápidas de direção. Tais movimentos caracterizam a modalidade com relação ao esforço físico como sendo acíclica, onde os atletas alternam movimentos em alta intensidade, com intervalos de repouso de tempo variável e que ocorrem de maneira ativa e passiva (AOKI, 2002). As ações desenvolvidas pelos atletas durante a partida são sustentadas por um sistema energético misto (aeróbio-anaeróbio); com solicitação muscular dinâmica geral, sendo a recuperação incompleta (NETO ET AL, 2007). Segundo OLIVEIRA et al (2008) resistência aeróbica é a capacidade de captação máxima de oxigênio em um minuto e envolve a eficiência da capacidade cardiovascular, respiratória e metabólica. A resistência anaeróbica é a capacidade de resistir com déficit de oxigênio a trabalhos dinâmicos de intensidade máxima. Destaca-se neste contexto o papel do carboidrato, onde o glicogênio muscular e a glicose sanguínea são os principais substratos energéticos de ações de alta intensidade, onde a demanda de energia é suprida pelo metabolismo anaeróbio e a molécula de glicose sofre uma série de reações químicas num processo denominado glicólise, que libera energia suficiente para a ressíntese de 2 ATP (WILMORE; COSTILL, 2002). 243 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Além de estar diretamente ligada a produção de energia durante exercícios intensos, o glicogênio muscular e a glicose sanguínea são fundamentais nos primeiros minutos do exercício moderado, quando o suprimento de oxigênio não consegue atender as demandas do metabolismo aeróbio, porém, tanto o glicogênio muscular, como a glicose sanguínea, encontram-se em quantidade limitada no corpo, tendo em média um atleta de 70kg, 1.600kcal de energia na forma de glicogênio muscular e 50kcal na forma de glicose sanguínea (OLIVEIRA ET AL, 2008). Devido à importante participação do carboidrato como substrato energético, tanto em exercícios de longa duração (mais que 90 minutos) e moderada intensidade, como em exercícios intermitentes e de alta intensidade, o mesmo é um fator otimizador do desempenho (CARVALHO ET AL, 2003). Em atletas de futsal, o glicogênio muscular, por desempenhar papel chave na produção de energia durante o exercício, é frequentemente associado à fadiga. . Já a glicose sanguínea é utilizada principalmente na produção de energia para o cérebro e outras partes do sistema nervoso, pois estes dependem basicamente dela para o metabolismo; podendo a hipoglicemia, prejudicar a função cerebral acarretando prejuízos para a execução de ações motoras fundamentais para o bom desempenho em uma partida (MCARDLE, KATCH, KATCH, 2003; WILLIAMS; MELVIN, 2002). Dentre as estratégias encontradas na literatura, está a suplementação de carboidratos, principalmente a maltodextrina. Tal estratégia nutricional busca impedir a hipoglicemia e fornecer uma maior disponibilidade de glicogênio para a realização do trabalho muscular, prevenindo a fadiga e consequentemente melhorando o desempenho dos atletas. (MANUS; SANTOS, 2006). Assim, é de fundamental importância para o desempenho de atletas de futsal a adequada ingestão de carboidratos e consequentemente a garantia de níveis adequados de estocagem dos mesmos no sangue, músculos e fígado. Dentro desta perspectiva, a correta ingestão de carboidratos na dieta, bem como a suplementação dos mesmos em atletas de futsal tem sido considerado um importante recurso ergogênico, onde a maltodextrina, devido suas características, tem sido o suplemento mais utilizado no período pré jogo, pois acredita-se que sua ingestão pode garantir a manutenção de bons níveis de glicose e consequentemente, influenciar positivamente no desempenho de atletas. OBJETIVOS Objetivo Geral Avaliar os efeitos da ingestão isolada de um suplemento de reposição energética, a maltodextrina, na glicemia de atletas, verificando se a suplementação da mesma pode manter a glicemia durante uma partida de futsal. Objetivos Específicos - Através do comportamento da glicemia, verificar a principal via metabólica de uma partida de futsal. - Analisar o padrão alimentar dos atletas de futsal SUB-18 da equipe do Grêmio Recreativo Nestlé da cidade de São José do Rio Pardo METODOLOGIA 244 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Amostra Este estudo transversal, contou com a participação de 16 atletas, do sexo masculino, com idade média de 17,2 anos; 176 cm de altura e 76 kg de massa corpórea. Os atletas são integrantes da categoria Sub-18 das equipes de futsal do Grêmio Nestlé de São José do Rio Pardo e Vila Verde Futsal, sendo que os mesmos representam as equipes em competições de nível regional. Os atletas envolvidos na pesquisa realizam 3 treinamentos semanais, distribuídos em treinamentos técnico, tático e físico. Antes de iniciar a pesquisa, todos os atletas e responsáveis foram previamente informados sobre os riscos e benefícios do estudo e os pais ou responsáveis assinaram um termo de consentimento, concordando com a participação de seus dependentes no estudo. Delineamento Experimental Os atletas foram subdivididos aleatoriamente em 3 grupos; Grupo Controle, Grupo Placebo e Grupo Maltodextrina. Na semana que precedeu o estudo, todos realizaram registro alimentar de 3 dias, sendo uma terça-feira, uma quarta feira e um sábado; onde os atletas após serem previamente orientados, especificaram os horários que costumam realizar as refeições, assim como os alimentos ingeridos e a quantidade ingerida dos mesmos. No dia da partia, 30 minutos antes do inicio desta, os atletas tiveram sua glicemia mensurada; para tal, um avaliador, equipado com luvas cirúrgicas descartáveis, e após assepsia local com álcool 70%, realizou punção na região lateral da polpa digital, por meio de lanceta descartável, sendo coletada uma gota de sangue, que foi colocada na curva da tira (tiras de teste Accu-Check Active). Cerca de 20 minutos antes da partida se iniciar, os atletas do Grupo Maltodextrina realizaram a ingestão da mesma e os atletas do grupo palcebo realizaram a ingestão de suco clight, sendo que todos atletas acreditavam estar ingerindo maltodextrina. Os atletas do grupo controle puderam ingerir água “add libittum”. Ao final da primeira etapa do jogo, todos os atletas tiveram suas glicemias mensuradas, sendo que durante o intervalo os mesmos só fizeram a ingestão de água. A glicemia de todos também foi avaliada logo após o término do jogo, antes que os mesmos fizessem ingestão de qualquer nutriente. Suplementação dos Atletas Os atletas do Grupo Controle não realizaram 1 hora antes, e durante todo o experimento ingestão de qualquer tipo de nutriente, que não água. O grupo Placebo ingeriu 20 minutos antes da partida, suco em pó da marca Clight (0g de carboidrato), sabor limão, dissolvido em 250ml de água. O Grupo Maltodextrina ingeriu 20g de maltodextrina sabor limão, dissolvida em 250ml de água. Características da Partida Os dados foram coletados em 1 jogo amistoso, realizado no Ginásio do Grêmio Nestle, cuja quadra possui dimensão 28x38; no dia da coleta a temperatura ambiente estava em 23°C e a umidade relativa do ar e 65%. 245 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A partida foi realizada em 2 tempos de 20 minutos (cronometrados), de acordo com as regras oficiais propostas pela CBFS. Coleta dos Dados Massa Corpórea e estatura A obtenção da massa corpórea total dos atletas foi realizada com o auxilio de uma balança digital, da marca Filizola, com uma precisão de 50g. Para a obtenção da estatua dos atletas utilizouse uma fita métrica de aço com escala milimétrica e um esquadro de madeira, sendo que tanto a avaliação da estatura como a da massa corpórea foram realizadas por apenas um avaliador, seguindo os procedimentos propostos por Frisancho (1990). Avaliação Dietética A avaliação do consumo alimentar foi realizada por meio de um registro alimentar de três dias, sendo os dados fornecidos pelos atletas avaliados com o auxilio do software AVANUTRI, versão 3.0.9; onde se verificou o total de calorias ingeridas, a participação dos macronutrientes no total calórico e a adequação dos micronutrientes. Avaliação da Glicemia A mensuração da glicemia foi realizada com o auxilio do aparelho Accu-Check Active, sendo a determinação da glicemia realizada por fotometria de reflexão em sangue de capilar fresco; em intervalo de 10 a 600mg/dl (0,6 a 33,3mmol/l). O volume de sangue coletado variou de 1 a 2µl. Tratamento Estatístico Os resultados encontrados foram previamente normalizados por procedimento estatístico descritivo, para obtenção do grau de parametria, sendo expressos os valores médios e respectivos desvios padrão (±). Para analisar possíveis diferenças estatísticas entre os níveis de glicose antes, ao término da primeira etapa do jogo e ao final da partida, utilizou-se o teste de t de Stundent (pareado). Para análise dos níveis de glicose em períodos similares aos descritos anteriormente, porém, comparando os diferentes grupos, utilizou-se o teste Anova, sendo os testes realizados com o auxilio do software GraphPad Instat, versão 2.01(San Diego, CA, EUA). Para todos os testes foi considerado o intervalo de significância de p<0,05. Para analisar a presença ou não de diferença estatística entre os indivíduos pertencentes ao grupo C e ao grupo AL, utilizou-se o teste t de student não pareado; sendo adotado um intervalo de significância de p<0,05. RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação a quantidade de calorias ingeridas, verificou-se que a mesma foi em média de 2.392kcal por dia, ou seja, 31,47 kcal/kg/dia; o que se encontra bem próximo ao limite inferior proposto pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte em 2003, que é de 30 a 50kcal/kg/dia, entretanto, entretanto, a participação dos macronutrientes no valor calórico total da dieta mostrou-se inadequada. 246 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 De acordo a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2003) a participação dos carboidratos no valor calórico total da dieta de atletas com características semelhantes ao grupo estudado seja de 60% a 70% do valor calórico total da dieta; a de lipídeos entre 15% e 30%; e de proteínas 15%. Como podemos observar na tabela abaixo, existe uma ingestão insuficiente de carboidratos e proteínas; além de uma ingestão elevada de lipídeos. TABELA 3 – Participação dos Macronutrientes na Dieta % de Participação na Dieta VARIÁVEIS Recomendado Ingerido Carboidrato 60 a 70 51,3 Lipídeo 15 a 30 36,4 Proteína 15 12,3 Como podemos observar na Tabela 3 a ingestão de carboidratos por parte dos atletas encontra-se abaixo do recomendado, a ingestão de carboidratos por parte de jovens atletas deve variar entre 6 e 9g/kg da massa corpórea total, entretanto, neste estudo a ingestão média de carboidratos foi de 4,1g/kg. Campos et. al. (2012), avaliando atletas com características similares também encontraram esta deficiência, sendo sugerido por estes autores que tal deficiência pode impedir que os atletas repusessem adequadamente os estoques de glicogênio muscular e consequentemente, o que pode gerar perda de desempenho. Além dos carboidratos, outro nutriente ingerido em quantidades inadequadas são as proteínas, os dados deste estudo sugerem que os atletas ingerem em torno de 82% da quantidade de proteína que deveriam ingerir. Esta baixa ingestão de proteína acaba por prejudicar a restauração muscular após sessões de treinamento e o desenvolvimento físico dos mesmos, uma vez que estudos demonstram que a proteína encontra-se relacionada ao crescimento e desenvolvimento de jovens, além de ser fundamental no processo de reparo dos microtraumas induzidos pelo exercício físico nas fibras musculares (SBME, 2003). A ingestão de lipídeos se mostrou acima do recomendado, contribuindo para um aumento significativo no valor total de calorias ingeridas, fazendo com que o valor calórico total da dieta alcançasse níveis próximos ao adequado, entretanto pelos motivos já expostos anteriormente; a adequação calórica com uma dieta hiperlipídica não é o ideal, pois os mesmos não contribuem da mesma forma que os carboidratos e proteínas em determinados processos metabólicos. Os micronutrientes são importantes reguladores metabólicos, estando a falta dos mesmos relacionada a inadequações nos processos de produção de energia; síntese de hemoglobina (Hb); manutenção da saúde óssea e proteção contra danos teciduais, promovidos pelo estresse oxidativo; além de serem importantes na reconstrução do tecido muscular lesado, após o exercício (ACSM, 2000 apud CAMPOS ET. AL., 2012). 247 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Neste estudo, os atletas ingeriram vitaminas do complexo B, como a Niacina, Vitamina B6 e ácido pantotênico, além de minerais como o magnésio e o cromo; em quantidade abaixo do recomendado, e uma vez que estas vitaminas e minerais estão envolvidos no processo de produção de energia, em especial no metabolismo de carboidratos, a deficiência pode levar a prejuízos no desempenho e na saúde dos atletas (LUKASKI, 2004 apud CAMPOS ET. AL., 2012). A glicemia do grupo controle e do grupo placebo, quando comparados os período pré-jogo e pós-jogo, mostrou-se mais elevado, porém de maneira não significativa após o jogo, assim como observados em outros trabalhos encontrados na literatura, podendo esta elevação estar relacionado ao aumento na liberação de hormônios glicolíticos, algo comum em atividade acíclicas com grande participação da via anaeróbia, conforme descreve Campos et. al. (2012). Ao se analisar a glicemia no intervalo de jogo, algo ainda não encontrado na literatura atual, o que se verificou é que ela se mostra mais elevada do que no período pré-jogo e pós-jogo. Diferentemente, no grupo suplementado com maltodextrina a glicemia no período pós-jogo se mostrou mais elevada do que no intervalo. Glicemia 150 140 130 120 110 Controle placebo 100 Maltodextrina 90 80 70 60 Pré-Jogo 1º Tempo Pós-Jogo Gráfico 1 – Comportamento da Glicemia Quando submetido à análise estatística, o que se observa é que esta elevação da glicemia, dentro de um mesmo jogo não ocorre de maneira significativa, não foi encontrado na literatura trabalhos que avaliassem a glicemia no intervalo, porém analisando apenas o período pré-jogo e pós-jogo, outros trabalhos também observaram elevação não significativa entre os períodos pré e 248 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 pós (CAMPOS ET. AL., 2012; OLIVEIRA ET. AL., 2008; NETO ET. AL., 2007; SOARES, ET. AL., 2006). A diferença entre o 1º tempo e os períodos pré e pó-jogo também não foi estatisticamente significativa em nenhum dos grupos, entretanto, essa queda na glicemia dos grupos não suplementados pode sugerir que a maltodextrina seja eficaz na manutenção da glicemia, pois vale ressaltar que os atletas avaliados são de nível amador, o que interfere de maneira significativa na intensidade do jogo. CONCLUSÕES Os resultados encontrados permitem concluir que a suplementação isolada de maltodextrina não promove alterações significativas na glicemia, assim como outros trabalhos realizados com atletas de nível amador, um grande problema esta relacionado a heterogeneidade dos atletas em relação aos hábitos alimentares, o que poderia provocar um viés no trabalho, já que os estoques hepáticos e musculares de glicogênio podem estar em níveis bastante diferentes, pois estes estoques sofrem influencia dos hábitos alimentares, assim, um atleta suplementado, porém com dieta inadequada, terá a glicemia se elevando menos do que a de um atleta não suplementado, porém com ingestão de carboidratos adequada. Porém, essa diferença do comportamento da glicemia entre os grupos, onde o grupo suplementado conseguiu manter a glicemia mais elevada por um maior, leva a acreditar que a maltodextrina pode sim ter efeito ergogênico em atletas de futsal, entretanto mais estudos abordando esta temática, e com um controle maior da dieta dos atletas, bem como de outras variáveis relacionadas ao desempenho, a fim de se correlacionar estas variáveis com a glicemia poderiam sustentar de forma mais segura esta hipótese. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AOKI,MS,et al. Proteínas.in:AOKI,MS. Fisiologia, Treinamento e Nutrição aplicados ao Futebol. Fontoura. JUNDIAÍ, SP, 2002. CAMPOS, M.V.A.; MIGUEL, H; RODRIGUES, M. Análise glicêmica em atletas de Futsal suplementados com Maltodextrina.Buenos Aires: Revista Digital EFDeportes, 2012. Disponível em http://www.efDeports.com/edf 77/futsal.htm>.acesso em 15/10/2013. CARVALHO T, et al. 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Fisiologia do Esporte e do Exercício. 2º edição, São Paulo, Roca, 2002. 250 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 INCLUSÃO SOCIAL COM AUXÍLIO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS ESTADUAIS DE SÃO JOSÉ DO RIO PARDO-SP 1 SILVA, Danilo Cristiano da ALVES, Rogério José Gomes 1 Graduado em Educação Física pela Faculdade Euclides da Cunha 2 Orientador - Prof. Especialista da Faculdade Euclides da Cunha RESUMO: O trabalho aborda o tema inclusão, desde a Idade Antiga até os dias de hoje, retrata a inclusão social e escolar do deficiente, tornando maior sua integração com a sociedade, de forma que não tenha diferenças, preconceitos, discriminações. A relação entre a Educação Física, o profissional da educação e o portador de deficiência ainda esta sendo bastante trabalhada, pois essa transformação está ocorrendo aos poucos. Há algumas leis já criadas onde dizem que, as pessoas com deficiência possuem os mesmos direitos e deveres de qualquer cidadão garantindo-lhes uma vida mais digna e saudável. O que vemos é que a lei não está sendo cumprida, pois ainda há muito que fazer para que as escolas tenham condições de receber e dar o atendimento necessário e essencial a estes alunos sem causar traumas. Toda e qualquer dificuldade precisa ser observada, respeitada e solucionada. Essa dificuldade de aprendizagem chamada de Necessidade Educacional Especial pode ocorrer em diversas situações individuais, econômicas e socioculturais. O objetivo é mostrar que a atividade física na vida do deficiente físico tem os ajudado não somente na mobilidade, mas principalmente resgatando sua autoestima e seu equilíbrio emocional. O resultado final da pesquisa estabelece a importância da melhoria á acessibilidade nas escolas, da aquisição de materiais adequados e a capacitação dos profissionais. PALAVRAS CHAVES: inclusão, escolas e educação física ABSTRACT: The work addresses the theme of inclusion, since the Ancient Age to the present day, depicts the social inclusion of people with disabilities and school, making higher their integration with society, so that they do not have differences, prejudices, discrimination. The relationship between physical education, professional education and disability is still being quite worked because this transformation is occurring gradually. There are some laws already established where they say, people with disabilities have the same rights and duties of every citizen ensuring them a more dignified and healthy life. What we see is that the law is not being enforced, because there is still much to do to that schools have conditions to receive and give the necessary and essential to these students without causing injuries. Any difficulty needs to be observed, respected and addressed. This difficulty of Special Educational Need call learning can occur in several situations, individual, socio-cultural and economic. The goal is to show that physical activity in the lives of the disabled has helped not only in mobility, but mainly rescuing your self-esteem and your emotional balance. The end result of the survey on the importance of improving accessibility in schools, will the acquisition of suitable materials and the training of professionals. KEYWORDS: inclusion, physical education and schools 251 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 INTRODUÇÃO O Trabalho trata dos conceitos sobre a promoção da inclusão com o auxilio da educação física. Nesta pesquisa procura-se entender os efeitos dessa política educacional na aprendizagem dos alunos e seus reflexos na inclusão ou exclusão escolar. Assim, procura-se entender os fatores que ocultam uma exclusão que ainda faz parte da escola e de seu processo de aprendizagem e pelas práticas conservadoras que permanecem nas ações curriculares, seguir essa linha de raciocínio não significa atingir objetivos pensando na real aprendizagem dos portadores de necessidades especiais, é que surgem ações e ou atividades que podem ser desenvolvidas na educação física já que as atividades motoras são fáceis de cativar e assim elevar autoestima de quem possui algum obstáculo para adquirir mais habilidades, apesar da mudança estrutural e regimental ainda hoje é possível deparar com alunos que são excluídos por não participarem ou serem incentivados para alçar a aprendizagem. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994) ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO O ensino inclusivo no Brasil em todo seu contexto histórico. As amplas dificuldades da escola na implantação da inclusão. O aprendiz nos diferentes espaços e tempo de aprendizagem. A educação física como principal processo inclusivo do deficiente. OBJETIVO: Como promover a inclusão social através da educação física. Analisar a participação e a inclusão do deficiente no esporte. OBJETIVO ESPECÍFICO: Verificar a acessibilidade e participação nas aulas de Educação Física. Analisar as escolas, verificando se as mesmas estão dentro das normas estabelecidas para atender aos portadores de deficiência. Mostrar a importância da atividade física na vida do portador de deficiência. 1 A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA A verdadeira inclusão implica em aprendizagem. Estando a educação escolar envolvida em múltiplos fatores, a mesma vem produzindo no interior da escola desigualdades e ações pedagógicas que resultam em uma exclusão, assim trabalharem de forma igual par atender a todas as crianças significa excluir aquele que não está preparado para aquela situação, promovida por ações e ou interações contrárias, muitas vezes, ao que está previsto na legislação educacional, a qual regulamenta uma educação inclusiva. (KISHIMOTO, 2008). 252 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Conclui que a reestruturação curricular, reconhecida como elemento necessário à inclusão, requer ainda, no cotidiano da escola, novas bases conceituais que ressignifiquem as ações em um novo conceito. Assim a educação física procura estabelecer um conceito real da inclusão com socialização, atividades motoras, trocas de experiência, ajuda ao próximo, resgate de brincadeiras de autoajuda, assim há uma partilha entre a ação e a aprendizagem. Trabalhar as diferenças é transferir os exclusos para uma ação real no processo ensino aprendizagem através de jogos, desafios e superações esse é um dos fatores que se trabalha na educação física. Para melhor entendermos a inclusão é necessário voltar na historia para rever os grandes desafios e as conquistas já realizadas. Tanto nos primórdios como nos tempos mais próximos, o tratamento às pessoas com deficiência estava totalmente dependente do que a natureza podia proporcionar-lhes, como a caça, a pesca e as cavernas como abrigo. O nomadismo era uma das características da época. É fato que alguém, portador de alguma deficiência natural ou impingida na luta pela sobrevivência, acaba se tornando um empecilho, um peso morto, fato que o leva a ser relegado, abandonado e sem que isso causasse os chamados sentimentos de culpa. (ARANHA, 1995) Na Idade Media (Século IX a.C) o contexto da organização social, política e econômica estão fundamentados numa economia baseada na agricultura, pecuária e artesanato, sendo o corpo principal instrumento de trabalho, pois havia a valorização da utilidade. Portanto, com uma economia baseada “nas atividades de produção e de comércio agrícola, pecuário e de artesanato”, a organização sociopolítica centrava-se nas mãos de poucos que comandavam e dominavam a grande maioria da população. As pessoas portadoras de deficiência, ou seja, os imaturos, fracos e defeituosos eram eliminados ou abandonados em esgotos, pois fugiam do ideal de possuírem um corpo atlético e clássico (ARANHA, 1995) Na Antiguidade grega e romana, as sociedades ocidentais estavam divididas em: nobreza, composta por senhores que detinham o poder social, político e econômico e serviçais; (física, psíquica, moralmente) como também, economicamente dependentes. Nesta época, varias pessoas foram mutiladas na execução das grandes construções, como as pirâmides. (BRASIL, 2000) Para as pessoas com deficiência a falta de conhecimento gerou muitos prejuízos, pois a função era de utilidade social. Na sociedade grega e espartana, a dedicação à guerra proporcionava a valorização da ginástica, dança e estética, buscava-se a perfeição do corpo belo e forte. A criança apresentasse alguma deficiência, ao nascer, era eliminada. Aquele que possuísse alguma deficiência não era considerado ser humano. Desta forma, sua exterminação, ou seja, o abandono ou a exposição, não representavam nenhum problema moral ou ético. Na organização social patriarcal espartana, houve a valorização da mulher, pois um corpo belo e forte era pré-condição para geração de um bom guerreiro. (BRASIL, 2000). Esse princípio foi seguido pela sociedade romana. Com a sociedade grega, graças ao atendimento das necessidades básicas garantidas pelos escravos, os homens, os livres, podiam dedicar-se ao ócio. E é assim que, pela primeira vez, os homens começam a pensar de forma sistematizada. Aparecem corpos teóricos, paradigmas, modelos que atravessarão os séculos. Devido à valorização da força física e a necessidade de sobrevivência, a pessoa com deficiência comprometia os demais em uma batalha ou fuga. (BRASIL, 2000) Diante desse problema, o grupo abandonava o deficiente ou o deixava à sua própria sorte. Assim, especialmente os surdos, cegos, deficientes mentais, físicos, órfãos, idosos doentes, viviam abandonados, pois eram considerados entes problemáticos: de natureza moral e ética. Alguns cegos, mancos e leprosos viviam como indigentes, rejeitados pelas famílias e comunidades, pois 253 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 acreditavam que eram amaldiçoados por Deus e suas enfermidades poderiam ser transmitidas aos demais. Ao deficiente mental cabiam as ocupações de bobo da corte ou palhaço, servindo de diversão à nobreza. (BRASIL, 2000) A sociedade estabelecia um tratamento diferenciado aos estigmatizados, pois não os consideravam humanos, efetivando-os, não raro, discriminando e possibilitando reduções em suas possibilidades de vida plena em sociedade. Ao avançarmos na odisséia histórica do homem ocidental, defrontamo-nos com a Idade Média e com o advento do cristianismo. Com crescimento do cristianismo, deu-se a formação de uma nova classe social: o clero, e o fortalecimento da Igreja Católica. A Igreja Católica detinha o poder de excomungar, proibindo a “entrada no céu” daqueles que não seguissem suas determinações. Eram “guardiões” do conhecimento da época, influenciavam e manipulavam diretamente a nobreza. Assim, passaram a comandar a sociedade, pois conquistaram o domínio velado das ações dos nobres. A população vivia da produção do seu trabalho: bens e serviços; ou constituíam o exército. Produzia sempre em benefício do clero e da nobreza, e não havia abertura para participação nas decisões administrativas da sociedade. (BRASIL, 2000) Aranha (2001): analisa que com o cristianismo surgiram diferentes formas de encarar a pessoa deficiente: alguns grupos matavam; outros buscavam a convivência amigável; outros puniam por considerarem a deficiência, sinônimo de fraqueza e/ou doença resultantes de obra demoníaca, acreditando que a punição era para reparação dos pecados. Assim, as pessoas deficientes no período do cristianismo passaram a ter alma e não podiam mais ser eliminadas ou abandonadas. Durante a Idade Média, eram comuns as mutilações dos membros do corpo e o vazamento dos olhos como punição ao não cumprimento das normas vigentes. Ter uma deficiência era um castigo que indicava ser pecador ou ter cometido um crime, segregando o deficiente do convívio social por ser marcado pelos seus erros. Isso exemplifica a ambiguidade de valores existentes com relação à deficiência. (ARANHA, 1995) Para Bianchetti, “a dicotomia deixa de ser corpo/mente e passa a ser corpo/alma. O deficiente deixa de ser morto ao nascer, porém, passa a ser estigmatizado, pois, para o moralismo cristão/católico, deficiência passa a ser sinônimo de pecado”. Havia então uma ambiguidade: o corpo era visto como abrigo de Deus/alma, mas também como oficina do diabo. (BIANCHETTI, 1995) Portanto, constamos a desvalorização do deficiente no contexto da organização social, política e econômica vigente, juntamente com o conjunto de normas estabelecidas pelas crenças religiosas e metafísicas. Isso determinava o tipo de relação que a sociedade iria manter com o deficiente. (ARANHA, 2001) Diante da estrutura organizacional da sociedade da época, ocorreram dois importantes processos, decisivos na história da humanidade ocidental: a Inquisição Católica e a Reforma Protestante. 1.2 A Religião e a Inclusão Houve varias manifestações populares, por toda a Europa. Ao mesmo tempo, surgiam manifestações dentro da própria Igreja, questionando o poder absoluto e as ações incoerentes do clero. Esse movimento ficou conhecido como Inquisição Católica e colocou em risco a hegemonia do poder da Igreja, o clero inicia, em nome de Deus, a caça e o extermínio daqueles que não possuem fé religiosa ou endemoniados. 254 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A Inquisição Católica sacrificou como hereges e endemoniados milhares de pessoas, inclusive, pessoas deficientes. A premissa era: serviam ao demo por seus atos bizarros ou bruxarias. A sociedade passou a acreditar que as pessoas diferentes prejudicavam o gado e a colheita e até faziam cair raios. A deficiência passa a ser relacionada com causas sobrenaturais. (BIANCHETTI, 1995) Diante disso, temos duas visões: uns são possuídos pelo demônio ou espíritos malignos, como os epiléticos e só o exorcismo resolveria; e outros são tratados com superproteção e piedade, pois são considerados santos inocentes, cumprem nesta vida o designo de uma providência divina estabelecida. Os horrores da segregação e da estigmatização resultaram na eliminação de muitas pessoas nas “santas fogueiras do Santo Ofício”. A Igreja Católica utilizava também outra forma para explicar a existência das deficiências: pessoas acometidas por esses males são instrumentos de Deus e serviam de alerta para que os homens praticassem a caridade e a benevolência. Durante a Reforma Protestante, que teve Martinho Lutero (século XVI) como protagonista, há uma nova concepção de igreja, porém com atitudes ambíguas: rigidez ética, moral e religiosa, que foram somadas à intolerância e ao desvio, imbuindo o ser humano com sentimentos de culpa e responsabilidade. (BIANCHETTI, 1995) Várias mudanças ocorreram com o passar do tempo, não só na estrutura social, política e econômica da sociedade, mas também nas concepções filosóficas e na análise sobre a realidade. A relação entre a sociedade e a pessoa deficiente passa a ser classificada como Paradigma da Institucionalização. Após o surgimento do primeiro hospital psiquiátrico, houve uma proliferação de asilos, conventos e demais instituições para confinar o deficiente. Para Aranha (1995) tais instituições assemelhavam-se a prisões e não objetivavam tratamento algum. Ficavam em total isolamento da sociedade, visando à proteção, tratamento e educação. Esse paradigma permaneceu hegemônico por cerca de 500 anos. A proposta metodológica do pedagogo alemão Fröebel (1782-1852) exigia uma revolução na organização escolar funcional e física, pois requeria materiais especiais. A partir de 1840, foram criados os “jardins de infância”. Assim, surgiu um sistema de educação para os pequenos, cujos essenciais princípios são: cada criança tem sua individualidade, que deve ser respeitada; deve desenvolver-se livremente; usar a observação; o movimento; a ocupação, o espaço; as ocupações manuais e o jogo. A proposta baseava na premissa de que educação se inicia antes dos seis anos de idade. Com o passar do tempo, a preocupação com a instrução da pessoa deficiente altera-se. (FRÖEBEL 2001) As idéias do padre espanhol Juan Pablo Bonet (1633-1753) tiveram grande repercussão, principalmente na Inglaterra, França, Alemanha e Itália, criou um trabalho com os surdos, usando a mímica, e esta se espalhou rapidamente por toda Europa. As propostas de cuidado e educação, nas instituições, originaram-se na Europa e espalharam-se até o continente americano. Pouco depois, na França, é criado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos pelo abade Carlos Miguel María de I’Epée (1712-1789). Maria Montessori, na Itália, na primeira década do século XX, carregava algumas características dos “jardins de infância” de Fröebel, os fundamentos dos trabalhos dos médicos Jean Marc Gaspard Itard. (1774 – 1838) e Édouard Séguin (1812-1880). Criou, assim, vários materiais pedagógicos que são utilizados até hoje. Escreveu uma extensa obra e seu método se espalhou pelo mundo por respeitar as diferenças individuais e pela atividade do aluno. Este também era responsável pela higiene e limpeza das salas de aula. No século XIX, a pessoa deficiente passa a ser considerado “ser humano”, e, na metade desse século, passa a ser considerado potencial produtivo para o mercado de trabalho. Nas várias escolas e nos asilos, onde 255 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 eram estimulados, os deficientes demonstravam alguma capacidade de aprender, principalmente tarefas manuais simples, quando formalizadas e gradativamente treinadas. (FRÖEBEL 2001) As instituições sociais existem na sociedade ocidental, desde o século XV e, apenas no início da década de 1960, há um exame crítico da sua proposta de atuação e eficácia. A institucionalização distancia a pessoa com deficiência da sociedade, impondo uma rotina de vida difícil de ser revertida. Para Aranha (2001), após a publicação de Goffman (2005), vários outros autores iniciaram investigações e publicações sobre as peculiaridades da institucionalização total e seus efeitos nos seres humanos. As publicações criticavam a proposta de institucionalização total, pois consideravam ineficientes e inadequadas, assim concluíram que não favorecia a recuperação da pessoa deficiente para a vida em sociedade. São utilizados castigos físicos, degradações, humilhações e ignora-se a autoidentificação: as pessoas perdem seus nomes e são conhecidas por números, suas vestes são todas iguais, proporcionando a deformação pessoal. Ao sair da instituição, a pessoa era incapaz de viver em sociedade, quando tinham a sorte de sair. A partir de 1960, houve uma essencial mudança de padrão referente á relação entre a sociedade e a pessoa deficiente. O Paradigma de Serviços baseou-se na ideologia da normalização com a premissa de introduzir a pessoa deficiente na sociedade, colaborando e ratificamos, para que esta adquira condições, padrões de vida cotidiana “normal”. Na década de 1970, com a emersão desse paradigma houve uma fusão das pessoas consideradas normais com as deficientes. (BRASIL, 2000) Desse modo, acredita-se que a pessoa com deficiência tem o direito de conviver socialmente com as demais; para isso, é necessária a adoção de serviços especializados (e/ou diferenciados). A luta (em defesa dos direitos humanos e civis das pessoas com deficiências) ganhou espaço nas e pelas contradições do sistema socioeconômico e político vigente que pregava a diminuição da responsabilidade social do Estado, fomentando o avanço da integração social. (ARANHA, 2001) O referido Paradigma valoriza a diversidade e defende que todos têm direito à convivência de maneira não segregada e garante o acesso aos recursos disponíveis para o exercício da cidadania. Vale ressaltar que a proposta do Paradigma de Suportes abrange a atuação em diferentes instâncias da sociedade, como a família, a escola e a comunidade em si, por meio de complementação ao processo de intervenção da pessoa deficiente. O Paradigma de Suportes baseia-se na idéia da inclusão e pressupõe intervenções e ações bilaterais: no desenvolvimento do sujeito e no reajuste da realidade social a que pertence. As transformações relacionadas ao atendimento educacional da pessoa com necessidade especial ganharam impulso a partir do século XX, com os movimentos sociais que objetivavam a igualdade entre todos, combatendo a discriminação. Essa proposta foi incorporada pela escola regular, que passou a proporcionar e facilitar o acesso desses alunos. Foram abertas, potencialmente, as portas para a diversidade no interior da escola. (BRASIL, 2000) Acredita-se que as oportunidades educacionais das pessoas especiais caminharam paralelamente à ampliação das oportunidades educacionais da população em geral. Não há como desarticular educação escolar e educação especial, pois, apesar de caminharem paralelamente, cruzam-se constantemente. (BRASIL, 2000) A educação inclusiva é aqui entendida como reestruturação das escolas, de modo que atendam às necessidades de todas as crianças. O que necessitamos, no momento, dever-se-ia ter como premissa o planejamento de atividades para pessoas deficientes e não deficientes, rompendo com as práticas excludentes e discriminatórias. (BRASIL, 2000) 256 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 É no grupo social do qual o sujeito humano faz parte que este tece suas percepções de mundo, é nele que socialmente constrói sua linguagem, sua identidade e o sentimento de pertencimento a esse grupo, fazendo sua inscrição na cultura. Também aprende o sentimento de valoração de acordo com os padrões do grupo e em interação dá significado às suas vivências que vão constituindo-se num banco de dados objetivos e subjetivos ao qual se reporta no dia-a-dia e que alicerçam a sua aprendizagem e o constituem como sujeito. É a experiência vivenciada no grupo que está na base da construção e produção do conhecimento como aborda Marques (2006, p. 21) À base da experiência do gênero humano se inserem os sujeitos em seu mundo da vida e o reconstroem ao nele se relacionarem entre si e com suas objetivações de maneira ainda não tematizadas, isto é, não fracionada pelas abstrações discursivas, pano de fundo e suporte, no entanto, por elas suposto. Coloca-se, assim, o mundo da vida como anterioridade primeira, onde se alicerçam as aprendizagens e se efetivam e onde radica, em sua unidade, o processo de socialização/individuação e da singularização do sujeito. 2- EDUCAÇÃO E AS ESCOLAS INCLUSIVAS Tudo começa na escola. Na escola a criança se depara com outras crianças e interage de forma direcionada. Na escola ela é observada, analisada, qualificada e avaliada. Também é estimulada e conduzida a aprender. Enquanto algumas são brilhantes, conseguem atender de pronto às expectativas, realizam atividades, superam a si mesmas sem ao menos tomar conhecimento disso, outras têm que se esforçar, sair do aprendizado natural, buscar atalhos para serem instruídas. (SMOLKA; LAPLANE. 2005). Outras ainda acabam abrindo mão de aprender, por simplesmente não assimilar, não decifrar, não acompanhar tudo aquilo que está acontecendo à sua volta. Enquanto esta luta não é perceptível não incomoda, mas quando passa a ser sacrificante é porque foi descortinada. Quando a auto- imagem é arranhada começa um processo que pode levar ou a caminhos introspectivos ou a caminhos de reação. “Somos responsáveis pela construção de uma sociedade melhor, se observamos que, a partir das garantias previstas em leis e da multiplicidade de fundamentações teóricas, embasadas no desenvolvimento das diferentes formas de respeito à natureza humana, propõe ao educador ser mediador de tais saberes e a escola como favorecedor do desenvolvimento, podendo levar a criança ao ápice de sua condição individualizada de interação, e superação de suas dificuldades.” (SMOLKA; LAPLANE. 2005). Cabe ao professor “olhar” individualmente, reconhecer a dificuldade e intervir junto aos alunos que apresentem quaisquer sintomas ou reações que estejam substituindo ou compensando de forma negativa a dificuldade na aprendizagem. Definindo educação inclusiva percebe-se que a mesma requer uma prática pedagógica coletiva, dinâmica e flexível, requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação humana dos professores e nas relações família-escola. (FREITAS, 2007) 257 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A inclusão não significa tornar todos iguais, mas respeitar as diferenças. Isto exige a utilização de diferentes métodos para se responder às diferentes necessidades, capacidades e níveis de desenvolvimento individuais. A educação especial, no entanto, refere-se às crianças com deficiência em escolas especiais, tendo como instrumento o ensino integrado. (Freitas, 2007). As previsões históricas da educação especial não têm se desenvolvido igualmente em todos os países, e consequentemente mostra uma visão histórica global que não corresponde á evolução de cada sociedade quanto à educação da pessoa com deficiência. Existia uma relação que era de exclusão e segregação, estas eram totalmente ignoradas, evitadas, abandonadas, quando não eram eliminadas, prática socialmente aceitas naquele contexto histórico. (FREITAS, 2007). Para Inclusão devemos utilizar todos os elementos da escola, com o passar do tempo criaram-se várias escolas especiais e classes especiais buscando a integração do deficiente no meio social. Porém estas classes eram separadas das classes regulares o que evidenciavam mais ainda as deficiências. (OLIVEIRA, 2007). Entre as décadas de 1970 e 1980 reconhecendo a dificuldade da educação especial em seu propósito de atender e incluir de maneira correta os deficientes, as políticas e práticas em educação passaram por grandes mudanças. Lutam pela mudança aqueles que não encaram a ordem social como garantia de privilégios para uns poucos. Ás custas da maioria, mas como garantia de igualdade de direitos e deveres e de vida digna para todos. Através de vários processos o primeiro passo foi de incluir os alunos deficientes no ensino regular, focando o biológico da avaliação e intervenção, visando às dimensões sociais e educativas, buscando uma concepção mais humanista da deficiência. Surge assim a educação inclusiva que acabou por se estender a todo o meio educativo, público e privado, amparado por lei (OLIVEIRA, 2007). Tal movimento exigiu e ainda exige grande e fundamental reestruturação do sistema educacional, que vai da administração à sala de aula, passando pelos aspectos físicos, de preparação de profissionais, de novas estratégias, da conscientização dos pais dos alunos e de muitos outros fatores. Neste aspecto quem pode ajudar é o psicopedagogo, para auxiliar na inclusão da criança deficiente no ensino regular, elaborando um processo dinâmico cujo objetivo principal é o de encontrar as melhores situações para que cada aluno se desenvolva dentro de suas potencialidades (OLIVEIRA, 2007). Sabemos que muitas escolas, quase em sua totalidade, têm recursos extremamente reduzidos, mas não podemos desistir. Mas não podemos esquecer o papel o profissional da educação que deve buscar estratégias para que a aprendizagem aconteça. 3 - A EDUCAÇÃO FÍSICA Para a real aprendizagem em sala de aula é necessário um envolvimento, criar situações de aprendizagem requer esforço, estratégias diferenciadas em especial no processo de inclusão, assim a educação física embasada nesse processo procura criar ações que facilitam as aprendizagens. Segundo (MACIEL, 2007) a inclusão escolar é um instrumento muito importante nesse processo. Não uma inclusão simplista que visa apenas à entrada do aluno especial na escola regular e desconsidera suas necessidades diferenciadas. Trata-se de uma inclusão real que tornará tais pessoas capazes de viver em sociedade, capazes de transformar o mundo em que vivem. Para autenticar esse processo é importante que aprendam a ler, escrever, contar e etc. Mas é mais importante ainda que tenham certa autonomia, para que possam comer sozinhos, irem ao 258 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 mercado, atravessar a rua, pegar ônibus, entre outros. São essas atividades que trarão melhorias à vida de cada uma dessas pessoas, que farão com que se sintam importantes, membros reais da sociedade em que estão inseridos. (MACIEL, 2007). Conforme a “Constituição Federal, Título VIII, da ORDEM SOCIAL a Educação Especial, como modalidade da educação escolar, organiza-se de modo a considerar uma aproximação sucessiva dos pressupostos e da prática pedagógica social da educação inclusiva, a fim de cumprir os seguintes dispositivos legais e político-filosóficos:” Artigo 208: III – Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV - § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público e subjetivo. V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; Art. 227: II - § 1º - Criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos. § 2º - A lei disporá normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência. 1.2 - Lei n°. 10.172/01. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras providências. O Plano Nacional de Educação estabelece vinte e sete objetivos e metas para a educação das pessoas com necessidades educacionais especiais. Sinteticamente, essas metas tratam: do desenvolvimento de programas educacionais em todos os municípios – inclusive em parceria com as áreas de saúde e assistência social – visando à ampliação da oferta de atendimento desde a educação infantil até a qualificação profissional dos alunos; das ações preventivas nas áreas, visual e auditiva até a generalização do atendimento aos alunos na educação infantil e no ensino fundamental; do atendimento extraordinário em classes e escolas especiais ao atendimento preferencial na rede regular de ensino; e da educação continuada dos professores que estão em exercício à formação em instituições de ensino superior. 1.3 - Lei n°. 853/89. Dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiências, sua integração social, assegurando o pleno exercício de seus direitos individuais e sociais. 1.4 - Lei n°. 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. A autonomia e a reflexão são a base para a construção da escola inclusiva o que significa uma escola de qualidade para todos, contribuindo assim para a melhoria do sistema educacional facilitando o acesso para todos os alunos, principalmente para os alunos com necessidades educacionais especiais. Essa autonomia é criada na educação física, pois é possível envolver a criança como um todo através dos jogos, tanto na ação motora como na aprendizagem. Assim o jogo é uma atividade lúdica em que crianças e adultos compartilham de uma situação de desenvolvimento social num 259 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 tempo e espaço determinado, com características próprias delimitadas pelas próprias regras de participação na situação imaginária. (KISHIMOTO, TIZUKO 2008). Enquanto fato social, o jogo assume a imagem, sentido que cada sociedade lhe atribui. É este aspecto que nos mostra porque, dependendo do lugar e da época, os jogos assumem significações distintas (KISHIMOTO, TIZUKO 2008). Para um educador consciente o jogo é muito mais que uma brincadeira, está ligada ao desenvolvimento de habilidades e conhecimento dos alunos. Os jogos utilizados em sala de aula não só possibilitam que as crianças desenvolvam seu raciocínio e capacidade de aprendizagem, como também permite que o grupo se estruture, ou seja, que as estabeleçam relações de troca e aprendam a esperar a vez de sua jogada, respeitando regras e aprendendo que podem ganhar ou perder. (KISHIMOTO, TIZUKO 2008). O jogo é caracterizado pelo o que se busca, do que o modo de como se brinca, o estado de espírito com que se brinca. Isso leva a dar muita importância à noção de interpretação, ao considerar como lúdica. (KISHIMOTO, TIZUKO 2008). Não existe atividade lúdica sem regras, porque a situação imaginaria de qualquer brinquedo já possui regras de comportamento, mesmo não apresentando as regras explicitas como num jogo. Ele também complementa que Há dois grupos de jogos: jogos de enredo e jogos de regras. O de enredo tem recebido varias denominações, tais como: jogo imaginativo, faz de conta, de papeis, simbólico ou sócio dramático. No de regras a situação imaginária está subentendida e as normas orientam o jogo. O uso do jogo potencializa a construção do conhecimento, motivação interna típica do lúdico, mas o trabalho pedagógico, a oferta de estímulos externos e a influencia de parceiros bem como a sistematização de conceitos em outras situações que não dos jogos. (VYGOTSKY 2008) As atividades com jogos possibilitam uma situação favorável, despertando o interesse das crianças, não simplesmente, pelas matérias que estão presentes, mas, principalmente, pelo desafio das regras postas em cada momento, em cada jogo, em cada brincadeira. O jogo é brincar em um contexto de regras e com um objetivo predefinido. São mais adequados para o desenvolvimento de habilidades de pensamento do que para o trabalho com algum conteúdo específico. Para Piaget (1976) “O jogo é a construção do conhecimento”. Através dos jogos desenvolvemos a sua linguagem, o pensamento e a criatividade preparando-se para ser um cidadão de bem e contribuir para um futuro melhor para a humanidade. Macedo (2005) descreve “o jogo é um dos sucedâneos mais importantes do brincar. O jogo é o brincar em um contexto de regras e com um objetivo predefinido. [...]” Acreditando sim que é possível buscar inovar, criar novos métodos para serem aplicados dentro da sala de aula para que os alunos sejam os maiores beneficiados, com o aprendizado, tentando criar situações da imaginação do raciocínio, da atividade motora, da lógica das exatas, são diversas áreas que trabalham juntas. Na área de educação física, por exemplo, é como montar um jogo, interagir e agir. (SASSAKI, 1997) A escola deve cumprir seu papel de inclusão social nas práticas pedagógicas da Educação Física presente nas instituições escolares que apresentam propostas inclusivas, em seu Projeto Político Pedagógico. Se partíssemos de uma análise histórica acerca do tratamento social às “pessoas portadoras de necessidades especiais”, teríamos um panorama histórico repleto de lutas. Ao longo da história da humanidade, em diferentes contextos sociais, o preconceito a essas pessoas tornou-se um fato. Diante de normas de condutas e de valores, de crenças e idéias estabelecidas e fixadas nas sociedades, pessoas “normais” foram rotuladas como “anormais” apenas por serem diferentes. (GOFFMAN, 1978) 260 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Alguns autores refletem sobre o problema da deficiência em muitos aspectos, pois reflete a maturidade humana e cultural de uma comunidade. Claramente há uma relação cultural, baseada no julgamento que distingue entre ‘deficientes’ e ‘não-deficientes’. Essa relação obscura, delicada, sutil e confusa, de alguma forma, ‘afasta’ ou ‘exclui’ os ‘indesejáveis’, cuja presença ‘ofende’, ‘perturba’ e ‘ameaça’ a ordem social. (FONSECA, 1995) Assim a escola deve ser um eixo norteador no processo de incluir o aluno na aprendizagem a educação física valoriza essa inclusão quando estimula e apoia em atividades todos os seres. O adulto fixa as normas e facilita ou não o acesso a elas. Quando a criança tem dificuldades em satisfazer as normas desejadas, o adulto elabora um julgamento sobre ela e nunca sobre si próprio, adotando uma relação de poder, certo tipo de colonização e um esquema de conformidade. (FONSECA, 1995). O que se percebe neste contexto é que, muitas vezes, o pré-juízo em volta de uma criança dita especial é algo que persiste em uma instituição que nasceu da luta contra os fatores que tendem a limitar suas potencialidades. Está aí uma contradição que se torna um problema pedagógico, uma vez que os professores inseridos em uma sociedade que propaga ideias preconceituosas e desumanas, terão que estar atentos à forma de trabalho e de se relacionar com essas crianças, evitando as ideias pré-concebidas sobre seus alunos que, certamente, não correspondem com a realidade. Diante deste obstáculo pedagógico, a professora de educação física expõe suas experiências a esse respeito. (FONSECA, 1995) Sendo assim, a educação resgata o seu verdadeiro papel de humanização dos homens, reconhecendo a relação dialética dos homens entre si, relação a ser pensada, questionada e constantemente construída; enfim, pensando o homem como ser no mundo, pensando as crianças “portadoras de necessidades especiais” dentro desse mundo na educação como prática da liberdade. (FREIRE, 1987) A Educação Física deve também se comprometer com o aluno, sendo não apenas constituído de um corpo físico a ser trabalhado e desenvolvido em suas potencialidades, mas, também, como um ser histórico e social, que vive em uma realidade onde o faz pensar de determinada forma. (FREIRE, 1987) Considerando todos os aspectos das crianças, a educação física trará contribuições que vão além de proporcionar prazer e uma melhor qualidade de vida a essas crianças em um momento presente, trará contribuições históricas e sociais na modificação da forma de se pensar e ver essas pessoas especiais, retirando-as de uma concepção de homem e de aluno como “coisa”, de mundo como “dado”, de educação como “bancária”, e inserindo-as em uma concepção de homem como sujeito, de mundo como processo histórico e de educação como pratica problematizadora. Enquanto na concepção “bancária” o educador vai “enchendo” os alunos de falso saber, que são os conteúdos impostos, na prática problematizadora, vai os alunos desenvolvendo o seu poder de captação de compreensão do mundo que lhes aparece, em suas relações com ele, não mais como uma realidade estática, mas como uma realidade em transformação, em processo. (FREIRE, 1987). É importante salientar que a atividade física se adéqua às necessidades de cada um, valoriza, integra à realidade, obtém autonomia, autoconfiança e liberdade, tudo isso representado pela inclusão que o professor de Educação Física Escolar fará com as pessoas portadoras de necessidades, em especial à deficiência física em suas aulas. (EDLER, 1998). Como podemos perceber a convivência com pessoas portadoras de necessidades especiais é marcada, em cada época da história, por atitudes discriminatórias gerando sempre representações preconceituosas. Ser portador de alguma deficiência física natural ou adquirida por algum acidente 261 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 merece sem dúvida uma atenção especial, seja no campo pessoal, familiar, ou ainda no campo social. (EDLER, 1998). Na imaginação do deficiente, quando a escola trabalha com a prática de esporte, pode significar uma forma de mostrar suas deficiências, retirando-o da convivência com os outros, significando sacrifício e exclusão. Por outro lado, pode também significar uma qualidade de vida melhor, por lhe trazer prazer e, ser sentida como uma prática que não desconsidera sua deficiência e seus limites, mas sim, dar mais importância á sua eficiência e possibilidades. (REVISTA DO ÓRGÃO OFICIAL DO CONFEF, 2003) A condição de igualdade social na maioria das vezes não está presente no dia a dia do deficiente físico. No ambiente escolar nem todos conseguem uma vaga em uma instituição com serviço educacional adequado, ou seja, com serviços especializados, acessibilidades para todos, em classes adequadas à idade, a fim de prepará-los para uma vida autônoma como membros plenos da sociedade. (REVISTA DO ÓRGÃO OFICIAL DO CONFEF, 2003) Esses mesmos deficientes têm seus direitos garantidos pela legislação. O Estatuto da Criança o o e do Adolescente, entre outras determinações, estabelece, no § 1 do Artigo 2 : A criança e o adolescente portadores de deficiências receberão atendimento especializado. o O ordenamento do Artigo 5 é contundente: Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.” 1.5 - Lei n°. 9.394/96. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Art. 4º, III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Art. 58. “Entende-se por educação especial, para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica, para atender às suas necessidades; II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino regular. 262 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Mas a garantia desaparece, quando perante tantos desafios, os prejudicam no exercício de sua cidadania, desanimam e se acomodam a condição estabelecida pela sociedade. O preconceito e a discriminação se fazem concretos, pois suspeitamos que, por estarem presentes em toda parte, a sociedade desconhece como tratar essa diferença. (REVISTA DO ÓRGÃO OFICIAL DO CONFEF, 2003) Para promover a inclusão na escola, de forma responsável e competente o professor Educação Física deve sempre se preocupar em oferecer e possibilitar condições de auto segurança elaborando práticas educativas em ambientes com (piso, iluminação, sonorização), materiais adequados (textura, tamanho, peso, tempo de uso) e vestimentas adequadas e seguras. Possibilitando assim ao deficiente físico, atividades que garanta e desenvolva seu autoconhecimento, criando condições para que realize os movimentos de forma correta, percebendo como os faz. (REVISTA DO ÓRGÃO OFICIAL DO CONFEF, 2003). Se obtivermos uma educação física própria aos deficientes, mostraremos à sociedade que independentemente de alguma deficiência ou não, é capaz de, incondicionalmente ampliar suas possibilidades praticando qualquer atividade física, desde que ele tenha apoio, para que assim ninguém os olhe com compaixão. MATERIAIS E MÉTODOS Com base em todo o texto, em pesquisas de artigos e revistas foi realizado uma pesquisa estruturada em 7 escolas estaduais do município de São José do Rio Pardo-SP, onde foi utilizado um questionário elaborado diante de algumas dúvidas que surgiram durante o desenvolvimento do trabalho , o mesmo foi respondido pelos professores (as) de Educação Física juntamente com o responsável da escola. Este questionário teve como objetivo coletar dados sobre as condições de acesso e permanência dos deficientes no ambiente escolar e se as mesmas estão preparadas para receber e atender bem esses alunos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das 7 escolas visitadas, como podemos perceber no gráfico abaixo 4 tem alunos com alguma deficiência física ou seja 57% delas. (Figura1) 263 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Há alunos deficientes na escola? sim 43% não 57% Gráfico 1. Distribuição quanto à presença de alunos Portadores de Deficiência Física, nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP Como mostra a (Figura 2) das 4 escolas com a existência de deficientes, 7 são mulheres e 3 são homens. Quantos alunos são? 30% Mulheres Homens 70% Gráfico 2. Distribuição quanto à Quantidade de alunos Portadores de Deficiência Física, nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP. Os alunos portadores de deficiência física têm capacidade cognitiva semelhante á dos outros colegas e podem realizar as atividades com bom desempenho desde que as limitações físicas sejam contornadas. Na Figura 3, mostra a predominância das deficiências. 264 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Qual deficiencia predomina? fisica visual 11% auditiva 11% 45% multipla 11% intelectual 22% Gráfico 3. Distribuição quanto à predominância de alunos Portadores de Deficiência Física, nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP A grande limitação é o deslocamento na escola, na maioria dos casos há dificuldades em relação á acessibilidade na escola, com a falta de rampas e/ou elevadores, banheiro adequado e sinalização. (Figura 4). A escola esta preparada(infra-estrutura e/ou material humano) para atender as pessoas com necessidades especiais? As aulas estao prontas para dar acessibilidade ao deficiente? sim, 14% não, falta infraestrutura e capacitacao dos professores 86% Gráfico 4. Distribuição quanto à preparação da escola e das aulas, nas escolas 265 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Estaduais de São José do Rio Pardo-SP Nas 7 escolas estaduais visitadas, metades dos profissionais que responderam ao questionário, disseram que para atender bem os alunos com deficiência precisa haver melhorias na estrutura física da escola, 30% deles diz não ter materiais adequados e 20% que os professores precisam ser melhor capacitados para assim conseguir dar atenção adequada a cada tipo de deficiência.(Figura 5) O que poderia melhorar na escola para atender as pessoas com necessidades? melhorar a estrurura fisica 20% aquisicao de mateial adequado 50% 30% capacitar melhor professores Gráfico 5. Distribuição quanto à preparação da escola e das aulas, nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP Conforme mostra os gráficos acima, o objetivo da pesquisa foi analisar quanto à presença dos portadores de deficiência nas escolas estaduais de São José do Rio Pardo-SP, se os mesmos estão em condições adequadas exigidas por lei. É muito importante que a escola tenha uma estrutura para receber esses alunos, mas é grande importância que estes alunos tenham um acompanhamento especial com um profissional treinado e capacitado para entendê-los e ajudá-los nesse processo de inclusão perante a sociedade. A inclusão é um processo que exige transformações, pequenas e grandes, começando pela própria pessoa com necessidades especiais, indo até o órgão publico responsável. Com objetivo de se alcançar uma sociedade compreensiva e cooperativa, onde aceita e valoriza as diferenças individuais de cada um e aprenda a conviver com a diversidade humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS Lutar pela inclusão social na escola regular presume uma grande mudança no sistema educacional. Isto implica em uma maior adequação, com modificação das formas de ensino, metodologias e avaliação. Como mostra à pesquisa a necessidade no desenvolvimento dos professores, adequação de estruturas físicas que facilitem o acesso e a movimentação de todas as pessoas. Fazer com que a Inclusão esteja presente, é um desafio sem perdermos o foco nas 266 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 oportunidades, garantindo o desenvolvimento da aprendizagem, e principalmente o desenvolvimento total do indivíduo em formação. Através da pesquisa obtivemos o resultado que mostra que grande parte dos professores não estão preparados para desenvolver estratégias de ensino diversificado, mas também falta um direcionamento por parte da escola, pois a mesma na sua maioria não tem materiais adequados e nem ao menos infraestrutura para atender aos deficientes de forma justa e digna. Cabe a cada profissional encarar esse desafio de forma única contribuindo assim com o inicio da inclusão no espaço escolar, obtendo avanços e transformações. Conclui-se então a realização de ações onde cabe aos professores fazer da prática pedagógica o favorecimento da aprendizagem de todos os alunos envolvidos no processo de inclusão. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Salete Fábio. Integração Social do Deficiente: análise conceitual e metodológica. Temas em Psicologia, n. 2.1995. ARANHA, Maria Salete Fábio. “Educação Inclusiva: A Família”- 2 ed. - Brasília, MEC, Secretaria de educação Especial, 2006. BRASIL. Projeto Escola Viva: garantindo o acesso e a permanencia de todos os alunos na escolaAlunos com necessidades educacionais especiais. Brasilia Ministerio da Educacao; Secretaria da Educacao Especial, 2000. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), 1996. ______. Parecer CNE nº. 017/2001. Conselho Pleno do Conselho Nacional de Educação. Brasília, 2001. 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Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. Ed. Editora LTC: Rio de Janeiro, 2005 KISHIMOTO, “O brincar e suas teorias”, organizadora Tizuco Morchida Kishimoto, São Paulo: Cengage Learning, 2008. MACEDO, Lino de; PETTY, Ana Lúcia Sícoli; PASSOS, Norimar Christe. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto Alegre: Artmed, 2005. 267 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 MACIEL, Maria Regina Cazzaniga. Portadores de Deficiência: a questão da inclusão social. In: www.scielo.br/pdf/spp/v14n2/9788.pdf. Acessado dia 15 de maio 2013. MARQUES(1), Mário Osório. Saberes e valores em interlocução na educação. 2. Ed. Ijuí:Unijuí e Inep, 2006. OLIVEIRA, A. A. S. Um diálogo esquecido – a vez e a voz de adolescentes com deficiência. Londrina: Práxis, 2007. OLIVEIRA, A. A. S. Estratégias para o ensino inclusivo na área da deficiência intelectual: alguns apontamentos. IV CONGRESSO BRASILEIRO MULTIDISCIPLINAR EM EDUCAÇÃO ESPECIAL. Londrina - Pr, 29 a 31 de outubro de 2007. PIAGET, Jean. Psicologia e pedagogia. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, [1969], 1976. REVISTA DO ÓRGÃO OFICIAL DO CONFEF ano ll nº08 agosto 2003. Educação Física e Portadores de Deficiências,2003 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. SMOLKA, A .L. B; LAPLANE, A. L.F. Processos de Cultura e Internalização. Lev Semenovich Vygotsky. São Paulo, v.2, p.76-83, 2005. VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. S. P.: Martins Fontes, 2008. 268 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA E OS MALEFÍCIOS DA FALTA DE EXERCÍCIO FISICO NA VISÃO DOS PAIS E DOS ALUNOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL 1 SOUZA, Leslisleine Jandira Moraes de 2 1 LUCIO, Roque Graduada em Educação Física – Licenciatura Plena pela Faculdade Euclides da Cunha 2 Orientador. Professor Doutor da Faculdade Euclides da Cunha INTRODUÇÃO A prática de esportes e exercícios físicos é recomendada por especialistas para o desenvolvimento do corpo e da mente e o incentivo deve começar desde a infância. As crianças estão aptas para o esporte logo nos primeiros meses de vida. Com cinco ou seis meses, assim que conseguem movimentar bem os braços e as pernas, já podem começar o seu envolvimento com o mundo esportivo, porexemplo, nesta fase é indicada a natação que estimula o desenvolvimento neuromotor, fortificação da musculatura, aumento da capacidade cardíaca, além de ajudar crianças com problemas respiratórios (ALOBEBÊ, 2011). O mais importante é manter o esporte como forma de ocupação e desenvolvimento da criança. Se ela vai ou não se destacar na sua modalidade só o tempo e as consequências podem dizer. Se os treinos não servirem para que ela alcance grandes performances, ao menos podem torná-la mais saudável física e mentalmente, e menos suscetível ao mundo das drogas, entre outros problemas sociais (ALOBEBÊ, 2011). O importante é a criança ser ativa em relação à atividade física, e ela levar isto para a vida toda como um hábito, por que senão a criança se torna sedentário e com muitas complicações para a saúde. A atividade física pode ser entendida como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético (CASPERSEN, 1985 apud. MILBRADT, et. al. 2009), tendo componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, lutas, danças, esportes, exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos (PITANGA, 2002 apud. MILBRADT, et.al. 2009). As preferências alimentares das crianças, assim como as práticas de atividades físicas são influenciadas diretamente pelos hábitos de vida dos pais, que muitas vezes persistem na idade adulta, reforçando a hipótese que fatores ambientais são decisivos na manutenção de hábitos de vida saudáveis (OLIVEIRA et. al., 2003 apud SOUZA JR, 2010). Uma tendência ao sedentarismo demonstrada pelos estudos analisados foi à permanência na frente da televisão, do computador ou do vídeo game, tanto no período de aulas como no período de férias (MILBRADT et. al., 2010, apud AGUIAR, 2011). É muito comum vermos crianças obesas com uma alimentação totalmente imprópria e desequilibrada com uma rotina onde o computador, o vídeo game, toma o lugar do correr, saltar, brincar como era feito décadas atrás, pois, antigamente não tinha tanto este tipo de tecnologia. É necessário que os pais e os profissionais da Educação Física estejam atentos e preparados para agir 269 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 em conformidade com as mudanças do meio, sempre fazendo com que a criança conheça os benefícios que a atividade física traz na sua vida. Benefícios esses que ajudarão a formar seu caráter e direcionar a vida de outras pessoas que interagem com eles. Por isso, estimulá-las a serem fisicamente ativas é algo que não pode ser deixado de lado. Este trabalho tem por objetivos levantar os malefícios da ausência de prática de exercício físico para crianças do6º ano do ensino fundamental, na visão dos pais, bem como analisar o benefício da prática da atividade física para a faixa entre 11 a 14 anos, na visão dos alunos. A metodologia utilizada neste presente trabalho foi qualitativa cujos procedimentos de pesquisa baseiam-se em aplicação de questionários, em alunos da faixa etária considerada e seus pais, com o intuito de verificar os malefícios e benefícios da atividade física, apurados na literatura especializada na temática. CAPÍTULO I DEFINIÇÕES E TIPOS DE ATIVIDADE FÍSICA 1.1 - DEFINIÇÕES A atividade física pode ser entendida como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético (CASPERSEN, 1985apud MILBRADT,al. 2009), tendo componentes e determinantes de ordem biopsicossocial, cultural e comportamental, podendo ser exemplificada por jogos, lutas, danças, esportes, exercícios físicos, atividades laborais e deslocamentos (PITANGA, 2002 apud MILBRADT,et.al. 2009). Para se entender melhor a definição de atividade física é preciso trazer alguns conceitos primordiais: Exercício físico: atividade física organizada, planejada, estruturada, que tenha por objetivo melhorar algum componente da aptidão física (CASPERSEN, POWELLet. al. 1985 apud. HALLAL CURI 2005). Sedentarismo: ausência de atividades físicas (PATE, FREEDSON et.al. 2002 apud. HALLAL CURI 2005). Aptidão física: características que, em níveis adequados, possibilitam maior energia para o trabalho e o lazer, proporcionando paralelamente, menor riscosde desenvolvimento de doenças ligadas ao sedentarismo (NAHAS 2003, apud. HALLAL CURI 2005). Atividade: Quando refere-se a movimento, são as habilidades motoras como andar, correr, levantar, empurrar, etc, e seus relacionamentos funcionais com o meio ambiente. Ela é somente considerada do ponto de vista funcional e estrutural. No sentido de movimento ela é sempre acompanhada do adjetivo ´´física´´ para distinguir da atividade cognitiva e da atividade mental. Num sentido mais amplo ela é considerada como toda a ação muscular produzida pelos músculos esqueléticos, que provoca um gasto deenergia. (BARBANTI, 1994). Atividade física: O termo refere-se à totalidade de movimentos executadas no contexto do Esporte, da Aptidão Física, da Recreação, da Brincadeira, do Jogo e do exercício. Num sentido mais restrito é todo movimento corporal, produzido por músculos esqueléticos, que provoca um gasto de energia. (BARBANTI, 1994). Feitas estas primeiras considerações analisemos a atividade física durante o processo de evolução da humanidade. 270 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Pitanga (2002), em seu trabalho sobre “Epidemiologia, atividade física e saúde” diz “que se retornarmos aos primórdios da humanidade, podemos dizer que durante o período que se convencionoupré-histórico o homem dependia de sua força, velocidade e resistência para sobreviver”. E que, suas constantes migrações em busca de moradia faziam com que realizassem longas caminhadas ao longo das quais lutavam, corriam e saltavam, ou seja, eram uns seres extremamente ativos fisicamente. Mais tarde, na antiga Grécia, a atividade física era desenvolvida na forma de ginástica que significava “a arte do corpo nu”. Estas atividades eram desenvolvidas com fins bélicos (treinamento para guerra), ou para treinamento de gladiadores. A atividade física escolar na forma de jogos, danças e ginástica surge na Europa no início do século XIX. A partir daí, surgem diversos métodos de exercícios físicos propostos por diferentes autores. No Brasil, especificamente, os programas de educação “atividade” física têm início alicerçados em bases médicas, procurando formar o indivíduo “saudável” com uma boa postura e aparência física. Posteriormente, com a implantação do estado novo, na década de 1930, surge a tendência militar nos programas de atividade física escolar, privilegiando a eugenia da raça. Em seguida, no final da década de 1940, inspirada no discurso liberal da escola-nova a Educação Física iniciou o seu ingresso na área pedagógica. Mais tarde, a partir dos anos 1970, influenciado pelo sucesso de algumas equipes desportivas no exterior, surge a tendência esportiva na educação Física, em que o pressuposto básico era formar equipes desportivas competitivas. Percebe-se desta forma, que a atividade física relacionada à saúde nunca chegou a ser privilegiada no contexto da Educação Física nacional (PITANGA, 2002). O que se vê quando analisamos a evolução da atividade física ao longo da evolução histórica do homem, é que esta sempre esteve presente no dia do homem mostrando-se de pouca importância. E mais, o que antes, era usado para fins, tão somente para fins artísticos, para sobrevivência em guerra, hoje é usado também, para se obter uma vida saudável e prolongar a vida. O homem começou a enxergar na atividade física a sensação de bem-estar que esta lhe proporcionava e as melhorias em sua saúde quando realizava as atividades. 1.2- Tipos de Atividades Físicas / exercícios físicos Existem dois tipos de atividades físicas/exercícios físicos: aeróbica e anaeróbica. No exercício aeróbio o oxigênio funciona como fonte de queima dos substratos que produzirão a energia transportada para o músculo em atividade. O exercício aeróbio é um exercício de longa duração, contínuo e de baixa e moderada intensidade. Estimula a função dos sistemas cardiorrespiratório e vascular e também o metabolismo, porque aumenta a capacidade cardíaca e pulmonar para suprir de energia o músculo a partir do consumo do oxigênio (daí o nome aeróbio). São exemplos de exercícios aeróbios: caminhar, correr, andar, pedalar, nadar, dançar. Estes exercícios utilizam vários grupos musculares ao mesmo tempo. Nestes exercícios, a duração dos movimentos influencia mais do que a velocidade para caracterizar se a atividade é suave, moderada ou exaustiva. O exercício anaeróbio utiliza uma forma de energia que independe do uso do oxigênio, daí o termo anaeróbio. É um exercício de alta intensidade e curta duração. Envolve um esforço intenso realizado por um número limitado de músculos e há produção de ácido lático. São exemplos de exercícios anaeróbios, os exercícios de velocidade com ou sem carga, de curta duração e alta intensidade, como a corrida de cem metros rasos, os saltos, o arremesso de 271 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 peso. Exercícios de força ou exercícios resistidos, com peso como a musculação também é considerada um exercício anaeróbia (SOUZA, VALÉRIA, 2013). Segundo Szenészi (2002) no momento em que a criança inicia uma atividade física, juntamente com os benefícios físicos, ela obtém também benefícios sociais e psicológicos. Antes de qualquer expectativa quanto ao desempenho da criança, é fundamental o respeito à fase de desenvolvimento motor que ela se encontra, assim como sua maturação cognitiva e emocional. O esporte deve ser um prazer, uma brincadeira. Deve ser o momento de encontrar os amigos e se divertir e, junto com isso, aprender um esporte e desenvolver habilidades físicas. Segundo De Rose (2002, apud SZENÉZI), até os 6 (seis) anos a criança imita superficialmente as regras, mas comumente só existem vencedores e nenhum perdedor. Até os 11 (onze) anos, cria-se o gosto pela vitória sobre o oponente, respeitando rigorosamente a regra, sendo ainda muito importante o prazer pela atividade. Dos 11 (onze) anos em diante as regras são bem entendidas e seguidas, não tirando a possibilidade de elaborar novas regras próprias. De Rose2002, apud Szenészi, afirma ainda que até os 7 (sete) anos as atividades motoras são fontes de prazer e experiências de conhecimento de suas capacidades e limitações. A performance com significado social só ocorre a partir deste período e persiste até os 10 anos, persistindo porém a dificuldade de compreensão das relações causais de desempenho, sendo assim, atribuir relações causais incorretas às derrotas (dificuldade do jogo, falta de habilidade, falta de esforço, etc.) pode causar frustração e consequente falta de motivação. Assim, até aproximadamente os 12 (doze) anos, o esporte deve manter o foco na brincadeira, no lúdico, e a partir daí ser exigida mais atenção às regras e execução dos movimentos corretos. A escolha do esporte a ser praticado também deve partir da própria criança. Os pais podem sugerir que seu filho experimente esportes específicos, mas a escolha em continuar a atividade deve ser da própria criança. O importante é que a criança cresça ativa e desenvolva suas habilidades físicas e sociais. Na infância a criança precisa correr, saltar, andar, rolar, gritar, subir, lançar, etc. Desta maneira ela consegue extravasar suas angústias, torna-se mais feliz, comunicativa, disposta, sem falar no bem que está fazendo para a própria saúde evitando doenças como a obesidade, diabetes, osteoporose, dislipidemias, doenças pulmonares crônicas, asma, depressão, ansiedade, diminuindo o risco de aterosclerose e suas consequências como angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral entre outras. (ANDRADE NATÁLIA 2012 et. al.) Os pais precisam estimular e apresentar as modalidades que julgam ter o perfil do filho. O ideal é sentir que as crianças estão à vontade durante as atividades. O que se deve pretender é criar um hábito e interesse na prática de atividade física. Atividades físicas devem ser estimuladas desde os primeiros meses de vida para que os esportes sejam bem trabalhados no futuro. Para Marietto (2008) apud. Rosa Gomes; Pereira Roberto (2013)há atividades físicas para todos os gostos e faixas etárias. Mas a atividade nunca deve ser imposta pelos pais e sim o que a criança deseja. Segundo Givanildo Matias (2012), as crianças e adolescentes não tem muita paciência para atividades cíclicas ou repetitivas, as quais acham chatas e desmotivantes. A melhor opção é desenvolver atividades que sejam desafiantes, lúdicas e que possam contribuir em melhorias nas principais capacidades físicas, como: Coordenação motora e equilíbrio: no geral são atividades físicas mais complexas e desafiadores, que demandam aprendizagem, caso da natação, do futebol, do balé, do 272 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 handebol, do basquetebol, da ginástica olímpica, dos exercícios funcionais e das gincanas e brincadeiras. Força muscular: o trabalho muscular pode ser feito usando acessórios ou máquinas de musculação. Porém, o melhor método é o circuito, pois ele dá a impressão de que o tempo passa mais rápido. Flexibilidade: o alongamento tem de ser feito de uma forma diferente porque crianças e adolescentes não têm paciência. Uma das melhores alternativas é o alongamento dinâmico, onde é possível desenvolver a flexibilidade sem precisar ficar parado, tendo que manter um determinado movimento por alguns segundos. Aptidão cardiorrespiratória: essa é uma atividade que traz benefícios para o coração e também uma grande contribuição para a diminuição do peso. Uma boa opção é andar de bicicleta, patins ou skate, praticar natação ou outras atividades esportivas, em geral. Esteira, bicicleta ergométrica e elíptica também são uma boa opção, mas precisam de um método de trabalho diferenciado para não se tornarem repetitivas. Devido à dificuldade de encontrar locais que promovam um trabalho especializado para essa faixa etária, alguns pais têm investido em profissionais de educação física especializados, que atuam como personal trainers para crianças e adolescentes, realizando um trabalho individual ou até mesmo em grupo. Esses profissionais estão aptos a reproduzir o que era feito antigamente, mas de forma organizada, lúdica e com um objetivo específico: respeitar as condições de cada um. (MATIAS GIVANILDO 2012). Diante disso a conclusão que se chega, é que independentemente, da escolha de profissional adequado para acompanhamento da criança na prática dos exercícios físicos, os pais, podem contribuir para estimular o interesse da criança, uma simples brincadeira de jogar bola, já estará contribuindo para a prática de exercício. Os pais devem ter consciência de que as crianças que praticam qualquer modalidade física melhoram o seu desenvolvimento motor e a aquisição de habilidades de motricidade fina. Além de promover o crescimento, construir ossos e músculos fortes, manter e desenvolver a flexibilidade, promover a manutenção do peso adequado, melhorar o sistema cardiocirculatório e a postura, promover a oportunidade de amizades e convívio social, e auxiliar na auto - estima. Alguns exemplos de atividades físicas: O interesse varia de pessoa para pessoa, mas a idade também influencia na escolha do esporte. Os pequenos preferem atividades mais lúdicas, por exemplo. O expert no assunto, Fabiano Borsato (apud SANTOS, 2012), diretor da academia R. White Fitness Wellness,indica as modalidades de atividade física para cada faixa etária: Até 5 anos: -Natação: uma boa escolha desde os primeiros meses, já que a sensação se aproxima de quando o bebê ainda estava dentro do útero; -Ginástica artística: trabalha diferentes habilidades e a coordenação motora; -Ballet, taekwondo e judô: uma forma lúdica e relaxante para trabalhar a coordenação motora; -Bicicleta: perfeito para o desprendimento dos pais, um excelente exercício aeróbio e de equilíbrio; -Atletismo: indicado para trabalhar o equilíbrio e a coordenação motora; 273 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 De 6 a 11 anos -Futebol, futsal, vôlei, basquete, handebol, tênis, hóquei, vela, remo e Ioga; -Atividades que trabalham a coletividade e o condicionamento físico; De 12 a 15 anos -Alongamento, musculação, jumping, boxe, hip-hop, basquete e vôlei; -Competições de esportes coletivos que desenvolvam o senso de equipe; Acima de 16 anos -Ginástica localizada, running, bicicleta indoor e pilates; -Práticas que exigem concentração, esforço físico e habilidades específicas. Vale ressaltar que os pais e profissionais devem respeitar a faixa etária de cada criança e respeitar também o gosto da atividade física de cada uma, mais para frente quem vai decidir as atividades do gosto de cada um, são as crianças e adolescentes, o que os pais e profissionais tende a fazer é estimular para que eles façam qualquer tipo de atividade física o que importa é não ficar sedentário e fazer com que a atividade física faça parte da sua vida sempre. Segundo Matsudo e Matsudo (1999, 2000) apud. Assumpção Teles (2002) et. al. reiterem a prescrição de atividade física enquanto fator de prevenção de doença e melhoria da qualidade de vida. Os autores comentaram que a atividade física deve ser indispensável na vida de cada um, pois a atividade física previne doenças, e o indivíduo tem uma qualidade de vida muito mais saudável, tornado se assim a vida mais prazerosa. Mas e os pais não podem ajudar na prática de atividades físicas, sem procurar um especialista? Pelo que vimos anteriormente os pais podem e devem estimular seus filhos, veja alguns exemplos de brincadeiras que os pais podem fazer com seus filhos, já estando estimulando a prática de exercício: De 6 semanas a 1 ano – Estimular com brinquedos que emitam sons; brincar de esconder e encontrar objetos (um lenço, uma tampa de mamadeira ou qualquer coisa que estiver à mão e seja fácil de colocar embaixo de almofadas ou atrás do corpo do adulto); cantar músicas gesticulando bastante e incentivando o bebê a imitar, de preferência inserindo o nome do bebê na letra; espalhar brinquedos pelo ambiente para que ele se mova para alcançá-los. De 1 a 3 anos – Atividades que motivem a participação da criança, como teatro de fantoches ou de bonecos, que visem o equilíbrio, a flexibilidade e a independência, como dança livre ao som das músicas preferidas da criança. De 3 a 5 anos – Exercícios que envolvam correr, pular, chutar, agarrar ou dançar. Exemplos: chutar e agarrar bolas livremente, "Corre Cotia”, “Meu Mestre Mandou”, Pega-Pega,EscondeEsconde ou Estátua. De 5 a 8 anos – Atividades que, ao mesmo tempo em que envolvam correr, pular, agarrar e dançar, desafiem a criança. Exemplos: amarelinha ,passa-anel , corrida das cores (diz-se o nome da cor e a criança deve correr para tocar algo daquela cor), carrinho de mão (uma criança se apóia no chão com as palmas das mãos enquanto a outra a segura pelos pés para uma corrida) ou corrida de sacos. Mas e só isso basta? Não só isso não basta, os pais devem tentar mudar algumas atitudes simples, como deixar suas crianças fazerem as coisas por si mesmas (por exemplo, deixá-los subir na cadeira para crianças). Devem sempre incentivar os seus filhos a serem menos sedentários e participarem de atividade física. Por exemplo, os pais podem brincar com seus filhos antes de assistir televisão. Mas, não adianta só cobrar, também, deve por a mão na massa, os pais devem ser 274 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 exemplos para seus filhos, praticando atividades físicas regularmente também. E devem estar atentos ao uso adequado de equipamentos de proteção durante a prática esportiva da família. CAPITULO II MALEFÍCIOS DA FALTA DE ATIVIDADE FÍSICA E BENEFÍCIOS DE SUA PRÁTICA NA ESCOLA Segundo vários doutrinadores, que serão nomeados neste capitulo, a falta de atividade física pode reduzir em vários anos a expectativa de vida. Agora, quem se exercita a probabilidade de ter doenças crônicas, como câncer, diabetes e problemas cardiovasculares á ínfima. Passemos então a análise dos malefícios da falta de atividade física e dos benefícios de sua prática no dia-a-dia. 2.1 - Malefícios da Falta de Atividade As pessoas já têm a ciência de que a prática de exercícios físicos pode melhorar muito a qualidade de vida. Porém, poucos sabem que a falta dessas atividades pode causar doenças crônicas, com consequências na fala e na audição. Um estudo recente da Organização Mundial de Saúde mostra que a falta de atividade física regular é uma das dez principais causas de morte no mundo. Estatísticas revelam que cerca de 70% dos adultos não são ativos. Banalizar a atividade física ou julgar aqueles que a praticam como “superficiais” é um erro. Estilo de vida saudável é a melhor maneira de viver mais e melhor e se manter longe de doenças (ATALLA, MÁRCIO, 2009). Tendo em vista os problemas de saúde que estão relacionados ao sedentarismo, a educação física escolar torna-se uma importante ferramenta na promoção de um estilo de vida mais saudável (PINHO, 2010). No Brasil, o sedentarismo é um problema que vem assumindo grande importância. Atualmente o sedentarismo é um dos malefícios da falta de atividade física que afeta grande parte da população brasileira. Para Gallahue (2003)a escola pode ser considerada o agente inicial e fundamental na socialização, na qual e nela que o adolescente passa a maior parte do tempo. Por isso, “o programa de Educação Física Escolar é responsável pelo desenvolvimento de movimentos fundamentais e de habilidades esportivas nas atividades da cultura”. (GALLAHUE, 2003 apud. PINHO 2010). O homem torna-se cada vez mais sedentário devido às tecnologias inventadas e, desde a Revolução Industrial esses avanços tecnológicos são mais frequentes, colaborando assim para um aumento do nível de sedentarismo na população, afetando especialmente o homem urbano-ocidental (MENDES, 2004 apud PINHO 2010). Um dos fatores relacionados ao sedentarismo é a obesidade. A obesidade pode estar relacionada a fatores hereditários, a maus hábitos alimentares e sedentarismo. Segundo Bezerra (2003), as consequências da diminuição da atividade física (AF) para a saúde do homem são nefastas e bem conhecidas: maior risco de aterosclerose e suas consequências (angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral), aumento da obesidade, da hipertensão arterial, do diabetes, da osteoporose, das dislipidemias, da doença pulmonar obstrutiva crônica, da asma, da depressão, da ansiedade, além de aumento do risco de afecções osteomusculares e de alguns tipos de câncer (colo e de mama). 275 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Conceitualmente, a obesidade pode ser classificada como o acúmulo de tecido gorduroso, localizado em todo corpo, causado por doenças genéticas, endócrino – metabólicas ou por alterações nutricionais (FISBERG, 1995 apud. SOARES; PETROSKI 2003). Segundo Coutinho, 1998 apud. (SOARES, PETROSKI, 2003), a obesidade pode ser classificada como: - À idade de início: na infância – a partir de um ano de idade “... já podem desenvolver- se casos de obesidade com tendência maior à hiperplasia adipocitária e com maior propensão à resistência na vida adulta”. Durante a idade adulta – em relação às mulheres o aumento de peso está relacionado, frequentemente, com a gestação (principalmente aquelas que adquirem excesso de peso durante os três primeiros meses da gravidez), os sujeitos do sexo masculino, frequentemente aumentam o peso depois de mudanças de estilo de vida, como o casamento. - Quanto à fisiopatologia: pode ser hiperfágica- comer excessivamente podendo ou não ser a causa da obesidade; e metabólica - anormalidade hormonal que determina um baixo metabolismo; - Quanto à etiologia pode ser: 1 -Neuroendócrina – problemas nas glândulas produtoras de hormônios de ordem genética e/ou ambiental sendo a causa mais frequente o hipotireoidismo; 2-Iatrogênica – causada por drogas como os psicotrópicos e corticosteróides ou lesões hipotalâmicas; 3 -Desequilíbrios nutricionais - dieta hiperlipídica; 4-Inatividade física – baixo gasto calórico desfavorecendo o equilíbrio metabólico energético; 5-Obesidade genética – doenças genéticas raras com características disfórmicas. O excesso de peso na infância, segundo Salbe&Ravussin 2000 (apud. SOARES,PETROSKI, 2003) acontece geralmente por uma combinação de fatores, incluindo hábitos alimentares errôneos, propensão genética, estilo de vida familiar, condição socioeconômica, fatores psicológicos e etnia. Segundo o Consenso Latino Americano em Obesidade (COUTINHO, 1998, apud. SOARES,PETROSKI 2003) a obesidade é uma enfermidade crônica que vem acompanhada de múltiplas complicações, caracterizada pela acumulação excessiva de gordura. Os autores acima citaram que a obesidade não está só relacionada com à má alimentação, mas com outros fatores que causam a obesidade, como os maus hábitos, hereditariedade, etc. Segundo Petroski (2003), os problemas causados pela obesidade em longo prazo são, contudo, previsíveis: -Crescimento- idade óssea avançada, aumento da estatura, menarca precoce; - Respiratórias –apnéia de sono, Síndrome de Pickwick, infecções; -Cardiovasculares-hipertensão arterial, hipertrofia cardíaca, morte súbita; -Ortopédicas-epifisiólise da cabeça femural, genu valgo, coxa vara, osteoartrite; -Dermatológicas- micoses, estrias, lesões de pele como dermatites e piodermites particularmente em região de axilas e inguinal; -Metabólicas-resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2, hipertrigliceridemia, hipercolesterolemia, gota úrica, esteatose hepática, doença dos ovários policísticos (síndromes hiperandrogênicas), com oligomenorréia ou amenorréia. 276 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A obesidade causa problemas psicossociais como discriminação e aceitação diminuída pelos pares; isolamento e afastamento das atividades sociais; o que é visto pelos estudiosos como a pior consequência, pois irá seguir o sujeito pelo resto da vida (SIGULEM et. al., 2001;FISBERG,1995 apud. SOARES, PETROSKI 2003). A prática de atividade física e alimentação regulada são fundamentais para crianças. As crianças devem ser incentivadas desde cedo pelos pais, e também professores a praticar atividade física. O hábito alimentar da criança também vem dos incentivos dos pais. A criança obesa sofre muito preconceito, e isso faz com que a criança sofra transtornos psicológicos como, depressão, isolamento das atividades físicas e outras. A escola tem um papel fundamental na conscientização dos alunos, em alertar os maus hábitos e os bons hábitos, como o incentivo à prática de atividades físicas, à alimentação correta etc, alertando também seus malefícios da falta. O diabete tipo 2 é também outro fator da Inatividade física. Particularmente na diabete, os exercícios possuem qualidades marcantes tanto na prevenção quanto no tratamento (CANCELLIÉRI 1999 apud. SILVA GONÇALVES 2003). Pacientes com diabetes frequentemente têm múltiplos fatores de risco para doenças cardiovasculares, e um estilo de vida saudável, incluindo uma maior atividade física, é essencial para prevenir e tratar à diabete (FRONTERA, DAWSON & SLOVIK; 1999 apud. SILVA GONÇALVES 2003). Segundo Silveira Neto, os principais fatores de risco para o desenvolvimento de complicações macrovasculares e microvasculares são a hipertensão, a hiperlipidêmica, a hiperglicemia, o sedentarismo e o tabagismo. Em todos estes fatores o professor de educação física pode interagir direta e/ou indiretamente através da mudança de comportamento de seu aluno, usando para isso a atividade física. Exercícios é a parte mais divertida da terapia do diabete. Pense no quando "divertido" é espetar a si mesmo com uma agulha ou uma lanceta, tomar pílulas, ou ter que mudar sua dieta, provavelmente suprimindo algumas das suas comidas favoritas. Compare isto com um igualmente importante para sua saúde jogo de tênis, ou uma noite dançante, um passeio de bicicleta, uma caminhada, ou uma refrescante natação. Absolutamente sem discussão (GRAHAM; 1995 apud. SILVA GONÇALVES 2003). Qualquer tipo de atividade física é fundamental para o diabético, por isso é necessário que o educador físico leve em consideração o quadro de saúde em que o aluno se encontra. A prática regular de exercícios físicos pode acarretar uma diminuição da dosagem de insulina, e sua importância é fundamental nas terapias onde se objetiva uma menor dosagem de insulina a ser administrada pelo paciente insulinodependente (SILVEIRA, NETO; 2000 apud. SILVA, GONÇALVES 2003). O ideal é apenas mudar os hábitos do dia a dia e mesmo sem tempo ou dinheiro você consegue ter uma vida mais saudável. 2.2 Benefícios da Prática de Atividade Física na Escola A prática de atividade física faz bem não só ao corpo, mas a mente também. Melhora a força muscular, aumenta a flexibilidade e a capacidade física, facilitando a realização das tarefas diárias e ampliando as possibilidades de atividades de lazer. Auxilia no controle de várias doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, dislipidemia (colesterol ou triglicérides altos), osteoporose, cardiopatias, entre outras, melhora o humor e aumenta a disposição, melhorando a qualidade de vida. 277 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Segundo Darido e Souza Júnior (2007) os principais efeitos benéficos da atividade física e do exercício estão relacionados a seguintes: Efeitos antropométricos e neuromusculares – Diminuição da gordura corporal; incremento da densidade óssea; fortalecimento do tecido conetivo; incremento da flexibilidade. Efeitos metabólicos – Aumento do volume sistólico; diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo; aumento da potencia aeróbica (VO2 máx.) de 10% a 30%; aumento da ventilação pulmonar; diminuição da pressão arterial; melhora da sensibilidade à insulina. Efeitos psicológicos – melhora do autoconceito, melhora da autoestima; melhora da imagem corporal, diminuição do estresse e da ansiedade; melhora da tensão muscular e da insônia; diminuição no consumo de medicamentos; melhora das funções cognitivas e da socialização. Com esses efeitos gerais do exercício, tem-se mostrado benefício no controle, no tratamento e na prevenção de doenças como diabetes, enfermidades cardíacas, hipertensão, arteriosclerose, varizes, enfermidades respiratórias, artrose, artrite, dor crônica e desordens mentais ou psicológicas (DARIDO, SOUZA JUNIOR, 2007). Marques Pimenta (2012) em seu artigo publicado cita diverso benefícios em que a atividade física traz à vida cotidiana do estudante. Aspectos fisiológicos, cognitivos, psicoemocionais e sociais têm influência direta na qualidade de vida do estudante e, consequentemente, no seu desempenho acadêmico. Marques Pimenta (2012) comentou que a atividade física trás diversos benefícios a saúde, assim os jovens tem o crescimento equilibrado, ativo e saudável. Do ponto de vista cognitivo e psicoemocional, a atividade física e, em especial, o esporte, exercitam habilidades mentais, tais como, superação, autoconfiança, estabelecimento de metas, concentração, controle da ansiedade, através das vivências apresentadas pelas práticas corporais. Processos cognitivos e emocionais apresentados no exercício destas práticas podem também ser transferidos para o contexto estudantil, auxiliando o aluno nos momentos de enfrentamento de desafios e situações problema (MARQUES PIMENTA, 2003). O autor acima comentou que a atividade física não é boa só para o corpo, mas para a alma também, ou seja, para toda a saúde, e também facilita a enfrentar os desafios da vida. Marques Pimenta (2003) ressaltou que convivência social proporcionada pela dança, pelo esporte, pelas brincadeiras de rua, pelos jogos e pela aprendizagem das lutas é também elemento fundamental na formação do estudante. As amizades e relacionamentos criados nestes ambientes fazem com que os alunos aprendam a lidar com as diferenças e contribuem para a convivência social construtiva e solidária. A atividade física faz com que as crianças tenham mais facilidade com a socialização e a lidar com as diferenças e respeito ao próximo. Segundo Bezerra (2003), para a criança, entretanto, os estudos em relação à atividade física são escassos e as respostas ainda não muito evidentes. Três grandes vantagens da atividade física em crianças têm suporte em estudos científicos: 1) As crianças são mais saudáveis: têm menos excesso de peso, apresentam um melhor performance cardiovascular de IVAS (infecção de via aérea superior)e um número menor de crises de asma, além de apresentarem uma maior densidade óssea; 278 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 2) Esses efeitos são transferidos à vida adulta. As doenças crônicas da vida adulta têm as suas raízes na infância. O processo de aterogênese principia no inicio da vida; 3) Manutenção do hábito na vida adulta. Vários estudos indicam que crianças e adolescentes que se mantêm fisicamente ativos apresentam uma probabilidade menor de se tornarem adultos sedentários. De acordo com Bezerra (2003), o melhor exercício é aquele que se pode fazer regularmente. A atividade física para crianças não pode ser punitiva e nem necessariamente competitiva, mas sempre prazerosa. Aderência é fundamental. O hábito da atividade física deve perdurar por toda vida. As escolas devem estimular as crianças e adolescentes à prática de atividade física, para assim a criança e o adolescente levarem a prática para toda vida de forma agradável e prazerosa, assim integrando - as e não discriminando os menos aptos. Bezerra (2003) citou que, a atividade física vem sendo recentemente listada como um dos principais indicadores de saúde. A Organização Mundial de saúde (OMS) vem estimulando a participação dos profissionais de saúde, familiares (atividade física começa em casa) e a comunidade (colégio, associações, prefeituras, igrejas, etc.), para que programas de estímulo à AF (Atividade Física)sejam desenvolvidos. Algumas sugestões têm sido apresentadas: Reduzir o número de horas gasto com TV, videogame e computador; Estimular a participação dos estudantes em competições esportivas; Reforçar as aulas de educação física nas escolas; Exemplaridade dos pais. O autor ressaltou que a atividade física deve ser indispensável não só na infância, mas na vida do adulto e dos idosos também, quando mais cedo à prática da atividade física melhor, assim a criança promove a saúde do adulto. Os especialistas recomendam a realização de pelo menos 30 minutos de atividades físicas, em pelo menos 5 dias da semana, incluindo caminhada, dança, esportes, ginástica e outras atividades prazerosas que estimulem o movimento. E, também a adoção de um estilo de vida mais ativa, que inclui mais descolamentos a pé, de bicicleta, mais atividades de lazer que incluam movimento, menos tempo “de tela” (televisão, computador). Os pais podem incentivar seus filhos, levando-os para dar uma volta a pé com seu bichinho de estimação, ou dar uma volta de bicicleta. Na escola, em horários que não tiverem aulas, as escolas poderiam disponibilizar materiais para crianças brincarem. Vê-se que a contribuição para que as crianças pratiquem esportes não deve partir da escola, mas da família. Todos colaborando, é possível ter conseguir ter uma vida saudável, e mudar a rotina de milhares de crianças que só se alimentam de salgadinhos, ficam no celular, tablet. 2.2.1 - Atividade física versus obesidade A prática regular de exercícios físicos acompanha-se de benefícios que se manifestam sob todos os aspectos do organismo, interferindo diretamente na saúde e no controle da obesidade infantil. Do ponto de vista musculoesquelético, auxilia na melhora da força e do tônus muscular e da flexibilidade, fortalecimento dos ossos e das articulações. No caso de crianças, pode ajudar no desenvolvimento das habilidades psicomotoras (BOA SAÚDE, 2005). Segundo de Mello ED et. al. 2004, a criança e o adolescente tendem a ficar obesos quando sedentários, e a própria obesidade poderá fazê-los ainda mais sedentário. A atividade física é 279 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 importante na composição corporal, por aumentar a massa óssea e prevenir a osteoporose e a obesidade. O aumento da atividade física, portanto, é uma meta a ser seguida, acompanhada da diminuição da ingestão alimentar. Com a atividade física, o indivíduo tende a escolher alimentos menos calóricos (DE MELLO ED et. al. 2004). De Mello (2004) citou que conforme o indivíduo for sendo incentivada a atividade física e a ingerir alimentação correta, ele mesmo tende a fazer a sua escolha de alimentos menos calóricos, fazendo assim ele ter consciência do que é ter uma boa saúde, e o que precisa para isto. Conforme de Mello ED et. al. 2004, citou que em relação à atividade física, geralmente a criança obesa é pouco hábil no esporte, não se destacando. Para a atividade física sistemática, devese realizar uma avaliação clínica criteriosa. No entanto, a ginástica formal, feita em academia, a menos que muito apreciada pelo sujeito, dificilmente é tolerada por um longo período, porque é um processo repetitivo, pouco lúdico e artificial no sentido de que os movimentos realizados não fazem parte do cotidiano da maioria das pessoas. Além disso, existe a dificuldade dos pais e/ou responsáveis de levarem as crianças em atividades sistemáticas, tanto pelo custo como pelo deslocamento. Portanto, devem-se ter ideias criativas para aumentar a atividade física, como descer escadas do edifício onde mora, jogar balão, pular corda, caminhar na quadra, além de ajudar nas lidas domésticas. Conforme ensina Darido e Souza Júnior(2007), as duas áreas de prioridade nas estratégias de prevenção, controle e tratamento da obesidade é o incremento do nível de atividade física e a melhora na qualidade da dieta. O mais importante para incrementar o nível da atividade física é evitar os hábitos sedentários e adotar um estilo de vida ativo. Existem várias evidencias cientificas apontando que o controle da ingestão de alimentos junto com o exercício ou a atividade física regular é mais efetivo no controle do peso corporal. Os mecanismos que a literatura científica mostra para esse efeito são: Aumento do gasto energético; Melhora da composição corporal – perda de gordura, preservação da massa magra, diminuição do depósito de gordura visceral; Aumento da capacidade de mobilização e oxidação da gordura – controle da ingestão de alimentos, redução do apetite a curto prazo, redução da ingestão de gordura; Estimulação da resposta termogênese induzida pela dieta; Mudança na morfologia do músculo e na capacidade bioquímica; Aumento da sensibilidade à insulina; Melhora no perfil de lipídeos plasmáticos e lipoproteínas; Diminuição da pressão sanguínea; Melhora do condicionamento físico; Efeitos psicológicos – melhora da autoestima, autoimagem, autoconceito, menos depressão. CAPÍTULO III EXERCÍCIO FÍSICO ESCOLAR 280 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Segundo Balbé Pereira (2008), a Educação Física escolar tem como um de seus objetivos atuarem no sentido de criar uma interação e socialização entre seus alunos visando uma vida saudável. Balbé Pereira (2008) ressalta que atualmente, os ambientes na maioria das aulas se transformaram em verdadeiros treinamentos desportivos que somente visam colocar os alunos como máquinas de alto rendimento para apenas obter os melhores resultados em competições internas e entre escolas. A obtenção desses resultados pode transferir para o aluno uma responsabilidade não ideal para sua idade a fim de satisfazer apenas seu professor. Desta forma, o educador deve levar aos seus alunos atividades que permitam uma movimentação variada e exploradora do corpo e do próprio ambiente em que estão situados. Sempre adequados ao grau de desenvolvimento em cada etapa da vida escolar e faixa etária dandolhes plena liberdade e espontaneidade de movimentos como saltar, correr, girar, arremessar, etc. Permitindo assim, vários benefícios como desinibição para participação das aulas, descarga de agressividade, manutenção da saúde e até corrigindo equívocos de atitude (BARROS; BARROS, 1972 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). No atual cenário escolar, a Educação Física é identificada como componente curricular integrado ao projeto político-pedagógico da escola (KUNZ, 2001apud. BALBÉ PEREIRA 2008). Pois, se apresenta na escola como manifestação pedagógica de uma área de conhecimento: “ela é uma propriedade e um produto do ambiente escolar: a ele pertence por ele se define nele se constitui e se realiza – é então que se pode falar de uma cultura escolar de Educação Física” (KUNZ, 1991 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). A escola realmente abriu pouco espaço para a Educação Física, especialmente nos níveis de formação superior. Nos níveis inferiores ela se apresenta ou se apresentou mais como treinamento através de exercícios mecânicos. Assim, pode-se dizer que, quando a escola abriu as portas para a Educação Física, foram as portas do fundo, cedendo espaços sobrados e os horários rejeitados pelas outras disciplinas. Raras são as exceções (SANTIN, 1987 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). Professor de educação física é o transmissor determinante de uma nova teoria e prática do esporte para todos. O professor atua na escola frequentada por todas as crianças e jovens, além de trabalhar com frequência nos clubes e organizações que oferecem esporte. O educador é a figurachave, mesmo porque, muitas vezes, integra também a administração nos vários níveis a quem cabe decidir (DIECKERT, 1984 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). É bastante expressivo o número de professores de educação física diplomada existente no Brasil. Este fato observado de um lado, o atendimento à comunidade é positivo, mas por outro, em termos de qualidade é complexo, pois o profissional teria que pensar em transformações através de ações orientadas que levassem o ser humano a participar, viver o lúdico de modo simples e prazeroso (SILVA, 1995 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). No mundo atual observa-se a presença de uma realidade estimuladora da competitividade entre os homens e, infelizmente, a educação física também se enquadra neste contexto visto que hoje em dia parece assumir um caráter de treinamento ou adestramento do movimento corporal (SANTIN, 1987 apud. BALBÉ PEREIRA 2008). Ao contrário do que muitos pensam a educação física escolar não deve ser totalmente dissociada do esporte, já que um de seus objetivos consiste em promover a socialização e interação entre seus alunos, o que há de se reconhecer que o esporte proporciona. Gonçalves (1994) apud. Balbé Pereira(2008) nos fala da importância existente no fato de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos. Uma vez 281 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 que, movimentos mecânicos realizados abstratamente só contribuem para a inibição da criação e da participação dos alunos em aula e, por conseqüência, os torna indivíduos que deixam de interpretar o mundo por si próprio e passam a interpretá-lo pela visão dos outros. A motivação pode ser definida como as causas que afetam o início, a manutenção e a intensidade de comportamento. O comportamento humano é movido por necessidades, interesses e estímulos vindos do meio ambiente. Uma pessoa motivada a realizar certa atividade poderá ter mudanças na compreensão da aprendizagem e de seu desempenho nas habilidades motoras (MAGILL, 1984apud. BALBÉ PEREIRA 2008). Assim, Campos (1986) apud. Balbé Pereira (2008) acredita que o professor deve ser o mediador entre os motivos individuais e os legítimos alvos a serem alcançados pelos alunos. Pois, o professor como o formador de opinião, pode ser um grande mediador dos objetivos da escola para com seus alunos. Para os autores (DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007) os objetivos e as propostas educacionais da educação física foram se modificando ao longo dos últimos anos, e todas essas tendências, de algum modo, ainda hoje influenciam a formação do profissional e suas praticas pedagógicas. Na educação física, assim como em outros componentes curriculares, não existe uma única forma de pensar e implementar a disciplina na escola. A prática de ´´dar a bola´´ é bastante condenável, pois se desconsidera a importância dos procedimentos pedagógicos dos professores (DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007). Um ponto de destaque nessa nova significação atribuía à educação física é que a área ultrapassa a idéia de estar voltada apenas para o ensino do gesto motor correto. Muito mais que isso, cabe ao professor de educação física problematizar, interpretar, relacionar, analisar com seus alunos as amplas manifestações da cultura corporal, de tal forma que estes compreendamos sentidos e significados impregnados nas práticas corporais (DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007). 3.1 - Conteúdos na educação física escolar. O termo conteúdo é muito utilizado na educação física, mas é muito mal compreendido. Collet. al. (2000 apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007) definem conteúdos como uma seleção de formas ou saberes culturais, conceitos, explicações, raciocínios, habilidades, linguagens, valores, crenças, sentimentos, atitudes, interesses, modelos de conduta etc., cuja assimilação é considerada essencial para que produzam um desenvolvimento e uma socialização adequada ao aluno. É preciso lembrar que ao longo da história da educação, determinados tipos de conteúdos, sobretudo aqueles relativos a fatos e conceitos, tiveram e ainda têm uma presença desproporcional nas propostas curriculares (COLL et AL. 2000; ZABALA 1998, apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007). Entende-se por currículo oculto aquelas aprendizagens que se realizam na escola, mas De que não aparecem de forma explícita nos programas de ensino. De acordo com Collet al. (2000) apud Darido; Souza Júnior (2007) há uma reivindicação frequente de que na escola sejam ensinados e aprendidos outros conhecimentos considerados tão ou mais importantes do que fatos e conceitos, como, por exemplo, certas estratégias ou habilidades para resolver problemas, selecionar a informação pertinente em uma determinada situação ou utilizar os conhecimentos disponíveis para enfrentar situações novas ou inesperadas, ou, ainda, saber trabalhar em equipe, mostrar-se solidário com os colegas, respeitar e valorizar o trabalho dos 282 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 outros ou não discriminar as pessoas por motivos de gênero, idade ou outro tipo de características individuais. Castellani Filho (1993 apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007) lembra que os cursos de futebol ministrados à época da sua formação (década de 1970) eram voltados ao saber fazer, ao saber jogar (como ainda o são hoje, na grande maioria dos casos). Essa argumentação também da sustentação à educação física no ensino fundamental e médio, ou seja, não basta ensinar aos alunos a técnica dos movimentos, as habilidades básicas ou mesmo as capacidades físicas. É preciso ir além e ensinar o contexto em que se apresentam as habilidades ensinadas, integrando o aluno na esfera da sua cultura corpora. No entanto, como alertou Betti (1994 apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007), não se trata de propor que a educação física na escola se transforme num discurso sobre a cultura corporal, mas de sugerir que haja uma ação pedagógica com ela. Assim seria fundamental considerar os procedimentos, os fatos, os conceitos, as atitudes e os valores como conteúdos, todos no mesmo nível de importância. Agora pergunta-se: a Educação Física é vista como uma disciplina complementar na escola, menos importante que outras disciplinas, como por exemplo, Matemática, Português, História? A resposta é simples, a Educação Física possui suas próprias características, distinguindo-se e distanciando-se das outras. Assim como dito anteriormente, e no entendimento do doutrinador Castelhani Filho, a princípio, a Educação Física, quando inserida no currículo escolar, era tida como um momento para a prática da ginástica, com a finalidade de deixar o corpo saudável. Atualmente, a Educação Física não é mais uma simples disciplina, mas agora se mostra complexa, tendo que trabalhar, ao mesmo tempo, as suas próprias especificidades e se interrelacionar com os outros componentes curriculares. Segundo a pesquisa realizada por Paula Rondinelli Colaboradora do Brasil Escola, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), documento oficial do Ministério da Educação, a Educação Física na escola deve ser constituída de três blocos: Jogos, Ginásticas, Esportes e Lutas Atividades rítmicas e expressivas Conhecimentos sobre o corpo Segundo o documento, essas três partes são relacionadas entre si e podem ou não ser trabalhadas em uma mesma aula. O primeiro bloco, “jogos, ginásticas, esportes e lutas”, compreende atividades como ginástica artística, ginástica rítmica, voleibol, basquetebol, salto em altura, natação, capoeira e judô. O segundo bloco abrange atividades relacionadas à expressão corporal, como a dança, por exemplo. Já o terceiro bloco propõe ensinar ao aluno conceitos básico sobre o próprio corpo, que se estendem desde a noção estrutural anatômica, até a reflexão sobre como as diferentes culturas lidam com esse instrumento. Se analisarmos uma aula em que o professor trabalha apenas os quatro esportes coletivos (voleibol, basquetebol, futebol e handebol), sob a ótica de uma Educação Física que visa à reflexão do aluno sobre si e sobre a sociedade em que está inserido, logo perceberemos o quão pobre se torna a experiência sobre o corpo nessas aulas. Nesse sentido, é fundamental que a compreensão de 283 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 si, de sua cultura e de outras culturas seja ampliada, a fim de efetivar a disciplina de Educação Física como um componente curricular educacional. A Educação Física tem uma vantagem educacional que poucas disciplinas têm: o poder de adequação do conteúdo ao grupo social em que será trabalhada. Esse fato permite uma liberdade de trabalho, bem como uma liberdade de avaliação – do grupo e do indivíduo – por parte do professor, que pode ser bastante benéfica ao processo geral educacional do aluno. 3.2 - Por que diversificar e aprofundar os conteúdos Alguns autores têm condenado a prática da educação física vinculada apenas a uma parcela da cultura corporal, os esportes coletivos, especialmente aqueles mais praticados no Brasil: futebol, voleibol e basquetebol. Discutindo esse tema, (RANGEL-BETTI 1995 apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007) pergunta: tendo em vista que os currículos das escolas da educação física incluem disciplinas como dança, capoeira, judô, atividades expressivas, ginástica, folclore e outras, como explicar a pouca utilização desses conteúdos. A autora levanta as seguintes possibilidades para tal fato: falta de espaço, de motivação e/ou material? Comodismo? Falta de aceitação desses conteúdos pela sociedade. Segundo Kunz (1994 apud DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007), o esporte como conteúdo hegemônico impede o desenvolvimento de objetivos mais amplos para a educação física, como o sentido expressivo, criativo e comunicativo. Para facilitar a adesão dos alunos às práticas corporais seria importante diversificar as vivências experimentadas nas aulas para além dos esportes tradicionais (futebol, voleibol ou basquetebol). Na verdade, a inclusão e a possibilidade das vivencias das ginásticas, dos jogos, das brincadeiras, das lutas, das danças podem facilitar a adesão do aluno na medida em que aumentam as chances de uma possível identificação. É preciso ir além de o costumeiro jogar (DARIDO, SOUZA JÚNIOR, 2007). È importante diversificar e aprofundar os conteúdos porque a disciplina Educação Física não está tão-somente direcionada a prática de esportes e nem tão pouco a um só esporte. A Educação Física é voltada para a prática de atividade física e para o bem-estar, mas se alcançar os objetivos almejados pela prática da atividade física e se buscar uma saúde de qualidade, a Educação Física propõe o ensino de doutrinas voltadas para ensinar quais os benefícios trazidos pela sua prática e quais os malefícios ocasionados pela sua falta, propondo que o ensino na rede escolar é primordial para que este objetivo seja alcançado e repassado para a sociedade. Isto sem considerar que a disciplina Educação Física também levanta a hipótese de que não somente pode ser praticada e incentivada nas escolas, mas que ela deve ser praticada inclusive pelos pais, e que o incentivo pode vir desde o nascimento da criança. CAPITULO IV ACHADOS NA PESQUISA DE CAMPO EM RELAÇÃO AOS ALUNOS DO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL Esta pesquisa visa analisar a conscientização tanto dos pais quanto dos filhos sobre os benefícios da prática da atividade física e dos malefícios causados pela falta da atividade física. Os participantes desta pesquisa são pais e alunos do 6º ano do ensino fundamental, na faixa etária de 10 a 12 anos, de ambos os sexos. 284 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 O instrumento utilizado para a coleta de dados foi os dois questionários, com 3 perguntas cada questionário, com múltipla escolha (dentre as quais poderiam ser assinaladas mais de uma alternativa), um para os pais e o outro para os filhos, junto aos questionários foi entregue um termo de consentimento para os pais, conscientizando a ele (a), e o filho a responder os questionários. Encaminhou-se também uma carta de autorização para os diretores das escolas para a realização da pesquisa. Em cada escola direcionou-se a pesquisa a alunos do 6º ano do ensino fundamental. A pesquisa foi realizada em 3 (três) escolas de ensino público estadual da cidade de São José do Rio Pardo, sendo que foram entregues questionários tanto para os pais, como para os filhos (alunos) num total de 210 (duzentos e dez) questionários, dos quais 70 (setenta) na escola do Sítio Novo, 70 (setenta) na escola Prof. Stella Couvert Ribeiro e 70 (setenta) na escola Dr. Cândido Rodrigues. Dos questionários entregues na escola do sítio novo somente foram devolvidos 38 (trinta e oito) questionários, na escola Stella 42 (quarenta e dois), tendo 7 em branco (3 dos pais e 4 dos filhos), e no Cândido Rodrigues 32 (trinta e dois) questionários. Quanto à questão 1 direcionada aos pais – “Seu filho participa das aulas de Educação Física na escola?”. 15 (quinze) pais na escola do Sítio Novo responderam que seus filhos participam 1 vez por semana das aulas de Educação Física na escola, e 4 (quatro) deles responderam que seus filhos participam 2 vezes por semana das aulas. Na escola da EEP Prof. Stella Couvert Ribeiro todos os pais entrevistados, ou seja, 18 pais, responderam que seus filhos participam 2 vezes por semana de atividade física na escola. Na escola Dr. Cândido Rodrigues, 9 pais responderam que seus filhos participam 1 vez por semana de atividade física na escola e 7 pais responderam que seus filhos participam 2 vezes por semana. Na análise deste resultado verificamos uma pequena diversidade nas respostas. Mas o que mais chama atenção e apresenta-se como um ponto positivo é que nenhum pai respondeu que seu filho não pratica atividade física na escola, demonstrando o incentivo a prática de esportes que está ocorrendo nas escolas. 15 Não participo Sim, 1 vez por semana 10 Sim, 2 vezes por semana 5 0 Gráfico 1 – Participação do filho nas aulas de Educação Física na Escola do Sítio Novo EMEB 285 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 20 Não participa 15 Sim, 1 vez por semana 10 Sim, 2 vezes por semana 5 0 Gráfico 2 – Participação do filho nas aulas de Educação Física na Escola Prof.ª Stella Couvert Ribeiro Não participa 10 Sim, 1 vez por semana 5 Sim, 2 vezes por semana 0 Gráfico 3 - Participação do filho nas aulas de Educação Física na Escola Escola Dr. Cândido Rodrigues Quanto à questão 2 direcionada aos pais - “Qual atividade física que seu filho pratica?”– Para responder essa pergunta foi explicado que as atividades que englobam esta pergunta não está tão somente direcionada as atividades praticadas na escola, mas também no dia-a-dia dos filhos. Analisando os gráficos verificamos que o esporte mais praticado pelos filhos é o futebol. Tendo somente um empate na escola Dr. Cândido Rodrigues entre o futebol e a prática de andar de bicicleta. Outro fato que devemos destacar é que há uma diversidade atividades praticadas, fato este muito importante para a saúde. Mas será que isto é verdade? Isto analisará quando das respostas dos questionários entregues aos filhos. 286 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Futebol 9 8 Corrida 7 Anda de bicicleta (ciclismo) 6 Natação 5 Ginástica 4 Basquete 3 Voleibol 2 Outros 1 Não pratica 0 Gráfico 4 – Exercício físico que o Filho participa na Escola ou fora da Escola do Sítio Novo EMEB Futebol 10 Corrida Anda de bicicleta (ciclismo) 8 Natação 6 Ginástica Basquete 4 Voleibol 2 Outros Não pratica 0 Gráfico 5 – Exercício físico que o Filho participa na Escola ou fora da Escola Prof.ª Stella Couvert Ribeiro 287 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Futebol 5 Corrida Anda de bicicleta (ciclismo) 4 Ginástica 3 Basquete 2 Voleibol 1 Outras 0 Não pratica Gráfico 6 – Exercício físico que o Filho participa na Escola ou fora da Escola Dr. Cândido Rodrigues Quanto a questão 3 analisou-se a opinião dos pais quanto o que a falta de atividade pode ocasionar . Analisando os gráficos vemos que a maioria dos pais nas das três escolas acreditam que os maiores problemas que a falta de atividade física pode ocasionar são a obesidade e má circulação, sendo que a falta de atividade física pode ocasionar todos os malefícios descritos nas alternativas, incluindo outros (obesidade, depressão, má circulação e diabetes). Isso demonstra a falta de informação que os pais possuem. Obesidade 20 Depressão Má circulação 10 Diabetes Outros malefícios 0 Gráfico 7 – Causas da falta de exercícios físicos segundo os pais - Escola do Sítio Novo EMEB Obesidade 20 Depressão Má circulação 10 Diabetes Outros 0 Gráfico 8 – Causas da falta de exercícios físicos segundo os pais - Escola Prof.ª Stella Couvert Ribeiro 288 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Obesidade 15 Depressão 10 Má circulação Diabetes 5 Outros malefícios 0 Gráfico 9 – Causas da falta de exercícios físicos segundo os pais – Escola Dr. Cândido Rodrigues No que tange aos filhos a primeira questão levantada foi à seguinte: Você participa das aulas de atividade física na escola? Nesta questão observou-se uma grande diversidade nas respostas, mas comparando-se os resultados das escolas vemos que a grande maioria dos alunos diz que pratica exercícios na escola pelo menos uma vez por semana. E ainda, comparando os gráficos com os dos pais, está praticamente igual, demonstrando que os pais estão conscientes do que está sendo realizado nas escolas. 15 Não participo 10 Sim, 1 vez por semana Sim, 2 vezes por semana 5 0 Gráfico 10 – Prática de exercícios físicos segundo os filhos - Escola do Sítio Novo EMEB 20 Não participa 15 Sim, 1 vez por semana 10 Sim, 2 vezes por semana 5 0 Gráfico 11 – Prática de exercícios físicos segundo os filhos Escola Stella Couvert Riberiro 289 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 10 Não participa Sim, 1 vez por semana 5 Sim, 2 vezes por semana 0 Gráfico 12 – Prática de exercícios físicos segundo os filhos – Escola Cândido Rodrigues Na questão 2 foi perguntando aos alunos : “ qual a atividade que você pratica? Observamos pelas respostas dos filhos que o esporte mais praticado é o futebol, isso em todas as escolas, e a prática de andar de bicicleta também apresenta resultado significativo. No sítio novo, na opção outros o esporte que teve grande resultado foi o Handebol. o resultado apresentado nesta questão apresenta-se semelhante ao levantado na questão 2 direcionada aos pais, acima descrita. Futebol 10 Corrida 8 Bicicleta Natação 6 Ginástica 4 Basquete 2 Voleibol 0 Outros Gráfico 13 – Exercícios físicos praticados fora ou dentro da Escola segundo os alunos Escola do Sítio Novo EMEB Futebol 10 Corrida 8 Andar de bicicleta (ciclismo) Natação 6 Ginástica 4 Basquete 2 Voleibol 0 Outras 290 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Gráfico 14 – Exercícios físicos praticados fora ou dentro da Escola segundo os alunos da Escola Prof.ª Stella Couvert Ribeiro Futebol 6 Corrida 5 Anda de bicicleta (ciclismo) 4 Natação 3 Ginástica 2 Basquete 1 Voleibol Outras 0 Gráfico 15 – Exercícios físicos praticados fora ou dentro da Escola segundo os alunos da Escola Dr. Cândido Rodrigues Quanto à 3ª feita aos alunos – “Em sua opinião quais são os benefícios de se praticar alguma atividade física? O resultado colhido nesta questão mostra-se um pouco divergente da resposta dada pelos pais na questão 3 direcionada a eles. A grande maioria dos alunos disseram que a prática de atividade física evita a obesidade e a depressão. E ainda, em margem significativa colocam o diabetes também como beneficio de se praticar a atividade física. Os pais nas respostas colocam a depressão como o 3º fator da falta de atividade física, enquanto os filhos a colocam em 2º lugar. Mas o fato que chama a atenção é que considerando que poderiam assinalar mais de uma alternativa, podendo inclusive ter assinalado todas as alternativas, os filhos também estão desinformados, no que se refere aos males causados e que podem ser evitados pela prática de atividade física. Evita obesidade 20 Evita hipertensão 15 Evita depressão 10 Evita diabetes 5 Outros 0 Gráfico 16 – Benefícios da prática de exercícios físicos segundo os alunos da Escola do Sítio Novo EMEB 291 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 20 Evita obesidade 15 Evita hipertensão Evita depressão 10 Evita diabetes 5 Outros malefícios 0 Gráfico 17 – Benefícios da prática de exercícios físicos segundo os alunos da Escola Prof.ª Stella Couvert Ribeiro 15 Evita obesidade Evita hipertensão 10 Evita depressão Evita diabetes 5 Outros malefícios 0 Gráfico 18 – Benefícios da prática de exercícios físicos segundo os alunos da Escola Dr. Cândido Rodrigues A maioria dos alunos aponta a obesidade como malefícios da falta de prática de atividade física, em seguida um número grande de alunos aponta a depressão como malefício da inatividade física e 3 (três) da amostra pesquisada apontam o diabetes com causa do sedentarismo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Retomando os objetivos deste trabalho que tencionavam analisar os malefícios da falta do exercício físico e os benefícios da sua prática, aspectos analisados através dos ensinos doutrinários e através da pesquisa de campo devolvida nos alunos e pais do 6º ano do ensino fundamental vemos que a prática de esporte está presente em sua grande maioria nas escolas, e que pelo menos uma vez por semana o exercício físico é desenvolvida. O que mais é preocupante e precisa ser repassado com mais assiduidade aos alunos para que seus pais também fiquem informados são os problemas de saúde que a falta de exercício físico ocasiona e os problemas de saúde que podem ser evitados com a prática de exercício físico. Conclui-se, portanto, que é fundamental e urgente a elaboração de propostas pedagógicas que valorizem a diversificação, o aprofundamento e a ressignificação das diferentes manifestações da prática de exercício físico fazendo com que os alunos conhecem o que envolve a Educação Física por inteiro. Podemos ver nos resultados à falta de conhecimento que os pais e os filhos têm em questão do que a falta e a presença de exercício físico pode ocasionar, ou seja, os resultados mostraram a falta de informação que os professores tem para com seus alunos em questão de alertar 292 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 o que a falta e a presença do exercício físico pode trazer na vida de cada um, já que os pais demonstraram que estão conscientes do que seus filhos estão fazendo nas escolas, e é importante os filhos levarem os ensinamentos escolares até seus pais, para que estes também pratiquem, exercício físicos e se conscientizem com a ajuda dos filhos o bem que o exercício físico faz e o mal de quem não faz, havendo uma motivação mútua. REFERÊNCIAS AGUIAR, Alessandra Quintal. Atividade Física na Infância.EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, nº 154, Marzo de 2011. ALOBEBÊ. Esporte na infância: A importância do incentivo saudável. 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Assim, será preservado total sigilo quanto à identificação e os dados serão utilizados somente para fins científicos. A sua participação poderá ajudar a melhor compreender o pensamento dos pais e dos alunos sobre a prática de atividade física na escola e fora dela, não havendo risco em participar desta pesquisa. Se for de seu interesse, o Sr. (a) poderá, a qualquer momento, buscar esclarecimentos sobre os propósitos da mesma, junto à aluna Leslisleine Moraes de Souza e seu Orientador Prof. Dr. Roque Lucio, na Faculdade Euclides de Cunha – São Jose do Rio Pardo. Sua participação é absolutamente voluntária e poderá ser interrompida a qualquer momento, sem que isto acarrete qualquer ônus para o Senhor (a). Sendo assim, caso concorde em participar como respondente do questionário expresse sua autorização, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O Senhor (a) receberá uma cópia na íntegra deste termo após confirmação de sua participação. DECLARAÇÃO Declaro ter sido devidamente informado sobre os objetivos do presente estudo e concordo em participar voluntariamente do mesmo. E autorizo meu filho, aluno do 6.º ano a responder o questionário sobre atividade física. Nome do pai __________________________________________________ Assinatura ____________________________________________________ Nome do aluno ________________________________________________ Data____/____/____ Pesquisadora – Leslislene Moraes de Souza Orientador: Prof. Dr. Roque Lucio ANEXO 2 CARTA DE APRESENTAÇÃO Senhor (a) Diretor (a) ou Prof. Coordenador (a) e Prof. (a) de Educação Física 298 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Vimos por meio desta, pedir a colaboração e autorização para a coleta de informações necessárias para a realização da pesquisa “Os benefícios da prática e os malefícios da falta de exercício físico na visão dos pais e dos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental” desenvolvida pela aluna Leslisleine Moraes de Souza, regularmente matriculada no curso de Educação Física da Faculdade Euclides da Cunha – São José do Rio Pardo da qual sou o Orientador do Trabalho de Conclusão de Curso. Sua colaboração é de fundamental importância para a construção do TCC, favorecendo a compreensão contextualizada da prática do exercício físico. Reafirmamos o compromisso do resguardo de sigilo da informação fornecida, utilizadas exclusivamente para fins acadêmicos – científicos. Cordialmente, ___________________________ Prof. Dr. Roque Lucio (Orientador) Faculdade Euclides da Cunha ANEXO 3 QUESTIONÁRIO PARA OS PAIS. 1) Seu filho participa das aulas de Educação Física na escola? ( ) Não participa ( ) Sim, 1 vez por semana ( ) Sim, 2 vez por semana Tempo gasto fazendo exercícios. ______ minutos por dia _______ minutos por semana 2) Qual atividade física que seu filho pratica? ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) futebol ) corrida ) anda de bicicleta (ciclismo) ) natação ) ginástica ) basquete ) voleibol ) outros – quais ____________________________________ ) não pratica nenhuma atividade física 299 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 3) Em sua opinião a falta de atividade física pode ocasionar: (Pode ser assinalada mais de uma alternativa). ( ) obesidade ( ) depressão ( ) má circulação ( ) diabetes ( ) outros malefícios – quais ____________________________ ANEXO 4 QUESTIONÁRIO PARA OS ALUNOS. 1) Você participa das aulas de educação física na escola? ( ) Não participo ( ) Sim, 1 vez por semana ( ) Sim, 2 vezes por semana _____ minutos por dia _____ minutos por semana 2) Qual atividade física você pratica? ( ) futebol ( ) corrida ( ) andar de bicicleta (ciclismo) ( ) natação ( ) ginástica ( ) basquete ( ) voleibol ( ) outras – quais ______________________________ 3) Em sua opinião quais são os benefícios de se praticar alguma atividade física? (Pode ser assinalada mais de uma alternativa). ( ) evita obesidade ( ) evita hipertensão ( ) evita depressão ( ) evita diabetes ( ) outros benefícios – quais _____________________ 300 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 EDUCAÇÃO e SOCIEDADE PEDAGOGIA EVOLUÇÃO DA CRECHE: A CRECHE EM SÃO JOSÉ DO RIO PARDO 1 APOLINÁRIO, Benedita Helena 2 BLASCHI, Clarinda de Fátima 3 LUCIO, Roque 1,2 Pedagogas graduadas pela Faculdade Euclides da Cunha 3 Orientador - Professor Doutor da Faculdade Euclides da Cunha RESUMO:A creche é local de cuidar, educar e brincar. A educação no Brasil, assim como no Município de São José do Rio Pardo, assou por várias mudanças, as dificuldades enfrentadas no início da trajetória da educação infantil ajudaram a desenhar o perfil das instituições de cuidados com as crianças, as creches. O presente trabalho contempla a trajetória da educação no Brasil, cuja valorização aconteceu gradativamente, deixando o caráter assistencialista de lado para valorizar a educação e a construção do individuo como um todo. Esta pesquisa buscou, de forma simples e direta, apresentar a transformação da creche no Brasil e como aconteceu essa transformação no município de São José do Rio Pardo. Observa ainda alguns fatores a serem mudados ou melhorados com políticas específicas e envolvimento dos profissionais que estão ligados a essa instituição. Palavras-Chave: CRECHE-EDUCAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO SOCIAL. ABSTRACT:The nursery is a place of care, educate and play. Education in Brazil, as well as in São José do Rio Pardo, baked several changes, the difficulties faced in the early history of early childhood education, helped draw the profile of the institutions of child care, daycare centers. This work describes the trajectory of education in Brazil, its valuation has happened gradually, leaving the character of welfare side to value education and the construction of the individual as a whole. This research sought, simply and directly, presenting the transformation of childcare in Brazil and how this transformation happened in São José do Rio Pardo. Also notes some factors to be changed or improved with specific policies and involvement of professionals that are linked to this institution. Key-words: DAY CARE, EDUCATION, SOCIAL TRANSFORMATION. INTRODUÇÃO Este trabalho tem por finalidade apresentar um breve histórico, da instituição creche no atendimento às crianças de 0 a 6 anos suas características e funções. Gostaríamos de proporcionar a partir desta abordagem a divulgação da creche e suas atividades, no município de São José do Rio Pardo, que muitas vezes são desvalorizadas pela sociedade, por falta de conhecimento por parte dos usuários e da população em geral. Reconhecer que as creches são parte da educação básica, e colaboradora na formação de futuros cidadãos. Como profissionais na educação infantil é nosso dever divulgar e esclarecer a sociedade, evitando que as creches sejam vistas como entidades puramente assistencialistas. Toda a criança tem direito a educação, sem desrespeitar a fase de desenvolvimento que ela se encontra, e é dentro da creche que acontece a construção do saber. 301 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Observa-se que a criança é vista, muitas vezes, como um ser que não cresceu, mas não é assim, a criança é um ser único e completo que se desenvolve gradativamente. Este trabalho observa a história da creche no Brasil mostrando seu aparecimento, o que a creche oferece o cuidar, educar, brincar, creche X família e a creche no município de São José do Rio Pardo, com o objetivo de auxiliar os educadores que hoje nela trabalham a tomarem consciência das perspectivas que se abrem a sua ação. Para fazer essa abordagem de forma a exemplificar o conceito real de creche, foram utilizadas pesquisas de caráter cultural, econômico, a, temporal e pedagógico. O Objetivo desse trabalho foi fazer uma rápida abordagem da creche no Brasil sua evolução e o desenvolvimento deste tipo de atendimento no município de São José do Rio Pardo. Foram usadas pesquisas bibliográficas e de campo para que o resultado fosse atingido. CAPÍTULO 1 HISTÓRIA DA CRECHE NO BRASIL Conhecer a história do aparecimento da creche no Brasil poderá auxiliar os educadores que hoje nela trabalham, facilitando a percepção da abertura de todas as possibilidades que se desnudam com sua ação. A criança é um ser capaz de interagir com o meio desde a mais tenra idade. Observar as necessidades da criança ajuda a melhorar os serviços oferecidos pela creche. A história da creche liga-se ás modificações do papel da mulher na sociedade e suas repercussões no âmbito da família em especial no que diz respeito à educação dos filhos. Essas modificações inserem-se no conjunto complexo de fatores contraditórios presentes na organização social com suas características econômicas, politicas e culturais. (OLIVEIRA, 1992,17). O primeiro movimento de uma instituição cuidadora de crianças foi a RODA DO EXPOSTO, que teve início antes do aparecimento da creche, era um lugar onde se abandonava as crianças, de forma a proteger o responsável, colocavam as crianças em uma porta giratória e essa criança era acolhida do outro lado. Infelizmente essa foi a instituição que durou mais tempo, e o Brasil foi os últimos pais a banir este sistema. Com o capitalismo aumenta a necessidade de mão de obra, com isso a “mãe” vai para o mercado de trabalho e por volta das duas últimas décadas do século XlX aparece junto com essa mudança a necessidade de uma instituição para cuidar dos filhos dessa geração. As primeiras creches no Brasil foram criadas no final do século XlX e tinham como finalidade tirar as crianças abandonadas da rua e formar bons hábitos nas famílias. A relação entre patrões e empregados era complicada e em 1943 o Presidente Getúlio Vargas criou a CLT (consolidação das leis do trabalho) onde ficou determinada a criação de berçários nas empresas, mas na prática não funcionou. Posteriormente aconteceu o surgimento de algumas entidades que ajudaram a fixar o conceito de creche, a partir dos anos 70 a creche se tornou um direito do trabalhador, aumentando a necessidade do surgimento de creches públicas. Após a constituição de 1988 a criança e o adolescente são valorizados com legislação especifica, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) reconhecendo como cidadãos de direitos 302 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 indivíduos únicos, seres sociais, históricos, competentes e produtores de cultura, a partir daí a creche é reconhecida como uma instituição de ensino. As conquistas e adequações na educação infantil precisam estar em constante movimento, para que o processo de ensino aprendizagem de nossas crianças seja efetivo. Culminando este processo, a própria Constituição de 1988 reflete o movimento recente de repensar as funções sociais da creche. Ela reconhece a creche como uma instituição educativa, um direito da criança, uma opção da família e um dever do Estado. Tal concepção opõe-se á visão tradicional da creche como uma dádiva, como um favor prestado à criança, no caso à criança pobre e com funções apenas assistencialistas e substituição da família. (OLIVEIRA, 1992, 22). A lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, nos seus artigos, coloca a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica. A função educativa da creche irá exigir um planejamento de um currículo de atividades, o qual deverá considerar tanto o grau de desenvolvimento da criança quanto os conhecimentos culturais básicos serem por elas apropriados. A creche tem sido cada vez mais reivindicada por um número crescente de famílias de diferentes camadas sociais. Daí a urgência em responder ás questões envolvidas no desenvolvimento de crianças e de como promovê-lo para garantir um atendimento de qualidades. CAPÍTULO 2 O QUE A CRECHE OFERECE A creche-palavra de origem francesa que significa manjedoura- foi criada para educar, guardar e abrigar crianças pequenas cujas mães necessitavam trabalhar ou crianças que necessitavam de assistência. (ABRAMOWICZ,1999,10). Diariamente, cada creche se constrói e se reconstrói a partir dos elementos humanos, especiais, sociais, culturais e econômicos que dispõe. Sendo a creche um local onde as crianças passam todo dia ou parte dele, é fundamental que seja definida claramente suas funções. São funções da creche educar e cuidar. Mas, é muito amplo e complexo os serviços prestados por essa instituição. Todo processo deve incluir inúmeras atividades para a formação integral do individuo. As atividades pedagógicas e lúdicas preparam a criança para o ensino fundamental, as atividades de socialização ajudam a criança no desenvolvimento da convivência com vários indivíduos e suas características. Todas as atividades dentro de uma creche são cercadas de regras e respeitam uma rotina, que muitas crianças não poderiam experimentar estando somente no ambiente familiar. A creche deve permitir as possibilidades de aprendizagem direta, onde a criança manipula, experimenta, raciocina, sente e age, sendo essencial que ela tenha controle sobre o que está fazendo, que possa escolher decidir e, no final, sentir que foi capaz de concluir a ação. (CONSELHO NACIONAL DA MULHER, 1988,15) Para que a creche funcione é necessário que a parte burocrática e o espaço físico estejam em harmonia e bem estruturados, oferecendo: Atividades permanentes; Atividades dirigidas; 303 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Espaços variados; Banheiros adequados; Mobília para a faixa etária atendida; Livros; Brinquedos. 2.1 Rotina da Creche A rotina da creche se constitui em uma sequencia de várias ações de trabalho de adultos e crianças. Simultaneamente, situações diversificadas estão ocorrendo. É necessário um planejamento que combine a variedade de situações que são interdependentes, afim de que haja harmonia e eficácia. O educador deve considerar algumas necessidades das crianças na hora da elaboração da rotina. A rotina deve evitar que a criança espere, principalmente na hora da alimentação e higiene. Na hora de brincar toda criança deve ser estimulada a participar, o educador deve propor brincadeiras e situações diversificadas. O estudo a ser desenvolvido com os educandos, deve ser preparado e direcionado de acordo com a idade das crianças. A volta para casa deve respeitar o horário para não criar expectativas negativas com a espera do responsável. Cabe aos profissionais da creche observar e conceber a rotina como possuidora de movimento e ritmo. Porém, qual é a melhor rotina para crianças de um determinado grupo? Onde levá-las? O que propor? Essas respostas serão todas respondidas ao educador que se propor a estudar a realidade da creche onde ele atua. 2.2 Espaços Físicos da Creche Todo espaço físico é um território cultural a ser ocupado e construído, onde a organização e a bagunça marquem a experiência, os sentimentos e as ações de cada educando. A criança tem que viver a infância em sua plenitude, para tanto todos estes aspectos de vem ser observados. Os espaços das creches são variados. Por isso, elas devem refletir os princípios educativos em que se baseiam e as praticas das profissionais de educação que neles agem. As crianças precisam de espaços onde possam acontecer os movimentos naturais da evolução do ser humano. A criança precisa engatinhar, correr, pular, descansar, pintar, ler, cantar pesquisar, conversar, brincar e ficar sozinhos. 304 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura1- Lavatórios e espelho. Figura 1 - Lavatórios e espelho. Banheiros de fácil acesso, próximos às áreas de recreação, considerando as instalações para os funcionários. Figura 2- Acesso á sala Figura 2- Acesso á sala Salas sem barreiras visuais e de fácil acesso. Figura 3-Cozinha Figura 3 - Cozinha 305 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A cozinha deve ser reservada e de difícil acesso para as crianças, observando sempre a praticidade se sua higienização. Propor elementos que ajudem a interação dos espaços. Um espaço pensado e previamente preparado para determinado grupo auxilia a atividade autônoma e cooperativa das crianças. Um espaço planejado e bem organizado é bem prazeroso. (ABRAMOWICZ, 1999,37). CAPÍTULO 3 RELAÇÃO CRECHE FAMÍLIA Os contatos diários entre os educadores, os cuidadores e os familiares proporcionam um relacionamento muito especial, onde a instituição deve dar uma atenção especial. A Creche é para a criança uma extensão do seu lar, toda informação e dicas dos pais para os educadores e posteriormente dos educadores para os pais ajudará no desenvolvimento da criança. Esse tipo de relacionamento com as famílias evita os conflitos na hora de rotinha e orientação daquele meio onde a criança vive. A família e a creche muitas vezes entram em conflito de papeis na tentativa de medir as competências na educação da criança. Isso pode prejudicar muito o processo de formação deste individuo. O ideal é trabalhar o diálogo observando sempre o objetivo, que é preservar, educar e desenvolver o educando. 3.1 Adaptações na Creche Quando a criança chega à creche é necessário um grande esforço e mobilização da equipe, para que a adaptação ocorra da forma mais tranquila possível. Várias são as dúvidas e inseguranças que envolvem os pensamentos dos pais na hora de colocar seus filhos na creche. Toda essa preocupação e insegurança é passada para a criança. Trabalhar com os cuidadores familiares neste momento é muito importante, preparando os pais para essa mudança, mostrando o carinho esclarecendo todas as dúvidas. Já com a criança que chega é necessário apresentar uma rotina, desenvolvida para aquela faixa etária, ajudando a criança a ter segurança e comece a estabelecer vínculos afetivos com o ambiente. É possível que neste período a criança apresente dificuldades para dormir, mudança de apetite e no humor, mas com a rotina as dificuldades vão sendo eliminadas, dando espaço para o aprendizado. CAPÍTULO 4 CUIDAR, EDUCAR E BRINCAR Antes de entrar em cada tópico é necessário compreender que o cuidar, o educar e o brincar não são ações individuais na educação infantil. O cuidar, o educar e o brincar fazem parte da formação integral do aluno e não somente sua escolarização. Respeitar cada criança como um individuo único faz o educador pensar sua ação no sentido de proporcionar a esse educando situações de brincadeiras e cuidados visando à formação integral e manter o foco na educação integral. 306 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 4.1 Cuidar O cuidar, dentro da educação infantil, é mais que considerar apenas as necessidades da criança como, alimentação, saúde, segurança e higiene. O cuidado é parte integrante do processo educativo que demanda vários campos de conhecimento e a contribuição de profissionais e diferentes áreas do conhecimento. Cuidar significa valorizar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos. ( BRASIL, 1988, 24). O cuidar é auxiliar no desenvolvimento integral da afetividade, a alimentação e a saúde. O professor deve saber identificar as necessidades da criança e prioriza-las, dedicando-se integralmente e nunca esquecendo que o ato de cuidar é uma forma de estimular o aprendizado. O desenvolvimento integral depende tanto dos conhecimentos relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde. Se quisermos certos hábitos nas crianças precisamos criar situações que os promovam. Por exemplo, oferecer cuidados de higiene pessoal que garantam limpeza e conforto, como banhos refrescantes, rotinas coletivas de uso de penico, rotinas de higiene bocal, realizadas com humor, utilizando histórias com personagens que sirvam como modelo para imitação ou expressem resistências com as quais a criança se identifica e que pode superar. Além disso, uma meta básica nessas situações é reduzir o tempo de espera para ser atendido e promover a autonomia. (OLIVEIRA, 2002,190). 4.2 Educar Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis. Os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Infantil assim define educar: Educar é propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam construir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança e o acesso pelas crianças aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. (BRASIL,1998,24). 4.3 O Brincar O brincar (lúdico) é um processo fundamental para o desenvolvimento da criança. É um processo que se observa durante toda a vida. A criança desenvolve a inteligência, convivência, motricidade e muitos outros aspectos relacionados a seu desenvolvimento integral. Criar condições 307 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 e situações para que esse aprendizado aconteça, faz parte do cotidiano da instituição de educação infantil. Qual o verdadeiro papel da brincadeira? Quando a criança brinca com outra de faz-de-conta, sabemos sem dúvidas que a criança está brincando, proporcionar que os espaços, os objetos oferecidos possam alimentar esta brincadeira. Mas há várias outras brincadeiras que estimulam o desenvolvimento motor e cognitivo da criança, bastando apenas a boa vontade e o olhar atento do educador. O tipo de brinquedos e brincadeiras são direcionados para determinados aspectos do desenvolvimento infantil, para que as descobertas sejam prazerosas e diversificadas. Nas brincadeiras as crianças transforma os conhecimentos que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca. Por exemplo, para assumir um determinado papel em uma brincadeira, a criança deve conhecer algumas de suas características. Seu conhecimento provém da imitação de alguém ou de algo conhecido, de uma experiência vivida na família ou em outros ambientes, do relato de um colega ou de um adulto, de cenas assistidas no cinema ou narrados em livros, etc. A fonte de seus conhecimentos é múltiplo, mas estes encontra-se, ainda, fragmentadas. È no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com outros papeis, tomando consciência disto e generalizado pra outras situações. ( BRASIL,1998,27). CAPÍTULO 5 HISTÓRIA DA CRECHE EM SÃO JOSÉ DO RIO PARDO O surgimento de instituição cuidadora de crianças no município de São José do Rio Pardo, não fugiu ás regras do restante do Brasil, primeiramente foi uma instituição que cuidava de crianças abandonadas. Observando uma crescente participação da mulher no mercado de trabalho e uma reformulação na organização familiar surge a creche no município, que a principio, teve um caráter assistencialista muito forte. Há relatos que a inauguração da primeira creche no município aconteceu no ano de 1961, devido ao esforço da vereadora Alexandra Olga Pourrat Campos. Era precária, se comparada aos moldes atuais, composta por quatro salas, secretaria e três banheiros. A creche começou a funcionar com apenas dezessete crianças e com inúmeras dificuldades. O leite chegava regularmente. O mais tinha que ser comprado. “As verbas municipais eram insignificantes e as doações dos” Amigos da Creche”, irrisórias.Olga lutava por um convênio entra a ARAM (Associação Riopardense de Assistência ao Menor) e a Secretaria do Estado. Não desanimava, mesmo afogada em papéis e perdida nos trâmites da burocracia.(...) Primeiro aniversário da Creche São Paulo chegou em junho, com farta mesa de doces às crianças e às mães. O jornal resenha comentando a festa, assim concluiu: “Relevantes serviços presta esta instituição às mães que trabalham, abrigando, alimentando e educando 26 crianças de 3 meses a 5 anos. (DEL GUERRA, 2.000, 76). A busca por vagas mostrou a necessidade de construção de novas creches, o atendimento era feito para mães que comprovassem que estavam trabalhando. 308 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Depois de um certo tempo a creche passou a contar com professores da rede, desvinculando lentamente o caráter assistencialista. Como todo começo, falta de informação e legislação especifica, a creche apresentava uma série de falhas a serem corrigidas com o tempo. Alguns exemplos são os espaços inadequados, não era exigida formação para atuar na instituição, o numero de criança por adulto era em média 40 e não havia um trabalho pedagógico direcionado. O atendimento até 2007 era para crianças de 0 a 6 anos passando atender crianças de 0 a 3, o motivo desta mudança foi a ampliação do atendimento, por conta da grande demanda. 5.1 Histórico da creche “Gilda Zanetti Mansano” Em 07 de abril de 2008, foi atribuído o nome de Gilda Zanetti Mansano, a creche instalada no prédio público que foi construído ao lado da EMEB “Profa. Zélia Maria Zanetti, na Avenida Benedito dos Reis Sigliano s/n, em 10 de novembro de 2009, foi criada a CRECHE/EMEB com o mesmo nome, para atender a demanda de crianças de zero a cinco anos a qual é mantida pela Secretaria Municipal de Educação. Atribuição de código C.I. E, criada pelo decreto nº 3811 de 10/11/2009. O código C.I. E com nome Creche/EMEB” Gilda Zanetti Mansano”. Figura 4 - Av. Benedito dos Reis Sigliano Dados Históricos da Escola OCORRÊNCIA ATO Decreto CRIAÇÃO Municipal Decreto INSTALAÇÃO Municipal Nº D.O DIA MÊS ANO PAG 3811 14 11 2009 A-26 3811 14 11 2009 A-26 Gilda Zanetti Mansano nasceu em 04/03/1928 e faleceu em 30 de maio de 2002. 309 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Casada, mãe de sete filhos (quatro mulheres e três homens), teve quinze netos e três Bisnetos. Sempre priorizou em sua vida a generosidade e o amor ao próximo. Viveu na área rural de São José do Rio Pardo, nas proximidades do Sítio Novo. Ali desenvolveu vários trabalhos de caridade, sempre ajudava os mais necessitados com doações de alimentos a todos que a ela recorriam. Proprietária de um estabelecimento comercial assistia àqueles que não possuíam poder de compra, suprindo a parte que lhes faltava. Sempre bondosa com os pequenos, era conhecida como “Madrinha das Crianças”. Acolhia também aqueles que por ali viviam, em sua residência, oferecendo-lhes refeições com recursos próprios. Mediante a este exemplo de altruísmo, mais que justa esta homenagem à D. Gilda, a qual empresta seu nome e exemplo a esta instituição de atendimento às crianças, a Creche/EMEB “Gilda Zanetti Mansano”. A creche é um projeto do governo federal para construção ou reestruturação da Rede Pública Escolar de Educação Infantil (Proinfância). A escola esta localizada em um complexo de bairros onde a procura pelo atendimento é muito grande. O funcionamento da creche é das 07h00min ás 18h00min horas, conta com oito professores graduados em Pedagogia, três cozinheiras que se revezam no preparo de todas as refeições. A escola tem 1.402 metros quadrados de área construída e ocupa um terreno de 3.099 metros quadrados. CAPÍTULO 6 PESQUISA DE CAMPO: A creche real e concreta. A pesquisa de campo teve como referencial o documento do Ministério da Educação Critérios para um atendimento em Creches que respeite os direitos Fundamentais das Crianças (BRASIL, 2009). Foi realizada na creche Gilda Zanetti Mansano, foram feitas visitas e observações da rotina e uma entrevista com a Coordenadora Pedagógica do ano de 2013. A pesquisa teve como objetivo esclarecer algumas perguntas sobre a realidade do espaço físico, rotina e convivência na creche e entre as instituições que cuidam de crianças na rede regular de ensino no município de São José do Rio Pardo, tendo como modelo a creche Gilda Zanetti Mansano. A entrevista com a coordenadora pedagógica está apresentada em forma de perguntas e respostas, exatamente como foi apresentada para a coordenadora. 6.1 As crianças têm direito à brincadeira? Os brinquedos estão disponíveis para as crianças, mas não em todos os momentos, pois temos uma rotina de trabalho que segue um planejamento baseado no Referencial Curricular de Educação Infantil. A organização dos brinquedos permite que as crianças tenham livre acesso. São organizados em caixas, separando-se os tipos de jogos. Dentro da rotina da creche há momentos em que as crianças têm a oportunidade de brincarem livremente, mas sempre com a observação do professor. A creche promove reuniões periódicas com os pais e aborda assuntos importantes para o 310 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 desenvolvimento da criança como: a importância do brincar para a criança, nutrição, vacinação, etc. Os professores e ADIs sempre incentivam as crianças a guardarem os brinquedos e os materiais que usam nos seus devidos lugares. No momento das brincadeiras, os professores organizam as salas de modo que permita o desenvolvimento das brincadeiras livres e espontâneas. A brincadeira é cultural e são ensinadas para as crianças. O espaço da creche é muito bom e favorece o desenvolvimento das brincadeiras das crianças. A creche atende crianças de 4 meses a 4 anos, os jogos de bola são realizados, no entanto não temos um lugar especifico que favorece o futebol. Todas as crianças tem oportunidade de jogar, correr, pular, inclusive as meninas. Esses momentos são livres quanto programados e orientados pelos professores. O professor e as ADIs sabem que a brincadeira é essencial para o bom desenvolvimento da criança e, tanto brincam junto a elas ensinando-lhes brincadeiras como participam quando são convidados pela criança. O brincar é respeitado, porém faltam alguns estímulos. O cuidar, principalmente nos berçários ocupa um tempo muito grande, e por trabalhar no limite da quantidade de funcionários necessários, essa parte fica a desejar. Figura 5 – Brinquedos organizados. Figura 5 - Brinquedos organizados 311 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 6 - Brincadeiras de bebê diante do espelho . 6.2 As crianças têm direito à atenção individual? Todas as crianças são chamadas pelo seu nome, não costumamos chama-las por apelidos mesmo que os pais a chamam por apelidos. As professoras mantém um registro de observação onde o desenvolvimento da criança é anotado. Na instituição há a troca de informações entre pais, funcionários, professores para melhor atender as necessidades individuais das crianças. A criança é ouvida em todos os momentos em que quer falar. Caso haja alguma mudança no comportamento da criança (triste, choro) sempre procuramos saber o que está acontecendo, trocando informações com os pais. As crianças recebem atenção dos professores e ADIs, individualmente tanto na chegada quanto na saída. O banho e a troca de fralda é um momento em que os profissionais da creche procuram conversar com as crianças, são carinhosos. Os aniversários são comemorados sempre. As crianças que demonstram certa quietude são observadas pelos professores. Procuramos investigar com os pais os possíveis motivos tanto de estar a criança muito quieta ou agressiva. Caso seja necessário encaminhamos avaliação psicológica e tratamento, se for o caso. Quase em toda sala há crianças mais ativas e agitadas, os professores sabem trabalhar com essas crianças que até ajudam os menos ativos, colocando-os para ajudar os colegas, incentivando-os no desenvolvimento das suas atividades, elogiando-os quando necessário. A criança é incentivada a comer todo tipo de alimento, pois é agora que se desenvolve o habito alimentar, mas caso a criança não gosta mesmo de certo alimento respeitamos a sua individualidade. Os cuidados com a adequação da roupa das crianças é observado por todos os profissionais: colocando ou tirando a roupa de frio, trocando o tênis por chinelo, etc. As crianças que tem alguma dificuldade na integração com o grupo são estimuladas pelos professores a brincar, para isso os professores brincam junto, chamam a criança para brincar, elogia. A criança é sempre respeitada nas suas variações de humor, afinal é uma criança. O ritmo fisiológico da criança é respeitado. Não temos crianças 312 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 com necessidades especiais. A privacidade e quietude das crianças são respeitadas, mas primeiro observamos se isso não está acontecendo como uma forma de afastamento do grupo ou apenas se é uma necessidade momentânea. Na creche não temos o problema de outras crianças criarem apelidos para os colegas. Toda criança é observada e caso seja necessário ela é encaminhada para atendimento especializado. Figura 7 – Banho do bebê. Figura 7- Banho do bebê Figura 8 – Atenção individual. Figura 8 - Atenção individual 6.3 As crianças têm direito a um ambiente aconchegante, seguro e estimulante? As salas são arrumadas para receber bem a criança de modo que se sintam bem acolhidas. A creche é nova e possuem salas bem ventiladas, organizadas e limpas. Os objetos quebrados e brinquedos que podem oferecer riscos à saúde da criança são retirados e jogados fora. Os produtos perigosos são guardados fora do espaço onde permanecem as crianças. Não há na sala de aula produtos perigosos. Os móveis são adequados à idade e ao tamanho da criança. Na creche há espaço especial e próprio para o sono e repouso. A organização da creche leva em conta a idade que atende, por isso procura organizar-se, arrumar, dar manutenção ao prédio e equipamentos de forma que seja segura para a permanência da criança. Os trabalhos das crianças são expostos em sala de aula, pois no espaço externo venta muito e os trabalhos das crianças sofrem danos. A creche tem espaço 313 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 adequado, mas numa possível reforma seria necessário adequar o refeitório que é aberto. Não há necessidade de reforma para as janelas, pois a creche já atende a esse requisito. A equipe possui um bom relacionamento baseada no respeito uns com os outros e a individualidade das crianças e seus familiares. O espaço para receber os pais é aconchegante e acolhedor. A creche foi construída de forma que seu acesso seja seguro. Quanto ao transito foi solicitado junto à secretaria de transito a construção de uma lombada em frente à creche. O ambiente na creche Gilda Zanetti Mansano, é muito aconchegante, podendo ser comparado a uma extensão do lar. Há uma grande preocupação quanto ao sentimento da criança. Os móveis não são todos adequados para o espaço e faixa etária, pois possuem quinas ou são muito altos. O pátio é aberto nas laterais, por conta disso há uma forte corrente de vento no interior do mesmo. Figura 9 - Vista do pátio pela porta de entrada 6.4 A criança tem contato com a natureza? Há plantas em todo o espaço da creche. Há horários específicos para que as crianças tomem banho de sol. São oferecidas atividades em que as crianças utilizam-se da agua para desenvolverem suas brincadeiras, utilizando-se de argila, areia. Todo material é utilizado para o desenvolvimento de atividades dirigidas ou livres, inclusive elementos da natureza. Toda a criança inclusive os bebe tem horários para passearem ao ar livre. Desenvolvemos o projeto meio ambiente em que incentivamos as crianças a respeitar a natureza, os animais. As janelas da creche possibilitam às crianças a visão do lado de fora, possuem vidros transparente. Os passeios são programados, geralmente visitas a sítios ou passeio na cidade. Temos o projeto meio ambiente que inclui a família, envolvendo-as na reciclagem do lixo e na conscientização da preservação da natureza. Podemos observar que há plantas em toda a extensão da creche, tornando o ambiente agradável e despertando no educando uma consciência ecológica. 314 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 10 - Parque de areia Figura 11 - Jardim interno 6.5 As crianças têm direito à higiene e à saúde? Faz parte do cotidiano da creche os cuidados com a higiene da criança. Dentro de atividades especificas as crianças são estimuladas a cuidarem de seu corpo: lavar suas mãos, escovar seus dentes, pentear os cabelos, trocar de roupa quando suja na escola. Os banheiros são lavados no mínimo duas vezes por dia e sempre que houver necessidade. O espaço externo da creche é lavado, podado quando necessário e o tanque de areia é conservado através de cloro em pó quando se faz necessário e limpo diariamente. Caso haja alguma doença contágios no bairro procuramos a vigilância sanitária para orientação e prevenção. Se alguma criança vem para a creche e suspeitamos de ser uma doença contagiosa, ligamos para a mãe e a orientamos a levar a criança ao médico. A criança só pode retornar a creche com autorização, alta médica, para evitarmos o contagio de outras crianças. O bairro possui saneamento básico. A carteira de vacinação sempre é pedida, principalmente após as campanhas de vacinação para averiguarmos se a vacinação está em dia. Caso não esteja à mãe é orientada s levar a criança até o posto de vacinação e depois apresentar a carteira de vacinação atualizada para a direção da creche. Quando a criança adoece e não pode vir 315 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 para a creche ligamos para a família para sabermos noticias da saúde da criança. Sempre que necessário procurarmos os serviços básicos de saúde para a prevenção de doença contagiosa no bairro. Sempre procuramos orientação especializada para crianças com dificuldade física, psicoativas ou problemas no seu desenvolvimento. Quando há necessidade orientamos os pais para atendimento de saúde. A criança tem sempre o direito de brincar e se divertir independente de seu cuidado com a higiene, mas somos responsáveis por ela e cuidamos de sua higiene estimulando-a também a fazer. A mãe também é orientada a cuidar melhor da higiene de seu filho. Todas dão exemplo cuidando de sua higiene e aparência na instituição. Figura 12 - Escovação Figura 13 - Banho 316 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 14 - Lavar as mãos 6.6 As crianças têm direito a uma alimentação sadia? As merendeiras amam a profissão e o carinho e o amor são os ingredientes no preparo das refeições das crianças. O ambiente do refeitório é tranquilo em todos os momentos das refeições. Os alimentos são preparados pela nutricionista da prefeitura observando a idade e a necessidade básica de nutrição das crianças. As atividades na cozinha são proibidas devido ao perigo de queimadura, mas nada impede de as professoras organizarem uma atividade de preparo de alimentos com as crianças e depois levar para a cozinha. Nessa idade devemos incentivar a criança a saborear todos os alimentos, mas caso a criança não queira mesmo determinado alimento ela é respeitada em suas preferencias. A alimentação é diversificada obedecendo a orientação da nutricionista. As crianças de 3 e 4 anos já se alimentam sozinha, as menores são incentivadas (2 anos). Toda agua da creche é filtrada. As crianças ajudam na arrumação de suas mesas e de seus pratos. A cozinha obedece às normas de vigilância sanitária rigorosamente. Todo o momento de alimentação, banho atividades são realizados com carinho pelas educadoras e ADIs. Os alimentos são sempre frescos. Há dialogo com os pais sobre cardápio das crianças, eles tem acesso ao cardápio, pois este está fixado em local visível e acessível aos pais. 317 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 15 - Cardápio Figura 16 - Alimentação 6.7 As crianças têm direito a desenvolver sua curiosidade, imaginação e capacidade de expressão? São realizadas atividades onde as crianças têm oportunidade de passear no bairro e conhecer lugares novos e também na cidade. Toda manifestação da criança é valorizada pelos educadores. São realizados e montados espaços específicos para o desenvolvimento de brincadeiras e jogos simbólicos das crianças. Trabalhamos com diversos ritmos musicais, diversas formas de conto de historia (varetas, teatro, teatro de fantoches, livros de historia). Há cantos disponíveis com livros de historia para as crianças manusearem e lerem mesmo não lendo convencionalmente. Todas as perguntas das crianças são respondidas, caso o professor não saiba, procura a informação para depois responder à criança. Os profissionais da 318 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 creche ajudam as crianças nas suas tentativas de compreender as coisas e acontecimentos. Não reprimimos a curiosidade sexual da criança. Possuímos atividades coletivas onde há interação com crianças de todas as idades: hora da historia coletiva, projeto musica. O horário de televisão é apenas uma vez por semana e 45 minutos para cada turma. Os professores registram o desenvolvimento da criança em um portfólio e as informações são passadas para os pais em reuniões de pais e mestres. Figura 17 - Sala de vídeo 6.8 As crianças têm direito ao movimento em espaço amplo? O espaço da creche é amplo. As professoras preparam atividades dirigidas que privilegiam o movimento e oferecem oportunidades para as crianças correrem e explorarem o espaço livremente sob a sua supervisão. O futebol não é uma atividade que as crianças gostam, mas desenvolvem atividades com bolas. As aulas de movimento e atividades livres permitem que as crianças desenvolvam sua força, agilidade e equilíbrio físico nos amplos espaços. São preparadas atividades de movimento para todas as faixas etárias, respeitando o desenvolvimento da criança, a faixa etária, a individualidade de cada um. A rotina da creche, dos professores promove atividades para que esses momentos de espera não existam. Colocamos a disposição da criança livros, brinquedos, massinhas, para que a criança ao terminar determinada atividade escolha algo do seu interesse para fazer. Temos 3 profissionais em cada berçário e, esquecer o bebê no berço não acontece. Os bebês raramente ficam em berços, são estimuladas a engatinhar no espaço, explorando o seu ambiente e interagem com os bebes maiores. O espaço da creche em dias de chuva é inadequado, pois se chove forte não há local fora da sala protegido da chuva. As educadoras ensinam as brincadeiras tradicionais para as crianças. A família não participa de atividades dentro do horário da creche, pois a grande maioria trabalha. 319 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 18 - Espaço livre Figura 19 - Brincadeira 6.9 As crianças têm direito à proteção, ao afeto e à amizade? Os pais têm o nosso respeito, amizade e as crianças percebem isso. Temos um bom relacionamento com os pais. Não interferimos nas amizades infantis, incentivamos o respeito, a solidariedade e o amor ao próximo, à cooperação entre as crianças e entre nós funcionários e professores. Sempre procuramos ajudas os membros da equipe em situações de problema pessoais. As crianças são avisadas com antecedência sobre o termino de qualquer atividade. Nunca houve situações de exclusão de crianças na nossa instituição. Os assuntos relacionados com as crianças e SUS familiares nunca são comentados na frente das mesmas. Todas as brincadeiras são acompanhadas por um adulto, as crianças jamais ficam sozinhas. Os bebês são estimulados o tempo todo através de conversa, no banho, na alimentação. A criança é sempre ouvida quando deseja se manifestar. Com certeza. Procuramos conversar com as crianças sobre suas agressões e explicar a ela o motivo pelo qual certas atitudes não são aceitas na creche e 320 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 na sociedade. O conselho Tutelar é avisado caso apareça alguma criança machucada na creche. 6.10 As crianças tem direito de expressar seus sentimentos? O bem estar físico e emocional da criança é nosso maior objetivo, assegurar o seu direito a alegria, felicidade. É assegurada a criança a liberdade de expressar todos os seus sentimentos: tristezas, alegrias, ansiedade, etc. Os profissionais são muito atentos a qualquer emoção da criança: observam, conversam com elas e, se necessário investigam com os pais os motivos das tristezas de seus alunos. Sim. Nos momentos em que se faz necessário os profissionais conversam com as crianças sobre os seus impulsos (como morder, por exemplo) explicando a elas que podemos resolver um conflito através de conversa. Os profissionais tem consciência de como se dá o desenvolvimento infantil e caso seja necessário buscamos ajuda especializada para ajudar a criança e a família nas situações de conflito. O maior objetivo da instituição é o bem-estar físico e emocional da criança. Os profissionais organizam situações diárias em que as crianças possam desenvolver sua autonomia. Diariamente é realizada a roda de conversa, onde as crianças falam sobre suas experiências em casa. Temos projetos que permitem que os irmãos fiquem juntos em determinado horário (hora da história coletiva, projeto de música). A rotina da creche proporciona momentos de brincadeiras, desenhos e dramatizações. Raramente acontecem manifestações de preconceitos na creche, mas se acontecer mostramos através de nosso exemplo atitudes que incentivam comportamentos mais igualitários. 6.11 As crianças tem direito a uma atenção especial durante seu período de adaptação na creche? Os momentos de adaptação são previamente planejados para que tanto a criança quanto a família sintam-se acolhidos no ambiente da instituição. Toda a rotina da creche, planejamento são apresentados aos pais para que se sintam como parte fundamental na relação entre instituição e família. Os pais podem ficar com seus filhos durante a adaptação da criança. É organizada uma rotina para que essa adaptação se dê da melhor maneira possível tanto para a criança quanto para os pais. Temos programado em nosso planejamento momentos especiais para esse período. Não é proibido à criança trazer um objeto que lhe dê segurança nos momentos de adaptação. Na rotina da creche providenciamos momentos em que os irmãos possam ficar juntos, pois isso garante uma maior segurança à criança. Pais fazem parte de um bom planejamento no atendimento à criança em nossa instituição, são parceiros em todos os momentos. Sua presença é sempre muito bem vinda, assim como suas sugestões. A conversa com os pais sempre faz parte da rotina da creche. A observação da reação dos bebês e de seus familiares é importante para adequarmos alguma situação que possam vir acontecer. O bem estar da criança é a nossa maior preocupação. A alimentação das crianças é orientada por nutricionista. Observamos como a criança fica no período de adaptação: se se alimenta, se há vômito, etc. 6.12 As crianças têm direito a desenvolver sua identidade cultural, racial e religiosa? A criança é sempre elogiada para desenvolver sua autoestima. Não se diferenciam meninas e meninos, os direitos são iguais para todos. Todas as crianças são tratadas igualmente independente de sua cor, raça ou religião. 321 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Procuramos propor situações onde a expressão cultural das famílias é garantida. Temos o projeto datas comemorativas onde todas as crianças participam das festividades. Proporcionamos excursões para que as crianças visitem pontos da nossa cidade e de seu bairro. Os pais participam de todas as atividades e eventos que acontecem na creche. Com essa abordagem percebemos que a creche Gilda Zanetti Mansano, tem uma equipe voltada para o desenvolvimento integral da criança. O respeito e a colaboração entre as partes, pais e creche, fazem parte desta caminhada. Ainda foi possível verificar a preocupação com as normas que regem esse tipo de instituição e seus colaboradores. Existe a capacitação periódica dos docentes e demais funcionários, que entre muitas atividades do cotidiano, arrumam tempo para fazer a reciclagem profissional. Fonte: registro de imagem realizado pelas alunas pesquisadoras- 2013 Figura 20 - Fachada da Creche Gilda Zanetti Mansano 322 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 21 - Secretaria Figura 22 - Sala dos Professores 323 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 23 - Sala de espera Figura 24 - Refeitório Fonte: registro de imagem realizado pelas alunas pesquisadoras- 2013 Este local é utilizado para as refeições das crianças e existe boa ventilação, pois o local é todo aberto, mas, em dias de vento forte, pode ser um problema. Observamos que embora as cadeiras sejam pequenas, as mesas têm quinas, o que pode representar perigo para as crianças pequenas. 324 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 25 - Mesa de refeição Figura 26 - Cadeirão para alimentação Figura 27 - Jardim do Pátio 325 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 28 - Lixeiras com a identificação por cor Estão dispostas estrategicamente entre as salas, são altas para a faixa etária atendida na creche. Figura 29 - Lavatório e chuveiro Figura 30 - Vaso sanitário com acessibilidade para cadeirante 326 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A posição dos banheiros favorece tanto as salas do lado direito quanto do esquerdo, pois foram construídos no meio, porém o acesso é externo a criança tem que sair da sala de aula para ir ao banheiro. Figura 31 - Porta e puxador de segurança Figura 33 - Lavanderia 327 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Figura 35 - Rotinas CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste trabalho de pesquisa foi possível observar que a educação infantil passou por várias mudanças importantes, deixou de lado seu caráter assistencialista para se integrar segundo a Lei de Diretrizes e Bases de 1996, á Educação Básica Nacional. Cuidar, Educar e o Brincar nas instituições são funções que caminham juntas, sendo ambas essenciais para o desenvolvimento integral da criança. Observamos ainda, que a creche Gilda Zanetti Mansano, é um ótimo modelo de Creche, pois apesar dos desafios do dia a dia, apresenta um ambiente tranqüilo, um espaço físico muito próximo do ideal e uma equipe dinâmica. É importante lembrar, que a opinião dos educadores não é levada em consideração na hora da construção da creche, acarretando assim alguns prejuízos para os educandos, pois os mesmos ficam sem espaços adequados para a construção do conhecimento. 328 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 A creche é onde o conhecimento toma forma, acreditar e investir na educação desde a primeira infância trará ótimos e saborosos frutos para nossa sociedade. REFERÊNCIAS ABRAMOWIKCZ, Anet et al. Educação Infantil Creches. 2. Ed. São Paulo: Moderna, 1999. AGOSTINHO, Katia Adair – UFSC Gt. Educação de criança. Jun/mai. Coles. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DAS MULHERES. O dia-a-dia. Brasília, 1988. ______. MEC/SEF. Referencial Curricular Nacional para a educação infantil. Brasília, 1998. ______.- Critérios para um atendimento em Creches que respeite os Direitos Fundamentais das Crianças, 2009. ECA. Estatuto da Criança e o Adolescente, Brasil lei n° Lei 8069 de 13 de julho de 1990 OLIVEIRA, Zilma de Moraes et al. Creches: Crianças, Faz-de-Conta & Cia. 6°. ed. Petrópolis: Vozes, 1998. OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: Fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. ROSSETI- Ferreira, Ana Clotilde. Os Fazeres na Educação Infantil. 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2001. SEVERINI, Antônio Joaquim, Metodologia do Trabalho científico. 21 ed. São Paulo: Cortez, 2000. SIGNORETTI, Adriana et al. Educação e Cuidado. Revista do Professor. Porto Alegre. Out/dez 2002 329 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Anexo 1 - Planta baixa da creche; 330 REVISTA LOGOS, N.º 22, MAR/2014 ISSN 1518-7942 Anexo 2 – Rotina 331