Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
22 e 23 de setembro de 2015
RELAÇÃO ENTRE SAÚDE MENTAL E TRABALHO: UMA
ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES DE SINDICALISTAS
Mariana Pereira da Silva
Márcia Hespanhol Bernardo
Faculdade de Psicologia
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Trabalho no Contexto Atual: Estudos
Críticos em Psicologia Social
Centro de Ciências da Vida
[email protected]
Resumo: Pretende-se, aqui, apresentar os
resultados de uma pesquisa qualitativa que teve
como objetivo compreender as concepções de
representantes sindicais sobre a relação entre
saúde mental e trabalho, entendendo estes são
atores sociais que representam os trabalhadores,
com importante papel na identificação e
enfrentamento de fatores de desgaste da saúde,
como um todo, nos locais de trabalho, bem como no
encaminhamento para tratamento de trabalhadores
adoecidos. Para tanto, adota-se a perspectiva
integradora da abordagem da Saúde Mental
Relacionada ao Trabalho (SMRT) e do “desgaste
mental” proposta por Seligmann-Silva [1] e a
concepção da Psicologia Social do Trabalho, que
estão de acordo com a perspectiva defendida pela
presente pesquisa. Foram realizadas entrevistas
com cinco representantes sindicais legitimamente
eleitos e de categorias diferentes, sendo estas:
professores da rede privada, químicos, bancários,
petroleiros e metalúrgicos. As entrevistas foram
abertas e reflexivas, e os entrevistados falaram
livremente sobre suas experiências no sindicato e
enquanto trabalhadores. Como resultado, observouse que a concepção predominante dos sindicalistas
a respeito do adoecimento do trabalhador é
multifatorial, ainda que possamos destacar a
organização do trabalho e dos processos
produtivos, as relações trabalhistas e as condições
físicas do ambiente de trabalho como fatores que
geram intenso desgaste na saúde mental do
trabalhador, já que o trabalho no mundo atual
encontra-se
com
características
como
individualidade e competição extrema, o que tem
consequências diretas na subjetividade do
trabalhador.
As possíveis estratégias de
enfrentamento
perante
o
adoecimento
do
trabalhador, de acordo com os entrevistados, se
dão, principalmente, através da união dos
trabalhadores e dos sindicatos, do restabelecimento
de laços de solidariedade, da busca de investimento
do Estado e da conscientização da sociedade como
um todo acerca desta temática.
Palavras-chave: psicologia social do trabalho,
saúde mental relacionada ao trabalho,
sindicalismo.
Área do Conhecimento: Ciências Humanas –
Psicologia – CNPq.
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, estudos vêm apontando que
algumas
características
dos
modelos
de
organização do trabalho predominantes na
atualidade, embasados pela ideia de “flexibilidade”
e na precarização dos vínculos empregatícios,
podem prejudicar a organização coletiva dos
trabalhadores e trazer consequências para sua
saúde mental. No Brasil, por exemplo, tal fato pode
ser observado nas estatísticas oficiais da
Previdência Social, que apontam o crescimento
acentuado nos últimos anos dos afastamentos do
trabalho por problemas relacionados à saúde
mental. Ainda assim, esse problema recebe pouca
atenção
no
âmbito
da
saúde
pública,
possivelmente devido à complexidade dos fatores
envolvidos, mas também devido às concepções
predominantes sobre as origens dos problemas de
saúde mental – que costumam ser associadas
unicamente a fatores individuais e/ou familiares –
bem como pelas dificuldades relativas à prevenção
e tratamento de problemas de saúde relacionados
ao trabalho.
Diante deste contexto, pretende-se apresentar os
resultados de uma pesquisa que teve como
objetivo
compreender
a
concepção
de
representantes sindicais sobre a relação entre
saúde mental e o trabalho, entendendo que os
sindicatos são entidades representativas dos
trabalhadores e que podem ter importante papel na
identificação e no enfrentamento de fatores de
desgaste da saúde nos locais de trabalho, bem
como no encaminhamento para tratamento de
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trabalhadores que já tiveram sua saúde mental
afetada.
MÉTODO
Foram realizadas entrevistas com os representantes
sindicais das seguintes categorias: professores da
rede privada, químicos, bancários, petroleiros e
metalúrgicos. Todas as entrevistas realizadas
possuíam rico conteúdo a ser analisado e refletido,
e muito contribuíram para que a presente pesquisa
tivesse resultados relevantes socialmente.
RESULTADOS
Os representantes sindicais trouxeram falas
pautadas na vivência com os trabalhadores, que
refletem toda a experiência que possuem dentro do
movimento sindical. Assim, pode-se deduzir que o
conhecimento que compartilharam é fidedigno à
realidade do mundo do trabalho nos dias atuais.
Os resultados da pesquisa foram divididos em dois
tópicos principais: um dedicado às concepções dos
representantes sindicais a respeito da saúde mental
do trabalhador, e outro referente às possíveis
formas de enfrentamento adotadas na prática
sindical
em
relação
ao
processo
de
saúde/adoecimento mental do trabalhador.
Para garantir o anonimato dos sujeitos, todos os
entrevistados serão tratados como sendo do gênero
masculino e serão referenciados por meio de sua
categoria profissional.
Concepção dos representantes sindicais acerca
do processo de saúde/adoecimento mental dos
trabalhadores
As concepções que os representantes sindicais
entrevistados possuem a respeito do processo de
saúde/adoecimento mental dos trabalhadores estão
pautadas na forma com que estes concebem o
trabalho no mundo contemporâneo. Segundo os
entrevistados, hoje, o trabalho está precarizado e é
essencialmente individualizado e competitivo, o que
repercute diretamente na subjetividade dos
trabalhadores.
Na concepção dos entrevistados, alguns fatores são
cruciais para entendermos o processo de
adoecimento do trabalhador, sendo eles: a
organização do trabalho e dos processos
produtivos, as relações trabalhistas e as condições
físicas do ambiente de trabalho, que, portanto, não
se desvinculam do contexto geral do trabalho no
mundo atual. A fala do Professor ilustra bem essa
questão:
As condições de trabalho estão
cada vez mais difíceis para o
trabalhador, e estão cada vez mais
favorecendo o adoecimento dos
docentes,
tanto
mentalmente
quanto
fisicamente.
Estamos
vivendo um período de muito
individualismo, os professores
estão trabalhando muito, eles não
tem tempo mais para assembleias
ou não as valorizam mais, porque
politicamente estão com uma
consciência muito rebaixada e
estão sobrecarregados de trabalho.
Coletivos que não se reúnem não
pensam sobre sua condição, e é
fundamental os coletivos se
reunirem (...). A gente adoece com
a competitividade entre nós,
porque se você fica muito
obstinado a fazer um caminho
muito próprio, você acaba que não
vê quem está ao lado.
É importante destacarmos que, segundo os
entrevistados, a saúde/doença não é causada por
apenas um fator e que, por isso, conseguir
estabelecer um nexo causal entre trabalho e
adoecimento é um desafio a ser vencido, o que
está de acordo com o que discutem Bernardo e
Garbin (2011) [2].
Neste sentido, os entrevistados ressaltaram outros
fatores, como as relações de poder dentro do
trabalho - com a chefia ou com os demais colegas
- e a quebra de laços de solidariedade entre os
trabalhadores, já que, muitas vezes, é a
competição que guia o desempenho no trabalho,
mesmo que os trabalhadores tenham que
trapacear ou desrespeitar a integridade do outro, o
que condiz com Sennett (1999) [3], no conceito de
corrosão do caráter, no qual o trabalho acaba por
corromper nossos valores éticos e pode provocar
sofrimento e afetar nossa saúde mental.
Essa competição exacerbada favorece o assédio
moral nos locais de trabalho, o que também afeta a
saúde mental do trabalhador, e contribui para
multiplicar o nível de estresse presente no
cotidiano de trabalho.
Além disso, a questão das metas abusivas também
foi trazida pela maioria dos entrevistados, e foi um
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outro possível fator que propicia o adoecimento dos
trabalhadores, já que eles sofrem forte pressão
cotidiana para cumpri-las, o que está de acordo com
que aponta Paparelli (2011) [4] Bruno (2011) [5].
Segundo estes autores, a pressão sofrida pelo
trabalhador devido a uma exigência exacerbada por
produtividade é um dos fatores que leva ao
sofrimento psíquico.
As condições físicas do ambiente de trabalho
também
foram
discutidas
por
todos
os
entrevistados, como outro possível motivo que
acarreta sofrimento mental. Condições físicas
precárias, repletas de risco – como vivenciam
trabalhadores petroleiros, na exposição a produtos
tóxicos, no manejo de equipamentos de risco que
caso tenham alguma falha podem resultar em
explosões, ferimentos e até mesmo mortes –
impactam diretamente na forma com que o
trabalhador concebe seu trabalho. É interessante
que o Petroleiro afirmou que essas condições não
devem ser naturalizadas, já que o trabalho não é
naturalmente perigoso:
Como assim é natural que isso tudo
seja perigoso e que não tenha
solução? É difícil pra mim conceber
que
as
pessoas
realmente
produzam trabalhos e formas de
trabalhar que sejam intrinsecamente
perigosas... "Ah, o trabalho é assim,
não tem outra forma para ele
acontecer, então, ele vai acontecer
dessa forma e nós é que temos que
nos precaver" (...) E essa coisa é
tão terrível, tão complexa e perversa
que, quando acontece um acidente
desse tipo, a sociedade em geral,
acaba culpabilizando a vítima: "Ah,
foi a pessoa que falhou no
procedimento. Foi ela que rompeu
com o padrão de segurança". Não.
O trabalho está concebido para ser
perigoso,
já
está
totalmente
relativizada a questão da proteção
absoluta da vida do cara ou não, e
aí a culpa é de uma pessoa que foi
lá executar o trabalho que era uma
rotina?
Ademais, este mesmo entrevistado discute a
implicação do regime de turnos para a saúde mental
do trabalhador, afirmando que muitos trabalhadores
de plataforma offshore acabam tendo sua vida
pessoal extremamente comprometida e sofrem
muito com o isolamento social e a solidão
excessiva que passam ao trabalharem neste
ambiente. Isso está de acordo com Alvarez,
Figueiredo e Rotenberg (2010) [6], que afirmam
que o trabalho nas plataformas desorganiza a vida
social dos trabalhadores, desgastando-os fisica e
mentalmente, bem como as condições de trabalho
favorecem o desenvolvimento e agravamento de
doenças, devido aos riscos a que estão expostos.
Foi discutido também que, a partir de uma doença
física adquirida no trabalho, como a LER/DORT,
que consiste em lesões desencadeadas por
movimentos repetitivos e rápidos, os lesionados
acabam sofrendo assédio moral interpessoal e
organizacional, através de humilhações, exclusão
e pressão dentro do ambiente de trabalho, por já
não conseguirem trabalhar da mesma forma e no
mesmo ritmo com que trabalhavam antes da lesão.
Segundo Silva, Oliveira e Zambroni-de-Souza
(2011) [7], alguns trabalhadores não suportam
viver sob estas condições e preferem pedir
demissão,
enquanto
outros
suportam
e
ultrapassam seus próprios limites, acarretando no
adoecimento mental. O Bancário retrata isso em
sua fala:
Na nossa opinião, o adoecimento
acontece por conta da organização
do trabalho, por conta dos
processos de trabalho dentro dos
bancos, da forma de se gerenciar o
trabalho (...) Mas a gente tinha
muitos bancários com LER/DORT
também e vimos que, a partir da
LER/DORT, o trabalhador também
pode desenvolver um problema e
um transtorno mental.
Vemos, neste sentido, que de forma geral, um
olhar biologicista e individualizante ainda é
predominante na sociedade, seja pelo setor
patronal, pelo Estado, como também pelos
próprios trabalhadores, que veem o adoecimento
como fruto de propensões individuais, e não como
resultado do trabalho no mundo atual. A seguinte
fala do Professor é bem ilustrativa:
O professor vai adoecendo e
muitas vezes ele não tem
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consciência de que ele está
adoecendo por conta de suas
condições de trabalho. Ele não
atribui ao trabalho, ele atribui a
outras
questões
(...).Tomar
consciência de que as condições de
trabalho e esse adoecimento
aparentemente individual, claro, o
professor sofre, mas se ele se der
conta de que mais gente está
adoecendo, ele vai ver que é um
problema coletivo, que não acomete
só a ele, mas que acomete a ele
também. Claro que ele vai procurar
se cuidar, enfim, mas enquanto ele
estiver submetido sistematicamente
a condições de trabalho adversas,
ele vai ter poucas chances, digamos
assim,
de
ganhar
imunidade
emocional e física, para enfrentar. E
o enfrentamento não é sozinho, o
enfrentamento é coletivo.
Sendo assim, essa culpabilização da vítima,
propagada por diversos setores, precisa ser
quebrada, para conseguirmos entender os reais
fatores que propiciam o sofrimento psíquico dos
trabalhadores, conforme os que foram citados pelos
entrevistados. E isso, no entanto, só se dará através
de mecanismos de enfrentamento, na luta por esta
questão.
Possibilidades de enfrentamento discutidas
pelos representantes sindicais
Em relação às iniciativas que promovem o
enfrentamento dos sindicatos frente às questões de
saúde mental relacionada ao trabalho, podemos
notar, pelo discurso dos entrevistados, que a
principal forma de atingir os trabalhadores e a
sociedade como um todo é através da
conscientização, a fim de romper com concepções
tradicionais, que atinge tanto os próprios
trabalhadores, como o setor patronal e o Estado
como um todo.
Os entrevistados trouxeram algumas experiências
significativas, principalmente no que se refere ao
restabelecimento da união e da solidariedade entre
os trabalhadores, diferentemente do que prega o
capitalismo. Todos os entrevistados destacaram a
importância da união – seja dos próprios
trabalhadores, como também de sindicatos e de
órgãos externos – para conscientizar e combater as
causas do adoecimento físico e/ou mental dos
trabalhadores. O Professor trouxe um exemplo
interessante:
O sindicato dos professores, por
conta até de uma iniciativa do
Ministério da Cultura, se tornou um
ponto de cultura aqui na cidade.
Enquanto ponto de cultura, o
sindicato
promovia
para
os
docentes e para os cidadãos da
região, atividades culturais, oficinas
de artesanato, de dança circular,
de canto, oficinas culturais. Foi um
momento em que o sindicato mais
esteve com os docentes circulando
lá dentro. Então, eu tendo a achar
que estas iniciativas que não são
tidas como maçantes, como uma
assembleia. São atividades que
atraem os docentes.
O Petroleiro afirmou que uma forma de
enfrentamento seria a atuação dos sindicatos
através do fornecimento de acolhimento aos
trabalhadores, e neste sentido, o Bancário contou
sobre uma experiência que teve:
Nós fundamos um grupo chamado
Grupo de Ação Solidária em Saúde
para
discutir
o
trabalho,
individualmente, coletivamente, e
foi uma experiência muito rica, pois
foi nesse momento que nós
conseguimos
juntar
os
trabalhadores. E é sério, todas as
reuniões que nós fizemos, nós
fizemos várias reuniões, lotava o
auditório, vinha muita gente (...). O
Grupo se tornou um espaço em
que as pessoas conseguiam fazer
terapia, porque ela conseguia
perceber ali na coletividade que o
problema dela não era único, então
eram
muito
interessante
as
reuniões, porque a gente fazia
palestra e tal, a gente procurava
não tomar todo o tempo da reunião
para deixar espaço para que eles
falassem, e falavam...
Ressalta-se que, de forma geral, os sindicalistas
admitem que não conseguem dar conta de resolver
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certas questões sozinhos. Para o Bancário, as
ações voltadas à saúde mental dos trabalhadores
não devem se limitar aos sindicatos, mas deve
contar com a presença do Estado. Para ele, as
ferramentas existem, mas as estruturas de saúde
pública ainda não estão preparadas para cuidar do
trabalhador, seja em nível de promoção, prevenção
e/ou tratamento. O Químico e o Professor parecem
estar de acordo com essa avaliação, pois ressaltam
que a troca de experiência e a união dos sindicatos
auxiliam no avançar de tais questões, mas o poder
público tem que andar junto, para haver algum
avanço.
É importante afirmar que todos os entrevistados
destacam a importância da conscientização sobre o
tema, como única forma de romper com olhares
individualizantes, que culpabilizam o trabalhador.
Essa conscientização, conforme aponta a maioria
dos entrevistados, não deve mais ser feita através
de greves e de ações sindicais tradicionais, pois
estas não mobilizam mais os trabalhadores e a
sociedade como já mobilizaram antigamente. O
Metalúrgico, no entanto, difere dos demais ao
defender as greves como meios eficazes de
enfrentamento.
Além disso, todos os entrevistados destacaram a
importância de uma formação acadêmica e política
para um olhar diferenciado frente à saúde mental
relacionada ao trabalho. O Professor destacou que,
muitas vezes, nas universidades, os professores
sequer sabem o que o sindicato de sua categoria
faz e as questões pelas quais lutam. O Químico
frisou diversas vezes em seu discurso a importância
de jovens sindicalistas e sanitaristas, para substituir
as pessoas que lutam por essas questões há anos e
que estão em órgãos públicos importantes, como no
CEREST (Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador). Já o Bancário, por sua vez, possui
discurso semelhante, dizendo que a saúde do
trabalhador não pode estar dissociada da formação,
sob a ótica dos trabalhadores, das centrais sindicais
e de partidos políticos, ou seja, envolve tanto a
formação acadêmica, quanto profissional e política.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sindicalistas entrevistados trouxeram rico
conteúdo a ser analisado, ao compartilhar suas
experiências e vivências dentro do movimento
sindical, mas também, enquanto trabalhadores de
suas
respectivas
categorias.
Todos
eles
apresentaram concepções significativas a respeito
da saúde mental relacionada ao trabalho,
defendendo que a ideologia capitalista proporciona
condições de trabalho, bem
como sua
organização, essencialmente precarizadas, que
acabam por degradar o bem-estar dos
trabalhadores, favorecendo o seu sofrimento
psíquico, já que a prioridade é o produto e a
produção, e não o trabalhador e sua saúde.
Frente a essa realidade, os representantes
sindicais retratam diversas dificuldades que
enfrentam diariamente para lidar com o nexo
causal entre adoecimento e trabalho, já que este
pode ser caracterizado como multifatorial. Dentre
alguns fatores que podem gerar sofrimento mental,
os entrevistados ressaltaram a organização do
trabalho e dos processos produtivos, as relações
trabalhistas e as condições físicas do ambiente de
trabalho como fatores que geram intenso desgaste
na saúde do trabalhador, já que o trabalho no
mundo atual encontra-se com características como
individualidade e competição extrema, o que tem
conseqüências diretas na subjetividade do
trabalhador. De acordo com os entrevistados, este
tema carece de conscientização, já que o
adoecimento ainda é visto como fruto de
propensões individuais e genéticas, e não
decorrente da forma com que o trabalho é
entendido e vivenciado.
Sendo assim, os entrevistados concluem, em suas
falas, que a conscientização e a união da
sociedade são uns dos principais meios de
enfrentamento desta questão. Contudo, por mais
que os sindicatos avancem e consigam construir
medidas mais inovadoras e criativas para atingir os
trabalhadores e favorecer a conscientização da
sociedade sobre a saúde do trabalhador, conforme
defende a maioria dos entrevistados, fica difícil
designar somente as entidades sindicais tamanha
responsabilidade. Por isso, o Estado, por meio da
saúde
pública
e
outras
ferramentas,
é
imprescindível para colaborar com essa questão,
para que a prevenção seja satisfatória e para que
os adoecimentos possam ser amparados,
quebrando as concepções individualizantes ainda
predominantes e os valores propagados pelo
capitalismo exacerbado.
Por fim, espera-se, com este trabalho, propiciar
uma reflexão acerca da saúde mental relacionada
ao trabalho enquanto um problema de saúde
pública, que deve ser mais bem discutido, a fim de
proporcionarmos a conscientização da sociedade
como todo, incluindo os trabalhadores, os próprios
sindicalistas, a academia, o Estado e suas diversas
instâncias.
Reconhecendo
o
problema
e
compreendendo suas causas sociais, poderemos
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avançar em políticas públicas eficazes para a
prevenção e tratamento do adoecimento do
trabalhador.
AGRADECIMENTOS
À todos os integrantes do grupo de
pesquisa "Trabalho no Contexto Atual: Estudos
Críticos em Psicologia Social" e ao CNPq.
REFERÊNCIAS
[1] Seligmann-Silva, E. (2011). Trabalho e Desgaste
Mental: O Direito de Ser Dono de Si Mesmo. São
Paulo: Cortez Editora.
[2] Bernardo, M. H. & Garbin, A. C. (2011). A
Atenção à Saúde Mental Relacionada ao Trabalho
no SUS: Desafios e Possibilidades. Rev. Bras.
Saúde Ocup., São Paulo, 36 (123).
[3] Sennett, R. (1999). A Corrosão do Caráter:
Consequências Pessoais do Trabalho no Novo
Capitalismo. Rio de Janeiro: Editora Record.
[4] Paparelli, R. (2011). Grupo de Enfrentamento do
Desgaste Mental no Trabalho Bancário: Discutindo
Saúde Mental do Trabalhador no Sindicato. Rev.
Bras. Saúde Ocup., São Paulo, 36 (123).
[5] Bruno, W. P. (2011). Bancários Não São
Máquinas. Em Sznelwar, L. I. Saúde dos Bancários.
São Paulo: Publisher Brasil: Editora Gráfica Atitude
Ltda.
[6] Alvarez, D., Figueiredo, M., Rotenberg, L. (2010).
Aspectos do Regime de Embarque, Turnos e
Gestão do Trabalho em Plataformas Offshore da
Bacia de Campos (RJ) e Sua Relação com a Saúde
e Segurança dos Trabalhadores. Rev. Bras. Saúde
Ocup., São Paulo, 35 (122).
[7] Silva, E. F., Oliveira, K. K. M., Zambroni-deSouza, P. C. (2011). Saúde Mental do Trabalhador:
O Assédio Moral Praticado Contra Trabalhadores
com LER/DORT. Rev. Bras. Saúde Ocup., São
Paulo, 36 (123).
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