Revista Eletrônica Novo Enfoque, ano 2013, v. 17, n. 17, p. 134 –138 RELATO DE EXPERIÊNCIA: ADOLESCENTES E ATIVIDADE SEXUAL PRECOCE EM UMA UNIDADE DE SAÚDE NA ZONA OESTE – RJ PORTO, Adriana Vianna Costa 1 RABELO, Marsselle Gouvêa2 SILVA, Maria Regina Bernardo da3 Resumo A pesquisa apresenta um relato de experiência de acadêmicos de enfermagem com 28 adolescentes de 11 a 18 anos, a qual versava oferecer conhecimentos e retirar dúvidas sobre a sexualidade e gravidez precoce em uma unidade de saúde na Zona Oeste, RJ, com o objetivo de fornecer informações, além de promover discussão sobre uso de métodos contraceptivos, preventivos, reflexão sobre a sexualidade precoce e as conseqüências de uma gravidez não planejada. Adotou-se uma metodologia de observação participante com os adolescentes na qual os acadêmicos e profissionais de saúde desenvolveram dinâmicas e palestras discutindo dúvidas sobre sexualidade e anticoncepção, com aprovação do comitê 14/2011. Como resultado, verificou-se a necessidade do nível de orientação dos adolescentes participantes, favorecendo a adoção de práticas de comportamento preventivo, conhecimento do seu corpo e as modificações ocorridas na adolescência. Observouse a necessidade de melhora do acesso e busca pelas respostas que possibilitam uma visão de vida com responsabilidade além da manutenção do vínculo profissional com o adolescente. O sucesso da ação educativa esta vinculada à capacidade que os acadêmicos de Enfermagem têm de conquistar a confiança desses adolescentes junto com a equipe da Unidade Básica de Saúde. 1 ,2 Acadêmicos de Enfermagem Grupo de Pesquisa da Universidade Castelo Branco. Curso de Graduação em enfermagem da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. 3 Orientador do Trabalho de Praticas investigativas do Curso de Enfermagem da Universidade Castelo Branco (UCB), Campus Realengo , Rio de Janeiro, RJ, Brasil. [email protected] . Palavras-chave: adolescente, sexualidade precoce, prevenção. Introdução A adolescência é conceituada como uma fase de desenvolvimento do ser humano situada entre a infância e a idade adulta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é delimitada cronologicamente como a fase dos 10 aos 19 anos. Do ponto de vista social, a adolescência corresponde ao período da vida na qual o indivíduo perde direito e privilégios de criança e começa a assumir direitos e responsabilidades de adulto1. O Ministério da Saúde também assegura que o desenvolvimento sexual do adolescente sofre influências de si próprio, da família, de sua cultura e de seus companheiros, sendo a pressão do grupo talvez o fator mais poderoso para determinar seu comportamento. A transição para a fase adulta faz-se mais tranquila quando o adolescente está informado sobre a sua sexualidade. Para isso, o adolescente necessita de informações sexuais de maneira clara, imparcial e calçadas na realidade2. Cabe ressaltar que a incidência de adolescentes grávidas vem aumentando significamente no Brasil e no mundo. A gravidez poderia expressar aparentemente a liberdade do exercício precoce, bem como causas sociais, psíquicas e econômicas que estão envolvidas no universo adolescente 3. A iniciação sexual precoce entre os adolescentes tem acarretado uma preocupação cada vez maior entre profissionais de saúde, pais e professores em decorrência da falta de conhecimentos sobre a concepção e uso de contraceptivos4. O início da atividade sexual com envolvimento genital acontece, em geral, durante a adolescência e, na atualidade, têm ocorrido em idades mais precoces, o que pode resultar em gestações não esperadas e doenças sexualmente transmissíveis (DST). Fatores biológicos, psíquicos, sociais, entre outros, interferem na sexualidade. A baixa idade da menarca/semenarca pode favorecer a antecipação do primeiro coito, já que os hormônios pubertários intensificam o desejo sexual5. Em relação ao desenvolvimento psíquico, a adolescência é uma fase de definição da identidade sexual, em que há experimentação e variabilidade de parceiros5. OBJETIVO: fornecer informações, além de promover discussão sobre uso de métodos contraceptivos, preventivos, reflexão sobre a sexualidade precoce e as consequências de uma gravidez não planejada. METODOLOGIA: foi utilizada a técnica de observação participante que é definida como um processo pelo o qual se mantém a presença do observador numa situação social com a finalidade de realizar uma 135 observação científica, na qual o observador está em relação face a face com os observados. Ao participar da vida deles no cenário cultural, colhem-se dados e tornamse parte do contexto sob a observação, ao mesmo tempo modificando e sendo modificado6. A atividade foi realizada com vinte e oito (28) adolescentes de 11 a 18 anos de idade, ambos os sexos, sendo vinte e dois (22) do sexo feminino e seis (6) do sexo masculino em uma unidade básica de saúde no bairro de Magalhães Bastos na cidade do Rio de Janeiro, durante o período de março a junho de 2011 após aprovação do Comitê de Ética nº 14/2011. São vários os motivos para a procura, da unidade de saúde pelos adolescentes e observa-se no dia a dia que os assuntos são bem direcionados para a sexualidade, como dúvidas em relação à contracepção, a forma adequada de utilizá-los e ocorrência de gravidez indesejada. Aconteceram oito encontros com 28 adolescentes. Optou-se por atividades educativas, dinâmicas e aconselhamentos, quando as dúvidas foram respondidas e os próprios participantes foram os multiplicadores para as novas atividades na unidade. As atividades foram desenvolvidas em dois momentos: quatro encontros cada grupo de 14 adolescentes. Resultado da discussão Os acadêmicos de Enfermagem observaram com a equipe a necessidade de educação em saúde, acompanhamento e consulta de enfermagem para os adolescentes. Todas as vinte e duas adolescentes do sexo feminino fizeram o exame preventivo e seguiram com acompanhamento com os enfermeiros e, quando necessário, foram encaminhadas para outros profissionais. Os seis adolescentes do sexo masculino frequentam a unidade em busca de camisinha, e foram feitas as vacinas que estavam atrasadas. Eles relataram falta de tempo para não continuar o acompanhamento. E os acadêmicos de Enfermagem fizeram uma programação com a equipe de enfermeiros da unidade para desenvolver as atividades que foram contínuas em todo segundo semestre do período letivo escolar. E a proposta foi esclarecer, informar sobre assuntos de sexualidade, drogas e saúde reprodutiva, estabelecendo um clima de confiança e compromisso com os adolescentes. A Unidade de Saúde é uma referência para retirada de dúvidas e esclarecimentos, com confiança e segurança nas informações. Observou-se que existe uma porta de entrada com acolhimento com uma equipe pela qual os adolescentes podem ser atendidos com humanização e vínculo assim criando confiança com o profissional. Os adolescentes que procuraram a unidade de saúde sempre compareciam acompanhados de um colega. As acadêmicas de Enfermagem 136 participaram do atendimento ativamente respondendo às perguntas, utilizando linguagem simples e acessível, com ética, respeito, demonstrando domínio, em um clima de empatia e confiança aproveitando ao máximo aquele contato inicial para estimular aqueles adolescentes a pensarem em seus valores, nas suas vidas e atitudes. Estes contatos voltaram-se para o favorecimento do acesso a informações sobre comportamentos preventivos referentes à sexualidade, ao planejamento familiar, e sua importância para vida reprodutiva. E a equipe colocou-se à disposição para qualquer esclarecimento com sigilo. Observou-se a necessidade de orientar e acompanhar estes adolescentes, pois muitos participantes dos grupos já tinham iniciado sua atividade sexual de forma aleatória e sem conhecimento anatômico do seu corpo, e ainda existe o fato de que alguns adolescentes “têm a certeza de que não engravidam na primeira relação sexual” e o grande medo de contar aos pais “sobre a primeira relação sexual e/ou que já está tendo atividade sexual”. Portanto, observou-se a necessidade de trabalhar em uma equipe multiprofissional para maior integralidade nas ações. E também a necessidade de aumentar a captação dos adolescentes da área e não ficar apenas na demanda espontânea, também disponibilizar os métodos existentes com integralidade das ações e reorganizar os horários para facilitar o acesso aos serviços de saúde. Foi observado que a gravidez precoce tem ocorrido, e cinco adolescentes que participaram referiram já ter engravidado. Sabe-se que, quando muito jovens, os riscos de mortalidade materna, de prematuridade e de baixo peso ao nascer são maiores4. Além das consequências físicas para a jovem e o bebê, existem as consequências psicossociais, entre as quais a evasão escolar e falta de perspectiva de melhora das condições socioeconômicas. CONCLUSÃO: observaram-se mudanças ocorridas em alguns adolescentes, como: perda da identidade, iniciando a fase adulta precocemente, e que essas mudanças devem ser acompanhadas pela família, que deve estar presente tanto para menina quanto para o menino, pois é uma fase em que surgem dúvidas sobre o que está acontecendo com o corpo, e que a família deve ter um diálogo franco e claro com os filhos e uma estrutura planejada a fim de não facilitar a ocorrência da iniciação sexual acompanhada da gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis (DST). O sucesso desta ação educativa esta vinculada à capacidade que os acadêmicos tiveram do acesso e da conquista da confiança desses adolescentes, junto à equipe da Unidade Básica de Saúde. 137 Referências: 1- SILVA, Gabriela Luiza da; BIFFI, Eliana Faria de Angelici; GIULIANI, Carla Denari. Fatores que contribuem para a ocorrência da gravidez na adolescência. Caderno espaço feminino, v.18, n.2, ago/dez, 2007. 2- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de políticas de saúde. Área de saúde do adolescente e do jovem. Juventude de desenvolvimento. V.01, Brasília-DF, ago 1999. 3- SANTOS, Cristiane Albuquerque C. dos & NOGUEIRA, Kátia Telles. Gravidez na adolescência: falta de informação. Adolescência&Saúde, v.6, n.1, abril, 2009. 4- CANO, Maria aparecida Tedeschi; FERRIANI, Maria da Graça Carvalho; GOMES, Romeu. Sexualidade na adolescência: o estudo bibliográfico. Revista Latino Americana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 2, p. 18-24, abril 2000. 5- TAQUETTE, Stella R.; VILHENA, Marília Mello de. Uma contribuição ao entendimento da iniciação sexual feminina na adolescência. Psicologia em estudo, Maringá, v.13, n.1, p.105-117, jan/mar, 2008. 6- Minayo, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. Rio de Janeiro: Abrasco, 2004. 138