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RESENHA CRÍTICA
GUARNIERI, Maria Regina (org.). Aprendendo a Ensinar – O Caminho Nada Suave da
Docência. 2. ed. São Paulo: Autores Associados, 2005. (Coleção Polêmicas do Nosso
Tempo).
Resenhado por Catarina Maria dos Santos1
Ivonaldo da Silva Mesquita2
1
CREDENCIAIS DOS AUTORES
Maria Regina Guarnieri é Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP, 1978), Mestrado em Educação pela Universidade
Federal de São Carlos (UFSCAR, 1990) e Doutorado em Educação pela Universidade Federal
de São Carlos (UFSCAR, 1996); Professora Assistente Doutor da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Ensino-Aprendizagem. Atuando principalmente nos seguintes temas: professor iniciante,
trabalho docente, desenvolvimento profissional docente. Fonte: <http://lattes.cnpq.br/>.
Acesso em 30/09/2011
Luciana Maria Giovanni, Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (1972), Mestrado em Educação: História, Política, Sociedade
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1988) e Doutorado em Educação pela
Universidade de São Paulo (USP, 1994); é Docente pesquisadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e professora aposentada da Universidade Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Fonte: <http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em 30/09/2011
Rita de Cássia da Silva possui graduação em Psicologia pela Universidade Católica
de Campinas (1996), Especialização em Psicologia Escolar e Problemas de Aprendizagem
(PUCCAMP), Mestrado e Doutorado em Educação Escolar pela Universidade Paulista Júlio
de Mesquita Filho; experiência na área de Educação, com ênfase em Educação Escolar; atua
com Clínica e com Assessoria às escolas na cidade de Brodowski e participante do Projeto
Trauma Infantil (Grupo de Belo Horizonte) com um grupo na cidade citada, sendo que as
crianças participantes são enviadas pelas escolas e Conselho Tutelar. Fonte:
<http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em 30/09/2011
Antonio dos Santos Andrade, Graduado em Psicologia pela Universidade de São
Paulo (USP, 1976), Mestrado (1981) e Doutorado (1987) em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Pós
1
Mestre em Educação (Universidade Federal do Piauí – UFPI, 2001). Especialista em Geografia Humana (PUC-MG,
1998). Licenciada em Geografia (UFPI, 1991). Diretora Geral e de Assuntos Acadêmicos e Comunitários da Faculdade
da Atividades Empresariais de Teresina - FAETE. Professora do Instituto Dom Barreto de Ensino – IDB.
2
Mestrando em Direito Constitucional (Universidade de Fortaleza – UNIFOR, 2011). Pós-graduado em Direito
Processual (Universidade Estadual do Piauí - UESPI, 2007). Graduado em Direito (UESPI, 2003). Advogado OAB/PI
4063. Professor de Direito Constitucional da FAETE. Professor de Direito da UESPI. Ex Procurador Chefe da Agência
de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí – ADAPI (2007-2010). E-mail: [email protected]
Caderno de Estudos Ciência e Empresa, Teresina, Ano 8, n. 2, nov. 2011.
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Doutorado no Programa de Pós Graduação em Educação pela Universidade Federal de São
Carlos (1993) e formação em Psicodrama pelo Instituto de Psicodrama de Ribeirão Preto
(1992); é Professor Doutor dos Cursos de Graduação e Pós Graduação da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras e Psicologia de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, nas
disciplinas Psicologia Escolar e Produção de Subjetividades e Educação, respectivamente.
Fonte: <http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em 30/09/2011
Benedita de Almeida, Graduada em Letras Português e Alemão (1974) e Mestrado
em Educação Escolar, ambos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
(2001), e Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (2007); atua como
Professora da Universidade Estadual do Oeste Paulista do Paraná. Fonte:
<http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em 30/09/2011
2
RESUMO DA OBRA
Há algum tempo, e não somente agora, a necessidade de saber o que pensam e fazem
os professores tem sido foco e objeto de estudos realizados sob a ótica da aprendizagem e
desenvolvimento profissional docente, de sorte a evidenciar o caminho nada fácil da docência.
Esta busca, data maxima venia, acaba por evidenciar pistas para a elaboração de uma “teoria”
da arte de ensinar, trabalhando as dúvidas e incertezas por que passam o docente no dia a dia
da profissão, tornando sólida a tese de que a consolidação desta “arte”, nada suave, ocorre
com o próprio exercício profissional, conforme a sensata articulação do profissional de seus
conhecimentos acadêmicos adquiridos na sua formação; no contexto escolar - in locus, e os
conhecimentos elaborados ao longo do próprio exercício da profissão.
Guarnieri, na organização do presente livro, coloca a questão alicerçada em pesquisa
que realizou com professores iniciantes, quando da elaboração de sua tese de doutoramento,
juntamente com outros quatro artigos de colegas seus profissionais, intitulados: O professor,
seus saberes e suas crenças (Capítulo II); Indagação e reflexão da profissão docente (Capítulo
III); Sucesso, dificuldades e resistências no uso da criatividade e espontaneidade dramática na
prática de sala de aula em um grupo de professores (Capítulo IV); Atribuindo significados à
rotina escolar: a criatividade no desempenho de alunos e professores (Capítulo V).
Antes de entrar no cerne da questão, ela já evidencia as diretrizes que trilhou para
chegar aos resultados de seu trabalho de pesquisa, quais sejam, a perspectiva teórica centrada
no pensamento do professor no que se refere ao processo de aprender a ensinar;
procedimentos metodológicos; resultados a cerca de como vai sendo constituída a
aprendizagem profissional a partir do ingresso na carreira e algumas possibilidades que a
investigação centrada no pensamento do professor pode trazer para os estudos sobre o ensino.
Caderno de Estudos Ciência e Empresa, Teresina, Ano 8, n. 2, nov. 2011.
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A preocupação com a busca de indicadores da competência profissional para ensinar
vamos encontrar ao longo da década de 1980, nos estudos de Garcia (1987), Vila (1988),
Shulman (1986,1987) e Zeichner (1993). Esses estudos, a partir do pensamento e do
desenvolvimento profissional dos professores iniciantes e dos experientes, buscam uma
“epistemologia da prática” que explica como se configura o processo de aprender a ensinar,
de tornar-se professor, contrastando, como fizera Garcia (1987), os professores iniciantes com
os experientes, para investigar os diferentes níveis de construção do conhecimento sobre a
profissão que cada um desses dois tipos de professores possuem, inclusive construindo pontes
entre a formação básica e o início da carreira, a partir da concepção de formação como um
processo contínuo.
A autora tem como verdade que “esses estudos têm colocado novas questões para se
repensar os cursos de formação dos professores, no sentido de se reverem as dicotomias que
sempre são citadas quando se inicia uma discussão sobre formação, tais como: teoria versus
prática, formação inicial versus formação continuada, conhecimento científico versus
conhecimento pedagógico” (p.7).
O foco central do trabalho de Guarnieri, que investiga como se dá o processo de
aprender a ensinar a partir do exercício da profissão, contrário ao modelo tradicional de
racionalidade técnica (em que “o professor e a prática em geral são puros receptores e
consumidores dos produtos de investigação) traz as seguintes indagações: “O que faz o
professor ao ingressar na docência? Ao deparar-se com os problemas e dificuldades, a que
recursos teórico-práticos o professor iniciante recorre ou cria para tomar decisões que
possibilitem superá-las? Quais características, orientações, modelos o professor iniciante teve
que buscar ou desenvolver para iniciar seu trabalho? Até que ponto a formação básica tem
contribuído para desencadear nesse professor a construção de uma atuação compromissada
com um ensino de melhor qualidade?” (p.8)
Nesse diapasão, a contraposição ao modelo tradicional (racionalidade técnica),
evidencia Guarnieri, “tem se pautado no reconhecimento do papel do professor não como um
técnico que aplica à sua prática as teorias transmitidas pelos cursos de formação, mas como
profissional que adquire e desenvolve conhecimentos a partir da prática e no confronto com as
condições da profissão” (p.10).
A tese aqui defendida é reforçada por um estudo exploratório em que professores
iniciantes e outros já com mais de dois anos de exercício profissional, revelaram que os cursos
de formação não as prepararam para atuar, haja vista não possuírem conhecimentos de
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natureza prática, deixando-as inseguras para assumirem a sala de aula. E mais, as noções
trazidas do curso de formação sobre a profissão eram vagas e ambíguas gerando expectativas
negativas e a antecipação da ideia de fracasso e incompetência antes do ingresso no exercício
profissional (p.14-15).
O segundo capítulo, intitulado “O professor, seus saberes e suas crenças”, partindo
da premissa de que o professor é um ser social, constituído e constituinte do seu meio, denota
que ele passa por um percurso profissional em que acontecem mudanças de aspirações, de
sentimentos e mudanças de sentido da vida e da profissão. Diz a autora que neste percurso
“muitos saberes e crenças vão sendo estruturadas e desestruturadas nestas fases. Algumas vão
sendo estruturadas no curso de formação de professores, no início da carreira e outras ao
longo da carreira que, nesse percurso, ou se afirmam ou se desestruturam”(p.26).
Nessa investigação pautada no questionamento de como os professores constroem
algumas de suas concepções e crenças ao longo da vida, como cidadão, na escola, em sua
formação e com isso repensá-las em outras bases, a autora conclui que: “o professor é um
indivíduo que constrói na sua vida e na sua formação a sua própria visão de mundo” (p.33), de
sorte que não pode ser visto como um robô que executa e processa informações; que não é
somente na vida que se aprende e se constrói o alicerce profissional, pois “a escola onde ele
trabalha também lhe dá uma gama de experiências que influenciarão essas suas construções
cognitivas” (p.35), sendo que é na escola onde passa a maior parte de seu tempo e, portanto, o
lugar de cultura onde
justamente boa parte de suas concepções e seus saberes são
construídos; na terceira faceta, mais uma vez temos a corroboração da tese aqui abordada por
Guarnieri, “o professor não constrói seus saberes somente durante sua vida, e não só a escola,
como sua cultura, lhe proporciona meios para construir estes saberes. Há também o momento
de sua formação acadêmica que deve ter papel decisivo na construção do profissional
professor”(p.38). Mas chama a atenção para o fato de que essa formação não é somente a
inicial, mas também a continuada que acontece no exercício do mister, ou seja, durante seu
serviço profissional. Desta feita, portanto, podemos dizer que a profissão docente é um
constante e incessante aprendizado, de que os professores não foram e não estão bem
preparados, que estão aprendendo com a prática e que a vida lhes ensina para poder ensinar
também.
No terceiro capítulo, Geovanni contribui para o livro apontando caminhos que
percebe como viáveis e promissoras para compreender tanto o processo de formação dos
professores, quanto da atuação profissional e inserção no mundo escolar e social. Para isto, ela
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evidencia que o eixo básico da formação e dever de ofício para a atuação do profissional
docente no universo escolar e na vida social é justamente a sua capacidade de indagação e
reflexão, de sorte que seus pensamentos e ações é que revelarão, como sinais de sua profissão,
o compromisso com o ensino e a aprendizagem do conhecimento. E, diz Geovanni, “como
esse conhecimento não é algo pronto e acabado, o que define o trabalho do professor (na
condução do processo de ensino) e dos alunos ( no processo de aprendizagem) é o ato de
busca constante do conhecimento”(p. 47), terminando por implicar esta relação
professor/aluno, ensino/aprendizagem, numa relação de cumplicidade no que se refere ao ao
compromisso de buscar conhecimentos a respeito do conteúdo a ser ensinado, a respeito dos
seres humanos envolvidos nessa relação, seu espaço, seu momento histórico e, sobretudo, a
respeito de como realizar e aperfeiçoar tanto o trabalho de ensinar, quanto o trabalho de
aprender, e, tudo isso é motivo para indagação e reflexão como marcas da profissão docente.
O professor , desta maneira, deve se transformar em investigador de sua própria prática e em
produtor legítimo de conhecimento sobre ela, numa atitude não passiva, mas ativa,
interrogando problemas concretos, com o intuito de compreendê-los, investigá-los, agir sobre
eles e sobre as novas condições que sua investigação e a ação dela resultante, podem
gerar(p.54), sendo que este processo melhor será se realizado em conjunto, pois assim
ganhará mais força e será mais efetivo quanto mais coletivo e solidário for.Trata-se, pois de
um trabalho de educação de consciência a ser enfrentado na formação inicial (acadêmica) e na
formação continuada(em serviço) de professores e formadores de professores.
Alicerçada em Zeichner (1993), neste seu estudo, a autora enumera três
condições que devem marcar o exercício de indagação e reflexão pelos docente: a)voltar-se
para dentro(a própria prática docente) e para fora(as condições sociais em que se situam a
prática); b) reconhecer o caráter político de tudo o que os professores fazem e as situações de
desigualdade que manifestam na sala de aula(questões de raça, classe social, gênero e de
acesso ao conhecimento); e c) tornar a atitude de reflexão uma prática social para o professor
e alunos (p.58).
Já no quarto capítulo intitulado “Sucesso, dificuldades e resistências no uso da
criatividade e espontaneidade dramática na prática de sala de aula em um grupo de
professores”, Antônio dos Santos Andrade, busca evidenciar formas ou atitudes que
contribuam para a superação desta realidade constante do título deste capítulo, que fora objeto
de sua tese de doutorado, partindo, ele, de um grupo de dez professores de educação especial
numa certa instituição de ensino especial paulista, onde a criatividade e a espontaneidade se
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fazem mais do que necessárias. Os êxitos, as dificuldades e resistências encontradas foram
trazidas à tona pelo emprego do psicodrama para o desenvolvimento da criatividade e da
espontaneidade, tendo os próprios professores abordado na primeira etapa do trabalho as suas
dificuldades, quer no âmbito da instituição, quer no âmbito de sua própria prática, ao
dramatizarem situações do cotidiano escolar. Depois, numa segunda etapa, os professores
utilizaram o psicodrama em sala de aula. Como resultado de análise destas experiências, o
autor concluiu que os problemas de natureza institucional constituíam obstáculo para que o
grupo de professores programasse atividades envolvendo a criatividade e espontaneidade no
ensino. Assim, forçoso é concluir que deve haver todo uma interação institucional com o
próprio corpo docente pra a realização do trabalho eficazmente em sala de aula, de sorte a
discutirem os mecanismos e implementação do ensino/aprendizagem.
No último capítulo, escrito por Almeida, a atenção é voltada para a sintonia do
processo ensino-aprenizagem com as transformações sociais. Posto que, diz Almeida, “as
grandes mudanças – principalmente tecnológicas – ocorridas nas últimas décadas determinam
para os indivíduos formas de ruptura com os padrões vigentes, levando educadores
e
estudiosos a procurar novos pilares que sustentem o ser da modernidade nesta trajetória de
busca de um conhecimento que lhe possibilite transitar com êxito nos inéditos espaços
culturais criados pela virtualização, assincronia e digitalização das informações (p.77). Ela,
partindo de relatos de experiência desenvolvida em uma escola da rede oficial de ensino
paulista, com alunos em fase de desenvolvimento da alfabetização, analisa como o vídeo e a
televisão podem auxiliar na mobilização da criatividade no processo pedagógico, fazendo
com que os alunos superem comportamentos passivos gerados na cotidianidade, ao
desenvolverem atividades que favoreçam a reflexão e a criatividade, possibilitando a ambas as
partes, professor e aluno, a busca de novos significados à rotina escolar, e, pois, de processos
que possam dar novo significado às informações e aos aspectos da realidade aos quais tais
processos pedagógicos estão inseridos.
3
CRÍTICA DOS RESENHISTAS
Sem dúvida, trata-se de um livro instigante e esclarecedor de pistas para todos
aqueles que pretendem manejar com sapiência a “arte” de ensinar, sejam eles futuros
professores, professores iniciantes, professores veteranos e aqueles que quedam pela vontade
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de ser um futuro docente, podendo de já trazer em si a ideia que não existe fórmula secreta ou
milagrosa para exercer a profissão docente, pois esta é um constante aprendizado, ou nas
palavras de Guimarães Rosa - o mestre não é aquele que ensina, mas aquele que de repente
aprende. Sua vida, como profissional preocupado e comprometido com a educação, deve está
coligida com a sensata articulação de seus conhecimentos acadêmicos adquiridos na sua
formação, bem como aqueles adquiridos no contexto escolar - in locus, e os conhecimentos
elaborados ao longo do próprio exercício da profissão, sem se esquecer de ser um profissional
pensante, com capacidade de indagação e reflexão, capaz de está em sintonia com as
transformações sociais, adequando o processo pedagógico às inovações culturais e,
principalmente, tecnológicas.
Apresentado em: 09.10.2011
Aprovado em: 18.10.2011
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