i UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE MARIA JOSÉ CICERO OGER AFFONSO AVALIAÇÃO DE ESCRITA NA DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO: TESTE DE NOMEAÇÃO DE FIGURAS POR ESCRITA (TNF1.1-ESCRITA) SÃO PAULO 2009 ii MARIA JOSÉ CICERO OGER AFFONSO AVALIAÇÃO DE ESCRITA NA DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO: TESTE DE NOMEAÇÃO DE FIGURA POR ESCRITA (TNF1.1-ESCRITA) Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do título de Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento. ORIENTADOR: PROF. DR. ELIZEU COUTINHO DE MACEDO SÃO PAULO 2009 iii AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE FICHA CATALOGRÁFICA Gerada pela Biblioteca Central da Universidade Mackenzie-SP A257a Affonso, Maria Jose Cicero Oger. Avaliação de escrita na dislexia do desenvolvimento: teste de nomeação de figuras por escrita (TNF1.1- escrita). / Maria Jose Cicero Oger Affonso. -- 2009. 93 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010. Bibliografia: f. 70-80. Orientador: Elizeu Coutinho de Macedo 1. Escrita. 2. Dislexia. 3. Erros. 4. Ortográficos.I. Título. CDD 371.9144 iv MARIA JOSÉ CICERO OGER AFFONSO AVALIAÇÃO DE ESCRITA NA DISLEXIA DO DESENVOLVIMENTO: TESTE DE NOMEAÇÃO DE FIGURA POR ESCRITA (TNF1.1-ESCRITA) Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, para obtenção do título de Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento. Desenvolvimento. Aprovada em ____________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Elizeu Coutinho Macedo (Orientador) Universidade Presbiteriana Mackenzie Profa. Dra. Alessandra Gotuzo Seabra Universidade Presbiteriana Mackenzie Profa. Dra. Maria de Jesus Gonçalves Centro Universitário São Camilo v AGRADECIMENTOS Primeiramente, a Deus, por me permitir realizar este trabalho que, espero, seja minha pequena contribuição ao trabalho com a dislexia do desenvolvimento. Ao meu marido Gentil, meu grande amor e companheiro, obrigada por sua compreensão e incentivo incondicionais. Aos meus queridos filhos, Carol e Léo, maior alegria de minha vida, minhas desculpas pelas longas ausências. Aos meus queridos pais, a quem devo toda a minha vida, por terem me ensinado a gostar tanto de aprender. Aos amigos que me incentivaram e acompanharam nesta caminhada, especialmente, Helenice Bollini, Patricia Melo e Rui Lucato, a quem devo o incentivo à docência e ao mestrado. Ao querido Prof. Elizeu Macedo pelos ensinamentos, a exigência e a paciência, especialmente obrigada por não me deixar desistir quando as dificuldades apareceram. À Profa. Dra. Alessandra Gotuzo Seabra e Profa. Dra. Maria de Jesus Gonçalves pelas contribuições que em muito enriqueceram o projeto de qualificação desta pesquisa. À Profa. Dra. Simone Aparecida Capellini e sua orientanda Andrea Oliveira Batista que gentilmente se dispuseram a revisar a classificação dos erros realizada pela autora desta dissertação. A Katerina Lukasova e Carolina Toledo Pizza que contribuíram com dados de avaliação de crianças disléxicas que viabilizaram a realização deste trabalho. As colegas do laboratório e do programa de pós-graduação, especialmente, Anna Carolina Cassiano Barbosa e Darlene Godoy Oliveira que generosamente me ensinaram com competência e paciência. As queridas amigas Natália Dias e Ana Maria Rossi que me auxiliaram nas dificuldades. A todas as crianças disléxicas cujo sofrimento me motivou a pesquisa nesta área, Leonardo, André, Pedro Paulo, Milena, Carolina... vi O presente trabalho recebeu apoio do Instituto Presbiteriano Mackenzie, por intermédio do MACKPESQUISA. vii RESUMO A dislexia do desenvolvimento é o distúrbio mais comum entre os transtornos de aprendizagem apresentados por escolares. Estudos nesta área têm priorizado a avaliação de leitura, ainda que já tenham sido evidenciadas dificuldades com a escrita automática de letras e nomeação automática, resultando em problemas de ortografia. Problemas ortográficos ainda têm sido pouco valorizados no diagnóstico da dislexia, em parte, pela escassez de instrumentos disponíveis para avaliação da escrita. Um instrumento que possibilita a avaliação da competência de escrita por meio de computador é o Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita). O objetivo do presente estudo foi analisar o padrão de resposta de disléxicos em tarefa de nomeação de figura por escrita. Foram analisados 15 disléxicos, de ambos os sexos, com idades variando de 8 a 12 anos, provenientes de escolas públicas e particulares do estado de São Paulo. Além disso, dois grupos contrastantes de leitores normais foram usados como comparação: Grupo Controle por Idade composto por 15 crianças sem problema de leitura, pareados por sexo, idade e tipo de escola com as crianças disléxicas; e Grupo Controle por nível de leitura: composto por 15 leitores mais novos, pareados com os disléxicos pelo sexo, tipo de escola e desempenho de leitura. Resultados das análises quantitativas indicam que a pontuação total dos participantes com dislexia no TNF1.1-Escrita foi significativamente menor do que a dos participantes do grupo Controle por idade; não foi observada diferença significativa na pontuação total no TNF1.1Escrita dos participantes com dislexia dos participantes do grupo Controle por nível de leitura; crianças do grupo Controle por nível de leitura foram mais lentas do que os participantes com dislexia e dos Controles por idade. Nas análises dos tipos de erros, foram observadas diferenças significativas entre disléxicos e os dois grupos de participantes controles para os seguintes tipos de erros: Correspondência unívoca grafema-fonema, Omissão de segmentos e Correspondência fonema-grafema independente de regras, sugerindo dificuldades tanto fonológicas quanto ortográficas. Análise do padrão de respostas em provas de nomeação por escrita possibilita uma maior compreensão das estratégias e dificuldades de escrita de pessoas com o diagnóstico de dislexia. viii ABSTRACT Developmental dyslexia is the most common learning difficulties by school students. Studies in this area have given priority to reading assessment, even though difficulties with automatic letter writing and naming have been evidenced, resulting in spelling problems. Spelling problems have been overseen in dyslexia diagnosis partially due to the lack of instruments available to assess writing. An instrument that allows the assessment of writing competence through a computer is the Written Picture Naming Test (WPNT1.1Writing). The purpose of this study is to analyze the answer´s patterns of dyslexics in naming figures by writing. Fifteen dyslexics, males and females, were analyzed, with ages ranging from 8 through 12 years from public and private schools in the State of São Paulo. In addition, two groups contrasting normal readers have been used as comparison: Control Group by Age made up of 15 children with no reading problems, paired up by gender, age and type of school with dyslexic children; and a Control Group by reading level: made up of 15 younger readers, paired up with dyslexics by gender, type of school and reading performance. Results of quantitative analyses suggest that: total score of participants with dyslexia at WPNT1.1-Writing was significantly lower than that of participants in the control group by age; a significant difference was not observed in total score at WPNT1.1-Writing of participants with dyslexia compared with participants in the Control Group by reading level; children of the Control group by reading level were slower than participants with dyslexia and those of the Control group by age. Analisys of errors types, shows significant differences between dyslexics and participants of the two control groups for the following types of mistakes: grapheme-phoneme univocal correspondence, omission of segments and phoneme-grapheme correspondence regardless of rules, this finds suggests both phonological and orthographical difficulties. Analysis of answer´s patterns in written naming tests provides greater understanding of writing strategies and difficulties of people with the dyslexia diagnosis. ix Sumário 1.INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................................... 3 2.1 PROBLEMAS DE LEITURA E ESCRITA ......................................................... 3 2.1.1 PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM ........................................................... 3 2.1.2 TRANSTORNO DA LEITURA: DISLEXIA ................................................................. 4 2.1.3 INCIDÊNCIA ................................................................................................ 9 2.1.4 FATORES GENÉTICOS ............................................................................ 11 2.1.5 FATORES NEUROBIOLÓGICOS .............................................................. 14 2.2. DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA ........................................ 20 2.3. AVALIAÇÃO DOS PROBLEMAS DE ESCRITA ........................................... 25 2.3.1 CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE ERROS NA ESCRITA....................... 27 2.3.1.1.SISTEMA CAGLIARI. ............................................................................. 30 2.3.1.2.SISTEMA CARRAHER ........................................................................... 31 2.3.1.3 SISTEMA ZORZI ..................................................................................... 33 2.3.1.4 SISTEMA CERVERA-MÉRIDA E YGUAL-FERNÁNDEZ ........................ 36 2.3.1.5.SISTEMA MANZANO,SANZ & CHOCANO............................................. 39 2.3.2. DESENVOLVIMENTO DE INSTRUMENTOS COMPUTADORIZADOS PARA AVALIAÇÃO DE LEITURA E ESCRITA .................................................... 40 3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 46 3.1. OBJETIVO GERAL ...................................................................................... 46 3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................ 46 4. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................. 47 4.1 SUJEITOS .................................................................................................... 47 4.2 MATERIAL .................................................................................................... 48 x 4.3 PROCEDIMENTO......................................................................................... 52 4.4 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS RESULTADOS .............................................. 52 4.4.1 ANÁLISE QUANTITATIVA ......................................................................... 52 4.4.2 ANÁLISE QUALITATIVA ............................................................................ 52 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 55 5.1. ANÁLISE DE DESEMPENHO NO TESTE DE COMPREENSÃO DE SENTENÇAS ESCRITAS ................................................................................... 58 5.2. ANÁLISE DO DESEMPENHO NO TESTE DE NOMEAÇÃO DE FIGURAS POR ESCRITA (TNF1.1-ESCRITA) .................................................................... 59 6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 69 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 70 ANEXOS ............................................................................................................... 81 1 1. INTRODUÇÃO O misterioso da escrita é que ela fala. Paul Claudel A dislexia do desenvolvimento é o distúrbio mais comum entre as dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita, apresentado pelos escolares. Sua prevalência varia segundo alguns autores entre 3 e 18% (ROTTA, PEDROSO, 2006). A dislexia do desenvolvimento pode ocasionar um grave prejuízo escolar e social ao indivíduo, se não for diagnosticada e tratada precocemente. Assim, a dificuldade de acesso a serviços educacionais especiais pode impedir o desenvolvimento da habilidade de leitura com fluência e acurácia, tendo implicações no progresso dos estudos (BERNINGER et al., 2008). As pesquisas em dislexia do desenvolvimento têm priorizado os problemas de leitura, ainda que já tenham sido evidenciadas dificuldades em outras áreas, tais como a da escrita automática de letras e nomeação automática, resultando em problemas de ortografia. Estes problemas ortográficos têm sido pouco valorizados pelos especialistas em diagnóstico, resultando em escassez de serviços escolares especiais com objetivo de melhorar tal habilidade (BERNINGER et al., 2008). Os principais déficits em habilidades escolares presentes na dislexia do desenvolvimento são: dificuldade na decodificação de palavras na leitura, dificuldade de automatização e fluência de leitura. Tais dificuldades resultam em prejuízo na compreensão do texto lido. No entanto, nem sempre a dificuldade de leitura implica em transtornos de escrita, podendo ocorrer apenas um destes déficits isoladamente (FLETCHER et al., 2009). Já os transtornos da escrita podem envolver problemas em diferentes áreas, como: grafia, ortografia ou com a produção textual (FLETCHER et al., 2009). Tais problemas podem ocorrer isoladamente ou em conjunto. Métodos e instrumentos específicos são criados para avaliar cada um destes componentes. Assim, pode-se 2 avaliar a qualidade da grafia em amostras de material gráfico e escrito. Para a avaliação da ortografia, têm sido usados testes que avaliam a produção de escrita sob ditado. Já a produção textual é comumente avaliada na amostra de escrita espontânea a partir de uma imagem ou de um tema para redação (FLETCHER et al., 2009). Com o avanço da tecnologia e a popularização do computador, cada vez mais se tem utilizado estes recursos em situações de avaliação psicológica. O uso de instrumentos computadorizados para avaliação de habilidades cognitivas pode trazer vários benefícios. Um deles é permitir a avaliação de vários sujeitos concomitantemente, com pouco dispêndio de tempo e recursos materiais. Além disso, tais sistemas podem ser programados para realizar correções automáticas e produzir relatórios detalhados do desempenho dos escolares. O desenvolvimento de instrumentos que testam a capacidade de compreensão de leitura e escrita é fundamental para avaliar pessoas que apresentam dificuldades de aprendizagem de leitura e escrita. Um instrumento que possibilita a avaliação da competência de escrita por meio de computador é o Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita). Originalmente, o teste foi desenvolvido na versão lápis e papel (CAPOVILLA et al., 2002) e, posteriormente, criada a versão computadorizada (MACEDO et al., 2002). O TNF1.1-Escrita já foi validado e normatizado para estudantes do Ensino Fundamental, mas ainda são raros os estudos que avaliaram o desempenho de disléxicos nesse teste. Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o padrão de escrita de crianças disléxicas na versão computadorizada do teste, por meio de análise quantitativa e qualitativa dos erros. O presente trabalho compara o padrão de escrita de sujeitos com dislexia do desenvolvimento com o de participantes de dois grupos controle: grupo controle pareado por idade e grupo controle pareado por nível de leitura. Esta análise da escrita está baseada na categorização dos erros ortográficos a partir da adaptação para o português da Categorização Semiológica de Erros Ortográficos proposta por Cervera-Mérida e Ygual-Fernández (2006). 3 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 PROBLEMAS DE LEITURA E ESCRITA 2.1.1 PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM Os problemas de aprendizagem têm sido estudados a partir de diferentes concepções teóricas e metodológicas diferentes. Tal diversidade de abordagens pode ser explicada em função da existência de diferentes fatores explicativos para os problemas de aprendizagem. Dentre tais fatores destacam-se os biológicos, cognitivos e sociais (STERNBERG; GRIGORENKO, 2003). Há muitas nomenclaturas em uso para designar os problemas de aprendizagem. Para diferenciá-los, Ciasca (2003) propõe que se utilize o termo “Distúrbio de Aprendizagem” (DA) para os casos em que haja uma disfunção do Sistema Nervoso Central (SNC) que afeta o desenvolvimento da aprendizagem e o termo “Dificuldade Escolar” (DE) para os problemas de aprendizagem de ordem pedagógica. A dificuldade escolar pode ocorrer em 5 a 20% das crianças em idade escolar, mas, deste contingente, apenas 7% apresentariam algum tipo de disfunção neurológica (CIASCA, 2003). A nomenclatura “Transtornos Específicos do Desenvolvimento das Habilidades Escolares” é empregada na Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas (WHO, 1993). Estes transtornos têm origens em anormalidades no processo cognitivo, decorrente de alguma disfunção biológica. Os critérios diagnósticos são: 1) comprometimento significativo na habilidade escolar especificada que deve ser específico e não explicado por retardo mental ou inteligência global menor; 2) comprometimento deve estar presente desde o início da vida escolar; 3) não deve haver fatores externos que o expliquem, como ausência da escola, e não devem ser devidos a deficiências visuais ou auditivas não corrigidas. Estão incluídos nessa categoria os Transtornos Específicos de Leitura, do Soletrar1, de Habilidades 1 Embora o termo “spelling” tenha sido traduzido como “soletrar” pelos editores da versão brasileira da CID-10, a autora considera que o termo mais adequado é “escrita”. 4 Aritméticas e o Misto, no qual mais de uma destas habilidades específicas está comprometida. No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, APA, 2003), a nomenclatura anteriormente usada de Transtornos das Habilidades Escolares foi substituída por Transtornos da Aprendizagem. As características diagnósticas devem se relacionar com desempenho em testes padronizados de leitura, matemática e escrita, administrados individualmente, substancialmente abaixo do esperado para sua idade, escolarização e nível de inteligência. O critério de discrepância é o de mais de dois desvios-padrão entre rendimento e QI, devendo ser excluídos os casos devidos à falta de oportunidade escolar regular, comprometimento sensorial e retardo mental. Nos Transtornos de Aprendizagem, estão incluídos os seguintes quadros: Transtorno da Leitura, Transtorno da Matemática, Transtorno da Expressão Escrita e os Transtornos da Aprendizagem Sem Outra Especificação. Este último se aplica aos casos em que o comprometimento inclui problemas nas três áreas, de leitura, matemática e expressão escrita sem, no entanto, preencher o critério para algum dos transtornos específicos. No entanto, a utilização estrita dos critérios de discrepância pode retardar o diagnóstico e dificultar a realização de programas de intervenção precoce (STUEBING et al. 2002). Dentre os quadros de transtornos da aprendizagem, os que ocorrem com mais frequência são os Transtornos da Leitura, responsáveis por quatro em cada cinco casos de Transtornos de Aprendizagem, podendo ocorrer concomitantemente com os Transtornos da Matemática e o Transtorno da Expressão Escrita (DSM-IVTR,APA, 2003). No presente trabalho o termo dislexia será empregado como sinônimo de transtorno de leitura. 2.1.2. TRANSTORNO DA LEITURA: DISLEXIA A dislexia tem sido definida de diferentes maneiras ao longo do tempo e, conforme Grigorenko (2001), a definição de dislexia é, em si mesma, um assunto para pesquisa. Desde o momento em que foram descritos os primeiros casos de transtornos de leitura, há menos de 120 anos, ela já teve diferentes nomes, tais 5 como cegueira verbal congênita, estrefossimbolia, inabilidade específica de leitura, dislexia específica do desenvolvimento, retardamento específico de leitura e talvez outros mais. A expressão cegueira verbal congênita foi utilizada inicialmente para descrever a perda total ou parcial da leitura em indivíduos com lesões cerebrais; junto do qualificativo congênito se aplicava a crianças que não eram capazes de aprender a ler apesar de terem inteligência normal (SIEGEL, LE NORMAND, PLAZA, 2005). Segundo Snowling (2004a), Pringle-Morgan, em 1896, a dificuldade visual era um elemento básico presente na cegueira verbal congênita, como era então denominada a dislexia do desenvolvimento. Assim, sugeriu que na dislexia havia uma espécie de “cegueira verbal” para palavras em um garoto normal para outras habilidades visuais, ou seja, esta disfunção do desenvolvimento ocorre em crianças saudáveis. Nessa mesma direção, as observações de Adolf Kussmaul, em 1877, valorizavam as dificuldades visuais na dislexia (GRIGORENKO, 2001). Conforme Snowling (2004b), em 1937, Samuel Orton usou o termo “estrefossimbolia” para descrever crianças com dificuldades de leitura por acreditar que se tratasse de uma distorção na percepção de símbolos, o que mais tarde não se confirmou. No entanto ele observou uma importante característica destas dificuldades de leitura, que é sua tendência a ocorrer com maior incidência em determinadas famílias. Ele atribuía essa patologia a uma lateralização incompleta dos hemisférios cerebrais (SNOWLING; STACKHOUSE, 2004). Nos anos de 1970, a Dislexia do Desenvolvimento foi definida pela Federação Mundial de Neurologistas como um distúrbio em que a criança não desenvolve as habilidades normais de leitura, apesar de ter inteligência adequada, de acesso à instrução formal e oportunidade sociocultural, dependendo de dificuldades cognitivas fundamentais frequentemente de origem constitucional (SNOWLING, 2004a; BODER, 1973). Conforme Stanovich (1988), essa conceituação representou um avanço no que diz respeito ao reconhecimento do caráter constitucional da dislexia do desenvolvimento. Até então, havia uma noção de que seria apenas um atraso na aquisição da habilidade de leitura de natureza maturacional, ou seja, de que a diferença entre bons e maus leitores estaria somente na velocidade de aquisição das habilidades de leitura e escrita. 6 Segundo Shaywitz, Morris e Shaywitz (2008), a definição mais aceita atualmente se baseia no conceito da dislexia como uma inesperada dificuldade em leitura. No entanto, essa noção já está presente de forma constante nas definições de dislexia no trabalho de Critchley (1970). A mesma noção tem sido enfatizada nas publicações de Lyon (1995, 2003) que liderou um grupo de trabalho encarregado pela Associação Internacional de Dislexia de elaborar uma definição para a dislexia do desenvolvimento (LYON, SHAYWITZ, SHAYWITZ, 2003). “Dyslexia is one of several distinct learning disabilities. It is a specific language-based disorder of constitutional origin characterized by difficulties in single word decoding, usually reflecting insufficient phonological processing. These difficulties in single word decoding are often unexpected in relation to age and other cognitive and academic abilities; they are not the result of generalized developmental disability or sensory impairment. Dyslexia is manifest by variable difficulty with different forms of language, often including, in addition to problems with reading, a conspicuous problem with acquiring proficiency in writing and spelling”. (LYON, SHAYWITZ, SHAYWITZ, 2003, p.2). Em tradução livre: “a dislexia é um dos vários transtornos de aprendizagem. É um transtorno específico baseado na linguagem, de origem constitucional, caracterizado por dificuldades na decodificação de palavras isoladas, usualmente refletindo processamento fonológico insuficiente. As dificuldades, em decodificação de palavras isoladas são frequentemente, inesperadas em relação à idade e a outras habilidades cognitivas e acadêmicas. Elas não são resultado de inabilidade generalizada de desenvolvimento ou prejuízo sensorial. Dislexia se manifesta por variadas dificuldades, com diferentes formas de linguagem, frequentemente incluindo, além dos problemas de leitura, um óbvio problema de aquisição de proficiência em escrita e soletração”. Essa definição foi revisada pelo grupo liderado por Lyon em um encontro ocorrido em Washington, DC em 2002 como segue: 7 “Dyslexia is a specific learning disability that is neurobiological in origin. It is caracterized by difficulties with accurate and/or fluent Word recognition and by poor spelling and decoding abilities. These difficulties typically result from a déficit in the phonological component of language that is often unexpected in relation to other cognitive abilities and the provision of effective classroom instruction. Secondary consequences may include problems in reading comprehension and reduced reading experience that can impede growth of vocabulary and background knowledge” (LYON, SHAYWITZ, SHAYWITZ, 2003, p.2). Em tradução livre: “dislexia é um transtorno específico da aprendizagem, de origem neurobiológica, caracterizado por dificuldades em fluência e/ou acurácia em reconhecimento de palavras e habilidade pobre em escrita e decodificação. São dificuldades que resultam de um déficit no componente fonológico da linguagem que é inesperado em relação a outras habilidades cognitivas e à provisão adequada de instrução escolar. Consequências secundárias podem incluir problemas em compreensão de leitura e reduzida experiência de leitura, a qual pode impedir o crescimento do vocabulário e do conhecimento”. Essa definição incorporou definitivamente a noção da origem neurobiológica da dislexia, refletindo os grandes avanços da neurociência, particularmente das técnicas de imagens cerebrais. Também incorporou e enfatizou a importância da fluência em leitura, a partir das pesquisas do National Reading Panel (2000). Esta nova concepção ressalta a importância da fluência, além da acurácia, no reconhecimento de palavras. Este tende a ser um prejuízo permanente nos disléxicos, cuja leitura permanece lenta e difícil até a adolescência ou idade adulta (SHAYWITZ; MORRIS; SHAYWITZ, 2008). Essas duas definições trazem ainda a importância central do déficit fonológico como causa da dislexia que tem sido relatado de forma consistente por muitos pesquisadores (RAMUS et al., 2003), suplantando a hipótese do déficit visual que perdurou por 50 anos, da década de 1920 até 1970. A forma plural de uso da palavra dislexia reconhece a diversidade das manifestações fenotípicas dessa patologia, privilegiando a variação das suas manifestações sintomatológicas. Reconhecendo tal diversidade desde o século passado, vários autores têm tentado diferenciar subtipos de dislexia a partir da 8 análise dos erros cometidos pelos disléxicos. Entre eles destacam-se Marshall & Newcombe (1966, 1973) que distinguiram três tipos de perturbações léxicas: dislexia visual, dislexia de superfície e dislexia profunda. Na dislexia visual, as palavras lidas são semelhantes graficamente às palavras-estímulo; na dislexia de superfície, os erros de leitura ocorrem por erro na aplicação da regra de correspondência grafofonêmica; e na dislexia profunda, ocorrem erros semânticos de leitura (PIÉRART, 1997). Outra descrição de subtipos de dislexia, baseada na análise de erros, foi feita por Boder (1973). A partir de uma pesquisa com 107 disléxicos, ela distinguiu três tipos: os disfonéticos, diseidéticos e mistos. Os disfonéticos, 67% da amostra, são aqueles que leem bem palavras conhecidas, mas têm muita dificuldade na leitura de palavras novas. Cometem erros semânticos por tentar adivinhar as palavras pelo contexto e, em testes de inteligência, como o WISC, o QI Verbal normalmente é inferior ao QI de Execução. Nos diseidéticos, que representam 10% da amostra, a leitura muitas vezes é correta, mas muito lenta. Como esse tipo de leitura é baseado na decodificação fonológica, não memorizam a forma das palavras. Em testes de inteligência, o QI Verbal tende a ser superior ao QI de Execução. Os mistos que cometem os mesmos erros dos dois tipos anteriores, e também erros devidos a confusões espaciais, semelhantes a crianças aléxicas. Deve-se levar em conta o fato de que esses achados não se repetiram em outras pesquisas (BODER, 1973; PIÉRART, 1997). Mais recentemente, Capovilla e Capovilla (2000) apresentaram uma revisão das disfunções apresentadas pelos disléxicos, segundo análise dos erros cometidos em leitura. Segundo Morais (1995) e Seymour (1987), os principais padrões de disfunção na leitura podem ser divididos em dislexias periféricas e centrais. Nas dislexias periféricas, os distúrbios ocorrem na análise visual (e.g., dislexia visual e dislexia de negligência), ou no reconhecimento das palavras (e.g., a leitura letra a letra e dislexia atencional). Já nas dislexias centrais, os distúrbios ocorrem em componentes das rotas fonológica e/ou lexical (CAPOVILLA; CAPOVILLA, 2000, p.26). 9 Na dislexia visual, os erros de leitura ocorrem por semelhança visual entre a palavra lida e a correta. Na dislexia de negligência, também os erros são na análise visual da palavra, geralmente a parte inicial. Na leitura letra a letra, o erro se deve a um distúrbio no reconhecimento global da palavra, havendo uso de soletração como estratégia compensatória. Na dislexia atencional, os erros se devem à confusão em relação à posição da letra na palavra ou entre palavras. Na dislexia fonológica, a rota mais usada é a lexical, havendo dificuldade na leitura de palavras novas e pseudopalavras. A leitura de palavras familiares está preservada, havendo efeito de lexicalidade e frequência. Na dislexia morfêmica ou semântica, a leitura é feita pela rota fonológica, portanto os erros ocorrem na leitura de palavras irregulares e longas, ou seja, observam-se os efeitos de regularidade e comprimento. Na dislexia profunda, a rota fonológica está muito comprometida, e a lexical um pouco afetada, havendo muitos erros semânticos. Na dislexia superficial, a rota lexical está muito afetada e a fonológica um pouco, os erros mostram efeito de regularidade e não de lexicalidade (CAPOVLLA; CAPOVILLA, 2000). 2.1.3 INCIDÊNCIA Dada a complexidade e variabilidade de manifestações presentes nos quadros de dislexia, torna-se difícil estimar sua incidência. Assim, não há consenso entre os pesquisadores quanto aos critérios diagnósticos. Isto torna difícil a comparação dos dados entre diferentes pesquisas. No entanto, adotando-se um critério como o da inaptidão para leitura, ela ocorre em 2 a 8% de crianças em escolas elementares (CIASCA; CAPELLINI; TONELOTTO, 2003). Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira de Dislexia (ABD), a incidência de dislexia na população mundial é de aproximadamente 15% (IANHÊZ; NICO, 2002). Um grande estudo epidemiológico, realizado nos EUA, o Connecticut Longitudinal Study, encontrou 17,5% de estudantes com nível de leitura abaixo do esperado para a idade. Essa incidência coloca a dislexia no mesmo patamar de importância de outros distúrbios que afetam a saúde da população (SHAYWITZ; MORRIS; SHAYWITZ, 2008). Estudos de prevalência realizados em países europeus e nos EUA também mostram que a dislexia é muito frequente, com as taxas variando entre 3 e 18%, em diferentes estudos (ROTTA, PEDROSO, 2006). Em estudo de prevalência de 10 dislexia, em alunos da 3ª série do Ensino Fundamental, realizado no Brasil, foi encontrada uma prevalência de 12,1%, com estimativa pelo intervalo de confiança de 95%, entre 7% e 19% (SILVA, 2004, apud ROTTA; PEDROSO, 2006). Dessa forma, fica evidenciada a necessidade de mais estudos epidemiológicos, com uso de instrumentos padronizados na língua portuguesa, para que se possa ter mais clareza da dimensão do problema. No que diz respeito ao fator gênero, muitos autores têm descrito a dislexia como mais comum em meninos do que em meninas, variando na proporção em diferentes estudos. Em um estudo realizado na Inglaterra por Berger e colaboradores (1975), a dificuldade de leitura ocorreu em 14,4% dos meninos e em 5,1% das meninas (citados por SALGADO et al., 2006). Em outros estudos, como os de Flannery et al. (2000), foi verificada a prevalência de transtornos de leitura em uma grande amostra de crianças brancas e negras, de ambos os sexos. Foi encontrada uma taxa de prevalência de 2:1 para os meninos, independente do grau de severidade e da cor. Na pesquisa de Shaywitz e colaboradores (1990), a partir de resultados do Connecticut Longitudinal Study, foi encontrada uma prevalência da ordem de 1,7:1 para os meninos. Esses dados foram corroborados por estudo brasileiro de Nico e colaboradores (2000) que encontraram 1,5:1 para os meninos. Em outra pesquisa brasileira, conduzida por Silva e Pedroso, a proporção encontrada foi de 2,4:1 para os meninos ( ROTTA; PEDROSO, 2006). As discrepâncias dos resultados em relação ao gênero podem ser, ao menos em parte, atribuídas às diferenças metodológicas desses estudos. Se a amostra for selecionada a partir de crianças identificadas pela escola, é provável que o número de meninos seja muito maior. Tendo em vista que os meninos com problema de aprendizagem tendem a apresentar comportamento disruptivo em sala de aula, esse fato faz com que sejam identificados mais frequentemente, podendo então ocasionar um viés na amostra (SHAYWITZ; MORRIS; SHAYWITZ, 2008). No entanto, segundo Schumacher e colaboradores (2008), a questão é discutível, pois, estudo feito com gêmeos no Colorado, encontrou taxa semelhante para ambos os sexos. No entanto, pesquisa de Harlaar et al. (2005) constatou hereditariedade mais alta para os meninos em uma amostra britânica (SCHUMACHER et al., 2008). Embora não haja total concordância entre os pesquisadores, a maioria dos estudos mostra uma prevalência maior entre meninos de aproximadamente 2:1. 11 Tais questões apontam para a necessidade de mais pesquisas de prevalência, adotando-se amostras selecionadas por critérios objetivos, como de discrepância entre habilidade de leitura e QI. Este procedimento apresenta menor risco de tendenciosidade do que os estudos baseados em amostras selecionadas por indicação de professores ou clínicos (FLANNERY et al., 2000). Além disto, os autores sugerem a necessidade de mais estudos envolvendo irmãos e pais dos indivíduos afetados como forma de tentar esclarecer a maior vulnerabilidade masculina. Consideram ainda que pesquisas futuras deveriam buscar identificar as causas biológicas subjacentes a esta vulnerabilidade (FLANNERY et al., 2000). 2.1.4 FATORES GENÉTICOS A dislexia do desenvolvimento é um distúrbio tanto familiar quanto hereditário (CAPELLINI et al., 2007; SHAYWITZ; MORRIS; SHAYWITZ, 2008). Familiar se refere ao fato de uma característica ser mais comum entre parentes de um indivíduo afetado do que na população em geral, independente de sua causa ser genética, ambiental ou ambas (NUSSBAUM, MCINNES, WILLARD, 2008). O termo hereditário indica que o mecanismo de transmissão desta característica depende de sua herança genética. A tendência de ocorrência em famílias já havia sido reconhecida desde as suas primeiras descrições, mas hoje há evidências conclusivas de que a dislexia é hereditária. No entanto há grande dificuldade em estabelecer a herdabilidade de traços comportamentais complexos. Dependendo da dimensão fenotípica investigada, os fatores herdados podem chegar a 80% (SCHUMACHER et al., 2008). Uma dessas dificuldades se deve ao fato de não haver uma clara correspondência entre genótipo e fenótipo. Outro fator de dificuldade reside na variação fenotípica em função do estágio de desenvolvimento do sujeito (CASTLES et al., 2006). Três linhas de evidências convergentes sugerem que a dislexia do desenvolvimento é hereditária. A primeira forma são as pesquisas de comportamento de leitura entre gêmeos monozigóticos (MZ) e dizigóticos (DZ). A segunda forma são os estudos de prejuízo de leitura em famílias. A terceira forma são os estudos genético-moleculares (GRIGORENKO, 2001). 12 Alguns estudos mostram que a taxa de concordância é maior entre gêmeos MZ. Estas taxas variam entre 85% e 55%, se comparados com gêmeos DZ cujas taxas estão abaixo de 50%. No entanto, esses tipos de estudo não permitem estimar a magnitude relativa da influência genética e ambiental para as habilidades envolvidas na leitura (GRIGORENKO, 2001). Os geneticistas desenvolveram uma técnica estatística que permite estimar a influência relativa da hereditariedade e do ambiente em gêmeos, denominada Método DeFries-Fulker (1985). Nas pesquisas em dislexia com gêmeos, o comportamento analisado é o de leitura, que compara o desempenho do gêmeo afetado (probando) com o cogêmeo. Sua lógica está baseada na premissa de que o cogêmeo de um probando lerá melhor, e, portanto, seu comportamento de leitura será mais semelhante ao nível médio esperado para sua idade. “É dito que ela „regride‟ na direção da média para a população” (SNOWLING, 2004a, p.139). A intensidade da regressão é determinada por fatores genéticos e ambientais. Nos gêmeos MZ (idênticos), a regressão será menos intensa para os cogêmeos; enquanto para os gêmeos DZ (fraternos) a regressão dos cogêmeos em direção à média da população será maior, ou seja, irão se diferenciar mais do que as dos probandos. Aplicando essa metodologia no estudo da habilidade de leitura em grandes amostras, é possível estimar a contribuição relativa da genética e do ambiente para a leitura (SNOWLING, 2004a). Estudos têm sido conduzidos com essa metodologia, e os resultados mostram uma estimativa de herdabilidade alta para as habilidades fonológicas, como reconhecimento de palavras e consciência fonêmica. No entanto para as habilidades ortográficas, os fatores ambientais compartilhados parecem ser muito relevantes (GRIGORENKO, 2001). Estudos com gêmeos têm mostrado uma heterogeneidade entre os diferentes processos cognitivos envolvidos na habilidade de leitura, pois nem todos parecem ser herdáveis. A herdabilidade “parece ser mais elevada para decodificação fonológica e a consciência do fonema do que para o reconhecimento da palavra e a codificação ortográfica” (ROTTA; PEDROSO, 2006, p.156). Segundo Schumacher e colaboradores (2008), a proporção de fatores herdados na dislexia varia entre 40% e 80%, sendo mais elevada para leitura de palavras, até 58% e soletração de 70%. 13 Com relação aos estudos de dislexia com famílias afetadas, são conduzidas avaliações de cada membro afetado e construídos heredogramas na tentativa de compreender o modelo de herança e avaliar o risco relativo para os familiares do probando, ou seja, do disléxico. Algumas estimativas apontam que de 35 a 40% dos parentes de primeiro grau sejam afetados e que ela seja herdada em 50% dos casos e heterogênea no modo de transmissão (ROTTA; PEDROSO, 2006). Outros autores reportam que uma criança, filha de pai ou mãe afetados, tem um risco de 40 a 60% de desenvolver dislexia. Tal risco aumenta quando outros membros são afetados, sendo que, o risco relativo é de 3 a 10 vezes maior para irmãos (SCHUMACHER et al., 2007). Estudos de segregação têm indicado que a dislexia parece ser um distúrbio de herança autossômica dominante (WIJSMAN et al., 2000; CAPELLINI et al., 2007). Com relação aos estudos genético-moleculares, muitas pesquisas têm sido conduzidas no sentido de mapear genes associados a dimensões fenotípicas específicas da dislexia. Alguns genes candidatos têm sido apontados por vários estudos como o DCDC2, KIAA0319, DYX1C1 e o ROBO1. Esses genes parecem estar envolvidos no processo de migração neuronal (GALABURDA et al., 2006; SCHUMACHER et al., 2008). Desde os trabalhos de Galaburda e colaboradores (1985, 1994), sabe-se que os cérebros disléxicos apresentam anomalias sutis do processo de migração neuronal. As anomalias afetam a região perisilviana, relacionada à linguagem e também o tálamo e o cerebelo. Essas anomalias estão relacionadas ao déficit de processamento fonológico e a alguns transtornos motores muito frequentes nos disléxicos. Estudos sugerem envolvimento do gene ROBO1 que tem o papel de regular a migração do axônio por meio da linha média entre os hemisférios cerebrais e guiar os dendritos neuronais. A baixa expressividade desse gene foi associada ao fenótipo da dislexia, inicialmente em um indivíduo com dislexia, portador de uma translocação t(3,8) (p12; q11). Posteriormente em 19 disléxicos severos de uma mesma família, portadores de um haplótipo raro do ROBO1 (HANNULA-JOUPPI et al., 2005). Modelos animais têm mostrado que a manipulação de funções genéticas prénatais, relacionadas a tais genes, produz anomalias de migração celular que causam déficits de processamento de estímulos auditivos em ratos (GALABURDA et al., 2006). Estudo de Paracchini e colaboradores (2006) sugere uma ação do gene 14 KIAA0319 para a adesão celular entre os neurônios em migração e as fibras da glia, durante o desenvolvimento do neocórtex. Segundo Galaburda e colaboradores (2006), os genes já identificados, associados à dislexia (DYX1C 1, KIAA0319, DCDC2, ROBO1) podem ser os que provocam alterações na migração celular e no crescimento dos axônios que resultam em circuitos anormais entre o córtex e o tálamo, afetando funções sensoriais e cognitivas envolvidas na leitura. Esses genes candidatos não se expressam somente nas áreas cerebrais relacionadas à leitura. As anomalias corticais em regiões específicas poderiam depender de uma interação múltipla gene-gene, gene-ambiente (PARACCHINI , 2007). Pelo acima exposto, podemos concluir que as pesquisas realizadas nas últimas décadas têm trazido importantes contribuições na compreensão das causas genéticas dos quadros de dislexia. No entanto, muitos avanços serão ainda necessários para que se possa ter maior clareza do tema. Dentre os avanços necessários destaca-se o desenvolvimento de instrumentos mais precisos para caracterização fenotípica da dislexia. 2.1.5 FATORES NEUROBIOLÓGICOS A dislexia foi descrita pela primeira vez quase que concomitantemente por Hinshelwood (1895) e Morgan (1896), em estudos independentes, que mencionavam a semelhança dos sintomas com a “cegueira verbal”. Já em 1891 Dejerine, um neurologista francês, descreveu que, em adultos, um dano na região parieto-occipital esquerda (giro angular esquerdo) resultava num prejuízo em leitura e escrita. Essas especulações só poderiam, então, ser confirmadas por autópsia cerebral. Isso ocorreu em 1968, quando Drake descreveu uma série de alterações cerebrais no giro cortical da região parietal inferior esquerda, incluindo ectopias na camada externa do córtex. Outra especulação neurobiológica partiu de Samuel Orton (1925, 1937) que descreveu uma pobre e inadequada lateralização cerebral, no cérebro de crianças disléxicas. Tal alteração envolvia especialmente áreas da linguagem. Esses estudos resultaram numa teoria amplamente difundida na segunda metade do século 20 que atribuía a dislexia a uma assimetria hemisféricocortical (HABIB, 2000; CAYLAK, 2009). 15 A partir de 1973, com o uso da tomografia computadorizada, os cientistas puderam analisar o cérebro de pessoas vivas, e, mais tarde, a ressonância magnética permitiu ver detalhes da anatomia cerebral de pessoas com dislexia. Embora as imagens estáticas permitissem examinar a estrutura do cérebro, foi somente no inicio dos anos de 1980 que os cientistas puderam analisar o cérebro em funcionamento (SHAYWITZ, 2006). A despeito desses grandes avanços, as bases neuroanatômicas da dislexia ainda não estão completamente compreendidas. Estas dificuldades se devem a questões metodológicas e à variação de definições para dislexia (ECKERT, 2004). Assim, embora hoje haja concordância quanto à importância central do déficit fonológico na dislexia e sua relação com estruturas neurais, estudos recentes enfatizam a necessidade de fenótipos cognitivos adicionais para compreensão das bases neurobiológicas da dislexia (ECKERT, 2004). Pesquisas recentes mostram que preditores anatômicos para dificuldade de leitura variam em função do QI (LEONARD et al., 2002). Estruturas cerebrais de tamanho grande e assimétricas caracterizam sujeitos disléxicos com QI médio e alto; enquanto estruturas pequenas simétricas são características de sujeitos com déficit de leitura de QI mais baixo (ECKERT, 2004). Conforme Eckert (2004) há pelo menos mais três fenótipos comportamentais que são críticos para caracterizar uma amostra de dificuldade de leitura e que contribuem para a variabilidade neurobiológica da dislexia: memória de trabalho fonológica, ortografia e nomeação rápida. Cada qual contribui como variável única para predizer compreensão de leitura, acurácia e ritmo (BERNINGER et al., 2001 apud ECKERT, 2004). Diferentes estruturas são ativadas, dependendo do tipo de tarefa. Assim, tarefas de linguagem escrita envolvem o córtex occipital medial, giro fusiforme, córtex parietal inferior, cerebelo e giro frontal inferior, assim como o giro temporal superior além de todo o sistema visual e regiões parietais. Já as tarefas de linguagem oral envolvem o córtex auditivo, insula, giro frontal inferior e cerebelo, assim como áreas também ativadas durante tarefa de linguagem escrita (ECKERT, 2004). Este padrão de ativação parece sofrer modificações com o amadurecimento, havendo menor grau de sobreposição de ativação. A conectividade entre estes sistemas também sofre refinamento, resultando em maior especificidade de resposta 16 aos estímulos ortográficos e fonológicos dentro destes sistemas (BOOTH et al., 2003 apud Eckert, 2004). À medida que os sistemas de linguagem oral e escrita se desenvolvem, parece haver uma redução na ativação do hemisfério direito. Simos et al. (2000) demonstraram maior ativação do hemisfério direito em tarefa ortográfica em crianças disléxicas do que nos controles. O estudo fez mapeamento por imagem magnética de regiões cerebrais de 11 crianças disléxicas e 11 controles em tarefa de combinar rima de pseudopalavras. Todos os disléxicos exibiram padrão de ativação aberrante que consistiu em reduzida ativação nas áreas temporoparietais do hemisfério esquerdo, e aumento de ativação da região homotópica no hemisfério direito. Estes achados podem demonstrar imaturidade no desenvolvimento da leitura, mecanismos compensatórios, ou prejuízo do hemisfério esquerdo. Indivíduos disléxicos também exibem ativação cerebral atípica em toda região relacionada à linguagem oral e escrita. Especificamente, sujeitos disléxicos apresentam menor ativação do que os controles no lóbulo parietal inferior e superior, giro temporal médio, giro fusiforme, insula e cerebelo (ECKERT, 2004). No tocante à ativação do giro frontal inferior, alguns estudos mostram elevada atividade em sujeitos disléxicos, enquanto outros relatam menor grau de ativação comparado a controles (ECKERT, 2004). Segundo Shaywitz et al. (2003), uma possível explicação para este fato seria que adultos disléxicos com boa acurácia em leitura, mas fluência pobre, ativam o giro frontal inferior esquerdo; enquanto adultos disléxicos com prejuízo em fluência e acurácia não o fazem. Estes autores compararam ativação cerebral em tarefa de leitura de palavras e pseudopalavras entre três grupos de jovens adultos (18.5-22.5 anos). Um grupo de disléxicos que persistiram leitores pobres (n=24), um grupo de disléxicos compensados cuja acurácia melhorou, mas não a fluência (n=19), e um terceiro grupo de bons leitores (n=27). O grupo de disléxicos compensados, leitores acurados, mas não fluentes, demonstrou relativa subativação no sistema neural posterior de leitura localizado na região parietotemporal e occipitotemporal esquerda. O grupo de disléxicos que persistiam pobres leitores, não fluentes e menos acurados, ativou o sistema posterior de leitura de forma diferente dos bons leitores, aparentemente usando mais a memória do que estratégia de identificação da palavra. Os dois grupos de disléxicos demonstraram 17 maior ativação do giro frontal inferior direito comparados ao grupo de bons leitores (SHAYWITZ et al., 2003). Uma contribuição significativa para a descrição da base neurobiológica da dislexia veio de Galaburda e colaboradores (1985, 1994) que descreveram os achados anatômicos no cérebro de cinco homens disléxicos. Em nível microscópico, foram encontradas malformações corticais, incluindo ectopias, isto é, pequenos aglomerados neuronais localizados em camada superficial anormal. As ectopias estavam distribuídas principalmente nas duas áreas frontais e na área esquerda da linguagem (córtex perisilviano). Outro achado foi a displasia, isto é, perda da organização arquitetônica característica dos neurônios, e mais raramente micro malformações vasculares (GALABURDA et al., 2006). Foram também encontradas anormalidades macroscópicas nos estudos de cérebros disléxicos, a saber, a ausência da assimetria normal direita/esquerda no plano temporal. Embora essa característica esteja presente em 1 a cada 30 cérebros rotineiramente, de modo geral, tais anormalidades têm sido consideradas como evidência do desvio maturacional que está na origem dos problemas de leitura dos disléxicos (HABIB, 2000). Conforme Caylak (2009), Larsen et al. (1990) relacionaram a simetria no plano temporal a um subgrupo de disléxicos que apresentava prejuízo fonológico com desempenho ruim em leitura de não palavras, enquanto os indivíduos com prejuízo no reconhecimento de palavras não diferiam dos controles. Os referidos autores propuseram que a simetria poderia indicar uma base neuroanatômica para a dificuldade de leitura dos disléxicos (CAYLAK, 2009). Uma série de estudos anatômicos histológicos realizados em cérebros disléxicos post mortem demonstrou a existência de anormalidades no núcleo geniculado medial (Galaburda et al., 1994) e núcleo geniculado lateral (Livinstone et al., 1991), no córtex auditivo (Galaburda e Kemper, 1979), córtex visual primário (Jenner et al., 1999) e cerebelo (Finch et al., 2002) (ECKERT, 2004, p.363-4). Com relação às alterações cerebrais envolvendo os circuitos de linguagem escrita, estudos morfométricos em adultos disléxicos reportam menor densidade de massa cinzenta, envolvendo o lobo occipital medial direito, lobo occipital esquerdo, 18 giro temporal inferior esquerdo, giro temporal medial esquerdo e giro angular (ECKERT, 2004). A Figura 1 mostra as regiões anatômicas envolvidas na leitura que exibem diferenças estruturais entre disléxicos e grupos controle. No entanto, não está claro se estes achados são de natureza causal, uma consequência do desenvolvimento anormal do circuito de linguagem oral ou devidos a menor experiência em leitura. Estudos longitudinais poderiam vir a esclarecer o papel destas regiões anatômicas na dislexia (ECKERT, 2004). Figura 1. Áreas anatômicas ativadas durante tarefa de linguagem escrita e que exibem diferenças significativas dos controles em estudos de dislexia. Achados estruturais relatados pelo menos uma vez estão coloridos em laranja. (ECKERT, 2004, p.364). Com relação às diferenças anatômicas no circuito de linguagem oral, as diferenças mais consistentes têm sido encontradas no opérculo parietal, giro frontal inferior e cerebelo de cérebros disléxicos comparados com controles (ECKERT, 2004). A Figura 2 mostra as áreas ativadas em tarefas de linguagem oral que exibem diferenças significativas entre disléxicos e controles. 19 Figura 2. Áreas anatômicas ativadas durante tarefa de linguagem oral e que exibem diferenças significativas dos controles em estudos de dislexia. Achados estruturais relatados pelo menos uma vez estão coloridos em laranja. (ECKERT, 2004, p.365). Conforme Eckert (2004), estudos conduzidos por Leonard et al. (1993) e replicados em 2001 encontraram anormalidades na região perisilviana. Esta região tem sido relacionada ao processamento fonológico. A anormalidade consiste na presença de duplicação do giro de Heschl no hemisfério esquerdo. Esta duplicação pode estar presente em disléxicos cujo único déficit é o fonológico. Além disso, outros estudos têm reportado a ausência da assimetria no plano temporal em cérebros disléxicos (CAYLAK, 2009). No entanto, Eckert e Leonard (2000, 2002), em trabalhos de revisão, encontraram nove estudos que não confirmaram este padrão anômalo de assimetria em dislexia (ECKERT, 2004). Segundo Caylak (2009), as razões para esta divergência de resultados podem incluir variações nas técnicas de medição, ou questões metodológicas como tamanho de amostra, diferenças de critério diagnóstico, comorbidade, ou outras características dos sujeitos que influenciam a morfologia do plano temporal tais como a idade, tamanho do corpo e do cérebro, QI e dominância lateral. Diferenças morfológicas têm sido encontradas no plano parietal em sujeitos disléxicos e estruturas cerebelares (ECKERT, 2004). Segundo Ramus et al. (2003), muitos estudos de imagem têm encontrado diferenças anatômicas, metabólicas e de ativação no cerebelo dos disléxicos. Referindo-se a estas anormalidades no cerebelo, Eckert afirma: 20 Anormalidades no lobo anterior podem estar associadas a problemas motores específicos, enquanto anormalidades no lobo semilunar podem estar associadas a defeitos de linguagem (ECKERT, 2004, p. 367). Em suma, alguns dos principais achados anatomopatológicos em dislexia estão relacionados à simetria do plano temporal, alterações na citoarquitetura do córtex temporal, do tálamo e do cerebelo (ROTA; PEDROSO, 2006). 2.2. DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA Ao longo da história, a humanidade criou diferentes tipos de registro para transmissão de informações. Segundo Hooker (1996), esses tipos de registro podem ser divididos basicamente em quatro: pictogramas, escrita analítica (logogramas), sinais silábicos e o sistema alfabético. Os pictogramas são representações pictóricas do mundo e dos acontecimentos. Esse tipo de registro foi inventado no Oriente Próximo para facilitar atividades comerciais. Conforme Hooker (1996), as pictografias não têm nenhuma referência linguística diferindo, portanto, de outros sistemas de escrita. Considera-se que a pictografia tenha contribuído para os outros sistemas de escrita, por um processo de seleção e organização. Já a escrita analítica ou “logogramas” são desenhos que correspondem a palavras da língua, podendo então ser considerados um verdadeiro sistema de escrita. Está baseado no princípio de uma palavra corresponder a um símbolo (ELLIS, 2001). São representações por analogia, estilizadas e padronizadas, o que facilita sua identificação (CAPOVILLA, CAPOVILLA, 2000). Por exemplo, um círculo poderia significar o verbo brilhar ou o substantivo sol. Esse tipo de escrita representou um grande avanço por permitir a expressão de relações gramaticais (HOOKER, 1996). Outro avanço importante na história da escrita se deu quando os símbolos logográficos dos egípcios passaram a ser usados pelos fenícios para representar as sílabas de sua língua (ELLIS, 2001). Esse longo e complexo processo de evolução da escrita que culminou no sistema alfabético tornou possível a representação de todos os sons da língua por um número reduzido de sinais que facilitaram o aprendizado da língua escrita, pois com 21 poucas letras podem-se representar todos os fonemas de uma língua (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000). O estudo do processo de aquisição da leitura e escrita de crianças boas leitoras e de crianças disléxicas levou os pesquisadores a descreverem um processo de desenvolvimento da escrita no indivíduo, semelhante ao que ocorreu na história. No entanto, diferentes modelos têm sido propostos para explicar como se dá o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita. Um desses modelos foi proposto por Morton (1989) e Frith (1985, 1990) que descreveram o desenvolvimento do aprendizado da leitura e escrita por meio de três estágios que se caracterizam pelo uso de estratégias distintas no reconhecimento das palavras: logográfico, alfabético e ortográfico. O primeiro é o estágio logográfico, no qual o reconhecimento das palavras se dá por pistas não alfabéticas, isto é, pela forma e cor da palavra. O segundo estágio é o alfabético, no qual é usada uma estratégia fonológica de reconhecimento pela correspondência letra-som. Já o terceiro estágio é o ortográfico, no qual a estratégia lexical é usada, isto é, a palavra é reconhecida como um todo (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000; SANTOS e NAVAS, 2004). No estágio logográfico, a criança trata a palavra como se fosse um desenho, sem reconhecer a correspondência grafema-fonema. Na leitura, ela é capaz de reconhecer apenas palavras familiares de forma visual global, sendo então seu vocabulário bem restrito. A escrita também segue a mesma característica, não havendo ordenação das letras segundo o som da palavra. Tal estratégia não permitiria grande aumento de vocabulário, pois exigiria muito da memória visual, e poderia ainda resultar em erros por trocas de palavras visualmente semelhantes (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000; SANTOS e NAVAS, 2004). No estágio alfabético, a criança passa a compreender a correspondência letra-som e aprende a decodificar as letras e a converter a letra escrita em seu som correspondente e, dessa forma, se torna capaz de ler. Além disso, ela aprende a converter os sons ouvidos ou lembrados em seus grafemas correspondentes e, assim, se torna capaz de escrever. No início, a leitura e a escrita são feitas lentamente, mas com a exposição à leitura e escrita elas vão se tornando mais rápidas e fluentes, passando a ser capazes de ler sem cometer hesitações. No 22 entanto podem cometer erros ao ler as palavras irregulares, ou seja, aquelas cuja correspondência letra-som não é regular. Inicialmente as crianças tornam-se capazes de converter as sequências de letras em fonemas, mas ainda não identificam seu significado, caracterizando a leitura alfabética sem compreensão. Somente depois elas adquirem a habilidade de reconhecer o significado, caracterizando então a leitura alfabética com compreensão (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000; SANTOS e NAVAS, 2004). No estágio ortográfico, a criança já é capaz de memorizar as exceções, isto é, a ortografia das palavras irregulares, sendo capaz de reconhecer as unidades morfêmicas compreendendo seu significado. Nesse estágio ela adquire maior rapidez e fluência na leitura de palavras familiares que se dá por reconhecimento visual direto, ou seja, pela estratégia lexical, e torna-se capaz de ler as palavras irregulares sem erro (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000; SANTOS e NAVAS, 2004). Outro modelo de desenvolvimento da habilidade de leitura é o da Teoria de Fases, proposto por Ehri (1992, 2003). Segundo esse modelo, o desenvolvimento da capacidade de reconhecer palavras se dá em quatro fases, cada qual caracterizada por um processo predominante, mas não exclusivo: pré-alfabética, parcialmente alfabética, alfabética plena e alfabética consolidada (CARDOSO-MARTINS et al., 2003). Na fase pré-alfabética, a criança reconhece as palavras apoiando-se em pistas visuais salientes nelas ou em torno delas. Essa estratégia não é eficaz, pois induz à confusão de palavras similares, além de não permitir ler palavras desconhecidas (CARDOSO-MARTINS et al., 2006). Na fase parcialmente alfabética, a criança começa a aprender os nomes e os sons das letras. Pode então usar pistas visuais e fonológicas para criar uma rota de acesso à memória, o que lhe permitirá recuperar seu significado e pronúncia quando novamente exposta a sua grafia. No entanto essa habilidade de processamento letra-som ainda se dá de forma incompleta. Comumente a criança só reconhece a primeira, ou a primeira e a última letras das palavras. Permanece então a indução ao erro na leitura por semelhança visual entre as palavras, assim como a dificuldade de ler palavras novas (CARDOSO-MARTINS et al., 2006). 23 Na fase alfabética plena, para a qual a maioria das crianças só avança mediante ensino formal das relações letra-som, elas se tornam capazes de ler mediante a decodificação plena das letras em seus sons. Dessa forma torna-se hábil na leitura de quaisquer palavras, sejam familiares ou não. Nessa etapa, a criança armazena representações alfabéticas completas das palavras na memória (CARDOSO-MARTINS et al., 2003). Na fase alfabética consolidada, ocorre um grande aumento do vocabulário da criança. A representação do padrão ortográfico das palavras vai sendo armazenada na memória, permitindo seu reconhecimento imediato, o que resulta em precisão e rapidez na leitura (CARDOSO-MARTINS et al., 2006, CARDOSO-MARTINS et al., 2003). Assim, tanto o modelo de Frith e Morton quanto o de Ehri mostram que o desenvolvimento da leitura se dá em distintas fases. Para ler e escrever de forma competente, ou seja, com fluência e acurácia, a criança deve ser capaz de usar as diferentes estratégias adquiridas ao longo do seu desenvolvimento. Na leitura de sinais e logotipos, a criança usa a estratégia logográfica; para a leitura de palavras novas e pseudopalavras, a estratégia fonológica e para as palavras de alta frequência e irregulares, a estratégia lexical (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000). Além dos modelos de estágios já expostos, a psicologia cognitiva tem proposto ainda outros modelos para explicar as estratégias usadas durante a leitura e escrita de palavras. Um deles é o de dupla-rota proposto por Ellis & Young (1988); Ellis (2001) e baseado na teoria do processamento de informação. Segundo esse modelo, existem duas rotas distintas de leitura que funcionam em paralelo, a lexical e a fonológica. A rota lexical opera pelo reconhecimento visual direto da palavra, o qual permite o acesso direto a sua representação ortográfica armazenada no léxico mental ortográfico, que, por sua vez, pode ativar o significado semântico. Essa rota é usada para leitura de palavras familiares, ou seja, de alta frequência. A rota fonológica, também conhecida como perilexical, é usada na leitura das palavras de baixa frequência no ambiente do leitor, assim como as palavras desconhecidas e as 24 pseudopalavras que são formadas por conjunto de letras sem significado. A utilização desta rota se caracteriza pela decodificação grafofonêmica, em que as partes da palavra, os segmentos ortográficos, são convertidas em seus sons, os segmentos fonológicos. O processamento fonológico permite que a pronúncia da palavra seja alcançada, o que por sua vez possibilite acesso ao léxico semântico, ou seja, seu significado (CAPOVILLA; CAPOVILLA; MACEDO, 2001). Durante o processo da alfabetização, a leitura se dá por decodificação fonológica, inicialmente de forma hesitante. A partir da exposição repetida à palavra, o processo vai se tornando mais eficaz, pois a criança passa da decodificação dos fonemas para a de unidades maiores como as sílabas. Pela rota de leitura fonológica o acesso ao significado da palavra pode não ocorrer, pois por essa via ele se dá de forma indireta, por mediação da forma auditiva da palavra. A exposição repetida à leitura e à escrita torna possível armazenamento das informações ortográficas e semânticas das palavras num léxico ortográfico, dando condições para a realização de leitura por reconhecimento direto da forma visual da palavra, ou seja, a rota lexical. Assim, no leitor proficiente, a leitura acontece pelo uso alternado das duas rotas. Prevalece a rota lexical sempre que as palavras forem reconhecidas visualmente, o que torna a leitura fluente e a rota fonológica é então usada na leitura de palavras desconhecidas e pseudopalavras (CAPOVILLA; MACEDO; CHARIN, 2002). Nas tarefas de escrita, como na leitura, podem também ser usadas duas estratégias diferentes, a fonológica e a lexical. Na estratégia fonológica, os sons da palavra ouvida são decompostos em seus fonemas, estes são então convertidos em seus grafemas correspondentes, e a escrita é produzida. Na estratégia lexical, a forma ortográfica da palavra ouvida é recuperada diretamente do léxico via sistema semântico, e é produzida a escrita (ELLIS, 2001; SALLES, 2005). A estratégia fonológica é usada para escrita de palavras não familiares, podendo produzir erros de regularização; enquanto a estratégia lexical é usada na grafia das palavras cuja representação ortográfica está armazenada na memória sendo, portanto, necessária para grafar corretamente as palavras irregulares. A Figura 3 apresenta o modelo de Salles (2005), adaptado de Ellis e Young (1988) e Ellis (1995, 2001), e apresenta diferentes módulos ou processos envolvidos na produção da escrita de palavras. 25 Figura 3: Modelo de escrita de palavra e pseudopalavra sobre ditado, adaptado de Ellis e Young (1988) e Ellis (1995). Sendo que a linha pontilhada representa a rota fonológica e a linha contínua, a rota lexical (SALLES, 2005, P.184). 2.3. AVALIAÇÃO DOS PROBLEMAS DE ESCRITA Embora a dislexia seja por definição um transtorno específico de leitura, o disléxico apresenta também problemas com a escrita. Tal fato tem sido pouco investigado até o momento, a despeito de muitos estudos terem demonstrado que o déficit de processamento fonológico, presente na dislexia, prejudica o aprendizado da leitura e da escrita (CARDOSO-MARTINS et al., 2003). Estudos recentes sugerem a existência de uma relação causal e bidirecional entre processamento fonológico e linguagem escrita, conforme Capovilla, Capovilla e Suíter (2004, p.456): [...] as habilidades de processamento fonológico seriam um pré-requisito para a aquisição da linguagem escrita e, ao mesmo tempo, a competência em leitura e escrita promoveria o desenvolvimento dos níveis mais refinados de processamento fonológico, numa relação de causalidade recíproca (Capovilla & Capovilla, 2003; Capovilla & Capovilla, 2002; Morais, 1995; Share, 1995). Quando se fala em dificuldades de ortografia, é preciso levar em conta o nível de dificuldade apresentado pela língua em questão. As línguas mais transparentes, 26 mais regulares na correspondência letra-som, exigem menor habilidade de análise fonológica. É o caso do sistema linguístico do português do Brasil (MOUSINHO e CORREA, 2009). Dessa forma, verifica-se que o aprendizado da escrita depende não só de características individuais, como a habilidade de processamento fonológico, mas também do grau de complexidade da língua a ser aprendida (ZORZI, 2009). No entanto o déficit em processamento fonológico, característico dos disléxicos, dificulta o aprendizado da escrita, seja qual for a língua da criança (MOUSINHO e CORREA, 2009). O aprendizado da escrita, principalmente nos casos das línguas cuja ortografia é mais complexa, implica o uso de estratégias e habilidades variadas. Segundo Fletcher et al.,(2009), Romani e colaboradores (2005) salientam que o domínio da ortografia requer habilidade de processamento fonológico em nível sublexical e habilidade de armazenamento de relações ortográficas. Conforme Ehri (1997), as palavras podem ser escritas por meio de três estratégias diferentes: pelo uso da memória, por analogia ou invenção. A estratégia pelo uso da memória é observada quando o sujeito escreve uma palavra já familiar. A estratégia por analogia é quando a criança reconhece e estabelece semelhanças fonológicas com palavras conhecidas. Por fim, a estratégia por invenção requer a realização de análise fonológica da palavra e o conhecimento dos princípios de correspondência letra-som para criar sua grafia (SANTOS, 2009). No período de aprendizagem da escrita, as crianças cometem erros típicos, ocasionados pelo fato de não terem desenvolvido habilidades de consciência fonológica ou por terem pouco domínio do sistema alfabético. Pela experiência de exposição à palavra impressa por meio da leitura e da própria escrita, é esperado que melhore a qualidade das representações das palavras na memória. Esse fato, somado ao conhecimento das convenções da língua, torna a escrita mais precisa. Vários estudos, em diferentes línguas, demonstram que a estratégia de escrita mais usada inicialmente pela criança é a fonológica (SANTOS, 2009). É sabido que tal estratégia induz ao erro na grafia de palavras cuja correspondência fonema-grafema não seja regular. É um tipo de erro característico do período de aprendizagem da língua escrita. Esses e outros tipos de erros cometidos pelos aprendizes são esperados e normais durante as séries iniciais da 27 escolarização. Os erros podem ser vistos como resultado de hipóteses que a criança desenvolve sobre a escrita, com base na sua habilidade de consciência fonológica e nível de conhecimento do sistema ortográfico (ZORZI e CIASCA, 2008). No entanto, o desenvolvimento da escrita requer outras habilidades além do processamento fonológico e que devem também ser ensinadas na escola. Em vista disso, alguns especialistas têm alertado para a necessidade do ensino mais sistemático da ortografia, seja por memorização ou de modo mais reflexivo (MOUSINHO e CORREA, 2009; ZORZI e CIASCA, 2008; CAPELLINI, 2009). Ainda com relação aos erros ortográficos, esses tendem a se tornar cada vez mais específicos e ocasionais para a maioria das crianças, ao longo do desenvolvimento da escrita. No entanto, nas crianças com dislexia do desenvolvimento, tais tipos de erros são persistentes, caracterizando a disortografia comumente associada à dislexia. Disortografia é definida, no DSM-IV-TR, como dificuldade do indivíduo em compor textos escritos, que se manifesta por erros de gramática, pontuação, má organização de parágrafos, muitos erros ortográficos, apesar de inteligência normal e escolarização adequada (APA, 2003). Conforme Serrano e Defior (2008), as crianças disléxicas apresentam um déficit em tarefas que envolvem processamento fonológico, mesmo quando comparadas à crianças mais novas, pareadas por nível de leitura. O déficit se torna aparente pela lentidão de desempenho em testes de consciência fonológica. Também pela maior porcentagem de erros apresentados, quando a tarefa requer o domínio da correspondência grafema-fonema, como na leitura de pseudopalavras e não palavras. 2.3.1 CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DE ERROS NA ESCRITA Para melhor compreender as dificuldades de escrita e saber quais são as esperadas ao longo do desenvolvimento e aquelas que representam forte indício de transtornos da linguagem, diversos autores têm desenvolvido sistemas de classificação dos erros ortográficos (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000; CERVERAMÉRIDA e YGUAL-FERNÁNDEZ, 2006; ZORZI e CIASCA, 2008). Estes sistemas permitem a realização de estudos que avaliam a frequência e prevalência dos tipos 28 de erro, o que tem grande valia na determinação dos padrões considerados normais ou atípicos, para cada faixa de escolarização (ZORZI, 1998; BACHA e MAIA, 2001; SANTOS, 2007; DIAS e ÁVILA, 2008; ZUANETTI et al., 2008; ZORZI e CIASCA, 2008, 2009). Tais sistemas permitem, ainda, inferir por meio da análise do tipo de erro quais habilidades ou estratégias de escrita estão preservadas ou apresentam prejuízo. Dessa forma são obtidas informações essenciais na avaliação da criança com suspeita de dislexia e também no planejamento da intervenção a ser realizada (CERVERA-MÉRIDA e YGUAL-FERNÁNDEZ, 2006). A utilização destes sistemas é importante, pois os erros mais frequentes de ortografia apresentados pelas crianças com problema de aprendizagem, no português do Brasil, são também observados nas crianças disléxicas, diferindo, contudo, em relação a sua frequência e prevalência (MOUSINHO e CORREA, 2009, p. 40). Capellini, Cunha e Batista (2009) apresentam uma revisão de vários sistemas de categorização baseados na semiologia dos erros. As categorizações propostas por estes autores se encontram na Tabela 1. Esta revisão inclui propostas de autores nacionais, como Cagliari (1989), Carraher (1986) e Zorzi (1998); assim como autores de língua espanhola, que são Cervera-Mérida & Ygual-Fernández (2006) e Manzano, Sanz & Chocano ( 2008). 29 Cagliari (1989) Carraher (1987) Zorzi (1998) Cervera-Mérida &Ygual Fernández(2006) Manzano, Sanz & Chocano (2008) Transcrição Fonética Transcrição da fala Apoio na oralidade Correspondência biunívoca grafemafonema Erros de caráter linguístico perceptivo Uso indevido de letras Erros ligados à origem das palavras Representações múltiplas Omissão e adição de segmentos Erros de caráter visoespacial Hipercorreção Supercorreção Generalização de regras Alterações da ordem dos segmentos Erros de caráter visoauditivos Modificação da estrutura segmental: trocas, supressão e inversão Erros nas sílabas de estruturas complexas Omissão de letras Segmentações e junções indevidas de palavras Erros com relação ao conteúdo Juntura intervocabular e segmentação Ausência de segmentação e segmentação indevida Junção/separação não convencional de palavras Correspondência fonema-grafema dependente do contexto Erros nas regras ortográficas Forma morfológica diferente Erros por desconsiderar as regras contextuais Confusão entre as terminações am e aõ Correspondência fonema-grafema independente de regras Forma estranha de traçar as letras Erros por ausência de nasalização Trocas surdas / sonoras Uso indevido de maiúsculas e minúsculas Erros por trocas de letras Acréscimo de letras Acentos gráficos Letras parecidas Sinais de pontuação Inversão de letras Problemas sintáticos Outras trocas Tabela 1. Classificação das disortografias apresentadas em estudos que avaliam leitura e escrita em bons leitores e disléxicos (CAPELLINI, CUNHA, BATISTA, 2009, p.576). 30 2.3.1.1. Sistema Cagliari O sistema proposto por Cagliari (1989) apresenta um paralelo entre a história da escrita e sua evolução no indivíduo em processo de alfabetização e propõe um sistema de categorização que permite classificar os erros cometidos pelas crianças, compreendendo a hipótese subjacente acerca da relação letra-som com que ela trabalha. Segundo este autor, o tipo de erro mais comum é a Transcrição fonética da própria fala, ou seja, a criança escreve “dici” para a palavra disse, ou ainda “tudu” para tudo, “sou” para sol. Outra categoria de erro proposta por ele é Uso indevido de letras que contempla os casos em que a criança escolhe uma letra possível para reproduzir o som da palavra, mas que não é adequada aquele caso. Como por exemplo, escrever “susego” para a palavra sossego, “caro” para carro, “felis” para feliz. A troca de vogais não se enquadra nesta categoria por se tratar, quase sempre, de transcrição fonética (CAGLIARI, 1989). A Hipercorreção é outra das categorias propostas por Cagliari (1989) e se aplica aos casos em que a criança generaliza uma regra ortográfica de forma indevida. Por exemplo, ao aprender que muitas palavras terminadas em e são pronunciadas com i, passa a escrever “lapes” em vez de lápis. Cagliari (1989) propõe ainda a categoria Modificação da estrutura segmental das palavras para categorizar os erros de troca, supressão, acréscimo e inversão de letras. Tais erros ocorrem quando a criança ainda não domina bem o uso de certas letras, como v e f, ou m e n. Em decorrência poderá escrever “voi” em vez de foi, ou ainda “anigo” para amigo, ou “mação” para macaco. Outra categoria de erros postulada por Cagliari (1989) é Juntura intervocabular e segmentação. Estes erros se devem ao fato de a criança escrever como se fala, ou seja, sem segmentar; ou se apoiar na entonação da fala e segmentar as palavras de forma incorreta. Como por exemplo, escrever “jalicotei” para já lhe contei, ou “a fundou” para afundou. Para os erros ortográficos decorrentes de formas particulares de falar de alguns dialetos, que dificultam para a criança o aprendizado de sua forma ortográfica, Cagliari (1989) criou a categoria Forma morfológica diferente. Como exemplos são 31 citados “pacia” para passear, “ta” para está. Outra categoria proposta é a de Forma estranha de traçar as letras que classifica as distorções na forma das letras na escrita cursiva. A categoria Uso indevido de letras maiúsculas e minúsculas, como o próprio nome diz, contempla os casos em que a criança usa letras maiúsculas sem ser em nomes próprios, como em pronomes “Eu”. A categoria Acentos gráficos classifica a ausência ou a presença indevida de acentuação, sendo que o aprendizado dos sinais diacríticos ocorre mais tardiamente no processo de alfabetização sendo, portanto, comum sua ausência na escrita de escolares das séries iniciais. Uma ocorrência comum é ausência do til (CAGLIARI, 1989). Cagliari (1989) propõe ainda a categoria Sinais de pontuação para classificar seu uso indevido, como nos casos em que a criança os utiliza para separar palavras. Há ainda a categoria Problemas sintáticos que contempla os erros ocasionados por problema de concordância, de regência que decorrem da reprodução na escrita, de formas que só ocorrem na linguagem oral. O autor conclui recomendando que a escola valorize mais os acertos do que os erros de seus alunos, e que, estes, por sua vez sejam usados pelo professor para proceder ao levantamento das dificuldades do aluno. 2.3.1.2. Sistema Carraher O sistema proposto por Carraher (1987) apresenta oito categorias para analisar os erros das crianças, algumas delas coincidentes com as propostas descritas de Cagliari (1989). Um tipo de erro bastante frequente nos estágios iniciais da alfabetização é aquele no qual a criança escreve como fala, ao qual denominou Erros tipo “transcrição da fala”. Estes erros são ocasionados pela divergência que existe entre a língua falada e a língua escrita e deverão diminuir à medida que a criança compreender esta diferença. Como exemplos escrever “furmiga” para a palavra formiga, ou “coelio” para a palavra coelho. Outro tipo de erro comum decorre da aplicação generalizada de uma regra ortográfica “descoberta” pela criança. Este tipo é denominado Erros por supercorreção. Por exemplo, a criança aprende que dizemos /vassôra/ e 32 escrevemos vassoura, então ela poderá escrever “professoura” aplicando a mesma regra. Outra grande dificuldade para a criança consiste na aprendizagem de que algumas letras têm sua pronúncia alterada pelas letras que as sucedem, como as letras c e g cuja pronúncia difere se forem seguidas por a, o, u, ou então por e, i. Este tipo de erros foi denominado Erros por desconsiderar as regras contextuais e pode incluir regras simples como a que determina o uso de m antes de p e b; ou outras bem mais complexas como a do uso de ç que representa o som de se e si, mas não pode ser usado antes de e e i, ou no começo da palavra. Já os chamados Erros por ausência de nasalização se caracterizam por ser um importante traço na distinção de um par de oponentes mínimos, pois pode alterar seu significado. Por exemplo, nas palavras mau e mão, ou ainda pau e pão. Não levando em conta a nasalização, as crianças cometem muitos erros de ortografia, outros exemplos são roma e romã, ou ainda aida e ainda (CARRAHER, 1987). Outro tipo são os Erros ligados à origem da palavra, envolve palavras cuja grafia usa o g ou o j antes de e ou i , assim como palavras que levam h mudo, o uso de x com som de z ou de c e outros. Estes casos não têm regra contextual a ser seguida e tampouco diferenças de pronúncia, só podem ser aprendidos por memorização. Alguns exemplos são: “omem” para a palavra homem, ou “vaçora” para a palavra vassoura (CARRAHER, 1987). Nesta tipologia existe ainda a categoria de Erros por troca de letra com sons parecidos que envolve normalmente troca de consoantes sonoras e surdas e só engloba erros não pertencentes a outra categoria. Alguns exemplos são escrever “glima” para a palavra clima, ou “tivam” para a palavra divã. Outra categoria criada por Carraher (1987) é a de Erros nas sílabas de estrutura complexa. Como as sílabas comumente são formadas por uma consoante e uma vogal, aquelas que não têm esta estrutura apresentam dificuldades para serem grafadas corretamente. Alguns exemplos são “guada” para a palavra guarda, ou “uroso” para urso. A autora relata ainda que, em estudo realizado em Pernambuco, analisando escrita sob ditado, constatou que com esta categorização foi possível classificar mais de 80% dos erros das crianças de 1ª a 4ª séries, sendo que os 20% de erros não classificáveis envolviam Erros de acentuação, trocas de letras sem aparente 33 explicação. Ela relata ainda que houve diminuição significativa dos erros entre a 1ª e a 2ª séries, tendo a média dos erros permanecido estável após a 2ª série. No tocante à diferença relativa entre as categorias por série, a autora constatou tendência à diminuição nos erros por transcrição da fala, também nos devidos ao desconhecimento da origem da palavra e os relacionados às sílabas complexas. Em estudo complementar que analisou redações livres, Carraher (1987) constatou ainda outra categoria, a de Erros por ausência de segmentação ou segmentação indevida, que antes não havia sido observado por se tratar de análise de escrita sob ditado. Nesse estudo a distribuição dos erros por categoria foi semelhante a do anterior, sendo a percentagem de ocorrência de erros de segmentação de 13 e 12% na 1ª. e 2ª séries, respectivamente, diminuindo dramaticamente para cerca de 3% na 3ª e 4ª séries. Segundo Carraher (1987), mesmo depois de ter compreendido o sistema alfabético, ou seja, mesmo conhecendo as regras básicas de correspondência letrasom, a criança ainda terá um longo caminho a percorrer até dominar completamente a ortografia. 2.3.1.3. Sistema Zorzi Zorzi (1998), analisando o desempenho ortográfico de 514 alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, de escolas particulares em São Paulo, desenvolveu também um sistema de classificação de erros ortográficos que tem sido usado em pesquisas brasileiras (SANTOS, 2007; ZORZI e CIASCA, 2008). Ele se baseou nas categorizações propostas anteriormente por Cagliari (1989) e Carraher (1987), mas necessitou ampliá-las para contemplar a grande diversidade de alterações ortográficas encontradas em sua amostra. foram: apoio na oralidade, As categorias por ele estabelecidas representações múltiplas, omissão de letras, junção/separação não convencional de palavras, confusão entre as terminações am/ão, trocas surdas/sonoras, acréscimo de letras, letras parecidas, inversão de letras e outras trocas. Os erros decorrentes de representações múltiplas se devem ao fato de que, na escrita da língua portuguesa, existem apenas algumas correspondências biunívocas, ou seja, a um som corresponde uma única letra. Segundo Lemle (1998), os casos de correspondência biunívoca entre fonemas e letras no português são: /p/ 34 representado pela letra p, /b/ pela letra b, /t/pela letra t, /d/pela letra d, /f/ pela letra f, /v/ pela letra v, e /a/ pela letra a. Mas em muitos casos, a um mesmo som podem corresponder diferentes letras, ou ainda uma mesma letra pode representar diferentes sons. Estes são os casos em que os erros são decorrentes de representações múltiplas, os erros envolvendo a grafia do fonema /s/ que pode ser escrito com as letras s, sc, sç, xc, x, e z; do fonema /z/ que pode ser escrito pelas letras z, s e x; grafia do fonema /∫/pode ser escrito com x e ch; o fonema /ʒ/ que pode ser escrito com j ou g; o fonema /к/ que pode ser escrito com q, c, ou k. Também os erros em função da letra r poder representar os sons /χ/ e /r/ dependendo do contexto; e da letra g poder representar o som /ʒ/ acompanhada de e ou i, ou o som /g/ quando antes de a, o, ou u, e ainda em gue e gui; e ainda os erros devidos à letra c representar tanto o som /к/ quanto o /s/; e ainda erros decorrentes do uso das letras m e n indicando a nasalidade da vogais nasais (ã, am, na; em, em; im, in; om, on; um, um). Outra categoria proposta por Zorzi (1998) foi Alterações ortográficas decorrentes de apoio na oralidade que se aplica aos erros ocasionados pelo fato de a criança escrever a palavra da forma como ela é falada, o que muitas vezes não é a forma ortograficamente correta. A Omissão de letras foi outra das categorias propostas; e também as Alterações caracterizadas por junção ou separação não convencional das palavras. As alterações decorrentes de Confusão entre as terminações am e ão foram consideradas como uma categoria, como nas palavras comeram e comerão; assim como os erros devidos à Generalização de regras já explicados anteriormente. Na categoria Alterações caracterizadas por substituições envolvendo a Grafia de fonemas surdos e sonoros que inclui as palavras que apresentam trocas entre as letras p/b; t/d; q-c/g; f/v; ch-x/j-g e o grupo de letras que representam o som /s/versus o das que representam o som /z/ (ZORZI, 1998). Outra categoria proposta por Zorzi (1998) foi Acréscimo de letras que inclui palavras grafadas com mais letras do que na verdade tem; e ainda a categoria Letras parecidas que contempla as trocas entre letras semelhantes, como m e n, em posição inicial de sílaba, e dos dígrafos nh, ch, lh e cl. Propôs ainda a categoria Inversão de letras, englobando tanto a inversão de posição das letras na sílaba, 35 quanto a inversão de posição das sílabas na palavra. Além destas foi criada a categoria Outras alterações para os erros atípicos que não eram compartilhados por outras crianças, e ocorreram de forma pontual. Alguns exemplos são: sangue escrito como “jange” e bruxa como “gurcha”. Os resultados do estudo de Zorzi (1998) confirmaram que o desempenho ortográfico melhora significativamente com a progressão de série escolar, pois a frequência de erros por série foi de 42,6% na 1ª. série; 26,8% na 2ª.; 18,8% na 3ª.; e 11,8% na 4ª. série. Quanto à frequência de ocorrência por tipo de erro, o tipo mais frequente foi Representações múltiplas (47,5%), seguido de Apoio na oralidade (16,8%), Omissões (9,6%), Junção-separação (7,8%), Confusão am X ão (5,2%), Generalização (4,6%), Trocas surdas/sonoras (3,8%), Acréscimo de letras (1,4%), Letras parecidas (1,3%), Inversões (0,6%), Outras alterações (1,2%) (ZORZI, 1998, p.43). Podemos observar, então, que quase a metade dos erros se deveu a Representações múltiplas, sendo sua frequência muito superior ao do segundo tipo de erro mais frequente, Apoio na oralidade. Segundo Zorzi (1998), este resultado se deve à própria característica da língua, ou seja, à alta frequência de ocorrência de palavras que tem como característica a possibilidade de um fonema poder ser representado por diferentes letras ou ainda de uma mesma letra grafar diferentes fonemas. Tal fato apresenta-se como de difícil compreensão para os aprendizes da língua. Outra possível razão apontada é o fato de que o ensino das irregularidades da língua só de dá mais tardiamente, o que pode contribuir para que os escolares hipotetizem uma regularidade letra-som que não existe. Outros estudos brasileiros sobre tipologia de erros, a partir de escrita sob ditado, de escolares de 1ª. a 4ª. séries, também encontraram altos índices de erros dos tipos Representação Múltipla, Generalização de Regras, Omissão e Apoio na Oralidade ( BACHA e MAIA, 2001; QUEIROGA et al., 2004 apud SANTOS, 2007 ). No tocante ao desempenho ortográfico por tipo de escola, Ávila et al. (2001) e Bacha e Maia (2001) encontraram diferença significativa de desempenho entre os sujeitos de escolas públicas e particulares, em detrimento da pública (citados por SANTOS, 2007). 36 Analisando a produção textual e escrita sob ditado de palavras e pseudopalavras, de escolares de 3ª. série, de escolas particulares, usando a categorização de erros de Zorzi (1998), Santos (2007) encontrou um maior número médio de erros do tipo Outras Alterações, o que foi explicado pelo grande número de erros de acentuação cometidos pelos sujeitos. A segunda categoria mais frequente foi Generalização de Regras, seguida de Omissão de Letras. Em recente pesquisa de Zorzi e Ciasca (2008), foram analisados os tipos de erros e a frequência média de ocorrência, pelos critérios de Zorzi (1998), de uma amostra de 69 sujeitos com problemas de aprendizagem e diagnósticos variados. Os tipos de erros mais frequentes foram as “representações múltiplas” que são ocasionadas por conhecimento insuficiente das regras ortográficas do português e não por dificuldade fonológica. Alguns exemplos encontrados foram: caçador escrito como “casador”, erro por uso de x ou ch, j ou g. Tais erros são frequentes nas crianças das séries iniciais e diminuem gradualmente. O segundo tipo de erro mais frequente foi por “omissão de letras”, tais erros se devem a uma análise imprecisa da representação fonológica das palavras ou, ainda, ao desconhecimento da forma correta de grafar os fonemas. Alguns exemplos encontrados foram: churrasco escrito como “churraco”, soltou escrito como “sotou”, e omissão de dígrafos como nh e lh. O terceiro tipo de erro mais frequente foi o de palavras escritas como são faladas, o que denota habilidade fonológica e desconhecimento de regras ortográficas. Alguns exemplos encontrados foram: soltou escrito como “souto”. Nesse estudo os erros por “Apoio na Oralidade” que comumente são mais frequentes em amostras de crianças sem queixa de aprendizagem foram menos frequentes do que os erros por “Omissão de Letras”. Os erros devidos a trocas visuais foram raros, assim como os erros da categoria “Outras Trocas” em que são computados os erros atípicos, de ordem fonológica. Alguns exemplos são: machucado escrito como “masucado”, girassol escrito como “zilasol”(ZORZI, CIASCA,2008). 2.3.1.4. Sistema Cervera-Mérida e Ygual-Fernández 37 Ainda sobre os critérios de classificação de erros de ortografia, Cervera-Mérida e Ygual-Fernández (2006) propõem uma classificação semiológica que pode ser observada na Figura 4. Os referidos autores recomendam que a análise dos erros da criança em avaliação deve se basear em vários textos produzidos por ela. Há recomendação também para que sejam analisadas tanto a escrita espontânea quanto a sob ditado, assim como o ditado sem correção e autocorrigido, textos longos e curtos e o ditado de pseudopalavras. Segundo o critério desses autores, os erros devem ser classificados em: de ortografia natural e de ortografia arbitrária. Os erros de ortografia natural são os que mostram alteração do princípio alfabético e denotam uma falha no processamento da linguagem. Exemplos desse tipo de erro são: adição ou subtração de uma letra, ou uma troca de letra que implique a mudança do fonema ao se pronunciar a palavra. Os erros de ortografia arbitrária são as transgressões das convenções ortográficas. Figura 4. Classificação Semiológica de Erros Ortográficos (CERVERA-MÉRIDA e YGUAL-FERNÁNDEZ, 2006, p. 119). Os erros de ortografia natural, segundo a classificação em pauta, se subdividem em: erros na correspondência biunívoca grafema-fonema, erros por omissão e adição de segmentos, erros por alterações da ordem dos segmentos, erros por segmentações e junções indevidas de palavras. Já os erros de ortografia arbitrária 38 se subdividem em: erros de correspondência fonema-grafema dependentes do contexto e, por fim, erros de correspondência fonema-grafema independente de regras. Do ponto de vista semiológico, os erros de correspondência biunívoca grafema-fonema na escrita se relacionam com o processamento da fala. Se esse tipo de erro ocorre em poucas palavras, deve-se pensar que a criança tenha memorizado a forma fonológica da palavra errada. Por exemplo, para a palavra /medicina/ escreve medecina, trocando “i” por “e”. Quanto aos erros por omissões e adições de segmentos, Cervera-Mérida e Ygual-Fernández (2006) recomendam que se verifique se tais erros ocorrem em várias situações ou se a modalidade de escrita influi: se é um ditado ou redação e qual o tipo de sílaba ou estrutura fonética. Em alguns casos, pode denotar dificuldade no processamento de fala, relacionado a sílabas complexas, ou ainda pode ocorrer em palavras de baixa frequência e estrutura complexa. Para os disléxicos, é especialmente difícil manter na memória de trabalho as representações fonológicas de palavras de baixa frequência, ocasionando esse tipo de erro. Os erros de escrita, por alteração na ordem dos segmentos, podem ser causados por falha no processamento sequencial de sílabas como: trocar uma sílaba com estrutura de Consoante_Consoante_Vogal por outra com a estrutura de Consoante_Vogal_Consoante, por exemplo trocar /bra/ por /bar/. Outra possibilidade é trocar a estrutura Consoante_Vogal por Vogal_Consoante, como na troca de /le/ por /el/. É possível ainda haver confusão léxico-semântica como, por exemplo, /sol/ por /los/. Em contrapartida, erros mais arbitrários são raros. Por exemplo, para a palavra /pantalon/ escrever naptalon. Os erros desse tipo muito aleatórios podem indicar falhas no processamento das formas fonológicas. Com relação aos erros por segmentações e junções indevidas de palavras, esses autores alertam para o fato de que são comuns nos dois primeiros anos de escolarização. Tomar consciência de que as palavras devem ser escritas isoladamente, diferentemente da língua falada, é uma habilidade metalinguística que os disléxicos demoram muito mais a desenvolver. “Enquanto isso tendem a separar de forma aleatória as palavras função unindo-as ou não aos núcleos semânticos que as acompanham” (Cervera-Mérida, Ygual-Fernández, 2006, p. 120). Os erros de ortografia arbitrária, segundo a classificação proposta por CerveraMèrida e Ygual-Fernández (2006), são de dois tipos: erros de correspondência 39 fonema-grafema dependentes do contexto, e os erros de correspondência fonemagrafema independentes de regras. Nos erros ortográficos por correspondência fonema-grafema dependentes do contexto, um único fonema pode ser representado por letras diferentes dependendo da vogal que o suceda. São exemplos destas relações regulares, mas não biunívocas, o fonema /k/ que pode ser representado pelas letras “c” (casa) ou “qu” (queijo). Os alunos disléxicos apresentam grande dificuldade para aprender e automatizar esse tipo de regra. Os referidos autores alertam para a complexidade semiológica desses erros, pois é necessário saber se a causa é uma falha no processamento da fala, ou se o erro é produzido por desconhecimento da regra ortográfica, ou ainda, se ocorrem somente em palavras cuja ortografia é arbitrária. Já os erros ortográficos por correspondência fonema-grafema, independente de regras, são decorrentes do prejuízo na capacidade de armazenar a representação ortográfica das palavras. Um exemplo deste tipo de erros é a representação do fonema /∫/ que pode ser grafado com x ou ch; ou ainda o uso do h inicial que é mudo. Os disléxicos apresentam grande dificuldade para automatizar essas regras e também têm menos exposição à escrita porque leem menos em razão da dificuldade de leitura. Tal característica da dislexia foi denominada por Stanovich (1986) de “Efeito Mateus” por analogia à parábola bíblica em que duas condições se reforçam mutuamente (MOUSINHO, 2009; LUKASOVA et al., 2008). 2.3.1.5. Sistema Manzano, Sanz & Chocano O Sistema proposto por Manzano, Sanz & Chocano (2008) apresenta similiaridade em relação às classificações de outros sistemas, mas com nomenclaturas diferentes, com ênfase nos seguintes tipos de erros: caráter linguístico perceptivo; caráter visoespacial; caráter visoauditivo; com relação ao conteúdo e nas regras ortográficas. Além desses sistemas, diferentes critérios têm sido usados para avaliação de escrita sob ditado. A partir de uma abordagem mais quantitativa, Capovilla e Capovilla (2000) propõem que seja computado o número médio de erros por item a partir dos seguintes critérios: 1) Desrespeito às regras básicas de correspondência 40 grafema-fonema com a troca de grafemas, como, por exemplo, para a palavra /empada/ escrever espada, ou para /sílabas/ escrever sírabas; 2) Desrespeito às regras de posição como, por exemplo, para a palavra / pássaro/ escrever pásaro, ou para /empada/ escrever enpada, e para /eçute/ escrever esute; 3) Desrespeito a regras de ortografia, como, por exemplo, para /extenso/ escrever estenso, para /tigela/ escrever tijela; 4) Acréscimo de grafema como, por exemplo, para /amanhã/ escrever amanhãn, para /galinha/ escrever galinlha; 5) Omissão de grafema como, por exemplo, para /duas/ escrever dua, para /dezena/ escrever dzena; 6) Erro por acentuação tônica que desrespeita regras ortográficas ou de acentuação tônica, como, por exemplo, para /uram/ escrever urão, ou ainda para /vejam/ escrever vejão. No caso da escrita sob ditado de pseudopalavras, diferentes escritas são consideradas como corretas sempre que reproduzem a forma fonológica da palavra ditada como, por exemplo, para /ezal/ são consideradas certas as grafias ezal, esal, ezau e esau. Assim, para cômputo do total de erros por item, têm sido consideradas a soma de cada um dos erros cometidos e a frequência média de erros. Desta forma, para cada criança é calculada a soma total dos erros cometidos em todos os itens e dividida pelo número de itens (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2000). 2.3.2. DESENVOLVIMENTO DE INSTRUMENTOS COMPUTADORIZADOS PARA AVALIAÇÃO DE LEITURA E ESCRITA A avaliação de leitura e escrita, feita por meio de testes psicométricos tradicionais, é capaz de quantificar a habilidade ou déficit da criança, situá-la comparativamente em relação aos seus pares. No entanto, apenas os resultados desses testes não auxiliam na compreensão das razões pelas quais o desempenho ocorre. Para saber o que prejudica o desempenho escolar de uma criança, é necessário entender quais competências envolvidas na leitura e escrita estão comprometidas. Dessa forma, será possível traçar uma estratégia de intervenção adequada. Para atender a essa necessidade, têm sido desenvolvidos testes neuropsicológicos de processamento cognitivo que permitem identificar o funcionamento das habilidades gerais e específicas, envolvidas na leitura e escrita. Tais instrumentos têm como fundamento a teoria do processamento da informação 41 cujos modelos procuram descrever o fluxo da informação e seus possíveis caminhos, ao longo de diferentes vias ou rotas. Procura-se especificar as unidades ou módulos de processamento, cada qual com uma função específica. Assim, a abordagem permite analisar o desempenho das crianças em tarefas de leitura e escrita de forma mais detalhada, identificando os mecanismos subjacentes que estejam prejudicados ou preservados, tendo como base os modelos teóricos e a avaliação do tipo de erro e sua distribuição relativa. De tal forma é possível identificar qual das rotas de processamento está sendo usada e ainda avaliar a integridade de cada unidade/módulo de processamento e via de transmissão da informação (CAPOVILLA, MACEDO, CHARIN, 2004). O uso de instrumentos de avaliação computadorizados permite a avaliação de habilidades acadêmicas de forma eficaz, segura, precisa, rápida e econômica (MACEDO et al., 2005). A elevada acessibilidade à população e o baixo consumo de recursos materiais e humanos possibilitam a aplicação em uma amostra considerável, além de permitir análise automática dos resultados obtidos em tempo real (BIRNBAUM, 2004). A alta precisão da avaliação computadorizada decorre de características como a padronização das instruções, interação entre o conteúdo do teste e seu delineamento, tabulação e análise automática dos resultados por meio da aplicação de tabelas de dados normativos previamente armazenados (EPSTEIN e KLIKENBERG, 2001a). Dentre as desvantagens da utilização da avaliação computadorizada estão a necessidade de recursos tecnológicos nem sempre acessíveis, a ansiedade gerada no contexto da aplicação e a falta de familiaridade com o computador, principalmente por indivíduos de níveis socioeconômico e cultural baixos (BUCHANAN, 2002). Com o avanço da tecnologia e a popularização do computador, cada vez mais se tem utilizado esse aparelho em situações de testagem, privilegiando os testes psicológicos. A utilização de avaliações computadorizadas também permite que um maior número de pessoas possa ser avaliado em curto tempo; economia temporal e financeira na aplicação e na análise dos resultados. Por outro lado, a utilização do computador acarreta algumas perdas, como a incapacidade de diferenciar entre uma resposta errada e patológica, dada pelo paciente, a impossibilidade de registrar dados comportamentais importantes ao processo terapêutico, além de muitos indivíduos ainda não estarem familiarizados com equipamentos, como o mouse, 42 teclado, etc. Em relação ao equipamento, especula-se a possível variação na forma de apresentação, de acordo com tipo de computador e versão de software. (EPSTEIN e KLINKENBERG, 2001 b). Naglieri e colaboradores (2004) ponderam a respeito da computadorização de testes. Um dos benefícios oferecidos pela avaliação neuropsicológica computadorizada é que permite que as respostas sejam gravadas, conforme o examinando responde ao item da avaliação e que se obtenha o resultado do desempenho do examinando, imediatamente após o teste ser finalizado. Com isso a devolutiva do desempenho do avaliando torna-se mais rápida. A avaliação neuropsicológica computadorizada permite também que as instruções para o avaliando sejam transmitidas de forma uniformizada, além dessa versão de avaliação ter uma redução de custo em sua aplicação, por não ser necessária a impressão de folhas de respostas como também de crivos de correção. Em contraponto, os autores ponderam que pessoas com menos familiaridade ao computador possam ter seu desempenho prejudicado. Os autores enfatizam a necessidade de existir dados normativos com embasamento científico, destinados à cultura e à língua da população que está sendo avaliada, caso contrário, os resultados poderiam ser utilizados de forma inadequada e inadvertida, com interpretações erradas. A avaliação de leitura e escrita por instrumentos computadorizados já é bem relatada na literatura. Vários estudos brasileiros têm utilizado a Bateria de Leitura e Escrita (BALE) com escolares de pré-escola à quarta série, tanto de escolas públicas quanto particulares, na versão lápis e papel e computadorizada. A Bateria de Leitura e Escrita Computadorizada (BALE-Computadorizada) (MACEDO et al., 2002) foi desenvolvida usando Macromedia Flash MX®, Pré-processador Hypertext (PHP), programando linguagem e base de dados MySQL™. A escolha desses equipamentos ocorreu em função de sua alta compatibilidade e eficácia em tutoriais na Internet. O Macromedia Flash MX® foi usado, porque permite a sincronização de arquivos contendo imagens, textos e áudio por meio de arquivos tipo SWF (MACEDO et al., 2002). Ela é composta de cinco testes, sendo eles: Teste de Competência de Leitura de Palavras (TCLP), Teste de Compreensão de Sentenças Escritas (TCSE), Teste de Compreensão de Sentenças Faladas (TCSF), Teste de 43 Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita), Teste de Nomeação de Figuras por Escolha (TNF1.1-Escolha). Para os testes TNF, existem duas versões. O TCLP avalia a leitura de palavras isoladas por julgamento ortográfico de diferentes categorias de palavras; palavras corretas regulares, palavras corretas irregulares, palavras pseudopalavras vizinhas homófonas, semânticas, pseudopalavras pseudopalavras com trocas estranhas, fonológicas e pseudopalavras com trocas visuais (LUKASOVA et al., 2008). Permite, ainda, avaliar os estágios de desenvolvimento da leitura, além de ser útil no diagnóstico diferencial de distúrbios na aquisição de leitura. O TCSE avalia a habilidade de compreensão em leitura de sentenças e extração de seu significado com graus variados de complexidade lexical e semântica (LUKASOVA et al., 2008). O TCSF avalia compreensão auditiva e discriminação de sentenças faladas que variam quanto ao grau de complexidade lexical e semântica (NIKAEDO, 2006). É um teste baseado no Teste de Prontidão para a Leitura de Kunz (1979), e a leitura das sentenças é feita por voz digitalizada (LUKASOVA et al., 2008). O TNF1.1-Escolha avalia a competência na habilidade de leitura pela nomeação de figuras por escolha da palavra correta entre palavras semelhantes do ponto de vista ortográfico e semântico (LUKASOVA et al., 2008). Já o TNF1.1-Escrita tem por objetivo avaliar a habilidade de escrita em português, verificando a competência para escrever livremente as palavras que correspondam às figuras sem erros ortográficos e semânticos (VIGGIANO, 2003). Macedo e colaboradores (2005) realizaram um estudo verificando a eficácia da avaliação computadorizada por meio da Internet no contexto escolar. O estudo avaliou a viabilidade de aplicar, via Internet, o Teste de Competência de Leitura Silenciosa On-Line para avaliar a habilidade de decisão lexical. Participaram do estudo 415 crianças. De maneira geral, os resultados mostram que o padrão de respostas na aplicação via Internet foi semelhante ao da versão tradicional. Tais resultados mostram que é viável usar a Internet para coletar dados de testes baseados em constructos teóricos. Outro estudo utilizando avaliação computadorizada foi realizado com 811 crianças de 1ª. a 4ª. séries do Ensino Fundamental de uma escola pública, com os testes TCSE, TCLP e outros, cujos resultados foram comparados com a Prova do 44 Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP)2002. Os resultados mostraram diferenças significativas no TCSE e no TCLP entre as séries. No TCSE, houve crescimento dos escores entre as séries, principalmente entre a 1ª e a 2ª séries e entre a 3ª e a 4ª séries. No TCLP, o resultado mostrou crescimento significativo nos escores entre as quatro séries, em todos os itens, excetuando-se pseudopalavras estranhas entre a 3ª e a 4ª séries. O desempenho das meninas foi superior ao dos meninos nas três provas (PRUDENCIO, 2006). Também com uso de avaliação computadorizada realizou-se um estudo comparando o desempenho de 340 escolares de 1ª a 4ª série, de escola municipal (EM) e escola particular (EP) da cidade de São Paulo, no TCLP. Os resultados mostram desempenho dos escolares da EM significativamente abaixo dos escolares de EP, comparados por série. O desempenho da 1ª. série da EP foi superior ao da 2ª.série do EM, corroborando a superioridade de desempenho na escola particular (NIKAEDO et al., 2006). Foi ainda realizado estudo com a BALE computadorizada completa, o teste de consciência fonológica, o teste de motricidade e outras tarefas para avaliar os movimentos oculares na leitura, comparando o desempenho de dez crianças diagnosticadas como disléxicas, com dez controles pareados por idade, sexo, escolaridade. O resultado mostrou um desempenho abaixo do esperado nos escores do TNF e no tempo no TCSE. Quanto aos movimentos oculares na leitura, os resultados mostraram maiores tempos e número de fixações, comparados ao grupo controle. As avaliações dos disléxicos mostraram déficit fonológico e motor. Estes resultados permitem validar o diagnóstico para o grupo de disléxicos (LUKASOVA, 2006). Foi realizado estudo envolvendo avaliação computadorizada, com utilização do TCSE em 549 escolares, de 1ª série do EF até 1ª série do EM, cujos resultados mostraram aumento na pontuação conforme a progressão de série escolar, no entanto, nem a 1ª série do EM atingiu o efeito-teto do teste (CAPOVILLA, CAPOVILLA, MACEDO, 2005). Em recente estudo, Toledo Piza (2009) comparou o desempenho, na BALE computadorizada, de 28 disléxicos comparados a um grupo controle por idade e 45 outro grupo controle por nível de leitura. Foram comparados os desempenhos no TCLP, TCSE, TCSF e TNF1.1-Escrita. Os resultados mostraram que o grupo controle por idade (AC) teve uma média de acertos maior em todas as tarefas, comparados com o grupo disléxico (DX) e controle por nível de leitura (RC). O mesmo ocorreu em relação ao tempo médio de execução das provas, ou seja, os sujeitos do grupo AC usaram tempo menor para realizar as provas do que os demais grupos. Desta forma, os disléxicos, quando comparados a sujeitos de mesma idade, obtiveram média mais baixa de acertos e tempo de execução maior. O desempenho do grupo AC (mais velhos) comparado ao do grupo RC mostrou um desempenho significativamente melhor do AC em todas as medidas. Comparando o desempenho do grupo RC com os disléxicos, não foram encontradas diferenças significativas na média de acertos no TCLP e do TCSE, indicando que os disléxicos tiveram um desempenho semelhante ao dos controles mais novos. No entanto, houve diferença significativa na média de acertos no TNF 1.1-Escrita, com maior número de acertos do grupo RC. Com relação ao tempo médio de execução, comparando os disléxicos com o desempenho do grupo RC, houve diferença significativa no TCLP e no TCSE. Os disléxicos necessitaram de mais tempo em ambas as tarefas, mostrando que sua leitura é mais lenta do que a de sujeitos mais novos com o mesmo nível de leitura. Uma das dificuldades observadas na computadorização de testes é a de correção e análise automática de respostas escritas livremente. A correção e análise automática das respostas são fáceis de ser implementadas em testes cuja resposta do sujeito se restringe à escolha de uma alternativa dentre várias. No entanto, testes em que a resposta é livre, e o sujeito pode escrever livremente, a correção e a análise deste tipo de resposta são mais difíceis de ser feitas de maneira automática. Em suma, realização de estudos que avaliam a eficácia da utilização de instrumentos computadorizados para avaliação de crianças com dislexia do desenvolvimento pode mostrar novas possibilidades de avaliação deste importante transtorno de aprendizagem. 46 3. OBJETIVOS 3.1. Objetivo geral Analisar o padrão de erros cometidos por disléxicos em uma prova de nomeação de figuras por escrita e comparar com leitores normais pareados por nível de leitura e idade. 3.2. Objetivos específicos Analisar os erros cometidos por disléxicos na nomeação por escrita no Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita), de forma qualitativa, por meio de categorização dos erros segundo critérios de Cervera-Mèrida e Ygual-Fernández (2006), adaptados à escrita do português do Brasil. Comparar os padrões de erros feitos por disléxicos com bons leitores pareados por idade cronológica. Comparar os padrões de erros feitos por disléxicos com bons leitores pareados por nível de leitura. Comparar a pontuação obtida no TNF1.1-Escrita obtida pelos três grupos de participantes: disléxicos, controles pareados por idade e controles pareados por nível de leitura. 47 4. MATERIAL E MÉTODOS 4.1 Sujeitos Foram analisados os dados de avaliação neuropsicológica de 15 disléxicos, de ambos os sexos, com idades variando de 8 a 12 anos, provenientes de escolas públicas e particulares do estado de São Paulo. Todos os participantes foram diagnosticados no Laboratório de Neurociências, do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) ou no ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem do Núcleo de Atendimento Neuropsicológico Infantil Interdisciplinar do Centro Paulista de Neuropsicologia (NANI/CPN). A pesquisa foi realizada nas dependências do Laboratório de Neurociências do Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para o diagnóstico, os sujeitos foram encaminhados ao Laboratório de Neurociências da UPM, ou ao ambulatório de Distúrbios de Aprendizagem do NANI, onde foram avaliados por meio de uma bateria de testes neuropsicológicos e diagnosticados segundo os critérios propostos pelo DSM IV-TR (APA, 2003) e CID10 (WHO, 1993). Os critérios de exclusão adotados na amostra foram: 1) a presença de comorbidade com o Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade; 2) QI Total no WISC III abaixo da média, ou seja, com escore ponderado de 80; 3) discrepância de menos de um ano, em relação à série, no Teste de Competência de Leitura de Sentença; 4) suspeita de deficiências visuais/auditivas sem correção; 5) crianças com lesões cerebrais, histórico de doenças clínicas neurológicas ou psiquiátricas; 6) atraso no desenvolvimento de linguagem oral, atraso neuropsicomotor e retardo mental. Este estudo foi de grupos contrastantes, analisando e comparando o grupo de disléxicos (DX) a dois grupos: Grupo Controle por Idade (CI) composto por 15 crianças com desempenho de leitura dentro da média esperada, com base na média total da série cursada, pareados por sexo, idade e tipo de escola com as crianças disléxicas; e Grupo Controle por nível de leitura (CL): composto por 15 leitores mais novos, pareados com os disléxicos pelo sexo, tipo de escola e desempenho de 48 leitura. O nível de leitura foi obtido por meio do escore total de acertos (máximo de 40 pontos), obtido no Teste de Compreensão de Sentenças Escritas. Os grupos controle foram obtidos a partir do banco de dados dos estudos de normatização da BALES (para detalhes dos critérios de seleção, ver Macedo, 2002 e Nikaedo, 2006). Foram usados bancos de dados de escolas particulares e públicas, com dados de crianças da primeira à sétima série, de ambos os sexos. De tal maneira, foram formados: A Tabela 2 apresenta a caracterização dos participantes do estudo. Tabela 2. Caracterização dos participantes do grupo de disléxicos, controle pareado por nível de leitura e controle pareado por idade cronológica. Disléxicos (N=15) Controle por Leitura (N=15) Média 9,93 Dp 1,28 Min 8 Série 3,73 1,43 2 7 QI Verbal QI Exec. 102,13 12,14 79 118 108,07 105,07 12,83 10,19 87 87 128 125 Grupo Idade QI Total Max Média Dp 12 8 0,75 2,07 0,59 Controle por idade (N=15) Min 6 Max 9 Média 10 Dp 1,558 1 3 3,8 1,568 Min Max 8 13 2 4.2 Material O Teste de Competência de Leitura de Sentença (TCSE) que faz parte da BALE-Computadorizada (MACEDO et al., 2002) foi usado para avaliação do nível de leitura dos participantes e para formação do grupo controle pareado por nível de leitura. O TCSE avalia a capacidade de compreensão de leitura de sentença, com variados níveis de complexidade. É composto por 46 telas, sendo que as seis iniciais são de exemplo. As telas contêm uma sentença escrita seguida de cinco figuras alternativas para escolha, das quais só uma corresponde bem à sentença. A tarefa do examinado consiste em ler a sentença e escolher entre as alternativas a figura que melhor corresponde ao conteúdo da sentença. A Figura 5 ilustra uma das telas do TCSE. 7 49 Figura 5. Tela ilustrativa do Teste de Competência de Leitura de Sentenças O Teste de Nomeação de Figura por Escrita (TNF1.1-Escrita) que faz parte da BALE-Comp (MACEDO et al., 2002) foi usado para avaliação da escrita. O TNF1.1Escrita avalia o desenvolvimento da competência de escrita em português do nome de figuras, ou seja, da competência de produção de escrita livre para nomear figuras que representem objetos e animais conhecidos. Trata-se de um teste de competência de produção de escrita de palavras isoladas que avalia a habilidade do examinando de escrever livremente palavras que correspondem a figuras sem cometer erros ortográficos ou semânticos (VIGGIANO, 2003). Originalmente, o teste foi desenvolvido na versão tradicional lápis e papel (CAPOVILLA et al., 2002) e posteriormente computadorizado (MACEDO et al., 2002). O teste contém 36 itens, sendo que cada item é composto de uma figura e uma caixa de texto abaixo dessa, na qual o sujeito deve digitar o nome da figura. A Figura 6 ilustra duas telas do TNF1.1-Escrita, em que a pessoa deve escrever a palavra correspondente à figura em português. 50 Figura 6: Telas ilustrativas do TNF1.1-Escrita. Á esquerda a tela com a figura de um rato e à direita a figura de uma vassoura, com a resposta dada por um sujeito. O Quadro 1 apresenta a lista das 36 palavras consideradas corretas na nomeação das figuras. Pelo fato de o teste ser de nomeação de figura, diferentes palavras escritas podem corresponder à figura apresentada. Assim, para cada item são apresentados alguns sinônimos aceitos e possíveis para o item. Por exemplo, no item 4, as respostas corretas possíveis são: pipa e papagaio. Já o item 23 tem como resposta possível: caranguejo ou siri. 51 Quadro 1. Lista de 36 palavras que devem ser escritas pelos sujeitos para nomear cada uma das 36 figuras que compõem a versão 1.1 do Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita). item Nome da figura 1 RATO, CAMUNDONGO, RATAZANA, RATA 2 PATO, PATA 3 MOTO, MOTOCICLETA 4 PIPA, PAPAGAIO 5 VELA, CASTIÇAL, CASTICAL 6 COBRA, VÍBORA, VÍBORA, CASCAVEL, JIBÓIA, JIBOIA 7 CAVALO, ÉGUA, EGUA, MULA 8 MEIA, PEÚGA, PEUGA Item Nome da figura 19 VASSOURA 9 10 11 12 27 28 29 30 13 14 15 16 17 18 LÁPIS, LAPIS ABACAXI, ANANÁS, ANANÁS ELEFANTE, PAQUIDERME BORBOLETA, LEPTÓPTERO, LEPTOPTERO SAPO, ANFÍBIO, ANFIBIO, CURURU, RA, RÃ ABRIDOR, ABRIDOR DE LATA MELANCIA PETECA, FRESCOBOL GIRAFA RODA 20 21 22 23 24 25 26 31 32 33 34 35 36 APITO GARFO CHUVEIRO CARANGUEJO, SIRI IGREJA, CAPELA, TEMPLO MARTELO CHINELO, SANDÁLIA, SANDALIA, HAVAIANAS COELHO XADREZ, TABULEIRO TAMBOR HELICÓPTERO, HELICOPTERO BINÓCULO, BINOCULO, BINÓCULOS RINOCERONTE CORUJA PALHAÇO, PALHACO GRAMPEADOR SANFONA, ACORDEON A versão computadorizada do TNF1.1-Escrita possibilita a correção automática das respostas dos avaliandos. Assim, caso a palavra escrita no item corresponda a uma das possibilidades apresentadas no Quadro 1, é atribuído o valor 1, caso contrário, é atribuído o valor 0. A quaisquer outras respostas diferentes das descritas, incluindo ausência de resposta, resposta do tipo “não sei”, ou ainda resposta semanticamente incorreta, é atribuída pontuação 0. Desta forma, a pontuação total pode variar de 0 a um máximo de 36 pontos. No entanto, como as respostas escritas ficam registradas, análises qualitativas podem ser feitas ao término da avaliação. 52 4.3 Procedimento Os dados usados na presente dissertação foram obtidos dos Bancos de Dados do Laboratório de Neurociências do Comportamento, coordenados pelo orientador da presente dissertação. Assim, tanto os resultados dos participantes com dislexia quanto dos controles já haviam sido coletados em outros estudos, mas não analisados. Na coleta dos dados, os pais/responsáveis pelos sujeitos participantes foram esclarecidos quanto ao procedimento da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade (CAAE-0051.0.272.000-06). Os participantes foram avaliados por meio das versões computadorizadas dos testes TCSE e TNF1.1-Escrita aplicados individualmente. Foram realizadas em média três sessões para a aplicação dos testes. Ao término das avaliações, foram realizadas entrevistas devolutivas para todos os participantes. No caso dos participantes com dislexia do desenvolvimento, foram feitos relatórios individuais e entregues aos responsáveis. 4.4 Procedimento para análise dos resultados 4.4.1 Análise Quantitativa As respostas escritas foram corrigidas automaticamente pelo programa de acordo com os critérios apresentados no Quadro 1. Análises quantitativas foram conduzidas com a finalidade de comparar a pontuação obtida pelos três grupos de participantes. Para análise quantitativa dos resultados, foi utilizado o SPSS na versão 17.0. ANOVAs foram conduzidas a fim de comparar diferenças entre e intragrupos. O nível de significância adotado foi de 5% para todos os testes. 4.4.2 Análise Qualitativa 53 Foi feita análise qualitativa dos tipos de erros cometidos nas respostas, no Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita) dos itens por meio dos critérios descritos por Cervera-Mèrida e Ygual-Fernández (2006), adaptados à escrita do português do Brasil. Inicialmente a classificação foi feita pela autora da dissertação e, em seguida, enviada para duas fonoaudiólogas com especialidade em avaliação de escrita, a fim de verificar o grau de concordância das classificações. Para a análise qualitativa das respostas, foram admitidas as várias possibilidades de ocorrência para cada item linguístico. Uma das adequações necessárias foi a alteração do nome da categoria Correspondência Biunívoca Grafema-Fonema para Correspondência Unívoca Grafema-Fonema uma vez que, no português do Brasil poucas são as letras que apresentam relação biunívoca grafema-fonema, conforme já descrito anteriormente. Optou-se pela subdivisão da categoria Omissão e Adição de Segmentos para maior clareza dos dados a serem analisados e facilitar a comparação com dados de outros estudos que comumente são apresentados desta forma. Foi ainda criada uma categoria para classificar as trocas semânticas denominadas Erros Semânticos, tendo em vista a ocorrência destes em número razoável. Na categoria Correspondência Unívoca Grafema-Fonema foram classificados todos os erros de grafema que resultaram em alteração do fonema original. Na categoria Omissão de Segmentos, foram classificados todos os tipos de ocorrência desta natureza, desde a omissão de um único segmento até aquelas em que foram omitidos quase todos os segmentos. Na categoria Adição de Segmentos, foram classificadas todas as ocorrências deste tipo, seja de apenas um ou vários segmentos. Na categoria Alteração da Ordem dos segmentos, foram classificadas as ocorrências de inversões de letra ou de sílaba. Na categoria Segmentação e Junção indevida, foram classificadas as ocorrências de junções ou separações não convencionais das palavras. Na categoria de erros por Correspondência fonemagrafema dependente do contexto, foram classificados os erros resultantes do desrespeito as regras fonográficas de tipo regular contextual. Como exemplo destes tipos de erros temos: tanbor, igrega. Na categoria de erros por Correspondência fonema-grafema independente de regras, foram classificados os erros envolvendo correspondências fonográficas de tipo irregular. Como exemplo destes tipos de erros temos: jirafa, elicóptero (omissão de h). 54 Para maiores detalhes sobre os critérios usados para classificação dos erros veja tabelas de correspondências fonográficas propostas por Morais (1995 Apud Moojen, 2009) nos Anexos 2 e 3. 55 5. Resultados e Discussão Análise dos resultados revelou que os participantes com dislexia apresentaram idade média de 9,93 anos (dp=1,28) e o grupo pareado por idade de 10,0 anos (dp=1,558). Assim, como seria esperado, não foi encontrada diferença significativa na idade entre estes dois grupos de participantes. Já o grupo de sujeitos pareados por nível de leitura teve idade média de 8,0 anos (dp=0,756), ou seja, uma diferença de aproximadamente 2 anos de idade. De fato, Anova unifatorial foi conduzida e mostrou diferença significativa entre grupos para idade (F[ 2,44]=12,520; p<0,001). De fato, Toledo Piza (2009) indica que Bryant e Impey (1986) foram os primeiros a fazer delineamentos específicos para comparar crianças disléxicas com controles pareados pelo nível de leitura. Esses autores criticavam estudos em que disléxicos eram pareados com leitores da mesma série e idade, justificando que o desempenho de leitura depende do nível geral de reconhecimento de palavras, e que esta habilidade é muito diferente no disléxico e no leitor competente que não está prejudicado. Portanto, alegam que comparações e extrapolações, entre estas duas amostras, podem gerar resultados enviesados, uma vez que disléxicos se comportam como leitores mais novos (BRYANT e IMPEY, 1986; MANIS et al. 1996). Toledo Piza (2009) continua acrescentando que, apesar de inovadora, tal metodologia gerou muita controvérsia, uma vez que parear grupos por nível de leitura não equivale a pareá-los por faixa etária (MANIS et al., 1996). Críticas surgiram quanto aos instrumentos usados para avaliar o nível de leitura das crianças, pois a escolha de como o nível de leitura era estipulado para parear os dois grupos, certamente, influenciou as conclusões obtidas. Discussões entre teóricos perduraram durante alguns anos, sem chegar a conclusões definitivas (STANOVICH et al., 1997; MANIS et al., 1996; GRIFFITHS e SNOWLING, 2002). Entretanto estudos atuais permanecem adotando o pareamento por nível de leitura, além de incluir controles por idade (STANOVICH, SIEGEL e GOTARDO, 1997; SALLES e PARENTE, 2006, 2008). No Brasil, Salles e colaboradores (ver SALLES et al. 2004; SALLES e PARENTE, 2006 e 2008), há algum tempo, vêm adotando uma metodologia quase experimental, por grupos contrastantes, na qual compararam crianças com dificuldades de leitura e escrita a dois grupos controles. Em um de seus estudos, verificaram que quando crianças com dificuldades de leitura e escrita foram comparadas a crianças mais novas, apresentaram menos 56 dificuldades do que quando comparadas a controle da mesma idade (SALLES e PARENTE, 2006). Com a finalidade de comparar os grupos em função do grau de escolaridade a partir da série escolar, Anova unifatorial foi realizada, sendo observada diferença significativa entre os grupos (F[2,44]=8,900; p<0,001). Teste Post Hoc LSD mostrou não haver diferença de série escolar entre os participantes disléxicos e os controles por idade, no entanto, estes dois grupos tinham mais anos de escolaridade do que os participantes pareados por nível de leitura. Tais resultados indicam progressão nas séries escolares dos disléxicos da mesma forma que os leitores normais com a mesma idade. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos três grupos de participantes em função do tipo de escola, série e idade. Tabela 3. Frequência absoluta dos três grupos de participantes em função do tipo de escola (pública e particular), série escolar (1ª a 7ª série) e idade (6 a 13 anos) Série DI 1ª Escola Pública 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 2ª Escola Particular 3ª 4ª 6 anos 7 anos 8 anos 9 anos 10 anos 11 anos 11 anos 12 anos 12 anos 12 anos 13 anos 8 anos 9 anos 9 anos 10 anos 10 anos 11 anos 2 2 1 1 1 0 1 1 0 0 1 1 1 2 1 Grupo CL 1 1 5 2 5 0 1 0 Total CI 2 2 1 1 0 1 1 1 1 0 1 1 2 1 1 1 9 6 2 2 1 1 1 2 1 6 1 3 2 4 2 Tal achado está de acordo com o padrão identificado em outros estudos (BRYANT e IMPEY, 1986; MANIS et al., 1996). Na amostra de Bryant e Impey 57 (1986), por exemplo, foi identificada uma criança com dislexia que, aos 17 anos, desempenhava como uma leitora de dez anos. Este perfil corrobora com os estudos prévios que nos alertaram para os impactos no desempenho educacional e psicossocial de um indivíduo com dislexia (CIASCA, 2003; SCHOEN-FERREIRA et al., 2002; BISHOP e SNOWLING, 2004). Confirmaram, ainda, a hipótese de que a série cursada não é um determinante do desempenho de disléxicos, pois na presente amostra, por exemplo, havia sujeitos mais velhos que desempenhavam como indivíduos nos processos iniciais da aquisição da leitura e escrita, assim como disléxicos mais novos que não apresentavam dificuldades tão severas. Assim como no estudo de Toledo Piza (2009), esse perfil reforçou a importância de usar um grupo controle pareado por nível de leitura, pois uma vez que o objetivo é investigar o processo de alfabetização dos grupos, é importante comparar disléxicos, com crianças mais novas, mas com um desempenho em leitura semelhante (TOLEDO PIZA, 2009). O fato de não ter sido observada diferença na série entre o grupo de disléxicos e os controles por idade, pode ser explicado pelo sistema de Progressão Continuada. Este sistema foi implantado no estado de São Paulo em 1988, sendo então denominada aprovação automática, a exemplo do que já era praticado em países como a Inglaterra. As escolas de nível fundamental foram então organizadas em dois ciclos: um de 1ª. a 4ª. série e outro, de 5ª. a 8ª. série. Enquanto a aprovação automática previa simplesmente a promoção por idade cronológica, a progressão continuada propõe uma avaliação contínua da aprendizagem dos alunos e sua recuperação contínua. Esta forma de atendimento procura contemplar a heterogeneidade e facultar a permanência do aluno na escola (BERTAGNA, 2008). Assim, a utilização de recursos pedagógicos específicos aos disléxicos pode auxiliálos ao longo dos anos de escolarização e o sistema de aprovação automática não exime o aluno de ser avaliado, ainda que de maneira informal, pelo professor, ou até mesmo pela sociedade. É inegável a interferência que este juízo que se faz de seu desempenho tem na autoestima do aluno e consequentemente na sua aprendizagem (AUGUSTO e GODOI, 2004). Ainda assim, a retirada da avaliação formal não protege o aluno com problema de aprendizagem da exclusão. A própria sociedade avalia constantemente se o aluno tem o domínio do conhecimento que atenda a suas necessidades sociais e laborais. Caso o aluno apenas progrida ao 58 longo das séries sem real melhoria de desempenho será discriminado e excluído na sociedade (SILVA et al., 2006). Análise do nível intelectual dos participantes com dislexia foi realizada a fim de verificar se o desempenho estava dentro da faixa de normalidade. Resultados dos participantes com dislexia no teste WISC revelam pontuação dentro da faixa de normalidade para QI Total (m= 105,07; dp=10,19), QI Verbal (m= 102,13; dp=12,15) e QI de Execução (m= 108,07; dp=12,84). Teste T para medidas repetidas não revelou diferença significativa entre QI Verbal e de Execução nos participantes com dislexia. 5.1. Análise de desempenho no Teste de Compreensão de Sentença Escrita O desempenho dos participantes no Teste de Compreensão de Sentença Escrita foi avaliado por meio do número total de acertos e do tempo médio para responder aos itens. Este teste foi usado como parâmetro para estabelecer os grupos em função do nível de leitura. Foi observado efeito do tipo de grupo na pontuação do total do TCSE (F[2,42]=8,564; p<0,001). Análises Post Hoc LSD revelaram que os participantes do grupo pareado por idade acertaram mais itens que os demais grupos. A Tabela 2 apresenta o número médio de acertos e tempo de realização do TCSE para os três grupos de participantes. Como seria esperado, não foi observada diferença entre disléxicos e os controles por leitura. Assim, o Teste de Compreensão de Sentença Escrita se mostrou um bom instrumento para comparação de disléxicos e crianças sem dificuldades de leitura. Não foi observada diferença significativa no tempo de realização do teste entre os participantes dos três grupos. 59 Tabela 4. Número de acertos e tempo médio para responder aos itens do Teste de Compreensão de Sentença Escrita para os participantes dos três grupos. TCSE Grupo N Média Desv. Erro 95% Intervalo de Mín Máx Pad. Pad. Confiança Limite Limite Inferior Superior Acertos DI 15 29,67 9,32 2,40 24,50 34,83 8 40 CL 15 29,93 9,34 2,41 24,76 35,11 8 42 CI 15 39,93 2,37 ,61 38,62 41,25 35 43 Total 45 33,18 8,97 1,33 30,48 35,88 8 43 Tempo DI 15 24,28 15,47 3,99 15,71 32,86 10,44 52,37 (seg) CL 15 28,42 16,79 4,28 19,23 37,60 10,27 68,60 CI 15 22,64 13,02 3,36 15,43 29,85 8,08 42,28 Total 45 25,12 14,95 2,23 20,62 29,61 8,08 68,60 5.2. Análise do desempenho no Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita) O desempenho dos participantes no Teste de Nomeação de Figuras por escrita foi analisado inicialmente em função do número total de itens corretos. Desta forma, as respostas escritas foram corrigidas automaticamente pelo programa de acordo com os critérios apresentados no Quadro 1, sendo que foi atribuído o valor 1 para o item correto e 0 para o item que apresentasse qualquer tipo de incorreção. Como o teste tem 36 itens, a pontuação total máxima poderia ser 36 e, a mínima, 0. Análise estatística foi conduzida a fim de verificar o efeito do grupo no número de respostas corretas. Anova unifatorial revelou efeito para o número total de acertos (F[2,42]=7,257; p<0,002). Análise Post Hoc indica que o número de acertos do grupo controle pareado por idade foi significativamente maior do que os participantes disléxicos e os controles por nível de leitura. Não foram observadas diferenças significativas entre disléxicos e controles por nível de leitura. A Tabela 3 apresenta o número médio de acertos e tempo de realização do TNF1.1-Escrita para os três grupos de participantes. Desta forma, os participantes do grupo controle que foram pareados pela idade acertaram, em média, oito itens a mais do que os participantes disléxicos e, quatro itens a mais do que os controles pareados por nível de leitura. Anova unifatorial revelou diferença significativa entre grupos no tempo de realização dos testes (F[2,42]=4,122; p<0,024). Análise Post Hoc indica que o tempo dos 60 participantes do grupo controle por nível de leitura foi significativamente maior que o dos participantes disléxicos e o dos participantes do grupo controle por idade. Assim, como seria esperado, crianças mais novas levaram mais tempo para escrever as respostas. Crianças disléxicas levaram em média 19 segundos para escrever o nome do item, enquanto os pareados por idade levaram, em média, 28 segundos. Este dado pode ser interpretado pelo fato de os disléxicos cometerem mais erros que os demais participantes. Tabela 5. Número de acertos e tempo médio para responder aos itens do Teste de Nomeação de Figura por Escrita (TNF1.1-Escrita) para os participantes dos três grupos. TNF 1.1 Acertos Tempo (seg) Grupo N DI CL CI Total DI CL CI Total 15 15 15 45 15 15 15 45 Média Desv. Pad. 20,47 24,40 28,47 24,44 19,00 37,89 28,40 28,43 5,89 5,82 5,52 6,51 10,93 23,85 16,88 19,25 Erro Pad. 1,52 1,50 1,42 ,97 2,82 6,15 4,35 2,86 95% Intervalo de Confiança Limite Limite Inferior Superior 17,20 23,73 21,17 27,63 25,41 31,53 22,49 26,40 12,94 25,06 24,68 51,09 19,05 37,76 22,65 34,21 Mín Máx 10 14 14 10 5,70 6,22 7,00 5,70 29 35 34 35 41,25 104,8 57,56 104,8 Com relação à utilização de versões computadorizadas de testes para avaliação de funções cognitivas, Naglieri e colaboradores (2004) indicam que um dos benefícios oferecidos pela avaliação neuropsicológica computadorizada é que permite que as respostas sejam gravadas conforme o examinando responde ao item da avaliação e que se obtenha o resultado do desempenho do examinando imediatamente após o teste ser finalizado. Com isto a devolutiva do desempenho do avaliando torna-se mais rápida, já que em versões tradicionais ou lápis-e-papel levem mais tempo. A avaliação neuropsicológica computadorizada permite também que as instruções para o avaliando sejam transmitidas de forma uniformizada, além deste tipo de versão de avaliação ter uma redução de custo em sua aplicação por não ser necessária a impressão de folhas de respostas como também de crivos de 61 correção. Em contraponto, os autores ponderam que pessoas com menos familiaridade ao computador possam ter seu desempenho prejudicado. Assim, uma das hipóteses para explicação dos resultados do presente estudo é a de que crianças mais novas e com menos familiaridade no uso de computador levaram mais tempo que as mais velhas para escreverem a resposta. No entanto, outra hipótese para a diferença de tempo observada pode ser exatamente o nível de conhecimento de leitura e escrita. Análise dos itens revelou que os itens mais fáceis para os disléxicos, com 100% de acertos, foram: “rato”, “vela”, “cobra”, “sapo”. Já os itens mais difíceis foram: “helicóptero”, “vassoura” e “caranguejo”. A Tabela 4 apresenta o padrão de resposta dos três grupos de participantes para cada um dos itens do teste TNF1.1Escrita. Análise das respostas dos três grupos indica que os itens “rato” e “sapo” foram os mais fáceis, e nenhuma criança escreveu incorretamente. Já o item “helicóptero” foi o que os participantes dos três grupos mais erraram. Além disso, o item “grampeador” foi escrito incorretamente só pelos participantes do grupo de controle por idade. 62 Tabela 6. Proporção de respostas corretas para cada um dos 36 itens do Escrita em função dos grupos de participantes. Palavra Item DI CL CI N Média DP Média DP Média RATO tnf1 15 1,00 ,000 1,00 ,000 1,00 PATO tnf2 15 ,93 ,258 ,93 ,258 ,93 MOTO tnf3 15 ,87 ,352 1,00 ,000 1,00 PIPA tnf4 15 ,93 ,258 1,00 ,000 1,00 VELA tnf5 15 1,00 ,000 ,93 ,258 ,93 COBRA tnf6 15 1,00 ,000 1,00 ,000 ,93 CAVALO tnf7 15 ,93 ,258 ,93 ,258 1,00 MEIA tnf8 15 ,93 ,258 1,00 ,000 ,93 LÁPIS tnf9 15 ,60 ,507 ,93 ,258 ,87 ABACAXI tnf10 15 ,67 ,488 ,80 ,414 ,93 ELEFANTE tnf11 15 ,47 ,516 ,93 ,258 ,93 BORBOLETA tnf12 15 ,47 ,516 1,00 ,000 ,93 SAPO tnf13 15 1,00 ,000 1,00 ,000 1,00 ABRIDOR tnf14 15 ,47 ,516 ,40 ,507 ,87 MELANCIA tnf15 15 ,40 ,507 ,40 ,507 ,87 PETECA tnf16 15 ,80 ,414 1,00 ,000 ,93 GIRAFA tnf17 15 ,67 ,488 ,73 ,458 ,73 RODA tnf18 15 ,80 ,414 ,87 ,352 1,00 VASSOURA tnf19 15 ,07 ,258 ,27 ,458 ,47 APITO tnf20 15 ,80 ,414 1,00 ,000 ,87 GARFO tnf21 15 ,73 ,458 ,67 ,488 ,87 CHUVEIRO tnf22 15 ,33 ,488 ,47 ,516 ,87 CARANGUEJO tnf23 15 ,13 ,352 ,33 ,488 ,33 IGREJA, tnf24 15 ,40 ,507 ,53 ,516 ,67 MARTELO tnf25 15 ,67 ,488 ,87 ,352 ,80 CHINELO tnf26 15 ,47 ,516 ,67 ,488 ,87 COELHO tnf27 15 ,47 ,516 ,80 ,414 ,87 XADREZ tnf28 15 ,20 ,414 ,20 ,414 ,47 TAMBOR tnf29 15 ,40 ,507 ,33 ,488 ,47 HELICÓPTERO tnf30 15 ,07 ,258 ,13 ,352 ,27 BINÓCULO tnf31 15 ,33 ,488 ,47 ,516 ,67 RINOCERONTE tnf32 15 ,20 ,414 ,20 ,414 ,87 CORUJA tnf33 15 ,47 ,516 ,60 ,507 ,87 PALHAÇO tnf34 15 ,27 ,458 ,53 ,516 ,80 GRAMPEADOR tnf35 15 ,13 ,352 ,20 ,414 ,00 SANFONA tnf36 15 ,40 ,507 ,27 ,458 ,67 TNF1.1- DP ,000 ,258 ,000 ,000 ,258 ,258 ,000 ,258 ,352 ,258 ,258 ,258 ,000 ,352 ,352 ,258 ,458 ,000 ,516 ,352 ,352 ,352 ,488 ,488 ,414 ,352 ,352 ,516 ,516 ,458 ,488 ,352 ,352 ,414 ,000 ,488 63 A análise qualitativa dos tipos de erros no Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita) foi feita a partir dos critérios descritos por Cervera-Mèrida e Ygual-Fernández (2006), adaptados à escrita do português do Brasil. Para a análise qualitativa das respostas, foram admitidas as várias possibilidades de ocorrência para cada item linguístico dividido em oito categorias: 1) Correspondência unívoca grafema-fonema (CUGF); 2) Omissão de segmentos (OS); 3) Adição de segmentos (AS); 4) Alterações da ordem dos segmentos (AOS); 5) Segmentações e junções indevidas de palavras (SJIP); 6) Correspondência fonema-grafema dependente do contexto (CFGDC); 7) Correspondência fonema-grafema independente de regras (CFGIR); 8) Erros semânticos (ES). A fim de compreender o padrão de escrita dos três grupos de participantes, as Tabelas apresentadas no Anexo 4 ilustram todas as respostas incorretas dadas pelos três grupos de participantes do estudo. Anova multifatorial foi conduzida a fim de verificar diferenças entre grupos para cada um dos tipos de erros. Resultados mostram diferenças significativas para: Correspondência unívoca grafema-fonema (CUGF), Omissão de segmentos (OS) e Correspondência fonema-grafema independente de regras (CFGIR). A Tabela 5 apresenta os valores médios de frequências de erros, os valores de F e de p para cada uma das variáveis analisadas. Análises Post Hoc para o tipo de erro CUGF mostram que os participantes com dislexia cometeram mais erros do que os participantes dos demais grupos e, não foram encontradas diferenças entre os controles pareados por leitura e por idade. Análises Post Hoc para o tipo de erro OS revelam padrão similar ao do CUGF, ou seja, disléxicos cometeram mais erros do que os participantes dos outros dois grupos. Análise Post Hoc para o tipo de erro CFGIR indica que os participantes com dislexia cometeram mais erros do que os do grupo controle pareado por leitura e, estes mais erros do que o grupo controle pareado por idade. De fato, os tipos de erros CUGF, OS e CFGIR foram os que tiveram maior ocorrência para todos os participantes. 64 Tabela 7. Frequência média de tipos de erros no TNF1.1-Escrita e Anova para os três grupos de participantes. N CUGF 45 OS 45 AS 45 AOS 45 SJIP 45 CFGDC 45 CFGIR 45 ES 45 DI Média 5,60 5,60 1,20 ,27 ,13 2,07 4,73 ,87 DP 4,18 4,88 ,94 ,79 ,35 1,53 2,01 ,91 CL CI Total Média DP Média DP Média DP gl F Sig 3,00 2,36 1,60 1,18 3,40 3,25 2,42 7,56 ,002 2,67 2,19 1,00 1,36 3,09 3,66 2,42 8,00 ,001 1,47 ,91 1,20 ,86 1,29 ,89 2,42 ,43 ,652 ,13 ,35 ,20 ,77 ,20 ,66 2,42 ,14 ,864 ,13 ,35 ,07 ,25 ,11 ,31 2,42 ,21 ,810 1,27 1,10 1,47 1,55 1,60 1,42 2,42 1,30 ,282 3,00 1,96 1,60 1,54 3,11 2,22 2,42 10,73 ,000 1,40 1,50 1,07 1,33 1,11 1,26 2,42 ,67 ,517 Os resultados encontrados, no presente estudo, apresentam similaridade com o de outros estudos realizados no Brasil e em países com outros idiomas. Assim, Zuanet et al. (2008) compararam erros ortográficos de alunos brasileiros com desempenho inferior em escrita e alunos com desempenho médio nesta habilidade, com objetivo de verificar se os alunos com desempenho inferior em escrita cometem mais erros ortográficos do que as crianças com bom desempenho em escrita da mesma série. Foram avaliadas 24 crianças de 2ª série de escolas públicas, sem distúrbio fonológico e que completaram prova de ditado de palavras isoladas. A escrita foi avaliada pelo subteste escrita do TDE, e a análise dos erros ortográficos seguiu as seguintes categorias: 1) Substituição de letras em razão das representações múltiplas; 2) Apoio na oralidade; 3) Omissões de sílabas; 4) Dificuldade no uso de marcadores de nasalização (M em fim de palavras, antes de “p” e “b”; “n” em final de sílabas no meio de palavras, uso do “til” e do “nh”; 5) Dificuldade nos acentos gráficos; 6) Omissões ou adições de letras em sílabas CVC e CCV; 7) Hipercorreção; 8) Erros por trocas de letras, surdas-sonoras; 9) Confusão entre “ão” e “AM”; 10) Acréscimo de letras; 11) Inversões em relação ao próprio eixo de letras; 12) Inversões em relação à posição na palavra. Os sujeitos foram classificados em três grupos: Grupo Desempenho Inferior na Escrita com média de 30 erros; Grupo Satisfatório na Escrita com média de 15 erros; e Grupo Superior em Escrita (1) com 6 erros. O teste de correlação de Pearson mostrou correlação fortemente negativa entre desempenho na tarefa de escrita e a quantidade de erros ortográficos. A diferença na frequência de tipos de erros entre os dois grupos 65 mostrou diferença significativa nos seguintes tipos: substituição de letras, omissões de sílabas, dificuldade no uso de marcadores de nasalização, hipercorreção e trocas de letras que foram mais frequentes no grupo com desempenho inferior em escrita. Assim, como no presente estudo, os resultados mostraram que as crianças com desempenho inferior em escrita cometem mais erros, e que estes erros diminuem com a escolarização. Concordando com outros estudos, constatou-se que o desempenho em ortografia é fortemente influenciado pela escolaridade, assim como pelas habilidades cognitivas da criança. Outro estudo que avaliou o padrão de erros ortográficos durante a escrita foi o de Dias e Ávila (2008). Os autores investigaram como escolares com Transtorno Específico de Leitura (TEL) aplicam as regras de correspondência Fonema-Grafema independente do contexto (escrita transparente), e como analisam e identificam seus erros na escrita segundo as variáveis: frequência do item linguístico e série escolar. Os participantes foram divididos em dois grupos: Grupo Pesquisa (GP) composto por 28 escolares do Ensino Fundamental, diagnosticados como tendo TEL, dificuldade de soletração e de escrita; e Grupo Comparação (GC) composto por 28 escolares, pareados por sexo, idade e série escolar, indicados pelos professores, sem evidência de dificuldade de leitura e escrita. Foi administrado individualmente um ditado de 30 itens isolados, sendo 10 de alta frequência (AF), 10 de baixa frequência (BF) e 10 pseudopalavras, todas com a estrutura silábica consoante-vogal. Foram usadas somente as consoantes “p”, “b”, “d”, “f”, “v”, “m”, “n” e os dígrafos “nh” e “lh”. Para a correção, foi admitida a possibilidade de ocorrência de mais de um erro em cada item linguístico. As categorias de erro avaliadas foram: substituições, omissões, inversões, duplicações de letras (consoante e vogal), inversões nos dígrafos. Os resultados mostraram que os escolares com TEL apresentaram mais erros em todas as combinações de série e itens do que o de leitores normais. Além disso, observaram que mesmo sendo avaliada a escrita de palavras regulares, os escolares do GP apresentaram mais erros do que GC, em todas as séries, em todos os tipos de itens, sendo esta diferença significativa. Estes resultados revelam que alunos de 5ª série ainda apresentavam dificuldade no domínio da regra de correspondência F-G independente do contexto, o que parece evidenciar dificuldade de processamento fonológico. No entanto, Dias e Ávila (2008) não aprofundaram a 66 análise em função do tipo de erro, dificultando a comparação com os resultados do presente estudo. As análises focaram as variáveis psicolinguísticas. O padrão de erros cometidos por disléxicos brasileiros, em provas de escrita sob ditado, foi analisado por Zorzi e Ciasca (2009) em comparação com outros grupos de transtornos. Assim, os autores analisaram os erros ortográficos em diferentes problemas de aprendizagem com objetivo de apontar possíveis perfis ortográficos que possam ser indicadores das alterações de escrita que caracterizam cada quadro. Foram avaliados 28 sujeitos com TDAH, 13 com Dificuldade Escolar, 7 com Distúrbio de Aprendizagem, 3 com Dislexia, 5 com Distúrbios Associados e 9 com diagnóstico não conclusivo. De modo geral, os erros encontrados foram os mesmos que se encontram em crianças sem problemas de aprendizagem. No grupo TDAH, o erro mais frequente foi Representações Múltiplas, seguido de Apoio na oralidade e poucas omissões que indicam problemas ortográficos. No Grupo Dificuldade Escolar, o erro mais frequente foi Representações Múltiplas e Omissão, indicando condições educacionais desfavoráveis com problema ortográfico e fonológico. O Grupo Distúrbios de Aprendizagem apresentou evidente dificuldade ortográfica, sendo os tipos de erros mais frequentes Representações Múltiplas, Omissão, Troca Surda/ sonora e Outras Alterações que, em conjunto, indicam também problemas fonológicos. Já no Grupo Dislexia, a média de erros foi maior para Representações Múltiplas e Apoio na oralidade que se relacionam com problemas ortográficos. Além disso, foram observados erros de Omissão, Outras alterações e trocas Surdas-sonoras, indicando prejuízo fonológico. Diferente do presente estudo, que encontrou número alto de erros fonológicos em crianças com dislexia, o estudo de Zorzi e Ciasca (2009) não confirmou a hipótese de que os erros mais frequentes seriam os fonológicos. A falta de efeito de Zorzi e Ciasca (2009) pode ser explicada pelo fato de a amostra de participantes com dislexia ter sido muito pequena, com apenas três disléxicos. Angelelli et al. (2004) avaliaram a escrita de crianças italianas com dislexia e Dias e Ávila (2008), ao avaliarem crianças brasileiras, identificaram proporção semelhante de erros em ditado das crianças italianas. Os autores avaliaram a leitura (tempo, acurácia e compreensão) e a escrita por meio de ditado de listas de palavras e pseudopalavras. Para análise qualitativa, foram classificados os erros segundo as categorias: erros fonologicamente plausíveis (CUOTA para QUOTA), 67 erros baseados em características de mínima distância (FINO para VINO), erros de conversão silábica em situação dependente do contexto (ADAGO para ADAGIO), e outros erros que incluem substituições não de mínima distância (BALO para BACO), omissões (VSONE para VISONE), acréscimos (MANRMO para MARMO) e alterações da ordem dos segmentos (PATRO para PRATO). ANOVAs foram conduzidas entre os grupos disléxicos e controles para as diferentes categorias de erros. Os resultados mostraram um desempenho em leitura bem inferior em fluência e acurácia nos disléxicos, mas o prejuízo em compreensão foi menor. Quanto à escrita, os controles tiveram poucos erros, quase todos fonologicamente plausíveis. Os disléxicos apresentaram quatro vezes mais erros do que os controles, os erros mais frequentes (47%) foram também erros fonologicamente plausíveis (erros de superfície). Os erros tipo oponentes mínimos foram de 31%, seguidos da categoria outros erros (13%) e os erros de conversão silábica dependente do contexto de 9%. Sete disléxicos apresentaram alta taxa de erros baseados em oponentes mínimos, e cinco apresentaram taxa patológica de erros tipo conversão silábica dependente do contexto. Assim, o padrão de erro exibido pelos disléxicos italianos e brasileiros é compatível com hipótese de prejuízo no conhecimento ortográfico lexical, assim como com prevalência de processamento fonológico (disgrafia de superfície). Análise qualitativa dos erros dos dois estudos indica maior prejuízo na rota fonológica. Desta forma, os resultados de Angelelli e colaboradores, embora obtidos com crianças italianas, apresentam semelhanças com os do presente estudo, pois disléxicos brasileiros cometeram em média o dobro de erro dos CL, sendo que os erros mais comuns foram os fonológicos: Conversão Unívoca Grafema-Fonema e Omissão de Segmentos. Já os erros lexicais foram observados apenas na categoria Correspondência Fonema-Grafema Independente de Regras. Em um estudo similar ao apresentado na presente dissertação, Caravolas e Volín (2001) analisaram leitura e escrita de uma grande amostra de crianças tchecas de escolas primárias e disléxicas atendidas em serviço de classes especiais. Assim, três grupos de participantes foram formados: 43 disléxicos (DX) com idades entre 912 anos; 43 controles por idade (CA) com idades entre 9-12 anos; 43 controles por nível de escrita (SA) com idades entre 7-10 anos. A escrita foi avaliada por um ditado graduado composto de 10 sentenças e um total de 62 palavras isoladas. Foram analisados os erros fonológicos nas seguintes categorias: omissão de 68 grafemas (consoantes e vogais), adição de grafemas, transposição de grafema, alteração de vogal ou consoante. Foi computada como um erro fonológico cada palavra com alterações, independente de haver mais de uma alteração na mesma palavra, sendo então o número máximo de erros 62. Os resultados mostraram que o grupo CA apresentou melhor desempenho em leitura e escrita, e os grupos DX e AS não diferiram entre si nas mesmas habilidades. ANOVA mostrou taxa de erro significativamente menor no grupo CA. Os grupos DX e AS não diferiram entre si. Diferente do presente estudo, a análise mostrou não haver diferença significativa na taxa de erro para todas as categorias. Assim como no presente estudo, as crianças disléxicas tchecas foram significativamente piores em produzir escrita fonologicamente plausível do que as controles com desenvolvimento normal. Seu desempenho foi compatível com o de crianças 2 ou 3 anos mais jovens. Os resultados apresentados nesta dissertação possibilitam uma maior compreensão das dificuldades de escrita em pessoas com o diagnóstico de dislexia, pois são raros os estudos que analisam o padrão de escrita de disléxicos brasileiros (MOOJEN, 2009). Além disso, o trabalho tem por originalidade usar um instrumento computadorizado para avaliar escrita a partir da nomeação de figuras e, não só de provas de ditado. No entanto, é necessária a realização de estudos que comparem o padrão de escrita por digitação com a escrita à mão livre, pois, possivelmente, processos motores, sensoriais e cognitivos podem interferir na escrita. Em suma, o presente trabalho analisou o padrão de escrita de crianças com diagnóstico de dislexia. Para isto utilizou um teste computadorizado que possibilita a correção automática das respostas, auxiliando na interpretação quantitativa dos resultados. Além disso, o registro das respostas dadas possibilita também a análise qualitativa do padrão de erro ortográfico. É importante ressaltar que, embora muitas vezes os erros sejam interpretados de forma negativa e preconceituosa em relação à criança com dislexia, neste trabalho, os erros foram vistos e analisados a partir de uma perspectiva positiva. Assim, a análise do padrão de resposta da criança com dislexia pode auxiliar no diagnóstico e na compreensão dos processos cognitivos subjacentes à leitura e escrita. Estas informações podem e devem ser usadas por profissionais que trabalham diretamente com estas crianças, auxiliando no estabelecimento de propostas de intervenção. 69 6. Conclusão O Teste de Nomeação de Figuras por Escrita (TNF1.1-Escrita) foi aplicado em três grupos de participantes: disléxicos, grupo controle pareado por nível de leitura e grupo controle pareado por idade. Análises quantitativas e qualitativas foram conduzidas e revelam que: A pontuação dos participantes com dislexia no TNF1.1-Escrita foi significativamente menor do que a dos participantes do grupo controle pareado por idade; Não foi observada diferença significativa na pontuação total no TNF1.1Escrita dos participantes com dislexia dos participantes do grupo controle pareado por nível de leitura; As crianças do grupo controle por nível de leitura e, portanto, mais novas, levaram mais tempo para realizar o teste do que os participantes com dislexia e os do grupo controle por idade; Participantes com dislexia cometeram mais erros que os controles nas seguintes categorias: Correspondência unívoca grafema-fonema, Omissão de segmentos e Correspondência fonema-grafema independente de regras. 70 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELELLI, P., et al. Characterístics of Writing Disorders inItalian Dyslexic Children. Cognitiv Behavioral Neurology. v.17, no.1, p.18-31,março 2004. 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D= Disléxicos, CI= Controle Idade, CL= Controle Leitura Sujeito Sexo Tipo escola Série Idade TCSE D1 Masculino Particular 2ª. 9 anos 21 CI1 Masculino Particular 2ª. 8 anos 40 CL1 Masculino Particular 2ª. 8 anos 22 D2 Feminino Particular 4ª. 10 anos 36 CI2 Feminino Particular 4ª. 10 anos 43 CL2 Feminino Particular 2ª. 8 anos 36 D3 Masculino Particular 3ª. 10 anos 34 CI3 Masculino Particular 3ª. 10 anos 42 CL3 Masculino Particular 3ª. 9 anos 33 D4 Masculino Particular 3ª. 9 anos 25 CI4 Masculino Particular 3ª. 9 anos 40 CL4 Masculino Particular 2ª. 8 anos 26 D5 Masculino Pública 6ª. 12 anos 38 CI5 Masculino Pública 7ª. 13 anos 38 CL5 Masculino Pública 3ª. 9 anos 37 D6 Masculino Pública 7ª. 12 anos 40 CI6 Masculino Pública 7ª. 12 anos 39 CL6 Masculino Pública 3ª. 9 anos 42 D7 Masculino Pública 5ª. 11 anos 39 CI7 Masculino Pública 5ª. 12 anos 40 CL7 Masculino Pública 2ª. 8 anos 40 D8 Masculino Particular 4ª. 10 anos 36 CI8 Masculino Particular 4ª. 10 anos 40 82 CL8 Masculino Particular 2ª. 8 anos 36 D9 Feminino Pública 3ª. 9 anos 31 CI9 Feminino Pública 3ª. 9 anos 36 CL9 Feminino Pública 2ª. 8 anos 33 D10 Feminino Pública 2ª. 8 anos 20 CI10 Feminino Pública 2ª. 8 anos 43 CL10 Feminino Pública 1ª. 7 anos 21 D11 Feminino Pública 3ª. 9 anos 27 CI11 Feminino Pública 3ª. 9 anos 35 CL11 Feminino Pública 1ª. 6 anos 26 D12 Masculino Pública 4ª. 10 anos 19 CI12 Masculino Pública 4ª. 10 anos 39 CL12 Masculino Pública 2ª. anos 19 D13 Masculino Particular 2ª. 11 anos 37 CI13 Masculino Particular 4ª. 11 anos 43 CL13 Masculino Particular 2ª. 8 anos 37 D14 Feminino Pública 2ª. 8 anos 8 CI14 Feminino Pública 2ª. 8 anos 41 CL14 Feminino Pública 2ª. 8 anos 8 D15 Masculino Pública 4ª. 11 anos 34 CI15 Masculino Pública 4ª. 11 anos 40 CL15 Masculino Pública 2ª. 8 anos 33 83 ANEXO 2 Tabela 9. Correspondências fonográficas de tipo regular contextual adaptada de Morais (1995 Apud Moojen, 2009, p.62). Correspondências Fonográficas de Tipo Regular Contextual Fonema Grafema Exemplos /k/ c-qu cobra, cavalo /g/ g-gu garfo, guerra sapo (só em sílabas iniciadas /s/ s por /as/, /so/,/su/ /z/ z zangão, zebra /ʒ/ j joia /x/ r rato rr carro /r/ r cara,chuveiro /l/ l lápis,lago canto,sanfona, sílaba intermediária, /ã/ /e˜/ĩ an, en, in, on, un precedida de letra que não seja p /õ//ũ/ ou b. campo, tambor, final de sílaba am, em, antes im, om, de p e b e em monossílabas que um acabam em /i/,/u/,/o/,/e/ a,e,i,o,u cama, tema ã manhã, mãe õ põe em também anh, enh, inh, onh, ganho, cunha unh u lua, bambu o amigo,apito 84 ANEXO 3 Tabela 10. Correspondências fonográficas de tipo irregular adaptada de Morais (1995 Apud Moojen, 2009, p.63-4). Correspondências Fonográficas de Tipo Irregular Fonema Grafema Exemplos /s/ s sapo c rinoceronte z paz,xadrez ç força x auxiliar ss vassoura sc piscina sç cresça xc exceto /z/ z gozado s casa x exame /∫/ x xadrez ch chuveiro z rapaz g girafa /ʒ/ j igreja /λ/ l Júlio lh palhaço zero h helicóptero /i/ i rinoceronte e seguro /u/ u coruja o orelhão 85 ANEXO 4. Tabela 11. Classificação dos tipos de erros cometidos pelos 15 participantes com dislexia no Teste de Nomeação de Figura por Escrita (TNF1.1-Escrita). Sujeitos Correspondência unívoca grafemafonema Omissão de segmentos Adição de segmentos 1 (11)elefete (14)apido (16)bedeca (28)xatesi (29)dompo (30)ericopto (31)pinoco (32)rinosenosede (35)gripiato (36)saofona 2 (31)binocolo (11)elefete (12)boboleta (14)apido (15)melasia (19)vasora (21)gafo (23)caragegu (24)iqega (25)matelo (28)xatesi (30)ericopto (35)gripiato (29)dompo (12)borbolta (19)vassora (22)chuvero (35)granpiado 3 (11)elevante (20)apitp (27)cuelio (32)rinoserante (34)paliaso (36)sanfone (9)lapes 4 Alterações da ordem dos segmentos Segmentações e junções indevidas de palavras Correspondência fonema-grafema dependente do contexto Correspondência fonema-grafema independente de regras Erros semânticos (27)coeilho (32)rinosenosede (24)iqega (33)coruga (15)melasia (19)vasora (22)xuveiro (30)ericopto (32)rinosenosede (34)palhaso (30)elicopitero (17)girrafa (33)corruja (35)granpiado (26)xinelo (30)elicopitero (3)bicicleta (19)vasora (24)ingreja (23)carangeijo (30)helicopitero (23)carangeijo (29)tanbor (15)melansia (26)xinelo (34)paliaso (32)rinoserante (35)predador (12)boboleta (24)igeiga (24)igeiga (15)melorsia (10)maracujá 86 5 (15)melorsia (22)juveiro (26)jinelo (27)cuecho (29)turbor (30)elecopito (32)renoseroite (33)curuga (34)paghaso (35)gaopiador (36)saofona (22)choveiro (35)granpiador 6 7 8 9 (24)igeiga (28)chades (30)elecopito (35)gaopiador (7)cavlo (30)elecop (23)carangueijo (9)laps (23)carangueijo (33)curuja (35)granpiador (11)elevante (14)apridor (35)grapiador (19)vassora (31)binoclo (35)grapiador (15)melhensia (30)elecopito (31)binoquio (12)boboleta (19)va (28)xadreis (30)elecopito (32)inoceronte (23)carangueijo (24)ingrega (33)curuga (19)vasora (28)chades (30)elecopito (32)renoseroite (34)paghaso (35)granpiador (19)vasora (28)chadrez (30)elecop (32)rinoseronte (14)cortador (23)escorpião (34)palhasso (35)granpiador (36)samfona (29)tanbor (28)xadres (30)elicoptero (15)melançia (17)jirafa (19)vasora (28)xadres (30)elicoptero (32)rinoseronte (34)palhaso (25)batendo (23)carangeigo (24)ingrega (29)tanbor (33)coruga (35)granpiador (10)abacachi (15)melhensia (28)xadreis (30)elecopito (31)binoquio (34)palhaso (17)zebra (24)castelo (31)pinoquio 87 10 (9)lapes (20)amito (26)ximelo (27)cueilho (28)xadreiro (30)elicomituro (33)curuja (11)ele (14)efrt (15)me (19)vasora (21)gafo (23)Ca (24)i (25)matelo (29)s (32)j (35)m (36)i 11 (9)lapes (22)choveiro (28)chadras (29)pambor (30)elitopero (31)bimocol (35)grapiador (8)mela (12)bobolata (14)aritodoelata (15)melesima (18)rota (21)cafo (22)suvero (23)gareqego (24)igaga (28)xatese (31)pimoco (32)remorate (34)palacha (36)sefona (30)elitopero (31)bimocol (35)grapiador 12 (10)abcaxi (11)elfete (12)bobolata (19)vasora (21)cafo (22)suvero (23)gareqego (24)igaga (25)matelo (27)coelo (29)tabo (30)elicoro (31)pimoco (32)remorate (12)borboletas (27)cueilho (28)xadreiro (15)melesima (19)vasora (22)xuveiro (26)ximelo (30)elicomituro (15)melesima (28)xatese (35)gapirado (23)carangejo (19)vasoura (28)chadras (30)elitopero (34)palhaso (14)aritodoelata (23)gareqego (24)igaga (33)coruga (22)suvero (24)igaga (26)xinelo (28)xatese (15)melesima (30)elicoro (19)vasora (32)ipopotamo 88 13 (9)lapes (22)choviro (23)caramgeig (27)cuelho (32)renoseronte 14 (4)pita (9)lapes (10)apacaxi (12)popoleta (17)xirafa (21)harfo (24)inquenja (29)anpo (31)dinoinoino (14)abritor de lata (23)caranquejo (32)riniseronte 15 (34)palacha (35)gapirado (36)sefona (19)vasora (22)choviro (31)binocio (23)caramgeig (11)elente (12)popoleta (14)abrido delata (22)xuviro (29)anpo (30)eliopito (32)riocarateo (36)safonao (12)boboleta (22)chuvero (27)colho (30)elecopito (31)binoclos (36)safona (30)elicopitero (34)palhasio (36)safonao (14)abrido delata (35)garnpiador (11)elefamte (15)melamsia (23)caramgeig (24)igrega (36)samfona (10)abacachi (15)melamsia (17)jirafa (19)vasora (28)chadres (30)elicopitero (32)renoseronte (34)palhaso (27)cuelio (29)anpo (33)curuja (15)melansia (22)xuviro (26)xinelo (34)palhasio (30)eliopito (28)anma (20)vasopra (35)garnpiador (19)vasoura (26)xinelo (28)xadres (32)riniseronte (30)elecopito (18)peneu 89 Tabela 12. Classificação dos tipos de erros cometidos pelos 15 participantes do grupo controle pareado pelo nível de leitura no Teste de Nomeação de Figura por Escrita (TNF1.1-Escrita). Suje itos Correspondência biunívoca grafema-fonema 1 (30)elecoptero (36)salfona 2 (32)hinocenomt e (35)granpiador (24)icreja (26)xineio (32)renoceronte 3 4 5 6 Omissão de segmentos (29)tanbo (31)binoclo (35)granpiado (26)CHINELA (29)TANDO (31)Pinoculos (36)sofona (19)vassora (15)melacia (19)VASSORA (29)TANDO (30)ELICOTero (36)sofona (14)abreto de (24)igreija Adição de segmentos Correspondência fonemagrafema dependente do contexto Correspondência fonema-grafema independente de regras Erros semânticos (23)carangueijo (32)rinoseronte (33)coruga (10)abacachi (19)vasoura (24)higreja (28)xadres (30)elecoptero (34)palhaso (15)abacachi (14)arbridor (23)carangueijo (30)elicopitero (27)coelio (30)elicopitero (29)tanbor (32)hinocenomte (35)granpiador (29)tanbo (35)granpiado (19)vasoura (30)elicopitero (24)castelo (15)melansia (17)jirafa (19)vasoura (22)xuveiro (23)ciri (26)xineio (30)elicopitero (28)dama (23)carangueijo (35)GRANPOiador (22)CHUVEIRRO (28)XADRES (30)ELICOTero (24)castelo (32)ipopotamo (35)tranpiado (19)vasoura (23)carangueijo Alterações da ordem dos segmentos (30)elicopetro Segmentações e junções indevidas de palavras (32)rino 90 lata (18)rota de mateira (21)carvo (26)jinelo (28)jadrex (29)tampo (31)pinocolo (35)tranpiado (36)samvona (21)Carfo (30)Elicopetero (33)Curuja (35)Cranpiado (36)Sonfarra (31)binocolo (35)grampiador (9)lapes (26)ghinelo (25)martlo (35)tranpiado 10 (2)pao (5)va (21)gae (27)cuelhio (28)xiadea (33)corugha 11 (14)abrador de lata (22)choveiro (31)binocolos 7 8 9 seronte (27)Coehlo (36)samvona (30)elicopetro (32)rino seronte (23)Carangejo (29)Tanbo (35)Cranpiado (15)Melansia (28)xadreis (30)Elicopetero (14)Abrido de lata (23)Carangejo (29)Tanbo (35)Cranpiado (28)xadreis (30)Elicopetero (32)Ipopotamo (36)fona (30)helicopitero (28)xadrex (14)abs (17)giafa (19)vasora (35)grapio (30)elecopitero (19)vasora (28)xadres (30)elecopitero (34)palhaso (15)melão (22)água (32)ipopotamo (2)pao (5)va (11)elef (15)melacia (19)vaçora (21)gae (22)chuvero (23)caraegejo (19)vasora (24)igreija (23)caraegejo (27)cuelhio (23)caraegeio (19)vaçora (10)melasia (18)arco (25)paul (29)paondero (23)carangueijo (28)chadreis (30)elecopitero (15)melamcia (32)renoseromte (19)vasora (28)chadreis (32)renoseromte (35)pregador 91 12 13 14 15 (32)renoseromte (32)renoceronte (33)curuja (19)vasora (22)chuvero (23)ka (30)elecopitero (21)vaghae (22)xsdaa (29)tembo (19)vasora (23)carangejo (29)tembo (33)coja (28)chadreis (23)carangueju (19)vassora (22)chuvero (30)elicopitero (34)ppppalhaso (23)carangejo (14)abridordel ata (29)tanbor (35)granpeador (19)vasora (23)ka (28)chadres (34)palhaso (30)elecopitero (34)palhasso (15)melansia (19)vasora (28)chadreis (14)corta lata (29)batuk (31)olhador (35)prendedor (36)musical (26)xinelo (30)elicopitero (32)rinoseronte (34)ppppalhaso (28)dama (17)sebra 92 Tabela 13. Classificação dos tipos de erros cometidos pelos 15 participantes do grupo controle pareado pela idade no Teste de Nomeação de Figura por Escrita (TNF1.1-Escrita). Sujei tos Correspondência unívoca grafemafonema 1 (30)helecoptero (35)grampiador 2 Omissão de segmentos Adição de segmentos Alterações da ordem dos segmentos Segmentaçõe s e junções indevidas de palavras Correspondência fonema-grafema dependente do contexto Correspondência fonema-grafema independente de regras Erros semânticos (34)palhaso (8)mia (9)lap (35)grapiador (23)carangeijo (30)elicopitero (12)broboleta (21)grafo (25)mratelo (29)tanbor (23)carangeijo (17)jirafa (30)elicopitero (19)vasoura (28)dama (32)hipopotamo 3 (23)caranqueijo (30)helicoptro (17)girrafa (24)igreija (17)girrafa (35)granpeador (19)vasoura (28)xadres (29)bateria 4 (6)çobra (16)peteça (24)egreja (31)binoculus (34)paliaco (14)abrido de lata (19)vasora (27)ccelio (29)tanbo (2)patto (27)ccelio (19)vasora (28)xadres (17)zebra (22)xuva 5 (31)binocolo (17)girrafa (23)carangueijo (30)helicopitero (6)çobra (10)abaçaxi (15)melançia (16)peteça (23)carangejo (29)tanbo (17)girrafa 6 (5)vala (35)granpiador (32)hinosseronte (35)grampiador (35)crapiador (30)helicopitero (35)granpiador (19)vasoura 7 8 (25)cabo (28)dama (29)trombone (35)ampliador (36)sanfoneta (32)hinosseronte (35)crapiador (23)carangueijo 93 9 10 (31)binoculu (33)curuja (35)granpiador (35)grampiador 11 12 (31)binócolo (35)grampiador 13 (35)granpiador 14 (35)grampiador 15 (21)gaufo (22)choveiro (20)a (25)mrtelo (31)binoclo (30)elicopetero (29)tanbor (35)granpiador (28)chadrex (23)piraia (23)carangueijo (29)tanbor (19)vassolra (30)elicoptero (36)çanfona (24)castelo (23)carangueijo (35)granpeador (27)coelinha (9)lapiz (19)vasora (30)elicopitero (23)carangeijo (19)vasora (29)tanbo (23)carangueijo (34)paalhaso (14)abridord egarafa (14)abridordegarafa (29)tanbor (35)granpiador (19)vasoura (23)carangeijo (29)tanbo (15)melançia (19)vasora (28)xadres (30)elicopitero (19)vasora (24)higreja (26)xinelo (30)elicoptero (34)paalhaso (24)castelo (30)avião (28)dama