SALA DE LEITURA: FORMANDO LEITORES LITERÁRIOS Ana Maria da Costa Santos MENIM Renata Junqueira de SOUZA Márcia JORGE Resumo: O projeto: “Sala de leitura: formando leitores literários” vem propor ações de leitura do texto literário no Centro de Estudos de Leitura e Literatura Infantil e Juvenil (CELLIJ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente. As atividades convergem em ações voltadas diretamente para alunos e professores das séries iniciais do ensino fundamental. Os objetivos gerais do projeto consistem em formar o leitor autônomo (alunos e professores das séries iniciais), através do estímulo à sensibilidade, criatividade e criticidade e da formação do gosto pela leitura, contribuindo para a construção de uma cidadania plena. Um leitor assíduo desenvolve melhor a capacidade de compreensão das situações vivenciadas no dia a dia, torna-se crítico e capaz de absorver corretamente as informações oriundas dos meios de comunicação. A capacidade de aprendizagem da criança está diretamente ligada ao contato que ela tem com a leitura e a forma didática que esta é trabalhada. Este projeto parte do princípio de que a literatura e a leitura são extremamente importantes na formação do aluno e visam o desenvolvimento, a aprendizagem e a formação da criança. Palavras-chave: leitura; literatura; formação do leitor. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA “Leitura é interpretar uma percepção sob as influências de um determinado contexto. Esse processo leva o indivíduo a uma compreensão particular da realidade.” (SOUZA, 1992:5) Essa é uma perspectiva de ordem cognitivo-sociológica, pela qual se concebe a leitura como um processo de compreensão abrangente. Sua dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos, bem como culturais, econômicos e políticos. Outra concepção de leitura, observada com maior freqüência, denota uma decodificação de signos lingüísticos, através de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta. Tal conceito, de perspectiva behavorista-skinneriana, ignora a profundidade da experiência do contato do indivíduo com os elementos da comunicação humana. No entanto, a escola prioriza a prática desta segunda leitura. Em sala de aula, a criança raramente é estimulada a prática de uma leitura prazer. Aquela que levará o aluno à “compreensão da realidade”. A biblioteca da FCT - UNESP/ Pres. Prudente, além de seus alunos e professores, atende crianças e jovens que a procuram para a realização de atividades escolares. Segundo os responsáveis pelo atendimento ao público, estes últimos chegam à 1086 biblioteca sem clareza de suas necessidades de pesquisa, sem referencial bibliográfico e sem o menor conhecimento do funcionamento da biblioteca. Além disso, não há registro de procura que não esteja vinculada a exigências que remetem crianças e jovens à utilização dos livros apenas enquanto instrumento de consulta. Se por um lado temos essa realidade que bate à nossa porta todos os dias, sabemos, através de pesquisas realizadas e/ou contato direto, que os professores de 1o grau enfrentam uma situação não menos grave. Muitos se queixam de dificuldade de acesso à literatura infantil, em virtude da desestruturação da biblioteca municipal e do reduzido (quando não inexistente) acervo da escola e da falta de formação específica sobre leitura, interesses infantis, indicações adequadas para as idades com as quais trabalham, etc. Soma-se a isso o fato de que muitos deles não gostam, não têm tempo nem o hábito de ler. GUIMARÃES (1995:88) afirma que “o ato de ler implica um mergulho na própria existência - esta considerada como produto das determinações não apenas internas, mas externas aos sujeitos - no resgate dos significados já produzidos ao longo da vida e no confronto destes com a proposta feita pelo autor. No processo que se concretiza, o sujeitoleitor recupera seus conhecimentos e crenças, implementa seu raciocínio e se reorganiza internamente, marcado por uma nova interação.” Ou seja, o ato de ler é compreendido em seu sentido de produção de significados e, por essa razão, abarca as possibilidades de utilização de diversas linguagens. Considerando que o gosto pela leitura se constrói através de um longo processo onde sujeitos desejantes encontram nela uma possibilidade de interlocução com o mundo, espera-se que o professor seja um agente fundamental na mediação entre alunos e material, um impulsionador e guia no sentido de um contato cada vez mais intenso e desafiador entre o leitor e a obra a ser lida. Para que isso se concretize, é necessário que o próprio professor se veja enquanto um sujeito-leitor, um sujeito que se sinta desafiado diante dos “objetos de leitura”, diante das diferentes linguagens. Entretanto, o quadro que se configura traduz uma situação que demanda atitudes urgentes: por um lado, professores cada vez mais ameaçados em sua condição de sujeitos-leitores e de mediadores qualificados para o ensino de leitura; por outro, alunos que percebem a biblioteca como um ambiente estranho - muitas vezes ameaçador - e vivem a possibilidade de leitura em sua dimensão mais restrita. Se entendemos leitura como um dos caminhos de inserção no mundo e de satisfação de necessidades amplas do ser humano (estéticas, afetivas, culturais, além das intelectuais), é de se esperar que as alternativas propostas nesse projeto estejam direcionadas para a superação de uma visão utilitarista das linguagens - onde é privilegiado apenas seu 1087 domínio técnico - no sentido da compreensão de que estas constituem produções humanas e, como tal, são passíveis de manipulação, construção, desconstrução e reconstrução. A biblioteca do CELLIJ tem se mostrado um local apropriado para formar a criança leitora, oferecendo espaço e recursos adequados á formação do gosto pela leitura, além de desenvolver ações que contribuam para a prática docente em sala de aula, pois prevê atividades destinadas aos professores das escolas participantes. Estamos vivendo em uma sociedade onde as crianças estão tendo pouco ou nenhum contato com as histórias sejam elas da cultura popular ou dos livros infantis, isto esta sendo ocasionado por alguns fatores como: - Longa permanência dos pais fora de casa: hoje, a maioria dos pais trabalham fora, logo, acabam tendo pouco tempo para seus filhos, pois ausentam-se de suas casas durante a maior parte do dia, tornando o espaço doméstico um local de breve encontros e relações efêmeras. - Avanço significativo dos meios de comunicações: que tendem a massificar a informação entregue as crianças sem que estas tenham tempo para refletirem sobre as histórias ouvidas. A TV, o rádio e a internet são os meios de comunicação mais eficientes no que diz respeito ao entretenimento e à informação, ou seja, estes meios de comunicação modernos estão ocupando um lugar que antes pertenciam a outras pessoas e outras práticas (contar histórias). - Jeito moderno de viver da nossa sociedade: Atualmente as pessoas conduzem sua vida de maneira muito diferente do passado: não há mais tempo para reuniões familiares, com vizinhos ou amigos e nem tampouco para troca de experiências. Comumente as pessoas vivem num grande isolamento e numa constante correria para tentar garantir ao menos a sobrevivência. Assim, parece-nos que quanto mais modernos forem os modos de vida, piores as condições de vida, não só materiais, mas também emocionais. E assim nossas histórias vão perdendo espaços e a cada dia se conhecem menos sobre elas. Este projeto de literatura infantil visa divulgar os contos infantis, mostrando o seu lado prazeroso, atrativo e divertido, além é claro do seu importante papel na construção e no desenvolvimento da criança, o que terá influencia durante toda a vida. 1088 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Na obra de literatura infantil A fada que tinha idéias, de Fernanda Lopes de Almeida, a personagem Clara Luz, de 10 anos, é uma fada diferente que vive criando mágicas pra lá de inusitadas (colorir a chuva, dar vida a bichos modelados em nuvens, organizar uma apresentação teatral com estrelas e relâmpagos…), em nome da inventividade, da transformação do que considera um “mundo parado”. Clara vivia no céu com a sua mãe, que morria de medo que a rainha das fadas descobrisse que a filha não tinha saído da Lição I do Livro das Fadas (manual de aprendizagem de condutas e regras, seguido por todas as fadas). Desta forma, podemos pensar que o Livro das Fadas seria semelhante à grande parte dos livros didáticos, determinando o que deve ser aprendido, sem que se questione o que nele está escrito, emformando o pensamento dos alunos e limitando o espaço para a diversidade de pensamento: “Não está no Livro. Não podemos fazer nada”, diz uma das fadas. (Almeida, 1989: 8) Estas inquietações causadas em relação ao livro didático, ao modo de ler proposto pelos manuais escolares, à disposição e ao oferecimento de textos fragmentados, moveram as nossas pesquisas mais recentes. Em 2001, descobrimos no Canadá um programa de leitura fundamentado na literatura (Literature based reading program). Em 2004 e 2005, aprofundamos os nossos estudos sobre o referido programa. Desde então, temos testado obras literárias para crianças e jovens sob os pressupostos teóricos do programa. Parecendo não compreender adequadamente aquilo que é a língua na sua omnifuncionalidade semiótica, os livros didáticos de Língua Materna para o 1º Ciclo em no Brasil apresentam-nos, frequentemente, e quase que exclusivamente, a língua na sua dimensão utilitária e funcional. Ainda que se possam encontrar textos literários de qualidade nestes mesmos manuais eles são, na sua grande maioria, sujeitos a cortes e recortes que destroem a sua natureza literária sendo-lhes retirado tudo aquilo que poderia oferecer alguma resistência à leitura e que contribuía para a sua polissemia. Deste modo, o texto literário é tratado como se de um objecto unívoco se tratasse. Os textos parecem ser percebidos como meros pretextos para actividades de conhecimento linguístico ou gramatical, impedindo-se, assim, uma verdadeira interacção entre o leitor e o texto. Da mesma forma, os dispositivos discursivos que acompanham estes textos literários, na sua grande maioria, não os percebem como tal pois o que é pedido ao aluno é que traduza numa linguagem utilitária o significado de determinados elementos do texto. Muitas das atividades propostas pelos manuais para uma “suposta” interpretação do texto são baseadas na identificação, repetição ou paráfrase de informação textual, encaminhando os alunos para uma interpretação única e predefinida. Estes aspectos são tanto mais graves quanto contribuem para que o aluno não contacte efetivamente 1089 com a língua literária que é um exemplar da língua no seu estado formal e proposicional mais apurado (Aguiar e Silva, 1983: 144-173). Deste modo, os manuais escolares estão negando à criança um contato fruitivo com a linguagem metafórica, recusando-lhe, por conseguinte, a possibilidade de se familiarizar com outros usos pragmáticos da língua e não conquistando uma pensamento criativo e divergente que será importante na construção de um leitor crítico e reflexivo que interaja realmente com o texto, que jogue secretamente com ele, tentando revelar os seus sentidos (Eco, 1993), que elabore e teste constantemente hipóteses (Gadamer, 1999), que seja autônomo e que tenha um papel ativo, criativo e colaborativo. Assim, eles não permitem ao aluno experimentar uma relação afetiva com o texto literário, na acepção que lhe é atribuída por Mercedes Gómez del Manzano (1987: 102). Portanto, todos os saberes que o aluno poderia desenvolver através de uma interação adequada com os textos literários são-lhe negados por estas práticas, não exercitando os saberes próprios de uma competência literária (Cervera, 1991 e 1997; Colomer, 1995 e 1998; Mendonza Fillola, 1999), que lhe ensinaria, entre outros saberes, a ler o texto de acordo com convenções específicas, como as da ficcionalidade (Schmidt, 1987) e da pluri-isotopia (Lotman, 1975), assim como lhe facultaria o acesso à partilha de uma memória cultural. As práticas perpetuadas nestes manuais, nas palavras de Glenna Davis Sloan (1991), podem ser extremamente gravosas, não contribuindo para uma motivação dos alunos que os leve a aderir voluntária e emotivamente ao texto literário, frustrando o crescimento imaginativo, recusando um ensino da leitura que se apoie na inteligência do aluno, sendo estas condições essenciais para uma genuína promoção da literatura. Neste projeto temos a intenção de abordar textos infantis através de um programa de leitura fundamentado na literatura e na perspectiva da corrente teórica do “whole language approach” (Sloan, 1991). Segundo esta corrente teórica, a aprendizagem do falar, da leitura e da escrita devem ser integradas e centradas na criança, desenvolvendo-se em situações reais, e dependendo o ensino-aprendizagem da experiência efetiva de cada grupo de crianças. Deste modo, as crianças devem procurar construir sentidos a partir de textos autênticos. Neste contexto, os manuais didáticos não são necessários mas têm que abundar materiais de leitura genuínos. Os professores, por sua vez, têm o papel de guias, facilitadores, motivadores e mentores neste processo, sendo-lhes quase que exigido que sejam abertos, organizados, flexíveis, envolvidos, interessados e entusiasmados. (Sloan, 1991: 20-28) As atividades do projeto Sala de Leitura: formando leitores literários dividemse em três tipos: as atividades antes da leitura, as atividades durante a leitura e as atividades depois da leitura, tendo cada um deles objetivos específicos. As atividades antes da leitura visam a promoção de respostas pessoais, afetivas, a ativação e construção de conhecimentos do mundo, o estabelecimento de objetivos para as 1090 atividades de leitura que lhe seguirão, o despertar da curiosidade e a motivação dos alunos para a leitura. Exemplo de algumas actividades são os guias e questionários de antecipação, a caixa (ou cesta) literária, os mapas semânticos, de contraste e de antecipação que são utilizados com o intuito de fazer com que o aluno infira informação acerca do texto antes mesmo de o ler, trazendo para o processo de leitura as suas crenças, ideologias, sentimentos e o seus conhecimentos do mundo, para que depois, durante o processo de leitura, ele possa confirmar as suas expectativas. Deste modo, o processo que antecede a leitura e a própria leitura parecem ser uma espécie de jogo entre o leitor e o texto. O lúdico abre, assim, as portas da interpretação cooperativa e imaginativa e da leitura voluntária. Citando Dionísio (1990: 116), “a leitura como um jogo deve preceder a análise refletida e parece ser até um pré-requisito para que esta tenha significado, uma vez que, sem prazer ninguém é leitor voluntário.” Se o aluno tem a possibilidade de se envolver produtivamente na construção do sentido do texto este vai sentir prazer na sua tarefa tornando-se esta mais significativa para ele. Por outro lado, as atividades durante a leitura têm como finalidades facilitar a compreensão do texto, sem que isto signifique simplificar o texto mas antes munir os alunos de “instrumentos” que lhes permitam compreendê-lo, questioná-lo, focalizar a sua atenção para que não se disperse na presença de informações variadas, encorajar reacções/participação/partilha para o surgimento de novas ideias e permitir respostas pessoais que surjam do cruzamento da informação textual com a informação do mundo históricoempirico factual. Afinal, “ler é questionar o escrito como tal, a partir de uma expectativa real (necessidade/prazer) numa autêntica situação de vida. Questionar um texto é formular hipóteses de sentido, a partir de indícios anteriormente levantados, e verificar essas hipóteses.” (Jolibert, 2003: 20) Algumas das atividades que se podem realizar neste âmbito são os círculos literários, os mapas literários e de personagens, as teias de personagens ou ainda os quadros de sentimentos e de contrastes. Ao ler uma história a criança deve desenvolver um potencial crítico que lhe permita envolver-se na história, relacionando-a com o seu mundo pois é importante que as aprendizagens sejam significativas para a criança e para que tal aconteça é necessário que elas tenham alguma ligação ao seu mundo, àquilo que a criança conhece. Pensamos que a leitura de um livro deve envolver uma conversa com as crianças sobre o lido, uma discussão da história, do ritmo, do início e do fim da mesma, das personagens, da capa, do tipo e tamanho das letras, do próprio formato do livro, entre outros aspectos relevantes, que vão permitir à criança que a partir desse momento ela possa “pensar, duvidar, se perguntar, questionar…[possa] se sentir inquietada, cutucada, querendo saber mais e melhor ou percebendo que se pode mudar de opinião…[…] POIS É PRECISO SABER SE GOSTOU OU 1091 NÃO DO QUE FOI CONTADO [ou lido], SE SE CONCORDOU OU NÃO COM O QUE FOI CONTADO [ou lido]…” (Abramovich, 2004: 143). OBJETIVOS E DESENVOLVIMENTO O projeto ora intitulado: Sala de leitura: formando leitores literários, tem como principais objetivos: - cultivar o espaço da biblioteca, através do Laboratório de Leitura, Literatura e Educação, como lugar onde a prática de leitura não esteja restrita à pesquisa e consulta, mas voltada para a satisfação de necessidades mais amplas do ser humano (culturais, afetivas, estéticas, etc.); - estimular o uso da literatura infantil como elemento essencial para a formação do “leitor mirim”; - estimular o trabalho com a oralidade no texto literário, aproveitando o universo infantil para as várias possibilidades de leitura; - formar o professor das séries iniciais como contador de histórias; - criar metodologias, junto a professores das séries iniciais, que proporcionem a formação do gosto; - acompanhar e orientar o trabalho desenvolvido por professores em sala de aula; - disseminar e multiplicar as metodologias para formação do leitor; - habilitar o aluno para consulta em bibliotecas (conhecimento de regras de funcionamento, cuidados com acervo, procedimentos para inscrição, consulta e/ou retirada de livros, etc.); - constituir acervo diversificado de literatura infantil e de material didáticopedagógico para alunos e professores; - produzir guias de leitura que auxiliem na seleção de obras literárias adequadas para o trabalho nas séries iniciais; - expandir as formas de interpretação de textos escritos para diferentes campos de linguagem (teatro, artes plásticas, música, cinema, etc.);proporcionar acesso de alunos das séries iniciais a novas tecnologias, como o computador, por exemplo, desmistificando seu uso e viabilizando-o como nova possibilidade de linguagem. O projeto vem sendo desenvolvido desde março de 2006 e tem como público alvo crianças das séries iniciais das escolas municipais e estaduais de Presidente Prudente que freqüentam semanalmente a biblioteca do CELLIJ e participam de atividades de “Hora do 1092 Conto”. Neste momento as crianças podem ouvir, interpretar e produzir um texto escrito sobre a história contada, além de aprenderem como funciona a biblioteca e poderem retirar os livros infantis. Desta forma, amplia-se a participação destas crianças nos espaços sociais de acesso aos livros e à leitura. Há paralelamente às atividades voltadas para as crianças, programa de orientação para professores, sobre literatura infantil e leitura. A orientação é dada na biblioteca infantil do CELLIJ da FCT/Unesp para todos os professores que freqüentam o projeto, trazendo seus alunos para as atividades de leitura no campus. O objetivo primordial é multiplicar e disseminar a metodologia da formação do gosto pela leitura para o dia-a-dia da escola pública, fazer com que o professor reflita sobre sua história de leitor, dê importância a esta história e conseqüentemente, valorize as atividades e o ensino da leitura em séries iniciais do Ensino Fundamental. Com a sistemática organizada e os programas de ensino voltados para a formação continuada de professores incentivadores da leitura, as atividades com os professores são desenvolvidas pela professora coordenadora do projeto, Ana Maria dos Santos da Costa Menin e pela professora colaboradora, Renata Junqueira de Souza. As atividades com as crianças são ministradas pelos alunos (2) bolsistas do núcleo de ensino, sempre sob a coordenação do professor responsável pelo projeto. A literatura infantil é apresentada como elemento essencial na Hora do Conto. Um livro, previamente escolhido de acordo com os interesses de leitura das crianças em relação ao sexo, a faixa etária, é contado. As técnicas para esta atividade, podem ser variadas: história contada, contada com gravuras, com fantoches ou bonecos, dramatizada, etc., o objetivo é único: despertar o prazer pela leitura, para então sedimentar o gosto, e formar o leitor. HORA DO CONTO: MATERIAIS E MÉTODOS Somente quando a leitura é desenvolvida com entusiasmo e com muita vontade é que ela pode então se tornar interessante e atrativa. Durante todo o tempo de realização do projeto buscou-se divulgar alguns contos literários, na espera de obter a compreensão, o interesse e o fascínio das crianças para com as historias literárias, sendo assim, também é de grande importância divulgar os autores de cada história. Mas é evidente que somente ouvir a história não é suficiente para entreter a criança, por isso junto com as histórias trabalha-se com outras manifestações da arte. O intuito de unir o lado artístico das crianças com a literatura é o de desenvolver nas mesmas a criatividade e a inspiração mostrando a elas que literatura também é arte. 1093 Este trabalho propõe descobrir como despertar o interesse das crianças pela leitura. Durante oito meses foram desenvolvidas as atividades programadas, sendo que estas previam dois momentos: - a definição da história e das atividades a serem desenvolvidas após o contar histórias: - segundo o encontro com as crianças durante o qual vivenciam as atividades previstas. Propõem-se um momento de fantasia, prazer e criatividade quanto ao ouvir as histórias e ao produzir objetos plásticos e artísticos dentro do contexto escolar e considerando o nível e o interesse das crianças. Buscou-se apresentar os contos da maneira mais interessante possível, mudando a voz de acordo com as falas, diversificando a cada semana as atividades propostas. Procura-se a cada semana trazer a sala de leitura uma nova história que trate de assuntos diferentes das anteriores, assim como também desenvolver atividades diferentes, com novas técnicas, novos modos de contar e sempre com muito animo e expectativa para com o resultado. O trabalho é realizado da seguinte forma: 1°) escolhe-se a história que será trabalhada; 2°) a técnica que será utilizada na história; 3°) estuda-se a história; 4°) conta-se a história da maneira mais envolvente possível; 5°) discute-se a história e propõe-se uma atividade sobre o livro. A escolha da história sempre está ligada à idade dos alunos, seus interesses de acordo com o sexo e a classe social. Os meninos preferem livros de aventura, viagens e exploração, já as meninas preferem romances e vida familiar. Ligada à faixa etária a preferência da criança também sofre variações. Coelho( 2002) divide a faixa etária em duas fases: - Pré-Escolar - nesta fase o livro deve conter enredo simples, vivo e atraente com situações que aproximem do cotidiano da criança (animais, brinquedos, vivência afetiva...). Este período dividi-se em duas fases: Pré-mágica (até 3 anos) onde a criança gosta de histórias de repetição e ritmo; Fase Mágica (até 7 anos) a imaginação da criança torna-se criadora e ela gosta de histórias com animais domésticos, circo, zoológico, alimentos, flores, nuvens e festas, solicitam também que as histórias sejam contadas mais de uma vez . - Escolar - As crianças gostam de histórias da fase anterior, de encantamento, contos de fadas com enredo mais elaborado e já começam a demonstrar um senso critico. 1094 As técnicas usadas para contar histórias são diversas, sendo descritas a seguir: 1) simples narrativa: é o tipo de história mais fascinante e apreciada, requer apenas a voz do narrador e sua expressão corporal, para o uso destas técnicas são indicados os contos de fadas; 2) simples narrativa com gravura: ampliam-se as ilustrações dos livros para que fique mais nítida a visualização dos desenhos. É utilizado em livros pequenos com ilustrações indispensáveis para a compreensão da história, auxilia a criança na observação de detalhes e na organização do pensamento; 3) simples narrativa com auxilio do livro: conta-se a história utilizando o livro, quando suas imagens são indispensáveis e a ilustração complementa o que esta escrito no livro; 4) simples narrativa com interferência do leitor: o narrador vai fazendo perguntas para o ouvinte e ele vai construindo o texto. Esta técnica conta com a participação ativa do ouvinte com voz ou com gestos, são utilizadas em histórias de repetição músicas ou adivinhas; 5) simples narrativa com flanelógrafo: é recomendada para histórias onde os personagens saem e entram em cena diversas vezes; 6) maquete: cria-se um cenário onde se passa a história, para poder visualizar melhor o ambiente referido. Esta técnica deve ser utilizada em histórias que não ocorrem muitas variações de espaço; 7) avental pedagógico: um avental onde haja todos os personagens e eles possam se movimentar no cenário construído no avental. Usados em histórias curtas com poucos personagens; 8) simples narrativa com desenho: o narrador vai narrando a história e construindo um outro desenho. Esta técnica desperta curiosidade no ouvinte, é muito atraente e recomendada para histórias com poucos personagens e traços rápidos. Quanto a classe social a história deve trazer para a criança um conteúdo ligado ao seu cotidiano, dentro de sua realidade. Não se deve contar a criança uma história totalmente distante de sua vida, pois isto as leva a não conseguir se envolver completamente com ela. Na discussão do livro são levantadas às questões tratadas na história. Esta conversa serve para que o contador perceba de que maneira seu ouvinte entendeu a história, serve também para reflexão e respostas de eventuais perguntas que possam surgir. É importante ressaltar que nesta atividade posterior à história o contador jamais deve apontar a moral e a ideologia apresentada, pois isto faz com que a história perca o seu encanto, na verdade o ouvinte deve ser provocado para que chegue às suas próprias conclusões. E finalmente chega o momento do lúdico e de descontração onde se propõe uma atividade que esteja ligada ao livro e ao tema que ele aborda, estas atividades são de produção artística e escrita. É enfatizada a inclusão de desenhos de acordo com as histórias, pois neles as crianças demonstram o seu ponto de vista, sua maneira de compreender e representar as histórias. 1095 Utilizando lápis de cor, canetas coloridas, papéis, tesouras e réguas, giz de cera, cartolina, as crianças se divertem realizando as atividades e sem perceber aprendem e desenvolvem melhor sua coordenação motora. FORMAÇÃO DOCENTE: ORIENTAÇÕES AOS PROFESSORES Parece-nos fundamental apostar na formação de docentes que reconheçam a importância do texto de literatura infantil enquanto veículo para o conhecimento/aprendizagem da cultura literária e da própria complexidade do ser humano (Mendonza Fillola, 1999: 12) e que sejam capazes de problematizar situações pedagógicas procurando as formas mais eficazes de criar ambientes estimuladores e enriquecedores que motivem os alunos para uma aprendizagem da língua na sua omnifuncionalidade semiótica. (Azevedo, 2003) Urge que os professores se afastem de uma tendência de repetição dos questionários/receituários publicados pelos manuais que parecem estar ao serviço de um aniquilamento de uma escrita e de uma leitura criativas por parte dos alunos. (Ceia, 1999) As ações desenvolvidas junto aos professores buscaram sensibilizar e resgatar a afetividade presente no contato com o livro e com a literatura, no contar e ouvir histórias. Além disso, buscou-se exemplificar aos professores práticas educativas com a leitura de textos literários em que o ensino da leitura e o aprimoramento da escrita fossem desenvolvidos através da literatura infantil. Realizamos reuniões de orientação previamente agendadas em que os professores puderam participar de algumas atividades planejadas e, posteriormente, poderem criar atividades similares utilizando outras obras da literatura infantil. Progressivamente, a partir das situações didáticas apresentadas, as questões teóricas sobre leitura, literatura e ensino foram discutidas e analisadas. CONCLUSÕES PARCIAIS O estímulo é muito importante para a formação do gosto da criança pela leitura, aquelas que recebem o incentivo de pais, professores e amigos são muito mais interessadas e têm uma melhor facilidade de aprendizagem, de comunicação, de entendimento.Sente-se que as pessoas em geral e, principalmente os professores, precisam fazer nascer em si o desejo de ampliar nas crianças o gosto pela leitura no seu dia-a-dia contribuindo para formar também o cidadão. Tem-se percebido um resultado muito satisfatório na realização do trabalho. Nos encontros realizados com as crianças percebemos que elas se interessam muito pelas histórias que são contadas, participam quando lhes questionamos, perguntam quando sentem alguma dúvida e se mostram extremamente felizes no momento em que chega a hora do conto. 1096 Em 2006 o projeto atendeu diversas escolas da região de Presidente Prudente, constituindo-se a biblioteca infantil do CELLIJ em local de referência quando a temática é literatura infantil e o trabalho com crianças em idade escolar. Pretendemos em 2007 ampliar essas ações e fortalecer o CELLIJ enquanto espaço de formação de crianças e professores leitores. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVICH, Fany. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 2 ed. SP.: Scipone, 2004 AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel.Teoria da literatura. Coimbra: Almedina, 1983 ALMEIDA, Fernanda Lopes de . 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