I UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Assistência à saúde em comunidades quilombolas: revisão sistemática Marcos Henrique Paraiso Silva Salvador (Bahia) Novembro, 2015 II FICHA CATALOGRÁFICA (elaborada pela Bibl. SONIA ABREU, da Bibliotheca Gonçalo Moniz : Memória da Saúde Brasileira/SIBI-UFBA/FMB-UFBA) S586 Silva, Marcos Henrique Paraiso Assistência à saúde em comunidades quilombolas: revisão sistemática /Marcos Henrique Paraíso Silva. Salvador: MHP Silva, 2015. viii; 34 fls.: il. Professor orientador: Cláudia Bacelar Batista. Monografia como exigência parcial e obrigatória para Conclusão de Curso de Medicina da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB), da Universidade Federal da Bahia (UFBA). 1. Quilombolas – saúde. 2. Comunidades vulneráveis. 3. Quilombolas – adultos. I. Batista, Cláudia Bacelar. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia. III. Título. CDU – 613.9-059.2 III UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de 1808 Monografia Assistência à saúde em comunidades quilombolas: revisão sistemática Marcos Henrique Paraiso Silva Professor orientador: Cláudia Bacelar Batista Monografia de Conclusão do Componente Curricular MEDB60/2015.1, como pré-requisito obrigatório e parcial para conclusão do curso médico da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia, apresentada ao Colegiado do Curso de Graduação em Medicina. Salvador (Bahia) Novembro, 2015 IV Monografia: Assistência à saúde em comunidades quilombolas: revisão sistemática, de Marcos Henrique Paraiso Silva. Professor orientador: Cláudia Bacelar Batista COMISSÃO REVISORA: Cláudia Bacelar Batista, Professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia. Ronaldo Ribeiro Jacobina, Professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia. Renée Amorim dos Santos, Professora do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia. Lairton Souza Borja, Doutorando do Curso de Doutorado do Programa de Pós graduação em Patologia Humana e Experimental (PPgPat) da Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia. TERMO DE REGISTRO ACADÊMICO: Monografia avaliada pela Comissão Revisora, e julgada apta à apresentação pública no VIII Seminário Estudantil de Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, com posterior homologação do conceito final pela coordenação do Núcleo de Formação Científica e de MED-B60 (Monografia IV). Salvador (Bahia), em ___ de _____________ de 2015. V “O homem é do tamanho dos seus sonhos”. Fernando Pessoa. VI Aos Meus Pais Clotilde e Miguel (in memoriam) VII EQUIPE Marcos Henrique Paraiso Silva,Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Correio-e: [email protected] Cláudia Bacelar Batista, Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA. INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) FONTES DE FINANCIAMENTO 1. Recursos próprios. VIII AGRADECIMENTOS A minha Professora orientadora, Doutora Cláudia Bacelar Batista, pelo exemplo de ser humano, pela atenção, paciência e orientação. 1 SUMÁRIO ÍNDICE DE QUADROS, GRÁFICOS E TABELAS I. RESUMO 2 3 II. OBJETIVOS 4 III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5 III.1 Definição 5 III.2 Histórico 5 III.3 Condição atual 6 III.4 Saúde em Comunidades Quilombolas 7 IV. METODOLOGIA 10 IV.1 Desenho do estudo 10 IV.2 Amostra 10 IV.3 Local 10 IV.4 Estratégia de Busca 10 IV.5 Critérios de Inclusão 11 IV.6 Critérios de exclusão 11 IV.7 Seleção dos artigos 11 IV.8 Aspectos Éticos 12 V. RESULTADOS 13 V.1. Artigos encontrados 14 V.2. Condições sanitárias e ambientais das comunidades 16 V.3. Perfil Nutricional e Antropométrico 21 V.4. Acesso à Saúde 22 V.5. Perfil educacional 25 VI. DISCUSSÃO 27 VII. CONCLUSÕES 30 VIII. SUMMARY 31 IX. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 32 2 ÍNDICE DE FLUXOGRAMA, QUADROS E TABELAS FLUXOGRAMA 1. Descrição da busca de dados 14 QUADROS QUADRO 1. Características Principais dos estudos 15 QUADRO 2. Condições sanitárias e ambientais das comunidades quilombolas 16 QUADRO 3. Estudos com enfoque no perfil nutricional e antropométrico 21 QUADRO 4. Estudos relativos ao acesso à saúde 22 QUADRO 5. Estudos com enfoque no perfil educacional da população adulta 25 TABELAS TABELA 1. Características da população estudada, projeto COMQUISTA 19 TABELA 2. Distribuição dos adultos e idosos quilombolas... 20 TABELA 3. Boqueirão Perfil de utilização de serviços de saúde na comunidade quilombola 24 3 I. RESUMO Assistência à saúde em comunidades quilombolas: revisão sistemática. Objetivo: Revisar a literatura a fim de avaliar a situação da saúde do adulto em comunidades quilombolas. Introdução: As comunidades quilombolas são grupos étnicos-raciais, com ancestralidade negra e auto definidas pela relação cultural e territorial. A literatura sobre o uso de serviços de saúde pela população quilombola no Brasil é escassa e suas condições de saúde são pouco exploradas. Metodologia: Foram utilizadas fontes bibliográficas, tais como livros e artigos científicos, pesquisadas nas fontes de dados: SCIELO, PUBMED/MEDLINE e LILACS. A fim de corroborar os resultados encontrados na literatura, foram usados dados de sites de órgãos públicos, tais como DATASUS e IBGE, utilizando palavras-chave combinadas. Foram aceitos artigos em inglês, português e espanhol, no período de 2003 a 2014. Resultados: Foram selecionados 10 trabalhos que preencheram os critérios de inclusão e os objetivos da revisão. Discussão: A literatura demonstra que ainda existe uma grande disparidade na atenção à saúde no Brasil. A deficiência das condições de saneamento, a inadequação das condições de habitabilidade, dificultam e/ou impossibilitam a promoção da saúde. A carência de serviços de saúde e a condição histórica de exclusão social constituem importantes fatores condicionantes de vulnerabilidade, favorecendo a instalação de diversos agravos à saúde. Conclusões: As condições ambientais e sanitárias da população quilombola ainda são bastante precárias. Este estudo mostra a vulnerabilidade da população quilombola no Brasil e destaca a necessidade da realização de estudos para caracterizar os aspectos epidemiológicos, sócio-demográficos e ecológicos envolvidos. Palavras-chave: 1. Quilombolas; 2. Comunidades vulneráveis; 3. Quilombolas adultos. 4 II. OBJETIVOS Principal Revisar a literatura a fim de avaliar a situação da saúde do adulto em comunidades quilombolas. Secundários 1- Constatar o real alcance do SUS nas comunidades quilombolas. 2- Conhecer quais os serviços de saúde são oferecidos a esta população. 3- Verificar as condições ambientais, sanitárias e acesso aos bens coletivos das comunidades quilombolas. 5 III. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA III.1. Definição As comunidades quilombolas são consideradas grupos étnico-raciais. Segundo os critérios próprios de auto atribuição, são comunidades com trajetória comum, modo singular de tratar as relações territoriais, de ancestralidade negra e história de resistência à opressão, desde o período escravocrata (11, 12). III.2. Histórico A expressão quilombo vem sendo usada desde o período colonial. Tem sua etimologia nos povos de línguas bantu (kilombo), da África Central nos séculos XVI e XVII. No início era uma associação para homens que passavam por rituais de iniciação, com objetivo de integrá-los a uma organização de guerreiros “invulneráveis” (1, 27). O Conselho Ultramarino Português designava o quilombo como “toda habitação de negros fugidos” (30). À semelhança dos “kilombos” africanos, também recebiam outras etnias, como índios e brancos pobres. Locais de livre manifestação cultural e religiosa, essas comunidades organizavam-se de formas e proporções diferentes, de acordo com a maior ou menor resistência às opressões impostas pela sociedade ou regimes políticos (23). O quilombo brasileiro é inspirado no quilombo africano, constituído pelos negros para se opor a uma estrutura escravocrata, pela luta de uma sociedade livre e menos desigual (20). O Quilombo mais conhecido na época da escravatura brasileira foi Quilombo dos Palmares. Formado no século XVI por cerca de 30 mil pessoas, situado no interior do Estado de Alagoas (Brasil) (1, 23, 27). 6 Apesar dos quilombos terem surgido na época escravagista, muitos deles formaram-se após a assinatura da Lei Áurea (1888) que, muito embora extinguisse a escravidão, não considerou a questão da sobrevivência dos ex-escravos. Assim essas organizações continuaram a ser a única forma de viver em liberdade (30). Na atualidade, os territórios que compõem as chamadas comunidades quilombolas constituíram-se então a partir de uma grande diversidade de processos: as fugas com ocupação de terras livres e isoladas, heranças, doações, recebimento de terras como pagamento por serviços prestados ao Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior das grandes propriedades, a compra de terras (29). Foram reconhecidas oficialmente pelo Estado brasileiro em 1988, principalmente com a afirmação de seus direitos territoriais, por meio do Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição (ADCT), que traz: Aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos (6). As comunidades quilombolas despertam uma série de questões socioeconômicas, espaciais, jurídicas e culturais que fazem parte da discussão sobre o que representam os quilombos contemporâneos na atualidade e sobre a sua efetiva inserção cidadã (7). Em consonância com esse processo, em 2001 durante a II Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Xenofobia e Intolerância Correlata foi elaborada a Declaração de Durban, marco do reconhecimento do racismo e da discriminação racial a que estão submetidos os afrodescendentes em todo o mundo (28). No Brasil, tal Declaração estimulou a implantação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Desse 7 modo, foi lançado o Programa Brasil Quilombola que tem por objetivo apoiar as comunidades quilombolas no que tange a regularização da posse territorial, seu desenvolvimento econômico e a implantação de infraestrutura necessária à vida digna (30). III.3. Condição atual Estima-se que existam mais de três mil comunidades quilombolas distribuídas nas cinco regiões do país. A Fundação Palmares mapeou 3.254 comunidades no Brasil (13, 30). A região Nordeste é a que apresenta a maior quantidade de comunidades quilombolas, destacando-se o Estado da Bahia (Brasil) com 584 comunidades (7, 20). III.4. Saúde em comunidades quilombolas As diversas definições de determinantes sociais de saúde (DSS) expressam, com maior ou menor nível de detalhe, o conceito ainda generalizado de que as condições de vida e trabalho dos indivíduos e de grupos da população estão relacionadas com sua situação de saúde. Para a Comissão Nacional sobre os Determinantes Sociais da Saúde – CNDSS (2007), os DSS são os fatores sociais, econômicos, culturais, étnico-raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população. A Organização Mundial da Saúde – OMS (2008) adota uma definição mais simples, segundo a qual os DSS são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham (17, 21). O principal desafio dos estudos sobre as relações entre determinantes sociais e saúde consiste em estabelecer uma hierarquia entre os fatores mais gerais de natureza social, econômica, política e as mediações através das quais esses fatores incidem sobre a situação de saúde de grupos e pessoas, já que a relação de determinação não é uma 8 simples relação direta de causa-efeito. Inegável é, portanto, que grupos que foram historicamente perseguidos e/ou excluídos, enfrentam dificuldades quanto ao acesso em saúde, bem como acesso aos outros bens coletivos e ao exercício da cidadania (17, 21). Com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, o reconhecimento constitucional da saúde como direito se deu em um contexto desfavorável à expansão de políticas sociais, de caráter equânime e universal. A política nacional de saúde foi marcada por uma fragilidade do planejamento integrado e pela preponderância de estratégias de curto prazo, ou seja, ausência de plano nacional de saúde que explicitasse o diagnóstico situacional, diretrizes, prioridades e recursos de forma abrangente. Assim, as populações alijadas dos processos de crescimento social e econômico continuaram à margem desta nova realidade, inclusive no direito constitucional de acesso integral à saúde (25, 31). Em 2004 tem início a política de inclusão da população quilombola com a Portaria do Ministério da Saúde nº 1.434, de 14/7/2004, em forma de criação de equipes de estratégia da saúde para as comunidades quilombolas. Porém, é preciso ampliar a discussão do direito à saúde. Premissa básica do SUS, o acesso integral e universal passa pelas condições sociais e econômicas da população e não apenas pela condição étnica. O acesso pleno e equitativo aos serviços públicos de saúde e de qualidade, a universalidade do SUS ainda não se efetivou na prática (28, 33). Como forma de reconhecimento das necessidades das comunidades quilombolas, o Governo Federal lançou em 2004, o programa Brasil Quilombola, incluindo em suas ações e propostas o Plano de Aceleração do Crescimento, PAC Quilombola, centrado em obras de saneamento e infraestrutura. Executado pelo Ministério da Saúde, o PAC Quilombola nos problemas dirigidos à saúde tem as ações voltadas à idéia de incentivo 9 à equidade, por meio da extensão da cobertura de ações já existentes, tais como o Programa de Habitação e Saneamento, as ações de segurança alimentar e nutricional e a Estratégia de Saúde da Família (ESF). Além disso, fala-se também na realização de oficinas de mobilização social e educação em saúde (5, 8, 9, 11). A literatura sobre o uso de serviços de saúde pela população quilombola no Brasil é escassa e suas condições de saúde são pouco exploradas. Não obstante, os trabalhos disponíveis demonstram que esse grupo ainda vive em situação de vulnerabilidade, fruto de um processo histórico escravocrata, acarretando desigualdades sociais, econômicas, políticas e na saúde, bem como dificuldade e menor acesso aos bens e serviços públicos (18). Apesar dos avanços e melhorias na área da saúde, a exemplo da redução nas taxas de mortalidade e aumento na expectativa de vida, a população negra ainda apresenta altas taxas de morbimortalidade quando comparadas com as taxas da população em geral. Além disso, verifica-se que, apesar da melhora em alguns indicadores de saúde, as desigualdades étnicas e raciais ainda permanecem (10). Diante da situação de vulnerabilidade da população negra e em particular das comunidades quilombolas, aliada à escassez de publicações nessa área do conhecimento, é significativa a necessidade de trabalhos que tratem, apontem, e tornem conhecidas as condições de saúde em comunidades quilombolas, tendo em vista a formação daqueles que serão os atores sociais responsáveis pelo cuidado à saúde, pelas pesquisas na área biomédica e na implementação das políticas públicas de saúde. 10 IV. METODOLOGIA IV.1. Desenho do estudo Trata-se de uma revisão sistemática sem metanálise, sobre o acesso à saúde de população vulnerável, neste caso a população quilombola. Foram utilizadas fontes bibliográficas, tais como livros e artigos científicos, disponíveis nas seguintes bases de dados: Lilacs, Pubmed/MedLine, Scielo. A fim de corroborar os resultados encontrados na literatura, foram usados dados de sites de órgãos públicos, tais como DATASUS e IBGE. IV.2. Amostra Por meio da busca sistematizada, foram selecionados 10 artigos científicos publicados no período de janeiro de 2003 a junho de 2014. IV.3. Local O estudo foi desenvolvido na Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Medicina da Bahia. IV.4. Estratégia de busca As bases científicas utilizadas para pesquisa foram o PUBMED (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/), o SCIELO (http://search.scielo.org/index.php) e o LILACS (http://lilacs.bvsalud.org). Para pesquisa de literatura na base SCIELO foram utilizadas as palavras “quilombolas” e “adultos”, “saúde” e “comunidade vulnerável” e também os termos “quilombolas” e “saúde” com o operador booleano “and”. Na base de dados PUBMED, foram utilizadas as palavras “quilombola”, “adult” e “quilombola community”. Também se utilizando o operador boleano “and”. Por fim, foi realizada 11 uma pesquisa na base de dados LILACS com a palavra “quilombola”, e com os descritores “quilombolas” e “saúde”. IV.5. Critérios de inclusão Foram incluídos nesta revisão os artigos científicos publicados no período de janeiro de 2003 a junho de 2014, nos seguintes idiomas: português, inglês e espanhol. Foram aceitos trabalhos com desenho do estudo de corte transversal, coorte, relatos de caso e relatos de experiência, além de teses de mestrado e doutorado. O trabalho só foi incluído no estudo quando tratava de comunidades quilombolas brasileiras, de tema relacionado à saúde, nas áreas de medicina, nutrição, saúde coletiva ou outras especialidades, sempre com enfoque no acesso à saúde. IV.6. Critérios de exclusão Foram excluídos estudos realizados em comunidades quilombolas voltados à área de saúde, mas com foco específico em um determinado tema, como saúde da criança, saúde da mulher e enfoque sobre patologias específicas, a exemplo de HIV, bem como a literatura que não teve qualquer relação com saúde e seus determinantes na população adulta das comunidades quilombolas. Artigos em duplicidade só foram contabilizados uma única vez. IV.7. Seleção dos artigos Utilizados os termos da pesquisa acima descritos e a partir dos resultados, filtrados por idioma e período de tempo foram escolhidos os artigos pelos títulos e resumos. Excluindo-se as publicações duplas (mesmo artigo em revistas diferentes) ou cujo título e resumo não correspondiam ao objetivo da revisão sistemática. Depois da 12 seleção pelos títulos e resumos, os artigos foram lidos para avaliação completa e verificação de elegibilidade, a fim de determinar o número de artigos para análise qualitativa. IV.8. Aspectos éticos Por se tratar de uma revisão sistemática, esse trabalho não necessitou de aprovação no comitê de ética em pesquisa. 13 V. RESUTADOS V.1. Artigos encontrados Aplicando os critérios metodológicos acima descritos, utilizando o descritor “quilombola”, na base de dados Scielo foram encontrados 52 artigos. Após leitura do título e do resumo, apenas 5 artigos foram selecionados, por serem compatíveis com os critérios de inclusão. Ainda nesta base de dados com a expressão “quilombolas” e “saúde”, usando o operador booleano “and” nenhum artigo foi encontrado. Na mesma base de dados, agora utilizando a expressão “saúde” e “comunidade vulnerável”, e a expressão “quilombolas” e “adultos” ambas com o operador booleano “and”, nenhum artigo foi encontrado. Com a palavra “quilombola,” na base de dados Lilacs foram encontrados 62 artigos, dos quais 8 trabalhos foram selecionados para a revisão. Entretanto 4 deles já haviam sido selecionados na base Scielo. Dessa forma, após leitura do título e resumo foram selecionados 4 artigos para a revisão. Nesta mesma base de dados, com as expressões, “quilombolas” e “saúde”, utilizando o operador booleano “and” foram encontrados 27 artigos, sendo elegíveis 5 artigos. Entretanto como também se encontravam em outras bases de dados, já haviam sido selecionados. Na pesquisa realizada na base de dados PUBMED, com a palavra “quilombola”, utilizando o operador booleano “and”, foram encontrados 15 artigos. Após leitura do título e do resumo, nenhum artigo foi selecionado por inadequação aos critérios de inclusão. Ainda nesta base de dados, com as palavras “adult” e “quilombola community”, utilizando o operador booleano “and”, foi encontrado 1 artigo, mas não se enquadrava nos critérios de inclusão. Utilizando as palavras “quilombola” e 14 “community”, utilizando o operador booleano “and”, foram encontrados 7 artigos. Após leitura do título e do resumo, nenhum artigo foi incluído na revisão. Um artigo não encontrado na busca, mas referenciado nos artigos selecionados e de grande relevância na literatura sobre o tema, foi incluído adicionalmente (FLUXOGRAMA 1). 15 Portanto, foram incluídos 10 artigos para esse trabalho (Vide Quadro 1). 16 V.2. Condições Sanitárias e Ambientais das comunidades Quilombolas Dos 10 estudos coletados, seis relatavam as condições sanitárias e ambientais a que estavam submetidos os habitantes das comunidades quilombolas. 17 O estudo realizado na Comunidade Quilombola de Caiana dos Crioulos, Paraíba, Brasil (32) avaliou as condições sanitárias e ambientais da região e o possível impacto na saúde dos moradores. Estimou-se uma comunidade formada por 128 famílias, que totalizam, aproximadamente 562 pessoas. Sendo constituída por 44,45% de crianças e adolescentes de zero a dezoito anos; a população de 19 a 23 anos compreende 10,25%; a população adulta corresponde a 32,95%; pessoas com mais de 60 anos compõem 12,4% da população. Com relação à caracterização habitacional e condições sanitárias, a maioria das casas eram edificadas em taipa, ou seja, com estrutura de madeira e enxertadas com barro. Em 100% das residências não havia banheiro no seu interior. Em relação à eletrificação constatou-se que 99,9% das casas possuíam o serviço de energia elétrica. Entretanto tal resultado não foi observado no que tange o abastecimento de água, quase a metade das casas de Caiana (46,1%) é suprida por água proveniente de 18 barragens, seguido da água retirada de poços (14,1%), cisternas (16,4%), cacimbas (8,6%) e poços/nascentes (8,6%). A comunidade também não dispõe de depósito nem serviço de coleta de lixo, sendo comum o descarte do lixo em terrenos próximos às casas. O estudo realizado na comunidade quilombola Boqueirão, Vitória da Conquista, Bahia (Brasil) apresentou dados semelhantes (2). A população desta comunidade é de 467 indivíduos, pertencentes a 117 famílias. Constituída predominantemente por jovens ou adultos (58% dos indivíduos, entre 13 e 59 anos), seguidos de crianças (32,3% dos indivíduos, abaixo de 12 anos) e idosos (9,7% dos indivíduos, acima de 60 anos). Quanto às residências, 82,9% destas possuíam parede de adobe, 84,4% piso de cimento ou terra e todas eram recobertas por telhado de barro, 80% possuíam instalação elétrica, 88% não possuíam água encanada, sendo os poços, cisternas ou açude (aguada) as principais fontes de obtenção de água. Além disso, 75,3% das residências não possuíam sanitários e 43,7% dos entrevistados declararam que a eliminação dos dejetos sanitários é feito na superfície do solo ou em valas no peri-domicílio. Não existe coleta de lixo, e os resíduos produzidos na comunidade, são queimados por 94,2% da população ou jogados em terrenos baldios. Por sua vez, o Inquérito de Saúde realizado em Comunidades Quilombolas de Vitória da Conquista, Bahia, Brasil (4) evidenciou condições sanitárias e ambientais semelhantes, como mostra a TABELA 1. Este estudo mostrou que somente 2,3% das residências recebiam água da rede geral de abastecimento, 90,6 % dos moradores utilizavam água proveniente de poços, nascente, cisternas, tanques e açudes e 7,1% utilizavam água de outra fonte. Apenas 9,7% tinham esgotamento sanitário pela rede 19 geral de esgoto ou fossa séptica, nenhum domicílio apresentou coleta regular como destino do lixo. O estudo realizado na população quilombola de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, Brasil (18), também aborda as condições sanitárias e ambientais. O estudo apontou que a maioria dos domicílios apresentavam paredes externas revestidas de adobe (71,1%), (94,6%) possuíam energia elétrica, e (93,4%) queimavam ou enterravam o lixo. O abastecimento de água era feito principalmente por meio de tanque/açude/aguada (39,7%), e apenas 2,3% dos domicílios recebiam água da rede geral de abastecimento. Outro estudo que avalia as condições sanitárias e ambientais foi realizado com populações remanescentes de quilombos do município de Santarém, Pará, Brasil (16). A maior parte das pessoas tinha sanitário (88,2%) nos seus domicílios, porém, eram fossas rudimentares. Do total, 25,7% pessoas moravam em domicílios com apenas um 20 cômodo. A maioria tinha como abastecimento hídrico o rio ou o igarapé (44,5%), seguido de 30,4% que se abasteciam através de poço ou cacimba. A TABELA 2 mostra o resultado completo desse estudo. TABELA 2. Distribuição dos adultos e idosos quilombolas, segundo variáveis socioeconômicas e características dos domicílios (n=533), Santarém, Pará, 2003 – 2004. Fonte: Guerrero (2007) 21 Condições socioeconômicas e sanitárias semelhantes foram encontradas no estudo realizado em comunidade quilombola localizada no distrito de Tijuaçu, Senhor do Bonfim, Bahia (Brasil) (26). O estudo mostrou que 94,3% das casas não possuíam sistema de esgotamento sanitário, 53,7% não apresentavam sanitários no interior da residência e 65,4% não possuíam água encanada. V.3. Perfil Nutricional e Antropométrico Dois artigos selecionados para pesquisa abordavam questões sobre o perfil nutricional e dados antropométricos da população quilombola. Em inquérito alimentar realizado na comunidade de Limoeiro de Bacupari, Rio Grande do Sul, Brasil (14), a pesquisa foi realizada por meio de um questionário aplicado a 83 adultos com idade média entre 42 a 62 anos , 87% da população. O estudo revelou que os alimentos mais consumidos eram o arroz (29%) e o feijão e as carnes (28,75%). Quanto ao alimento utilizado entre as refeições principais, o mais utilizado deles foi a bolacha (31,4%), seguida por frutas com 25% e salgadinhos com (10,2%) O estudo realizado no município de Santarém, estado do Pará, Brasil (16), avaliou o perfil antropométrico de adultos e idosos e sua relação com as condições de vida dessas duas faixas etárias. Participaram do estudo 533 indivíduos com idade igual 22 ou superior a 18 anos, pertencentes a seis comunidades quilombolas diferentes do município. Cerca de 65,6% ou 350 indíviduos estavam assentadas em região de terra firme. As outras comunidades estavam localizadas em região de várzea. Foram realizadas medidas antropométricas, segundo as recomendações do manual “Pesar e Medir” do Ministério da Saúde (25). Observou-se baixo peso em quase toda população idosa. Já entre a população adulta destacou-se de modo significativo à ocorrência de obesidade. V.4. Acesso à Saúde Quatro estudos abordaram o acesso à saúde nas comunidades quilombolas, todos de caráter quantitativo. O estudo realizado na comunidade quilombola no município de Bias Fortes, região da Zona da Mata no Estado de Minas Gerais, Brasil (3), investigou as dificuldades e limitações de acesso à saúde desta população. Participaram deste estudo 391 indivíduos que constituíram a população-alvo investigada. O estudo mostrou que esta comunidade contava com uma unidade de Atenção Primária à saúde, atendimento 23 médico e odontológico, oferecidos pela Estratégia Saúde da Família (ESF). No entanto, o atendimento não era diário, tampouco regular. Outro estudo foi realizado em cinco comunidades quilombolas da região sudoeste da Bahia, Brasil (18). O objetivo deste trabalho foi estimar a prevalência e identificar os fatores associados à utilização dos serviços de saúde na população. Participaram desse estudo 797 indivíduos. Ao todo, 455 quilombolas usaram os serviços de saúde nos 12 meses que antecederam às entrevistas. Para conseguir o atendimento, agendavam a consulta previamente (39,1%) ou foram direto ao serviço de saúde (33,8%). Foi dito por 52,5% dos indivíduos que esperaram cerca de 30 minutos para serem atendidos. Considerando o atendimento de saúde recebido, 6,4% dos quilombolas relataram ter sofrido algum tipo de discriminação e 79,8% avaliaram o serviço como bom ou muito bom. O estudo também evidenciou que apenas três comunidades possuíam uma unidade básica de saúde em seus territórios. Nas demais comunidades, os procedimentos de saúde eram realizados nas escolas ou na casa do agente comunitário de saúde. O acompanhamento pela ESF obedecia a uma programação prévia mensal, em escala de rodízio. Outro estudo que analisou o acesso à saúde foi feito sob o enfoque da Bioética de Intervenção (34). Realizado na comunidade quilombola Kalunga no Estado de Goiás (Brasil) teve predomínio de participantes do sexo masculino, com idade entre 51 e 60 anos. A assistência à saúde é realizada pela ESF, sendo o Agente Comunitário de Saúde (ACS) responsável pelo acompanhamento diário do estado de saúde nesse quilombo. Entretanto o estudo evidenciou a precariedade dos serviços de saúde, número reduzido 24 de unidades básicas de saúde, ESF com baixa cobertura, ausência dos profissionais de nível superior, a saber: médicos, enfermeiros e odontólogos. O estudo realizado na comunidade quilombola Boqueirão, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil (2) mostrou que a atenção à saúde depende quase que exclusivamente do SUS (vide TABELA 3). Dentre os indivíduos entrevistados, 95,5% declararam a utilização do SUS. Quando adoecem, os profissionais mais procurados são os agentes de saúde municipais (73,3%), seguidos de médicos (17,6%), enfermeiros (8,4%) e demais profissionais (0,7%). Quanto ao acesso a medicamentos, a maioria da população declara adquiri-los no posto de saúde. TABELA 3. Perfil de utilização de serviços de saúde na comunidade quilombola, Boqueirão, Vitória da Conquista, Bahia. Fonte: Amorim (2013) 25 V.5. Perfil educacional Quatro estudos abordaram a ligação entre o perfil educacional das comunidades quilombolas e os determinantes de saúde. Três pesquisas foram de caráter quantitativo e uma de caráter descritivo. O estudo realizado com populações remanescentes de quilombos em Santarém, Pará, Brasil (16) mostra que dos 533 indivíduos quilombolas que participaram do estudo, 30,2% eram analfabetos e 35,2% não conseguiam ler ou escrever um bilhete. Os que cursaram o ensino fundamental completo eram 56,8% e apenas 4,3% tinham o ensino médio completo. O estudo realizado em comunidades quilombolas sobre o enfoque da bioética (34), também avaliou o perfil educacional dos quilombolas. Neste estudo, a maior parte dos entrevistados tinha apenas o ensino fundamental incompleto. O estudo constatou 26 também deficiências no sistema educacional, condizendo com o baixo nível de escolaridade. Resultado semelhante foi encontrado na pesquisa realizada na comunidade quilombola Boqueirão, Vitória da Conquista, Bahia, Brasil (2). O estudo apontou baixo índice de escolaridade. Cerca de 60,4% da população, 284 indivíduos se declararam analfabetos ou com ensino fundamental incompleto. Tinham ensino fundamental completo ou nível médio incompleto 101 indivíduos (21,6%) e apenas 13 indivíduos (2,8%) possuíam ensino secundário completo. Outro estudo que aborda o perfil educacional foi realizado em Minas Gerais, Brasil (26), este estudo teve caráter descritivo. Mostrou que neste Estado brasileiro, a educação escolar destinada à população dos quilombolas é marcada ou pela inexistência ou pelo funcionamento precário das escolas das comunidades. A maioria não tem uma estrutura física adequada, funcionando ao ar livre ou em prédios adaptados cedidos pela Igreja Católica. 27 VI. DISCUSSÃO Percebe-se, inicialmente, que a literatura sobre o uso de serviços de saúde pela população quilombola no Brasil é escassa e menor ainda a quantidade de estudos relativos às condições de saúde da população adulta das comunidades quilombolas. Quanto às condições habitacionais e sanitárias das comunidades quilombolas, apesar do pequeno número de artigos elegíveis para essa revisão, a literatura demonstra que ainda existe uma grande disparidade na Atenção à Saúde no Brasil. Observa-se que a deficiência das condições de saneamento, a ausência ou insuficiência dos serviços públicos de tratamento da água e esgoto, a inadequação das condições de habitabilidade dos domicílios do ponto de vista de higiene e qualidade de vida, dificultam e/ou impossibilitam a promoção da saúde, provocando um estado de vulnerabilidade dessa população. De forma geral, as pesquisas realizadas em comunidades quilombolas demonstram alta prevalência de problemas básicos de saúde ligados às precárias condições de vida e moradia, à ausência de saneamento básico e ao acesso restrito à educação e serviços de saúde (4). São evidentes, desde a antiguidade os efeitos na saúde provocados pelas condições ambientais e sanitárias (15). Já é compreendido há tempos que diversas patologias como as enteroparasitoses e a diarreia ocorrem em virtude das precárias condições sanitárias, de moradia e das deficiências alimentares (2). Quando analisamos o perfil nutricional e as condições antropométricas percebemos que a situação nutricional das comunidades quilombolas deriva de um complexo processo histórico que envolve fatores socioeconômicos, geográficos e 28 ambientais, que vêm gerando precárias condições de vida e situação de vulnerabilidade frente aos agravos à saúde. Fato que corrobora com os dados encontrados por (Guerrero, 2007), a deficiência energética crônica nos idosos são reflexos das precárias condições de vida em que vivem nas comunidades, especialmente os moradores das áreas de várzea. Esta situação de insegurança alimentar e nutricional termina por favorecer o risco de sofrer baixo peso e comprometer a capacidade funcional para realizar atividades do cotidiano, como hábitos alimentares e estilos de vida. Embora o percentual da população com risco de baixo peso seja baixo, é um resultado relevante. Isto porque o baixo peso é um fator determinante da instalação e permanência de doenças, risco de óbito, diminuição da capacidade funcional e, por conseguinte, da precária qualidade de vida deste grupo populacional (16). Quanto ao acesso e a utilização de serviços de saúde pela população quilombola, os estudos evidenciaram que na população quilombola, o SUS é o principal responsável pelo financiamento da utilização dos serviços de saúde, do mesmo modo que para a população brasileira (58,6%) e do Nordeste (71,1%) (18). De fato, o SUS tem avançado no cumprimento dos seus princípios e na produção de serviços, mas ainda são observadas desigualdades geográficas e sociais no acesso, utilização e qualidade dos serviços de saúde no Brasil, sobretudo, quando as análises são estratificadas segundo a raça/cor e etnia (18). Específicamente no caso das populações quilombolas, a carência de serviços de saúde e a condição histórica de exclusão social constituem importantes fatores condicionantes de vulnerabilidade, favorecendo a instalação de diversos agravos à saúde (16). 29 O direito a saúde garantido pela Constituição Federal de 1988 e o princípio da equidade um dos princípios do SUS, não tem sido suficientes para assegurar a comunidade quilombola uma política pública eficaz (32). As desigualdades em saúde refletem, dominantemente, as desigualdades nas ações de atenção, no uso de serviços e na distribuição dos recursos (34). No que se refere ao perfil educacional, apesar dos poucos artigos relativos ao tema, nota-se uma dificuldade de acesso à escola, bem como a conclusão do ciclo escolar. Em qualquer sociedade, o sistema educacional é um poderoso agente de inclusão social e de promoção da igualdade. O estudo realizado por (Lopes, 2005) mostra que embora a escolaridade não seja a variável com maior poder explicativo no desencadeamento dos processos de adoecimento, ela figura como elemento de suma importância ao se tratar do acesso aos serviços, da comunicação com o profissional de saúde, em especial com o médico, da conseqüente efetividade na prevenção, tratamento e cura de doenças, bem como no que se refere aos processos de ressignificação, por parte da população, das noções de saúde e doença. Os estudos mostram uma alta taxa de analfabetismo nesta população, fato que corrobora com os dados encontrados no banco de dados do IBGE. De acordo com o último recenseamento realizado em 2010, a taxa de anafalbetismo entre os indivíduos que se declararam de cor “preta” foi de 14,4%, distante dos 5,9% dos que se consideraram de cor “branca” e estando próximo ao número de 13% dos que se declararam “pardos” (19). Tal realidade expressa a vulnerabilidade da população quilombola no Brasil e evidencia a necessidade da realização de estudos epidemiológicos representativos que melhor caracterizem a situação de saúde dessa população (4). 30 VII. CONCLUSÕES 1. É muito escassa a literatura sobre o uso de serviços de saúde pela população quilombola no Brasil. 2. As condições ambientais e sanitárias da população quilombola ainda são bastante precárias. 3. As situações relatadas apontam uma dificuldade de acesso à escola, bem como a conclusão do ciclo escolar. 4. O acesso à saúde dessa população ocorre de maneira precária. 5. É necessário a construção e aperfeiçoamento de políticas públicas de saúde que sejam capazes de melhorar as condições gerais de vida dessa população. 6. Este estudo mostra a vulnerabilidade da população quilombola no Brasil e destaca a necessidade da realização de estudos voltados para caracterizar os aspectos epidemiológicos, sócio-demográficos e ecológicos envolvidos. 31 VIII. SUMMARY Health care in maroon communities: a systematic review. Objective: To review the literature to assess the state of adult health in maroon communities. Introduction: The maroon communities are ethnic-racial groups, with black ancestry and self-defined by cultural and territorial relationship. The literature on the use of health services by the quilombola population in Brazil is scarce and their health conditions remain underexplored. Methodology: bibliographic sources were used, such as scientific books and articles, searches for data sources: SCIELO, PUBMED/MEDLINE and LILACS. In order to corroborate the results found in the literature, they were used by public bodies’ sites data such as DATASUS and IBGE, using combined keywords. Articles are accepted in English, Portuguese and Spanish, from 2003 to 2014. Results: We selected 10 studies that met the inclusion criteria and the review objectives. Discussion: The literature shows that there is still a wide disparity in Health Care in Brazil. The deficiency of sanitation, the inadequacy of living conditions difficult and/or impossible health promotion. The lack of health services and the historical condition of social exclusion are important determinants of vulnerability factors, favoring the installation of various health problems. Conclusions: The environmental and health conditions of the quilombola population are still quite precarious. This study shows the vulnerability of quilombola population in Brazil and it highlights the need for studies aimed at characterize the aspects epidemiological, socio-demographic and ecological involved. Keywords: 1. Quilombolas; 2. Vulnerable communities; 3. Quilombolas adults. 32 VIII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. A cor da cultura [Internet]. Programas [acesso em 2013 Dez 02]. Disponível em: www.acordacultura.org.br. 2. Amorim MM, Laize TL, Silva RAA, Gestinari RS, Figueiredo TB. 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