UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA INSTITUTO DE QUÍMICA DE ARARAQUARA LUMINESCÊNCIA EM SISTEMAS COLOIDAIS POLIFOSFATO POLIOXOMETALATOS Anne Jacqueline Barbosa Tese de Doutorado Orientador: Prof. Dr. Sidney José Lima Ribeiro Araraquara – SP 2009 UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA INSTITUTO DE QUÍMICA DE ARARAQUARA ANNE JACQUELINE BARBOSA LUMINESCÊNCIA EM SISTEMAS COLOIDAIS POLIFOSFATO POLIOXOMETALATOS Tese apresentada ao Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Química. Orientador: Prof. Dr. Sidney José Lima Ribeiro Araraquara 2009 Dedico este trabalho aos meus pais, José e Clemência, e a minha irmã Aline, pelo apoio incondicional em todos os momentos de minha vida. Uma singela homenagem a quem tanto amo. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a FAPESP pela bolsa concedida (Processo: 05/59326-6), CAPES, CNPq e ao Instituto de Química de Araraquara – UNESP pela disponibilidade de toda sua estrutura para realização deste trabalho. Foram inúmeras as pessoas que me ajudaram no desenvolvimento desta tese, gostaria de poder agradecer pessoalmente cada uma delas pela ajuda e pelo incentivo que me deram. Listo aqui apenas alguns nomes, porém gostaria que todos soubessem mesmo os que não estão listados aqui, que a passagem de todos os meus amigos e colegas foi de essencial importância para minha vida e que sem vocês esse trabalho não faria sentido. Os meus sinceros agradecimentos às seguintes pessoas: Prof. Dr. Sidney José Lima Ribeiro que me orientou durante esse trabalho e que foi acima de tudo um grande amigo. Gostaria de agradecer pelo incentivo, pelas oportunidades oferecidas, pela confiança e pela atenção. Brigada Sidão! Prof. Dra. Rogéria Rocha Gonçalves expresso meu sincero reconhecimento e gratidão pela disponibilidade em me ajudar no projeto e pela amizade. Brigadão Rô! Prof. Dr. Younès Messaddeq pelo incentivo, pelas oportunidades oferecidas e pela confiança. Prof. Dr. Oswaldo Antônio Serra por disponibilizar seu laboratório para o desenvolvimento de parte deste projeto. Prof. Hermi F. de Brito e Prof. Luis F. C. de Oliveira por disponibilizarem seus laboratórios para realização de medidas. Prof. Dr. Luis D. Carlos pela oportunidade de estágio Na Universidade de Aveiro – Aveiro, Portugal. Prof.. Dr. Verónica de Zea Bermudez pela oportunidade de estágio na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Vila Real, Portugal. Prof Dr. Jeannette Dexpert-Ghys pela oportunidade de estágio no CEMESCNRS – Toulouse, França. Todos os funcionário do IQ que direta ou indiretamente contribuíram com a realização deste trabalho. Aos meus grandes amigos de estudo e de vida: Aos meus amigos Wanderson, Hernane, Iolanda, Mônica, Bianca, Caiut, Lauro e Neto. Muito obrigada pela força que vocês me deram ajudando a superar os momentos difíceis e muito obrigada pela amizade. Gostaria também de agradecer a todos os integrantes do Laboratório de Materiais Fotônicos pelo apoio, incentivo e colaboração. Minha querida família: Gostaria de agradecer incondicionalmente aos meus pais pelo amor, carinho e incentivo durante toda a minha vida. Gostaria de agradecer também a minha irmã por ela existir. Gostaria de agradecer especialmente ao meu namorado Alexandre que foi meu companheiro e amigo nesses últimos anos. Obrigada por fazer parte da minha vida meu Lindo. A todos aqueles que de algum modo, com seu auxílio e colaboração tornaram possível a realização desta tese. Ficam aqui meus votos de agradecimento a todas as pessoas que fizeram de mim quem sou hoje, e assim, proporcionaram minha evolução intelectual e amadurecimento emocional. Muito obrigada! “Viver! E não ter a vergonha, de ser feliz Cantar e cantar e cantar, a beleza de ser Um eterno aprendiz” (Gonzaguinha) RESUMO Novos sistemas coloidais polifosfato-tungstato:Eu3+ em meio aquoso, coacervatos polifosfato-cálcio/tungstato:Eu3+ e sistemas híbridos polifosfato-niobato/3aminopropiltrietoxisilano:Eu3+ foram preparados e caracterizados quanto as suas propriedades estruturais e de luminescência. Os sistemas polifosfato-tungstato:Eu3+ foram caracterizados para diferentes concentrações relativas polifosfato:tungstato. Em soluções de polifosfato os íons Eu3+ ocupam sítios onde o íon é encapsulado pelas cadeias de metafosfato. O número médio de moléculas de água coordenadas aos íons Eu3+ é de 0,5 moléculas e a eficiência quântica de emissão do estado excitado do Eu3+ 5 D0 é igual a 0,22. Com o aumento da concentração relativa de tungstato há uma forte interação do tungstato-Eu3+ levando a uma maior proteção dos ions em relação as moléculas do solvente. Imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão mostraram nanopartículas ricas em tungstênio com tamanhos entre 5-10 nm. Os resultados obtidos a partir da análise de espectroscopia de luminescência para amostras contendo altas concentrações relativas de tungstato (acima de 30 mol%) mostraram a presença do Eu3+ em estruturas do tipo polioxometalatos (POM) (decatungstatoeuropato[EuW 10O36]9-. A eficiência quântica de emissão é de 0,8, semelhante a observada para o polioxometalato no estado sólido. Coacervatos polifosfato-cálcio/tungstato:Eu3+ foram preparados utilizando-se diferentes concentrações de tungstato. Os resultados obtidos mostraram que a adição de tungstato aos coacervatos não quebram as cadeias de polifosfato e os espectros de excitação mostraram a transferência de carga tungstato-Eu3+. A presença da espécie [Eu(PW 11O39]11- pôde ser sugerida pela comparação com resultados da literatura. Amostras altamente luminescentes foram preparadas pela adição do ligante orgânico tenoiltrifuloracetonato. A comparação com os resultados obtidos para o complexo [Eu(tta)3(H2O)2] (tta- tenoiltrifluoroacetato) permitiu a identificação além da transferência de carga tungstato-Eu3+ de uma banda de transferência de energia tta-Eu3+. Experimentos na tentativa de se preparar materiais vítreos a temperatura ambiente foram realizados utilizando-se o sistema híbrido coacervato- carboximetilcelulose. Amostras monolíticas e transparentes puderam ser obtidas. Os sistemas híbridos polifosfato-niobato/3-aminopropiltrietoxisilano:Eu3+ foram preparados e caracterizados quanto as suas propriedades espectroscópicas e estruturais. Observou-se a formação de cristais na forma de bastões de (Na8Nb6O19.13H2O) que devido a anisotropia óptica levam a observação de brilho metálico nas soluções. Palavras-chave: Polifosfato. Coacervatos. Luminescência. Polioxometalatos. Tungstatos. Niobatos. ABSTRACT New aqueous colloidal systems poliphosphate-tungstate:Eu3+, coacervates poliphosphate-calcium/tungstate:Eu3+ and hybrids poliphosphate-niobate/3- aminopropyltrietoxisilane:Eu3+ have been prepared and characterized. Polyphosphate-tungstate-Eu3+ systems were characterized for different polyphosphate:tungstate relative contents. In aqueous solutions Eu3+ ions occupy cagelike sites where metal ions are encapsulated by the polyphosphate chains. The number of water molecules in the Eu3+ coordination shell is 0.5 and the quantum efficiency is 0.22. With the increase in the tungstate content an additional interactions is observed and the quantum efficiency is 0.8. Transmission electron microscopy and spectroscopic measurements lead to the identification of the decatungstoeuropate ([EuW 10O36]9-) nanocrystals. Polyphosphate-calcium-tungstate:Eu3+ coacervates were also obtained and the highly luminescent specie [Eu(PW 11O39]11 could be identified. The addition of the betadiketonate ligand tenoyltrifluoroacetonate (tta) lead to enhanced emission and by comparing the spectroscopic results with the ones obtained for the well known complex [Eu(tta)3(H2O)2] the tta-Eu3+ energy transfer process could be identified. Low temperature glasses were prepared by mixing polyphosphate coacervates and carboximethylcellulose. Transparent monoliths were obtained displaying the same spectroscopic properties of the colloidal systems suggesting these new systems for special optical applications. Polyphosphate-niobate-3-aminopropyltriethoxisilane-Eu3+ hybrids were also prepared. The formation of (Na8Nb6O19.13H2O) rod crystals was putforward. Preliminary results suggest that these anisotropic crystals could align in the suspension leading to intricate optical phenomena. Keywords: Polyphosphate, polyoxometalate, tungstate, niobate, coacervates, luminescence LISTA DE FIGURAS Figura 1.1 Classificação dos fosfatos condensados (CORBRIDGE, 1995). ......................................... 1-18 Figura 1.2 Representação esquematica de uma cadeia de polifosfato de sódio. Cada tetraedro representa um grupamento fosfato PO4 (DIAS FILHO, 2003) ............................................... 1-19 3- Figura 1.3. Esquema reacional mostrando os vários poliânions que podem se formar com a acidificação de uma solução aquosa de [WO4] (CRUYWAGEN, 2000). .................................................... 1-28 2- n- Figura 1.4. Estrutura do ânion [M6O19] . As bolas verdes representam os átomos M (M = Nb, Ta, Mo e W) e as bolas vermelhas representam os átomos de oxigênio (POPE, 1983). ........................ 1-32 Figura 1.5. Representação da cadeia de CMC na forma de sal de sódio. ............................................ 1-37 Figura 1.6. Valores aproximados das energias associadas aos diferentes hamiltonianos que atuam na 6 configuração 4f do íon Eu 3+ (GONÇALVES, 2001). ............................................................... 1-40 Figura 1.7. Diagrama de níveis de energia do íon Eu3+ (GONÇALVES, 2001). As setas azul e vermelha indicam esquematicamente processos de absorção e emissão de luz respectivamente. ........ 1-42 Figura 1.8. Representação esquemática do efeito antena de um ligante orgânico e um íon lantanídeo emissor. TE: Transferência de energia. .................................................................................. 1-46 Figura 1.9. Extensão de tamanhos de poros possíveis de atuarem como hospedeiros para espécies luminescentes adaptada de (SENDOR; KYNAST, 2002) (LEZHNINA; KATKER; KYNAST, 2005). .............................................................................................................................................. 1-48 Figura 1.10. a) Localização dos íons lantanídeso na zeólita X calcinada; b) Complexo [Eu(tta)3(phen] onde tta- tenoiltrifluoroacetonato ephen- fenantrolina; c) reflexão, excitação e emissão do complexo incorporado aos poroso da zeólita X. A área hachurada corresponde a emissão de um LED UV comercial da Nichia. ................................................................................................. 1-49 Figura 4.1. Espectros de transmissão no IV para os sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstato e dos compostos de referência. (a) Na2WO4. (b) W99,5P0,5; (c) W70P30; (d) W50P50; (e) W30P70; (f) W7P93; (g) W3P97; (h) W0,5P99,5; (i) NaPO3 em solução aquosa; (j) ) NaPO3 sólido. ........................................................................................ 4-60 Figura 4.2. Espectros Raman dos sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstato e dos compostos de referência. (a) NaPO3; (b) W0,5P99,5; (c) W3P97; (d) W7P93; (e) W30P70; (f) W50P50; (g) W70P30; (h) W99,5P0,5; (i) Na2WO4 em solução aquosa; (j) Na2WO4 sólido .... 4-62 Figura 4.3. Imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão das suspensões coloidais. (a) W3P97; (b) W30P70 e (c) W70P30........................................................................................................... 4-63 Figura 4.4. Espectros de emissão a temperatura ambiente para sistemas coloidais dopados com Eu 3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc = 394 nm. (a) EuCl3; (b) W0,5P99,5; (c) W3P97; (d) W7P93; (e) W30P70; (f) W50P50; (g) W70P30. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. O “inset” na figura mostra a transição D0 → F0. ...................... 4-66 5 7 5 7 Figura 4.5. Espectros de excitação a temperatura ambiente para sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstatos. λem = 612 nm. (a) W0,5P99,5; (b) W3P97; (c) W7P93; (d) W30P70; 7 (e) W50P50; (f) W70P30. Os números denotam as transições do níveis F0 para os estados 3+ 5 3 3 5 5 5 5 5 5 5 5 excitados do Eu [1- ( I, H)6; 2- P0, FJ; 3- H5; 4- D4; 5- GJ, I7; 6- L6; 7- D3; 8- D2] (CARNALL, 1977). ................................................................................................................. 4-68 Figura 4.6. Perfil das curvas de decaimento e os tempos de vida obtidos para sistemas polifosfatotungstato-Eu . ....................................................................................................................... 4-70 3+ -9 Figura 4.7. Ilustração do ânion EuW10O36 . Os octaedros representam os grupamentos [WO6] que compõe a estrutura (adaptada de BALLARDINI, et al., 1984). ................................................ 4-71 Figura 4.8. Espectros de emissão a temperatura ambiente. λexc = 394 nm. (a) Na9[EuW10O36].14H2O sólido; (b) sistema coloidal W70P30. ...................................................................................... 4-72 Figura 4.9. Difratograma de raios-X da amostra W70P30 liofilizada. ................................................... 4-74 Figura 4.10. Esquema mostrando a preparação da espécie SEC-1 (do inglês "surfactante encapsulated POM clusters") a partir do polioxotungstatoeuropato encapsulado pelo surfactante catiônico polimerizável "DMDA" (do inglês- dodecyl(11-methacryloyloxyundecyl)dimethylammonium bromide) e sua incorporação no monômero metilmetacrilato (MMA) e posterior polimerização levando a espécie híbrida (adaptada de Li, et al., 2005) ......................................................... 4-75 Figura 4.11. Figura adaptada de (Li, et al., 2005). Os espectros (a), (b) e (c) mostram os espectros de excitação e os espectros (d), (e) e (f) referem-se a espectros de emissão do polioxotungstatoeuropato, do SEC e do híbrido obtido da incorporação do SEC ao PMMA, respectivamente..................................................................................................................... 4-76 Figura 4.12. Esquema mostrando a preparação da espécie SEC-1 a partir do polioxotungstatoeuropato encapsulado pelo surfactante catiônico "DOHDA" (do inglês- di(11hydroxyundecyl)dimethylammonium bromide) e sua incorporação no material obtido pela gelificação do conhecido alcóxido de silício TEOS.(adaptada de QI; LI; WU, 2007) ................ 4-77 Figura 4.13. Figura adaptada de (QI; LI; WU, 2007) apresentando espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) obtidos para o SEC-1 (acima) e híbrido (abaixo). ......................................... 4-78 Figura 4.14. Espectros Raman dos sistemas coloidais polifostato-tungstato-CMC contendo diferentes concentrações de tungstato. (a) NaPO3 (solução); (b) W3P97-CMC; (c) W7P93-CMC; (d) W30P70-CMC; (e) W50P50-CMC; (f) W70P30-CMC; (g) Na2WO4 (h) CMC. ........................... 4-80 Figura 4.15. Espectros de emissão a temperatura ambiente dos sistemas polifosfato-tungstato-CMC contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc = 394 nm. (a) W3P97:0,025g CMC; (b) W7P93:0,025g CMC; (c) W30P70:0,025g CMC; (d) W50P50:0,025g CMC; (e) W70P30:0,025g CMC. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. ............................ 4-81 5 7 3+ Figura 4.16. Espectros Raman para os sistemas de coacervatos de polifosfato de cálcio- tungstato:Eu contendo diferentes concentrações de tungstato. (a) NaPO3; (b) Coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervato + 1% W; (d) Coacervato + 10% W; (e) Coacervato + 30% W; (f) Na2WO4. ...... 4-85 Figura 4.17. Espectros de transmissão no IV (FTIR) para os sistemas de coacervatos de polifosfato de cálcio- tugstato:Eu 3+ contendo diferentes concentrações de tungstatos. (a) NaPO3; (b) Coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos + 1% W; (d) Coacervato + 10% W; (e) Coacervato + 30% W; (f) Na2WO4. ............................................................................................................ 4-86 Figura 4.18. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os sistemas de coacervato de polifosfato de cálcio- tungstato- Eu 3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc=394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervato + 1% W; (c) Coacervato + 10% W; (d) Coacervato + 30% W. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. ...................................... 4-87 5 7 Figura 4.19. Espectro de emissão do complexo [Eu(tta)3(H2O)2] para excitação em 394 nm. .............. 4-89 Figura 4.20. Espectro de excitação do complexo [Eu(tta)3(H2O)2] em λem = 612 nm. ........................... 4-90 Figura 4.21. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfatos de 3+ cáclio- Eu contendo 1% W e tta. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 1% W; (c) Coacervato + 1% W + (1Eu 3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 1% W + (1Eu 3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. .......................................................... 4-91 5 7 Figura 4.22. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfato de 3+ cálcio- Eu contendo 1% W e TTA. λem = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 1% W; (c) Coacervato + 1% W + (1Eu 3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 1% W + (1Eu 7 3+ : 10TTA). Os números 3+ 5 3 3 5 denotam as transições do níveis F0-2 para os estados excitados do Eu [1- ( I, H)6; 2- P0, FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). .......................................... 4-92 Figura 4.23. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfato de cálcio3+ Eu contendo 10% W e TTA. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 10% W; (c) Coacervato + 10% W + (1Eu 3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 10% W + (1Eu 3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. .......................................................... 4-93 5 7 Figura 4.24. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 3+ dopados com Eu contendo 10% W e TTA. λ 10% W; (c) Coacervato + 10% W + (1Eu 3+ em = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + : 1TTA); (d) Coacervato + 10% W + (1Eu 7 3+ 3+ : 10TTA). 5 3 Os números denotam as transições do níveis F0 para os estados excitados do Eu [1- ( I, H)6; 2- P0, FJ; 3- H5; 4- D4; 5- GJ, I7; 6- L6; 7- D3; 8- D2] (CARNALL, 1977). ......................... 4-94 3 5 5 5 5 5 5 5 5 Figura 4.25. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 30% W e TTA. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 30% W; (c) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. ...................................... 4-95 Figura 4.26. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfatos de 3+ cálcio- Eu contendo 30% W e TTA. λem = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 30% W; (c) Coacervato + 30% W + (1Eu 3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 30% W + (1Eu 7 3+ : 10TTA). Os 3+ 5 3 números denotam as transições do níveis F0 para os estados excitados do Eu [1- ( I, H)6; 2P0, FJ; 3- H5; 4- D4; 5- GJ, I7; 6- L6; 7- D3; 8- D2] (CARNALL, 1977). ............................. 4-96 3 5 5 5 5 5 5 5 5 Figura 4.27. Espectros de emissão a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos de polifosfato de cálcio 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu 3+ contendo 10% de tungstato. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. O inset no espectro de emissão mostra a transição 5 7 D0 → F0 em diferentes λex. ................................................................................................... 4-99 5 7 Figura 4.28. Espectros de excitação a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos de polifosfatos de 3+ cálcio- Eu contendo 10% de tungstato. .............................................................................. 4-100 Figura 4.29. Espectros de emissão a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 3+ dopados com Eu contendo 10% de tungstato + (1Eu 3+ : 1TTA). Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. O inset mostra a transição D0 → F0 quando λex = 394 5 7 5 7 nm. ...................................................................................................................................... 4-101 Figura 4.30. Espectros de excitação a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 3+ dopados com Eu contendo 10% de tungstato + (1Eu 3+ : 1TTA). ......................................... 4-102 Figura 4.31. Representação da estrutura tipo Keggin [Eu(PW11O39] 11- no estado sólido (BU, et al., 2004). ............................................................................................................................................ 4-104 Figura 4.32. Espectros de emissão a temperatura ambiente. (a) [Eu(PW11O39)2]11- sólido, λexc = 394 nm; (b) coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2 contendo 10% W, λexc = 300 nm. ....................................... 4-105 Figura 4.33. Espectros Raman para as amostras NaPO3:CMC em diferentes concentrações. (a) NaPO3; (b) 2NaPO3 : 1CMC; (c) 1NaPO3 : 1CMC; (d) 1NaPO3 : 2CMC; (e) 1NaPO3 : 3CMC; (f) CMC. ... 4106 Figura 4.34. FTIR para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 contendo CMC utilizando-se diferentes formas de preparo. (a) NaPO3; (b) Coacervato + CMC (sem lavagem); (c) Coacervatos + CMC (lavado antes); (d) Coacervato + CMC (lavado antes e depois); (e) CMC.......................................... 4-108 Figura 4.35. Espectros Raman para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com CMC utilizando-se diferentes formas de preparo. (a) Coacervato + CMC (lavado antes e depois); (b) Coacervato + CMC (sem lavagem); (c) CMC. ............................................................................................ 4-109 3+ Figura 4.36. Espectros Raman para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu e contendo CMC. (a) NaPO3; (b) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (e) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. .................. 4-110 Figura 4.37. FTIR para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ e contendo CMC. (a) NaPO3; (b) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (e) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. .................. 4-111 Figura 4.38. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 3+ dopados com Eu e contendo CMC. λexc = 394 nm. (a) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (b) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (c) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ.... 45 112 7 Figura 4.39. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 3+ dopados com Eu e contendo CMC. λem = 611 nm. (a) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (b) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (c) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (d) Coacervatos 7 contendo 0,15g de CMC. Os números denotam as transições do níveis F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). ............................................................................................................... 4-113 Figura 4.40. Espectro de emissão a temperatura ambiente em amostras 5P5Nb/Si:Eu . λexc = 394 nm. 3+ (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. ........................................................................... 4-115 5 7 Figura 4.41. Espectro de excitação a temperatura ambiente em amostras 5P5Nb/Si:Eu . λem = 612 nm. 3+ (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números denotam 7 5 3 3 5 5 transições de estados excitados para níveis de menor energia F0 [1, ( I, H)6; 2, P0, FJ; 3, H5; 4, D4; 5, GJ, I7; 6, L6; 7, D3; 8, D2] (CARNALL, 1977). .................................................... 4-116 5 5 5 5 5 5 Figura 4.42. Amostra 5P5Nb/Si05 após 2 horas de preparação. ....................................................... 4-117 Figura 4.43. Espectros de emissão a temperatura ambiente dos sobrenadantes nas amostras 5P5Nb/Si:Eu . λexc = 394 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 3+ 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. ................ 4-118 5 7 Figura 4.44. Espectros de emissão a temperatura ambiente das partículas formadas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu . λexc = 394 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 3+ 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições D0 → FJ. ................ 4-120 5 7 Figura 4.45. Espectros de excitação a temperatura ambiente das partículas formadas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu . λexc = 612 nm. (a) 5P5Nb/Si2; (b) 5P5Nb/Si1; (c) 5P5Nb/Si05. Os números 3+ denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3H5; 4- D4; 5- GJ, I7; 6- L6; 7- D3; 8- D2] (CARNALL, 1977). ............................................ 4-121 5 5 5 5 5 5 5 3+ Figura 4.46. Difratogramas obtidos para as partículas contidas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu . (a) 5P5Nb/Si05, (b) 5P5Nb/Si2. ................................................................................................. 4-122 Figura 4.47. Micrografias (MEV) para as amostras: (a) 5P5Nb/Si2 e (b - c) 5P5Nb/Si05 ................... 4-123 Figura 4.48. Imagens de microscopia ótica obtidas para a amostra 5P5Nb/Si2 ................................. 4-124 Figura 4.49. Imagens de microscopia ótica obtidas para a amostra 5P5Nb/Si2 iluminada. ................ 4-125 Figura 4.50. Espectros Raman para as amostras: (a) 5P5Nb/Si2 e (b) 5P5Nb/Si05 .......................... 4-126 LISTA DE TABELAS Tabela 1.1. Polioxiânions que ocorrem entre pHs 9 – 1 (CRUYWAGEN, 2000).Tabela 1.1: ................ 1-27 Tabela 3.1. Simbologia utilizada para identificação dos sistemas (100-x)NaPO3 : xNa2WO4. ............... 3-52 Tabela 4.1. Tempo de vida experimental (ms) do Eu com Eu 3+ 3+ 5 D0 para os coacervatos 1NaPO3: 1CaCl2 dopados contendo diferentes concentrações de tungstato..................................................... 4-97 Tabela 4.2. Tempo de vida experimental (ms) do Eu 3+ 5 3+ D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu D0, eficiência quântica (η) e número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação 5 (q) do Eu3+ calculado utilizando-se a equação de HORROCKS (DIAS FILHO, 2003). ........... 4-103 Tabela 4.3. Resultados FTIR para os coacervatos contendo CMC. Posição das bandas e tentativa de atribuições (NAKAMOTO, 1986) (ZALESKA; TOMASIK; LII, 2002)....................................... 4-107 Tabela 4.4. Resultados FTIR para os coacervatos contendo tungstênio. Posição das bandas e tentativa de atribuições. ..................................................................................................................... 4-111 Tabela 4.5. Composição das amostras preparadas para o sistema 5P5Nb/Si:Eu . .......................... 4-114 3+ Tabela 4.6. Tempo de vida experimental (ms) do Eu3+ 5D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu3+ D0 e eficiência quântica (η). ................................................................................................ 4-117 5 Tabela 4.7. Tempo de vida experimental (ms) do Eu 3+ 5 3+ D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu D0, eficiência quântica (η) e número de moléculas de água (q) na primeira esfera de 5 coordenação do íon Eu 3+ obtidos para os sobrenadantes. ................................................... 4-119 Tabela 4.8. Relação entre as estruturas básicas de óxidos de nióbio com freqüências Raman (SOUZA, et al., 2002).............................................................................................................................. 4-127 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 1-17 1.1 FOSFATOS ..................................................................................................................... 1-17 1.2 SISTEMAS COLOIDAIS DE POLIFOSFATO .......................................................................... 1-20 1.3 POLIOXOMETALATOS ...................................................................................................... 1-26 1.3.1 TUNGSTATOS............................................................................................................... 1-26 1.3.2 NIOBATOS ................................................................................................................... 1-31 1.4 VIDROS PREPARADOS A TEMPERATURA AMBIENTE ........................................................... 1-35 1.5 CARBOXIMETILCELULOSE ............................................................................................... 1-36 1.6 LANTANÍDEOS ................................................................................................................ 1-38 1.6.1 ÍONS LANTANÍDEOS ...................................................................................................... 1-38 1.6.2 NÍVEIS DE ENERGIA DOS ÍONS LANTANÍDEOS .................................................................. 1-39 1.6.3 EURÓPIO (EU3+) ........................................................................................................... 1-41 2. OBJETIVOS ................................................................................................................... 2-51 3. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL .............................................................................. 3-52 3.1 SISTEMAS POLIFOSFATO-TUNGSTATO- EU3+ E POLIFOSFATO-TUNGSTATO-CMC-EU3+ ........ 3-52 3.2 COACERVATOS POLIFOSFATO/CA2+-TUNGSTATO-EU3+ E SISTEMAS HÍBRIDOS POLIFOSFATOCMC E COACERVATO POLIFOSFATO/C A2+-CMC ....................................................................... 3-53 3.3 SISTEMAS HÍBRIDOS POLIFOSFATO-NIOBATO-(3-AMINOPROPIL-TRIETOXI-SILANO)- EU3+ (PNB/SI:EU3+) ........................................................................................................................ 3-54 3.4 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS.................................................................................. 3-55 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 4-57 4.1 ESTUDO DAS PROPRIEDADES DE LUMINESCÊNCIA DE SISTEMAS COLOIDAIS POLIFOSFATO3+ TUNGSTATO EM MEIO AQUOSO CONTENDO EU . ...................................................................... 4-57 4.2 ESTUDO DAS PROPRIEDADES DE LUMINESCÊNCIA DE COACERVATOS DE POLIFOSFATO DE CÁLCIO- TUNGSTATO-EU 3+ ...................................................................................................... 4-83 4.2.1 COACERVATOS POLIFOSFATO DE CÁLCIO:TUNGSTATO.................................................... 4-83 4.2.2 VIDROS HÍBRIDOS FOSFATO-CARBOXIMETILCELULOSE (CMC) ....................................... 4-105 4.3 SISTEMAS HÍBRIDOS POLIFOSFATO-NIOBATO-APTS (PNB/SI) ......................................... 4-114 5. CONCLUSÕES ............................................................................................................ 5-128 6. PERSPECTIVAS .......................................................................................................... 6-130 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 6-131 1-17 1. Introdução 1.1 Fosfatos Propriedades Gerais Fosfatos são largamente encontrados na natureza, tanto como constituintes de minerais como componentes de biomateriais (CORBRIDGE, 1995) e possuem muitas aplicações práticas, como fertilizantes, formulações em detergentes, alimentos, cosméticos e também como fontes de novos materiais. No campo dos novos materiais, o grande interesse em se utilizar os fosfatos advém da grande versatilidade química e morfológica destes compostos, cujas propriedades dependem de sua natureza nãoestequiométrica e das condições de preparação (WAKAMURA; KANDORI; ISHIKAWA, 1997) o que permite empregá-los de muitas formas: como vidros especiais (resistentes ao calor, vidros ópticos), catalisadores e biocerâmicas, como agentes dispersantes e estabilizantes em suspensões de pigmentos e como agentes anti-chama em tintas e vernizes. O termo “fosfato condensado” designa todos os sais de ácidos fosfóricos derivados do ácido ortofosfórico (GREENFIELD, 1975), por eliminação de água entre grupos hidroxila. Os ácidos podem ser escritos empiricamente como: H(n+2)PnO(3n+1) ou n(H3PO4) - (n-1)H2O Onde n é o número de átomos de fósforo na cadeia. Por exemplo, o ácido tetrapolifosfórico, H6P4O13, resulta da formação de 3H2O a partir de 4H3PO4. Os fosfatos de uma maneira geral são classificados em duas grandes categorias: ortofosfatos e fosfatos condensados (CORBRIDGE, 1995). Os fosfatos que apresentam apenas o íon PO43- são chamados de ortofosfatos. Os fosfatos condensados são, por sua vez, divididos em três categorias: polifosfatos lineares, metafosfatos (cíclicos) e ultrafosfatos (estruturas em forma de gaiolas, placas ou 1-18 estruturas tridimensionais). A classificação dos fosfatos condensados é apresentada na figura 1.1. Além dessa divisão mais geral dos fosfatos condensados, os polifosfatos lineares são subdivididos em três grupos: a) polifosfatos de cadeia curta (n<10), b) polifosfatos de cadeia intermediária também chamados de oligofosfatos (n = 10-50) e c) polifosfatos altamente poliméricos (n>50). Dentro do grupo dos fosfatos de tamanho intermediário destaca-se o polifosfato de sódio {(NaPO3)n}, onde n refere-se ao número de unidades de fósfato que constituem a cadeia. Fosfatos Metafosfato PnO3nn- Polifosfato PnO3n+11(n+2)- Ultrafosfato PnO3n+m(n+2m)1 ≥ m ≤ n/2 Figura 1.1 Classificação dos fosfatos condensados (CORBRIDGE, 1995). Três compostos com estruturas e solubilidades diferentes são representados com a notação {(NaPO3)n}: sal de Kurrol, sal de Madrell e sal de Graham. Os dois primeiros são insolúveis em água e terceiro é o único polifosfato solúvel em água (DIAS FILHO, 2003) (RASHCHI; FINCH, 2000). O sal de Graham, é obtido na forma de um vidro pelo choque térmico de NaPO3 fundido, (RASHCHI; FINCH, 2000). Comercialmente ele leva o nome de hexametafosfato de sódio, o que é incorreto uma vez que o termo considera ciclos de 6 tetraedros fosfatos (DIAS FILHO, 2003) (RASHCHI; FINCH, 2000). O polifosfato de sódio é na verdade, como mencionado acima, constituído por uma distribuição principalmente de cadeias lineares de fosfatos (é portanto um “polifosfato”). Dependendo da origem ele pode conter de fato pequena quantidade de fosfatos cíclicos (DIAS FILHO, 2003). A figura 1.2 ilustra esquematicamente uma estrutura linear de tetraedros ligados por dois vértices. 1-19 Figura 1.2 Representação esquematica de uma cadeia de polifosfato de sódio. Cada tetraedro representa um grupamento fosfato PO43- (DIAS FILHO, 2003) Diferentemente dos silicatos que podem apresentar estruturas onde os quatro átomos de oxigênio dos tetraedros (SiO4) participam em ligações químicas, nos fosfatos (ultrafosfatos) em geral apenas três átomos de oxigênio por tetraedro participam de ligações. Uma dupla ligação (P=O) impede a quarta ligação e uma completa condensação do fosfato. Ressalte-se entretanto que em ortofosfatos de metais como tungstênio pode-se identificar estruturas Q4 onde os 4 átomos de oxigênio ligam o fósforo central a um átomo de tungstênio (NALIN, 1998). Quanto à estabilidade em solução (TOY, 1975), a hidrólise de fosfatos condensados em solução é inconveniente, uma vez que o grupo ortofosfato formado não possui as propriedades seqüestrantes e dispersantes das cadeias longas e que são essenciais para muitas aplicações de polifosfatos. Polifosfatos lineares são razoavelmente estáveis em meio alcalino ou neutro à temperatura ambiente, mas sua hidrólise é fortemente catalisada em meio ácido. Os fosfatos condensados constituem portanto uma classe de polímeros inorgânicos que em solução conservam suas propriedades poliméricas. Estas substâncias produzem poli-íons que são estáveis em solução e sofrem pouca degradação por hidrólise (CALLIS; VAN WAZER; ARVAN, 1954) (MEHROTRA; GUPTA, 1961). Há uma transição contínua nas propriedades físicas de soluções de polifosfatos na passagem de espécie de baixos para altos pesos moleculares. A partir de polifosfatos com 6 ou mais átomos de fósforo na cadeia, todos exibem típicas propriedades de polieletrólitos. A existência de cadeias poliméricas em sistemas com 1-20 polidispersão de ânions, como no caso dos polifosfatos, pode justificar a formação de vidros e géis (MASSON, 1996). A formação de cristais ocorre quando há predominância de uma ou poucas espécies aniônicas e as condições da solução (solvente, temperatura) permitem a mobilidade dos íons até os núcleos de crescimento (MASSON, 1996). 1.2 Sistemas Coloidais de Polifosfato Os géis são sistemas coloidais ou macromoleculares com estruturas tridimensionais (redes) altamente intumescidas. São formados pelo menos por dois componentes: um responsável pela formação das malhas da rede e outro pelo seu intumescimento. Géis são mecanicamente auto-sustentados, elásticos e se contraem por perda do agente de intumescimento. As propriedades dos géis são resultantes das interações que podem ocorrer entre estes dois componentes, que podem ser ligações covalentes, ligações de hidrogênio, e forças fracas como interações de dipolos e forças de van der Waals (GESSER; GOSWANI, 1989). Os géis apresentam diversas propriedades que permitem sua utilização em diferentes áreas tecnológicas. São importantes intermediários na manufatura de polímeros como a borracha, plásticos, colas e membranas. Em laboratório os géis são empregados em métodos analíticos de cromatografia, eletroforese, na fabricação de peneiras moleculares e na purificação de solventes. Podem ainda ser utilizados como agentes espessantes em indústrias alimentícias e farmacêutica (LI; TANAKA, 1992). Diversos trabalhos relatam o estudo de géis preparados a partir de polifosfatos, sendo que dentre eles podemos citar os trabalhos desenvolvidos por Galembeck e colaboradores. Masson e Galembeck descreveram a obtenção de géis a partir de soluções de polifosfato de sódio e nitrato e/ou cloreto de ferro e cálcio, mostrando que há a formação de géis dependendo da relação fósforo/cálcio ou fósforo/ferro utilizados, sendo que em alguns casos há a formação de precipitado em forma de flocos e também separação de fases líquido – líquido (MASSON, 1996) (MASSON; SOUZA; GALEMBECK, 1997). 1-21 Lima (LIMA; GALEMBECK, 1994) descreve em seu trabalho a formação de géis termo reversíveis a partir de soluções aquosas de polifosfato de sódio e sais de alumínio. Estes géis são formados a temperatura ambiente e voltam a sóis fluidos quando resfriados. Neste trabalho Lima sugere um modelo para a formação destes géis termo reversíveis e também sugere a utilização desses para o preparo de vidros. Em trabalho realizado posteriormente (LIMA, et al., 1995) o autor mostra um estudo onde fez a avaliação entre as interações nos géis alumínio-polifosfato utilizando RMN 31 Pe 27 Al, onde observou que os grupos responsáveis pela formação das redes nos géis são formados principalmente por grupos Al-(H2O)4(PO3)2, com polifosfatos localizados no final das cadeias. A formação de géis e a separação líquido – líquido em soluções de polifosfato também foi descrita por Azevedo e colaboradores (AZEVEDO, et al., 2002). Foram preparadas soluções polifosfato de sódio – nitrato de crômio, onde observou-se diferentes situações dependendo das razões fosfato-crômio utilizadas, sendo que uma dessas situações foi a formação de uma fase mais densa rica em fósforo e crômio e uma fase líquida rica em nitrato e sódio. O autor sugere que a fase densa é formada a partir de ligações entre as cadeias de polifosfato promovidas pelo Cr3+ (AZEVEDO, et al., 2002). Monteiro (MONTEIRO, et al., 1999) também sugeriu um modelo para traçar uma rota que permita avaliar as características de colóides de polifosfato em sistemas preparados a partir de soluções aquosas de polifosfato de sódio, sulfato de alumínio e hidróxido de amônio, onde foram obtidas partículas amorfas de polifosfato de alumínio. Segundo Monteiro a associação de íons polivalentes hidratados em solução aquosa forma redes poliônicas com alto grau de hidratação, essa nova fase é formada quando um tamanho crítico das redes é atingido em função de um número crítico de associações de íons (MONTEIRO, et al., 1999). Dentre os géis de polifosfatos temos dado atenção particular aos chamados "coacervatos de polifosfatos" que devido as suas propriedades tem despertado grande interesse em diversas áreas. O termo coacervato foi primeiramente introduzido em 1930 pelo químico holandês Burgenberg de Jong (DE JONG; KRUYT, 1930) com a finalidade de descrever fenômenos que ocorrem em colóides hidrófilos em solução aquosa. O 1-22 bioquímico russo Oparin foi quem popularizou os coacervatos para o restante da comunidade científica. No trabalho entitulado: “Les coacervates et leur importance em biologie” de 1936, Oparin ressaltou a importância dos coacervatos na Biologia, pois estes seriam formados a partir de proteínas. Porém o reconhecimento da importância dos coacervatos aconteceu quando Oparin sugeriu no seu livro entitulado: “The Origin of Life”, publicado em 1953 que a vida surgiu primeiramente em gotas de coacervatos (OPARIN, et al., 1977). Oparin escreveu: “A formação dos coacervatos foi o principal evento na evolução das primeiras substâncias orgânicas e no processo de autogeração da vida”. Coacervato é uma palavra derivada do latim cujo significado é co(união) e acerv(agregação). Ao fenômeno de formação dos coacervatos dá-se o nome de coacervação. Portanto a coacervação é uma separação de duas fases líquidas que se diferenciam entre si pela viscosidade e concentração em colóides. A fase mais rica em colóide e que apresenta maior viscosidade é chamada coacervato e a fase com menor viscosidade e conseqüentemente pobre em colóide é chamada de líquido de equilíbrio ou sobrenadante (DIAS FILHO, 2003). A coacervação é dividida em duas categorias, coacervação simples também chamada de separação de fase segregativa e coacervação complexa também chamada de separação de fase associativa (PICULELL; LINDMAN, 1992). Entende-se por coacervação simples a separação de fases oriunda da interação entre soluções de um polieletrólito e sais multivalentes. Quando a separação de fases acontece pela interação entre duas soluções de polieletrólitos diferentes a separação de fases é chamada de coacervação complexa. Alguns pesquisadores têm substituído o termo coacervato por outras denominações tais como: “fase L3” (BALINOV; OLSSON; SOEDERMAN, 1991) (ROUX; COULON; CATES, 1992), “fase anômala”, “fase esponja” (ROUX; COULON; CATES, 1992) (LAUGHLIN, 1998), “fase azul I” (LAUGHLIN, 1998) e “plumber´s nightmare” (STREY, et al., 1990), contudo o termo coacervato ainda continua sendo utilizado (MENGER, et al., 2000) (MENGER; SYKES, 1998). Umegaki e Kanazawa (UMEGAKI; KANAZAWA, 1975) estudaram o comportamento da viscosidade de coacervatos de polifosfato de magnésio e cálcio. 1-23 Nesse trabalho observou-se que os coacervatos comportam-se como fluídos Newtonianos e que a adição de água aos coacervatos não acarreta nenhuma quebra das cadeias de polifosfato mesmo observando-se uma diminuição da viscosidade. O comportamento térmico, para temperaturas acima de 100ºC, de coacervatos de polifosfato de magnésio com diferentes concentrações de sódio foi estudado por Umegaki (UMEGAKI; NAKAYAMA; KANAZAWA, 1976) por DTA (Análise Térmica Diferencial), TGA (Análise Termogravimétrica) e difração de raios-X. Dependendo da temperatura de tratamento dos coacervatos observou-se a formação de espécies ortofosfato, pirofosfato e tetrafosfato. Umegaki e Kanazawa (UMEGAKI; KANAZAWA, 1975) estudaram também a degradação de coacervatos de polifosfato de magnésio e cálcio através da viscosidade e cromatografia de papel para temperaturas entre 25 e 90ºC. Variações da viscosidade em função do tempo à 30ºC mostraram que coacervatos de polifosfato de magnésio são mais estáveis que coacervatos de polifosfato de cálcio. Esse mesmo comportamento foi observado quando se estudou a variação da viscosidade em função da temperatura. Os coacervatos de polifosfato são precursores vítreos extremamente interessantes, pois, são obtidos via rota úmida. Vidros à base de fosfato apresentam coeficiente de expansão térmica e temperatura de fusão variáveis em função da composição. São excelente matrizes para incorporação de íons lantanídeos e subseqüente exploração de suas propriedades ópticas. O processo de preparação de materiais vítreos a partir de coacervatos de polifosfato foi estudado por Gomez (GOMEZ, 1998). Nesse estudo Gomez mostra que a coacervação a partir de soluções de polifosfato de sódio é dependente da constante dielétrica do meio e conseqüentemente do tipo de solvente, da temperatura, do tipo do ânion e do cátion que formam o sal a ser adicionado ao polifosfato para promover a coacervação e do pH do meio. Após um estudo do processo de preparação dos coacervatos e dos fatores que afetam esse processo Gomez avaliou a utilização dos coacervatos como revestimentos em metais com a finalidade de proteção contra corrosão. Vidros mistos de fosfato de zinco e prata preparados via coacervação foram apresentados por Grégorie (GRÉGORIE, 1999) como uma alternativa para o revestimento de metais a temperaturas inferiores à 500ºC. Grégorie também descreveu 1-24 em trabalho publicado posteriormente a preparação, caracterização e possível aplicação de vidros a base de polifosfato de sódio e zinco a partir de coacervatos (GRÉGORIE, et al., 2002). Deffontaines et al. (DEFFONTAINES; DEFFONTAINESFOUREZ; VAST, 1994), estudaram a influência da temperatura em precursores a base de fosfato para o sistema CaO-MgO-Na2O-P2O5 obtidos via processo de coacervação. Neste estudo dois intervalos de temperatura foram estudados: temperatura ambiente até 400ºC e de 400 a 900ºC. No primeiro intervalo, observou-se a importância da água e os mecanismos reacionais nessa faixa de temperatura e no segundo intervalo foi possível caracterizar os vidros e as espécies cristalinas que surgem com a devitrificação. A preparação de novos biomateriais usando o processo de coacervação foi estudada por Bertolini (BERTOLINI, 2001). Recentemente o laboratório de materiais fotônicos do Instituto de Química de Araraquara estudou a possibilidade de utilização dos coacervatos de polifosfato na imobilização de fibras de amianto. Esse estudo rendeu ao laboratório uma dissertação de mestrado (GRANDO, 2001) e uma patente (FUNDAÇÃO DE AMPARO A PESQUISA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2002). O preparo de materiais híbridos a partir de coacervatos também é descrito na literatura. Oliveira e colaboradores (OLIVEIRA, et al., 2005) prepararam materiais híbridos orgânicos - inorgânicos a partir da incorporação de íons croconato a coacervatos de polifosfato de cálcio. Oliveira sugere neste trabalho o preparo de vidros fosfatos a temperatura ambiente contendo partes orgânicas, criando desta forma uma nova classe de vidros híbridos (OLIVEIRA, et al., 2005). O autor também mostra em trabalho publicado posteriormente o preparo de materiais híbridos a partir de coacervatos de polifosfato de sódio : cloreto de manganês (OLIVEIRA, et al., 2009). A estes cocervatos adicionou-se corantes que foram incorporados a estrutura do coacervato. Um novo material híbrido foi preparado sendo que este é sensível a mudanças de pH, podendo desta forma ser utilizado como um sensor (OLIVEIRA, et al., 2009). O entendimento dos mecanismos que regem a coacervação ainda é um desafio para os pesquisadores que trabalham com química de colóides. A interação existente entre as cadeias de polifosfato e íons bivalentes, como por exemplo, o Ca2+ é uma 1-25 etapa de extrema importância para melhor entendimento do processo. Complexos estáveis formados por polifosfato e íons alcalinos tem sido alvo de estudo há vários anos, tendo se tornado essenciais para as aplicações industriais no que se refere a polifosfatos seqüestrantes de íons metálicos (RASHCHI; FINCH, 2000) (UMEGAKI; KANAZAWA, 1975) (UMEGAKI; KANAZAWA, 1979). A possibilidade de substituição dos íons alcalinos por íons terras raras, como por exemplo, Eu3+ e Tb3+, pode ser muito interessante na tentativa de se compreender o processo de coacervação, pois utilizando-se as propriedades de luminescência estes íons podem ser utilizados como sondas estruturais (BÜNZLI; CHOPPIN, 1989) como por exemplo em materiais biológicos (RICHARDSON, 1982) ou em coacervatos (DIAS FILHO, et al., 2005). Dias Filho (DIAS FILHO, 2003) descreveu o preparo de coacervatos a partir de polifosfato de sódio e cloreto de cálcio, sendo que a razão fósforo-cálcio foi variada. Todos os coacervatos preparados foram dopados com íons Eu3+ para que fosse realizada uma investigação estrutural a partir de suas propriedades de luminescência e desta forma pudesse ser proposto um modelo para a formação dos coacervatos. Os resultados obtidos por Dias Filho (DIAS FILHO, et al., 2005) apontaram para um modelo estrutural onde dois sítios diferentes puderam ser identificados para os íons Eu3+. O primeiro deles foi sugerido como sendo resultado do encapsulamento do metal pela cadeia de polifosfato. A ocupação desses sítios de coordenação leva a obtenção de sistemas coloidais estáveis cuja principal característica é a proteção, conferida pelo encapsulamento, de interações com o solvente. Este encapsulamento é bastante interessante, pois pode permitir a preparação in-situ, e no meio aquoso, de compostos de lantanídeos com propriedades ópticas, como eficiência quântica de emissão, otimizadas. Com o aumento da concentração de metal a saturação desses primeiros sítios leva a ocupação dos segundos que levam a interações supramoleculares entre diferentes cadeias. Este tipo de interação desestabiliza a suspensão coloidal levando à formação do coacervato (DIAS FILHO, et al., 2005). Do ponto de vista de materiais para fotônica, os polifosfatos e os coacervatos vem sendo estudados em nosso laboratório sob diferentes aspectos. Em sua tese de doutorado Dias Filho (DIAS FILHO, 2003) preparou e caracterizou vidros e filmes e iniciou a utilização de coacervatos na estabilização de partículas coloidais de CdS e 1-26 WO3. Novos híbridos orgânicos-inorgânicos envolvendo polifosfatos e siloxanos modificados foram também descritos por Dias Filho (DIAS FILHO, 2003). A qualidade óptica desses materiais, aspectos estruturais e a possibilidade de aplicações em fotônica foram descritas pelo autor (DIAS FILHO, 2003). Os principais aspectos descritos acima (DIAS FILHO, 2003) como o encapsulamento de íons metálicos em solução aquosa de polifosfato e a possibilidade de obtenção de híbridos orgânicos-inorgânicos à base de polifosfatos motivam o presente trabalho no sentido da obtenção de novos materiais para fotônica com propriedades de processamento e ópticas otimizadas em relação a sua aplicação em óptica integrada. 1.3 Polioxometalatos 1.3.1 Tungstatos A química dos tungstatos é bem descrita na literatura, onde observa-se a estabilidade de diferentes espécies em função do pH e da concentração (CRUYWAGEN, 2000) (POPE, 1983). A química do tungstato (VI) em solução aquosa é mais difícil de ser estudada do que a química do molibdênio (VI) e vanádio (V), a razão principal é a ocorrência de reações lentas que levam a formação de intermediários. As fórmulas dos poliânions e os nomes utilizados na literatura para distinguir entre as espécies são dados na tabela 1.1 (CRUYWAGEN, 2000). Em água os ânions [WO4]2- são protonados e condensados a poliânions apresentando oxigênios em ponte entre as unidades básicas. A protonação leva ao aumento do número de coordenação do tungstênio que passa de 4 para 6. Os paratungstatos A e B ([W 7O24]6- e [H2W 12O42]10- respectivamente), que coexistem na região de pH 5 – 8 são os primeiros poliânions que surgem com a acidificação de uma solução de [WO4]2- (CRUYWAGEN, 2000). Um estudo das soluções de tungstênio em pHs entre 8 e 1,5 foi realizado utilizando-se RMN de 183 W, 17 O e 1H. Os resultados são mostrados no esquema (figura 1.3) adaptado de Cruywagen (CRUYWAGEN, 2000) que relaciona espécies em 1-27 solução com poliânions caracterizados em estado sólido. Como já mencionado acima em pH ~ 6 os paratungstatos A e B podem ser identificados. Em pH > 9 o WO42- é a espécie predominante em solução (CRUYWAGEN, 2000). A protonação do paratungstato B leva a formação de 3 espécies principais: a forma monoprotonada ([H3W 12O42]9-) e os íons α- e β-Keggin (α-[(H)W 12O40]7- e β[(H)W 12O40]7-, respectivamente), sendo que quando o pH é reduzido as espécies [H7W 11O40]7- and [H8W 11O40]6- são formadas a partir das espécies citadas anteriormente (CRUYWAGEM, 2000) (POPE, 1983). Tabela 1.1. Polioxiânions que ocorrem entre pHs 9 – 1 (CRUYWAGEN, 2000).Tabela 1.1: Fórmula Nome usual [H2W 6O22]6[W 7O24]6- pH 7-8 Paratungstate A 8-5 Paratungstate B 9-5 [HW 7O24]6[H2W 12O42]10[H3W 12O42]9α - [(H)W 12O40]7- ~4 ψ’Metatungstato β - [HW 12O40]7α - [(H2)W 12O40]6- 4 Metatungstato α - [H(H)W 12O40]6β - [(H2)W 12O40]6- Tungstato X [H7W 11O40]7[H8W 11O40] [W 10O32]4[W 6O19]2- ~3 2-1 b 6- 3 2 α - [H(H2)W 12O40]5b ~4 3 ψ Metatungstato Tungstato Y 2-1 Metaestável 1-28 Figura 1.3. Esquema reacional mostrando os vários poliânions que podem se formar com a acidificação de uma solução aquosa de [WO4]2- (CRUYWAGEN, 2000). Todos estes poliânions pertencem a grande classe de materiais classificados como polioxometalatos (POM), que é uma ampla classe de clusters aniônicos metaloxigênio, nanoparticulados, formados por processos de auto-organização em solução aquosa. As variadas propriedades observadas para os POMs levaram a muitas aplicações em diferentes campos como análise química e catálise, ciência de materiais, 1-29 tratamento de resíduos nucleares, fotônica, medicina, dentre outras (WEINSTOCK, 1998) (PASTOR; ROMERO, 2004). Peacock e Weakley descreveram ânions tendo como fórmula geral [LnIIIW 10O35]7(Ln= La, Ce, Pr, Nd, Sm, Ho, Er, Yb e Y) (PEACOCK; WEAKLEY, 1971). Apesar de estudar a estabilidade das estruturas obtidas, tanto no estado sólido como em solução, os autores não puderam concluir se havia ou não a presença de água na primeira esfera de coordenação dos íons lantanídeos. O composto Na9EuW 10O36.18H2O foi preparado e caracterizado por Ballardinin e colaboradores (BALLARDINI, et al., 1984), que estudaram suas propriedades tanto no estado sólido como em solução aquosa. O ânion decatungstato-europato (9-) foi primeiramente preparado por Peacock e Weakley em 1971 (PEACOCK; WEAKLEY, 1971) utilizando-se um sal de potássio e foi formulado originalmente como EuW 10O357-, porem, hoje sabe-se que a verdadeira composição é EuW 10O369- que corresponde a coordenação de dois fragmentos W 5O186- (cada um consistindo de cinco WO6 octaedricos ligados pelas arestas) para cada íon Eu3+. Os fragmentos W 5O186- são derivados da remoção de átomos de tungstênio e compartilhamento de átomos de oxigênio provenientes de ânions de alta simetria [W 6O19]2- (ânions Lindqvist). A estrutura Lindqvist é descrita por arranjos octaedricos de seis octaedros que partilham quatro arestas com quatro octaedros vizinhos. Na estrutura Na9EuW 10O36.18H2O os íons Eu3+ encontram-se no centro do ânion e tem número de coordenação 8, sendo coordenados por dois ligantes [W 5O18] em uma configuração de antiprisma quadrado distorcido. A simetria local do Eu3+ foi atribuída por Ballardini e colaboradores como sendo o grupo D4d para o composto sólido e C4v para a espécie em solução aquosa (BALLARDINI, et al., 1984). Nos compostos sólidos foram medidos altos valores para o tempo de vida do estado excitado 5D0 dos íons Eu3+ e para o rendimento quântico (2,9 ms e 0,8 respectivamente). Os altos valores do tempo de vida e do rendimento quântico mostram que os íons Eu3+ estão sendo protegidos das moléculas de água. Este é um fato muito interessante, pois os compostos sólidos foram cristalizados em soluções aquosas e não foram encontradas moléculas de água na primeira esfera de coordenação dos íons Eu3+. O tempo de vida e o rendimento quântico encontrados 1-30 para o composto Na9EuW 10O36.18H2O são os maiores descritos para POMs contendo lantanídeos. O espectro de luminescência desse composto foi primeiramente obtido por Stillman e Thomson (STILLMAN; THOMSON, 1976) com o propósito de se obter o sítio de simetria do íon Eu3+. Blasse e colaboradores (BLASSE; DIRKENS; ZONNEVIJLLE, 1981a) (BLASSE; DIRKENS; ZONNEVIJLLE, 1981b) também estudaram os espectros de luminescência das amostras sólidas Na9EuW 10O36.18H2O e K9EuW 10O36.18H2O. Sugeta e Yamase também apresentaram dados de espectroscopia realizada a baixa temperatura para os compostos sólidos (a fórmula sugerida pelos autores difere no número de moléculas de água) (SUGETA; YAMASE, 1993), sendo que a simetria local observada para o íon Eu3+ foi atribuída ao grupo pontual C4v. Experimentos realizados a 4K mostraram que a transferência de carga dos grupos O-W presentes nas duas unidades [W 5O18] para os íons Eu3+ é bastante eficiente. Tempos de vida do estado excitado dos íons Eu3+ 5D0 iguais a 3,2 ms e rendimento quântico igual a 0,99 foram reportados. Yamase et al., descreve em seus trabalhos detalhes dos processos de transferência de energia para POMs e os processos de transferência de carga para os íons lantanídeos em diferentes estruturas (YAMASE; NARUKE; SASAKI, 1990) (YAMASE; NARUKE, 1991) (YAMASE, et al., 1997) (YAMASE, 1998). Um dos fatos a ser observado é a alta eficiência, que não depende da temperatura, para ligantes polioxometalatos tendo octaedros MO6 ligados pelas arestas e com ponte M-O-M com ângulos de aproximadamente 100º, como no caso do decatungstato-europato. O ânion [EuW 10O36]9- foi observado como espécie estável em solução aquosa (BALLARDINI, et al., 1984) (SUGETA; YAMASE, 1993). No entanto, foram observadas importantes modificações no espectro de emissão, diminuição no tempo de vida (diminuiu para 0,25 ms) e no rendimento quântico (0,50). A diminuição no tempo de vida e no rendimento quântico foram atribuídos a presença de espécies onde 3 ou 4 moléculas de água estão coordenadas ao íon Eu3+ (BALLARDINI, et al., 1984) (SUGETA; YAMASE, 1993). Além das promissoras características relacionadas com as propriedades espectroscópicas desses materiais, os POM´s podem ser considerados nanoblocos (NBB) que podem levar a formação de estruturas supramoleculares em diferentes 1-31 hospedeiros (VOLKMER, et al., 2000) (KURTH, et al., 2000). Essas espécies podem ser consideradas como materiais supramoleculares que podem ser facilmente manipulados para o preparo de filmes utilizando-se diferentes técnicas como, por exemplo, “spin-coating”. Esses materiais podem ser incorporados em diversas matrizes diferentes, dentre elas podemos citar: redes de sílica, sistemas de cristal líquido e polímeros (QI; LI; WU, 2007) (KLONKOWSKI, et al., 2006) (POLARZ; SMARSLY; ANTONIETTI, 2001) (LI, et al., 2005). A fabricação de filmes a partir de compostos híbridos de POMs contendo Eu3+ e filmes preparados “layer-by-layer” são descritos na literatura para duas estruturas de POMs: Na9[EuW 10O36] e K12[EuP5W 30O110].54 H2O (WANG, et al., 2002) (XU, et al., 2002). Filmes híbridos orgânico-inorgânico Langmuir-Blodget (LB) contendo Eu3+ na forma do composto Eu(XW 11O39)2n- (X = Ge, Si, B) são descritos por Wang e colaboradores (WANG, et al., 2003). As variações espectroscópicas observadas nos materiais citados acima foram avaliadas em função das possíveis organizações das unidades de POM nos filmes (JIANG; ZHAI; LIU, 2005). 1.3.2 Niobatos Clusters de polioxoniobatos são comumente formados em estruturas sólidas compostas por clusters de ânions interconectados por cátions ou policátions (NYMAN et al., 2002) (BONHOMME, et al., 2005) (NYMAN, et al., 2006) (NYMAN, et al., 2007), como por exemplo, nos íons Keggin dodecaniobato, [XNb12O40]y- (X = Si, Ge, P; y = 15, 16). Os polioxoniobatos mais descritos na literatura são os íons do tipo Lindqvist [Nb6O19]8- (POPE, 1983). Soluções aquosas de niobato contendo metais alcalinos em meio básico são precursoras de ânions hexaniobatos, [HxNb6O19](8-x). Tais soluções são preparadas pela fusão do Nb2O5 com excesso de hidróxido ou carbonato do metal, e subseqüente dissolução do material fundido em água. O preparo direto da solução de Nb2O5 em solução aquosa alcalina é possível somente com a prévia precipitação do óxido. Sais de [Nb6O19]8- podem ser cristalizados diretamente de soluções aquosas, sendo que sua estrutura foi elucidada por Lindqvist (POPE, 1983) a partir de cristais de 1-32 Na7HNb6O19.16H2O. A estrutura do ânion hexametalato [M6O19]n- é mostrada na figura 1.4 (POPE, 1983). Lindqvist não determinou a posição exata dos oxigênios nesta estrutura, mas suas análises levaram a uma boa aproximação dos comprimentos das ligações Nb-O que foram relatados nas estruturas [Mn(Nb6O19)2]12 e [Nb10O28]6-. Pode-se obter íons Lindqvist contendo monômeros ou dímeros a partir da reação do sal de [Nb6O19] com complexos de metais de transição (FLYNN; STUCKY, 1969) (BESSERGUENEV; DICKMAN; POPE, 2001) (HEGETSCHWEILER, et al., 2002), sendo que a dificuldade encontrada neste preparo é manter os complexos dos metais estáveis em pH alcalino, tendo em vista que esta é uma condição necessária para estabilização das espécies de polioxoniobatos. Figura 1.4. Estrutura do ânion [M6O19]n-. As bolas verdes representam os átomos M (M = Nb, Ta, Mo e W) e as bolas vermelhas representam os átomos de oxigênio (POPE, 1983). Diversos são os trabalhos que mostram o estudo de diferentes espécies de polioxoniobatos. Bizeto e colaboradores (BIZETO, et al., 2006) mostram em seu trabalho o preparo do niobato lamelar K4Nb6O17. A evidência de que se tratava de um composto lamelar foi a constatação de que a dimensão do parâmetro b da célula unitária variava em função do grau de hidratação do composto que, por sua vez, era dependente da umidade relativa do ambiente (BIZETO, 2003). Na década de 80 Gasperin e Bihan determinaram a estrutura da fase cristalina Rb4Nb6O17 com base nos dados de difratometria de raios-X de monocristal (GASPERIN; BIHAN, 1980). Segundo este estudo, o Rb4Nb6O17 apresenta lamelas formadas pelo compartilhamento de 1-33 vértices e arestas de octaedros de NbO6 distorcidos, em um arranjo de cadeias duplas do tipo ReO3 deficientes, ou seja, existe uma falta periódica de unidades octaédricas em uma das cadeias que originam as lamelas (GASPERIN; BIHAN, 1980). A estrutura cristalina exerce grande influência nas propriedades luminescentes dos niobatos lamelares. Por exemplo, os niobatos que apresentam propriedades luminescentes, geralmente possuem estruturas formadas por octaedros que compartilham faces ou arestas, sendo que os niobatos que não apresentam ou possuem baixa luminescência são formados por octaedros que compartilham vértices (BIZETO, 2003). A maior eficiência de luminescência é encontrada em niobatos que possuem ligações Nb-O curtas (≈ 1,7 c), os chamados grupos niobil, que possuem caráter de ligação dupla (BLASSE; VAN TOL, 1995). O estudo da fotoluminescência de niobatos lamelares foi também realizado por Constantino (CONSTANTINO; BIZETO; BRITO, 1998). Os autores utilizaram as fases lamelares de composição K4Nb6O17, KNb3O8 e KCaNb3O10 como precursores para o preparo de novas composições que foram obtidas através de reações de troca iônica entre íons potássio e íons Eu3+. Os precursores apresentaram bandas de absorção na região do UV, sendo que o KNb3O8 exibiu bandas de emissão no azul (a temperatura ambiente e a baixa temperatura) enquanto que o K4Nb6O17 apresentou emissão somente a baixa temperatura. O trabalho realizado por Constantino tinha como objetivo avaliar as propriedades de luminescência dos íons Eu3+ nas diferentes matrizes e também utilizá-lo como sonda estrutural no estudo das mesmas (CONSTANTINO; BIZETO; BRITO, 1998). Bizeto também realizou estudo da luminescência em niobatos lamelares (BIZETO; CONSTANTINO; BRITO, 2000), onde utilizou a fase de composição KCaNb3O10. Os compostos foram preparados através de reações de estado sólido, resultando em compostos de fórmula geral K1-xLnxCa2-xNb3O10 (onde Ln = La3+ ou Eu3+ e x = 0,02). A matriz KCaNb3O10 não exibe bandas de emissão quando excita na região do UV, porém quando o material é dopado com La3+ ele apresenta bandas de emissão no azul (λexc = 270 nm), indicando que as propriedades eletrônicas do sistema são modificadas pela inserção dos íons lantanídeos. No caso das matrizes dopadas com 1-34 íons Eu3+ foi observada emissão característica desse íon no vermelho (λexc = 270 e 394 nm) (BIZETO; CONSTANTINO; BRITO, 2000). O preparo dos polioxoniobatos tem sido assunto de diversos trabalhos. Nyman (NYMAN; ANDERSON; PROVENCIO, 2009) apresentou uma comparação entre a síntese do poliânion [M6O19]8- (M = Nb, Ta) em solução aquosa e em outros solventes sob aquecimento. O autor mostra que a química dos clusters obtidos é completamente diferente dependendo da rota utilizada. Os materiais obtidos pela rota sem água apresentaram comportamentos muito semelhantes, sendo que foram obtidos materiais cristalinos de alta pureza e que apresentaram somente uma fase. Por outro lado, na síntese utilizando solução aquosa foram obtidas diferentes espécies de tantalatos e niobatos na forma de nanocristais de difícil separação (NYMAN; ANDERSON; PROVENCIO, 2009). Em trabalho publicado em 2002, Santos e colaboradores relatam a síntese hidrotérmica de micro cristais, referentes a fase NaNbO3 obtidos a partir da reação do Nb2O5 comercial com NaOH, a 200ºC (SANTOS, et al., 2002). Diferentes concentrações e razões molares NaOH:Nb2O5 foram examinadas pelo autor, sendo que nas soluções preparadas foram obtidos sólidos do tipo K6H2[Nb6O19].13H2O. O procedimento utilizado por Santos permite o preparo de soluções contendo Nb(V) sem que seja necessária a realização de fusão alcalina (SANTOS, et al., 2002). Bontchev e colaboradores (BONTCHEV; VENTURINI; 8- NYMAN, 2007) 2+ descreveram o preparo de sais alcalinos contendo ânion [Nb6O19] e Cu , que levou a formação de clusters do tipo Lindqvist de Cu-hexaniobato. Os clusters foram preparados em solução aquosa utilizando-se diferentes condições experimentais. Foram obtidos diferentes tipos de geometrias para os clusters, sendo que o autor atribui esta diversidade nas estruturas a distorção Jahn-Teller sofrida pelo Cu2+ (d9). O íon Lindqvist hexaniobato [Nb6O19]8- tem alta densidade de carga, é robusto e estável quando em condições apropriadas (pH > 10) e também apresenta-se bem simétrico. Todas as propriedades exibidas por esses íons fazem com que eles sejam ideais para o preparo de materiais complexos contendo redes de clusters (BONTCHEV; VENTURINI; NYMAN, 2007). 1-35 1.4 Vidros preparados a temperatura ambiente Vidros que fundem a temperaturas relativamente baixas e que possuem conseqüentemente baixa temperatura de transição vítrea, têm recebido considerável atenção nos últimos anos. Esses materiais são desejáveis para muitas aplicações, como por exemplo, a modelagem de elementos ópticos, colas de alta tecnologia e também como hóspedes para a incorporação de moléculas orgânicas opticamente ativas (TOLEDO, 2002). Compostos orgânicos podem apresentar propriedades opticamente interessantes e a confecção de dispositivos ópticos à base de “orgânicos” é bastante desejável. Entretanto, há grandes barreiras na utilização desses materiais como matrizes, pois complexos orgânicos possuem pontos de fusão, ebulição e decomposição muito baixos. Desse modo, se faz necessário desenvolver matrizes estáveis, ou seja, vidros com baixo ponto de fusão para hospedar tais materiais. Se por um lado o fato de apresentar baixa temperatura de fusão é uma característica interessante, por outro lado, esses vidros apresentam alguns problemas, pois normalmente exibem baixa durabilidade química em meio aquoso, sendo em geral de natureza higroscópica, o que os torna inviáveis mesmo para aplicações onde seriam expostos às condições ambientes normais (TOLEDO, 2002). Vidros híbridos a temperatura ambiente são geralmente preparados utilizando-se a metodologia sol-gel. Os vidros resultantes a partir dessa metodologia exibem alta flexibilidade, transparência, versatilidade nos grupos funcionais que podem estar presentes no sistema, elevada resistência a tração e boa estabilidade térmica e mecânica. Infelizmente a produção comercial dos híbridos via sol-gel não é tão animadora, pois estes híbridos são geralmente porosos e quebradiços (URMAN; OTAIGBE, 2007). Uma alternativa encontrada para o preparo de vidros híbridos a baixa temperatura com melhores propriedades mecânicas e ópticas é o preparo desses materiais utilizando-se vidros inorgânicos adicionados a polímeros orgânicos. Um exemplo de uma classe relativamente nova de materiais híbridos orgânicoinorgânicos são vidros híbridos de polifosfato/polímero. Estes materiais híbridos são 1-36 preparados pela adição de um vidro fosfato com baixa Tg em um polímero orgânico (URMAN; OTAIGBE, 2007). Ao contrário dos híbridos preparados via sol-gel, esses materiais apresentam baixo custo no seu preparo, seus precursores na maioria das vezes não são tóxicos e a morfologia da sua fase inorgânica não é fixa. Desta forma, híbridos polifosfato/polímero apresentam-se com destaque nesses novos sistemas híbridos (URMAN; OTAIGBE, 2007). Neste trabalho alguns resultados preliminares serão apresentados para preparação de híbridos relacionados, utilizando-se os sistemas coacervatos- polioxometalatos e carboximetilcelulose. 1.5 Carboximetilcelulose A celulose, respondendo isoladamente por aproximadamente 40% de toda reserva de carbono disponível na biosfera, é a fonte mais abundante deste elemento base dos compostos orgânicos. Está presente em todas as plantas, desde árvores altamente desenvolvidas até os organismos mais primitivos e seu conteúdo nestas espécies pode variar desde 20% até 99%. Nas árvores corresponde a 40-50% da massa total em base seca (CURVELO, 1992). A principal vantagem da celulose quando comparada com derivados de petróleo, por exemplo, é sua grande disponibilidade, uma vez que ela provém de matéria-prima renovável. Este polímero natural é um homopolissacarídeo linear cuja unidade repetitiva é a celobiose ou anidroglicose sindiotática, que é formada por anéis de β-D-glicopiranose unidas por ligações glicosídicas do tipo β(1→4), apresentando elevada massa molecular, considerável grau de cristalinidade, insolubilidade em água e estrutura rígida (MACHADO, 2000). A estrutura rígida da celulose pode ser modificada (SIMON, 1998) através da introdução de grupos funcionais na sua cadeia (reação de derivatização) o que em alguns casos como, por exemplo, hidroxietilcelulose (HEC) e hidroxipropilcelulose (HPC), diminuem a sua cristalinidade promovendo a formação de material amorfo. Éteres de celulose (REUBEN, 1986) são derivados importantes por apresentarem propriedades que os qualificam como espessantes, emulsificantes, 1-37 aglutinantes e termoplásticos. Estas características os tornam adequados para aplicações em diversas indústrias como as de tintas, papel, alimentos, produtos farmacêuticos, cosméticos, cerâmicas, têxteis, agricultura, etc. (CARASCHI, 1997) (JUSTE; MAJEWICZ, 1985) (FELCHT, 1985). Os éteres de celulose podem ser solúveis em água ou em solventes orgânicos dependendo da natureza do substituinte e do grau de substituição. A carboximetilcelulose (CMC) figura 1.5, é o derivado do tipo éter solúvel em água. Ela é muito utilizada industrialmente em vários produtos como detergentes, alimentos, emulsões, cerâmicos, farmacêuticos, etc. (HADER; WALDECK; SMITH, 1954). A CMC é um polieletrólito aniônico (apresenta cargas elétricas negativas quando dissolvido em solvente polar) com um pKa de aproximadamente 4, próximo assim do ácido acético. É usualmente vendida na forma de sal de sódio, uma vez que sua forma ácida tem pequena solubilidade em água (NICHOLSON; MERRITT, 1985). Figura 1.5. Representação da cadeia de CMC na forma de sal de sódio. A CMC é um derivado preparado em duas etapas, a partir da reação entre a celulose e o NaOH ou LiCMC, formando o álcali de celulose (sal), que em seguida, reage com o ácido monocloroacético (ou sal monocloroacetato de sódio), sob condições controladas (CARASCHI, 1997) (NICHOLSON; MERRITT, 1985) (JUSTE; MAJEWICZ, 1985). A CMC normalmente apresentada na forma sódica (sal de sódio), como carboximetilcelulose de sódio, é um polímero aniônico derivado de celulose, muito solúvel em água, tanto a frio quanto a quente, na qual forma tanto soluções 1-38 propriamente ditas quanto géis. A CMC é aeróbica e anaerobicamente biodegradável por bactérias encontradas no meio ambiente, produzindo pequenas quantidades de fragmentos de CMC e açucares. Porém sua biodegradabilidade varia de lenta a muito lenta (MACHADO, 2000). Diferentes preparações podem levar a diferentes graus de substituição. As moléculas de CMC são normalmente mais curtas, na média, que as moléculas da celulose original da qual é produzida, apresentando áreas de maior ou menor substituição. As moléculas de CMC são mais estendidas em ramificações a baixas concentrações, mas em altas concentrações as moléculas sobrepõem-se e ligam-se em espirais, e então, à altas concentrações, enredam-se para formar um gel termoreversível (MACHADO, 2000). 1.6 Lantanídeos 1.6.1 Íons lantanídeos A família dos elementos denominada lantanídeos refere-se aos elementos de números atômicos 57 a 71; iniciando a série com o lantânio e finalizando com o lutécio. O termo terras raras vem do fato da sua descoberta ter ocorrido apenas no final do século XVIII (MOELER, 1963), portanto, não se tratam de elementos escassos quanto à abundância na crosta terrestre. Os elementos lantanídicos apresentam o preenchimento progressivo da camada interna 4f, variando de 0 a 14 o número de elétrons f ao passar do lantânio ao lutécio. O preenchimento da camada 4f resulta numa contração progressiva dos raios iônicos, denominada contração lantanídica. A presença de camadas mais externas 5s e 5p propicia a blindagem dos elétrons da camada interna 4f, fazendo com que os níveis eletrônicos 4f sejam apenas ligeiramente afetados pelo campo cristalino e conseqüentemente faz com que o íon terra rara trivalente tenha um comportamento semelhante ao íon livre na maioria dos casos (GONÇALVES, 2001). Os lantanídeos se apresentam, mais comumente, no estado de oxidação três, dando origem a íons trivalentes relativamente grandes. As coordenações mais 1-39 freqüentes envolvem sete, oito e nove ligantes e, números de coordenação abaixo de sete e acima de nove existem, mas não são comuns (THOMPSON, 1978). As ligações nos lantanídeos são de caráter iônico. 1.6.2 Níveis de energia dos íons lantanídeos Os níveis de energia do íon livre são descritos por Hamiltonianos que levam em conta a interação resultante do campo central (H0) e a repulsão intereletrônica (Hre) e a interação spin-orbita (Hso) (MALTA; CARLOS, 2003), dando origem aos níveis rotulados na notação de momento angular como 2S+1 LJ onde S e J são os momentos angulares totais de spin e orbital e J o momento angular total que leva em conta o acoplamento de S e L (equação 1). Hion livre = H0 + HE + HSO (equação 1) A perturbação causada pelo ambiente químico levanta a degenerescência em J destes níveis dando origem aos níveis Stark cujo número e rótulo vão depender da simetria do campo ligante. Essa perturbação provocada pelo ambiente químico ao redor do íon terra rara é descrita pelo Hamiltoniano de campo cristalino (Hcc). O Hamiltoniano total será dado por (equação 2): H = Hion livre + Hcc (equação 2) A interação do campo cristalino é também de fundamental importância para o caso da intensidade das transições 4f – 4f. Estas transições ocorrem em sua grande maioria pelo mecanismo de dipolo elétrico forçado e são proibidas pela regra de Laporte. Entretanto, contando que o sítio ocupado pelo íon lantanídeo não apresente centro de inversão, a regra de Laporte é relaxada devido aos termos com paridade impar no hamiltoniano de campo cristalino que misturam estados de configurações opostas (MALTA; CARLOS, 2003). 1-40 A figura 1.6 mostra uma representação esquematizada da ordem de grandeza de cada um dos componentes do Hamiltoniano sobre a configuração 4f6 dos íons Eu3+ (GONÇALVES, 2001). Figura 1.6. Valores aproximados das energias associadas aos diferentes hamiltonianos que atuam na configuração 4f6 do íon Eu3+ (GONÇALVES, 2001). 1-41 1.6.3 Európio (Eu3+) A maior parte dos compostos de Eu3+ exibe forte luminescência na região do visível (vermelha) que é explorada em suas aplicações. O íon Eu3+ possui configuração [Xe]4f6. Essa configuração possui um total de 3003 microestados distribuídos em 119 multipletes que por força de interações spin-órbita originam 295 níveis de energia diferentes. O termo de menor energia é um septeto (2S+1 = 7) e o momento orbital total de menor energia será L = 3 que é representado pela letra F. Logo, temos 7FJ onde J assume valores no intervalo de ⏐L + S⏐ e ⏐L - S⏐ ou seja, 0 < J < 6. Como o número de elétrons f é menor que 7, o fundamental será o 7F0. A figura 1.7 ilustra os níveis de energia para o íon Eu3+. Em geral, seguida a excitação no UV, os níveis energéticos superiores relaxam não radiativamente populando o estado 5D0. A emissão observada é atribuída a transições a partir do estado excitado 5D0 para os estado mais baixos em energia. Dependendo da energia dos modos vibracionais do meio, a relaxação não radiativa pode não ser tão eficiente e observa-se emissão a partir de estados de maior energia em toda região do espectro eletromagnético (RIBEIRO, 1987). 1-42 Figura 1.7. Diagrama de níveis de energia do íon Eu3+ (GONÇALVES, 2001). As setas azul e vermelha indicam esquematicamente processos de absorção e emissão de luz respectivamente. Dentre as bandas de emissão do Eu3+, a banda referente a transição 5D0 → 7F1 (aproximadamente 592 nm) ocorre por mecanismo de dipolo magnético e portanto sua intensidade não depende do campo cristalino. O coeficiente de emissão espontânea de Einstein para esta transição (A01) é então determinado a partir do valor deste coeficiente no vácuo (A01’) e o índice de refração do meio n (A01 = A01’n3). O valor encontrado para A01 é 34,4 s-1 em água (n = 1,3). As demais bandas ocorrem por mecanismos de dipolo elétrico forçado e dependem do campo cristalino. O cálculo do coeficiente de emissão espontânea total (Atotal=ΣA0J onde J=0,1,2,3,4,5 e 6) para o 1-43 estado 5D0 é realizado a partir das intensidades relativas nos espectros de emissão (CARLOS, et al., 2009). O tempo de vida radiativo será dado pelo inverso do coeficiente de emissão espontânea (τrad= 1/Atotal) O tempo de vida medido experimentalmente (τEXP) por sua vez engloba todos mecanismos possíveis, radiativos e não-radiativos para a desativação de um determinado estado excitado. A diminuição da população de um determinado estado excitado (-dn/dt) pode então ser representada por (equação 3): (-dn/dt) = (Atotal + kn-rad)n (equação 3) onde kn-rad se refere a contantes de velocidade dos processos não-radiativos. Considerando-se que intensidade de emissão (I) é proporcional a população do estado (n), a integração da expressão acima leva a (equação 4) I(t)= I0.e-kt (equação 4) onde k= Atotal+kn-rad. O tempo de vida do estado excitado (τEXP) é dado pelo inverso da constante k. A eficiência quântica de emissão (η) de um determinado nível é dada pela razão entre as constantes de velocidade Atotal e k e portanto η = τEXP/τRAD. Em soluções aquosas diluídas (pH ≈ 5) e na ausência de íons de coordenação a primeira esfera de coordenação do Eu3+ é composta por moléculas de água. Considerando a série dos lantanídeos, o Eu3+ encontra-se numa região onde o número de coordenação muda de 9 para elementos mais leves para 8 para elementos mais pesados. Podemos considerar o equilíbrio entre espécies com número de coordenação 8 e 9. De fato a partir de estudos de difração de raios X determina-se o valor de 8,3 moléculas de água em soluções aquosas de Eu3+ (HABENSHUSS; SPEDDING, 1980). O tempo de vida obtido experimentalmente para o nível 5D0 em H2O é de 0,12 ± 0,01 ms que é um valor muito menor que o calculado para o tempo de vida radiativo. 1-44 Esta diferença importante se deve a eficiência do decaimento não-radiativo devido ao acoplamento com modos vibracionais de alta energia como os OH. Em D2O no entanto o valor observado experimentalmente (3,2 ms) se aproxima do valor radiativo e a comparação dos valores obtidos para o tempo de vida em H2O e D2O é a base do conhecido método de Horrocks para a determinação do número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação do Eu3+ (HORROCKS, et al., 1977) (HORROCKS; SUDNICK, 1979)(SUPKOWSKI; HORROCKS, 2002). A fórmula empírica de Horrock´s é valida para íons Eu3+ em solução e complexos (HORROCKS; SUDNICK, 1979) e é dada por ª 1 1 º q = 1,05« − » ¬τ ( H 2 O) τ ( D2 O) ¼ (equação 5) Onde q é o número de moléculas de água, τ (H2O) é o tempo de vida (ms) em água, e τ (D2O) é o tempo de vida em D2O. Mais recentemente Horrocks propos uma correção para a sua fórmula ª 1 º 1 − − 0,31» q = 1,11« ¬τ ( H 2 O) τ ( D2 O) ¼ (equação 6) Considerando esta segunda fórmula e os valores dos tempos de decaimento, 8,5 ± 1,0 moléculas de água são obtidas para Eu3+ em água sendo que este valor está em excelente concordância com os valores experimentais. Entretanto, há um inconveniente encontrado por aqueles que trabalham com íons Eu3+ como sondas estruturais que é a dificuldade de obtenção dos valores de tempo de vida em D2O. Muitos laboratórios não possuem D2O, pois trata-se de um solvente caro e higroscópico que sofre trocas D2O – H2O quando em atmosfera contendo água. Este problema pode ser superado se considerarmos que o tempo de vida observado para a D2O trata-se de um processo com contribuições puramente radiativas. Procedendo desta forma o termo 1/τ (D2O) da equação de Horrocks pode ser substituido por Atotal calculado a partir do espectro de emissão. Fica claro da discussão acima que a presença de moléculas de água na primeira esfera de coordenação do Eu3+ é indesejável quando se prepara materiais 1-45 luminescentes. Somado a este fato as transições de absorção dos íons terras raras trivalentes apresentam coeficientes de absorção bastante reduzidos. Uma alternativa encontrada para minimizar estes problemas é a utilização de ligantes orgânicos que formam complexos altamente luminescentes com os íons lantanídeos. Esses ligantes atuam portanto como sensibilizadores da emissão. Ligantes orgânicos apresentando elevado coeficiente de absorção no UV e níveis de energia excitados que possam transferir energia de maneira eficiente para o íon lantanídeo podem cumprir este papel de "antena" para a radiação de excitação (CARLOS, et al., 2009). Em geral o mecanismo envolve os seguintes passos: O ligante orgânico absorve radiação promove uma transição eletrônica do seu estado singleto fundamental para um estado singleto excitado, seguido de uma transferência de energia para um estado tripleto excitado. Esta energia pode ser transferida para o íon metálico, ou perdida através de decaimentos não radiativos via modos vibracionais da matriz, onde o íon está contido. Podem ocorrer ainda, transições eletrônicas entre estados energéticos do ligante, resultando na emissão de radiação eletromagnética, conhecida como fluorescência ou fosforescência do ligante (MOLINA, 2003). A presença de ligantes orgânicos, além de poder levar ao aumento na intensidade luminosa de emissão, pode ainda impedir a interação indesejável entre os íons lantanídeos e as moléculas de água que leva a perda de energia dos estados excitados via modos vibracionais não radiativos a supressão da luminescência. A figura 1.8 mostra uma representação esquemática do efeito antena de um ligante orgânico e um íon metálico emissor. 1-46 Figura 1.8. Representação esquemática do efeito antena de um ligante orgânico e um íon lantanídeo emissor. TE: Transferência de energia. A sensibilização de íons lantanídeos com ligantes orgânicos tem sido amplamente utilizada para obtenção de emissão eficiente no visível nas últimas décadas. De maneira interessante alguns trabalhos são descritos na literatura (SENDOR; KYNAST, 2002) (LEZHNINA; KATKER; KYNAST, 2005) onde a sensibilização leva em conta também a porosidade da matriz. O processamento de materiais em toda escala de tamanhos de poros permite novas aplicações. Em geral nos chamados materiais "clássicos" como os cristais, o efeito de tamanho do sítio que será ocupado pelo lantanídeo é fundamentalmente restritivo em relação a espécie que será incorporada. Entretanto os efeitos devidos a restrição de tamanhos podem ser benéficos como por 1-47 exemplo pela monitoração e controle do campo cristalino local, e das propriedades mecânicas como a rigidez da matriz, entre outros (CARLOS, et al., 2009). Moléculas de corantes, íons complexos ou mesmo nanopartículas podem ter sua aplicação restrita devido por exemplo a problemas de estabilidade química, manuseamento e mesmo morfologia. Neste sentido o controle da porosidade de dado material e a incorporação de diferentes espécies pode levar a novos materiais com propriedades otimizadas. A figura 1.9 extraída de (SENDOR; KYNAST, 2002) (LEZHNINA; KATKER; KYNAST, 2005). mostra a ampla faixa de porosidade possível de ser controlada para a preparação destes materias. 1-48 Figura 1.9. Extensão de tamanhos de poros possíveis de atuarem como hospedeiros para espécies luminescentes adaptada de (SENDOR; KYNAST, 2002) (LEZHNINA; KATKER; KYNAST, 2005). A descrição das diferentes possibilidades de preparação de materiais híbridos contendo lantanídeos e seus complexos com ligantes orgânicos pode ser encontrada em (CARLOS, et al., 2009). A figura 1.10 também adaptada de (SENDOR; KYNAST, 2002) (LEZHNINA; KATKER; KYNAST, 2005) ilustra os tipos de materiais obtidos. Um material poroso como a zeólita X pode incorporar complexos de íons lantanídeos e as propriedades de emissão dependerão fundamentalmente da estrutura de poros, sua natureza química e disponibilidade. Nassar (NASSAR, 1998) descreve em seu trabalho reações de estado sólido entre a zeólitas Y na forma amoniacal (NH4-Y) e cloreto e európio. Em seu trabalho 1-49 Nassar mostra os diferentes sítios que podem ser ocupados pelos íons Eu3+ nessas matrizes dependendo do tempo de reação utilizado, o que pode levar a menor ou maior incorporação dos íons Eu3+ na zeólita Y. Em trabalho publicado posteriormente, Nassar descreve a incorporação de íons Eu3+, também por reações de estado sólido, em função da temperatura, onde mostra que o Eu3+ ocupa diferentes sítios na zeólita dependendo da temperatura de calcinação utilizada (NASSAR, 2002). Rosa também descreveu (ROSA, 1997) a utilização de zeólitas Y, sendo que utilizou o complexo 2,2bipiridina, [Eu(bpy)2]3+. Rosa mostrou em seu trabalho que essas zeólitas são excelentes hospedeiras para íons lantanídeos (ROSA, 1997). Figura 1.10. a) Localização dos íons lantanídeso na zeólita X calcinada; b) Complexo [Eu(tta)3(phen] onde tta- tenoiltrifluoroacetonato ephen- fenantrolina; c) reflexão, excitação e emissão do complexo incorporado aos poroso da zeólita X. A área hachurada corresponde a emissão de um LED UV comercial da Nichia. Neste trabalho utilizaremos ligante tenoiltrifluoroacetonato (TTA). O complexo formado entre Eu3+ e o ligante tenoiltrifluoacetonato (TTA)- 1-50 diaquatris(tenoiltrifluoroacetonato)európio (III), [Eu(TTA)3(H2O)2], exibe forte emissão de luz avermelhada quando excitado no UV e foi inclusive utilizado nos primeiros trabalhos propondo a utilização de soluções de complexos de Eu3+ em laser líquidos. A forte absorção no UV e a transferência de energia ligante → Eu3+ levam a sensibilização da emissão (OLIVEIRA, 2006) (MOLINA, 2003). 2-51 2. Objetivos Este trabalho teve por meta principal preparar e caracterizar colóides e vidros fosfato a baixa temperatura apresentando propriedades de emissão intensificadas. Para tanto algumas metas intermediárias foram definidas: a) Preparação de suspensões estáveis de polifosfato-tungstato:Eu3+ em meio aquoso; - caracterização das propriedades de luminescência dos íons Eu3+. - avaliação das propriedades estruturais dos sistemas e caracterização do POM preparado no mesmo. - avaliação da possibilidade de preparo de materiais híbridos a partir desses sistemas. b) Preparação e caracterização de coacervato polifosfato-calcio/tungstato (vidros fosfotungstato preparados a temperatura ambiente); - caracterização das propriedades de luminescência dos íons Eu3+. - avaliação das propriedades estruturais dos sistemas e caracterização do POM preparado no mesmo. - avaliação da possibilidade de preparo de materiais híbridos a partir desses sistemas. c) Preparação de suspensões estáveis de polifosfato-niobato/APTS:Eu3+ em meio aquoso; - caracterização das propriedades de luminescência dos íons Eu3+. - avaliação das propriedades estruturais dos sistemas e caracterização do POM preparado no mesmo. 3-52 3. Procedimento Experimental Foram preparados sistemas coloidais polifosfato-tungstato-Eu3+, polifosfatotungstato-CMC-Eu3+, coacervatos polifosfato/Ca2+-tungstato-Eu3+, coacervatos 2+ polifosfato/Ca -CMC e sistemas híbridos polifosfato-niobato/3-aminopropil-trietoxisilano. A rota utilizada para o preparo e caracterização de cada sistema é descrita a seguir. 3.1 Sistemas polifosfato-tungstato- Eu3+ e polifosfatotungstato-CMC-Eu3+ Os sistemas polifosfato-tungstato-Eu3+ foram preparadas pela adição de tungstato de sódio (1 mol.L-1) e cloreto de európio (0,1 mol.L-1) em solução de polifosfato de sódio (4 mol.L-1). As composições estudadas (em % molar) foram (100x)NaPO3 : xNa2WO4, (x = 0; 0,5; 3, 7, 30, 50, 70 e 99,5). A concentração de íons Eu3+ utilizada foi mantida em 0,05 mols% em relação ao número de mols total. O pH das soluções foi ajustado para pH = 8 com solução de NaOH 0,1 mol.L-1. A simbologia utilizada para identificação das amostras é dada na tabela 3.1. Tabela 3.1. Simbologia utilizada para identificação dos sistemas (100-x)NaPO3 : xNa2WO4. Composições das amostras Simbologia utilizada 99,5 mol% NaPO3 : 0,5 mol% Na2WO4 W0,5P99,5 97mol% NaPO3 : 3 mol% Na2WO4 W3P97 93 mol% NaPO3 : 7 mol% Na2WO4 W7P93 70 mol% NaPO3 : 30 mol% Na2WO4 W30P70 50 mol% NaPO3 : 50 mol% Na2WO4 W50P50 30 mol% NaPO3 : 70 mol% Na2WO4 W70P30 0,5 mol% NaPO3 : 99,5 mol% Na2WO4 W99,5P0,5 3-53 Os sistemas polifosfato-tungstato-CMC-Eu3+ foram preparados de maneira similar a descrita acima. Primeiramente preparou-se, para cada sistema, soluções aquosas contendo 0,025 g de CMC e a elas adicionou-se a solução de Eu3+, separadamente preparou-se as soluções polifosfato-tungstato nas mesmas concentrações citadas acima (pH = 8). As soluções foram mantidas sob agitação e então adicionou-se as soluções de polifosfato-tungstato nas soluções de CMC-Eu3+, sendo que a concentração de Eu3+ utilizada foi de 0,5 mol% em relação ao número de mols total (mols de NaPO3 + Na2WO4). Desta forma obteve-se os sistemas polifosfatotungstato-CMC-Eu3+, porém para sistemas contendo concentrações de tungstato acima de 7 mol% as soluções apresentaram-se turvas depois de uma hora aproximadamente. 3.2 Coacervatos Polifosfato/Ca2+-Tungstato-Eu3+ e sistemas híbridos polifosfato-CMC e coacervato polifosfato/Ca2+CMC Os coacervatos foram obtidos pela adição lenta de solução de CaCl2.2H2O (2 mol.L-1) à solução de polifosfato de sódio (4 mol.L-1), sob agitação. A razão molar P:Ca utilizada foi de 1:1. Os coacervatos contendo Eu3+ foram preparados pela adição de solução de EuCl3 (0,1 mol.L-1) à solução de NaPO3, na razão molar de 99NaPO3: 1EuCl3. Os sistemas foram mantidos por no mínimo 3 horas sob agitação e em seguida colocados em repouso por 4 horas. Após as 4 horas de repouso, o sobrenadante foi removido e o coacervato foi lavado com água destilada. Adicionou-se então ao coacervato, sob agitação, solução aquosa de Na2WO4 (1 mol.L-1). A concentração de Na2WO4 utilizada foi de 1, 10 e 30 mol% em relação ao número de mols de NaPO3. O coacervato foi mantido sob agitação por 12 horas e em seguida mantido em repouso por aproximadamente 30 minutos. A solução sobrenadante foi removida e os coacervatos foram secos a temperatura ambiente e mantidos em dessecador. As amostras NaPO3 : CMC foram obtidas a partir da mistura dos pós de NaPO3 e CMC. Os pós foram misturados e homogeneizados em almofariz de ágata e em seguida adicionou-se água lentamente. Com a adição de água houve a formação de 3-54 um gel transparente. Este gel foi seco a temperatura ambiente e mantido em dessecador. Foram preparadas amostras com diferentes razões P/CMC sendo que utilizou-se razão massa/massa. Foram também preparadas amostras híbridas a partir de coacervatos : CMC. Os coacervatos foram preparados utilizando-se a razão 2:1 de NaPO3 e CaCl2. Foram preparados diversos coacervatos com a mesma composição, sendo que cada um deles foi tratado de forma diferente após a remoção do sobrenadante e em seguida adicionou-se solução aquosa de CMC aos coacervatos e estes foram mantidos sob agitação por 12 horas. As amostras foram tratadas (em relação a lavagem com água) da seguinte forma: (a) um dos coacervatos não foi lavado após remoção do sobrenadante; (b) o coacervato foi lavado com água antes da adição de CMC; (c) o coacervato foi lavado antes e depois da adição de CMC. Após decorridas as 12 horas de agitação a solução sobrenadante de CMC foi removida e os coacervatos foram secos a temperatura ambiente e mantidos em dessecador. Todas as amostras preparadas apresentaram-se transparentes. 3.3 Sistemas híbridos polifosfato-niobato-(3-aminopropiltrietoxi-silano)- Eu3+ (PNb/Si:Eu3+) As soluções de PNb/Si dopados com Eu3+ foram preparadas pela adição de oxalato de nióbio (0,25 mol.L-1) e cloreto de európio (0,1 mol.L-1) em solução de polifosfato de sódio (4 mol.L-1). A solução foi mantida sob agitação e em seguida adicionou-se o 3-aminopropil-trietoxi-silano (APTS), sendo que este foi previamente tratado conforme instruções do trabalho de Rousseau (ROUSSEAU, et al., 1995) e em seguida solubilizado em água. Com a adição do APTS a solução ficou turva. Para obtenção de soluções transparentes adicionou-se hidróxido de tetrametil-amônio (TMAH). As soluções preparadas apresentaram-se estáveis durante um período de aproximadamente 2 horas. Decorrido esse tempo houve a formação de partículas que deram uma aparência prateada para as soluções. As partículas foram separadas do 3-55 sobrenadante e foi realizada a caracterização de ambos e da solução antes da formação das partículas. 3.4 Caracterização das amostras. Os sistemas preparados foram caracterizados quanto as suas propriedades espectroscópicas e estruturais conforme descrito abaixo. Estudo da luminescência do Eu3+ Espectros de emissão, excitação e tempo de vida do estado excitado 5D0 do Eu3+ foram obtidos utilizando-se um espectrofluorímetro FLUOROLOG3 ISA/JobenYvon, 450W com lâmpada de Xenônio livre de ozônio, equipado com uma fotomultiplicadora Hamamatsu R928P. O tempo de vida (τ) do estado excitado 5D0 do Eu3+ foi obtido utilizando-se um espectrofluorímetro SPEX-Fluorolog2 450W com uma lâmpada pulsada de Xenônio. Espectros de absorção na região do Infravermelho (FTIR) Espectros vibracionais na região do infravermelho (FTIR) foram obtidos utilizando-se um espectrômetro Spectrum 2000 Perkin Elmer. Os espectros foram obtidos utilizando-se pastilhas de KBr, sendo que as soluções foram previamente depositada em pastilhas já preparadas e mantidas em dessecador. Espalhamento Raman Espectros de espalhamento Raman foram obtidos utilizando-se um espectrômetro Raman com transformada de Fourier, Bruker RFS 100, com um laser Nd3+/YAG operando em 1064 nm (infravermelho próximo) e com um detector CCD resfriado com N2 líquido. Difratometria de Raio-X (DRX) As medidas de DRX foram realizadas à temperatura ambiente, utilizando um difratômetro de Raios-X Siemens D5000, com filtro de níquel e utilizando a radiação 3-56 monocromática de CuKĮ (Ȝ = 1,5406 Å) na gama de ângulos 2ș entre 4 e 70 º e com Step time 1s e step size 0,05º. Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM) Imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão (TEM) foram obtidas utilizando-se um equipamento Philips CM2. As amostras foram previamente liofilizadas e dispersas em álcool isopropílico, sendo que para a obtenção de uma melhor dispersão as amostras foram colocadas em ultra-som por 5 minutos. Após preparada a dispersão, as amostras foram colocadas em uma grade polimérica a qual foi seca até saída total do solvente. 4-57 4. Resultados e discussões 4.1 Estudo das propriedades de luminescência de sistemas coloidais polifosfato-tungstato em meio aquoso contendo Eu3+. As misturas polifosfato-tungstato apresentam propriedades espectroscópicas que permitem sua caracterização em termos de um sistema coloidal estável. Na ausência de polifosfato uma solução de tungstato de sódio é estável somente em valores de pH elevados. Na medida que se diminui o pH há formação de precipitados. Os sistemas coloidais preparados neste trabalho podem ser bastante promissores na preparação de novos luminóforos e filmes luminescentes como será visto no que segue. A figura 4.1 mostra os espectros vibracionais (absorção no infravermelho -FTIR) obtidos para as suspensões coloidais preparadas e também para os compostos de referência (NaPO3 e Na2WO4.2H2O). O espectro obtido para o tungstato de sódio sólido (figura 4.1(a)) mostra bandas intensas em 856 e 827 cm-1, atribuídas a movimentos de estiramento W-O do grupo tungstato. Bandas mais fracas (ombros) são observadas em 925 e 810 cm-1, sendo que essas observações estão de acordo com resultados apresentados já nos anos 50 por Miller e Wilkins (MILLER; WILKINS, 1952). Em relação a unidade tetraédrica [WO4]2- as seguintes atribuições podem ser encontradas na literatura (NAKAMOTO, 1986): υ1 (A1)931 cm-1, υ2 (E)- 325 cm-1, υ3 (T2)- 838 cm-1 e υ4 (T2)- 325 cm-1. Desta forma, na figura 4.1(a) podemos atribuir as bandas mais fortes em 856 e 827 cm1- juntamente com o ombro em 810 cm-1 ao desdobramento do modo vibracional υ3 e a banda fraca observada em 925 cm-1 ao modo υ1. O grupo de bandas observadas em baixos números de onda (675, 639, 600 e 543 cm-1) podem ser atribuídas a efeitos do estado sólido. Em solução (pH = 8) (figura 4.1(b)), apenas uma banda intensa é observada em 830 cm-1, podendo ser atribuída ao modo υ3 dos tetraedros. No entanto, como 4-58 mencionado na introdução desta tese, os ânions tungstato são protonados em meio aquoso com o conseqüente aumento do número de coordenação dos átomos de tungstênio de 4 para 6. A condensação das unidades octaédricas resultantes leva a formação das estruturas complexas de polioxometalatos (POM). No pH estudado (pH = 8,0) o equilíbrio entre as estruturas hepta e dodecatungstato pode ser observado (CRUYWAGEN, 2000) (POPE, 1983), portanto a banda observada no espectro FTIR pode ser atribuída a ambas as estruturas. A distinção entre as diferentes espécies de tungstato é de fato ainda um pouco confusa na literatura, sendo que os espectros vibracionais dificilmente permitem a distinção entre diferentes números de coordenação do tungstênio (POIRIER, et al., 2005). A figura 4.1(j) mostra o espectro obtido para o NaPO3 sólido. Como também visto na introdução, o polifosfato de sódio é um material vítreo, com estrutura tipo metafosfato ou seja apresenta espécies lineares constituídas de tetraedros [PO4] compartilhando dois átomos de oxigênio. Utilizando-se a notação Qn, onde n denota o número de átomos de oxigênio em ponte por tetraedro, utilizada para fosfatos vítreos, podemos observar a estrutura Q2 para este caso. Bandas fortes são observadas em 1275 e 1156 cm-1, que podem ser atribuídas aos movimentos de estiramento assimétrico e simétrico, respectivamente, dos grupos (PO2) localizados no meio das cadeias de polifosfato. A banda localizada em 1091 cm-1 pode ser atribuída ao estiramento P-O terminal. As bandas em 881 cm-1 e 771-727 cm-1 são atribuídas a estiramento assimétrico e simétrico dos modos vibracionais P-O-P e as bandas fortes localizadas em 516 cm-1 aos modos de deformação do P-O-P. Em solução aquosa a estrutura polimérica do polifosfato de sódio é preservada como podemos observar no espectro obtido (figura 4.1(i)) que mostra que o espectro é essencialmente o mesmo observado para o sólido (figura 4.1(j)). A Figura 4.1 mostra também que as bandas referentes as vibrações do polifosfato permanecem inalteradas com a adição do tungstato de sódio ao sistema, sugerindo que a estrutura do metafosfato não é modificada com a introdução das espécies de tungstato. A banda relativa à estrutura do POM é claramente observada em 830 cm-1 para amostras contendo de 7 mol% de tungstato (W7P93) até as amostras mais concentradas. 4-59 Como já mencionado acima, na ausência de polifosfato, a diminuição do pH de uma solução de tungstato de sódio, nas mesmas concentrações utilizadas nesse trabalho, leva a formação de um precipitado branco cristalino. Em pH menor que 2 um precipitado verde de ácido politungstíco é obtido. A presença de polifosfato nas soluções impede a precipitação das espécies de tungstato, devido as características já bem conhecidas na estabilização de soluções exercida pelo polifosfato (CORBRIDGE, 1995) (AMJAD, 1987) (AMJAD, 1991). Também pode-se ressaltar, para efeitos de comparação, o papel desempenhado pelas estruturas das espécies de tungstato em vidros fosfatos estudados em nosso grupo (POIRIER, et al., 2005) (DE ARAUJO, et al., 2006). A introdução de tungstatos em vidros fosfato leva a um aumento de sua estabilidade frente a cristalização e uma diminuição no tamanho das cadeias de polifosfato causada pela quebra das cadeias P-O-P em detrimento das ligações P-OW-O-P formadas. Todas essas interações são claramente observadas por análises espectroscópicas dos vidros polifosfato-tungstato, preparados por métodos convencionais de fusão-resfriamento (POIRIER, et al., 2005) (DE ARAUJO, et al., 2006). 4-60 (a) Transmitância (u.a.) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j) 1400 1200 1000 800 600 400 -1 Numero de onda (cm ) Figura 4.1. Espectros de transmissão no IV para os sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstato e dos compostos de referência. (a) Na2WO4. (b) W99,5P0,5; (c) W70P30; (d) W50P50; (e) W30P70; (f) W7P93; (g) W3P97; (h) W0,5P99,5; (i) NaPO3 em solução aquosa; (j) ) NaPO3 sólido. A figura 4.2 mostra os espectros Raman obtidos para as suspensões coloidais. Os espectros obtidos para o polifosfato de sódio sólido e para o tungstato de sódio 4-61 sólido são apresentados em trabalhos publicados anteriormente (POIRIER, et al., 2005) (DE ARAUJO, et al., 2006). O espectro Raman obtido para o NaPO3 sólido (POIRIER, et al., 2005) (DE ARAUJO, et al, 2006) é caracterizado pela presença de duas bandas em 700 e 1160 cm-1 que podem ser atribuídas a vibrações de estiramento simétrico das ligações P-O-P e vibrações de estiramento simétrico dos grupos P-O terminal da estrutura Q2. As bandas fracas observadas em 1010 e 1270 cm-1 referem-se a vibrações de estiramento simétrico dos grupos P-O terminal e estiramentos assimétricos dos grupos P-O referentes aos tetraedros Q2, repectivamente (STRANFORD; CONDRATE; CORNILSEN, 1981). O espectro Raman obtido para o tungstato de sódio sólido mostra duas bandas centradas em 930 e 810 cm-1, que são atribuídas aos modos vibracionais dos tungstatos tetraédricos (POIRIER, et al., 2005). O espectro obtido para a solução de polifosfato de sódio (figura 4.2(a)) apresenta duas bandas centradas em 1150 e 696 cm-1 que podem ser comparadas as bandas obtidas para o NaPO3 sólido. O espectro obtido para o tungstato de sódio apresenta bandas em 930 e 834 cm-1. Com a adição de tungstato à solução de polifosfato as intensidades relativas das bandas relativas as duas espécies (polifosfato e tungstato) acompanham o perfil de concentração relativa, corroborando as observações feitas a partir dos espectros de absorção no IV. A interação entre as espécies de polifosfato e tungstato que impede a precipitação dos tungstatos não se reflete pela observação de novas bandas nos espectros vibracionais. 4-62 (a) Intensidade Raman (u.a.) (b) (c) (d) (e) (f) (g) (h) (i) (j) 300 600 900 1200 1500 1800 -1 Número de onda (cm ) Figura 4.2. Espectros Raman dos sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstato e dos compostos de referência. (a) NaPO3; (b) W0,5P99,5; (c) W3P97; (d) W7P93; (e) W30P70; (f) W50P50; (g) W70P30; (h) W99,5P0,5; (i) Na2WO4 em solução aquosa; (j) Na2WO4 sólido A figura 4.3 mostra imagens de microscopia eletrônica de transmissão (TEM) para algumas das amostras preparadas com diferentes concentrações de tungstato. Podem-se observar partículas com tamanhos variando de 5 a 10 nm. Os insets na figura mostram as nanopartículas com maior detalhe. 4-63 A análise local (EDX) revela que as partículas são ricas em tungstênio. (a) (b) (c) Figura 4.3. Imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão das suspensões coloidais. (a) W3P97; (b) W30P70 e (c) W70P30. A figura 4.4 mostra os espectros de emissão obtidos para os sistemas coloidais e também para a solução aquosa de Eu3+ (pH = 5). O comprimento de onda utilizado 4-64 (λexc = 394 nm) corresponde a transição de absorção do Eu3+ 7F0 → 5L6. A partir do nível 5L6 decaimentos não radiativos populam o nível 5D0 de onde a emissão é observada para os níveis de menor energia 7F0-4. As atribuições são feitas na figura 4.4. Em solução aquosa, na ausência de ânions na primeira esfera de coordenação, os íons Eu3+ encontram-se coordenados com um número de moléculas de água que varia entre 8 e 9. O espectro de emissão (figura 4.4(a)) mostra predominantemente a transição que apresenta caráter de dipolo magnético (5D0 → 7F1) em 591 nm. Bandas com menor intensidade são observadas para as transições de dipolo elétrico em 580, 612, 650 e 695 nm são atribuídas às transições 5D0 → 7F0, 5D0 → 7F2, 5D0 → 7F3 e 5D0 → 7 F4 respectivamente. Este fato sugere que em solução aquosa os íons Eu3+ experimentam um ambiente químico centro-simétrico já que de acordo com as regras de transição as transições de dipolo elétrico são proibidas em sítios apresentando centro de simetria. Como mencionado anteriormente na Introdução deste trabalho o tempo de vida observado para os íons Eu3+ em solução aquosa é de 0,12 ms e o tempo de vida radiativo, que pode ser obtido utilizando-se o espectro de emissão (DIAS FILHO, et al., 2005) (CARLOS, et al., 2009), tem valor igual a 8,33 ms. Desta forma o valor encontrado para a eficiência quântica (η) é de 0,02. Nas soluções de polifosfato observa-se o encapsulamento dos íons Eu3+ pelas cadeias do polifosfato (DIAS FILHO, et al., 2005). O espectro mostrado na figura 4.4(b) apresenta predominantemente a transição de dipolo elétrico em 613 nm, atribuída a transição 5D0 → 7F2. O valor do tempo de vida observado é de 1,1 ms. Como também mencionado na Introdução o número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação do íon Eu3+ pode ser também encontrado conhecendo-se os valores do tempo de vida experimental e do tempo de vida radiativo e utilizando-se a equação de Horrocks. O número médio de moléculas de água coordenadas ao Eu3+ na solução de polifosfato é de 0,4; mostrando que os íons Eu3+ estão mais protegidos das moléculas de água do que quando em solução aquosa, onde encontramos entre 8 e 9 moléculas de água na primeira esfera de coordenação. A remoção de moléculas de água da primeira esfera de coordenação do Eu3+ faz com que as taxas de decaimentos não 4-65 radiativos sejam menores, o que leva ao aumento da eficiência quântica em até 10 vezes (η = 0,22) (DIAS FILHO, et al., 2005). Nas figuras 4.4(c)-(g) pode-se observar as modificações importantes que ocorrem com a adição de tungstato à solução de polifosfato. A componente referente a transição 5D0 → 7F2, localizada em 613 nm sofre um deslocamento para 614,5 nm em amostras contendo 7 mol% de tungstato. A intensidade relativa desta componente diminui continuamente com o aumento na concentração de tungstatos. Pode-se observar também novas componentes em 608 e 622 nm e o desdobramento da transição 5D0 → 7F1 em duas componentes mais finas localizadas em 589 e 594 nm. Duas novas componentes são observadas em 692 e 701 nm referentes à transição 5D0 → 7F4 que em amostras contendo maiores concentrações de tungstato apresentam intensidade pronunciada. Na literatura o estudo espectroscópico do composto Na9[EuW 10O36].14H2O levou a observação de intensidade anômala para a transição 5D0 → 7F4 o que foi atribuído a dois fatores conjuntos: a simetria local dos íons Eu3+ (D4d) e polarizabilidade pronunciada do campo ligante (SÁ FERREIRA, et al., 2006). Voltaremos a discussão deste composto em comparação com nosso sistema mais adiante. Voltando as observações referentes aos espectros de emissão o “inset” na figura 4.4 mostra em detalhe a transição 5D0 → 7F0. Acompanhando as mudanças espectrais com a adição de tungstato, um deslocamento contínuo para menores energias é observado, partindo de 579 nm em soluções de polifosfato até 579,6 nm para sistemas com altas concentrações de tungstato. 4-66 Figura 4.4. Espectros de emissão a temperatura ambiente para sistemas coloidais dopados com Eu3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc = 394 nm. (a) EuCl3; (b) W0,5P99,5; (c) W3P97; (d) W7P93; (e) W30P70; (f) W50P50; (g) W70P30. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. O “inset” na figura mostra a transição 5 D0 → 7F0. A figura 4.5 mostra os espectros de excitação normalizados em relação a banda em 394 nm para melhor comparação. A figura 4.5(a) mostra o espectro obtido para a solução de polifosfato. As linhas finas, características do íon Eu3+, são atribuídas a transições do estado fundamental 7 F0, 7F1 e 7F2 para os estados excitados. As atribuições de cada banda são dadas na própria figura. Com a adição de tungstato ao sistema uma nova banda surge no 4-67 espectro de excitação e que tem a intensidade relativa aumentada com o aumento na concentração de tungstato. O “inset” na figura 4.5 mostra a ampliação de parte do espectro da figura 4.5(c) (sistema contendo 7 mol% de tungstato) com a banda larga com máximo em 342 nm. Para amostras contendo 30 mol% de tungstato esta mesma banda aparece em 326 nm, porém com maior intensidade. Com a contínua adição de tungstatos ao sistema, observa-se que esta banda aumenta cada vez mais de intensidade como podemos observar na amostra contendo 50 mol% de tungstato (banda com máximo em 321 nm) e na amostra contendo 70 mol% de tungstato (banda com máximo em 311 nm). Esta banda pode ser atribuída a excitação do Eu3+ via transferência de carga O-W bem conhecida em tungstatos de európio (KODAIRA, et al., 2003) (KODAIRA; BRITO; FELINTO, 2003) (LI, et al., 2005) (SÁ FERREIRA, et al., 2006). 4-68 Figura 4.5. Espectros de excitação a temperatura ambiente para sistemas coloidais contendo diferentes concentrações de tungstatos. λem = 612 nm. (a) W0,5P99,5; (b) W3P97; (c) W7P93; (d) W30P70; (e) W50P50; (f) W70P30. Os números denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 85 D2] (CARNALL, 1977). A figura 4.6 mostra o perfil das curvas de decaimento e os tempos de vida que podem ser obtidos a partir das mesmas. Como já foi mostrado em trabalho anterior de nosso grupo (DIAS FILHO, et al., 2005), a curva de decaimento obtida para soluções de polifosfato pode ser ajustada como um decaimento mono-exponencial onde o tempo de vida determinado encontra-se em torno de 1,1 ms, que corresponde a íons Eu3+ 4-69 encapsulados pelas cadeias polifosfato. Para a amostra contendo maior concentração de tungstato (70 mol% - figura 4.6(f)) o perfil da curva de decaimento também pode ser ajustado como uma função mono-exponencial, sendo que para esses sistemas o tempo de vida encontrado é de 3,0 ms. Para as amostras com 3, 7, 30 e 50 mol% de tungstato as curvas de decaimento (figura 4.6(b), (c), (d) e (e) respectivamente) não podem ser ajustadas como curvas mono-exponenciais. Todas essas quatro curvas podem ser ajustadas com a contribuição de funções exponenciais de segunda ordem, onde o primeiro decaimento apresenta tempo de vida ao redor de 1 ms e o segundo em torno de 3 ms. A contribuição do tempo de vida mais longo pode ser avaliada pelo valor da amplitude dos ajustes realizados, sendo que valores ao redor de 5% foram encontrados para amostras com 3 mol% de tungstato. Esse valor aumenta continuamente com o aumento da concentração de tungstato, os valores encontrados foram de 15% para 7 mol%, 35% para 30 mol% e 65% para 50 mol% de tungstato. Destas observações pode-se inferir que com a adição de tungstato um novo composto é formado, sendo já detectado em amostras contendo pequenas concentrações de tungstato. Para a amostra contendo 70 mol% de tungstato todos os íons Eu3+ existentes no sistema encontram-se na forma desse novo composto no sistema coloidal. 4-70 1 1 Intensidade normalizada (lnI) Intensidade normalizada (lnI) τ= 1,0 ms 0,36788 0,13534 0,04979 0,01832 0,00674 τ1=1,0 ms (95%) 0,36788 τ2=3,0ms (5%) 0,13534 0,04979 0,01832 0,00674 0,00248 0,00248 0 2 4 0 2 4 Tempo (ms) 6 8 (a) 1 τ1=1,0ms (65%) τ2=3,0ms (15%) 0,36788 Intensidade normalizada (lnI) Intensidade normalizada (lnI) τ1=1,0 ms (85%) 0,13534 0,04979 0,01832 0,00674 0 2 4 6 8 10 12 τ2=3,0ms (35%) 0,36788 0,13534 0,04979 0,01832 14 0 2 4 Tempo (ms) 6 8 10 12 Tempo (ms) (c) (d) 1 1 τ1=1,0ms (35%) τ=3.0ms τ2=3,0ms (65%) 0,36788 Intensidade normalizada (lnI) 0,36788 Intensidade normalizada (ln(I) 12 (b) 1 0,13534 0,04979 0,01832 0,00674 0,13534 0,04979 0,01832 0,00674 0 0 2 4 6 8 10 12 14 2 4 6 8 10 12 14 Tempo (ms) Tempo (ms) (e) 10 Tempo (ms) (f) Figura 4.6. Perfil das curvas de decaimento e os tempos de vida obtidos para sistemas polifosfato-tungstato-Eu3+. 4-71 Estes resultados podem ser comparados com dados encontrados na literatura que referem-se a tungstatos em POMs. Os resultados obtidos nos levam a sugerir a formação nesses sistemas polifosfato-tungstato da espécie polioxotungstatoeuropato (EuW 10O36)-9 ilustrado na figura 4.7 extraída de (BALLARDINI, et al., 1984). Figura 4.7. Ilustração do ânion EuW 10O36-9. Os octaedros representam os grupamentos [WO6] que compõe a estrutura (adaptada de BALLARDINI, et al., 1984). A figura 4.8 mostra os espectros de emissão obtidos para a amostra contendo 70 mol% de tungstato e também para o composto sólido Na9[EuW 10O36].14H2O, que foi preparado conforme descrito por Ballardini e colaboradores (BALLARDINI, 1984). O estudo espectroscópico do composto sólido Na9[EuW 10O36].14H2O foi realizado anteriormente por Sá Ferreira (SÁ FERREIRA, et al., 2006) e o espectro obtido mostrou-se muito semelhante ao espectro descrito na literatura, indicando que estamos tratando do mesmo composto preparado por Sá Ferreira (SÁ FERREIRA, et al., 2006). Intensidade (u.a.) 4-72 (b) (a) 580 600 620 640 660 680 700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.8. Espectros de emissão a temperatura ambiente. λexc = 394 nm. (a) Na9[EuW 10O36].14H2O sólido; (b) sistema coloidal W70P30. As imagens de Microscopia Eletrônica de Transmissão (figura 4.3) mostram nanopartículas ricas em tungstênio e desta forma podemos sugerir que nanopartículas de polioxotungstatoeuropato foram formadas e estabilizadas nos sistemas coloidais polifosfato-tungstato preparados. O aumento do tamanho médio das nanopartículas com o aumento da concentração relativa de tungstato pode estar relacionado com o deslocamento e aumento da intensidade observada das bandas atribuídas a transferência de carga O-W (espectros de excitação – figura 4.5). 4-73 Como já foi citado anteriormente a taxa de decaimento radiativo pode ser obtida a partir de espectros de emissão e para os sistemas preparados contendo nanopartículas (70 mol% de tungstato) o valor obtido para o decaimento radiativo do íon Eu3+ 5D0 é de 3,8 ms. Se considerarmos este valor (3,8 ms) juntamente com o tempo de vida experimental (3,0 ms) podemos obter o valor da eficiência quântica, que para este caso é de 0,8. Este valor pode ser comparado ao valor de rendimento quântico (relação entre o número de fótons emitidos e o número de fótons absorvidos) encontrado na literatura para o polioxotungstatoeuropato sólido (φ = 0,8) (BALLARDINI, et al., 1984). A eficiência quântica (η) e o rendimento quântico (φ) podem ser relacionados por φ = η.k Onde o fator k inclui todos os processos envolvidos na eficiência de absorção de luz pelo sensibilizador, a transferência de energia para os estados emissores e a taxa de decaimento populacional dos estados emissores. No presente caso η = φ (k = 1), mostrando desta forma que o sistema possui processos muito eficientes de absorção de luz e transferência de energia para o íon Eu3+ a temperatura ambiente e em solução aquosa. Embora a formação da espécie (EuW 10O36)-9 seja evidente, a relação entre as concentrações de Eu3+ e WO42- sugere a formação conjunta de espécies que não contêm Eu3+. Sabe-se que na faixa de pH entre 5 e 9 pode-se obter espécies paratungstatos A (W 7O246-) e paratungstatos B [(H2W 12O42)10-) enquanto que para pHs maiores que 9 podemos encontrar tungstatos na forma do ânion WO42- (CRUYWAGEN, 2000). Na figura 4.9 é apresentado o difratograma obtido para a amostra W70P30 liofilizada onde observamos diversos picos, característicos de estruturas cristalinas, onde podemos sugerir a exixtência de uma mistura das espécies paratungstato A e B e tungstato de sódio. Intensidade (u.a.) 4-74 20 30 40 50 60 70 Ângulo de difração / 2θ Figura 4.9. Difratograma de raios-X da amostra W70P30 liofilizada. O aspecto interessante a ressaltar aqui se refere a observação destas características espectroscópicas, no sistema coloidal em meio aquoso. Na literatura os ânions (EuW 10O36)-9 em solução aquosa parecem interagir fortemente com a água. Com a dissolução observa-se de fato um decréscimo no rendimento quântico e no tempo de vida em conjunto com alterações espectrais. Estes efeitos são relacionados com a coordenação de moléculas de água aos íons Eu3+ (BALLARDINI, et al., 1984) (SUGETA; YAMASE, 1993) (SÁ FERREIRA, et al., 2006). Considerando-se a preparação de materiais onde deseja-se alta eficiência na luminescência, a presença de moléculas de água na primeira esfera de coordenação dos íons Eu3+ é indesejável, uma vez que sua presença pode causar uma grande diminuição da luminescência. Nesses casos a utilização de POMs torna-se muito interessante, pois o número de moléculas de água presentes na primeira esfera de coordenação dos íons Eu3+ é pequeno ou mesmo zero como no caso do (EuW 10O36)-9. 4-75 Na literatura em trabalho bastante elegante Li e cols (Li, et al., 2005) utilizaram surfactantes catiônicos polimerizáveis para a introdução do polioxotungstatoeuropato no polímero PMMA. Os autores chamam os novos precursores obtidos pela sigla SEC do inglês "surfactant encapsulated POM clusters". A figura 4.10, extraída deste artigo, ilustra o processo. Figura 4.10. Esquema mostrando a preparação da espécie SEC-1 (do inglês "surfactante encapsulated POM clusters") a partir do polioxotungstatoeuropato encapsulado pelo surfactante catiônico polimerizável "DMDA" (do inglêsdodecyl(11methacryloyloxyundecyl)dimethylammonium bromide) e sua incorporação no monômero metilmetacrilato (MMA) e posterior polimerização levando a espécie híbrida (adaptada de Li, et al., 2005) 4-76 A figura 4.11 também adaptada deste artigo (Li, et al., 2005) mostra os espectros de excitação e emissão obtidos para o composto inicial e o híbrido final. São claras as alterações espectrais apesar dos autores omitirem este fato no artigo. Ao contrário no texto os autores contraditoriamente afirmam não haver alteração espectral alguma com a incorporação do polixotungstatoeuropato no polímero pela metodologia proposta. Figura 4.11. Figura adaptada de (Li, et al., 2005). Os espectros (a), (b) e (c) mostram os espectros de excitação e os espectros (d), (e) e (f) referem-se a espectros de emissão do polioxotungstatoeuropato, do SEC e do híbrido obtido da incorporação do SEC ao PMMA, respectivamente. O mesmo grupo propôs metodologia semelhante para a incorporação do polioxotungstatoeuropato em sílica utilizando-se a metodologia sol-gel. A figura 4.12 é adaptada de (QI; LI; WU, 2007) e mostra a preparação do SEC utilizando-se desta vez um surfactante apresentando grupos OH terminais na cadeia alifática do surfactante. 4-77 Figura 4.12. Esquema mostrando a preparação da espécie SEC-1 a partir do polioxotungstatoeuropato encapsulado pelo surfactante catiônico "DOHDA" (do inglês- di(11hydroxyundecyl)dimethylammonium bromide) e sua incorporação no material obtido pela gelificação do conhecido alcóxido de silício TEOS.(adaptada de QI; LI; WU, 2007) Os espectros obtidos por estes autores são reproduzidos na figura 4.13. Assim como no caso do PMMA aqui são claras as alterações espectrais. 4-78 Figura 4.13. Figura adaptada de (QI; LI; WU, 2007) apresentando espectros de excitação (esquerda) e emissão (direita) obtidos para o SEC-1 (acima) e híbrido (abaixo). Esses resultados da literatura podem ser comparados aos nossos onde claramente a espécie polioxotungstatoeuropato é preservada no meio coloidal, abrindo perspectivas interessantes de aplicação já que a partir de sistemas coloidais contendo polifosfato é possível o preparo de monolitos transparentes e também de filmes. Tentativas preliminares de preparação de corpos monolíticos pela secagem dos colóides ou filmes pela deposição (spin-coating) sobre substratos de vidro levaram a amostras com baixa qualidade óptica (opacas). Numa tentativa de melhorar as características ópticas dos materiais preparados optou-se pelo uso conjunto de um polímero orgânico, no caso a carboximetilcelulose (CMC), que isoladamente leva a obtenção de filmes perfeitamente transparentes. 4-79 As amostras foram preparadas utilizando-se o mesmo procedimento descrito anteriormente, porém neste caso a concentração de Eu3+ utilizada foi de 0,5 mols% em relação ao número de mols total. A cada sistema foram adicionados 0,025 g de CMC previamente dissolvidos em água. A figura 4.14 mostra os espectros Raman obtidos para as suspensões coloidais polifosfato-tungstato-CMC. As atribuições para a solução de polifosfato de sódio e para as soluções contendo tungstato foram feitas anteriormente na figura 4.2. A curva 4.14(h) mostra o espectro obtido para a solução aquosa de CMC, onde observam-se bandas em 1415, 1374, 1324, 1263, 1110 e 911 cm-1 referentes aos modos δCH2, δCH2, ω(CH2), estiramentos dos modos COC, estiramentos dos modos COH e δ(C1Hβ), respectivamente (PIELESZ, 2007).Os espectros Raman mostrados na figura 4.14 mostraram-se muito semelhantes aos espectros mostrados na figura 4.2, indicando desta forma que a adição de CMC ao sistema não provoca alterações estruturais significativas no sistema coloidal polifosfato-tungstato. 4-80 Figura 4.14. Espectros Raman dos sistemas coloidais polifostato-tungstato-CMC contendo diferentes concentrações de tungstato. (a) NaPO3 (solução); (b) W3P97-CMC; (c) W7P93CMC; (d) W30P70-CMC; (e) W50P50-CMC; (f) W70P30-CMC; (g) Na2WO4 (h) CMC. A figura 4.15 mostra os espectros de emissão obtidos para esse conjunto de amostras sob excitação em 394 nm. As atribuições são feitas na própria figura. Assim como observado para as amostras que não continham CMC a adição de tungstato leva a alterações drásticas nos espectros. Observa-se que os espectros dos sistemas coloidais contendo CMC são muito semelhantes aos espectros dos sistemas coloidais sem CMC (figura 4.4). Os espectros de excitação e as medidas de tempo de vida de emissão, não apresentados aqui também são similares aos obtidos na 4-81 ausência de CMC. A adição de CMC ao sistema coloidal polifostato-tungstato não altera suas propriedades de luminescência. 2 4 Intensidade (u.a.) 1 (a) 3 0 (b) (c) (d) (e) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.15. Espectros de emissão a temperatura ambiente dos sistemas polifosfato-tungstatoCMC contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc = 394 nm. (a) W3P97:0,025g CMC; (b) W7P93:0,025g CMC; (c) W30P70:0,025g CMC; (d) W50P50:0,025g CMC; (e) W70P30:0,025g CMC. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. Alguns ensaios preliminates de preparação de filmes por “spin-coating” em substratos de vidro foram realizados com secagem a 80 0C. Os filmes obtidos das amostras contendo CMC com pequenas concentrações de tungstato apresentaram-se transparentes e com boa aderência ao substrato utilizado. Porém os filmes preparados com soluções contendo altas concentrações de tungstato 4-82 apresentaram-se com várias estrias brancas sendo que após o tratamento térmico estes ficaram levemente opacos. A otimização na preparação destes filmes fica como uma das perspectivas para trabalhos futuros. 4-83 4.2 Estudo das propriedades de luminescência de coacervatos de polifosfato de cálcio- tungstato-Eu3+ 4.2.1 Coacervatos polifosfato de Cálcio:tungstato Caracterização estrutural A preparação destes sistemas é descrita no item referente ao procedimento experimental nesta tese. Tungstatos são facilmente incorporados aos coacervatos de polifosfato de cálcio previamente preparados pelo simples contato da massa viscosa com a solução. Temos explorado esta técnica em nosso laboratório para a adsorção/absorção de diferentes espécies, inorgânicas ou orgânicas, em solução, com grande sucesso. Este procedimento pode ser aplicado de maneiras diferentes como na preparação de materiais luminescentes, explorada nesta tese, até mesmo a descontaminação de águas poluídas. Assim, os coacervatos contendo tungstatos foram preparados pela adição de solução aquosa de tungstato de sódio (Na2WO4.2H2O) aos coacervatos de composição 1NaPO3:1CaCl2:Eu3+ em diferentes relações molares P:W. Após determinado tempo de agitação os coacervatos foram retirados das soluções e secos. Após secagem os materiais apresentaram-se como pós de coloração branca. A figura 4.16 mostra os espectros Raman obtidos para as diferentes amostras. As figuras 4.16(a) e 4.16(b) mostram os espectros obtidos para o polifosfato e o coacervato, respectivamente. Como já descrito no capítulo anterior, para o NaPO3 as bandas mais intensas são observadas em 700 e 1160 cm-1, atribuídas aos movimentos de estiramento simétrico do grupo P-O-P e vibrações de estiramento dos grupos P-O terminais da estrutura Q2, respectivamente. As bandas fracas observadas em 1010 e 1270 cm-1 são atribuidas a estiramento simétrico dos grupos P-O terminais e estiramentos assimétricos dos grupos P-O referentes aos tetraedros Q2 (STRANFORD; CONDRATE; CORNILSEN, 1981). De maneira análoga, para o coacervato as bandas mais intensas em 704 e 1166 cm-1 são atribuídas a vibrações de estiramento simétrico 4-84 das ligações P-O-P e vibrações de estiramento simétrico dos grupos P-O terminal da estrutura Q2, respectivamente. Nos coacervatos observou-se também uma banda pouco intensa em 1253 cm-1, referente a estiramentos assimétricos dos grupos P-O dos tetraedros Q2 (STRANFORD; CONDRATE; CORNILSEN, 1981). A figura 4.16(f) mostra o espectro obtido para o tungstato de sódio com bandas mais intensas relativas aos modos vibracionais dos tungstatos em 930 e 840 cm-1. A figura 4.16(c) mostra o espectro do sistema contendo 1% de tungstato. Observa-se essencialmente o espectro do coacervato. A figura 4.16(d), obtida para o sistema preparado com 10% de tungstato apresenta as bandas relativas ao polifosfato aproximadamente nas mesmas posições observadas para o coacervato. Uma banda intensa é observada como um dubleto em 990 e 971 cm-1 e outras de menor intensidade são observadas em 1042, 911, 889 e 506 cm-1. Com o aumento na concentração relativa de tungstato (30% de tungstato figura 4.16(e)) a banda intensa é deslocada para menores energias e aparece alargada com máximo em 958 cm-1. Bandas de menor intensidade relativa são observadas em 1041, 895, 856 e 492 cm-1. A observação dos espectros sugere que com o aumento da concentração relativa de tungstato o conjunto de bandas que pode ser atribuído a espécies tungstato sofre um deslocamento para menores energias, no sentido da posição em energia das bandas observadas para a solução de tungstato de sódio. Pode-se sugerir tentativamente que efeitos de tamanho e/ou natureza das nanopartículas de polioxometalatos possam ser os responsáveis pela largura das bandas e deslocamento espectral observados. 4-85 Figura 4.16. Espectros Raman para os sistemas de coacervatos de polifosfato de cálciotungstato:Eu3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. (a) NaPO3; (b) Coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervato + 1% W; (d) Coacervato + 10% W; (e) Coacervato + 30% W; (f) Na2WO4. A figura 4.17 apresenta os espectros vibracionais na região do infravermelho. Observam-se para todas as amostras as bandas características dos polifosfatos. Com a adição de tungstato há claramente a contribuição crescente de um dubleto na região de 700-900 cm1 e de bandas de intensidade relativa pequena na região de 1000 cm-1 referente aos modos vibracionais de espécies tungstato. Assim como observado nos espectros Raman a posição relativa destas bandas é deslocada no sentido das bandas observadas para o tungstato de sódio. 4-86 Figura 4.17. Espectros de transmissão no IV (FTIR) para os sistemas de coacervatos de polifosfato de cálcio- tugstato:Eu3+ contendo diferentes concentrações de tungstatos. (a) NaPO3; (b) Coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos + 1% W; (d) Coacervato + 10% W; (e) Coacervato + 30% W; (f) Na2WO4. Luminescência A figura 4.18 apresenta os espectros de emissão obtidos para estas amostras. Com a adição de tungstato há uma diminuição na intensidade relativa da transição D0→7F2 na região de 610-630 nm. Observa-se também o aumento da intensidade 5 4-87 relativa da transição 5D0→7F4 na região de 680-710 nm. Como citado anteriormente (figura 4.4), em alguns compostos a transição 5D0 → 7 F4 apresenta intensidade anômala devido principalmente ao efeito conjunto da simetria e polarizabilidade do campo ligante (SÁ FERREIRA, et al., 2006). Este efeito parece ser operativo também neste caso. 2 4 1 Intensidade (u.a.) 3 (a) 0 (b) (c) (d) 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.18. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os sistemas de coacervato de polifosfato de cálcio- tungstato- Eu3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. λexc=394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervato + 1% W; (c) Coacervato + 10% W; (d) Coacervato + 30% W. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. 4-88 Como mencionado na Introdução deste trabalho a intensidade de emissão destes sistemas coloidais pode ser bastante intensificada pela utilização de sensibilizadores adequados como ligantes orgânicos apresentando elevado coeficiente de absorção no UV e níveis de energia excitados que possam transferir energia de maneira eficiente para o íon lantanídeo. Nesta etapa do trabalho utilizou-se o ligante orgânico tenoiltrifluoroacetonato (tta) que forma complexos com os íons Eu3+ levando a formação do complexo diaquatris(tenoiltrifluoroacetonato)európio (III), [Eu(tta)3(H2O)2]. Este complexo é bem conhecido na literatura e exibe forte emissão de luz vermelha quando excitado no UV como conseqüência do efeito antena, o espectro de emissão do complexo é mostrado na figura 4.19. Na figura 4.19 podem ser observadas as principais linhas relativas à emissão do estado excitado 5D0 do Eu3+ para os estados de menor energia 7F0-4. O máximo de emissão é observado em 612 nm, referente à transição 5D0→7F2, sendo que esta apresenta-se desdobrada em 3 componentes, como conseqüência da baixa simetria do campo dos ligantes ao redor do íon Eu3+. Na estrutura deste complexo os íons Eu3+ são coordenados por 8 átomos de oxigênio dispostos num antiprisma quadrado distorcido (CARNAUBA, 2005) (MALTA, et al., 1997). Intensidade (u. a.) 4-89 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 4.19. Espectro de emissão do complexo [Eu(tta)3(H2O)2] para excitação em 394 nm. O espectro de excitação é apresentado na figura 4.20. Esse espectro é dominado por uma banda larga que se estende do UV até o visível. As bandas finas referentes as transições dentro da configuração 4f6 são encobertas pela banda larga. Uma banda fina é ainda observada em 464 nm. A banda larga é atribuída a absorção da radiação incidente pelos ligantes tta (CARNAUBA, 2005) (MALTA, et al., 1997). O tempo de vida medido para o estado 5D0 do Eu3+ é de 0,34 ms. Intensidade (u. a.) 4-90 250 300 350 400 450 500 550 600 Comprimento de onda (nm) Figura 4.20. Espectro de excitação do complexo [Eu(tta)3(H2O)2] em λem = 612 nm. O ligante orgânico tenoiltrifluoroacetonato (TTA) foi então adicionado aos coacervatos contendo diferentes concentrações de tungstato, sendo que a 3+ concentração de TTA utilizada foi quantificada em relação ao número de mols de Eu . A figura 4.21 mostra os espectros de emissão obtidos para as amostras contendo 1% de tungstênio. Podemos observar que a adição de TTA no sistema não causa alterações significativas nas transições do Eu3+, evidenciando desta forma que não há mudanças estruturais significativas. 4-91 Intensidade (u.a.) 1% W 2 4 1 (a) 3 0 (b) (c) (d) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.21. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfatos de cáclio- Eu3+ contendo 1% W e tta. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 1% W; (c) Coacervato + 1% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 1% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. A figura 4.22 mostra os espectros de excitação das amostras acima citadas, onde também não observamos grandes alterações nos espectros. 4-92 6 1 3 4 5 8 7 Intensidade (u.a.) 2 (a) (b) (c) (d) 300 350 400 450 500 Comprimento de onda (nm) Figura 4.22. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfato de cálcio- Eu3+ contendo 1% W e TTA. λem = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 1% W; (c) Coacervato + 1% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 1% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números denotam as transições do níveis 7F0-2 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 23 P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). Os espectros de emissão das amostras contendo 10% de tungstênio são mostrados na figura 4.23. Pode-se observar que com a adição de TTA ao sistema há um aumento da intensidade relativa da transição 5D0 → 7F2. 4-93 Intensidade (u.a.) 10% W 2 4 1 (a) 3 0 (b) (c) (d) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.23. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfato de cálcio- Eu3+ contendo 10% W e TTA. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 10% W; (c) Coacervato + 10% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 10% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. Na figura 4.24 podemos observar os espectros de excitação para essas amostras. Pode-se observar o surgimento de duas bandas largas, em torno de 317 nm e 373 nm, que podem ser atribuídas à uma banda de transferência de carga dos grupos tungstato-Eu3+ e a banda de transferência de energia do TTA-Eu3+. Na figura 4.24(d) observa-se o aumento de intensidade dessas bandas indicando uma maior transferência de energia para o íon metálico em amostras contendo maior concentração do complexo [Eu(tta)3(H2O)2]. 4-94 6 2 3 4 5 8 7 Intensidade (u.a.) 1 (a) (b) (c) (d) 300 350 400 450 500 Comprimento de onda (nm) Figura 4.24. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 10% W e TTA. λem = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 10% W; (c) Coacervato + 10% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 10% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). A figura 4.25 apresenta os espectros de emissão obtidos para as amostras contendo 30% de tungstato, observa-se um desdobramento na banda referente a transição 5D0 → 7F1 e um aumento na intensidade da transição 5D0 → 7F2 em relação a transição 5D0 → 7F4 que sofre diminuição da intensidade com a adição de TTA no sistema. 4-95 Intensidade (u.a.) 30% W 2 4 1 (a) 3 0 (b) (c) (d) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.25. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 30% W e TTA. λexc = 394 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 30% W; (c) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. Os espectros de excitação para os coacervatos com 30% de tungstato (figura 4.26) apresentaram bandas de transferência de energia somente nas amostras contendo 30% de W (figura 4.26(b)) e contendo 30% de W + (1Eu3+ + 10TTA) (figura 4.26(d)). 4-96 6 2 3 4 5 8 7 Intensidade (u.a.) 1 (a) (b) (c) (d) 300 350 400 450 500 Comprimento de onda (nm) Figura 4.26. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos de polifosfatos de cálcio- Eu3+ contendo 30% W e TTA. λem = 612 nm. (a) Coacervato; (b) Coacervatos + 30% W; (c) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 1TTA); (d) Coacervato + 30% W + (1Eu3+ : 10TTA). Os números denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). A partir da figura 4.21 podemos observar que não há mudanças significativas nos espectros de emissão das amostras contendo 1% de tungstato quando adicionamos tta. Por outro lado, pode-se observar nas figuras 4.23 e 4.25, contendo 10% e 30% de tungstato respectivamente, que há um aumento na intensidade da transição 5D0 → 7F2. A adição do ligante orgânico aos coacervatos levou a obtenção de amostras que apresentaram emissão bastante intensa sob excitação no UV. Este fato pode ser atribuído ao efeito antena, ou seja, o ligante tta absorve luz de excitação com bastante eficiência e transfere esta energia para o Eu3+, que então emite. 4-97 Curvas de decaimento a temperatura ambiente foram obtidas para todas as amostras sendo que em amostras contendo 10% e 30% de tungstênio foram observados dois tempos de vida, enquanto que para as amostras contendo 1% de tungstênio observou-se apenas 1 tempo de vida. A tabela 4.1 mostra os tempos de vida experimentais (τ) obtidos para as diferentes composições. Observamos experimentalmente que a adição de tungstênio ao sistema promove um aumento muito significativo nos tempos de vida, sendo que nas amostras contendo 10% de tungstênio observamos 2 tempos de vida com um aumento no tempo de vida mais longo, enquanto que para as amostras contendo 30% de tungstênio o tempo de vida mais longo diminui com a adição de tta e desaparece quando a concentração do mesmo chega ao valor máximo utilizado. Tabela 4.1. Tempo de vida experimental (ms) do Eu3+ 5D0 para os coacervatos 1NaPO3: 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo diferentes concentrações de tungstato. Composições das amostras Tempo de vida (ms) (1NaPO3 : 1CaCl2) (CCV) 0,64 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 1% W 0,15 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 1% W + (1Eu (1NaPO3 : 1CaCl2) + 1% W + (1Eu 3+ 3+ : 1TTA) 1,9 / 3,28 : 10TTA) 0,16 1,74 / 2,6 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 10% W 3+ : 1TTA) 1,74 / 3,11 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 10% W + (1Eu3+ : 10TTA) 1,74 / 4,23 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 30% W 1,87 / 4,06 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 10% W + (1Eu 3+ : 1TTA) 1,87 / 2,21 3+ : 10TTA) 1,29 (1NaPO3 : 1CaCl2) + 30% W + (1Eu (1NaPO3 : 1CaCl2) + 30% W + (1Eu Duas amostras foram selecionadas para obtenção de espectros a baixa temperatura (12 K). Os espectros obtidos são mostrados nas figuras abaixo. A figura 4.27 mostra os espectros de emissão obtidos a 12 K para a amostra contendo 10% de tungstênio. Pode-se observar que para o espectro obtido utilizando λexc = 394 nm há 4-98 drásticas mudanças quando comparados com os espectros obtidos a temperatura ambiente utilizando este mesmo comprimento de onda de excitação. Observa-se no espectro de emissão que com a variação do comprimento de onda de excitação há uma grande mudança na banda referente a transição 5D0 → 7F2 e o desdobramento que ocorre na transição 5D0 → 7F1 torna-se também mais evidente dependendo do comprimento de onda de excitação utilizado. O “inset” da figura mostra a transição 5D0 → F0 obtida em diferentes λex. Observamos que há mudanças nesta transição 7 dependendo do λex utilizado, este fato pode nos indicar que existem dois sítios diferentes sendo ocupados pelos íons Eu3+. 4-99 Figura 4.27. Espectros de emissão a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos de polifosfato de cálcio 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 10% de tungstato. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. O inset no espectro de emissão mostra a transição 5D0 → 7F0 em diferentes λex. A figura 4.28 mostra os espectros de excitação obtidos a 12 K para a amostra contendo 10% de tungstênio. Uma banda larga com máximo em aproximadamente 320 4-100 nm é observada quando monitoramos a emissão em 581,2; 614,4 e 701,6 nm, sendo que estas bandas podem ser atribuídas a banda de transferência de carda dos grupos tungstato-Eu3+. Quando o monitoramento da emissão é realizado em 579,4 nm observamos a diminuição da intensidade da banda centrada em 320 nm, indicando que para esse λem há o monitoramento de um segundo sítio ocupado pelos íons Eu3+. Intensidade (u.a.) λem = 581,2 nm λem = 579,4 nm λem = 614,4 nm λem = 701,6 nm 250 300 350 400 450 500 550 Comprimento de onda (nm) Figura 4.28. Espectros de excitação a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos de polifosfatos de cálcio- Eu3+ contendo 10% de tungstato. A figura 4.29 mostra os espectros de emissão obtidos a 12K para a amostra contendo 10% de tungstênio e (1% Eu3+ : 1 TTA). Pode-se observar que nessas amostras a emissão é bem intensa sendo que neste caso além da banda de transferência de carga dos grupos tungstato-Eu3+, temos também a banda larga do composto orgânico [Eu(tta)3(H2O)2], aumentando desta forma a intensidade e eficiência de emissão. 4-101 Pela análise dos espectros de emissão mostrados nesta figura observamos mudanças nas transições 5D0 → 7F1 e 5D0 → 7F2 dependendo do λex utilizado. Podemos observar também que a transição D0 → 5 7 F0 (inset) apresenta 2 componentes, indicando a presença de 2 sítios distintos para os íons Eu3+. Figura 4.29. Espectros de emissão a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 10% de tungstato + (1Eu3+ : 1TTA). Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. O inset mostra a transição 5D0 → 7F0 quando λex = 394 nm. 4-102 A figura 4.30 mostra os espectros de excitação obtidos a 12 K para a amostra contendo 10% de tungstênio + (1Eu3+ : 1TTA). Neste caso observamos uma banda larga com máximo em torno de 316 nm, que pode ser atribuída a banda de transferência de carga dos grupos tungstato-Eu3+. Porém nesse sistema observamos o surgimento de uma banda larga em torno de 375 nm, a qual podemos atribuir a banda de transferência de energia do TTA-Eu3+. A intensidade e existência dessas bandas Intensidade (u.a.) são dependentes do λem utilizados. λem = 614,5 nm λem = 701,5 nm λem = 579,2 nm λem = 581,2 nm 250 300 350 400 450 500 550 Comprimento de onda (nm) Figura 4.30. Espectros de excitação a baixa temperatura (12 K) para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ contendo 10% de tungstato + (1Eu3+ : 1TTA). Para as amostras contendo 10% de tungstênio e contendo 10% de tungstênio+ (1Eu3+ : 1TTA) foram obtidas curvas de tempo de vida a baixa temperatura (12 K) utilizando diferentes λex. Pode-se observar que variando os valores de λex diferentes tempos de vida são obtidos, mostrando-nos que o Eu3+ está realmente ocupando sítios diferentes no sistema. Os valores obtidos são mostrados na tabela 4.2. A partir dos tempos de vida experimentais foi possível o cálculo da eficiência quântica, do tempo de 4-103 vida radiativo e do número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação do Eu3+. Para estes sistemas o número de moléculas de água encontrado foi igual a zero, mostrando que os íons Eu3+ estão protegidos das moléculas de água. Os tempos de vida experimentais encontrados apresentaram valores considerados altos quando comparados com outros sistemas de polifosfato de sódio (DIAS FILHO, 2003). Sistemas com tempos de vida longos, como os encontrado neste trabalho, são descritos na literatura por Dexpert-Ghys (DEXPERTGHYS; MAURICOT; FAUCHER, 1996), onde são obtidos ortofosfatos com tempos de vida iguais a 3,18 ms. Tabela 4.2. Tempo de vida experimental (ms) do Eu3+ 5D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu3+ 5D0, eficiência quântica (η) e número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação (q) do Eu3+ calculado utilizando-se a equação de HORROCKS (DIAS FILHO, 2003). Tempo de vida Composição das amostras λex (1NaPO3 : 1CaCl2) + 10% W 3+ + (1Eu : 1TTA) 5 5 radiativo do D0 η q D0 (ms) 394 2,60 6,67 0,40 0 320 3,16 7,55 0,40 0 394 4,12 7,28 0,50 0 290 3,15 8,40 0,40 0 (nm) (1NaPO3 : 1CaCl2) + 10% W Tempo de vida do Os resultados obtidos a partir de espectroscopia de luminescência podem ser comparados com dados encontrados na literatura que referem-se a polioxotungstatos. Os resultados obtidos nos levam a sugerir a formação da espécie [Eu(PW 11O39)2]11nestes sistemas polifosfato-tungstato. Na espécie [Eu(PW 11O39)2]11- o íon Eu3+ estaria coordenado por dois grupos do tipo Keggin [PW 11O39]7- , onde os átomos de oxigênio formam estruturas do tipo antiprismas de Arquimedes (TOURNÉ; TOURNÉ; BRIANSO, 1980). Os grupos politungstato consistem em grupos de octaedros distorcidos de tungstato que possuem simetria C4v. A figura 4.31 ilustra a estrutura da espécie [Eu(PW 11O39)2]11- no estado sólido (BU, et al., 2003). 4-104 Figura 4.31. Representação da estrutura tipo Keggin [Eu(PW11O39]11- no estado sólido (BU, et al., 2004). A figura 4.32 mostra os espectros de emissão obtidos para os coacervatos 1NaPO3 : 1CaCl2 contendo 10% de tungstato e também para a espécie no estado sólido [Eu(PW 11O39)2]11- (BU, et al., 2004) (BU, et al., 2003). O espectro obtido mostrouse muito semelhante ao espectro descrito na literatura, indicando que possivelmente estamos tratando do mesmo composto preparado por Weifeng (BU, et al., 2004). Intensidade (u.a.) 4-105 (a) (b) 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.32. Espectros de emissão a temperatura ambiente. (a) [Eu(PW 11O39)2]11- sólido, λexc = 394 nm; (b) coacervato 1NaPO3 : 1CaCl2 contendo 10% W, λexc = 300 nm. 4.2.2 Vidros híbridos fosfato-carboximetilcelulose (CMC) Sabe-se que coacervatos formam vidros a temperatura ambiente, porém esses vidros são higroscópicos e apresentam pequena resistência mecânica. Desta forma iniciou-se a preparação de vidros híbridos a temperatura ambiente utilizando-se polifosfato de sódio - CMC e coacervatos de cálcio - CMC. As amostras foram preparadas a partir da mistura dos pós e posterior adição de água até que fosse formado um gel transparente. Foram então secas a temperatura ambiente e mantidas em dessecador. A figura 4.33 mostra os espectros Raman obtidos para as amostras preparadas em diferentes concentrações. A curva (a) mostra o espectro Raman do NaPO3 discutido anteriormente neste trabalho (figura 4.14). A curva 4.33(f) mostra o espectro obtido para a solução aquosa de CMC, onde podemos observar bandas em 1415, 4-106 1374, 1324, 1263, 1110 e 911 cm-1 referentes aos modos δCH2, δCH2, ω(CH2), estiramentos dos modos COC, estiramentos dos modos COH e δ(C1Hβ), respectivamente (PIELESZ, 2007). A partir dos espectros Raman observamos que as cadeias de polifosfato não estão sendo quebradas com a adição de CMC ao sistema, pois as bandas referentes ao polifosfato em cadeia persistem após sua adição, porém há uma diminuição de suas Intensidade Raman (u.a.) intensidades. (a) (b) (c) (d) (e) (f) 1400 1200 1000 800 600 400 -1 Numero de onda (cm ) Figura 4.33. Espectros Raman para as amostras NaPO3:CMC em diferentes concentrações. (a) NaPO3; (b) 2NaPO3 : 1CMC; (c) 1NaPO3 : 1CMC; (d) 1NaPO3 : 2CMC; (e) 1NaPO3 : 3CMC; (f) CMC. Os híbridos foram também preparados a partir dos coacervatos de polifosfato de cálcio. Foram preparados coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 contendo 5% em massa (em relação ao NaPO3) de CMC. Após preparadas, as amostras foram secas a temperatura ambiente e mantidas em dessecador. Tendo em vista que a lavagem dos coacervato com água após o seu preparo é um fator muito importante para determinação de suas propriedades ópticas (SILVA; FRANCO; OLIVEIRA, 2008), foram preparadas diversas amostras onde realizou-se lavagem em diferentes etapas do preparo. 4-107 A figura 4.34 mostra os espectros vibracionais na região do infravermelho obtidos para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 contendo CMC. Todas as amostras apresentaram-se transparentes após secagem, inclusive as amostras que não foram lavadas com água. Os coacervatos contendo CMC foram deixados em dessecador para eliminação de água, porém, todos apresentam bandas em 3500 cm-1 (as bandas foram omitidas na figura) atribuídas aos modos vibracionais da água. Os espectros mostrados na figura 4.34 indicam a presença das espécies relativas ao polifosfato em cadeia, indicando desta forma que as cadeias de polifosfato não sofrem quebras com a adição de cálcio (durante o preparo do coacervato) (DIAS FILHO, 2003) e com a posterior adição de CMC ao sistema. A tabela 4.3 mostra a localização das bandas e as possíveis atribuições das mesmas. Tabela 4.3. Resultados FTIR para os coacervatos contendo CMC. Posição das bandas e tentativa de atribuições (NAKAMOTO, 1986) (ZALESKA; TOMASIK; LII, 2002). Posição das bandas (cm-1) Tentativa de atribuição 531 δ P-O (Q2) 879 νas P-O-P 1020 νs P-Ot (Q1) 1060 νC-O, νC-C, δCOH 1096 νs P-Ot (Q2) 1116 νC-O, νC-C, δCOH 1155 νas P-Ot (Q1) 1266 νC-O 1273 νas P-Ot (Q2) 1329 δCH 1421 νCOO-, δCH, δOH 4-108 (a) Transmitância (%) (b) (c) (d) (e) 1500 1250 1000 750 500 -1 Comprimento de onda (cm ) Figura 4.34. FTIR para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 contendo CMC utilizando-se diferentes formas de preparo. (a) NaPO3; (b) Coacervato + CMC (sem lavagem); (c) Coacervatos + CMC (lavado antes); (d) Coacervato + CMC (lavado antes e depois); (e) CMC Espectros Raman também foram obtidos para as amostras citadas acima. Os espectros são mostrados na figura 4.35, onde podemos observar que as bandas referentes ao polifosfato em cadeia ainda permanecem após a adição de CMC. As atribuições foram feitas de acordo com as referências utilizadas anteriormente (POIRIER, et al., 2005) (SILVA; FRANCO; OLIVEIRA, 2008). A curva (c) mostra o espectro obtido para a solução aquosa de CMC, onde podemos observar bandas em 1416, 1375, 1325, 1259, 1110 e 920 cm-1 referentes aos modos δCH2, ω(CH2), estiramentos dos modos COC, respectivamente (PIELESZ, 2007). estiramentos dos modos COH e δ(C1Hβ), Intensidade Raman (u.a.) 4-109 (a) (b) (c) 1400 1200 1000 800 600 400 -1 Número de onda (cm ) Figura 4.35. Espectros Raman para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com CMC utilizando-se diferentes formas de preparo. (a) Coacervato + CMC (lavado antes e depois); (b) Coacervato + CMC (sem lavagem); (c) CMC. A figura 4.36 mostra os espectros Raman obtidos para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 contendo diferentes concentrações de CMC. Pode-se observar que não há mudanças nos espectros com a adição de CMC ao sistema sendo que as bandas referentes ao polifosfato em cadeia (POIRIER, et al., 2005) (SILVA; FRANCO; OLIVEIRA, 2008) são observadas tanto no coacervato puro como nos coacervatos contendo CMC. Intensidade Raman (u.a.) 4-110 (a) (b) (c) (d) (e) 1400 1200 1000 800 600 400 -1 Número de onda (cm ) Figura 4.36. Espectros Raman para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ e contendo CMC. (a) NaPO3; (b) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (e) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. A figura 4.37 apresenta os espectros vibracionais na região do infravermelho. Observam-se para todas as amostras as bandas características dos polifosfatos (DIAS FILHO, 2003). Com a adição da CMC não observou-se alterações significativas nos espectros sendo que as bandas referentes a CMC não foram observadas. A tabela 4.4 mostra as posições das bandas observadas e as tentativas de atribuições para as mesmas (POIRIER, et al., 1995) (NAKAMOTO, 1986). 4-111 Tabela 4.4. Resultados FTIR para os coacervatos contendo tungstênio. Posição das bandas e tentativa de atribuições. Posição das bandas (cm-1) Tentativa de atribuição 535 δ P-O (Q2) 879 νas P-O-P 1006 νs P-Ot (Q1) 1096 νs P-Ot (Q2) 1158 νas P-Ot (Q1) 1280 νas P-Ot (Q2) (a) Transmitância (%) (b) (c) (d) (e) 1500 1350 1200 1050 900 750 600 450 -1 Comprimento de onda (cm ) Figura 4.37. FTIR para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ e contendo CMC. (a) NaPO3; (b) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (c) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (e) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. 4-112 As figuras 4.38 e 4.39 mostram, respectivamente, os espectros de emissão e excitação das amostras. Os espectros de emissão obtidos mostram que não há alterações entre os espectros do coacervato e os espectros dos coacervatos contendo CMC, mostrando que os íons Eu3+ experimentam o mesmo ambiente químico nas diferentes amostras devido a seus perfis espectrais se apresentarem semelhantes. 2 Intensidade (u.a.) 1 (a) 4 3 0 (b) (c) (d) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.38. Espectros de emissão a temperatura ambiente para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ e contendo CMC. λexc = 394 nm. (a) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (b) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (c) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. Os números mostram os valores de J para as transições 5 D0 → 7FJ. A figura 4.39 mostra os espectros de excitação das amostras acima citadas, onde também não observamos grandes alterações nos espectros. 4-113 6 2 3 4 5 8 7 Intensidade (u.a.) 1 (a) (b) (c) (d) 250 300 350 400 450 500 Comprimento de onda (nm) Figura 4.39. Espectros de excitação a temperatura ambiente para os coacervatos 2NaPO3 : 1CaCl2 dopados com Eu3+ e contendo CMC. λem = 611 nm. (a) Coacervato 2NaPO3 : 1CaCl2; (b) Coacervatos contendo 0,05g de CMC; (c) Coacervatos contendo 0,1g de CMC; (d) Coacervatos contendo 0,15g de CMC. Os números denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 2- 3P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 85 D2] (CARNALL, 1977). O preparo de sistemas de coacervato de cálcio : CMC contendo tungstato de sódio mostrou-se inviável, pois não foi possível o preparo de coacervatos estáveis e transparentes. Com a adição de tungstatos ao sistema houve separação de fases e posterior formação de precipitado branco. 4-114 4.3 Sistemas híbridos polifosfato-niobato-APTS (PNb/Si) Preparou-se uma solução de polifosfato-nióbio- Eu3+ (PNb:Eu3+) na razão molar 50 mol% NaPO3 : 50 mol% (NH4H2NbO(C2O4)3.3H2O (complexo amoniacal de nióbio) (5P5Nb). A solução foi preparada contendo 1 mol% de EuCl3 em relação ao número de mols total. A solução preparada apresentou-se transparente e estável por um período de 2 dias, depois disso houve a formação de um precipitado branco. Após o preparo da solução 5P5Nb foi adicionada a esta diferentes razões da solução de APTS. Com a adição de APTS houve a formação de precipitado branco que foi solubilizado com a adição de hidróxido de tetrametil-amônio (TMAH). As composições das soluções preparadas são dadas na Tabela 4.5. Tabela 4.5. Composição das amostras preparadas para o sistema 5P5Nb/Si:Eu3+. Nome da amostra Razões PNb/Si (mol%) 5P5Nb/Si05 0,5 5P5Nb/Si1 1 5P5Nb/Si2 2 APTS Caracterização das amostras 5P5Nb/Si:Eu3+ A figura 4.40 mostra os espectros de emissão a temperatura ambiente para o polifosfato de sódio, para a amostra 5P5Nb e para as amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. Observa-se alargamento e aumento na intensidade da transição 5D0 → 7F2 com a adição de APTS nas soluções. Essas mudanças nos espectros de emissão sugerem mudanças estruturais indicando a interações do APTS com os íons Eu3+. 4-115 Intensidade (u.a.) 2 1 4 3 0 (a) (b) (c) (d) (e) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.40. Espectro de emissão a temperatura ambiente em amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. λexc = 394 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. Os espectros de excitação são mostrados na Figura 4.41. Nas curvas (a) e (b) observam-se somente as transições intra-configuracionais 4f6 a partir dos estados de mais baixa energia 7F0 do íon Eu3+ (CARNALL, 1977). Nas curvas (c), (d) e (e), além dessas transições pode-se observar também uma banda larga e intensa de transferência de carga com máximos em 296 nm, 294 nm e 290 nm, respectivamente. Estas bandas podem ser atribuídas ao processo de transferência de carga envolvendo orbitais dos átomos de oxigênio ligantes e dos orbitais f-f (RIBEIRO, et al., 1992) (BIZETO; CONSTANTINO; BRITO, 2000). A banda de transferência de carga apresenta um deslocamento de seu máximo para menores comprimentos de onda com a adição de APTS ao sistema. A posição da banda de transferência de carga pode ser relacionada à covalência na interação Eu3+-ligante (RIBEIRO, et al., 1992) e quanto menor a energia de transição, mais covalente tal interação (SOUZA, et al., 2002). As bandas de transferência de carga observadas nesses compostos são típicas para compostos contendo niobatos (SOUZA, et al., 2002) (FRAGOSO; DONEGÁ; LONGO, 2003) (BIZETO; CONSTANTINO; BRITO, 2000). Em trabalhos realizados 4-116 anteriormente contendo NaPO3-APTS essas bandas não foram observadas (DIAS FILHO, 2003) mostrando que trata-se realmente de bandas referentes aos niobatos. Intensidade (u.a.) 6 1 2 3 4 5 7 8 (a) (b) (c) (d) (e) 300 350 400 450 Comprimento de onda (nm) Figura 4.41. Espectro de excitação a temperatura ambiente em amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. λem = 612 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números denotam transições de estados excitados para níveis de menor energia 7F0 [1, (5I, 3H)6; 2, 3P0, 5 FJ; 3, 5H5; 4, 5D4; 5, 5GJ, 5I7; 6, 5L6; 7, 5D3; 8, 5D2] (CARNALL, 1977). A Tabela 4.6 mostra os tempos de vida experimentais para as amostras 5P5Nb/Si05, 5P5Nb/Si2 e 5P5Nb obtidos juntamente com os tempos de vida radiativos. Observa-se que com a adição de APTS ao sistema há uma diminuição do valor do tempo de vida em relação à amostra que não o contêm, porém quando a concentração de APTS é aumentada observamos que o tempo de vida aumenta de 0,46 para 0,63 ms. 4-117 Tabela 4.6. Tempo de vida experimental (ms) do Eu3+ 5D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu3+ 5D0 e eficiência quântica (η). 5 Amostra (mol% W) 5 Tempo de vida do D0 (± 0.1 ms) D0 Tempo de vida radiativo (ms) η 5P5Nb 0,9 9,2 0,10 5P5Nb/Si2 0,5 4,2 0,12 5P5Nb/Si05 0,6 4,2 0,15 Decorridas algumas horas da preparação das soluções 5P5Nb/Si:Eu3+, houve a formação de precipitado para todas as composições. Para a amostra 5P5Nb houve a formação de um precipitado branco e para as amostras contendo APTS houve a formação de micropartículas prateadas em suspensão. A Figura 4.42 mostra uma das amostras preparadas onde temos as partículas em suspensão, sendo que quando em repouso as partículas decantam e temos então a separação entre o precipitado (partículas) e o sobrenadante (solução transparente). Figura 4.42. Amostra 5P5Nb/Si05 após 2 horas de preparação. Após preparadas as soluções, os precipitados e sobrenadantes foram separados e analisados. A figura 4.43 mostra os espectros de emissão obtidos a partir dos sobrenadantes. Observa-se que com a adição de APTS há um alargamento e aumento 4-118 na intensidade da transição 5D0 → 7F2 e uma diminuição de intensidade da transição D0 → 7F4. 5 Intensidade (u.a.) 2 1 4 3 0 (a) (b) (c) (d) (e) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.43. Espectros de emissão a temperatura ambiente dos sobrenadantes nas amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. λexc = 394 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. A Tabela 4.7 mostra os tempos de vida experimentais para os sobrenadantes das amostras 5P5Nb/Si05, 5P5Nb/Si2 e 5P5Nb obtidos juntamente com os tempos de vida radiativos. Para os sobrenadantes observa-se a presença de dois sítios para os íons Eu3+ quando adiciona-se APTS as soluções. A contribuição dos tempos de vida mais longos torna-se mais importante quando a concentração relativa de APTS é maior no sistema. Observa-se que em amostras com maior concentração de APTS os tempos de vida experimentais e radiativos são maiores do que em amostras com concentrações menores. Este fato pode ser atribuído a uma maior proteção dos íons Eu3+ em relação as moléculas de águas, tendo em vista que com a adição de APTS o número de moléculas de água na primeira esfera de coordenação do íon Eu3+ diminui de 0,7 para 0,3 moléculas. 4-119 Tabela 4.7. Tempo de vida experimental (ms) do Eu3+ 5D0, tempo de vida radiativo (ms) calculado Eu3+ 5D0, eficiência quântica (η) e número de moléculas de água (q) na primeira esfera de coordenação do íon Eu3+ obtidos para os sobrenadantes. 5 Amostra (mol% W) Tempo de vida do D0 5 D0 Tempo de vida η q 9,37 0,10 0,7 0,50 / 1,00 3,97 0,25 0,5 0,50 / 1,27 4,25 0,30 0,3 (± 0.1 ms) radiativo (ms) 5P5Nb 0,92 5P5Nb/Si2 5P5Nb/Si05 A figura 4.44 mostra os espectros de emissão a temperatura ambiente para o polifosfato de sódio, e para as partículas formadas nas amostras 5P5Nb e 5P5Nb/Si:Eu3+. Pode-se observar a presença de íons Eu3+ nos precipitados formados, sendo que a transição 5D0 → 7F2 sofre diminuição de intensidade com a adição de APTS ao sistema. 4-120 2 1 Intensidade (u.a.) 4 3 0 (a) (b) (c) (d) (e) 560 580 600 620 640 660 680 700 720 Comprimento de onda (nm) Figura 4.44. Espectros de emissão a temperatura ambiente das partículas formadas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. λexc = 394 nm. (a) NaPO3; (b) 5P5Nb; (c) 5P5Nb/Si2; (d) 5P5Nb/Si1; (e) 5P5Nb/Si05. Os números mostram os valores de J para as transições 5D0 → 7FJ. A figura 4.45 mostra os espectros de excitação obtidos para as partículas. As transições observadas são características de íons Eu3+. Pode-se observar que a banda de transferência de carga que foi evidenciada na figura 4.41 ao redor de 290 nm não é observada nos espectros obtidos para as partículas, indicando desta forma a ausência de transferência de carga niobato-Eu3+ nas mesmas. 4-121 Intensidade (u.a.) 6 1 2 3 4 5 8 7 (a) (b) (c) 300 350 400 450 500 Comprimento de onda (nm) Figura 4.45. Espectros de excitação a temperatura ambiente das partículas formadas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. λexc = 612 nm. (a) 5P5Nb/Si2; (b) 5P5Nb/Si1; (c) 5P5Nb/Si05. Os números denotam as transições do níveis 7F0 para os estados excitados do Eu3+ [1- (5I, 3H)6; 23 P0, 5FJ; 3- 5H5; 4- 5D4; 5- 5GJ, 5I7; 6- 5L6; 7- 5D3; 8- 5D2] (CARNALL, 1977). As partículas formadas foram analisadas também por EDX e Raios-X. Para a amostra 5P5Nb:Eu3+ a composição observada é constituída principalmente por P, Nb e Na. As partículas formadas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu3+ apresentam essencialmente Nb e pequenas quantidades de P, Si e Na. Os Difratogramas de Raios-X obtidos para as amostras 5P5Nb:Eu3+ apresentaram halos de difração característico de materiais amorfos. A figura 4.46 mostra os difratogramas obtidos para as partículas das amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. Comparando os difratogramas com as fichas existentes na base de dados JCPDS – International Centre for Diffraction Data, podemos observar que as partículas analisadas formam uma mistura de Na8Nb6O19.13H2O juntamente com Eu3NbO6. 4-122 (a) (b) Figura 4.46. Difratogramas obtidos para as partículas contidas nas amostras 5P5Nb/Si:Eu3+. (a) 5P5Nb/Si05, (b) 5P5Nb/Si2. As figuras 4.47 (a-c) mostram imagens de microscopias (MEV) obtidas para as amostras 5P5Nb/Si2 e 5P5Nb/Si05. Observa-se que na figura 4.47 (a) há várias 4-123 partículas de tamanhos e formatos diferentes. Porém na figura 4.47 (b – c) observamos partículas de tamanhos diferentes, mas de mesmo formato. Trabalhos encontrados na literatura mostram partículas com o mesmo formato das partículas observadas. Santos et al., descreve a obtenção de aglomerados de cristais de K6H2[Nb6O19].nH2O obtidos a partir da precipitação de hexaniobatos de potássio em meio ácido (SANTOS, et al., 2002). a) ((b) c) Figura 4.47. Micrografias (MEV) para as amostras: (a) 5P5Nb/Si2 e (b - c) 5P5Nb/Si05 Foram também obtidas imagens de microscopia ótica onde observa-se diversos aglomerados de cristais em formato de agulhas. As imagens são mostradas na figura 4.48. 4-124 -30 -25 -20 -15 -10 Y (µm) -5 0 5 10 15 20 25 2 µm 30 -30 -20 -10 0 X (µm) 10 20 30 -30 -25 -20 -15 -10 Y (µm) -5 0 5 10 15 20 25 2 µm 30 -30 -20 -10 0 X (µm) 10 20 30 Figura 4.48. Imagens de microscopia ótica obtidas para a amostra 5P5Nb/Si2 A figura 4.49 mostra uma imagem feita incidindo-se luz na amostra. Quando a amostra é iluminada observamos um efeito “furta-cor”. 4-125 Figura 4.49. Imagens de microscopia ótica obtidas para a amostra 5P5Nb/Si2 iluminada. A figura 4.50 mostra os espectros Raman obtidos para as amostras 5P5Nb/Si2 e 5P5Nb/Si05. A região compreendida entre 400 e 900 cm-1 mostra uma região característica de ânions hexaniobatos HxNb6O19, que podem ser atribuídos a estiramentos vibracionais Nb=O e Nb-O-Nb (SANTOS, et al., 2002). Intensidade Raman (u.a.) 4-126 (a) (b) 1100 1000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 -1 Número de onda (cm ) Figura 4.50. Espectros Raman para as amostras: (a) 5P5Nb/Si2 e (b) 5P5Nb/Si05 Os espectros Raman de compostos do tipo niobatos foram extensivamente estudados na literatura (SOUZA, et al., 2002). As bandas observadas na região de altas freqüências são relacionadas a modos vibracionais das estruturas moleculares básicas, ou seja, o octaedro [NbO6] e o tetraedro [NbO4]. A posição aproximada e um esquema da estrutura básica são apresentados na tabela 4.8. 4-127 Tabela 4.8. Relação entre as estruturas básicas de óxidos de nióbio com freqüências Raman (SOUZA, et al., 2002). Estrutura Bandas Raman (cm-1) 790 – 830 500 – 700 850 – 1000 Nesta etapa do trabalho foram preparados sistemas coloidais híbridos, onde observou-se a presença de polioxoniobatos. Diversos trabalhos na literatura mostram o estudo de niobatos para aplicações como cristais líquidos. A mistura de carbonato de potássio, Nb2O5 e aminas levam a formação de desses materiais (MIYAMOTO; NAKATO, 2002). A esfoliação de niobatos em meio básico leva a formação de diferentes estruturas de niobatos, podendo levar a formação POM e a formação de cristais líquidos dependendo das condições utilizadas (MIYAMOTO; NAKATO, 2003) (NAKATO, et al., 2003) (POULOS, et al., 2008). A otimização desses sistemas e possíveis aplicações ficam como uma das perspectivas deste trabalho. 5-128 5. Conclusões Neste trabalho descrevemos a preparação de sistemas coloidais estáveis polifosfato-tungstato-Eu3+ 3+ cálcio/tungstato:Eu em meio aquoso, coacervatos polifosfato- 3+ e sistemas híbridos polifosfato-niobato/APTS:Eu . Para os sistemas coloidais polifosfato-tungstato:Eu3+, o estudo da luminescência sugere que os íons Eu3+ ocupam gaiolas formadas pelos grupos fosfato na cadeia de polifosfato. Com a adição de tungstato ao sistema observa-se que há um aumento na intensidade da emissão, surgimento de um segundo sitio sendo ocupado pelos íons Eu3+ e também o surgimento de bandas de transferência de carga nos espectros de excitação que podem ser atribuídas a transferência de carga dos grupos tungstato para os íons Eu3+. A partir dos espectros de emissão obtidos pode-se sugerir a presença do polioxometalato Na9[EuW 10O36].14H2O. A eficiência quântica de emissão nesses sítios é por volta de 80%. As micrografias MET mostraram a existência de nanopartículas, as quais podem ser atribuídas a clusters de POM. A análise estrutural dos sistemas mostrou que as cadeias de polifosfato começam a ser quebradas somente em altas concentrações de tungstato. Foram preparados coacervatos polifosfato-calcio dopados com Eu3+ e a estes foi adicionado tungstato de sódio. As amostras obtidas apresentaram intensa emissão sendo que a intensidade da transição 5D0 → 7F4 apresentou-se tão intensa quanto a transição 5D0 → 7F2. As amostras contendo menores concentrações de tungstênio apresentam somente um tempo de vida, enquanto que as amostras contendo maiores concentrações apresentaram dois sítios para os íons Eu3+. O estudo estrutural desses coacervatos mostrou que as cadeias de polifosfato não estão sendo quebradas com a adição de cálcio durante a coacervação e com a adição do tungstato de sódio, pois os espectros Raman e FTIR apresentaram as mesmas bandas referentes ao coacervato de polifosfato/cálcio sem tungstato de sódio. Foram também preparados coacervatos polifosfato-cálcio-tungstato dopados com Eu3+ contendo TTA, nessas amostras observou-se intensa emissão no vermelho sendo que a emissão foi intensificada com a adição do ligante orgânico aos mesmos. Após realizada secagem das amostras a 5-129 temperatura ambiente, foram obtidos pós brancos. A partir dos dados obtidos podemos sugerir a presença da espécie [Eu(PW 11O39)2]11-, que trata-se de um polioxometalato do tipo Keggin. Amostras híbridas polifosfato/CMC e coacervato polifosfato/cálcio:CMC foram preparadas sendo que para as amostras polifosfato/CMC foram obtidos monólitos transparentes com alta resistência mecânica e baixa higroscopicidade. Para os coacervatos contendo CMC foram obtidas amostras transparentes para diferentes concentrações de CMC utilizadas. Para os sistemas polifosfato-niobato/APTS:Eu3+ o estudo da luminescência dos íons Eu3+ mostrou que há mudanças estruturais ocorrendo com a adição de APTS ao sistema. Observa-se que com o aumento da concentração de APTS aos sistemas há uma diminuição no tempo vida, porém quando a adição de APTS aumenta o tempo de vida volta a aumentar. Observou-se também a formação de micropartículas prateadas e que exibem efeito furta cor. A partir das análises realizadas constatou-se que essas partículas são polioxoniobatos de fórmula Na8Nb6O19.13H2O. 6-130 6. Perspectivas Este trabalho tem como perspectivas a criação de novas frentes de pesquisa que podem ser iniciadas. Dentre elas podemos citar: a) Preparo e caracterização de materiais a base de polifosfato contendo POM com propriedades de emissão intensificada. Esses materiais serão preparados tendo em vista suas aplicações no preparo de filmes finos e monolitos luminescente. b) Preparo e caracterização de vidros híbridos orgânico-inorgânicos a base de polifosfato preparados a temperatura ambiente contendo tungstatos e/ou niobatos. c) Preparo e caracterização de sistemas híbridos fosfoniobato preparados a partir de fosfatos, niobatos e siloxanos. As propriedades óticas anisotrópicas observadas nos sitemas serão estudadas para avaliação das possíveis aplicações, como por exemplo, em cristais líquidos. 6-131 Referências AMJAD, Z. 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