ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE
DA LEPROSE EM VARIEDADES
DE LARANJA E LIMA DA PÉRSIA
DIOGO DRAGONE1, JOSÉ C. V. RODRIGUES2, EVARISTO M. NEVES3
e NEUSA L. NOGUEIRA4
RESUMO
A leprose dos citros apresenta peculiaridades que permitem a elaboração de estratégias de controle aliando a redução progressiva do inóculo nos pomares ao emprego de
produtos químicos para controle do vetor. Dessa forma, podem ser reduzidas as perdas devidos à doença e ampliada a
eficiência de controle do vetor pela potencialização da ação
mediante inimigos naturais. Neste trabalho, são apresentadas produtividades, receitas reais e simulações a partir de
uma área com diferentes variedades ‘Pêra Rio’, ‘Valência’,
‘Natal’, ‘Hamlin’, ‘Seleta’, ‘Barão’, ‘Lima Verde’, ‘Lima’ e
‘Bahia’ de laranja, e uma de ‘Lima da Pérsia’ que receberam
ou não tratamento com acaricidas, sendo designadas: infestada (sem pulverização) e controlada (com pulverização). O
trabalho analisa a viabilidade do controle químico do vetor
como um dos componentes do controle da doença, em decisão ex-post, baseada nas condições socioeconômicas (preço
e taxa de câmbio) existentes no período em estudo.
Termos de indexação: citros, doenças, controle químico,
Brevipalpus phoenicis.
1
2
3
4
Engenheiro Agrônomo, Mestrando em Economia Aplicada – ESALQ/USP. Caixa Postal 9. 13418-900
Piracicaba (SP) Tel (019) 3429-4119. E-mail: [email protected]
Pesquisador Doutor do Citrus Research and Education Center, University of Florida, 700 Experiment
Station Road., Lake Alfred 33850-2299, FL, USA. E-mail:[email protected]
Professor Titular do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP. Email: [email protected]
Pesquisadora Doutora do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, USP, Piracicaba (SP). Email:[email protected]
ARTIGO TÉCNICO
312
DIOGO DRAGONE et al.
SUMMARY
ECONOMIC VIABILITY OF CITRUS LEPROSIS
CONTROL IN SWEET ORANGE VARIETIES
The control strategies of citrus leprosis include progressive inoculum reduction associated with the chemical control
of the mite vector. Using such integrated strategy, losses caused
by the disease can be reduced and the efficiency of the vector
control can be enlarged through natural enemies. Our results
show yield, real profits, and simulations from one area with
different citrus cultivars (Pêra Rio, Valência, Natal, Hamlin,
Seleta, Barão, Lima Verde, Lima and Bahia sweet orange cultivars plus a Palestine Lime cultivar) that received or not acaricide treatment, being designated “infested” (no treatment) or
“controled” (with treatment). In addition, this study shows the
analysis on whether it is viable to chemically control the mite
vector, considering an “ex post” decision based on the socialeconomic condition (price and exchange rate) that occurred
while the experiment was being carried out.
Index terms: Citrus, chemical control, Brevipalpus phoenicis.
1. INTRODUÇÃO
O vírus da leprose dos citros (CiLV), dependendo da variedade de
copa, pode ocasionar perdas de 100% da produção na citricultura. Variedades cítricas altamente suscetíveis, como a laranja ‘Seleta’, evidenciam
as maiores perdas, diferentemente de outras, totalmente resistentes, como
‘Lima da Pérsia’, na qual o CiLV não apresenta ação evidente
(RODRIGUES et al., 2000).
Em 2001, segundo o Sindicato das Indústrias de Defensivos Agrícolas (SINDAG, 2001) foram despendidos, no Brasil, ao redor de 58 milhões de dólares em acaricidas. Deve-se salientar que aproximadamente
90% do consumo de acaricidas no País é para uso na citricultura (NEVES
et al., 2001).
Pulverizações para controle do ácaro vetor da leprose são atualmente realizadas empiricamente por alguns produtores de citros, e os retor-
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
313
nos e economicidade dessa prática são pouco conhecidos. A inexistência
de estudos era justificada, pois não havia um método acurado e preciso
para avaliar a doença e saber o resultado das práticas de controle empregadas (RODRIGUES et al., 2002a).
Nesse sentido, um novo método de controle e tomada de decisão
para pulverização no controle do ácaro vetor deve ser estudado para diferentes níveis de remuneração do produtor. Com receitas menores, os produtores,
muitas vezes, deixam de pulverizar o pomar para diminuir despesas, causando, assim, um problema sério com reflexos em safras futuras, em face de
uma epidemia da doença não controlada anteriormente. Por outro lado,
com receitas maiores, realizam excessivas pulverizações que podem afetar o estabelecimento de um equilíbrio pragas-inimigos naturais, com
possibilidades da ressurgência de pragas. Análises econômicas, portanto,
devem ser estimuladas a fim de se obter seu histórico ao longo dos anos,
para que possam balizar as futuras tomadas de decisões.
Este trabalho tem como objetivo analisar diferentes variedades cítricas ante a infestação inicial com o ácaro virulífero vetor do vírus da
leprose quantificando as perdas de produção por hectare, bem como buscar,
por meio de simulações estender as análises de projeção para enumerar
as perdas que o vírus da leprose potencialmente poderia estar causando
na citricultura paulista.
2. ESTUDOS DE CASOS
Um experimento foi utilizado visando fornecer os dados e informações sobre produção e custos de aplicação para cada variedade plantada.
As variedades adotadas para implantação do pomar experimental foram
selecionadas em 1993 em função da existência de algumas informações
sobre a reação à leprose, em vista da importância econômica e/ou constituírem fator epidemiológico-chave (distribuição e área cultivada), possíveis
determinantes na ocorrência da doença no Brasil (Quadro1). Com apoio
nesse experimento, realizaram-se os estudos econômicos e simulações.
O trabalho foi realizado na Fazenda Areão - Piracicaba, pertencente à Universidade de São Paulo, onde foi implantado em 1994/5 um pomar com dez variedades (‘Pêra Rio’, ‘Barão’, ‘Valência’, ‘Bahía’, ‘Sele-
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
314
DIOGO DRAGONE et al.
ta’, ‘Natal’, ‘Hamlin’, ‘Lima’, ‘Lima Verde’ [Citrus sinensis (L.) Osbeck]
e ‘Lima da Pérsia’ (C. aurantifolia Swingle), todas enxertadas sobre limão ‘Cravo’ (C. limonia Osbeck), espaçadas 5 x 7 m; adubação conforme análise do solo e irrigação a partir do segundo ano, mediante
microaspersão, conforme necessidade determinada por calibração com
tensiômetros (REICHARDT, 1990) instalados a 20 e 40 cm de profundidade no solo na projeção da copa.
Quadro 1. Peculiaridades de variedades cítricas utilizadas nesse estudo
Variedade
Característica
‘Barão’
Variedade em que primeiro se observaram partículas semelhantes a vírus em tecidos foliares com sintomas de leprose
(KITAJIMA et al., 1972).
‘Hamlin’
Foi a primeira variedade a manifestar sintomas em trabalho
de BITANCOURT (1955), no qual uma série de variedades
foram expostas sobre a copa de plantas com leprose.
‘Lima’
Nessa variedade, foram observadas, no Rio Grande do Sul em
1993, lesões da leprose ocupando grandes áreas da folha. Em
ensaios de casa de vegetação, esta variedade manifestou menores níveis de doença quando comparada com a ‘Pêra’.
‘Lima Verde’
Pelas semelhanças fitotécnicas com a variedade ‘Lima’.
‘Seleta’
As variedades do grupo ‘Seleta’ apresentaram os maiores índices de leprose nos trabalhos de BITANCOURT (1955).
‘Pêra’, ‘Valência’, Por ocuparem conjuntamente a maior parte das áreas cultiva‘Natal’ e ‘Bahia’ das com laranjas no Brasil, advindo, daí sua grande importân
cia econômica e para representarem um importante fator da
pressão de seleção e manutenção da doença e do vetor.
‘Lima da Pérsia’ Essa variedade cítrica foi selecionada por dois motivos: (1)
trata-se de uma espécie distinta (Citrus aurantifolia), podendo prestar-se como controle ao grupo de laranjas (C. sinensis),
e (2) não apresentar registros da ocorrência de leprose, sendo
um controle negativo à doença.
Fonte: RODRIGUES et al. (2000)
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
315
Foram constituídas parcelas com quatro plantas/variedade, com três
repetições, totalizando doze plantas por variedade. Cada parcela foi subdividida em duas subparcelas (duas plantas/subparcela). Das subparcelas,
uma recebeu infestação com Brevipalpus phoenicis Geijskes – virulíferos
(30-40 ácaros/planta), um ano e meio após o plantio (abril/96), e a outra
foi mantida com pulverizações periódicas com acaricidas. Dessa maneira, cada variedade apresentava seis plantas infestadas e seis controle (não
infestadas com pulverizações freqüentes de acaricidas).
Durante a safra de 1999, as plantas-controle receberam quatro pulverizações com acaricidas para o ácaro B. phoenicis. Na colheita de 1999,
contou-se o número e determinou-se a massa total de frutos com e sem
leprose. Utilizaram-se esses resultados discutidos por RODRIGUES et
al. (2000) para realização das simulações dos custos e economicidade
das práticas realizadas, caracterizados no estudo como “Pesquisa”.
O estudo faz uma simulação com três diferentes custos de tratamento/controle (AGRIANUAL, 1999 e AZEVEDO FILHO et al., 2001),
e os preços médios para a indústria, segundo o CEPEA/ESALQ (1999,
2000 e 2001). Assim, desenvolve-se uma análise econômica para a simulação de tomada de decisões (ex-post), isto é, como se fossem tomadas
depois da ocorrência dos eventos. Também se efetuaram simulações considerando três diferentes custos de produção e preços médios das safras
1999, 2000 e 2001.
Na simulação das perdas com leprose no Estado de São Paulo, utilizaram-se pressuposições para estimar os valores econômicos despendidos
resultantes da doença causada pelo vírus da leprose. Nessa simulação,
considerou-se a área de pesquisa similar à área citrícola do Estado de São
Paulo. Assim, considerou-se que o Estado tem a mesma produção (resultados), idade (cinco anos), infestação da doença e distribuição das variedades, segundo informações do Instituto de Economia Agrícola do Estado de São Paulo/Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de
São Paulo (IEA/SAAESP, 2001), tendo a área de pesquisa 38% com Laranja ‘Pêra’; 25,6% ‘Natal’; 17,3% ‘Valência’; 6,8% ‘Hamlin’; 5,5% Tangerina; 2,9% ‘Lima’ e, outras, 3,9%. O resultado das perdas foi medido
em milhão de dólares e calculado pela diferença de receita do tratamento
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
316
DIOGO DRAGONE et al.
controle e do infestado. Em seguida, esse resultado foi multiplicado pela
área paulista proporcional a cada variedade, que resulta nos valores econômicos finais para o Estado.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados apresentados referem-se à quantidade produzida de cada
uma das diferentes variedades cítricas (nove variedades de laranja e uma
de ‘Lima da Pérsia’), que foram pulverizadas para o controle do ácaro
vetor e não receberam nenhum tratamento para o controle, servindo, posteriormente, como referência para as simulações. Verifica-se que apenas
a variedade ‘Lima da Pérsia’, imune à leprose, não apresentou alterações
na quantidade de frutos produzidos no experimento; por outro lado, todas
as outras variedades de laranja apresentaram menor produção de frutos quando
infestadas com ácaros virulíferos em relação ao controle (Tabela 1).
Tabela 1.. Dados de produção de variedades cítricas com e sem o controle do
ácaro vetor do vírus da leprose dos citros. Piracicaba (SP), 1999
Frutos por planta
Produção
Variedade
Infestado
Controle
Infestado
kg ha-1 *
‘Valência’
‘Pêra Rio’
‘Lima da Pérsia’
‘Lima’
‘Bahia’
‘Seleta’
‘Barão’
‘Natal’
‘Hamlin’
5.572,00
4.643,33
13.057,33
2.580,67
648,67
8,40
812,00
4.335,33
2.076,67
6.206,67
7.373,33
9.408,00
3.600,80
2.226,00
5.245,33
1.264,67
10.668,00
9.356,67
* Determinado em função de 280 plantas por hectare.
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
Controle
Número
178
123
510
67
19
1
34
169
65
190
217
360
108
69
132
49
360
313
Infestado
Controle
% com sintoma
64,8
85,2
0,0
57,0
73,4
100,0
71,1
98,5
83,0
21,4
31,1
0,0
6,2
19,3
14,4
14,3
47,0
6,6
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
317
Os custos de tratamento realizados nos experimentos - Figura 1 são resultantes de quatro pulverizações efetuadas para controle de ácaros
Brevipalpus. Esses tratamentos constaram de quatro pulverizações alternadas com produtos organofosforados e piretróides, segundo
RODRIGUES et al. (2002b). Os custos reais das pulverizações na área
do experimento na Fazenda Areão são considerados como o custo da “Pesquisa” (situação real).
Figura 1. Custos do tratamento para o controle do ácaro vetor do vírus da
leprose dos citros (US$1 = R$3,50). Os valores da Pesquisa correspondem
a 4 pulverizações realizadas durante o ano agrícola de 1999, durante a os
experimentos. A Simulação 1 corresponde aos custos de tratamento de
laranja para Araraquara (SP) (AGRIANUAL, 1999 – para pomares em
formação 4 a 8 anos) e a Simulação 2 aos custos de tratamento médios
para o Estado de São Paulo, retirados de AZEVEDO et al. (2001), utilizando os seguintes produtos: Óleo, Propargite, Hexythiazox, Cyhexatin,
Dinocap e Dicofol. Piracicaba, SP.
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
318
DIOGO DRAGONE et al.
Utilizando outras recomendações de técnicos experientes do setor
para o controle de ácaros em citros, decidiu-se realizar simulações tendo
como referência a produção alcançada nos experimentos. Dessa maneira,
a Simulação 1, considerou os custos do tratamento para controle de ácaros
na laranja para Araraquara, segundo”AGRIANUAL (1999), como pomar
em formação (4 a 8 anos). A Simulação 2 corresponde aos custos de produção médios para o Estado de São Paulo retirados do estudo com simulações de AZEVEDO FILHO et al. (2001), usando-se os valores para os
produtos (Óleo, Propargite, Hexythiazox, Cyhexatin, Dinocap e Dicofol)
para controle de ácaros.
Na Figura 2, observa-se o valor dos preços praticado no período de
1999, 2000 e 2001, segundo o Instituto de Economia Agrícola de São
Paulo, lembrando que são preços médios anuais para a indústria em dólares e convertidos em reais (US$ 1= R$3,50 para março de 2003).
9
8,42
Preço da Caixa, R$ e US$
8
7
6
5,98
5
4
3,26
3
2
2,41
1,71
0,93
1
0
1999
2000
2001
Figura 2. Variação dos preços médios por caixa (40,8 kg) de laranja para o
mercado da indústria de suco de laranja congelado e concentrado (SLCC)
no Estado de São Paulo em 1999, 2000 e 2001, corrigidos para março
2003 (US$1 = R$3,5). Fonte: IEA (2001).
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
319
A seguir, são descritas as sequências dos cálculos para a obtenção
dos valores em Reais, Infestados e Controle das Tabelas 3 e 4.
Primeiramente, o valor para Infestado foi obtido mediante a multiplicação do rendimento cultural (kg ha-1) pelo valor do preço do quilograma da laranja já convertidos em dólares, considerando, sempre, como
base, o valor médio anual da caixa de laranja de 40,8 kg para o mercado
da indústria de suco concentrado. O valor Controle foi obtido pelo mesmo procedimento, mas, também, foram subtraídos os custos operacionais
de cada modelo do total arrecadado, anteriormente, na operação de multiplicação.
As siglas NA (Não-Aplicação) e A (Aplicação) estão diretamente
relacionadas com a decisão do produtor, caso este tivesse informação “exante” (anterior) de preços e custos de produção. Assim, quando o valor
do controle for superior ao do infestado, a aplicação da pulverização nessa área com essa determinada variedade apresentou vantagens, aparecendo, então, a sigla A; caso contrário, aparecerá a sigla NA, mostrando que
a pulverização não gerou ganhos econômicos reais, mas, sim, prejuízos.
Dessa forma, as operações descritas foram realizadas nas simulações de custos e preços, evidenciando diferentes cenários econômicos.
As simulações apresentadas visam ilustrar a utilização de diferentes alternativas para o controle químico e suas implicações no balanço econômico. A aplicação de tais simulações é restrita ao exercício de reflexão
proposto por este trabalho, pois o desempenho dos outros tratamentos
pode ser superior ou inferior aos observados com o tratamento adotado
na pesquisa, alterando, dessa forma, o resultado dos cálculos.
O rendimento cultural líquido (quantidade em toneladas de frutos
produzidos por planta, sem sintomas de leprose) apresentou uma variação entre zero e mais de 13 t ha-1, pela interação entre o potencial produtivo das variedades e sua suscetibilidade à doença (Tabela 2). Excetuando a Lima da Pérsia, todas as demais variedades apresentaram maior rendimento cultural quando executado o controle com acaricidas. Entretanto, a magnitude dessa resposta aos tratamentos depende da variedade, o
que irá afetar o perfil do retorno econômico propiciado por cada variedade em determinado tratamento (Tabelas 3 e 4).
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
320
DIOGO DRAGONE et al.
Tabela 2. Rendimento cultural bruto e líquido de variedades cítricas, 1999
Rendimento cultural
Variedade
Infestado (a)
Controle (b)
kg ha-1 (bruto)
‘Valência’
‘Pêra Rio’
‘Lima Pérsia’
‘Lima’
‘Bahia’
‘Seleta’
‘Barão’
‘Natal’
‘Hamlin’
5.572,00
4.643,33
13.057,33
2.580,67
648,67
8,40
812,00
4.335,33
2.076,67
6.206,67
7.373,33
9.408,00
3.600,80
2.226,00
5.245,33
1.264,67
10.668,00
9.356,67
Infestado (c) Controle (d)
kg ha-1 (líquido)*
1.961,90
687,67
13.057,33
1.109,68
172,54
0,00
234,91
65,89
352,82
4.877,20
5.082,43
9.408,00
3.377,19
1.795,49
4.492,10
1.083,94
5.651,90
8.737,25
c/a
0,35
0,15
1,00
0,43
0,26
0,00
0,29
0,01
0,17
d/b
0,78
0,28
1,00
0,93
0,81
0,85
0,86
0,53
0,93
* Descontado o percentual de frutos com sintomas da doença que podem ser considerados também
danos, podendo ser descartados no processamento.
Considerando-se que a decisão ex-post, a pulverização, isoladamente, propiciaria retornos econômicos maiores que a não pulverização para
o caso de 4 das 10 variedades, ou seja, para ‘Pêra Rio’, ‘Seleta’, ‘Natal’ e
‘Hamlin’, utilizando-se os dados da pesquisa de 1999. Tendo-se em vista
os custos dos tratamentos representados pelas simulações S1 e S2, somente 3 variedades apresentariam retorno econômico superior ao tratamento sem pulverização (infestado), ou seja,’‘Seleta’, ‘Natal’ e ‘Hamlin’
(Tabela 3). Assim, certamente em alguns períodos, principalmente em
anos de preços não remunerativos no setor, certas variedades apresentariam vantagens econômicas, quanto comparadas aos mesmos tratamentos
e ambiente.
Outra variável analisada foi a variação do preço da caixa de laranja
(Tabela 4) e sua influência sobre a tomada de decisão. Uma vez que os
menores valores foram recebidos em 2000 (Figura 2), foi também nesse ano
que se constatou o menor retorno econômico da realização do controle. Este
fato é, comumente, relatado por citricultores, que quando esperam receber
menores valores pela fruta, reduzem substancialmente os tratos culturais
imediatos, em especial, os tratamentos com acaricidas que podem representar mais de 50% dos custos fitossanitários (RODRIGUES et al., 2002b).
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
Controle
1999
546,46
108,00
27,15
0,35
33,98
181,44
86,91
‘Lima da Pérsia’
‘Lima’
‘Bahia’
‘Seleta’
‘Barão’
‘Natal’
‘Hamlin’
320,80
375,68
(17,85)*
148,74
22,38
79,92
322,95
237,80
188,97
A
A
NA
A
NA
NA
NA
A
NA
D*
P
Controle
86,91
181,44
33,98
0,35
27,15
108,00
546,46
194,33
233,19
246,81
301,69
(91,84)*
74,75
(51,61)*
5,93
248,96
163,81
114,98
US$ ha-1
Infestado
2000
D* Decisões “ex-post” NA = Não aplicação do tratamento e A = Aplicação do tratamento.
* Valores entre parênteses significam números negativos.
194,33
233,19
US$ ha-1
Infestado
‘Pêra Rio’
‘Valência’
Variedade
A
A
NA
A
NA
NA
NA
NA
NA
D*
S1
Controle
86,91
181,44
33,98
0,35
27,15
108,00
546,46
194,33
233,19
275,21
330,09
(63,44)*
103,15
(23,21)*
34,33
277,36
192,21
143,38
US$ ha-1
Infestado
2001
A
A
NA
A
NA
NA
NA
NA
NA
D*
S2
Tabela 3. Comportamento das decisões (pulverização ou não) considerando os custos da pesquisa (P), simulação 1 (S1) e 2 (S2), mantendo o preço constante (US$1,71/cx) em 1999
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
321
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
Controle
1999
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
194,33
546,46
108,00
27,15
0,35
33,98
181,44
86,91
‘Pêra Rio’
‘Lima da Pérsia’
‘Lima’
‘Bahia’
‘Seleta’
‘Barão’
‘Natal’
‘Hamlin’
320,80
375,68
(17,85)*
148,74
22,38
79,92
322,95
237,80
188,97
A
A
NA
A
NA
NA
NA
A
NA
D*
P1
47,42
99,00
18,54
0,19
14,81
58,93
298,16
106,03
127,24
142,88
172,82
(41,90)*
49,00
(19,95)*
11,44
144,05
97,59
70,95
Controle
US$ ha-1
Infestado
2000
D* Decisões “ex-post” NA = Não aplicação do tratamento e A = Aplicação do tratamento.
* Valores entre parênteses significam números negativos.
233,19
US$ ha-1
Infestado
‘Valência’
Variedade
A
A
NA
A
NA
NA
NA
NA
NA
D*
P2
Controle
122,41
255,55
47,86
0,50
38,24
152,12
769,68
273,71
328,45
480,76
558,06
3,77
238,41
60,43
141,47
483,78
363,85
295,08
US$ ha-1
Infestado
2001
A
A
NA
A
A
NA
NA
A
NA
D*
P3
Tabela 4. Comportamento das decisões considerando o preço de 1999 (P1), 2000 (P2) e 2001 (P3), mantendo
constante o custo de produção (US$70,78/ha) da pesquisa
322
DIOGO DRAGONE et al.
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
323
Isso alimenta um círculo vicioso, no qual a menor atenção com a condição
fitossanitária do pomar permite o incremento de populações de ácaros vetores,
que, por sua vez, poderão estar associados a uma maior disseminação e maior severidade da doença no pomar, o que comprometeria safras futuras, que
necessitariam de mais intensas pulverizações para a obtenção de produção.
Por sua vez, intensas pulverizações para recuperação parcial da sanidade do
pomar redundarão em maiores custos e possíveis ressurgências de praga.
3.1. Resultados das simulações das perdas com leprose
Realizaram-se duas simulações para estimar as perdas que a leprose
ocasionaria, se alguns fatores fossem considerados nesses períodos dos
estudos. A simulação 1 (Tabela 5) considera os dados de produção da
pesquisa (Tabela 1). A análise é feita calculando-se a diferença de receita
entre o tratamento controle e infestado, sendo, depois, esse resultado multiplicado pela área citrícola paulista proporcional a cada variedade. Para o
cálculo das receitas, consideraram-se os preços médios da safra de 1999,
segundo IEA.
A magnitude das perdas potenciais ocasionadas pela leprose no Estado de São Paulo, mediante análise da simulação (Tabela 5), foi entre 61
e mais de 77 milhões de dólares, sendo as perdas maiores entre as variedades ‘Natal’ e ‘Pêra’ em função da suscetibilidade à doença e da área
por elas ocupada.
Tabela 5. Perdas ocasionadas pela leprose no Estado de São Paulo - Safras
1999, 2000 e 2001 (Simulação 1)
Variedade
1999
2000
2001
‘Pêra Rio’
‘Natal’
‘Valência’
‘Hamlin’
Outras
23,992
37,493
2,539
11,449
2,184
Milhão US$*
20,165
31,512
2,134
9,622
1,836
19,126
29,889
2,024
9,127
1,741
Total
77,659
65,271
61,909
* US$1 = R$3,50 (valores médios de março 2003). As produções consideradas são as mesmas do
estudo (pomares com cinco anos de idade e preço médio da safra de 1999).
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
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DIOGO DRAGONE et al.
Na Tabela 6, faz-se uma simulação considerando as produções e
preços de 1999, 2000 e 2001, levando em conta a produtividade média de
1,8, 2,0 e 2,0 caixas de 40,8 kg por planta em cada ano respectivamente.
Para tanto, também se considerou a distribuição das variedades no Estado de São Paulo, segundo o IEA. Já os cálculos foram bastante similares
aos anteriores, tornando-se o total produzido no Estado e, posteriormente, considerando-se as perdas por variedade, segundo os dados da pesquisa, e calculados os valores econômicos das perdas da leprose para São
Paulo. O valor do dólar foi ajustado a preços de março de 2003 (US$1,00
= R$3,50) (Tabela 5). Os valores das duas tabelas diferem porque a Tabela 5 considera a produção de um pomar com apenas cinco anos de idade,
o que certamente proporciona uma subestimativa das perdas potenciais,
mesmo considerando que a doença foi inoculada nas plantas do experimento. Já a Tabela 6 considera a produção média do Estado.
Tabela 6. Perdas ocasionadas pela leprose no Estado de São Paulo - Safras de
1999, 2000 e 2001 (Simulação 2)
Variedade
1999
2000
2001
‘Pêra Rio’
‘Natal’
‘Valência’
‘Hamlin’
Outras
47,371
51,165
5,956
17,813
10,922
Milhão US$*
25,823
27,891
3,246
9,710
5,954
65,182
70,403
8,195
24,511
15,029
133,229
72,627
183,323
Total
* US$1 = R$3,50 (valor médio de março 2003). Produção (1,8, 2,0 e 2,0 caixas/planta em 1999, 2000
e 2001 respectivamente) e preços médios (Figura 2) para cada ano.
Fonte: IEA (2001).
Assim, é possível verificar uma amplitude de variação muito grande entre as potenciais perdas nos diferentes anos, que variaram de mais
de 72 milhões de dólares para os dados de 2000, até mais de 183 milhões
de dólares para 2001. Essas tendências acompanharam e foram fruto, princi-
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
VIABILIDADE ECONÔMICA DO CONTROLE DA LEPROSE EM...
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palmente, da variação na remuneração da caixa de laranja (Figura 2), ou
seja, maiores preços pagos pela produção representam, também, maiores
perdas, se estas ocorrem.
4. ANÁLISE FINAL
O estudo mostra que o retorno ou perdas econômicas decorrentes
do tratamento (pulverização para o controle do ácaro vetor do vírus da
leprose dos citros) são influenciados por: variedade cultivada, preço recebido pela produção e custo de controle empregado.
Alerta, também, que os resultados econômicos obtidos devem ser
tomados com certo cuidado.
Primeiro: não resta dúvida que em períodos de preços pouco remuneradores, as perdas com o tratamento são significativas não somente no
aspecto físico como, também, no econômico com o efeito retardado para
anos seguintes. Tem-se observado um círculo vicioso, tendo como ponto
de partida a decisão do citricultor em reduzir a aplicação de defensivos
agrícolas em períodos de preços baixos, visando diminuir despesas que,
por sua vez, transferem para safras futuras as conseqüências de uma epidemia de doença não controlada, requerendo, assim, excessiva pulverização
para o controle e estabelecimento de um equilíbrio pragas-inimigos naturais.
Segundo: o estudo se apóia em simulações que exigem abstrações e manutenção de situações coeteris paribus (tudo permanecendo constante)
quando estende condições de experimentos (área reduzida) como aplicadas e transferidas para todo o Estado de São Paulo em termos da população cítrica e condições edafoclimáticas. Terceiro: mesmo não refletindo
todas as condições do Estado, o experimento revelou importância do
manejo e controle fitossanitário, mormente no caso dos ácaros na
citricultura, justificando a elevada demanda e os dispêndios realizados
na classe acaricidas de defensivos agrícolas chegando a 90% dos gastos
brasileiros com esse segmento do setor. Refletiu, ainda, a necessidade de
uso racional dos acaricidas (aplicação e controle), visando à otimização
de custos, tanto nos períodos de retração no uso e redução de custos nos
tratos culturais em épocas de preços pouco atrativos e desestimulantes,
LARANJA, Cordeirópolis, v.24, n.2, p.311-327, 2003
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DIOGO DRAGONE et al.
quanto nos de uso indiscriminado nas aplicações em situações de preços
compensadores e remuneradores.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Capes e ao CNPq, que financiaram, parcialmente, esses estudos, e ao Fundecitrus, que financiou parcialmente a implantação do experimento original.
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