Diogo de Castilho e João de Ruão
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Pedro Dias e Maria de Lurdes Craveiro, entre outros15. A sua formação inicial não deixa
dúvidas desta sua actuação: após integrar o rol dos oficiais da fábrica do Mosteiro de Santa
Maria de Belém em Lisboa, transfere-se para o serviço do Mosteiro de Santa Cruz de
Coimbra, casa para a qual realiza o vasto plano de reforma arquitectónica dos edifícios
monásticos (1528). Pouco depois, traça os colégios de S. Miguel e Todos-os-Santos (1535)
anexos à mesma Casa. De ambos, como das obras do mosteiro crúzio, será ele a gerir as
obras de construção. À data dos trabalhos em S. Salvador da Serra, Diogo de Castilho
tinha já estaleiros espalhados por vários pontos do país, qual máquina gigantesca de várias
obras simultânea que geria com notável capacidade. É reconhecido pela crítica que os
métodos conceptuais de Diogo de Castilho, tal como as técnicas construtivas que adoptou,
foram, por certo tempo, os tradicionais. As traças das suas primeiras obras teriam um
carácter muito vago e rudimentar, enunciando um mínimo que servisse de orientação à
obra e, por conseguinte, deixando boa margem de improviso às propostas de pedreiros e
lavrantes, marcadas por gostos, formações e sensibilidades diversas16. Porém, a sua obra
posterior mostra-o progressivamente aberto aos modernos métodos conceptuais, pelo que
não deverá ser esquecida a documentação que o designa como “architecto” a partir de
1546, revelada por Fausto Sanches Martins17.
Após João de Ruão e Diogo de Castilho terem estabilizado a sua actividade em
Coimbra, os artistas farão parcerias de trabalho por diversas vezes, quer antes como após
a construção do mosteiro de Vila Nova de Gaia. Entre elas, identifica-se a obra do coroalto lavrado “ao romano” (c.1530) no mosteiro de Santa Cruz, bem como outros trabalhos
na cidade de Coimbra e seu aro, tais como os das igrejas de Atalaia (c. 1528), Góis (1531)
e Trofa do Vouga (c. 1534).
Conforme se delineiam estas colaborações, quer em alguma documentação que chegou
aos dias de hoje, como sobretudo pela análise das obras que denunciam a mão do
arquitecto e do escultor, elas apontam para uma atribuição de tarefas segundo a qual
caberia ao arquitecto a traça geral da obra e a gestão das suas empreitadas, entrando a
colaboração do escultor apenas numa perspectiva de enriquecimento exornativo da
estrutura arquitectónica.
Olhando novamente a planta geral de S. Salvador da Serra, observa-se que este esquema
laboral não poderia ter sido aqui seguido, pois o desenho, ao respeitar uma malha modular
15
A bibliografia sobre o autor é demasiado vasta para a descrever. Destacamos apenas o trabalho monográfico
de CRAVEIRO, Maria de Lurdes dos Anjos – Diogo de Castilho e a arquitectura da Renascença em Coimbra.
Coimbra: Fac. de Letras da Univ. de Coimbra, 1990. (Dissertação de Mestrado, policopiada), entre outros contributos menores da mesma autora, em obra mencionada na nota anterior. Para uma abordagem mais sintética
da sua vida e obra, vd. ainda DIAS, Pedro – A Arquitectura na transição do gótico para a renascença: 1490-1540,
pp. 447-55 e 419-28. Coimbra: Epartur, 1982.
16 Vd. nt. anterior.
17 Pedro Dias considera Diogo de Castilho “eminentemente empreiteiro”, empenhado em rentabilizar a sua
actividade. Traçados os planos gerais, a sua acção consistia em organizar o estaleiro e fiscalizar as obras,
amiudadas vezes a decorrer em pontos distantes do país [DIAS, P. – Op. cit., pp. 425-26]. Com efeito, o contrato de pedraria das obras de reforma de Santa Cruz (1528) permite perceber que, para lá de um debuxo
delineado em traços gerais, estava reservada grande dose de improvisação para soluções talhadas em função do
avanço da obra, traduzidas em instruções orais do mestre. No entanto, tal processo metodológico já não se
afigura aceitável em obras mais tardias. Note-se com Fausto Sanches Martins que a documentação jesuíta
referente à construção do Colégio de Jesus em Coimbra cita Diogo de Castilho sempre na qualidade e com o
título de arquitecto a partir da data de 1546. Aí se diz explicitamente: “Um architecto… pues lo ay del Rey em
Coimbra que es Diogo de Castilho”. MARTINS, Fausto Sanches – A Arquitectura dos primeiros colégios jesuítas em
Portugal: 1542-1759. Cronologias. Artistas. Espaços, I vol., pp. 67 e 797-799. Porto: Fac. de Letras da Univ. do
Porto, 1994. (Tese de Doutoramento, policopiada).
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