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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO SUL
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
Processo da Escolha Profissional de Adolescentes:
Trabalho da Psicologia
Maria de Fátima Lewandowski
Santa Rosa, 2014
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UNIJUI-UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL.
DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
Processo da Escolha
Trabalho da Psicologia
Profissional
de
Adolescentes:
Maria de Fátima Lewandowski
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC),
apresentado ao Curso de Graduação em
Psicologia, da Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul
– UNIJUÍ, / Santa Rosa-RS para obter o
título de Psicólogo
Santa Rosa, 2014
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SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................4
INTRODUÇÃO.........................................................................................................5
1 O ADOLESCENTE NO PROCESSO DA ESCOLHA PROFISSIONAL.................8
1.1 O TRABALHO COMO POSSIBILIDADE DO HUMANO..................................17
2 REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DA
ESCOLHA PROFISSIONAL DOS ADOLESCENTES............................................21
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................32
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RESUMO
O presente trabalho, é fruto de estudos teóricos, bem como de discussões e
práticas desenvolvidas no decorrer do curso de Psicologia, mais especificamente,
nos componentes de Estágio Básico Supervisionado e Estágio: Ênfase em
Psicologia e Processos Educacionais I e II, realizado com estudantes concluintes do
terceiro ano do Ensino Médio. Portanto, discute a respeito das questões que
envolvem a escolha profissional de adolescentes, no que se refere as dúvidas,
angústias e falta de informação a este respeito. O momento da escolha profissional é
de suma importância na vida dos adolescentes, tendo em vista que, o que decidirem
em relação à sua profissão, poderá implicar em diversos aspectos, como subjetivo,
familiar e social deste sujeito.
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INTRODUÇÃO
Este trabalho surgiu com a intenção de refletir sobre a problemática dos
adolescentes em relação à escolha profissional, sendo analisados os diversos
fatores implicados nesta importante decisão, tais como: informações sobre
determinadas profissões, o mercado de trabalho, o papel da família e dos amigos, o
custeio dos estudos, entre outras. Considerando que a fase em que se encontram,
ou seja, a adolescência, é um período de conflitos e angústias, é de esperar que
neste momento crucial de sua vida, o jovem sofra muita pressão por parte da família,
dos amigos e da sociedade em geral, no que se refere a escolha profissional que
terá que fazer, pois ele tem consciência de que esta escolha terá consequências
importantes no decorrer de sua vida. O jovem se sente inseguro frente ao fato de ter
que optar por determinadas oportunidades, em detrimento de outras.
O adolescente sabe que pode mudar de profissão no decorrer de sua
trajetória, mas muitas vezes ele sente como se isso fosse uma mudança
inconveniente, significando uma perda de tempo. Há muitos fatores que influenciam
no momento da escolha profissional, entre eles a história de vida da pessoa,
habilidades necessárias para cada profissão, influências financeiras, mercado de
trabalho, remuneração e importância social, ocupação de pessoas próximas,
autoconceito,
identificação,
orientação
vocacional
e
discussões
sobre
as
universidades e o processo seletivo para ingresso no Ensino Superior.
Por vezes, o jovem considera difícil a tarefa de escolher por uma profissão,
pois podem surgir referências negativas com relação ao gosto expresso. Já, àquele
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bem preparado poderá fazê-lo com maturidade, refletindo sobre os prós e contras
implicados na tomada de decisão por uma profissão. Sabe-se que, o sentimento de
dúvida é inerente do ser humano e se evidência, principalmente, nas fases iniciais
do processo de decisão, evoluindo para um estado de percepção afetiva, de
natureza confusional.
O grupo familiar bem como o de amigos são apontados pelos adolescentes
como os que exercem as principais pressões no momento da escolha, como por
exemplo, tentando impor os seus valores, ou suas próprias experiências de
satisfação ou insatisfação no trabalho. Todos gostaríamos de ter uma profissão que
fosse reconhecida socialmente, e que nos remunerasse satisfatoriamente.
Analisando a sociedade em geral podemos afirmar que todas as profissões têm
importância social, pois todas vem satisfazer algum tipo de necessidade e
contribuem para a manutenção da vida em sociedade.
Com referência ao grupo familiar, entra em jogo a importância do apoio dos
pais em relação à escolha dos filhos, pois, é de extrema importância que estes
ofereçam-lhes sustentação quando se encontram frágeis e indecisos. Salienta-se
também que a falta de apoio dos pais muitas vezes impede os jovens de seguirem
os seus próprios desejos em relação à carreira profissional. Muitos pais buscam
escolher a profissão que seu filho vai seguir, esquecendo, no entanto que quem vai
cumprir com esse novo caminho não são eles, o que na verdade é uma escolha
narcísica dos pais que buscam se satisfazer através de seus filhos.
No grupo social, a interferência dos amigos influencia muito o processo de
escolha. No entanto, os jovens tentam provar uma certa autonomia em relação às
opiniões dos demais. Nas escolas a questão da escolha profissional é pouco
trabalhada. As informações sobre as características das várias profissões não são
suficientes como base do que futuramente possa vir a compor a escolha da
profissão.
O desenvolvimento deste trabalho se dará em 2 (dois) capítulos. O primeiro,
abordará questões referentes aos conflitos enfrentados pelos adolescentes, os
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quais, são inerentes a este processo de escolha profissional. O segundo capítulo,
tem por objetivo, elucidar tais questões, refletindo sobre as possíveis intervenções
do psicólogo nesta tão importante tarefa, que é a escolha profissional na fase da
adolescência.
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1- O ADOLESCENTE NO PROCESSO DA ESCOLHA PROFISSIONAL
A questão da escolha profissional preocupa tanto o adolescente quanto seu
grupo social, seja a família, a escola ou os amigos. A escolha profissional é um
momento importante da vida do sujeito, pois parece implicar na decisão a respeito
do futuro e, muitas vezes, consistiria num dilema por despertar as possibilidades de
angústia e insegurança. A Psicologia considera que o encaminhamento da vida
profissional é uma das tarefas que nossa cultura propõe ao adolescente, o que tem
implicações importantes na sua subjetividade na medida em que aí se conjugam
aspectos de ordem pessoal (como gostos e habilidades), familiares, culturais,
econômicos, entre outros, considerando que essa oportunidade demanda uma
escolha, uma decisão para a qual, muitos adolescentes não se encontram
preparados; por isso, enfrentam tantos desafios frente a esta tarefa profissional que
se faz imprescindível no momento.
De acordo com Calligaris (2000), pode-se perceber que um dos principais
problemas da adolescência na nossa cultura, é que esta, representa uma ruptura, ou
seja, ela é a marca de um desenvolvimento descontínuo. Pois, ainda que não queira,
é hora de crescer, e para isso será necessário renunciar a segurança de amor
incondicional de outrora. “Por consequência, ele não é mais nada, nem criança
amada, nem adulto reconhecido." Entende-se então como nessa época da vida o
adolescente passa por conflitos, fragilidade de autoestima e depressão. Pois, em um
dado momento da vida, o adolescente passa por uma fase em que praticamente
“não é”. Assim, ele não é tão novo para ter atitudes de criança, nem tão velho para
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ter atitudes de adulto. Portanto a adolescência é, sobretudo, um momento de
angústias, pois o jovem não sabe ao certo qual o seu papel (lugar) social.
A este respeito, Bock (2002, p. 309), observa que “(...) depois de uma certa idade
(e esta idade varia de acordo com a cultura), teremos de trabalhar para sobreviver, e
ninguém neste mundo gostaria de passar o resto de sua vida dedicando energias a
alguma tarefa que lhe desagrada.” Assim, é de esperar que neste momento de sua
vida, o jovem sofra muita pressão por parte da família, dos amigos e da sociedade
em geral, no que se refere a escolha profissional que terá que fazer, pois ele sabe
que esta escolha terá consequências importantes no decorrer de sua vida. O
adolescente sente-se inseguro frente ao fato de ter que optar por determinadas
oportunidades, em detrimento de outras. Quanto a isso, evidencia-se a necessidade
da compreensão dos pais a respeito da escolha profissional de seus filhos, conforme
afirmam Levenfus, Soares e Cols (2002, p.91): “Essa compreensão muda a
qualidade da participação dos pais, favorecendo o diálogo e a disponibilidade para
compartilhar das reflexões, mesmo que as escolhas sigam em direção contrária ao
seu desejo”.
A ideia que se tem atualmente, de que a escolha profissional pode ser feita de
acordo com as habilidades e interesses do indivíduo nem sempre existiu.
Antigamente, a pessoa tinha sua ocupação determinada pelos seus ancestrais.
Assim, crescia sabendo que a profissão exercida pelo pai, futuramente seria dele, de
modo que, filhos de servos seriam sempre servos, filhos de senhores seriam sempre
senhores. Dessa forma, não se colocava a questão “o que vou ser quando
crescer?”, pois já era sabido.
A partir do advento do capitalismo, o indivíduo passa a fazer escolhas pois vai
precisar vender sua força de trabalho para conseguir se sustentar. Assim, sua
escolha profissional pode até receber influências vindas das profissões dos pais ou
dos familiares mais próximos, mas a decisão será do próprio indivíduo. Filho de
operário não precisa necessariamente ser um operário, podendo desempenhar outra
profissão. Além disso, não podemos esquecer que é na adolescência que ocorre a
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passagem da criança para o nascimento do adulto, ou seja, é uma fase específica de
transição, de passagem, onde aparece uma oportunidade de crescimento, mediante
a elaboração de um luto.
A este respeito, a análise de Calligaris (2000) traz, elementos culturais para a
compreensão da adolescência. Utilizando uma visão psicanalítica e com a percepção
da influência da sociedade nas manifestações adolescentes, o autor aponta que esse
período de desenvolvimento existe porque a sociedade nega em aceitar esse jovem
como podendo ser responsável por seus atos. Para o referido autor, a adolescência é
um fenômeno contemporâneo, onde se instala uma "moratória" a fim de prolongar
esse período da vida, onde apesar de se encontrar pronto para o amor, para o sexo,
e para o trabalho, ainda precisam ficar sob a tutela dos adultos. Na verdade o
adolescente acaba tendo um papel muito pouco definido e tenta, a todo custo, saber
o que querem dele.
O adolescente ao se olhar no espelho percebe que existem mudanças
acontecendo, mudanças essas, as quais, ele não pode controlar, que o invadem e o
transformam. Com todo esse crescimento vem o medo da perda da condição infantil,
papéis claramente estabelecidos e proteção que sempre teve quando criança. O
desejo de autonomia e liberdade o levam a comportamentos contrastantes, ora se
comporta como adulto, ora se comporta como criança. O que dificulta essa
passagem é também a dificuldade dos pais de lidarem com as mudanças de suas
"crianças". A grande maioria muda a forma de se relacionar com esse jovem, exigem
responsabilidades que nunca foram ensinadas, porém não conseguem reconhecer
esse adolescente como alguém que cresceu e que deve ser tratado com respeito
quanto as suas opiniões e desejos. Em relação a ideia das perdas do adolescente,
Calligaris observa que:
(…) Entre a criança que se foi e o adulto que ainda
não chega, o espelho do adolescente é frequentemente vazio. Podemos
entender então como essa época da vida possa ser campeã em fragilidade
de autoestima, depressão e tentativas de suicídio (CALLIGARIS, 2000, p.
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Na tentativa de buscar reconhecimento dos adultos, os adolescentes utilizamse das transgressões. Transgredir talvez seja a forma encontrada para contradizer
todas as expectativas que a sociedade deposita nesse jovem. Desde o início eles
ouvem que ser adolescente é ser problemático, é ser inconstante, é ser indeciso, é
ser o "aborrecente", aquele que ninguém tem paciência, que não quer ouvir, que só
sabem cobrar e exigir; aquele que desestrutura a família e acaba com sua paz. Na
verdade o adolescente tenta, a todo custo, saber o que querem dele. Sendo assim,
sente-se conturbado: com cobranças constantes, com um permanente mal-estar, um
corpo que parece não combinar com a cabeça. É a fase em que não se é adulto
para fazer certas coisas, mas se é repreendido por agir como uma criança. A
constituição da identidade do jovem ocorre com sua inserção no mundo social dos
adultos, através de modificações internas e reformulações.
Na busca por uma maior interação com o meio e objetivando reconhecer as
determinações sociais da adolescência, a concepção sócio-histórica abandona as
visões naturalizantes e concebe o homem como um ser histórico, constituído em seu
movimento, nas relações sociais, fazendo parte de uma cultura. Conforme Bock
(2004), a adolescência é considerada como construção social e não como um
período natural do desenvolvimento que se estabelece entre a infância e a idade
adulta. Acrescenta que associado ao desenvolvimento físico encontram-se
significações e interpretações determinadas pelo social.
(…)A adolescência foi criada pelo homem. Fatos sociais vão surgindo nas
relações sociais e na vida material dos homens; vai se destacando como um
fenômeno social e vai apresentando suas repercussões psicológicas; vai
sendo construído um significado social para esses fatos que vão
acontecendo e, em um processo histórico, vai surgindo na sociedade
moderna, ocidental, a adolescência (BOCK, 2004. p.10).
A adolescência é constituída historicamente como representação, como fato
psicológico e social. Este fenômeno é estudado, conceituado, registrado em teorias
que descrevem suas características, as quais vão se tornando normas de condutas
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esperadas pelos pais e pela sociedade. Essas características são determinadas e
destacadas pela sociedade constituindo significações, isto é, interpretações da
realidade aonde o adolescente vai se configurando. Através dos meios de
comunicação, da literatura, das relações sociais, das teorias psicológicas, vão se
constituindo os modelos de adolescência, aos quais os jovens se submetem e
reproduzem. A partir dessas significações sociais os jovens constroem sua
identidade transformando os elementos e modelos sociais em individuais. "Os jovens
que não possuíam referências claras para seus comportamentos vão, agora,
utilizando essas características como fonte adequada de suas identidades: são
agora adolescentes" (Bock, 2004. p.12).
Dentre os medos que são despertados pela situação de ter que escolher,
vários se referem ao medo de errar, ser infeliz e ter que mudar. Referem-se também
às pressões que contribuem para a dificuldade de tomar uma decisão de mudança
frente a escolha que já estava estabelecida.
Existe uma tendência nos jovens a idealizar a profissão que querem seguir.
Eles se imaginam em uma profissão perfeita, ideal, que responderá a todas
as suas aspirações e sobre a qual poderão projetar seus sonhos. Imaginam
muitas vezes que, se não encontrarem a profissão ideal, ficarão perdidos
para sempre. Costumam descrever seu sentimento como se só houvesse
no mundo uma profissão que satisfizesse cada pessoa e temem não
encontrar essa uma, única, que lhes confere. Dessa forma, mostram-se
apavorados frente a possibilidade de escolher errado. (LEVENFUS,
SOARES & COLS, 2002, p. 64).
Os adolescentes estão inseguros, mas, no mundo de hoje, percebem as múltiplas
possibilidades de escolha profissional, bem como, de mudar de profissão no
decorrer de suas vidas, caso perceba que a escolha feita anteriormente, já não está
o satisfazendo.
Segundo os autores Levenfus e Soares (2010), a orientação profissional
esteve sempre ligada, a preocupações de ordem social e educacional. No início do
século XX, o problema da orientação era o bom ajustamento entre as características
pessoais e as tarefas do trabalho, num mundo em que predominava a perspectiva
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estática da pessoa e a estratificação familiar e social determinava, em grande parte,
a distribuição pelas fileiras escolares. Assim, observa-se que a orientação
profissional passou por quatro estágios teórico-práticos, a saber:
• Informativo: oferecia informações a respeito das profissões, suas perspectivas e
exigências referentes ao mercado de trabalho, a forma como exercer cada ofício, em
que consistia o fazer de cada profissão escolhida pelo adolescente;
• Psicométrico: não atribuía tanta importância à realidade e à diversificação do
mercado, mas valorizava as características pessoais para o sucesso em
determinado campo profissional. O orientador, a partir da análise das funções
exigidas em cada tipo de trabalho, avaliava inteligência, aptidões motoras e
sensoriais, personalidade, além de definir qual a profissão mais adequada para o
indivíduo;
• Clínico: enfatizava o papel ativo do indivíduo, atribuindo-lhe potencial e recursos
para a autocompreensão e auto- direção. O papel do orientador era facilitar o
reconhecimento e o desenvolvimento do processo;
• Político e Social: incluía como fator relevante o contexto sociopolítico do processo
de escolha profissional, para o qual convergiam complexas configurações sociais
passadas, presentes e futuras.
Segundo o autor acima citado, a partir dos anos de 1990, diferente do
desenvolvimento profissional em etapas sequenciais previsíveis e lineares, as
transformações no mundo do trabalho ocasionaram um efeito em escala, o qual teve
como consequência o esvaziamento do espaço vital e de subjetivação do sujeito por
meio de seu trabalho. O campo da orientação profissional passa agora por um novo
estágio: como a dinâmica do mundo do trabalho é cada vez menos previsível,
estabelece-se um cenário de transição o qual exige das pessoas adaptabilidade e
multifuncionalidade e coloca a realização do projeto profissional em um contexto
complexo e mutante. Assim, na área de Orientação Profissional, ocorre uma
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migração do paradigma primordial do desejo, da realização pessoal e da busca de
identidade. Antes, a Orientação Profissional coincidia com um conjunto de práticas
que tinha como perspectiva o ingresso no mercado de trabalho, ou seja, a transição
da escola para o campo profissional; no entanto, agora, enfatiza-se o encaixe e a
elaboração de projetos, no sentido da sobrevivência. (Levenfus; Soares, 2010). Ou
seja, o orientador deve ajudar no sentido da pessoa definir e conseguir associar a
escolha de uma coisa que goste e tenha prazer em fazer com a questão também da
sobrevivência.
A orientação profissional segundo Bohoslavsky (2000), busca oferecer ao
orientando a compreensão dos múltiplos fatores implicados no processo de escolha
da profissão. O orientando é aquele que busca uma identidade ocupacional e isso
envolve; ideal de ego, imagem de si, esquema corporal. A orientação tem a função
de ampliar a compreensão de si, ou seja, é um meio de autodescoberta e de auxiliar
na compreensão dos fatores envolvidos com a mesma. Aprender a fazer escolhas é
a função da orientação profissional. Com frequência conflitos, dúvidas e incertezas
fazem parte do momento da escolha profissional.
Além dos fatores socioculturais, as relações familiares instáveis contribuem
para aumentar a insegurança dos jovens. Também as formas de ingresso na
formação profissional, como por exemplo, o vestibular é sem dúvida uma etapa
significativa na vida do adolescente, funcionando muitas vezes, como um rito de
passagem para a vida adulta e promovendo um angustiante encontro com o real.
Dito isso, percebe-se que durante a escolha profissional é necessário que seja
considerado que quem escolhe não está escolhendo somente uma carreira, está
definindo quem vai ser. Os interesses ocorrem por meio de experiências de vida, e
reforçam o gosto do sujeito por certos tipos de atividades, mais do que outras. O
ambiente físico e social possui papel importante neste sentido.
Falando a este respeito, Figueiredo (2003) destaca que ao escolher, está
fixando quem deixa de ser, está escolhendo deixar de ser adolescente, deixar de ser
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outro profissional, está optando por deixar outros objetos. Deixam-se objetos e
formas de ser. Por isso, a escolha da profissão supõe, sempre, a elaboração de
lutos. Nesse contexto, o trabalho de orientação profissional ganha destaque e cada
vez mais se mostra necessário, apresentando-se como importante ferramenta de
auxilio no momento da escolha profissional. A orientação profissional não considera
apenas o individuo isoladamente, pelo contrário, considera diferentes aspectos
relevantes na vida do individuo, como bem enfatiza Levenfus (2010, p.29): “A
orientação profissional é hoje um campo que transcende e muito as teorias e as
técnicas de cada orientador, pois nela convergem todos os conflitos de ordem social,
institucional e psicológica que marcam a realidade dos jovens e dos trabalhadores
neste momento histórico”.
Analisando a acepção acima se percebe que no campo da Orientação
Profissional, as mudanças do mercado devem ser consideradas, dessa forma os
jovens precisam ter conhecimento acerca da realidade que permeia o mercado de
trabalho atualmente. Pois, para que uma decisão seja a melhor possível, é
necessário também se levar em conta o mercado de trabalho atual, além de outros
fatores determinantes. O mercado atual oferece muitas possibilidades, e é preciso
que o profissional atenda à demanda desse mercado para que possa manter sua
“empregabilidade”. A este respeito, Levenfus (2010), enfatiza que a previsibilidade é
cada vez menos uma realidade do mundo do trabalho. Nesse cenário de transição
exige-se das pessoas adaptabilidade, multifuncionalidade, uma luta diária pela
sobrevivência.
Percebe-se com isso, que a educação é muito importante nesse contexto, e é
apresentada como a solução para a formação desses novos profissionais para o
desenvolvimento econômico e para a inserção no mercado de trabalho. A escola
está ocupando um novo lugar na vida dos alunos com atribuições que antes eram da
família. Desta forma, evidencia-se a importância da escola no processo de
orientação profissional e consequentemente, a necessidade de melhoria do nível de
formação de mão de obra e o desejo de promoção social, motivado nas famílias pelo
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crescimento econômico. Sobretudo, pela necessidade de escolarização das
aprendizagens profissionais, refletiram-se em um recuo da influencia familiar para o
campo da vida privada e em um aumento do peso da escola em tudo o que diz
respeito a educação para a vida pública e à aprendizagem da vida em sociedade.
Assim, fica evidente que a escola é chamada a dar conta da transição
escola/trabalho, ocupando espaço na mudança de ciclos formativos, principalmente
Ensino Médio e Universidade, focando o vestibular e os demais processos seletivos.
No contexto da escola, o trabalho de orientação profissional busca
instrumentalizar a escolha e a construção da identidade profissional pela via do
autoconhecimento e da articulação entre o conhecimento dos aspectos implicados
no mundo do trabalho e o universo subjetivo de cada orientando. Parte-se do
princípio que nossa vida é formada por escolhas e que uma das mais importantes e
difíceis é a escolha profissional, e a orientação profissional atua como facilitadora
para tal. Não significa que ao término do trabalho, o psicólogo dirá qual profissão o
indivíduo seguirá, e sim, dará instrumentos para a decisão através de suas
preferências e identificações.
Todavia, realizar escolhas não é tarefa fácil. Mesmo quando uma escolha parece
simples e corriqueira, ainda assim o processo é complexo. Porque escolher significa
abrir mão de uma série de outras possibilidades não escolhidas. Escolher implica na
elaboração de um luto. Com uma escolha tão relevante quanto à profissional
também é assim quando optamos por seguir em determinada direção deixamos de
lado todas as outras opções que poderiam se abrir diante de nós. É um ganho que
sempre envolve perdas. Isto é inevitável. Não é à toa que realizar escolha seja fonte
de conflitos em maior ou menor intensidade. Desta forma, é importante ressaltar que
cada vez mais este momento de decisão se torna complexo, e a insegurança dos
jovens quanto ao futuro profissional se acentua à medida que muitas profissões
surgem e outras se tornam ultrapassadas em pouco tempo.
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Na
atual
conjuntura,
a
economia
exige
profissionais
que
tenham
conhecimento aprofundado em áreas não existentes anteriormente. Isso oferece
mais oportunidades em novas especialidades, mas também pode causar uma mão
de obra não qualificada. Esse novo cenário traz profundas modificações na vida das
pessoas, das empresas e do mercado de trabalho, novas habilidades se tornam
necessárias, como trabalho em equipe e a criatividade.
1.1- O Trabalho como possibilidade do Humano
O trabalho, pensado como possibilidade do humano, evidencia também a
preocupação dos jovens no sentido de como ou de que forma será possível sua
inserção bem-sucedida no mundo do trabalho. Quanto a isso, Frigotto (2001) afirma
que é nesse contexto de crise e hegemonia do capital, que se torna mais importante
trabalhar e aprofundar as categorias fundamentais do materialismo histórico
dialético, como instrumento revelador das contradições do sistema capitalista,
permitindo daí retirar elementos para a luta no plano ético-político. Também explica
que, no Brasil, durante o período de 1930 a 1990, portanto em 60 anos de história,
30 anos foram de Ditadura e nos outros trinta tivemos em média um golpe
institucional a cada três anos, o que demonstra a falta de hegemonia da burguesia
brasileira. A partir da segunda guerra, começa-se a sofrer influências de tendências
surgidas no final do século XIX e início do século XX, como a psicanálise, o
estruturalismo linguístico, a fenomenologia, o existencialismo, ou a combinação
dessas tendências com o marxismo e suas vertentes políticas. De forma que, a partir
dos anos 1960, surgem novas teorias, umas rejeitando o status do eu e outras a
realização histórica da razão.
Frigotto, também critica o reducionismo do trabalho como emprego e sua
compreensão na relação com a produção da vida. Diz que, superar a visão
meramente economicista do trabalho significa pensá-lo a partir dos sujeitos sociais
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que experimentam suas relações produtivas determinadas como necessidades e
interesses e como antagonismos, e, em seguida, tratam essa experiência em sua
consciência e cultura. Pois, é por meio do trabalho, que homens e mulheres
refazem, continuamente, sua própria história.
A este respeito, Luft apud Freire (2010, p.115), diz o seguinte: “Se os homens
são seres do quefazer é exatamente porque seu fazer é ação e reflexão. É práxis. É
transformação do mundo”. Dessa forma, é possível inferir que o trabalho é uma
atividade especificamente humana que, segundo Frigotto, deve considerar a
dimensão ontológica, ou seja, os processos de vida humana e histórica, pois o
trabalho possibilita ao homem pensar, ser, agir, fazer.
Conforme o pensamento de Dermeval Saviani:
[...] o homem não se fez homem naturalmente, ele não nasce
sabendo ser homem, vale dizer, ele não se faz homem
naturalmente, ele não nasce sabendo sentir, pensar, avaliar,
agir. Para saber pensar e sentir, para saber querer, agir, ou
avaliar é preciso aprender, o que implica trabalho educativo.
Assim, o saber que diretamente interessa à educação é
aquele que emerge como resultado do processo de
aprendizagem, como resultado do trabalho educativo.
Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem
que partir, tem que tomar como referência, como matériaprima de sua atividade, o saber objetivo produzido
historicamente (SAVIANI:2003, p.7).
O trabalho como princípio educativo está diretamente ligado a própria maneira
de ser de cada indivíduo, pois como participante de uma espécie tem características
transmitidas pela herança genética, entretanto, o pertencer ao gênero humano se faz
mediante processo histórico-social. Pois, foi com o trabalho que o ser humano
contrapôs-se como sujeito ao mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho,
não existiria a relação sujeito-objeto. O trabalho criou para o homem a possibilidade
de ir além da pura natureza. Através da ação vital do trabalho os seres humanos
transformam a natureza em meios de sobrevivência. Assim, socializar o trabalho
como princípio educativo é importante, é educativo. Na relação dos seres humanos
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para produzirem os meios de vida pelo trabalho, não significa apenas que, ao
transformar a natureza, transformamos a nós mesmos, mas também que a atividade
prática é o ponto de partida do conhecimento, da cultura e da conscientização.
Segundo Frigotto (2001), o trabalho humano efetiva-se, concretiza-se, em
coisas, objetos, formas, gestos, palavras, cores, sons, em realizações materiais e
espirituais. O ser humano cria e recria os elementos da natureza que estão ao seu
redor e lhes confere novas formas, novas cores, novos significados, novos tons,
novas ondulações. Mas, com o advento do capitalismo o trabalho tornou-se
mercadoria e o trabalhador deixou de ser dono do produto de seu trabalho,
tornando-se assim alienado. Neste mesmo sistema, o trabalhador se encontra numa
condição alienante, mas se este percebe que vive numa condição de exploração, tal
condição o educa.
Neste sentido, Frigotto (2001), explica que o trabalho se configura como
princípio educativo, considerando as categorias de emancipação/adaptação e no
que concerne ao trabalho no âmbito do capital, este ao se tornar alienante/alienador
impõe limites a discussão emancipatória da educação, uma vez que o resultado do
trabalho é a mercadoria que não pertence ao trabalhador. Assim, o trabalho assume
sua dimensão de alienação. Por consequência, a natureza perdeu a sua mera
utilidade, na medida em que sua utilização se tornou utilização humana, pois, para
transformar um objeto natural em um instrumento que possa satisfazer as suas
necessidades, o homem precisa se apropriar da lógica natural dos objetos e dar-lhes
uma função social.
Outra autora que também discute a questão do trabalho é Ana Costa (2004),
ao referir-se ao lugar “fora de lugar” ocupado pelo adolescente, numa sociedade que
acima de tudo preza pela autonomia e liberdade em relação ao lugar paterno, passa
a ser contemplado e admirado como lugar de exceção pelo mundo adulto. A autora
observa que:
20
É indiscutível nos dias de hoje, a idealização da juventude,
seus valores e seus signos, seja através de uma educação
que visa à independência, ou da busca de um corpo jovem,
ou mesmo do estilo jovem de ser e vestir. Não é preciso
lembrar o quanto isto contrasta com a tradicional valorização
da experiência e sabedoria dos mais velhos (COSTA, 2004,
p.216).
Convive-se, atualmente, em contradição com estes valores, o que contribui
significativamente para o conflito entre gerações. De um lado, os pais, tentando
exercer suas funções em seus lugares demarcados culturalmente e, de outro, os
adolescentes, tentando demarcar o seu lugar na sociedade em que vivem. Sendo
que, para isto, estes últimos, precisam, nesta etapa da vida, realizar a escolha de
uma profissão que lhes dê a autonomia e o reconhecimento esperado, tanto pela
família como pela sociedade.
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2- REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DO PSICÓLOGO NO PROCESSO DA
ESCOLHA PROFISSIONAL DOS ADOLESCENTES
Considerando o exposto no capítulo anterior, o psicólogo é um profissional
apto para intervir na problemática com que o jovem/adolescente se confronta nessa
etapa da vida. Momento em que surgem dúvidas, provavelmente para a maioria
deles: “Que curso fazer? O que ser? ” Essa é uma escolha importante, que poderá
vir a determinar com o que se ocupará nos próximos anos de sua vida. Entretanto,
um dos aspectos importantes a ser trabalhado no processo da escolha profissional é
em que lugar atuar no mercado de trabalho. Não bastaria ao adolescente conhecer
as profissões e analisar suas aptidões, far-se-ia necessário perceber que valores
pessoais determinam suas escolhas e como reage diante do que a sociedade atribui
à sua opção. Questionamos: De que forma o profissional da psicologia pode atuar,
no sentido de contribuir com o adolescente a elucidar tais dúvidas e
questionamentos frente ao dilema da escolha profissional?
Para pensar nas possíveis formas de atuação e intervenção do psicólogo
nesse trabalho de Orientação Profissional, faz-se necessário, rememorar sua
história. Segundo Bohoslavski, nas décadas de 1920 e 1930, a Psicologia
Diferencial e a Psicometria passaram a influenciar fortemente a prática da
Orientação Profissional, o que se deu devido ao grande desenvolvimento dos testes
de inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade durante a Primeira
e Segunda Guerras Mundiais.
Para o autor acima citado, a Orientação Profissional passou a ser um
processo fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos fazer
2
2
diagnósticos e prognósticos do orientando e, com base nesses procedimentos,
indicar profissões ou ocupações apropriadas. Importantes mudanças começaram a
ocorrer na prática da Orientação Profissional a partir da década de 1940, quando
Carl Rogers lançou as bases de sua Terapia Centrada no Cliente, que aproxima os
conceitos de Psicoterapia e Aconselhamento Psicológico e valoriza a participação do
cliente no processo de intervenção, que passa a ser não-diretivo. As ideias de
Rogers influenciaram enormemente a Psicologia, a Psicoterapia, o Aconselhamento
Psicológico e a Orientação Profissional da época, tendo sido um importante marco
de transformação das práticas de Orientação Profissional. De
acordo
com
esta
teoria, a escolha profissional não é um acontecimento específico que ocorre num
momento determinado da vida, mas é um processo evolutivo que ocorre entre os
últimos anos da infância e os primeiros anos da idade adulta e os interesses
profissionais são o reflexo da personalidade do indivíduo, os quais podem servir de
base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas características
definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes ambientes de
trabalho. Ainda nas décadas de 1950 e 1960, foram publicadas Teorias
Psicodinâmicas da escolha profissional, baseadas fundamentalmente na Teoria
Psicanalítica e na Teoria de Satisfação das Necessidades, e Teorias de Tomada de
Decisão, mais preocupadas com o momento da escolha do que com processo em si
No Brasil, a Orientação Profissional tem como marco de origem a criação, em
1924, do Serviço de Seleção e Orientação Profissional para os alunos do Liceu de
Artes e Ofícios de São Paulo. A Orientação Profissional brasileira nasceu ligada à
Psicologia Aplicada, que vinha se desenvolvendo no país, na década de 1920, junto
à Medicina, à Educação e à Organização do Trabalho. A Orientação Profissional
brasileira teve um grande avanço no desenvolvimento a partir da década de 1940,
quando no ano de 1944, foi criada a Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro,
que estudava a Organização Racional do Trabalho e a influência da Psicologia sobre
a mesma. Foram utilizados métodos e técnicas da Psicologia Aplicada ao Trabalho e
à Educação, o que foi feito principalmente através da adaptação e da validação de
2
3
instrumentos psicológicos estrangeiros e da criação de instrumentos psicológicos
brasileiros.
O surgimento dos cursos de Psicologia e a regulamentação da profissão de
psicólogo influenciaram a Orientação Profissional ao vincular esta atividade à
Psicologia Clínica e ao transferir o processo de intervenção para consultórios
particulares. A Orientação Profissional brasileira realizada por psicólogos foi
influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica
de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky (1977/1996),
introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida de Carvalho (1995;
2001), como alternativa ao modelo da Teoria do Traço e Fator, chamado por ele de
Estratégia Estatística. Ela foi influenciada pela ideia de não diretividade da Terapia
Centrada no Cliente de Rogers, pela Psicanálise da Escola Inglesa, especialmente
por Melanie Klein, e pela Psicologia do Ego norte-americana, onde a entrevista
clínica aparece como o principal instrumento durante o processo de orientação e a
primeira entrevista tem por objetivo alcançar o diagnóstico de orientabilidade, que
permite a realização de um prognóstico de orientabilidade e a definição de
estratégias de trabalho. Bohoslavsky aceita a utilização de testes para a realização
do diagnóstico, contanto que sejam utilizados apenas em seu caráter instrumental.
Para Bohoslavski (2000), a identidade profissional ou ocupacional é um
aspecto da identidade do sujeito, parte de um sistema mais amplo que a
compreende, e é determinada e determinante na relação com toda a personalidade.
Considerando a complexidade do processo de Escolha Profissional para o
adolescente, percebe-se que a Orientação Profissional é um campo de atuação
relevante em Psicologia Escolar. Pois, concebe-se a instituição educativa, como o
espaço privilegiado em que este trabalho deve se organizar, tendo também como
base o documento "Atribuições profissionais do psicólogo no Brasil", do Conselho
Federal de Psicologia (1992), que define, que o psicólogo, "desenvolve programas
de orientação profissional, visando um melhor aproveitamento e desenvolvimento do
potencial humano, fundamentados no conhecimento psicológico e numa visão crítica
do trabalho e das relações do mercado de trabalho" (§ 65).
2
4
Na escola, são inúmeras as possibilidades de intervenção do psicólogo para
contribuir com o desenvolvimento do trabalho dos educandos. Por isso, cabe ao
psicólogo assumir como uma de suas tarefas essenciais implementar a Orientação
Profissional na escola, encarando o desenvolvimento acadêmico e do trabalho como
processos relacionados, que se apoiam e suplementam mutuamente, em benefício
do educando.A ideia básica é a de que o desenvolvimento do sujeito é um processo
contínuo,
ininterrupto.
Portanto,
os
programas
que
visam
promover
o
desenvolvimento humano no domínio da profissão, devem partir desse pressuposto,
fazendo com que a orientação não se restrinja a uma sequência de ações pontuais
ou esporádicas, mas que se torne parte integrante do processo de educação formal.
Para efetivar essa prática no cotidiano escolar, faz-se necessário que o
psicólogo conceba sua intervenção em termos macro. Taveira (2005, p. 150)
recomenda que, para isso, ele recorra a teorias do desenvolvimento do trabalho,
contribuindo para que os alunos compreendam o conteúdo e o processo da tomada
de
decisão
na
escolha
profissional,
"que
reduza
a
ambiguidade,
a
incerteza/indecisão e favoreça o aumento da confiança na tomada de decisão". O
autor, chama atenção para a necessidade de se enquadrar a intervenção do trabalho
num quadro de referência mais geral, o do papel do psicólogo numa escola:
O psicólogo a trabalhar numa escola é um elemento de uma equipe, partilha
preocupações, medidas e programas com professores, administradores,
outros educadores e membros da comunidade geral onde a escola se
insere. Neste contexto, deve ser um modelo positivo de relações humanas,
ajudar a criar um clima e um crescimento favorável na escola, e estar
sensível às características e necessidades associadas ao desenvolvimento,
ao gênero, à etnia, e ao estatuto socioeconômico dos seus clientes
(TAVEIRA, 2005, p. 150).
Observa-se que o trabalho de Orientação Profissional, vai muito além da mera
orientação, apresentando convergências significativas com a concepção de
intervenção, que considera as relações sociais estabelecidas no contexto educativo
como principal foco de análise e intervenção do psicólogo. Embora pouco enfatizada
nos meios educacionais, a atuação do psicólogo nesta área, é tão legítima como
25
necessária. Fala-se aqui de uma Psicologia comprometida socialmente com a
cidadania, cujas práticas estejam orientadas por finalidades transformadoras; que
objetive a promoção do desenvolvimento humano, superando perspectivas
meramente remediativas ou de solução de problemas. Cabe ao psicólogo que
trabalha com Orientação Profissional, empenhar-se na reflexão sobre a emergência
da sociedade do conhecimento e como as transformações no contexto sóciohistórico têm afetado o desenvolvimento dos sujeitos, em todas as fases da vida. É
indispensável que ele provoque debates acerca dos futuros papéis que estes jovens
desempenharão, enquanto cidadãos, perante uma nova dimensão do trabalho, em
que será cada vez mais relevante a atitude e disposição para aprender
continuamente, ao longo do curso de vida.
Com o objetivo de promover o desenvolvimento dos alunos, o psicólogo
precisa atuar em sintonia com o que é defendido pela educação para a profissão e
que é assim expresso por Moreno (2008, p. 34): "preparar as pessoas para trabalhar
deveria ser uma meta básica do sistema educativo total". O trabalho é aqui definido
como um esforço consciente, dirigido para produzir benefícios socialmente
aceitáveis para si e para os outros. A ideia de ser consciente implica em ser
significativo para o sujeito, em servir à sua necessidade de realização. Acrescentase aí a noção de que ser consciente também envolve a possibilidade da pessoa ter
autonomia,
autodeterminar-se
e
fazer
escolhas
profissionais
a
partir
do
reconhecimento de sua realidade pessoal e social, vendo-se na condição de
transformá-la.
Compreende-se que, o psicólogo deve favorecer a implicação de toda a
instituição educativa na realização de ações voltadas ao desenvolvimento da
escolha profissional dos adolescentes. Propõe-se que sua intervenção se inicie com
o mapeamento institucional (Marinho-Araujo & Almeida, 2005), através do qual o
psicólogo pode compreender as concepções de educação, escola, trabalho,
desenvolvimento humano e outras, que orientam as ações dos profissionais da
educação. É também pelo mapeamento que se torna possível identificar
necessidades de grupos específicos, através das queixas, torna-se possível a
26
identificação da demanda, de forma que o psicólogo possa planejar ações
orientadoras. Nesse trabalho, junto aos adolescentes, sua função é mediar
processos subjetivos envolvidos na escolha profissional, tais como processos de
autoconhecimento,
de
significação
e
ressignificação
das
decisões,
de
conscientização acerca do mundo do trabalho, das profissões e da formação
profissional.
Uma dimensão essencial desse trabalho é favorecer a percepção, por parte
dos alunos, daquilo que condiciona suas decisões, por um lado, e, por outro, de sua
condição de sujeito que se constrói em uma relação dialética com o contexto no qual
está inserido. Promover o desenvolvimento humano, propiciando o exercício do
pensamento crítico dos sujeitos, deve ser a meta orientadora do trabalho do
psicólogo.
A este respeito, tem-se o relato de fragmentos da experiência de Estágio
na Ênfase em Psicologia e Processos Educacionais, em que se realizou um
trabalho de Orientação Profissional, no decorrer de um ano, em uma escola
pública, com adolescentes concluintes do Ensino Médio. O trabalho aconteceu
da seguinte forma: inicialmente, fez-se um levantamento da literatura que
discute o tema da Escolha profissional; em seguida iniciou-se as atividades
junto aos educandos, com o objetivo de conhecer melhor a realidade e o
contexto em que estão inseridos, buscando visualizar como estes se situam em
relação à futura escolha profissional, foi realizada uma entrevista individual. Na
sequência, ministrou-se palestras com profissionais de diversas áreas do
conhecimento, visando esclarecer as dúvidas constatadas durante as
entrevistas, no sentido de fornecer maiores informações e subsídios para
orientá-los na escolha profissional. Posteriormente, realizou-se oficinas com
grupos de adolescentes, nas quais foram desenvolvidas técnicas de dinâmica
de grupo que contemplassem vários aspectos envolvidos na problemática da
escolha profissional. Ao final, realizou-se novamente entrevistas com os
adolescentes, com o intuito de refletir um pouco mais sobre determinadas
questões, que para eles, ainda não estivessem suficientemente discutidas.
27
Autores como Bock (2000), têm enfatizado a riqueza do trabalho de
Orientação Profissional em grupo, seja na instituição escolar ou em outros espaços
nos quais o processo assume uma intenção educativa. A diversidade de situações já
vivenciadas pelos sujeitos orientandos faz com que se privilegie o trabalho grupal,
por se entender que a dinâmica estabelecida no grupo enriquece o processo, pois
permite aos participantes a observação mútua das dificuldades, opiniões, valores,
interesses e projetos de vida. Ao mediar as relações sociais entre os integrantes do
grupo, ou mesmo ao compartilhar suas próprias experiências, visões de mundo,
conhecimentos, o psicólogo promove desenvolvimento psicológico, por meio do
confronto dos significados anteriormente construídos.
Segundo (Marinho-Araujo & Almeida, 2005), o educando, ter reconhecidas,
valorizadas e ressaltadas suas competências se torna essencial para favorecer o
autoconhecimento e autoconceito, a configuração de sua identidade e incentivar sua
permanência no sistema de ensino, em direção à formação profissional. Muitas
vezes, faz-se necessário que o psicólogo provoque os alunos à ressignificação de
sua história escolar, quando esta foi marcada por contínuos fracassos e
desestímulos. O psicólogo deve favorecer os processos de humanização e
reapropriação da capacidade de pensamento crítico dos indivíduos, contribuindo
para que a escola cumpra sua função social de socialização do conhecimento
historicamente acumulado e trabalhe para a formação ética e política dos sujeitos.
Conforme o autor supracitado, cabe ainda ao psicólogo, oportunizar um lugar
de fala e de escuta também para a escola. É essencialmente nessa possibilidade de
criação de espaços de escuta psicológica no espaço educativo que reside a
especificidade da contribuição da Psicologia. Quaisquer que sejam as ações
desenvolvidas pelo psicólogo, tal escuta deve ser compreendida como uma
dimensão fundamental de seu trabalho, pois é a partir dessa que ele poderá
compreender e intervir nos aspectos subjetivos presentes no cotidiano escolar. A
escuta psicológica envolve o estar com o outro, perscrutando os fenômenos
psicológicos; é encontrar a pessoa, o grupo ou a instituição por meio de suas
histórias e de seus afetos. É através desta escuta, tanto em momentos programados
2
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intencionalmente para isso como na urgência do cotidiano escolar, que o psicólogo
desenvolve meios de assessorar o trabalho coletivo da equipe técnico-pedagógica.
Entretanto, compete ao psicólogo, nas intervenções relacionadas a escolha
profissional, dispor-se a ocupar um lugar de escuta, tanto junto aos adolescentes,
quanto junto aos demais profissionais do contexto educativo. Que ele esteja
disponível a escutar e compreender as vivências dos educandos acerca da relação
que estabelecem com o sistema educativo, com o mundo do trabalho e consigo
mesmos, contribuindo à construção de processos de conscientização destes sujeitos
e de seus educadores. Muitas vezes, se faz necessário que o psicólogo esteja
disponível, na escola, para fornecer apoio aos educandos com queixas relacionadas
a escolha profissional. Uma escuta psicológica atenta a questões dessa ordem pode
contribuir para que os mesmos consigam "elaborar e concretizar projetos de ações
relacionados com o trabalho, com a educação e com a família, encarados como
fenômenos inter-relacionados", afirma Taveira (2005, p. 152). Ainda, quando isso
requer atendimento individualizado, quando praticado em contexto escolar,
demonstra-se mais efetivo, em termos de resultados.
2
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho, objetivou conhecer um pouco mais, acerca da realidade, das
angústias e ansiedades vivenciadas, inerentes ao período conflituoso em que os
adolescentes, principalmente, os concluintes do Ensino Médio, se encontram, no que
tange à escolha profissional. O que se espera, por parte tanto da família, quanto da
sociedade, é que façam esta escolha tão significativa em suas vidas, com firmeza,
clareza e convicção. Em contrapartida, os mesmos não se sentem preparados,
substancialmente, para tanto nessa altura da vida, frente ao rol de opções que o
mundo moderno lhes oferece e que eles, sentem-se compelidos a responder a essa
demanda, ou seja, decidir. Entretanto, ressalta-se a importância, cada vez mais
evidente da realização de um trabalho de Orientação Profissional, viabilizado por um
psicólogo profissional que implique em momentos de discussão, reflexão e
elucidação das questões que tanto assolam os jovens adolescentes.
Segundo Müller (1988, p.18), o processo de Orientação Profissional, não
acontece ao acaso, mas é construído subjetiva e historicamente em interação com
os outros, segundo as oportunidades familiares, as disposições pessoais e o
contexto sociocultural e econômico. As pessoas são identificadas, muitas vezes, por
aquilo que fazem; grande parte da vida o ser humano passa trabalhando, sendo
inegável o peso que o trabalho tem e sempre teve para a humanidade. No entanto,
decidir por uma profissão a ser seguida, muitas vezes, não é fácil, pois envolve
muitos aspectos. O momento de decisão profissional é muito difícil para a maioria
dos adolescentes, porque implica a escolha de um futuro. O jovem, junto a pessoas
que estão á sua volta, espera uma decisão definitiva, fato que muitas vezes não
3
0
acontece, já que a identidade profissional de uma pessoa é delineada ao longo de
sua vida, à medida em que vai tendo consciência das suas características de
personalidade. Nossa identidade profissional se constrói laboriosamente em um
processo contínuo, permanente, sempre factível de ser revisado, pelo qual podemos
dizer que nossa aprendizagem é perpétua.
Todavia, para que o trabalho do psicólogo no processo de Orientação
Profissional cumpra com sua real finalidade, deve ser operacionalizado de maneira
coerente, ou seja, mais do que informar, discutir, refletir sobre as angústias
vivenciadas pelos adolescentes em virtude da escolha de uma profissão, deve
promover o autoconhecimento do indivíduo. Como meio facilitador para a escolha
profissional, a Orientação Profissional ajuda o indivíduo a formar-se cidadão em seu
sentido mais pleno, uma vez que, ao ajudá-lo a encontrar uma identidade
profissional, auxilia-o a estruturar uma identidade pessoal, favorecendo na
elaboração de um projeto de vida de forma mais responsável. Mais do que orientar a
respeito da escolha de uma profissão, o trabalho realizado pelo psicólogo, auxilia o
jovem a lidar com os conflitos inerentes a fase da vida em que se encontram.
Com o objetivo de investigar a importância do trabalho do psicólogo no
processo da escolha profissional com adolescentes, constata-se a significação da
intervenção iniciada a partir do mapeamento institucional, que possibilita conhecer
as necessidades através das queixas, identificar as demandas, viabilizando ações
mediadoras neste processo decisório. Pois, através do mapeamento, torna-se
possível ao profissional da psicologia compreender as concepções de educação,
escola, trabalho, desenvolvimento humano e outras, que orientam as ações dos
profissionais da educação. Nesse trabalho, junto aos adolescentes, sua função é
mediar processos subjetivos envolvidos na escolha profissional, tais como processos
de autoconhecimento, de significação e ressignificação das decisões, de
conscientização acerca do mundo do trabalho, das profissões e da formação
profissional.
Este tema é de suma importância, como uma possibilidade de intervenção do
profissional da psicologia, principalmente nos dias atuais, quando a questão da
3
1
escolha está muito vulnerável. Pois, os adolescentes estão enfrentando o processo
de tomada de decisão acerca da escolha profissional transpassados por outras
questões de ordem pessoal, afetiva. Frente a isso, constata-se a necessidade de
este ser um campo de atuação do profissional da psicologia.
Este estudo finaliza. Porém, a questão da Escolha Profissional continuará
sendo objeto de estudo em outros momentos de formação.
3
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Processo da Escolha Profissional de Adolescentes