A SOCIEDADE INFORMÁTICA Conseqüências Sociais da Segunda Revolução Industrial (Parte I do livro) Adam Schaff "Produção do Grupo de Estudos Redes, Cidadania e Cidade Educadora, 2000" Coordenação Érika Juffernbruch Contextualização Autor polonês, formação marxista Obra de 1985, publicada em 1990 O livro é um relatório feito sob encomenda para o Clube de Roma – organização criada em 1968 por 30 pensadores de várias áreas, liderados pelo norteamericano Dennis Meadows, com o objetivo de debater e estabelecer critérios para o desenvolvimento sustentável da humanidade, em todos os aspectos (tornou-se uma dos pilares do ativismo ecológico) Pretendeu responder à pergunta: Que futuro nos aguarda? (analisando o impacto da revolução tecnológica, principalmente nos setores de microeletrônica, da microbiologia – engenharia genética – e técnico-industrial, sobre a sociedade) Contextualização Pensamento do Clube de Roma: "Nós influenciamos o futuro através de nossa ações hoje, e nossa ações são por sua vez determinadas por nossas concepções sobre a realidade sócio-cultural e também sobre como ela pode e deve ser. Nesse sentido, um papel decisivo no planejamento de processos de mudança - num contexto da crise - está reservado à pesquisa empírica alternativa de novos sistemas de valores básicos.” Capítulo II – Mudanças na formação econômica da sociedade A 2ª revolução industrial deve gerar desemprego automação e robotização da produção = redução da demanda por trabalho humano = desemprego estrutural exemplos: Japão (unmanned factories, eliminação do trabalho manual até o fim do séc.), Canadá (25% de trab. sem emprego até final do séc.) Jovens serão privados, pela nova tendência tecnológica, das oportunidades de trabalho. Solução: novos princípios de distribuição de renda nacional Isso implica em Infringir, ou modificar, direito de propriedade Problema do desemp. estrutural é supra-sistêmico (caráter universal): afeta tanto países capitalistas quanto socialistas Custos da nova distrib. de renda deveriam ser cobertos por empresários Mas haverá radicalização das massas trabalhadoras, via sindicatos (“pelegos”perderiam comando) Soluções para impasse devem ser econômicas, evitando cataclismo social Estado deve assumir preocupação com crescente exército de desempregados Cita a Triple Revolution, doc. norte-americano de 1964, que instava governo a proporcionar rendimento adequado a famílias de desempregados pela rev. cibernética (fala sobre “dívida intelectual” dele com doc.) Sem nova distrib. de renda, custeada pela classe de proprietários privados, não haveria alternativa. Que o perdoem os “exacerbados defensores da propried. privada” Lembra exemplo da Suécia, onde o capitalismo foge ao sentido clássico, já que, cobrando altos impostos de quem tem muito, o Estado garante bem-estar aos que têm pouco (mais valia tornase propriedade social) Sugere o termo “economia coletivista” para definir o sistema econômico ideal do futuro = infração do sagrado direito de propriedade em nome dos interesses coletivos gerais / mistura de economia capitalista privada e economia social coletivista Ao Estado caberia ainda outro papel: a planificação econômica Para manter exército de desempregados, teria de influenciar a forma de prod. e de distribuição destes bens, para evitar problemas financeiros (inflação, i.e) e o desequilíbrio de mercado. Controle da estabilidade geral do sistema econômico (mas deixando amplo campo para a concorrência e a iniciativa privada) ??? Capítulo III – Mudanças na formação social da sociedade 2ª Rev. Industrial trará alterações na estrutura das classes sociais (força motriz da sociedade) e nas suas relações Se o trabalho, como o entendemos, desaparece, também desaparece a chamada classe trabalhadora. A classe dos capitalistas, proprietários dos meios de produção, também tende a desaparecer. (Digressão: lembra que Marx tem obra menos conhecida – Grundisse, primeiro esboço de O Capital - na qual prevê o advento da automação e conseqüente mudança na posição do proletariado e na estrutura das classes sociais) Autor não acredita que possam ocorrer mudanças de caráter socialista, em função do desaparecimento de trabalhadores e capitalistas Exemplo negativo dos países socialistas, para ele, reforçaria tese de que isso dificilmente ocorrerá Outra variante seria mais provável: lugar das classes desaparecidas seria preenchido por novo (existente, mas ampliado) estrato social, formado por cientistas, engenheiros, técnicos e administradores, incumbidos do funcionamento e dos progressos de indústria e serviços Não será numeroso como as classes substituídas, mas preencherá suas funções sociais com nível mais elevado de eficiência Esse estrato poderia ser, inclusive, proprietária de meios de produção Educação permanente: continuous education. Para Schaff, seria uma das principais formas de solução do desemprego estrutural RISCOS DE IGUALITARISMO ECONOMICO, em razão de mudanças tecnológicas e da sociedade informática Autor cético quanto ao pensamento de que igualitarismo econômico resolveria todas as diferenças sociais Para ele, podem surgir novas diferenças, maiores que as anteriores - formação de um novo tipo de sociedade totalitária Fonte do perigo: “é a informação, no sentido mais amplo, que, em certas condições, pode substituir a propriedade dos meios de produção como fator discriminante da nova divisão social, uma divisão semelhante, mas não idêntica, à atual subdivisão em classes” Divisão entre os que possuem e os não possuem as informações adequadas Vida individual devassada pela burocracia estatal na sociedade informática, não longe do imaginado por George Orwell. Temos que evitar esse mal. 6 Capítulo IV – Mudanças na formação política da sociedade Formação política da sociedade é determinada pelas relações entre o indivíduo, as instituições públicas e a sociedade Atual revolução Industrial afetará também “a implementação prática da democracia nas sociedades do Ocidente e do Oriente” Lembra que autores da Triple Revolution achavam que haveria, com revol. cibernética, riqueza material e democracia Mas ele não pensa assim: o diagnóstico não leva em conta o perigo que pode advir da nova divisão de classes na sociedade informática – basicamente os que têm e os que não têm informação 7 Cita duas ameaças à democracia mundial: Uma é a aliança sui generis que poderia ser formada entre os capitalistas individuais, com renda reduzida, mas ainda controlando pontos-chave da produção, e os “neo-capitalistas”, integrantes do estrato social que detém o saber em diversas áreas de especialização. Com apoio do military establishment, poderiam por em risco a segurança mundial (EUA??) A outra, ainda pior, diz ele, é a das empresas multinacionais (international corporations) que, graças à sua estrutura e âmbito de atuação (influência sobre a economia de vários países/meios legais e ilegais – corrupçao, i.e), têm grande possibilidade de interferir na política internacional 8 Fala também em dois caminhos políticos para países capitalistas altamente industrializados, na sociedade informática 1) Como previu Triple Revolution, eles teriam sociedade mais rica e que agiria com nível superior de democracia 2) Condução a uma sociedade opulenta, mas totalitária no sentido político Faz ainda um alerta aos partidos progressistas: que cuidem, desde já, para não deixar a abolição da propriedade privada dos meios de produção, que tanto defendem, ser pretexto para o estabelecimento de totalitarismos (lembra fascismo na Itália, que pegou todos de surpresa) 9 Países socialistas, segundo Schaff (na época, pelo menos), teriam desafio maior para se adaptar à sociedade informática que os capitalistas, no que diz respeito à formação política Cita a necessidade de dar liberdade ao pensamento científico (exemplo soviético: líderes rejeitaram a cibernética até que foram convencidos de sua importância para uso militar – const. de mísseis balísticos) Fala na necessidade de que revisão da didatura do proletariado em uma sociedade em que a classe trabalhadora, em sua forma clássica, desaparece CONCLUSÃO: Países capitalistas e socialistas terão de optar, ma sociedade da informática, entre democracia e totalitarismo 10 Diante dos avanços da tecnologia e das mudanças sociais, Estado terá papel vital para controlar a sociedade, muito mais que agora (1985) Outra característica do Estado será, por um lado, a centralização - planificação econômica, coleta de informações sobre cidadãos individuais (Serviços de Informação, etc) , serviços meteorológicos, prospecções de fontes de energia, etc – e, por outro, a descentralização - funções públicas, saúde, educação, comunicação e transportes com tratamento regionalizado Sociedade informática também permitiria prática do oAutogoverno – referendos populares para decisões do Estado (exemplo da Suíça) 11 Capítulo V – Mudanças na formação cultural da sociedade Ao lado do desaparecimento do trabalho, a mudança cultural será traço mais importante da sociedade informática Será grande passo em direção ao ideal de humanistas: o surgimento do homem universal Cultura: totalidade de produtos materiais e espirituais do homem em período determinado e em contextos diversos (nacional, supranacional, universal, lingúistico, religioso) Três esferas de problemas para se abordar: 1) Difusão da Cultura - A revolução tecnológica permitirá revolução do ensino - autômatos falantes, “professores autômatos”, inteligência artificial. Também o alívio da carga de memória humana necessária, com interconexão de computadores 12 2) Difusão da cultura supranacional: Primeiro faz crítica ao patriotismo exagerado: “atitude subjetivamente patriótica induz à glorificação de tudo o que está relacionado à própria nação, à sua história e às condições presentes, ou seja, induz ao chauvinismo e ao provincianismo (Itamar Franco?). Prevê que ele não terá mais vez Diz que será inevitável evolução no sentido de cultura supranacional, da internacionalização da cultura. Desaparecimento do folclore, valorizado apenas em sociedades estagnadas em seu desenvolvimento e em suas relações econômicas e sociais Mas o que substituirá o folclore? PERIGO: Neo-imperialismo e neo-colonialismo cultural - sociedades ricas, controladoras dos meios de difusão cultural (TV, rádio, etc) e satélites, sobre sociedades pobres Exemplo da China, onde Schaff esteve: programações de TV estrangeiras para todo o país 14 Pergunta: o que acontecerá na África, na América Latina e em países pobres da Europa nesta situação? “Perigo é o da desinformação segundo modelo da sociedade de consumo” Autor é cético quanto a formas de evitá-lo 3) Difusão de novos modelos de personalidae e de um novo caráter social dos homens: Mudanças de valores e avaliações, gerados pela nova revolução industrial, podem produzir evolução de estereótipos consolidados = surgiria o “novo homem” 15 DEBATE 16 17