FINANCIMANENTO DO CAPITAL DE GIRO ATRAVÉS DA
DESVERTICALIZAÇÃO
CASO DE UMA AGROINDUSTRIA DO SETOR DE SUÍNOS
Luís Henrique Andia
Renato de Castro Garcia
RESUMO
Nos últimos anos as empresas agroindustriais objetivando reduzir custos de produção
e aumentar o grau de diversificação, baseado nos conceitos de competitividade e agregação de
valores disseminados na década de 80, iniciaram um processo de verticalização de suas
estruturas. Quanto maior o controle sobre a produção de um bem, melhor.
Até quanto a empresa deve crescer? É mais barato produzir ou comprar no mercado?
Perguntas como estas podem ser extremamente debatidas, principalmente após a consolidação
dos conceitos da Nova Economia de Empresas ou Economia dos Custos de Transação (ECT).
Através destes modelos, nota-se claramente que as empresas podem, sem prejuízos, comprar
no mercado ao invés de produzir, com baixos custos de transação e segurança.
Assim, neste cenário de altos juros de captação de recursos, porque não desverticalizar
parte das estruturas da empresa para financiamento do capital de giro?
Para exemplificar este estudo, analisou-se o caso de uma agroindústria (demonstrações
contábeis para os anos de 1998, 1999, 2000 e 2001), especializada na produção de aves e
suínos (cortes e produtos derivados). Para analisar as condições financeiras da empresa
adotou-se o modelo de Fleuriet, baseado no CCL (capital circulante líquido), na NCG
(necessidade de capital de giro) e ST (saldo de tesouraria).
Desta forma, em 1998, a agroindústria foi avaliada com “Muito Ruim”, em 1999 com
“Excelente”, em 2000 com “Insatisfatório” e em 2001 como “Sólida”. Aparentemente a
empresa apresentou uma melhora na situação financeira com o passar dos anos. Quando foi
analisado o NCG, notou-se algum ano que nem ao menos esta fora satisfeita.
Para financiar o capital de giro necessário para o bom desenvolvimento da empresa,
recomenda-se desta forma a desverticalização de estruturas, ou seja, a venda de ativos
permanentes. Com esta “desmobilização de ativos”, espera-se que haja a redução do valor de
contas como financiamentos de curto prazo, fornecedores, salários, etc; que acarretaria em
uma melhora do desempenho financeiro da empresa.
Palavras Chaves: Cadeias agroindustriais, suinocultura, capital de giro (finanças).
1. INTRODUÇÃO
Atualmente as empresas estão cada vez mais interessadas em manter estruturas
produtivas enxutas, com custo transacional baixo. Dependendo do tipo de transação e knowhow existente entre duas empresas, pode-se decidir entre internalizar a atividade (verticalizar)
ou lançar mão de parcerias comerciais, através de relações contratuais.
No agribusiness da suinocultura, tem-se claramente a figura das agroindústrias
processadores ou semiprocessadoras da carne, podendo resultar em produtos finais com maior
ou menor valor agregado. Outro elemento vital para a existência desta cadeia é o produtor
rural, ou seja, o suinocultor.
1
Desta forma, as agroindústrias podem assumir uma posição com estruturas
verticalizadas, ou seja, seriam as criadoras dos suínos, produziriam sua matéria-prima e
realizariam o processamento da sua carne. Alternativa seria a contratação de suinocultores que
estariam fornecendo os animais vivos, e a agroindústria seria responsável pelo abate e
processamento.
Pelo ponto de vista da Economia dos Custos de Transação (ECT), as empresas
alocadas dentro de uma cadeia agroindustrial poderiam relacionar-se através de transações
contratuais com graus distintos de controle (governance), desde que seguindo algumas
indicações de formas contratuais, viabilizando os custos transacionais gerados.
Através da literatura atual sobre cadeias agroindustriais, relacionado com a questão do
grau de verticalização das empresas, principalmente das agroindústrias, o foco principal é a
transação que ocorre entre dois ou mais agentes, sempre com a preocupação de otimizar os
custos contratuais ou de transação. Assim, recomenda-se ser mais ou menos verticalizada
baseado na forma de relacionamento adotado entre as empresas.
Uma forma quantitativa de avaliar o grau de verticalização de uma empresa seria
baseada em discussões sob a ótica da administração financeira, principalmente dos ativos
circulantes, como é o caso do capital de giro. Assim, existem índices financeiros e modelos
matemáticos que podem auxiliar na tomada de decisão sobre o grau de verticalização que
determinada empresa deve adotar. Evidentemente, quando se utilizam ferramentas
quantitativas, espera-se analisar principalmente o comportamento do lucro, baseado na
redução dos custos financeiros da empresa.
Para poder exemplificar os resultados deste trabalho, foram selecionados os dados
contábeis de uma empresa do ramo agroindustrial, responsável pela comercialização
significativa dos produtos processados e semiprocessados da carne suína.
2. OBJETIVO
•
Verificar através da teoria da Economia dos Custos de Transação (ECT), de Integração
Vertical e Sistemas Agroindustriais, se o grau de verticalização das agroindústrias de
produtos derivados da carne de suínos pode sofrer alteração sem que estas empresas
sofram danos econômicos ou financeiros.
•
Avaliar a possibilidade de desverticalização das empresas agroindustriais com a finalidade
de financiar seu capital de giro. Desta forma, serão verificados a influência do volume de
ativos fixos (permanentes) na variação do capital de giro, através de análises dos índices
IOG (investimento Operacional em Giro), da CCL (Capital Circulante Líquido), do NCG
(Necessidade de Capital de Giro) e da ST (Saldo em Tesouraria).
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3. ARCABOUÇO TEÓRICO
3.1. INTEGRAÇÃO VERTICAL
•
Diversificação e competitividade
A integração vertical teve um papel preponderante no crescimento da empresa, sendo
caracterizada como uma forma especial de diversificação. Esta integração envolve um
aumento no número de produtos intermediários produzidos pela firma para seu próprio uso,
permitindo, assim, a substituição dos insumos comprados de outras empresas por produção
própria, integrando-se "para trás", ou para a distribuição e outros serviços "para frente" na
cadeia de produção-distribuição-consumo.
Com isto, uma única empresa pode integrar atividades econômicas relacionadas a
vários estágios sucessivos do processo total de produção, que se desenrola desde a produção
de matéria-prima até a colocação do produto acabado nas mãos do consumidor final.
•
Economia dos Custos de Transação (ECT)
Segundo ZYLBERSZTAJN (1995), é comum aqueles que lidam com Economia de
Empresas, Estratégia e Marketing, a pergunta se uma determinada empresa deve ou não se
estruturar verticalmente. Na verdade a pergunta pode ser ampliada para conter as diversas
possibilidades de integração vertical, para frente, incorporando etapas da distribuição, para
trás, na direção das matérias-primas ou lateralmente, incorporando a produção de
componentes.
O senso comum é que existem vantagens com a integração, ou seja, ser maior é
melhor, ter o domínio sobre as etapas distintas da produção é sempre vantajoso. Esta
concepção é incorreta, sendo uma herança da visão neoclássica, que alia a integração ao poder
de mercado e, portanto rendas monopolísticas.
Realmente, a busca para a pergunta paradigmática de "produzir ou adquirir no
mercado", tanto na Economia Neoclássica, como na Economia dos Custos de Transação, tem
uma resposta baseada em conceitos otimizadores de custos.
Da análise de integração vertical sob a ótica da ECT, fica evidenciado que o grau de
integração será uma decorrência dos atributos das transações (especificidade dos ativos,
freqüência e risco), bem como dos parâmetros ditados pelo ambiente institucional onde a
firma está inserida. A conclusão mais importante que se pode propor neste momento é a
seguinte:
“Nem sempre a solução de integração é a melhor. Uma análise das condições específicas nas
quais a firma opera permitirá concluir pela melhor forma de conduzir a produção seja
interna (verticalizadas), seja via mercados ou através de estruturas mistas entre mercados e
internos”.
3
•
Estratégia de Integração Vertical e as Relações de Contrato com os Produtores
Rurais (Sistema de Integração)
Na atual estrutura de funcionamento da indústria suinícola, o sistema de integração
tem se tornado uma peça fundamental para elevar o grau de competitividade das empresas
líderes. Esse sistema, entretanto, desenvolveu-se de forma gradativa, iniciando como uma
adequação da demanda industrial às condições originais dos produtores em termos de sua
infra-estrutura básica e de qualidade do rebanho.
A partir desta perspectiva observa-se, especialmente, entre as grandes empresas, que o
modelo de crescimento dessa indústria está amplamente assentado numa relação com a
atividade de criação que proporciona uma vantagem do sistema de integração para obtenção
da matéria-prima, quando comparada ao fornecimento via mercado.
O atual modelo de integração, exemplificado pela figura 1, adotado pelas grandes
empresas envolve a garantia de compra pelo frigorífico de suínos em condição de abate, e
também a compra de insumos pelo produtor rural no próprio frigorífico. O produtor rural
obriga-se a cumprir as orientações técnicas no tratamento e manejo dos suínos. Essa forma de
contrato assegura para as empresas a possibilidade de controle da qualidade e uniformidade da
matéria-prima.
•
Resumo do Sistema Agroindustrial da Suinocultura Brasileira
A cadeia da suinocultura brasileira tem uma melhor organização, quando comparada
com as demais cadeias da carne, tendendo à integração vertical, chamada de "quase
integração". Através dos frigoríficos originaram-se essas "quase integrações" que
estabeleciam relações contratuais com os produtores rurais (suinocultores). São os seguintes
os componentes da cadeia agroindustrial de suínos: o segmento de produção primária, o
segmento de insumos e serviços e o seguimento de processamento (figura 2).
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FIGURA 1 – Modelo de Integração entre Agroindústria e Suinocultor
3.2. CAPITAL DE GIRO
ASSAF (2002), argumenta sobre a importância do capital de giro para as empresas.
Menciona que geralmente mais da metade de seus ativos estão investidos em capital de giro.
A definição do montante de capital de giro a ser investido pelas empresas é imprescindível
para seu sucesso, exercendo influencia sobre a liquidez e rentabilidade da mesma.
Uma empresa deve investir em capital de giro enquanto o retorno marginal dos ativos
correntes se mantiver acima do custo dos recursos tomados para seu financiamento.
O termo capital de giro refere-se aos recursos correntes (curto prazo) da empresa,
geralmente identificados como aqueles capazes de serem convertidos em caixa no prazo
máximo de um ano (ASSAF, 2002).
Segundo SCHERR (1989), as empresas devem manter um determinado nível de
capital de giro para poder obter melhores retornos sobre suas transações, devido ao fato de
não haver um sincronismo perfeito entre suas atividades.
5
•
A Dinâmica Situação Financeira
Segundo BRAGA (1991) capital de giro corresponde aos recursos aplicados pelo ativo
circulante (AC) que são constituídos pelo passivo circulante (PC) adicionado ao capital
circulante liquido (CCL). O CCL representa a parcela dos recursos permanentes aplicadas no
giro das operações, ou seja, é o excedente do total dos passivos não circulantes em relação aos
ativos não circulantes, isto é, CCL = AC – PC.
Os passivos não circulantes (PNC) são constituídos pelas contas que integram o
exigível em longo prazo (ELP), resultados de exercícios futuros (REF) e patrimônio liquido
(PL), ou seja, PNC = ELP + REF + PL. Os ativos não circulantes (ANC) são formados
pelas contas do realizável em longo prazo (RLP) e do ativo permanente (AP).
Logo, ANC = RLP + AP.
Então,
CCL = ANC - PNC = (ELP + REF + PL) - (RLP + AP)
Neste caso, AC e o PC serão subdivididos de acordo com a sua natureza financeira e
operacional (cíclica).
Sabe-se que:
- Ativo circulante financeiro (ACF) / Ativo circulante cíclico (ACC)
- Passivo circulante oneroso (PCO) / Passivo circulante cíclico (PCC)
A diferença entre os valores financeiros é denominada saldo de tesouraria (T). Logo,
T = ACF - PCO
A diferença entre os valores cíclicos é conhecida por necessidade de capital de
(NGG), ou por investimento operacional em giro (IOG). Então,
IOG (NCG) = ACC – PCC
•
Modelo dinâmico (Fleuriet)
Em termos de implementação, o referido modelo pressupõe a mensuração de variáveis
características da gestão financeira das empresas. Para isso, faz-se necessário a reclassificação
das demonstrações financeiras, para um modelo funcional, cuja preocupação básica consiste
em relacionar as diversas contas não somente pela dimensão temporal, mas também pelo
relacionamento dessas com o desenvolvimento das atividades operacionais.
No Modelo Fleuriet, de acordo com BRAGA (1991), a reclassificação do Balanço
Patrimonial deve levar em consideração o fator curto e longo prazo e os níveis de decisão
empresarial - estratégico, financeiro e operacional. Portanto, dividem-se os itens do ativo e
passivo circulante (curto prazo) em operacionais (cíclicos) e financeiros (erráticos), enquanto
as contas de longo prazo serão classificadas como permanente (não cíclico).
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Diante desta reclassificação é possível mensurar as variáveis do modelo funcional e
dinâmico do Balanço Patrimonial. Essas variáveis seriam a necessidade de capital de giro
(NCG), o capital de giro (CDG) e o saldo de tesouraria (T), as quais se constituem nas
variáveis - chaves para a gestão financeira das empresas.
Tipos de Balanço
De acordo com PEREIRA FILHO (1998) no que se refere aos tipos de balanços
resultantes da combinação dessas variáveis, podem-se identificar os seguintes tipos puros:
a) CCL < 0, NCG < 0 e T >0, sendo: Perfil Alto Risco;
b) CCL < 0, NCG < 0 e T < 0: Perfil Muito Ruim;
c) CCL < 0, NCG > 0 e T < 0: Perfil Péssimo;
d) CCL > 0, NCG > 0 e T < 0: Perfil Insatisfatório;
e) CCL > 0, NCG > 0 e T > 0: Perfil Sólido;
f) CCL > 0, NCG < 0 e T > 0: Perfil Excelente.
4. MATERIAL
Para poder exemplificar as questões levantadas no início deste trabalho, elegeu- se
uma empresa do setor de suínos pelos seguintes motivos:
a) Para aplicar as teorias de finanças, ou melhor, analisar os indicadores financeiros da
empresa, necessita-se que esta tenha uma contabilidade formal.
b) A empresa escolhida deveria estar inserida no contexto de estudo deste trabalho, ou seja,
fazer parte do sistema agroindustrial da carne suína;
c) Para observar fenômenos relacionados com a desverticalização, necessitou-se de uma
empresa altamente verticalizada;
d) Os dados do Balanço Patrimonial utilizado para as análises estão compilados no Anexo 1.
Foram utilizados os valores para os anos de 1998, 1999, 2000 e 2001.
5. METODOLOGIA
5.1. Avaliação do grau de integração vertical
Através da aplicação do modelo da Economia dos Custos de Transação (ECT)
combinado com o de Sistemas Agroindustriais (SAG) será avaliado o custo gerado por uma
possível desverticalização.
5.2. Avaliação da Situação financeira
o Aplicação do Modelo Fleuriet
Para mensuração das variáveis características do Modelo Fleuriet (NCG, CDG, T) é
preciso reclassificar o balanço patrimonial. Assim, seguirá o modelo apresentado no Quadro
3. A apresentação do modelo quantitativo esta resumida no Quadro 2.
7
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pelas figuras 1, nota-se que a agroindústria controla desde empresas fornecedoras de
matrizes para reprodução até uma trading (empresa de exportação e importação), ou seja,
quase todos os agentes do SAG da suinocultura.
Pela teoria da integração vertical, citada anteriormente, nota-se que estas empresas
tomaram este tipo de atitude pensando principalmente na segurança do fornecimento da
matéria-prima. Alguns autores argumentam que produzir internamente gera um menor custo
com a aquisição da meteria-prima, além de garantir as qualidades exigidas pela linha de
produção.
Outra justificativa para manter estruturas verticalizadas seria com relação ao custo
com controle. Através deste sistema, uma “ordem” deveria ser sempre acatada. Este poder do
“do it” deveria reduzir os custos de controle.
WILLIANSOM (1994) discute em seus trabalhos que dependendo do tipo de
transação, baseado principalmente na especificidade dos ativos, que neste caso é o suíno,
existem formas contratuais que minimizam os custos de transação e que não necessariamente
direcionariam as empresas para uma verticalização. Pela figura 1 observa-se o sistema de
integração entre suinocultores e a agroindústria. Indiscutivelmente, esta relação contratual
certamente é minimizadora de custo de transação, viabilizando a compra da matéria-prima ou
invés de ser produzida internamente (estrutura verticalizada para trás).
Pela literatura atual, a decisão entre verticalizar ou não parece ser simplesmente uma
questão de poder de mercado, ou seja, quanto mais verticalizada menos existiria a
dependência de fornecedores.
Como a especificidade do ativo envolvido na transação é muito alto, o suinocultor
somente pode vender seu produto para um frigorífico, isto é, ele acaba sendo refém da
agroindústria. Isto garante para a indústria que o fornecimento de matéria-prima estará
assegurado. Assim, através de relacionamentos regidos por acordos contratuais, que garantem
preço mínimo e compra dos produtos, as indústrias começaram a repensar a necessidade de
manter suas estruturas verticalizadas.
Quais seriam os fatores que levariam uma empresa a verticalizar-se? Já se discutiu a
questão do poder, do controle, da insegurança do fornecimento, da qualidade da matériaprima, dos custos contratuais e transacionais, dentre outros. E sobre a ótica da teoria de
finanças? Uma empresa que auferiu lucro e possui uma sobre de caixa (saldo em tesouraria)
ficaria tentada a investi-lo em ativos produtivos? E caso ela estivesse necessitando de capital
de giro, por exemplo, poderia desfazer-se de algum ativo para financiá-la (desverticalização)?
Como dito anteriormente, este trabalho tem como objetivo trazer a luz esta discussão
da desverticalização ou verticalização em empresas agroindustriais sobre a ótica da finança,
particularmente com relação ao capital de giro. Pelo quadro 4, observa-se que o ativo
permanente (AP) da agroindústria passou de R$ 169.411 mil em 1998 para R$ 692.275 mil
em 2001, ou seja, um aumento de 4,1 vezes aproximadamente. Em contrapartida, o passivo
permanente (PP = ELP + PL) saltou de R$ 131.025 mil em 1998 para R$ 645.072 mil em
2001, quase 5 vezes mais.
8
QUADRO 4. Variações dos valores NCG (IOG), CCL e T.( em milhares de R$)
Itens
1998
1999
2000
2001
Ativo Circulante (AC)
31.449 333.404 341.329 216.406
Ativo Circulante Financeiro (ACF)
6.011 292.677 176.579 94.705
Ativo Circulante Operacional (ACC)
25.438
40.727 164.750 121.701
Ativo Permanente (AP)
169.411 284.230 687.640 692.275
Passivo Circulante (PC)
394.439 226.801 329.905 148.474
Passivo Circulante Oneroso (PCO)
250.583
5.084 230.208 86.487
Passivo Circulante Operacional (PCC)
143.856 221.717 99.697 61.987
Passivo Permanente (PC)
131025 492351 783.118 645.072
Capital Circulante Líquido (CCL)
-362.990 106.603 11.424 67.932
Necessidade de Capital de Giro
(NCG/IOG)
-118.418 -180.990 65.053 59.714
Saldo em Tesouraria (T)
-244.572 287.593 -53.629
8.218
T/NCG
206,53% 158,90% -82,44% 13,76%
Fonte: elaborado pelo autor
•
•
•
•
Ainda pelo quadro 4, e aplicando o modelo de Fleuriet, nota-se que:
Em 1998 o CCL < 0, NCG < 0, T < 0 e NCG > CCL, classificado como “Muito Ruim”
pelo modelo. Simplesmente uma situação financeira catastrófica, sem capital de giro e
com um passivo de curto prazo muito alto. O fato de o NCG ser maior que o CCL
significa que a empresa não possui recursos para manter sua produção, isto é, sem
produção não há venda, sem venda o caminho para a falência está traçado.
Em 1999 o CCL > 0, NCG < 0, T > 0 e CCL > NCG, classificado como “Excelente”.
Nesta situação espera-se que pelo menos o nível de produção não decaia, pois o CCL é
maior que o NCG e T sendo maior que zero, espera-se que haja capital pelo menos para
saldar as dívidas de curto prazo.
Em 2000 o CCL > 0, NCG > 0, T < 0 e CCL < NCG, classificado como “Insatisfatório”.
O caso requer cautela, pois novamente não há capital circulante (CCL) suficiente para
cobrir a necessidade de capital de giro (NCG) para produção. Outro agravante é o T < 0,
ou seja, existe a grande possibilidade de não haver formas de saldar as dívidas de curto
prazo.
Em 2001 o CCL > 0, NCG > 0, T > 0 e CCL > NCG, classificado como “Sólido”. A
empresa através de empréstimos de longo prazo conseguiu elevar o CCL, o NCG e T
acima de zero. Esta situação demonstra ao mercado uma vontade da empresa em equalizar
suas contas e promover a produção.
9
•
Autofinanciamento da expansão do NCG
BRAGA (1991), discute que as possíveis configurações entre o CCL, o NCG e o T
que evidenciou uma situação financeira “sólida” implica na manutenção de CCL > 0 e CCL >
NCG. Desta forma, se NCG > 0, o CCL seria suficiente para financiá-lo e ainda gerar um
saldo positivo de tesouraria (CCL > 0, NCG > 0, CCL > NCG e T > 0). Para que o aumento
do NCG não prejudique a situação financeira da empresa será necessário que o CCL também
aumente. Os lucros retidos (lucros líquidos - dividendos) permitirão expandir o CCL, desde
que tais recursos gerados internamente não sejam desviados para o financiamento de novos
ativos não circulantes (ANC = RLP + AP).
Assim se a empresa captar exatamente recursos próprios ou recursos de terceiros em
longo prazo em montante o suficiente para financiar as aquisições de ativos permanentes, os
recursos gerados pelas operações poderão ser integralmente reaplicados no capital de giro.
Pela situação acima citada, o autofinanciamento da necessidade de capital de giro pela
empresa poderá vir da parcela do lucro, subtraído os dividendos pagos aos sócios (acionistas),
somado os valores de despesas com depreciação, exaustão e amortização (contas que não
efetivam desembolso de capital). Desta forma, basicamente o autofinanciamento proveria dos
lucros auferidos pela empresa.
Neste caso, nota-se que o lucro operacional não significou muito nos últimos 4 anos,
ou seja, se descontar as despesas financeiras, o resultado final foi sempre menor que zero.
Assim, esta empresa não pode contar com os recursos dos lucros para autofinanciar o NCG.
A discussão pertinente deste trabalho é com relação a formas alternativas de
financiamento do capital de giro para as empresas. Desta forma, além de buscar recursos de
terceiros (instituições financeiras), um aporte de capital pelos acionistas ou esperar lucros
mais interessantes, qual outra forma de levantar capital? Evidentemente, em caso de
necessidade financeira, as empresas começam a consumir seus ativos, caminhando
progressivamente dos ativos circulantes em direção aos ativos imobilizados (permanentes), ou
seja, do “dinheiro” mais disponível para o menos (sentido de liquidez).
Na hipótese de desverticalização, isto é, desfazer-se de determinados grupos de ativos
(segmentos produtivos internalizados), a empresa estaria transformando seu capital de
imobilizado para circulante. Neste momento, o CCL aumentaria, garantido pelo aumento no
ACF. Para sair do “efeito tesoura”, existe a necessidade de aumentar o valor do NCG (IOG).
Por se tratar de uma conta operacional (NCG = ACC – PCO), uma forma de aumentar o valor
seria diminuindo (em valores absolutos) o montante de PCO (passivo circulante oneroso).
Uma forma de diminuir o PCO seria através do pagamento de fornecedores, ou de contas a
pagar, como salários, encargos sociais. Este fato garante que o valor do NCG aumente, bem
como a confiança dos fornecedores.
No caso em estudo, a empresa poderia se desfazer das propriedades criadoras de
animais (suinocultores), partindo para contratação de modelos de integração entre produtor
rural e agroindústria, ou mesmo de parte de seus frigoríficos.
10
7. CONCLUSÃO
a) O sistema agroindustrial da suinocultura apresenta características que favorecem o
surgimento de relações contratuais entre agentes. No caso da agroindústria de derivados
de carne de suínos, a mesma poderia, sem qualquer prejuízo, firmar parcerias do tipo
“integração” com os produtores rurais (suinocultores), bem como com as empresas de
desenvolvimento genético, transportadoras, etc;
b) O fato de haver esta facilidade contratual entre agroindústria e produtor rural, a
desverticalização da empresa não acarretará em desvantagens econômicas;
c) No caso de empresas em dificuldades financeiras, uma forma de financiar seu capital de
giro (CCL ou NCG) seria através da venda de ativos imobilizados, isto é, de alguns
setores produtivos. No caso do sistema agroindustrial suinícola, a venda das pocilgas
(local onde se criam e engordam os suínos) por parte das agroindústrias poderia ser uma
forma de financiamento das necessidades de capital de giro (NCG).
11
8. BIBLIOGRAFIA
Análise da Competitividade da Cadeia Agroindustrial da Carne Suína no Estado do Paraná –
2002 – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES
ASSAF NETO, A. & SILVA, C.A.T. – Administração do Capital de Giro. SP, Atlas, 1995.
BRAGA, ROBERTO. Análise Avançada do Capital de Giro. Caderno de Estudos No 3, São
Paulo, FIPECAFI, Setembro de 1991.
FAVERET FILHO, Paulo e PAULA, Sérgio Roberto Lima de. Um estudo da integração a
partir do Projeto Buriti, da Perdigão. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 7, p. 123-134,
mar.1998.
PEREIRA FILHO, Antônio Dias. O Modelo dinâmico de gestão financeira das empresas procedimentos de operacionalização. Contabilidade Vista & Revista. Belo Horizonte, MG,
V.9, n.4,1998.
SCHERR, F.C. – Modern Working Capital Management. Prentice-Hall, 1989.
ZYLBERSZTAJN, D. Estruturas de governança e coordenação do agribusiness: uma
aplicação da Nova Economia das Instituições. São Paulo, 1995. 237p. Tese (Livre-Docência)
– Faculdade de Economia e Administração, Universidade de São Paulo.
WILLIAMSON, O.E. The mechanisms of governance: prologue. Berkeley: University of
California, 1994. 26p.
12
ANEXO 1
Balanço Patrimonial Agroindustria
ATIVO
Circulante
Caixa e bancos
Aplicações Financeiras
Disponibilidades
Clientes - nota 5
Estoques - nota 6
Créditos Fiscais - nota 7
Valores Mobiliários - nota 8
Outros Créditos
Despesas antecipadas
2001
341.329
0
0
2.168
72.447
83.995
33.682
140.729
6.307
2.001
2000
216.406
0
0
3.619
57.427
59.131
18.456
72.630
4.804
339
1999
333.404
6.449
263.944
0
13.819
26.827
4.380
6
17.898
81
1998
31.449
2.215
105
0
9.217
16.103
1.065
6
2.620
118
Realizável a longo prazo
Valores mobiliários - nota 8
Depósitos Compulsórios
Depósitos Judiciais
Créditos tributários diferidos - nota 9
Créditos fiscais - nota 7
Outros bens e créditos
476.675
303.116
0
3.570
125.894
39.453
4.642
341.742
201.738
342
4.488
125.894
7.792
9.280
178.294
0
0
4.459
171.629
0
2.206
7.011
0
0
3.987
0
0
3.024
Permanente
Investimentos - nota 10
Imobilizado - nota 11
Diferido
343.867
94
343.773
0
346.184
93
346.091
0
284.230
172
284.058
0
169.411
425
164.939
4.047
1.161.871
904.332
795.928
207.871
329.905
52.264
143.023
1.840
83.541
6.250
138
1.666
3.295
2.950
9.362
11.435
14.141
148.474
19.851
48.169
678
32.726
2.993
4.914
4.709
5.785
1.510
6.871
16.048
8.929
226.801
43.395
2.374
2.248
462
2.139
54.010
0
29.844
2.895
0
82.810
6.624
394.439
33.083
212.625
37.958
0
1.312
45.645
0
22.567
0
0
34.022
7.227
783.118
645.072
492.351
131.025
625.100
15.004
55.705
22.694
8.489
29.814
24.933
1.379
485.857
22.115
62.490
0
7.278
37.554
26.829
2.949
233.631
190.268
55.337
0
10.496
0
0
2.619
46.677
63.973
7.710
0
0
0
0
12.665
0
0
0
696
48.848
292.609
0
44
127.462
371.267
110.786
227.295
66.875
44
140.633
324.061
76.776
195.795
62.672
44
121.944
303.679
318.289
56.255
0
44
21.345
395.933
1.161.871
904.332
795.928
207.871
Total do Ativo
PASSIVO
Circulante
Fornecedores
Instituições financeiras - nota 12
Debêntures - nota 12
Adiantamento contrato de câmbio
Fretes a pagar
Obrigações trabalhistas
Obrigações previdenciárias
Obrigações tributárias
Parcelamento de impostos e contribuições
Programa de recuperação fiscal - REFIS - nota 13
Provisão para contingências - nota 14
Outras obrigações
Exigível a longo prazo
Empresa controlada
Instituições financeiras - nota 12
Debêntures - nota 12
Impostos diferidos sobre reavaliações - nota 15
Impostos e contribuições
Parcelamento de impostos e contribuições
Programa de recuperação fiscal - REFIS - nota 13
Provisão para contingências - nota 14
Outras obrigações
Participação minoritária em sociedades controladas
Patrimônio Líquido - nota 15
Capital social
Adiantamento para futuro aumento de capital
Reservas de capital
Reservas de reavaliação
Prejuízos acumulados
Total do passivo e patrimônio líquido
13
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1 FINANCIMANENTO DO CAPITAL DE GIRO ATRAVÉS