Apresentação do Ministro Luiz Alberto Figueiredo Machado em Audiência Pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados – Brasília, 7 de maio de 2014 Transcrição Taquigráfica. Trecho selecionado http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoespermanentes/credn/documentos/notas-taquigraficas/seminario-explanar-sobre-temas-afetos-a-formulacaoe-a-execucao-da-politica-externa-brasileira Falava eu sobre a América do Sul e a importância que damos ao nosso entorno. Nós sabemos que não apenas na área política, mas também no campo econômico as principais redes mundiais de produção se estruturam em torno de regiões específicas. A América do Sul tem um potencial de ser uma região ainda mais integrada e próspera. Eu diria que, para o setor empresarial, essa integração já é muito real. Em 2013, a América do Sul recebeu mais de 130 bilhões de dólares em investimentos estrangeiros diretos. É um volume maior do que o de muitas regiões das mais dinâmicas do mundo. Empresas brasileiras têm-se internacionalizado e firmado cada vez mais sua presença na América do Sul. O mesmo fenômeno ocorre com empresas de outros países. Eu estive no Chile, ontem, para participar — além de uma visita bilateral ao meu colega chileno, Heraldo Munõz —, a convite do Governo chileno, de uma reunião com empresários da Ásia-Pacífico, exatamente no espírito de integração cada vez maior entre Atlântico e Pacífico na nossa região. Naquela ocasião, ressaltei que isso é um dado muito interessante. Muitas vezes, fala-se ou busca-se encontrar discrepâncias entre os processos que ocorrem na nossa região, como o MERCOSUL, a Aliança do Pacífico, enfim, a ALBA, e outros processos que buscam a proximidade, o diálogo. Do nosso ponto de vista, e eu fico feliz de ver que do ponto de vista de outros governos da região também, essa dicotomia ou essa separação não faz sentido real. Por exemplo, ontem, citei, nessa reunião em Santiago, que a nossa integração comercial com o Chile, hoje em dia, é de liberação total tarifária para 98% dos itens da nossa pauta comercial. Ou seja, nós temos uma situação real de liberação completa — 98% é completa — de comércio com o Chile. Liberação essa que o Chile não tem com os países da Aliança do Pacífico. Eles, hoje em dia, têm 90% entre eles e estão buscando chegar a 92%. O que mostra isso? Que é completamente artificial dizer: “Ah, existem regiões que estão mais avançadas que outras, e isso dificulta!”. Não, a nossa região imediata, o MERCOSUL, está sim mais avançada na integração regional, o que não quer dizer que seja um problema na relação que temos com outros grupos, como a Aliança do Pacífico. Ao contrário, queremos cada vez mais integração. O nosso mote na região é “mais integração”: mais integração comercial, mais liberação comercial, e não o contrário. Isso fica muito claro nessa nossa ação direta, e eu fiquei muito contente porque o Chile pensa dessa forma e porque outros colegas da região também veem a situação dessa maneira. Eu dizia sobre investimentos que já são feitos entre os países da região, nesse espírito de integração. Hoje em dia, o estoque de investimentos chilenos no Brasil, por exemplo, já sobe à casa dos 24 bilhões de dólares — investimentos produtivos no Brasil. Por isso é que eu digo que essa integração, do ponto de vista empresarial, já é uma realidade, e é uma realidade importantíssima que gera emprego e riqueza e que, portanto, é algo que nós estimulamos cada vez mais. No caso do MERCOSUL, se ele fosse considerado um país só, se a soma de seus membros fosse um país só, seria a segunda maior superfície do mundo, a quarta maior população do mundo e o quinto maior PIB do mundo. Além disso, estaria entre as dez maiores potências industriais, seria o detentor de uma parcela muito importante da biodiversidade da terra e teria as maiores reservas de petróleo do mundo e de recursos hídricos. Portanto, é uma integração que funciona, que faz sentido, e que, como todo processo, tem que ser sempre aperfeiçoado, tem que ser buscada sempre a melhor solução e maneiras de cada vez mais fortalecê-lo. Só para dar um exemplo muito claro, desde que o MERCOSUL foi criado em 1991, o comércio, o fluxo comercial dentro do bloco cresceu mais de 11 vezes. Repito, desde 1991. Isso mostra sua importância muito clara tanto para o Brasil como para todos os seus membros. Deve se ressaltar também que os produtos industrializados compõem a maior parte do comércio no MERCOSUL. No caso do Brasil, entre 1991, com sua criação, e 2012, a participação dos manufaturados, dos produtos industrializados nas nossas exportações para os seus membros subiu de 85% para 92%. Noventa e dois por cento da nossa exportação para o MERCOSUL é de manufaturados. Essa porcentagem nós não temos em nível tão alto com outros parceiros internacionais. Também o fluxo é bastante alto. Eu posso dar os números exatos mais adiante. Por exemplo, no caso de um parceiro nosso tradicionalíssimo, os Estados Unidos, essa porcentagem não vai tão alto. Ela é importante, mas não vai tão alto. Portanto, além do aspecto político, do aspecto econômico, o MERCOSUL tem desenvolvido projetos com dimensões política, jurídica, social, cidadã. São grupos de trabalho das mais variadas áreas na busca de integração, de um projeto de desenvolvimento socioeconômico comum que tenha impacto direto na melhora da vida das pessoas. Portanto, o futuro da América do Sul terá, eu quero repisar, a maior aproximação entre todos. Queremos uma América do Sul próspera, estável e democrática. E que essa prosperidade, estabilidade e democracia sejam, cada vez mais, a marca desta região e sua projeção internacional. (...)