Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação
INTERAÇÕES E ENQUADRAMENTOS EM DIAS DE PROTESTO: Dissensos
em torno do tema vandalismo
INTERACTIONS AND FRAMES IN DAYS OF PROTESTS: Disagreements
around the theme vandalism
1
2
Anice Pennini / Ellen Barros
Resumo: O ano de 2013 ficará marcado pelas manifestações populares, mas
também, pela dissonância das vozes dos sujeitos indignados. A mídia, instância
privilegiada no poder de se fazer ver e ouvir teve, nesse cenário, papel
extremamente relevante. No entanto, quando nos referimos à mídia, não falamos
apenas daquelas tradicionalmente consideradas como referência. Com a
disseminação da Internet, mídias alternativas ganham destaque e possibilitam um
alargamento das fronteiras do dizível e do visível. No âmbito da divergência de
opiniões, conseguimos observar em redes sociais da Internet diferentes
engajamentos dos sujeitos sociais ao enquadramento apresentado pelas mídias
brasileiras. Nesse sentido, o artigo apresenta uma discussão em torno das noções
de enquadramento e interações midiatizadas, a partir da análise dos posts e dos
comentários sobre vandalismo, nas manifestações de 2013, na página Mídia Ninja
do Facebook.
Palavra chave: Manifestações 2013; Enquadramento; Interações midiatizadas;
Mídia Ninja
Abstract: The year 2013 will be marked by Brazilian protests, but also by the
dissonance of the voices of indignant subjects. The media, privileged instance, had
in that scenario, extremely important role. However, when we refer to the media,
we did not say just those traditionally considered as reference. With the spread of
Internet, alternative medias are highlighted and allow an extension of the borders
of the speakable and the visible. As part of the difference of opinion, we could
observe in social networks of Internet different engagements to the frame presented
by Brazilian media. This article presents a discussion about the framing and
mediatized interactions, from the analysis of posts and comments on vandalism in
the protests of 2013, in the Ninja Media Facebook page.
Keywords: Protests 2013, Frame; Midiatized interactions; Mídia Ninja
1. INTRODUÇÃO
Entre junho e julho de 2013, milhares de brasileiros saíram em protestos pelo País, quando
várias reivindicações foram apresentadas nas ruas e, também, nas redes sociais virtuais. A atuação
da “grande mídia”, composta pelos principais grupos empresariais de comunicação brasileiros, bem
como a atuação das chamadas mídias livres, atuantes na Internet, estiveram desde o início das
manifestações, imbricadas nos processos de constituição e crescimento de toda a mobilização
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social naqueles meses.
Em uma sociedade cada vez mais midiatizada, não nos surpreendemos com tal imbricação.
Contudo, no desenrolar dos protestos de 2013, foi possível observar que as abordagens das
manifestações realizadas pelas mídias tornaram-se objeto de interpretações e críticas por parte da
sociedade. Assim, naquele cenário de múltiplas pautas, uma delas foi a atuação da mídia brasileira,
e, sobre ela, se instala nosso olhar.
Neste artigo, a expressão grande mídia designa os veículos e produtos informativos
pertencentes aos maiores grupos de comunicação brasileiros que, em conjunto, são hegemônicos no
processo de circulação de informações em âmbito nacional: as Organizações Globo, o SBT, as
empresas jornalísticas do grupo Record, a Rede TV!, o grupo Bandeirantes, os jornais Folha de S.
Paulo e O Estado de S. Paulo, as empresas jornalísticas do Grupo Abril e o Grupo RBS. Mesmo em
face das rápidas transformações tecnológicas, em especial no campo das comunicações, “a
centralidade da velha mídia – televisão, rádio, jornais e revistas – é tamanha, que nada ocorre sem
seu envolvimento direto e/ou indireto”. (LIMA, 2013, p.89). Essa percepção é ainda mais
acentuada, uma vez que a grande mídia brasileira articula múltiplas plataformas de comunicação
(impressos, rádios, TVs, Internet) e oferta vasta gama de produtos e serviços de informação e
entretenimento.
Nesse contexto, uma ambiguidade se instaura. Se por um lado, os processos
contemporâneos de convergência midiática trouxeram novos atores à cena midiática brasileira
(empresas estrangeiras), por outro, como afirma Gindre (2013), acentuaram a penetração das
Organizações Globo que, atualmente, predomina com larga distância dos demais conglomerados da
mídia nacional.
A concentração da posse dos meios leva-nos a refletir sobre o prejuízo da pluralidade das
mensagens emitidas e dos debates que estas provocam na sociedade, o que é preocupante, uma vez
que, como afirma Galeano (2006, p. 149-150), “a ditadura da palavra única e da imagem única,
bem mais devastadora que a do partido único, impõe em todo lugar um mesmo modo de vida”.
Assim, o exercício da cidadania fica comprometido frente à concentração da produção midiática,
principalmente porque a consequente falta de diversidade de fontes reduz a multiplicidade de
informações e de possíveis enquadramentos sobre uma mesma questão, o que, em última análise,
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desfavorece a emergência de cidadãos bem informados.
Mas, a despeito da importância da grande mídia na configuração do imaginário dos
brasileiros, as redes sociais na Internet apontam outras possibilidades de interação entre os sujeitos.
Durante as manifestações brasileiras de 2013, os usuários das redes virtuais também atuaram na
cobertura do acontecimento, processo esse em que os sujeitos sociais alternaram-se nos papéis de
receptores e produtores de conteúdos, transformando esse espaço em verdadeiro fórum de
relacionamentos.
Percebemos várias iniciativas instaladas na Internet, fora do circuito das mídias
tradicionais, que atuaram na cobertura das manifestações de 2013. Um exemplo é a página da
[1]
Mídia Ninja na rede social Facebook , criada em 2013, que se declara uma mídia livre na
[2]
Internet. Em seu site , constituído em 2014, a Mídia Ninja se diz parte de um movimento amplo,
denominado “midialivrismo”, e revela que se inspirou em experiências de mídias livres no Brasil, a
exemplo da Ciranda da Informação Independente dos Fóruns Sociais Mundiais e das redes
[3]
autônomas da blogosfera .
Neste ponto da discussão, iluminamos a configuração do espaço público, no contexto das
manifestações de 2013. Neste período, um fluxo de informações e compartilhamento de ações
instaurou-se tanto nas ruas de todo o País quanto na Internet. As manifestações emergiram
espacialmente híbridas, num movimento em que as interações nas ruas e nas redes sociais virtuais
afetaram-se mutuamente. E, por se tratar de comoção em larga escala, agendaram a grande mídia.
Dessa forma, enquanto milhares de pessoas gritavam e empunhavam cartazes de protesto, outras (e
também as mesmas) acompanhavam o fluxo das manifestações pela tela (de TV, computador ou
smartphone), ao mesmo tempo em que revistas e jornais estampavam as multidões, em um
movimento de relação direta entre os que estavam simultaneamente presentes física e virtualmente
nos eventos.
Neste artigo, são essas interações que nos interessam, por entendermos que a análise dos
fenômenos interacionais por meio de redes sociais virtuais mostra-se oportuna para a compreensão
do complexo comunicacional de nossa sociedade, cada vez mais midiatizada e estruturada em rede.
Este artigo apresenta, portanto, uma discussão em torno das noções de midiatização, de interação e
de enquadramento (BRAGA, 2006; KNOBLAUCH, 2013; GOFFMANN apud MENDONÇA E
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SIMÕES, 2012), a partir da análise dos comentários sobre vandalismo, durante as manifestações de
2013, na página Ninja no Facebook.
2. CONCEITOS-CHAVE
PARA
COMPREENDER
AS
INTERAÇÕES
DIVERGENTES DURANTE OS PROTESTOS
Desde a emergência da comunicação de massa, que alterou significativamente as formas de
interação, até a atual configuração comunicacional, em que a Internet marca uma forma de
interação interpessoal, instantânea e em escala global, vê-se a expansão de uma sociedade cada vez
mais midiatizada. Acreditamos, pois, que a crescente complexidade das formas de comunicação
está na base do processo conhecido como midiatização. Diversos autores têm se dedicado ao
estudo desse fenômeno (BRAGA, 2006; SODRÉ, 2002; HJARVARD, 2012; KNOBLAUCH,
2013; entre outros). E, embora não haja uma definição precisa do conceito, a midiatização tem sido
compreendida como um processo histórico, que vem alterando os modos de percepção, assim como
as práticas sociais.
A midiatização é um processo de dupla face no qual a mídia se transformou em uma
instituição semi-independente na sociedade à qual outras instituições têm que se
adaptar. Ao mesmo tempo, a mídia se integrou às rotinas de outras instituições, como
política, família, trabalho e religião, já que um número cada vez maior das atividades
destes domínios institucionais é realizado através tanto dos meios de comunicação
interativos quanto dos meios de comunicação de massa. De forma geral, a
midiatização implica uma virtualização da interação social e, observando as
affordances institucionais, tecnológicas e estéticas de diferentes meios de
comunicação, talvez possamos entender como a mídia molda novos padrões de
interação. (HJARVARD, 2012, p.53).
De acordo com Knoblauch (2013), o quadro teórico que compõe a midiatização parte da
tecnologia e da mídia, mas também diz respeito a um contexto maior, “de uma teoria da
comunicação: o construtivismo comunicativo”. Essa formulação argumentativa só é possível tendo
por base a perspectiva trabalhada por Berger & Luckmann (2004), de que a realidade é socialmente
construída. Acrescentamos a essa afirmação, a noção de que, segundo Braga (2006, p.3), essa
construção se dá à medida que, “tentativamente, vamos organizando possibilidades de interação".
Percebemos assim, que é por meio dos processos interacionais entre indivíduos, grupos e setores
que as sociedades direcionam a construção da realidade. Knoblauch (2013) afirma ainda que a
midiatização é parte de qualquer ação comunicativa. Para o autor, a forma atual de midiatização,
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baseada em tecnologias digitais de comunicação, “aumenta a frequência, o desempenho e a
velocidade da ação comunicativa”, de forma tão intensa, que é capaz de gerar uma profunda
transformação cultural por uma questão de comunicação.
Destacamos que entendemos o conceito de interação como um processo de partilha
[4]
de
sentidos entre sujeitos interagentes, seja interfacial, tecnologicamente mediado e/ou midiatizado.
Esse processo ocorre entre sujeitos que se dispõem a interagir, constituindo um fluxo de sentidos.
Há nessa definição pelo menos três possibilidades de interação:
a) Interação interfacial, em que os sujeitos do processo encontram-se na mesma
situação espaço-temporal, e que tanto a linguagem verbal quanto a corporal estão em jogo
durante a partilha de sentidos;
b) Interação tecnologicamente mediada, em que os sujeitos utilizam artifícios
sociotécnicos para se comunicar, como por exemplo, Internet, e não se restringem às
fronteiras de espaço e tempo;
c) Interação midiatizada, que diz respeito às formas de comunicação ancoradas nas
lógicas da cultura midiática, podendo perpassar os dois tipos anteriores. Assim, a interação
midiatizada, independe da presença de dispositivos sociotécnicos, já que os sujeitos desse
processo de partilha se baseiam nas contemporâneas realidades midiáticas. Para Braga
(2006), são interações nas quais a midiatização é o processo de referência, caracterizando-se
por serem diferidas e difusas no tempo e no espaço.
A experiência comunicacional em rede, levada a uma potência extraordinária graças à
Internet, propiciou a milhares de brasileiros uma forma de organização horizontal, espontânea e
que se alastra em um processo não apenas de descrição, mas também, de construção e de
reconstrução da realidade. “Quando alguém atua através de uma dessas redes, não está
simplesmente reportando, mas também inventando, articulando, mudando”. (SAKAMOTO, 2013
p.95).
Foi nesse cenário, em que milhões de pessoas experimentam, cotidianamente, um
encurtamento espaço-temporal por meio da interação mediada por smartphones, rádios e
computadores, que aconteceram as manifestações brasileiras de 2013, em uma organização
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descentralizada e plural, relacionada aos desenhos contemporâneos da comunicação. Segundo
Castells (2013) “todos estes movimentos, como os movimentos sociais na história, são, sobretudo,
[5]
emocionais” . Mas também, há diferenças entre as manifestações de hoje e de outrora. “O que
muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e
automobilização que não existia. [...] Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre
acaba no espaço público.” (CASTELLS, 2013).
Para fins de análise neste artigo, operamos um recorte do contexto comunicacional,
nos dias de protesto. Voltamos nossa atenção às interações no âmbito da página da Mídia Ninja no
Facebook, mais especificamente no que se refere aos desacordos em torno do tratamento dado
pelas mídias aos sujeitos que adotaram a força bruta como forma de protesto.
Nessa direção, o conceito de enquadramento se faz relevante. De acordo com Bateson,
citado por Mendonça e Simões (2012, p.188), o enquadramento diz respeito a “como as interações
ancoram-se em quadros de sentido que moldam as interpretações e ações dos atores envolvidos”.
Goffman, também citado por Mendonça e Simões (2012, p. 189), define enquadramento como o
conjunto de princípios de organização que norteiam os acontecimentos sociais, bem como o
envolvimento dos sujeitos neles. São esses princípios que conformam os quadros de sentido, que
permitem a definição da situação pelos sujeitos.
Os quadros de sentido conformados a partir das múltiplas interações que marcaram as
manifestações de 2013, tanto nas ruas quanto nas redes virtuais, são chaves interessantes para se
observar tal fenômeno. Neste estudo, concentramo-nos em alguns enquadramentos produzidos a
partir das interações entre as mídias e os usuários que fizeram comentários na página Ninja sobre o
tratamento midiático ao fenômeno do uso de força bruta, também chamado de “vandalismo”,
durante as manifestações em 2013. O confronto de pontos de vista transformou essa página do
Facebook em espaço de crítica e contracrítica, de expressão de dissensos que, simultaneamente,
produziram e foram produzidos pelos enquadramentos. Assim, foi sob o pano de fundo de uma
sociedade midiatizada, durante os protestos de 2013, que as mídias foram confrontadas sobre o
tema “vandalismo”.
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3. MANIFESTANTES PACÍFICOS E VÂNDALOS: ENQUADRAMENTO DAS
MÍDIAS
No início de junho de 2013, na cidade de São Paulo, devido ao aumento de R$0,20 nas
passagens de ônibus, trens e metrô, um grupo de pessoas, agregadas ao Movimento Passe Livre
[6]
(MPL) , convocou protestos nessa capital, com o objetivo de pressionar as autoridades
[7]
competentes a recuarem na decisão . Durante a primeira quinzena de junho, houve quatro
grandes manifestações na cidade, em vias movimentadas e em horários de circulação intensa de
veículos e de pedestres.
Nas duas primeiras semanas de junho de 2013, a grande mídia publicava matérias que
exaltavam os transtornos causados pelos atos públicos. Os manifestantes eram posicionados como
vândalos. A população era tratada como a grande prejudicada no direito de ir e vir e pela
depredação do patrimônio público. A polícia reprimia os manifestantes. Era justamente esse o tom
das matérias, como pode ser visto nos exemplos a seguir.
No dia 7 de junho, a Folha de S. Paulo estampou em sua capa a foto dos protestos do MPL,
realizados no dia anterior, com a seguinte legenda: “Pegou fogo – Manifestantes com a polícia na
av. 23 de Maio, em SP, durante protesto contra o aumento da tarifa de ônibus; ato fechou vias no
horário de pico e resultou em vandalismo, com placas quebradas, pontos de ônibus pichados e
arrombamento de uma banca de jornal”. No dia 12 de junho, grande parte da capa da Folha de S.
Paulo é dedicada às manifestações: uma foto mostra jovens ateando fogo em via pública. Ao lado,
a manchete: “Contra tarifa, manifestantes vandalizam o centro de SP” – Terceiro protesto tem
ônibus queimados, muros pichados e confronto com policiais. Seguia a matéria de capa, que se
prolongaria depois na seção Cotidiano: “No mais violento protesto contra o aumento das tarifas de
transporte em São Paulo, manifestantes voltaram a entrar em conflito com a polícia e a
protagonizar cenas de vandalismo, com pichações, depredações e ônibus parcialmente
incendiados”.
Na capital do Rio de Janeiro, manifestantes também realizaram protestos naquela semana.
Na edição de 12 de junho de 2013, de O Globo, na primeira página, sob o selo “Rebeldia e
Vandalismo”
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, lia-se: “A marcha da insensatez”; “manifestantes contra aumento de passagens no Rio,
provocaram danos ao patrimônio histórico”. Sob uma foto que mostrava jovens presos, a legenda
: “Em fila. Menores e universitários entre os detidos por danos ao patrimônio”. Seguia a matéria:
“Os manifestantes que na noite de segunda-feira protestaram contra o aumento das passagens de
ônibus do Rio deixaram um rastro de vandalismo”.
No dia 12 de junho, o Jornal Nacional (Rede Globo) apresentou uma matéria sobre o tema,
feita nas ruas da capital paulista. As imagens mostravam um rapaz pichando um ônibus e o repórter
dizia que a Avenida Paulista e o centro de São Paulo amanheceram com as marcas do vandalismo
[8]
do dia anterior . O Jornal Nacional também mostrou cenas dos confrontos na manifestação
[9]
paulista de 13 de junho, em reportagem ao vivo . Nessa edição do JN, Arnaldo Jabor deu sua
opinião sobre os eventos. Opinião esta que, posteriormente, fora bastante criticada nas redes sociais
na Internet.
Mas, afinal, o que que provoca um ódio tão violento contra a cidade? Só vimos isso
quando a organização criminosa de São Paulo queimou dezenas de ônibus. Não pode
ser por causa de vinte centavos. A grande maioria dos manifestantes são filhos de
classe média, isso é visível. Ali não havia pobres que precisassem daqueles vinténs
não. Os mais pobres ali eram os policiais apedrejados, ameaçados com coquetéis
molotov, que ganham muito mal. No fundo, tudo é uma imensa ignorância política. É
burrice misturada a um rancor sem rumo. [...] Eles são a caricatura violenta da
caricatura de um socialismo dos anos 50, que a velha esquerda ainda defende aqui.
Realmente, esses revoltosos de classe média não valem nem vinte centavos. (JABOR,
2013).
No dia 13 de junho à noite, ante a violência policial na capital paulista contra manifestantes
e transeuntes, informações sobre tais ocorrências se espalharam na Internet. Alguns manifestantes
se pronunciaram nas redes sociais virtuais, denunciando o descompasso entre o que presenciaram
nas ruas e as informações veiculadas na grande mídia. “A violência policial consentida e justificada
pelo Estado, as coberturas noticiosas e a edição de conteúdos para enfatizar o lado grotesco ou para
avaliá-lo segundo viés conservador e autoritário ou, no mínimo mal informado, irritaram os
manifestantes”. (PERUZZO, 2013, p.73). A partir de determinado momento, ainda na primeira
quinzena de junho, fachadas das sedes de empresas de comunicação foram palco de protestos;
veículos de emissoras foram queimados e jornalistas, notadamente os da Rede Globo, foram
hostilizados nas ruas.
No decorrer das manifestações, muitos jornalistas também foram feridos pela polícia
enquanto cobriam as manifestações. No dia 13 de junho, por exemplo, uma jornalista da Folha de
S. Paulo foi atingida no olho por uma bala de borracha disparada pela polícia e essa imagem foi
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muito compartilhada na Internet. Em meados de junho, verificou-se um tom mais moderado da
grande mídia ao tratar dos manifestantes e dos protestos que continuavam a acontecer. Sobre essa
mudança de tom, Sylvia Moretzsohn escreveu em 15 de junho de 2013, no Observatório da
Imprensa:
Estaria aí [jornalistas feridos], talvez, o motivo principal para a “virada na
cobertura” apontada neste Observatório: a imprensa sempre se sensibiliza quando
alguns dos seus são atingidos. Até então, tanto os jornais paulistas quanto O Globo e
as redes de televisão carregavam nas tintas contra os atos de vandalismo praticados
por uma minoria que sempre se infiltra em manifestações desse tipo – como se isto,
por si, invalidasse a mobilização e, pior, justificasse a repressão indiscriminada e
truculenta. (MORETZSOHN, 2013).
No dia 14 de junho de 2013, as manifestações ocupavam quase toda a capa da Folha de S.
Paulo. A cobertura passou a ressaltar a violência sofrida pelos manifestantes, por parte da polícia.
Uma foto mostrava jovens ajoelhados na rua, em posição de rendição aos policiais. A manchete: “
Polícia reage com violência a protestos e SP tem dia de caos. PM cerca manifestantes, usa bomba
de gás, prende dezenas e apavora pedestres e motoristas”. Outros títulos e pequenos textos na capa
da Folha de S. Paulo, do dia 14 de junho, também indicavam certo nível de condenação à repressão
das manifestações. Em um deles, destacava-se a violência sofrida pelos próprios jornalistas – “
Jornalistas da Folha são atingidos por balas da PM”; em outro – “Paulistanos apoiam ato, mas
condenam uso da violência” – apresentava-se uma pesquisa do Datafolha, realizada no dia 13 de
junho, em que 55% dos paulistanos defendiam as manifestações, e 78% condenavam a violência
dos manifestantes; e havia uma chamada para a coluna de Hélio Shwartsman, com o título
“Democracia precisa aprender a conviver com manifestações”, em que se lia “mesmo rejeitando o
vandalismo, deve-se reconhecer que protestos por vezes tonificam a democracia. É preciso
garantir que movimentos reivindicatórios ocorram sem julgar os motivos”. (SHWARTSMAN,
2013, p.1).
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Em 17 de junho de 2013, Arnaldo Jabor, em sua coluna na Rádio CBN, diria que errou ao
fazer o comentário do dia 13 de junho, no Jornal Nacional. À noite, se retrataria também no Jornal
da Globo. Nesse mesmo dia, um grupo de manifestantes paulistas dirigiu-se às imediações da Rede
Globo, enquanto gritava palavras de ordem contra a empresa. Nessa noite, Patrícia Poeta, âncora do
Jornal Nacional, leu uma nota de esclarecimento, em tom de defesa e de opinião da própria Rede
Globo. Pode-se ver a seguir que, “os excessos da polícia” são ressaltados anteriormente à palavra
“depredações”, e não se utilizou o termo vandalismo ou equivalente. Também é ressaltado o
“caráter pacífico dos protestos” e o direito dos cidadãos em protestar pacificamente.
Olha, a TV Globo vem fazendo reportagens sobre as manifestações desde seu início e
sem nada a esconder. Os excessos da polícia, as reivindicações do “Movimento Passe
Livre”, o caráter pacífico dos protestos e quando houve depredações e destruição de
ônibus. É nossa obrigação e dela nós não nos afastaremos. O direito de protestar e de
se manifestar pacificamente é um direito dos cidadãos. (Informação verbal). [10]
A partir da segunda quinzena de junho, em uma observação geral, as mídias de referência
passam a separar os manifestantes considerados bons (pacíficos) dos maus (vândalos). É
importante iluminar o entendimento de que os dispositivos técnico-midiáticos oferecidos na/pela
sociedade realçam nuances de um acontecimento, de acordo com intenções e posicionamento
delineados anterior e externamente à própria notícia. Champagne (1996) trata com clareza da
questão do enquadramento. “O que é dito e visto do acontecimento é, de fato, o produto do
encontro entre as características do grupo que se dá a ver publicamente e as categorias de
percepção, simultaneamente, sociais e políticas, do grupo de jornalistas”. (CHAMPAGNE, 1996, p.
209).
Apesar da hegemonia das mídias de referência no contexto brasileiro, ressaltamos que, ao
mesmo tempo em que os sujeitos demandam informações e constroem imaginários com bases
nessas fontes de informação, esses mesmos sujeitos, cada vez mais, também se colocam críticos ao
que é divulgado, em um processo de constante alerta sobre em quê acreditar. Nesse cenário
complexo, destacam-se as mídias livres na Internet. Em junho e julho de 2013, vários perfis em
redes sociais virtuais apresentaram notícias sobre as manifestações e abordaram vários ângulos dos
acontecimentos nas ruas, fomentando ainda mais as interações sobre o tema. Um exemplo
proeminente foi a página Ninja no Facebook.
A Mídia Ninja nasceu a partir do coletivo de produções culturais denominado Fora do Eixo
(FdE), e tornou-se conhecida a partir das manifestações brasileiras, em junho de 2013. Sua página
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no Facebook foi criada em 27 de março de 2013 e no texto de inauguração da página, os ninjas se
apresentaram como o novo, transmitindo uma imagem otimista de si mesmos e demonstrando
acreditar em certo empoderamento da Mídia Ninja frente à grande mídia: “Enquanto a velha mídia
vai se transformando em mofo, emerge pelo mundo inteiro uma tropa de comunicadores
independentes. [...] já não precisamos dos veículos. Somos os veículos”. (MÍDIA NINJA, 2013).
Em incursão na página Ninja do Facebook, no período de 17 de junho a 11 de julho de
2013, identificamos comentários de interagentes que criticavam as mídias pelo enquadramento
dado ao tema denominado por muitas delas como “vandalismo”. Destacamos, porém, que esse
assunto foi interpretado de forma divergente entre os próprios interagentes da página Ninja no
Facebook: a) verificamos a presença dos que acreditavam que os atos de força física eram
legítimos e deviam ser praticados, a despeito das críticas das mídias e, nesse raciocínio,
acreditavam que as mídias não deveriam nomear tais atos de vandalismo; b) e percebemos a
incidência de interagentes que se mostraram contrários às ações de força bruta como protesto e
concordaram com o tratamento dado pelas mídias de referência: era vandalismo mesmo, segundo
esses. Em alguns momentos, quando a página Ninja publicou imagem de manifestantes em ações
de força contra mobiliários urbanos ou veículos, e os nomeou de manifestantes, vimos que esses
interagentes interpelaram a Mídia Ninja, para que nomeasse os manifestantes de vândalos.
A discordância se deu, portanto, em três níveis: entre os próprios interagentes; entre estes e
a Mídia Ninja; e entre os interagentes e a grande mídia. A figura a seguir (1) exemplifica um
momento em que um interagente (“A”) discordou dos ninjas por tratarem como manifestante
alguém que estava depredando um objeto instalado na Av. Paulista (SP, capital). Já o interagente
“B” concordou com o ato de quebrar o display da Coca-Cola. Outro interagente (“C”) discordou de
“A” e respondeu que os ninjas não deviam nomear os manifestantes de vândalos.
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Figura 1 – Display da Coca-Cola
Fonte: Reprodução da página Ninja no Facebook, no dia 19 de junho de 2013.
Destacamos que, independentemente do posicionamento de cada interagente sobre o uso
dos termos “vandalismo” ou “baderna” por parte da mídia, as conversas sobre o tema, não
raramente, foram desencadeadas a partir de imagens ou textos publicados pela Mídia Ninja. Não
queremos dizer que, nessas publicações, a Mídia Ninja tenha se declarado a favor dos atos de
protestos que incluíam depredação ou lutas físicas, mas percebemos que, o ato de publicar uma
imagem ou texto que abordasse o tema, fez com que se desencadeasse entre os interagentes reações
favoráveis ou contrárias aos atos de força e, com isso, muitas vezes, surgiram críticas tanto à Mídia
Ninja por publicá-los, quanto ao posicionamento contrário a tais atos por parte da grande mídia.
Por exemplo, em 30 de junho, a Mídia Ninja publicou a imagem e o texto a seguir (Figura
2). Os ninjas não se pronunciaram de forma contrária nem favorável aos manifestantes, mas, vários
diálogos entre interagentes contrários e favoráveis ao uso de força física se deram na sequência
dessa publicação. Este exemplo mostra como a grande mídia foi criticada nesse contexto.
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Figura 2 – Black Bloc
Fonte: Reprodução da página Ninja no Facebook, no dia 30 de junho de 2013.
Em suma, o interagente “A” questionou o motivo do uso das máscaras. O interagente “B”
justificou que era proteção. Mas entrou em cena o interagente “C”, que se dirigiu a “B” e
manifestou discordância em relação à sua justificativa. O interagente “B”, então, se pronunciou
claramente a favor do uso de força física e envolveu as mídias de referência em suas críticas. Sob a
ótica do interagente “B”, havia um propósito da grande mídia em dissuadir a sociedade de praticar
depredações (“fogos e barricadas”), mesmo que soubessem que não há transformações reais sem
tais atos. Essa crítica à grande mídia surgiu no desencadear da conversa, que, por sua vez, iniciouse a partir da imagem postada pela Mídia Ninja.
Há que se dizer ainda que, se a página Ninja, pelo menos no recorte temporal deste estudo,
não publicou nenhum texto em que claramente defendeu atos que envolviam enfrentamento físico
durante as manifestações de 2013, por algumas vezes, deu destaque a imagens e frases de
manifestantes que defendiam a força física como ato de protesto legítimo. Por exemplo, na
postagem a seguir (Figura 3), a página Ninja reproduziu o texto da imagem: “Classe média
pacificista não me representa”, ecoando o posicionamento do manifestante. Mostraremos as falas
de dois interagentes, que se desencadearam a partir dessa postagem da Mídia Ninja.
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Figura 3 – Classe média pacifista
Fonte: Reprodução da página Ninja no Facebook, no dia 20 de junho de 2013.
Verificamos que “A” demonstrou desaprovação ao manifestante mostrado na imagem, e
buscou posicionar positivamente o termo “pacifista”. Mas, em resposta a esse interagente, “B”
reagiu criticamente e, nessa resposta, envolveu a mídia. Ou seja, pode-se fazer uma leitura de que o
interagente “B” considera que a mídia prega o pacifismo sem pregar também uma reflexão crítica
do contexto e exclui o direito de luta direta como forma de protesto. O debate sobre o tema
prosseguiu e, por vezes, outros interagentes envolveram veículos ou produtos jornalísticos que
estavam se colocando contra os atos de força e legitimando apenas as manifestações pacíficas. Um
exemplo desse envolvimento foi o interagente “C”, que participou do mesmo diálogo de “A” e
“B”, como mostramos na figura 4, a seguir. Ele concordou com o cartaz da Figura 3 e criticou o
enquadramento dado à situação pela “Globo”, quando disse que “o pacifismo dessa manifestação
virou a marca da Globo, que está encantada com a explosão patriótica nas ruas.”
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Figura 4 – Globo encantada com explosão patriótica
Fonte: Reprodução da página Ninja no Facebook, no dia 20 de junho de 2013.
Esses exemplos de diálogos mostraram que, mesmo que a Mídia Ninja não explicitasse ser
a favor ou contra atos de força, ao publicar sobre o tema, a página o colocou em pauta por meio da
interação dos internautas com esse conteúdo. E, a partir dessa interação com a Mídia Ninja, os
indivíduos que acompanhavam a página passaram a interagir entre si, gerando momentos em que
alguns deles criticaram as mídias livres e/ou a grande mídia quanto ao assunto. Quer-se dizer então
que, para pelo menos parte dos interagentes da página, o enquadramento dessa situação pelas
mídias era um incômodo latente e foi externado a partir da interação na própria página.
Em uma observação geral, vê-se que os indivíduos, imbuídos do desejo de se manifestarem,
assim o fizeram, nas ruas e na Internet. Mas o fizeram levando consigo suas idiossincrasias, e estas
nem sempre convivem pacificamente. Em síntese, não podemos tomar os manifestantes como uma
massa uniforme. As diferentes mediações culturais (valores, origem social, convicções políticas,
visão religiosa etc.) fizeram-se ver, por meio das interpretações diversas do quadro apresentado
pelas mídias acerca dos atos de força.
Assim, se por um lado a grande mídia acionou interagentes para a compreensão dessa
situação (atos de força bruta) como algo negativo na sociedade, a Mídia Ninja, ao tratar como
manifestantes os sujeitos atuantes em atos de depredação, legitimou o uso da força e abriu espaço
para que simpatizantes dessa interpretação reforçassem sua percepção acerca do caráter
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transformador dos gestos de luta e de depredação. Os discursos sobre esse tema na página Ninja
revelam, portanto, a cisão de valores entre a ordem de manutenção da situação e a busca pela
transformação a qualquer custo. Há na sociedade diversas variações entre esses dois extremos
expressos nos discursos ora analisados, mas, compreendemos que esse embate reflete a
complexidade do contexto e fomenta, inclusive, a reflexão crítica sobre a hegemonia da grande
mídia, dando a ver a pluralidade de sentidos e interpretações.
Cabe tratar por fim, do meio em que o referido dissenso se deu, uma vez que os meios não
apenas fornecem o suporte para os discursos, mas também, tonalizam sua forma e potência. O
embate, nesse caso, aconteceu no ambiente virtual. Assim, mesmo que os interagentes estivessem
falando de força bruta, os corpos dos sujeitos em interação estavam resguardados na distância que a
comunicação tecnologicamente mediada possibilita. A exposição foi, portanto, relativa. Desse
modo, entendemos que nesse ambiente de livre expressão, as consequências das interações
explicitadas podem ter ressoado na vida cotidiana dos sujeitos envolvidos, como também podem
ter ficado restritas àquele instante e ambiente, uma vez que as interações nas redes virtuais nem
sempre são vinculativas, mas possuem grande potência mobilizadora.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Destacamos que o ato de nomear é, para além de uma questão semântica, um gesto de
poder simbólico. Assim, a partir dos diálogos analisados, podemos perceber que, mais do que
denominações, entraram em jogo posturas ideológicas e confronto de valores que convivem,
mesmo que não harmoniosamente, no dia a dia das pessoas, mas que ganharam expressão e
potência no ambiente de visibilidade alargada, naqueles dias de 2013.
Tal confronto foi percebido nos três níveis de interação observados neste estudo: a) entre os
sujeitos que registraram seus comentários na página virtual; b) entre estes e a Mídia Ninja; c) e
entre os interagentes e a grande mídia. As interações analisadas na página Ninja no Facebook dão a
ver processos em que os sujeitos buscam referências nas lógicas e nos aparatos da mídia para
corroborar e/ou confrontar os enquadramentos propostos pelas próprias mídias. São essas
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referências midiáticas, aliadas às referências oriundas de distintas mediações culturais e convicções
político-ideológicas, que constituem o arcabouço de sentidos acionados na construção dos
enquadramentos que emergiram acerca do tema vandalismo.
Os enquadramentos são construídos a partir das interações e permitem aos sujeitos
definirem a situação, bem como se portar diante dela. Observamos esse processo na página Ninja
do Facebook, à medida que seus interagentes perceberam a situação de conflito ideológico e
decidiram se manifestar e confrontar posturas e opiniões, abrindo mão da passividade e colocandose como atores do processo interacional. No encadeamento desse raciocínio, concluímos que a
análise de quadros de sentidos faz-se importante para os estudos de interação, que se tornam cada
vez mais proeminentes no âmbito epistemológico das pesquisas de recepção, dado que os
receptores são cada vez mais reconhecidos como sujeitos ativos no processo interacional,
simultaneamente produzindo e acessando conteúdos midiáticos diversos.
1
Mestre, Programa de Pós-graduação da PUC Minas. Bolsista Fapemig. Jornalista pela PUC
Minas. Membro do grupo de pesquisa Campo Comunicacional e suas Interfaces (CNPq),
[email protected]
2
Mestre, Programa de Pós-graduação da PUC Minas. Bolsista CAPES. Relações Públicas e
jornalista pela PUC Minas. Membro do grupo de pesquisa Campo Comunicacional e suas
Interfaces. , [email protected]
[1] Endereço eletrônico: https://www.facebook.com/midiaNINJA?fref=ts. Acesso: 6 jul. 2013.
[2] Disponível em: https://ninja.oximity.com/partner/ninja/history. Acesso: 10 nov.2014.
[3] Neste artigo, ao tratarmos de sites, blogs e redes sociais construídos na Internet, que se declaram independentes dos
conglomerados de mídia corporativa, optamos por utilizar o termo mídia livre na Internet, por estar em consonância com a
autodenominação do objeto empírico deste estudo: posts e comentários na página da Mídia Ninja no Facebook.
[4] Não entendemos “partilha” como concordância ou comum acordo, mas como um modo de dividir e compartilhar a
experiência comum.
[5] Em 11 de junho de 2013, Castells participava de uma conferência em São Paulo, ao mesmo tempo em que a capital
paulista se tornava arena de forte tensão entre a polícia e os manifestantes. A citação aqui presente se refere à resposta de
Castells
ao
questionamento
sobre
o
que
estava
acontecendo
na
cidade.
Disponível
em:
<http://www.fronteiras.com/canalfronteiras/entrevistas/?16%2C68>. Acesso:20 ago. 2013.
[6] Em seu site na Internet, o MPL se diz “um grupo de pessoas comuns que se juntam para discutir e lutar por outro
projeto de transporte para a cidade.” Fonte: http://saopaulo.mpl.org.br/apresentacao/. Acesso: 25 jul. 2013.
[7] Para mais informações, ver Agência Brasil - http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-06-17/manifestacao-contrareajuste-do-transporte-publico-cresce-e-paralisa-ruas-de-sao-paulo / . Acesso: 23 jul. 2013.
[8] Disponível em http://ciseco.org.br/anaisdocoloquio/images/csm2/CSM2_AmandaFalcao.pdf . Acesso: 17 jun. 2013.
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[9] Notícia obtida em reportagem do Jornal Nacional da Rede Globo, exibido em 13 jun. 2013.
[10] Nota obtida em comentário do Jornal Nacional da Rede Globo, exibido em 17 jun. 2013.
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INTERAÇÕES E ENQUADRAMENTOS EM DIAS DE PROTESTO