Tecnologia da Informação e Comunicação e a Sociedade da Informação: Uma
Contribuição para a Inclusão1
Verônica Costa Pantoja 2 , Roberto César Betini 3 , Lourival da Conceição Pereira
Júnior4 , Jone Kazuki Yamaguchi5
2, 3, 4, 5
Departamento de Informática – Centro de Ciências Exatas e Naturais (CCEN)
Universidade Federal do Pará (UFPA), Rua Augusto Corrêa, 01
CEP 66.075-110, Telefone: +55 (91) 3183-1405/1409
Belém – Pará – Brasil
Resumo: É fato que vivemos na chamada sociedade da informação. Entretanto, num
país como o Brasil com alta taxa de excluídos, quem tem acesso a novas tecnologias e a
seus benefícios? Diante da necessidade de inclusão digital e democratização da
informação é proposta a criação de um portal de inclusão digital acessado através de
telecentros dispostos em pequenos municípios. O acesso a Internet aliada ao uso de
Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) constitui uma ferramenta poderosa
para democratizar a informação e descentralizar o acúmulo de poder de classes sociais
mais abastadas.
Palavras-chave: sociedade da informação; exclusão social; inclusão digital.
___________________
1
Trabalho apresentado no XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação organizado pela Intercom na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro entre os dias 5 a 9 de setembro de 2005 no evento especial III: Intercom
Júnior.
2
Discente do Curso de Sistemas de Informação da UFPA. E-mail: [email protected].
3
Doutor em Ciência da Computação pela University Of Electro Communications, DENTSUDAI, Japão. Pesquisador
e docente da UFPA. E-mail: [email protected].
4
Discente do Curso de Sistemas de Informação da UFPA. E-mail: [email protected].
5
Discente do Curso de Ciência da Computação da UFPA. E-mail: [email protected].
1. Introdução
O assunto exclusão social é bastante complexo. Complexo porque a exclusão social, na
verdade, é a reunião de várias exclusões: exclusão de saúde, renda, justiça, raça,
informação, cidadania etc. A evolução da informática e das comunicações tem trazido
uma série de benefícios como: o compartilhamento de informações, possibilidade de
comunicação remota, comércio eletrônico, inserindo assim a humanidade na chamada
era da informação, graças à disseminação da Internet. Porém, nem todos têm acesso a
esses benefícios. Essa realidade, então, originou nos últimos anos um outro tipo de
exclusão: a exclusão digital; acentuando as desigualdades e exclusões já existentes,
tanto entre países, como no interior de cada um deles. Em relação ao Brasil, as
diferenças sociais e no que tange a inserção dos brasileiros na sociedade da informação
são grandes.
O objetivo do artigo é apresentar como as Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) podem minimizar a exclusão social por meio de ações de inclusão
digital em pequenos municípios. A seção 2 do artigo apresenta, de modo geral, o
problema da exclusão social no Brasil. A seção 3 apresenta a exclusão digital como
agravante da exclusão social. Na seção 4 procura-se mostrar a necessidade de ações de
inclusão digital. Em 5 abordamos a sociedade da informação. Em 6 abordamos dois
assuntos: usabilidade de websites e tecnologias multimídia, sendo mostrada a
importância desses assuntos para o tema em questão. Uma proposta para a minimização
da exclusão social, através de ações de inclusão digital, é apresentada na seção 7.
Finalmente, na seção 8 tem-se a conclusão do artigo.
2. Exclusão Social no Brasil
A exclusão social compreende a exclusão “de meios de vida, emprego seguro e
permanente, renda, moradia, capital cultural, vantagens previstas pelo Estado, condição
de cidadão, igualdade perante a lei, participação no processo democrático, etc.”
[SUDAM/PENUD 1996].
A exclusão social tem atingido o Brasil como um todo. Na Tabela 1 tem-se a
porcentagem do índice de exclusão social e a quantidade de excluídos por região do
Brasil em 2000. No que se refere às regiões brasileiras, o Nordeste com 40,95% de
excluídos e o Norte com 38,16% se constituem nas regiões brasileiras mais
problemáticas [Néri 2003].
Tabela 1. Índice de exclusão social e o número de excluídos por região brasileira em 2000
Regiões Brasileiras
IES (%)
População Excluída
Centro Oeste
26,01
3.026.818
Norte
38,16
4.923.408
Nordeste
40,95
19.551.696
Sudeste
14,57
10.550.808
Sul
19,78
4.967.124
Fonte: Censo Demográfico do IBGE/2000
3. Exclusão Digital como Agravante da Exclusão Social
É fato que vivemos na chamada sociedade da informação. Isso representa uma profunda
mudança na organização da sociedade e da economia. Na dimensão social, pode
contribuir para a promoção de integração ao reduzir a distância entre as pessoas e
aumentar seu nível de informação. Porém, as tecnologias de informação e comunicações
(TICs) ainda não chegam a maior parte da população do planeta. O maior acesso à
informação poderá conduzir a sociedade a relações sociais mais democráticas, mas
também poderá gerar um novo tipo de exclusão, acentuando as desigualdades e
exclusões já existentes, tanto entre sociedades, como no interior de cada uma
[Takahashi 2000].
Analisando os dados do censo 2000, feito pelo IBGE, no que diz respeito a
inclusão digital no Brasil, podemos verificar nas Tabelas 2 e 3, respectivamente, os 5
estados da federação com os maiores índices e com os menores índices de inclusão
digital [Neri 2003].
Na sociedade da informação, a universalização de serviços de informação e
comunicação é condição necessária, ainda que não suficiente para inserção dos
indivíduos como cidadãos. No Brasil, o crescimento recente das telecomunicações tem
democratizado o uso do telefone. O acesso à internet, porém, ainda é restrito a poucos.
Portanto, deve-se buscar meios e medidas para garantir a todos os cidadãos o acesso
eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção do país na
sociedade da informação [Takahashi 2000].
Tabela 2: As cinco unidades da federação que apresentam um maior grau de inclusão
digital
Proporção: moradores
Moradores em
com acesso a
Unidades da
domicílios
Microcomputador
computador / total de
federação
particulares
moradores
permanentes
Distrito Federal
2 035 459
485 820
23,87%
São Paulo
36 719 202
6 603 586
17,98%
Rio de Janeiro
14 298 735
2 217 769
15,51%
Santa Catarina
5 319 120
654 177
12,30%
Paraná
9 471 919
1 097 529
11,59%
Fonte: Censo 2000 / IBGE
Tabela 3: As cinco unidades da federação que apresentam menores graus de inclusão
digital
Proporção: moradores
Moradores em
com acesso a
Unidades da
domicílios
Microcomputador
computador / total de
federação
particulares
moradores
permanentes
Maranhão
5 621 913
115 211
2,05%
Piauí
2 832 095
78 811
2,78%
Tocantins
1 143 283
31 533
2,76%
Acre
552 016
18 881
3,42%
Alagoas
2 797 246
100 664
3,60%
Fonte: Censo 2000 / IBGE
4. Inclusão Digital Como Resposta para a Exclusão
Baseado neste cenário onde o excluído social se faz presente, o tema inclusão digital
ganha importância e nos últimos anos muitos projetos sociais surgiram a fim de
aproximar este grande número de pessoas a tecnologia como forma de resgate da
cidadania e das oportunidades disponíveis no mundo do trabalho.
Ao se falar em inclusão digital, deve-se ter o cuidado de, na verdade, não estar
promovendo um movimento de inclusão analógica. Detectada a existência de pessoas
que não tem acesso a computadores e internet, simplesmente disponibilizando acesso a
equipamentos não há de promover a inclusão.
Segundo Alexandre Rangel, o acesso à inovação tecnológica não é somente
acesso aos meios, mas, fundamentalmente, à informação de como utilizar esses meios
para potencializar conhecimentos e oportunidades [Rangel 2003].
De fato, contribuirá muito para a inclusão social se o acesso aos recursos que a
TIC dispõe for facilitado para a população excluída de forma a terem o conhecimento de
como utilizar os equipamentos computacionais para usufruir benefícios, tais como: ter
conhecimento, estar atualizado, estar mais bem preparado para o mercado de trabalho,
poder se comunicar com qualquer pessoa rapidamente, enfim, ter mais oportunidades.
5. TICs e a Sociedade da Informação
As novas tecnologias, hoje, ocupam um lugar importante em nosso cotidiano. Assistir
televisão, falar ao celular, conectar-se a Internet e poder realizar atividades como
acessar a conta bancária e comunicação remota pode nos dar a idéia de como a
sociedade atual encontra-se dependente da tecnologia. Isso traz um impacto políticoeconômico-social. No âmbito político-econômico proporciona mudanças na relação
entre sociedades, capitais e mercados fortalecendo o modelo econômico vigente com o
surgimento de um capital unificado e global [Betini 2003].
No âmbito social, contribui
para a promoção de integração reduzindo a distância entre as pessoas e proporcionando
mais uma forma de acesso à informação [Takahashi 2000].
A democratização da informação, então, ganha importância nesta sociedade
informacional. Segundo [Betini 2003], “nesta sociedade o homem que não é informado
não pode ter opinião e, consequentemente, não pode tomar decisões”.
Mais do que isso, é preciso ter em mente a democratização do conhecimento.
Conhecimento é a informação transformada em valor, com algum sentido, capaz de
trazer mudanças. Não basta colocar a informação a disposição, mas também deve-se
oferecer
a
análise
dessa
informação,
tornando-as inteligíveis e compreensíveis
[WERTHEIN 2003].
Para [MATSUURA 2005] o conhecimento apresenta um papel importante para a
transformação social:
“As sociedades do conhecimento dependem da capacidade dos indivíduos
usarem e aplicarem TICs para facilitar a aquisição, transferência e
assimilação de conhecimento. Sociedades do conhecimento são sociedades
em que emergem novos paradigmas de aprendizagem e em que se faz
necessário um investimento extraordinário, tanto intelectual quanto
financeiro, em novos aprendizados. Sociedades do conhecimento são
necessariamente sociedades com fortes imperativos de aprendizagem e
educação de qualidade para todos e um dos blocos na construção dessas
sociedades. ”
O desenvolvimento das comunicações e computação culminando no surgimento
de novas tecnologias pode trazer diversas aplicações para auxiliar na construção e
difusão do conhecimento [WERTHEIN 2004]. É o que será visto nas próximas seções
do artigo.
6. A TIC Como Ferramenta para a Promoção da Inclusão
A TIC, além de ser contribuidora para a otimização do trabalho humano e,
conseqüentemente, para o progresso das atividades nas quais é empregada, pode; diante
do problema da exclusão social, assumir o papel de colaboradora para a inclusão social.
Levando-se em conta a importância do conceito de usabilidade de websites e os
recursos disponíveis pelas tecnologias multimídia e de comunicação será possível à
criação de um portal com acesso fácil a fim de incluir digital e, conseqüentemente,
colaborar na inclusão social dos indivíduos que o utilizarem.
6.1. Usabilidade de Websites: Colaboração para Inclusão
Hoje em dia, interagir com sistemas computacionais deixou de ser privilégio de
profissionais da área de computação e tornou-se algo comum. Os projetistas e
desenvolvedores de sistemas computacionais e, notadamente, dos sistemas interativos
devem, então, ter a preocupação de como esses sistemas contribuirão para a melhor
interação homem-máquina.
Com a disseminação da web, ambiente altamente interativo, e a preocupação
com a disponibilização de acesso de seu conteúdo para todas as camadas da sociedade,
o desafio se torna maior no fato de desenvolver interfaces que facilitem a utilização da
internet por qualquer indivíduo. Diante disso, o quesito usabilidade é parte fundamental
de um projeto de mídia interativa. A usabilidade é um atributo de qualidade de sistemas
que são fáceis de usar e fáceis de aprender [Filho 2001].
Alguns itens são importantes no quesito usabilidade de websites. São eles:
efetividade, eficiência e satisfação.
A efetividade consiste na capacidade do sistema permitir que o usuário atinja seu
objetivo primário: busca da informação, compras, comunicação e outros. A efetividade
geralmente é observada em termos de finalização de uma tarefa e também em termos de
qualidade do resultado obtido.
A eficiência é a quantidade de esforço necessário para se chegar a um
determinado objetivo. Quanto menos trabalho o usuário ter para realizar determinada
tarefa em um site, melhor... Não é suficiente permitir que o usuário atinja o objetivo e
realize a tarefa, mas que o faça com o menor esforço possível.
A satisfação se refere ao nível de conforto que o usuário sente ao utilizar a
interface e qual a aceitação como maneira de alcançar seus objetivos [Santos 2003].
Um outro item importante é quanto ao conteúdo disponibilizado. Deve ser de
qualidade e de fácil localização. A accountability também é fundamental para garantir
que as informações disponibilizadas no site sejam confiáveis.
Entretanto, todos os quesitos identificados acima devem ser feitos em função do
usuário. Afinal, é por causa dele que se deve aumentar a usabilidade e garantir que o
conteúdo seja compatível com a capacidade de compreensão e leitura do usuário [Filho
2001].
6.1.1. Usabilidade em Função do Usuário
Para que o website seja acessível, no desenvolvimento deste há necessidade de conhecer
o usuário. Ele é o elemento importante a ser considerado para o adequado projeto e
design de interfaces.
O desenvolvedor precisa lembrar que os usuários não são iguais. Suas
características
devem
ser
consideradas:
o
nível
educacional,
nível
de
leitura,
alfabetização tecnológica, experiência no aplicativo etc. Nunca o desenvolvedor deve
pensar que os usuários são iguais a ele, ou seja, se a interface foi fácil de aprender ou de
usar pelo desenvolvedor, ela também será para o usuário.
Portanto, deve-se verificar qual a comunidade de usuários para os quais a
interface projetada atenderá visando um melhor desenvolvimento desta interface a favor
do usuário [Agner 2004].
6.1.2. Usabilidade e Inclusão
Itens devem ser considerados para a criação de sites voltados para a inclusão:
•
O site deve ser intuitivo: o usuário deve tentar intuitivamente saber o que fazer
(para onde leva este link?, o que significa esta figura?, para que serve este
elemento?) e saber como fazer (onde posso encontrar a informação ou serviço?,
como posso utilizar este serviço?, quais informações devo fornecer?);
•
Facilidade de uso: o usuário comete poucos erros durante a interação;
•
Facilidade de aprendizado: o usuário aprende rápido e fácil, memoriza o que
aprende;
•
Produtividade: o usuário faz suas tarefas com rapidez;
•
Flexibilidade: a interface oferece alternativas de interação;
•
Satisfação: o usuário gosta de utilizar o sistema.
Problemas devem ser evitados como problemas de desempenho (a página
demora a carregar), portabilidade (o site não é corretamente exibido no browser) e
funcionamento (o usuário manda os dados, porém o sistema processa errado) [Leite
2002].
Portanto, desenvolvendo-se sites efetivos e eficientes, tendo o cuidado para não
desenvolver interfaces complicadas demais ou confusas, não permitindo o programa se
fazer entender pelo usuário e levando-se em conta a interação homem-máquina, tornarse-á o acesso real a sistemas legíveis, atrativos, atualizados e, principalmente,
adequados ao usuário [Amstel 2004].
6.2. Tecnologias Multimídia: Interatividade a Favor da Inclusão
Multimídia pode ser entendida como a apresentação ou recuperação de informações que
se faz, com o auxílio do computador, de maneira multissensorial, integrada, intuitiva e
interativa.
A respeito da interatividade, quer-se dizer que multimídia não é apenas uma
maneira de apresentar informações ao usuário, como se ele fosse seu mero recipiente,
passivo: multimídia é uma forma de o usuário ativamente interagir com as informações:
buscando-as, recuperando-as, interligando-as, construindo com elas novas informações.
Percebe-se, então, a importância da utilização deste recurso na promoção de
inclusão digital, pois se pode utilizar o potencial do computador para permitir que o
usuário se transforme de simples observador passivo da apresentação da informação em
participante ativo na sua busca e recuperação, de mero recebedor de sons, imagens e
textos, em manipulador e processador de informações [Chaves 1991].
6.2.1. Aplicações Multimídia
Com a crescente exigência dos usuários da Internet e aumento gradual da utilização de
redes de alta velocidade, diversas aplicações multimídia têm sido desenvolvidas. Uma
destas aplicações é a videoconferência.
A videoconferência habilita as pessoas a estabelecer uma reunião combinando
transmissão de áudio e vídeo [Stair 2002]. Esse tipo de aplicação interativa permite que
as pessoas usem áudio/vídeo para comunicação em tempo real [Kurose 2003].
O uso da videoconferência apresenta uma série de vantagens:
•
Economia de tempo, evitando o deslocamento físico para um local especial;
•
Economia de recursos, com a redução dos gastos com viagens;
•
Mais um recurso de pesquisa, já que a reunião pode ser gravada e
disponibilizada posteriormente [Santos 1998].
6.2.2. Multimídia e Inclusão
As tecnologias multimídia possibilitam a criação de ambientes virtuais para a promoção
de aplicações que podem ser utilizadas como meios para se alcançar inclusão digital.
Aplicações como videoconferência e ensino a distância podem ser utilizadas
para se alcançar populações distantes dos centros urbanos. A chamada democracia
participativa, na qual o cidadão deixa de ser mero expectador das ações do Estado e
passa a organizar-se de forma a ter uma maior participação nos destinos de sua cidade,
tem muito a ganhar, pois através dessas tecnologias, comunidades distantes dos centros
urbanos podem participar do destino de seu estado ou país. Os portais podem agrupar
qualquer tipo de canal de informação que conecta o cidadão com o gestor público,
prevendo ampla participação do cidadão com acesso rápido e gratuito as questões de
interesse quer do município, estado ou até nação. A instalação de portais deve ser
seguida de uma política de inclusão digital e educação do cidadão com relação ao uso
da informática e serviços prestados pelo portal [Betini 2003]. A interatividade que a
internet atual possui aliada aos recursos computacionais do computador vem facilitar a
aprendizagem e, consequentemente, oferecer acesso à informação.
7. Promovendo Inclusão Social em Pequenos Municípios
O termo “telecentro” tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações
que prestam serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas,
especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais
distantes. Se forem analisados os perfis dos diferentes públicos que dele se utilizam não
parece haver dúvida de que suas experiências têm agregado segmentos sociais que
dificilmente teriam acesso à rede sem telecentros [Takahashi 2000].
Portanto, a implantação de telecentros em pequenos municípios pode ser um
meio de levar as populações excluídas oportunidade de terem contato com a TIC e tirar
proveito dos benefícios que ela pode trazer: informação e conhecimento. Também pode
contribuir para encurtar, através do uso do computador; de forma virtual, as distâncias
geográficas entre localidades.
O telecentro tratado em questão baseia-se no conceito de comunidades virtuais.
7.1. Telecentros como Comunidade Virtual
O termo comunidades virtuais foi inventado em 1993, por Howard Rheingold que deu o
seguinte significado: agregações sociais que surgem da internet quando pessoas
suficientes mantêm suficientes debates públicos, com suficiente sentimento humano
para formar teias de relacionamentos no ciberespaço.
As comunidades virtuais são como agrupamentos de pessoas que utilizam um
ambiente virtual com interesses em comum e mantêm suas conexões vivas,
principalmente, por meio das relações de interações, colaborações e cooperações que,
conseqüentemente, proporcionam novas oportunidades para seus membros [Tajra
2002].
A idéia de fundamentar a constituição do telecentro no conceito de comunidades
virtuais está no fato de não fazê-lo simplesmente como um espaço equipado com
computadores conectados a internet, a disposição dos usuários. Está em fornecer a
comunidade local um espaço que possibilite geração de novas oportunidades,
desenvolvimento e transformação de sua realidade.
Atividades educacionais e outras atividades podem ser desenvolvidas de acordo
com as necessidades da comunidade local.
A monitoria dos telecentros pode ser realizada por monitores e orientadores
contratados, envolvimento de voluntários, ou ainda com conselhos gestores formados
por pessoas da comunidade.
Quanto à sustentabilidade dos telecentros, podem ser de recursos de fundo
público, recursos de empresas ou contribuições individuais e coletivas.
A comunidade, quanto à autonomia, pode ter poder de decisão, consultivo ou
fiscalizador sobre a gestão do telecentro, incluindo o poder planejar o futuro do
telecentro [Silveira 2005].
7.2. O Portal da Comunidade Virtual
A construção desse portal segue o conceito de usabilidade de websites exposto
anteriormente. Seu conteúdo, de modo geral, seria composto de links de informação
sobre:
• Previdência social: informações sobre como solicitar a aposentadoria;
• Documentos pessoais: consulta de expedição de CPF, Título Eleitoral, Carteira
de Trabalho, Carteira de Identidade, Atestado de Óbito, Passaporte, Órgãos emissores;
• Balcão de emprego: informações sobre oportunidades de trabalho;
• Concursos: informações sobre concursos públicos;
• Direitos do cidadão: informações didáticas sobre direito do consumidor, espaço
para denúncias, lista de telefones úteis;
• Cursos on-line: oferecimento de cursos on-line para capacitação do trabalhador;
• Espaço da comunidade: espaço de divulgação dos trabalhos da comunidade.
• Fóruns de discussão: espaço aberto para a comunidade opinar, tirar dúvidas.
• Assessoria a cooperativas e microempresas: informações de auxílio às
cooperativas e microempresas da comunidade local;
• Buscas de informações: a exemplo de sites buscadores como google, altavista,
etc.
• Espaço do governo: espaço entre a comunidade e o governo.
7.3. Implementação
Para o desenvolvimento da comunidade virtual proposta seria utilizada tecnologias
como:
• Software livre: é o software disponível com a permissão para qualquer um usálo, copiá-lo e distribuí-lo, seja na sua forma original ou com modificações, seja
gratuitamente ou com custo. As vantagens de se utilizar uma plataforma livre são: custo
social baixo, não se fica refém de tecnologia proprietária, independência de fornecedor
único, desembolso inicial próximo de zero, robustez e segurança. Desvantagem: mão de
obra escassa e/ou custosa para o desenvolvimento e/ ou suporte. O uso de software livre
em projetos de inclusão digital objetiva dispor a qualquer cidadão o acesso democrático
à informação. O emprego de software livre constitui uma alternativa ao monopólio
tecnológico e ao mesmo tempo possibilita a apropriação coletiva das tecnologias
tornando-as um bem público [Hexsel 2002].
• Banco de dados MySQL: sistema de gerenciamento de banco de dados SQL
Open Source rápido, confiável e fácil de usar, além de ser disponível em diversas
plataformas (linux, windows, unix, etc.) [Mysql AB 2003].
• Linguagem PHP: PHP (um acrônimo recursivo para "PHP: Hypertext
Preprocessor") é uma linguagem de script Open Source de uso geral, muito utilizada e
especialmente guarnecida para o desenvolvimento de aplicações Web embútivel dentro
do HTML. O PHP pode ser utilizado na maioria dos sistemas operacionais, incluindo
Linux. O PHP também é suportado pela maioria dos servidores web atuais, incluindo o
Apache [“Manual do PHP” 2004].
• Tecnologias Multimídia: utilização de videoconferência para a realização de
cursos, transmissão de vídeos educativos, etc.
A implantação de telecentros em pequenos municípios pode ser feita em bibliotecas
públicas, prefeituras, escolas ou centros comunitários.
8. Conclusão
A exclusão social tem atingido todo o Brasil. Fazem-se necessária a mobilização do
governo e outros setores da sociedade em criar ações de inclusão social. O artigo, nesse
sentido, apresentou a solução de inclusão digital como um meio de diminuição da
exclusão social.
A proposta do portal tem como finalidade possibilitar o acesso à informação das
pessoas excluídas digitais. A implantação de telecentros é uma forma de se alcançar às
populações que não tem acesso a TICs. O telecentro proposto no artigo deve ser visto
pelos seus usuários não como um mero espaço de acesso a Internet, mas como um
espaço de oportunidades. Um lugar onde a comunidade de pequenos municípios se
reúna para propagar a cultura local, exercer a cidadania na medida de que através do
conteúdo do portal seus usuários se mantenham informados, afim de que venham a ter
opinião e, conseqüentemente; terem segurança para tomar suas decisões e ações.
O uso de tecnologias da informação e comunicação para a promoção de inclusão social
surge como uma tentativa, digamos até como catalisadora da inclusão. Entretanto, não
se pode esquecer que a TIC não é a solução de todos os problemas. Acabar com a
exclusão social é acabar com cada exclusão que a compõe. O uso de TIC pode
promover a inclusão digital que, por conseqüência, minimizará a exclusão social, mas
não acabará com o problema completamente. Outro tipo de exclusões, como de renda,
precisa-se de grande esforço e vontade do governo e outros setores da sociedade para
serem resolvidas. Entretanto, O acesso a Internet aliada ao uso de Tecnologias da
Informação
e
Comunicação
(TICs)
constitui
uma
ferramenta
poderosa
para
democratizar a informação e descentralizar o acúmulo de poder de classes sociais mais
abastadas.
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