Tecnologia da Informação e Comunicação e a Sociedade da Informação: Uma Contribuição para a Inclusão1 Verônica Costa Pantoja 2 , Roberto César Betini 3 , Lourival da Conceição Pereira Júnior4 , Jone Kazuki Yamaguchi5 2, 3, 4, 5 Departamento de Informática – Centro de Ciências Exatas e Naturais (CCEN) Universidade Federal do Pará (UFPA), Rua Augusto Corrêa, 01 CEP 66.075-110, Telefone: +55 (91) 3183-1405/1409 Belém – Pará – Brasil Resumo: É fato que vivemos na chamada sociedade da informação. Entretanto, num país como o Brasil com alta taxa de excluídos, quem tem acesso a novas tecnologias e a seus benefícios? Diante da necessidade de inclusão digital e democratização da informação é proposta a criação de um portal de inclusão digital acessado através de telecentros dispostos em pequenos municípios. O acesso a Internet aliada ao uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) constitui uma ferramenta poderosa para democratizar a informação e descentralizar o acúmulo de poder de classes sociais mais abastadas. Palavras-chave: sociedade da informação; exclusão social; inclusão digital. ___________________ 1 Trabalho apresentado no XXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação organizado pela Intercom na Universidade do Estado do Rio de Janeiro entre os dias 5 a 9 de setembro de 2005 no evento especial III: Intercom Júnior. 2 Discente do Curso de Sistemas de Informação da UFPA. E-mail: [email protected]. 3 Doutor em Ciência da Computação pela University Of Electro Communications, DENTSUDAI, Japão. Pesquisador e docente da UFPA. E-mail: [email protected]. 4 Discente do Curso de Sistemas de Informação da UFPA. E-mail: [email protected]. 5 Discente do Curso de Ciência da Computação da UFPA. E-mail: [email protected]. 1. Introdução O assunto exclusão social é bastante complexo. Complexo porque a exclusão social, na verdade, é a reunião de várias exclusões: exclusão de saúde, renda, justiça, raça, informação, cidadania etc. A evolução da informática e das comunicações tem trazido uma série de benefícios como: o compartilhamento de informações, possibilidade de comunicação remota, comércio eletrônico, inserindo assim a humanidade na chamada era da informação, graças à disseminação da Internet. Porém, nem todos têm acesso a esses benefícios. Essa realidade, então, originou nos últimos anos um outro tipo de exclusão: a exclusão digital; acentuando as desigualdades e exclusões já existentes, tanto entre países, como no interior de cada um deles. Em relação ao Brasil, as diferenças sociais e no que tange a inserção dos brasileiros na sociedade da informação são grandes. O objetivo do artigo é apresentar como as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) podem minimizar a exclusão social por meio de ações de inclusão digital em pequenos municípios. A seção 2 do artigo apresenta, de modo geral, o problema da exclusão social no Brasil. A seção 3 apresenta a exclusão digital como agravante da exclusão social. Na seção 4 procura-se mostrar a necessidade de ações de inclusão digital. Em 5 abordamos a sociedade da informação. Em 6 abordamos dois assuntos: usabilidade de websites e tecnologias multimídia, sendo mostrada a importância desses assuntos para o tema em questão. Uma proposta para a minimização da exclusão social, através de ações de inclusão digital, é apresentada na seção 7. Finalmente, na seção 8 tem-se a conclusão do artigo. 2. Exclusão Social no Brasil A exclusão social compreende a exclusão “de meios de vida, emprego seguro e permanente, renda, moradia, capital cultural, vantagens previstas pelo Estado, condição de cidadão, igualdade perante a lei, participação no processo democrático, etc.” [SUDAM/PENUD 1996]. A exclusão social tem atingido o Brasil como um todo. Na Tabela 1 tem-se a porcentagem do índice de exclusão social e a quantidade de excluídos por região do Brasil em 2000. No que se refere às regiões brasileiras, o Nordeste com 40,95% de excluídos e o Norte com 38,16% se constituem nas regiões brasileiras mais problemáticas [Néri 2003]. Tabela 1. Índice de exclusão social e o número de excluídos por região brasileira em 2000 Regiões Brasileiras IES (%) População Excluída Centro Oeste 26,01 3.026.818 Norte 38,16 4.923.408 Nordeste 40,95 19.551.696 Sudeste 14,57 10.550.808 Sul 19,78 4.967.124 Fonte: Censo Demográfico do IBGE/2000 3. Exclusão Digital como Agravante da Exclusão Social É fato que vivemos na chamada sociedade da informação. Isso representa uma profunda mudança na organização da sociedade e da economia. Na dimensão social, pode contribuir para a promoção de integração ao reduzir a distância entre as pessoas e aumentar seu nível de informação. Porém, as tecnologias de informação e comunicações (TICs) ainda não chegam a maior parte da população do planeta. O maior acesso à informação poderá conduzir a sociedade a relações sociais mais democráticas, mas também poderá gerar um novo tipo de exclusão, acentuando as desigualdades e exclusões já existentes, tanto entre sociedades, como no interior de cada uma [Takahashi 2000]. Analisando os dados do censo 2000, feito pelo IBGE, no que diz respeito a inclusão digital no Brasil, podemos verificar nas Tabelas 2 e 3, respectivamente, os 5 estados da federação com os maiores índices e com os menores índices de inclusão digital [Neri 2003]. Na sociedade da informação, a universalização de serviços de informação e comunicação é condição necessária, ainda que não suficiente para inserção dos indivíduos como cidadãos. No Brasil, o crescimento recente das telecomunicações tem democratizado o uso do telefone. O acesso à internet, porém, ainda é restrito a poucos. Portanto, deve-se buscar meios e medidas para garantir a todos os cidadãos o acesso eqüitativo à informação e aos benefícios que podem advir da inserção do país na sociedade da informação [Takahashi 2000]. Tabela 2: As cinco unidades da federação que apresentam um maior grau de inclusão digital Proporção: moradores Moradores em com acesso a Unidades da domicílios Microcomputador computador / total de federação particulares moradores permanentes Distrito Federal 2 035 459 485 820 23,87% São Paulo 36 719 202 6 603 586 17,98% Rio de Janeiro 14 298 735 2 217 769 15,51% Santa Catarina 5 319 120 654 177 12,30% Paraná 9 471 919 1 097 529 11,59% Fonte: Censo 2000 / IBGE Tabela 3: As cinco unidades da federação que apresentam menores graus de inclusão digital Proporção: moradores Moradores em com acesso a Unidades da domicílios Microcomputador computador / total de federação particulares moradores permanentes Maranhão 5 621 913 115 211 2,05% Piauí 2 832 095 78 811 2,78% Tocantins 1 143 283 31 533 2,76% Acre 552 016 18 881 3,42% Alagoas 2 797 246 100 664 3,60% Fonte: Censo 2000 / IBGE 4. Inclusão Digital Como Resposta para a Exclusão Baseado neste cenário onde o excluído social se faz presente, o tema inclusão digital ganha importância e nos últimos anos muitos projetos sociais surgiram a fim de aproximar este grande número de pessoas a tecnologia como forma de resgate da cidadania e das oportunidades disponíveis no mundo do trabalho. Ao se falar em inclusão digital, deve-se ter o cuidado de, na verdade, não estar promovendo um movimento de inclusão analógica. Detectada a existência de pessoas que não tem acesso a computadores e internet, simplesmente disponibilizando acesso a equipamentos não há de promover a inclusão. Segundo Alexandre Rangel, o acesso à inovação tecnológica não é somente acesso aos meios, mas, fundamentalmente, à informação de como utilizar esses meios para potencializar conhecimentos e oportunidades [Rangel 2003]. De fato, contribuirá muito para a inclusão social se o acesso aos recursos que a TIC dispõe for facilitado para a população excluída de forma a terem o conhecimento de como utilizar os equipamentos computacionais para usufruir benefícios, tais como: ter conhecimento, estar atualizado, estar mais bem preparado para o mercado de trabalho, poder se comunicar com qualquer pessoa rapidamente, enfim, ter mais oportunidades. 5. TICs e a Sociedade da Informação As novas tecnologias, hoje, ocupam um lugar importante em nosso cotidiano. Assistir televisão, falar ao celular, conectar-se a Internet e poder realizar atividades como acessar a conta bancária e comunicação remota pode nos dar a idéia de como a sociedade atual encontra-se dependente da tecnologia. Isso traz um impacto políticoeconômico-social. No âmbito político-econômico proporciona mudanças na relação entre sociedades, capitais e mercados fortalecendo o modelo econômico vigente com o surgimento de um capital unificado e global [Betini 2003]. No âmbito social, contribui para a promoção de integração reduzindo a distância entre as pessoas e proporcionando mais uma forma de acesso à informação [Takahashi 2000]. A democratização da informação, então, ganha importância nesta sociedade informacional. Segundo [Betini 2003], “nesta sociedade o homem que não é informado não pode ter opinião e, consequentemente, não pode tomar decisões”. Mais do que isso, é preciso ter em mente a democratização do conhecimento. Conhecimento é a informação transformada em valor, com algum sentido, capaz de trazer mudanças. Não basta colocar a informação a disposição, mas também deve-se oferecer a análise dessa informação, tornando-as inteligíveis e compreensíveis [WERTHEIN 2003]. Para [MATSUURA 2005] o conhecimento apresenta um papel importante para a transformação social: “As sociedades do conhecimento dependem da capacidade dos indivíduos usarem e aplicarem TICs para facilitar a aquisição, transferência e assimilação de conhecimento. Sociedades do conhecimento são sociedades em que emergem novos paradigmas de aprendizagem e em que se faz necessário um investimento extraordinário, tanto intelectual quanto financeiro, em novos aprendizados. Sociedades do conhecimento são necessariamente sociedades com fortes imperativos de aprendizagem e educação de qualidade para todos e um dos blocos na construção dessas sociedades. ” O desenvolvimento das comunicações e computação culminando no surgimento de novas tecnologias pode trazer diversas aplicações para auxiliar na construção e difusão do conhecimento [WERTHEIN 2004]. É o que será visto nas próximas seções do artigo. 6. A TIC Como Ferramenta para a Promoção da Inclusão A TIC, além de ser contribuidora para a otimização do trabalho humano e, conseqüentemente, para o progresso das atividades nas quais é empregada, pode; diante do problema da exclusão social, assumir o papel de colaboradora para a inclusão social. Levando-se em conta a importância do conceito de usabilidade de websites e os recursos disponíveis pelas tecnologias multimídia e de comunicação será possível à criação de um portal com acesso fácil a fim de incluir digital e, conseqüentemente, colaborar na inclusão social dos indivíduos que o utilizarem. 6.1. Usabilidade de Websites: Colaboração para Inclusão Hoje em dia, interagir com sistemas computacionais deixou de ser privilégio de profissionais da área de computação e tornou-se algo comum. Os projetistas e desenvolvedores de sistemas computacionais e, notadamente, dos sistemas interativos devem, então, ter a preocupação de como esses sistemas contribuirão para a melhor interação homem-máquina. Com a disseminação da web, ambiente altamente interativo, e a preocupação com a disponibilização de acesso de seu conteúdo para todas as camadas da sociedade, o desafio se torna maior no fato de desenvolver interfaces que facilitem a utilização da internet por qualquer indivíduo. Diante disso, o quesito usabilidade é parte fundamental de um projeto de mídia interativa. A usabilidade é um atributo de qualidade de sistemas que são fáceis de usar e fáceis de aprender [Filho 2001]. Alguns itens são importantes no quesito usabilidade de websites. São eles: efetividade, eficiência e satisfação. A efetividade consiste na capacidade do sistema permitir que o usuário atinja seu objetivo primário: busca da informação, compras, comunicação e outros. A efetividade geralmente é observada em termos de finalização de uma tarefa e também em termos de qualidade do resultado obtido. A eficiência é a quantidade de esforço necessário para se chegar a um determinado objetivo. Quanto menos trabalho o usuário ter para realizar determinada tarefa em um site, melhor... Não é suficiente permitir que o usuário atinja o objetivo e realize a tarefa, mas que o faça com o menor esforço possível. A satisfação se refere ao nível de conforto que o usuário sente ao utilizar a interface e qual a aceitação como maneira de alcançar seus objetivos [Santos 2003]. Um outro item importante é quanto ao conteúdo disponibilizado. Deve ser de qualidade e de fácil localização. A accountability também é fundamental para garantir que as informações disponibilizadas no site sejam confiáveis. Entretanto, todos os quesitos identificados acima devem ser feitos em função do usuário. Afinal, é por causa dele que se deve aumentar a usabilidade e garantir que o conteúdo seja compatível com a capacidade de compreensão e leitura do usuário [Filho 2001]. 6.1.1. Usabilidade em Função do Usuário Para que o website seja acessível, no desenvolvimento deste há necessidade de conhecer o usuário. Ele é o elemento importante a ser considerado para o adequado projeto e design de interfaces. O desenvolvedor precisa lembrar que os usuários não são iguais. Suas características devem ser consideradas: o nível educacional, nível de leitura, alfabetização tecnológica, experiência no aplicativo etc. Nunca o desenvolvedor deve pensar que os usuários são iguais a ele, ou seja, se a interface foi fácil de aprender ou de usar pelo desenvolvedor, ela também será para o usuário. Portanto, deve-se verificar qual a comunidade de usuários para os quais a interface projetada atenderá visando um melhor desenvolvimento desta interface a favor do usuário [Agner 2004]. 6.1.2. Usabilidade e Inclusão Itens devem ser considerados para a criação de sites voltados para a inclusão: • O site deve ser intuitivo: o usuário deve tentar intuitivamente saber o que fazer (para onde leva este link?, o que significa esta figura?, para que serve este elemento?) e saber como fazer (onde posso encontrar a informação ou serviço?, como posso utilizar este serviço?, quais informações devo fornecer?); • Facilidade de uso: o usuário comete poucos erros durante a interação; • Facilidade de aprendizado: o usuário aprende rápido e fácil, memoriza o que aprende; • Produtividade: o usuário faz suas tarefas com rapidez; • Flexibilidade: a interface oferece alternativas de interação; • Satisfação: o usuário gosta de utilizar o sistema. Problemas devem ser evitados como problemas de desempenho (a página demora a carregar), portabilidade (o site não é corretamente exibido no browser) e funcionamento (o usuário manda os dados, porém o sistema processa errado) [Leite 2002]. Portanto, desenvolvendo-se sites efetivos e eficientes, tendo o cuidado para não desenvolver interfaces complicadas demais ou confusas, não permitindo o programa se fazer entender pelo usuário e levando-se em conta a interação homem-máquina, tornarse-á o acesso real a sistemas legíveis, atrativos, atualizados e, principalmente, adequados ao usuário [Amstel 2004]. 6.2. Tecnologias Multimídia: Interatividade a Favor da Inclusão Multimídia pode ser entendida como a apresentação ou recuperação de informações que se faz, com o auxílio do computador, de maneira multissensorial, integrada, intuitiva e interativa. A respeito da interatividade, quer-se dizer que multimídia não é apenas uma maneira de apresentar informações ao usuário, como se ele fosse seu mero recipiente, passivo: multimídia é uma forma de o usuário ativamente interagir com as informações: buscando-as, recuperando-as, interligando-as, construindo com elas novas informações. Percebe-se, então, a importância da utilização deste recurso na promoção de inclusão digital, pois se pode utilizar o potencial do computador para permitir que o usuário se transforme de simples observador passivo da apresentação da informação em participante ativo na sua busca e recuperação, de mero recebedor de sons, imagens e textos, em manipulador e processador de informações [Chaves 1991]. 6.2.1. Aplicações Multimídia Com a crescente exigência dos usuários da Internet e aumento gradual da utilização de redes de alta velocidade, diversas aplicações multimídia têm sido desenvolvidas. Uma destas aplicações é a videoconferência. A videoconferência habilita as pessoas a estabelecer uma reunião combinando transmissão de áudio e vídeo [Stair 2002]. Esse tipo de aplicação interativa permite que as pessoas usem áudio/vídeo para comunicação em tempo real [Kurose 2003]. O uso da videoconferência apresenta uma série de vantagens: • Economia de tempo, evitando o deslocamento físico para um local especial; • Economia de recursos, com a redução dos gastos com viagens; • Mais um recurso de pesquisa, já que a reunião pode ser gravada e disponibilizada posteriormente [Santos 1998]. 6.2.2. Multimídia e Inclusão As tecnologias multimídia possibilitam a criação de ambientes virtuais para a promoção de aplicações que podem ser utilizadas como meios para se alcançar inclusão digital. Aplicações como videoconferência e ensino a distância podem ser utilizadas para se alcançar populações distantes dos centros urbanos. A chamada democracia participativa, na qual o cidadão deixa de ser mero expectador das ações do Estado e passa a organizar-se de forma a ter uma maior participação nos destinos de sua cidade, tem muito a ganhar, pois através dessas tecnologias, comunidades distantes dos centros urbanos podem participar do destino de seu estado ou país. Os portais podem agrupar qualquer tipo de canal de informação que conecta o cidadão com o gestor público, prevendo ampla participação do cidadão com acesso rápido e gratuito as questões de interesse quer do município, estado ou até nação. A instalação de portais deve ser seguida de uma política de inclusão digital e educação do cidadão com relação ao uso da informática e serviços prestados pelo portal [Betini 2003]. A interatividade que a internet atual possui aliada aos recursos computacionais do computador vem facilitar a aprendizagem e, consequentemente, oferecer acesso à informação. 7. Promovendo Inclusão Social em Pequenos Municípios O termo “telecentro” tem sido utilizado genericamente para denominar as instalações que prestam serviços de comunicações eletrônicas para camadas menos favorecidas, especialmente nas periferias dos grandes centros urbanos ou mesmo em áreas mais distantes. Se forem analisados os perfis dos diferentes públicos que dele se utilizam não parece haver dúvida de que suas experiências têm agregado segmentos sociais que dificilmente teriam acesso à rede sem telecentros [Takahashi 2000]. Portanto, a implantação de telecentros em pequenos municípios pode ser um meio de levar as populações excluídas oportunidade de terem contato com a TIC e tirar proveito dos benefícios que ela pode trazer: informação e conhecimento. Também pode contribuir para encurtar, através do uso do computador; de forma virtual, as distâncias geográficas entre localidades. O telecentro tratado em questão baseia-se no conceito de comunidades virtuais. 7.1. Telecentros como Comunidade Virtual O termo comunidades virtuais foi inventado em 1993, por Howard Rheingold que deu o seguinte significado: agregações sociais que surgem da internet quando pessoas suficientes mantêm suficientes debates públicos, com suficiente sentimento humano para formar teias de relacionamentos no ciberespaço. As comunidades virtuais são como agrupamentos de pessoas que utilizam um ambiente virtual com interesses em comum e mantêm suas conexões vivas, principalmente, por meio das relações de interações, colaborações e cooperações que, conseqüentemente, proporcionam novas oportunidades para seus membros [Tajra 2002]. A idéia de fundamentar a constituição do telecentro no conceito de comunidades virtuais está no fato de não fazê-lo simplesmente como um espaço equipado com computadores conectados a internet, a disposição dos usuários. Está em fornecer a comunidade local um espaço que possibilite geração de novas oportunidades, desenvolvimento e transformação de sua realidade. Atividades educacionais e outras atividades podem ser desenvolvidas de acordo com as necessidades da comunidade local. A monitoria dos telecentros pode ser realizada por monitores e orientadores contratados, envolvimento de voluntários, ou ainda com conselhos gestores formados por pessoas da comunidade. Quanto à sustentabilidade dos telecentros, podem ser de recursos de fundo público, recursos de empresas ou contribuições individuais e coletivas. A comunidade, quanto à autonomia, pode ter poder de decisão, consultivo ou fiscalizador sobre a gestão do telecentro, incluindo o poder planejar o futuro do telecentro [Silveira 2005]. 7.2. O Portal da Comunidade Virtual A construção desse portal segue o conceito de usabilidade de websites exposto anteriormente. Seu conteúdo, de modo geral, seria composto de links de informação sobre: • Previdência social: informações sobre como solicitar a aposentadoria; • Documentos pessoais: consulta de expedição de CPF, Título Eleitoral, Carteira de Trabalho, Carteira de Identidade, Atestado de Óbito, Passaporte, Órgãos emissores; • Balcão de emprego: informações sobre oportunidades de trabalho; • Concursos: informações sobre concursos públicos; • Direitos do cidadão: informações didáticas sobre direito do consumidor, espaço para denúncias, lista de telefones úteis; • Cursos on-line: oferecimento de cursos on-line para capacitação do trabalhador; • Espaço da comunidade: espaço de divulgação dos trabalhos da comunidade. • Fóruns de discussão: espaço aberto para a comunidade opinar, tirar dúvidas. • Assessoria a cooperativas e microempresas: informações de auxílio às cooperativas e microempresas da comunidade local; • Buscas de informações: a exemplo de sites buscadores como google, altavista, etc. • Espaço do governo: espaço entre a comunidade e o governo. 7.3. Implementação Para o desenvolvimento da comunidade virtual proposta seria utilizada tecnologias como: • Software livre: é o software disponível com a permissão para qualquer um usálo, copiá-lo e distribuí-lo, seja na sua forma original ou com modificações, seja gratuitamente ou com custo. As vantagens de se utilizar uma plataforma livre são: custo social baixo, não se fica refém de tecnologia proprietária, independência de fornecedor único, desembolso inicial próximo de zero, robustez e segurança. Desvantagem: mão de obra escassa e/ou custosa para o desenvolvimento e/ ou suporte. O uso de software livre em projetos de inclusão digital objetiva dispor a qualquer cidadão o acesso democrático à informação. O emprego de software livre constitui uma alternativa ao monopólio tecnológico e ao mesmo tempo possibilita a apropriação coletiva das tecnologias tornando-as um bem público [Hexsel 2002]. • Banco de dados MySQL: sistema de gerenciamento de banco de dados SQL Open Source rápido, confiável e fácil de usar, além de ser disponível em diversas plataformas (linux, windows, unix, etc.) [Mysql AB 2003]. • Linguagem PHP: PHP (um acrônimo recursivo para "PHP: Hypertext Preprocessor") é uma linguagem de script Open Source de uso geral, muito utilizada e especialmente guarnecida para o desenvolvimento de aplicações Web embútivel dentro do HTML. O PHP pode ser utilizado na maioria dos sistemas operacionais, incluindo Linux. O PHP também é suportado pela maioria dos servidores web atuais, incluindo o Apache [“Manual do PHP” 2004]. • Tecnologias Multimídia: utilização de videoconferência para a realização de cursos, transmissão de vídeos educativos, etc. A implantação de telecentros em pequenos municípios pode ser feita em bibliotecas públicas, prefeituras, escolas ou centros comunitários. 8. Conclusão A exclusão social tem atingido todo o Brasil. Fazem-se necessária a mobilização do governo e outros setores da sociedade em criar ações de inclusão social. O artigo, nesse sentido, apresentou a solução de inclusão digital como um meio de diminuição da exclusão social. A proposta do portal tem como finalidade possibilitar o acesso à informação das pessoas excluídas digitais. A implantação de telecentros é uma forma de se alcançar às populações que não tem acesso a TICs. O telecentro proposto no artigo deve ser visto pelos seus usuários não como um mero espaço de acesso a Internet, mas como um espaço de oportunidades. Um lugar onde a comunidade de pequenos municípios se reúna para propagar a cultura local, exercer a cidadania na medida de que através do conteúdo do portal seus usuários se mantenham informados, afim de que venham a ter opinião e, conseqüentemente; terem segurança para tomar suas decisões e ações. O uso de tecnologias da informação e comunicação para a promoção de inclusão social surge como uma tentativa, digamos até como catalisadora da inclusão. Entretanto, não se pode esquecer que a TIC não é a solução de todos os problemas. Acabar com a exclusão social é acabar com cada exclusão que a compõe. O uso de TIC pode promover a inclusão digital que, por conseqüência, minimizará a exclusão social, mas não acabará com o problema completamente. Outro tipo de exclusões, como de renda, precisa-se de grande esforço e vontade do governo e outros setores da sociedade para serem resolvidas. Entretanto, O acesso a Internet aliada ao uso de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) constitui uma ferramenta poderosa para democratizar a informação e descentralizar o acúmulo de poder de classes sociais mais abastadas. 9. Referências Bibliográficas AGNER, L. (2004) “Usuário: alguém conhece realmente http://www.webinsider.com.br/vernoticia.php?id=2058, em 26 nov. 2004. AMSTEL, F. (2004) “Para tornar o computador http://www.webinsider.com.br/vernoticia.php?id=2255, em 26 nov. 2004. esse mais cara?”, inteligente”, BETINI, R. C., Rezende, D. A., Frey, K. (2003) “Desenvolvendo portais para municípios”. In: VI Simpósio Internacional Sobre Gestão do Conhecimento, 6., 2003, Curitiba. Anais... Curitiba: ISKM2003, 2003. CHAVES, E. O. C. 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