Para famílias cristãs – das 21h15 às 21h45 || - Assumir a Palavra de
Deus como Luz para a vida –
Domingo XV do Tempo Comum – Ano C
“Guarda no teu coração todas as palavras que eu Te disser,
ouve-as com ouvidos atentos.”
Oremos. Vinde Espírito Santo, encheu os corações dos vossos fiéis
e acendei neles o fogo do vosso amor. Fazei-nos cumprir com
verdade e alegria o mandamento do amor ao próximo. Amen.
Do Evangelho de S. Lucas
Naquele tempo, levantou-se um doutor da lei e perguntou a
Jesus para O experimentar:« Mestre, que hei-de fazer para
receber como herança a vida eterna?» Jesus disse-lhe: «Que
está escrito na lei? Como lês tu?» Ele respondeu: «Amarás o
Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua
alma, com todas as tuas forças e com todo o teu
entendimento; e ao próximo como a ti mesmo». Disse-lhe
Jesus: «Respondeste bem. Faz isso e viverás».
Mas ele, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: «E
quem é o meu próximo?» Jesus, tomando a palavra, disse: «
Um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu nas mãos
dos salteadores.
Roubaram-lhe tudo o que levava, espancaram-no e foram-se
embora, deixando-o meio morto. Por coincidência, descia pelo
mesmo caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Do
mesmo modo, um levita que vinha por aquele lugar, viu-o e
passou também adiante. Mas um samaritano, que ia de
viagem, passou junto dele e, ao vê-lo, encheu-se de
compaixão.
Aproximou-se, ligou-lhe as feridas deitando azeite e vinho,
colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma
estalagem e cuidou dele. No dia seguinte, tirou duas moedas,
deu-as ao estalajadeiro e disse: «“ trata bem dele; e o que
gastares a mais eu to pagarei quando voltar “. Qual destes
três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas
mãos dos salteadores?» O doutor da lei respondeu: «O que
teve compaixão dele». Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o
mesmo».
Há histórias no Evangelho cuja luz é tão intensa que nenhum
momento negro da humanidade a conseguirá apagar, nem nenhuma
consciência, por mais entorpecida que esteja, deixará de se sentir
incomodada
por
ela.
Esta é certamente uma dessas histórias. À força de a ouvir tantas
vezes ao longo de tantos anos podemos correr o risco de a banalizar,
mas ela nunca desistirá de inquietar o nosso procedimento.
Para percebermos a força desta história é preciso saber que os
piores insultos que se podiam dizer a um judeu, era chamar-lhes
‘cão’, ‘pagão’ ou ‘samaritano’. Os samaritanos eram um grupo
dissidente do judaísmo que tinha deixado contaminar a sua religião
com cultos pagãos. Para um judeu, um samaritano era um ‘bastardo,
renegado, herético’.
A história começa com a pergunta do doutor da lei: «Mestre, que
hei-de fazer para receber como herança a vida eterna?» Usando a
forma comum daquele tempo para os debates, Jesus responde com
outra pergunta: «Que está escrito na lei? Como lês tu?» Tendo
respondido acertadamente, Jesus diz-lhe para agir em conformidade.
De facto não basta saber, é preciso fazer. Naquele tempo, como hoje,
devia haver muita gente a saber muito, mas pouca a fazer. Daí
aquela sentença popular, cheia de sabedoria, que diz: ‘Não
precisamos de quem saiba mais, precisamos de quem faça melhor’.
Certamente aquele homem de leis achou que o debate tinha sido
demasiado fácil. Aquilo toda a gente sabia. Querendo levar a questão
para uma discussão mais teológica, fez a pergunta que todos nós
deveríamos fazer a nós próprios todos os dias: «E quem é o meu
próximo?» Mas Jesus que não gostava de discussões estéreis, nem de
análises inúteis, levou o assunto para aquela estrada, entre Jericó e
Jerusalém, infestada de ladrões e salteadores, e parou numa das
muitas curvas perigosas do caminho. Aí colocou um homem que
tendo caído na mão dos salteadores, foi despojado dos seus bens e
espancado, tendo sido abandonado como morto. Ninguém sabe como
se chamava, se era crente ou descrente, se era rico ou pobre, se era
boa ou má pessoa, se era casado ou solteiro ...
Era simplesmente um homem caído nas inúmeras estradas de
Jericó
que
a
vida
contém.
Por ali passaram um sacerdote e um levita. Os dois eram judeus,
gente de bem e muito religiosa. Mas passaram para o outro lado da
estrada e seguiram o seu caminho. A religião que praticavam estava
mais morta que aquele homem ferido, pois tornava-os insensíveis e
sem
compaixão.
Era uma religião de ritos e cerimónias, mas vazia de vida.
Passou também um samaritano, um homem que, na perspectiva do
doutor da lei, não prestava para nada. Passou junto dele e, ao vê-lo,
encheu-se de compaixão.
Quem são aqueles junto de quem a nossa família passa, vê e se
enche de compaixão?
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