Ficou face a face a face com ele!
• Na Caridade, face a face com os Pobres é uma
inspiração que brota da atitude do bom samaritano.
Como muitos viajantes, ele desce também de
Jerusalém para Jericó. No caminho, encontra uma
situação de grande sofrimento. No entanto, dentre
muitos, só ele teve uma atitude reconhecidamente
louvável naquela situação. Diz o texto bíblico: “Um
samaritano, que estava viajando, chegou perto dele,
viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele”.
Portanto, ele viu o ferido...e, aproximou-se dele. Ficou
face a face com ele!
• Lc 10, 33-34.
às vezes olhamos, mas não vemos.
Por definição a palavra “olhar” significa fitar os
olhos, mirar. A palavra ver, por sua vez,
expressa algo mais profundo, que exige maior
sensibilidade. Ver, significa perceber com a
visão, significa enxergar. Nesse sentido podese dizer que às vezes olhamos, mas não
vemos.
Foi por causa desse “ver” que ele se
encheu de compaixão.
• Ver, enxergar, é muito mais que o ato de olhar.
Enxergar, ver, é perceber o outro, notar, voltar
à atenção para aquilo que se está olhando. E o
bom samaritano “viu”. Isso fez a diferença. Foi
por causa desse “ver” que ele se encheu de
compaixão.
Sofreu com ele.
• Pela compaixão veio a atitude de Caridade. Ele
rapidamente se deu contas que o Outro precisava
de ajuda. Ficou cara a cara com ele. Viu suas
expressões de dor. Teve empatia. Sofreu com ele.
• Por isso, preventiva ou emergencialmente, curou
suas feridas derramando nelas óleo e vinho;
depois procurou assisti-lo com maior cuidado:
colocou-o no seu próprio animal, levou-o a uma
pensão. Cuidou dele.
Nelas, sempre houve indignação frente
às injustiças.
A Espiritualidade legada por Vicente de Paulo,
Luísa de Marillac, e por Frederico Ozanam foi
encarnada por muitas pessoas ao longo dos
tempos. Inúmeras pessoas, inspiradas pelo
amor a Deus procuraram ajudar as pessoas
pobres a saírem da miséria. Nelas, sempre
houve indignação frente às injustiças.
Ninguém é capaz de viver com uma fé
meramente passiva
De fato, depois de aprofundar-se no caminho
espiritual de São Vicente de Paulo assim como
o fez Frederico Ozanam e seus Companheiros,
nenhum coração é capaz de ficar indiferente à
dor e ao sofrimento dos Pobres. Ninguém é
capaz de viver com uma fé meramente passiva
onde se permanece de braços cruzados e que
se espera tudo de Deus.
A paixão de Cristo na cruz é atualizada
• As pessoas que vivem numa fé ativa e
efetivamente comprometedora, percebem ao
longo das experiências que a fé cristã é
fundamentada e fortifica-se no serviço da
Caridade. Um novo olhar é estabelecido; uma
nova leitura é feita sobre os acontecimentos e
estes são analisados sob a ótica da misericórdia e
da compaixão. A paixão de Cristo na cruz é
atualizada no sofrimento daqueles que padecem
a mesma dor da humilhação e do desprezo
configurada na vida dos Pobres.
novas formas de pobreza
• A aproximação da pobreza e das misérias dos
Pobres nos leva ao pé da Cruz na qual Cristo
está crucificado. São cruzes diferenciadas com
as mesmas contradições daquelas duas que
estavam do lado direito e esquerdo do Cristo
crucificado. Cruzes diferentes mas que
castigam com a mesma freqüência e
intensidade; são as novas formas de pobreza
que golpeiam com a mesma intensidade de
dor na vida dos Pobres.
renovar sem cessar
• Na Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo
lemos que “fiel ao espírito dos seus fundadores, a
Sociedade esforça-se por se renovar sem cessar e
por se adaptar às condições de mudança dos
tempos. Ela quer estar sempre aberta às
mutações da humanidade e às novas formas de
pobreza que se possa identificar ou pressentir. Dá
prioridade
aos
mais
desfavorecidos
e
especialmente aos rejeitados pela sociedade”.
• Regra da Sociedade de São Vicente de Paulo,
Edição de 2001, pág 17.
precisamos ter o olhar penetrante
• Pierre Chouard, que esteve à frente do
Conselho da Sociedade de São Vicente de
Paulo nos anos de 1954 a 1960, dizia que
“precisamos ter o olhar penetrante, o espírito
suficientemente livre, para reconhecer essas
formas atuais, locais e transitórias da pobreza.
Por outras palavras, para adaptar às
circunstâncias a nossa ação caritativa”.
• Idem, pág. 245.
Conversemos com os Pobres. Esta
conversa trará confiança.
• Os mesmos sofrimentos são analisados por meio de
uma nova leitura e de um novo olhar que brota dos
acontecimentos. Um olhar que passa ao mesmo tempo
no Cristo pregado na Cruz e nas famílias assistidas.
Dizia Bailly: “Sentemo-nos na cadeira despedaçada que
nos for oferecida. Conversemos com os Pobres. Esta
conversa trará confiança. Conheceremos os seus males
todos, todos os seus desejos, seus vícios talvez. Nós lhe
daremos conselhos com conhecimento de causa.
Conseguiremos que seus filhos vão às escolas, que se
evite a vadiagem, procurando-lhes ensino profissional”.
• Emmanuel Bailly, 1841.
Somente estando face a face
• Somente estando face a face com os Pobres
pode-se perceber a situação na qual eles
vivem. Isso é susceptível em causar um grande
incômodo nos corações que possuem a
misericórdia.
Hoje, esses sofrimentos...
• Se as situações de pobreza nos incomodam, a reação
pode ser de não olhar e, dessa maneira, seremos
menos cristãos... Se, ao contrário, tivermos no coração
a misericórdia e a compaixão, veremos com ternura
nas faces desfiguradas dos Pobres, a mesma face
desfigurada do Cristo pregado na cruz. Hoje, esses
sofrimentos dolorosos da cruz se manifestam com o
nome de problemas pessoais e doenças, falta de
condições dignas de desenvolvimento pessoal tanto
material quanto espiritual, falta de oportunidades
intelectuais e de mostrar aquilo que se é capaz de criar
e de fazer.
num olhar diferente e
comprometedor.
• Os trinta textos que encontraremos neste
livro, para leitura espiritual, encaminham
nosso pensamento, tendo de um lado nosso
“ver” voltado para a prática de Jesus Cristo e
por outro lado, nosso “ver” voltado para a
vida dos Pobres. Colocar mais ternura e
compaixão para que nosso olhar seja
transformado num olhar diferente e
comprometedor.
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Na Caridade, face a face com os Pobres