Universidade Católica de Brasília PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Enfermagem FATORES QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO SONO DE PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE CLÍNICA MÉDICA DE UM HOSPITAL PÚBLICO – BRASÍLIA, 2008 Autora: Lídia Ester Lopes da Silva Orientadora: Leila Bernarda Donato Gottems BRASÍLIA 2008 LÍDIA ESTER LOPES DA SILVA FATORES QUE INTERFEREM NA QUALIDADE DO SONO DE PACIENTES INTERNADOS EM UMA UNIDADE DE CLÍNICA MÉDICA DE UM HOSPITAL PÚBLICO – BRASÍLIA, 2008 Monografia apresentada ao curso de graduação em Enfermagem da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Enfermagem. Orientador(a) :Prof. Msc. Leila Bernarda Donato Gottems Co-orientador: Prof. Msc. Wilton Keiti Inaba Brasília 2008 II À Deus, por tudo que tem proporcionado. Aos meus pais Elias Vieira da Silva e Maria do Patrocínio Lopes da Silva, pela dedicação ao longo de toda a vida. Ao meu namorado Rodrigo da Silva Mariano, pelo amor e por ter me ensinado a olhar a vida através de muitos ângulos. Aos inúmeros colegas de curso que conviveram comigo em situações boas e difíceis. Aos profissionais da Secretaria de Saúde do Distrito Federal e Departamento Médico da Câmara Federal - na pessoa da Enf. Ana Heloísa Albano - que me auxiliaram na busca do conhecimento. Aos amigos companheiros de fé da Assembléia de Deus de Taguatinga que me acompanham durante muito tempo. II III AGRADECIMENTOS À Leila Bernarda Donato Gottems, minha orientadora e Wilton Keiti Inaba, meu coorientador, pela amizade e profissionalismo. À Associação Brasiliense do Sono, mais especificamente à Psiquiatra Ana Paula e a Psicóloga Mônica Müller; Laboratório de Medicina do Sono do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Clínica Pneumologia Medicina do Sono e aos profissionais Pneumologista Paulo Tavares, Psicóloga Marilene e técnicas em polissonografia. À Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Dr. Milton Barroso (ex-diretor da regional do HRAN) e Dr. Lélio (chefe da Clínica Médica), além das enfermeiras, técnicos de enfermagem e secretários. Aos pacientes que responderam o questionário e possibilitam a realização desta pesquisa. Aos professores da Universidade Católica de Brasília dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Educação Física e Medicina, pelo apoio e incentivo. III IV "O pior não é ficar sem dormir; é permanecer todo o tempo deitado, a poucos centímetros do nível do sono." (Aníbal Machado) IV V RESUMO Os transtornos do sono são um grave problema de saúde pública, podendo ser causados por fatores que perturbam o sono, como a hospitalização, e fazer o indivíduo desenvolver alterações no sono. Sendo assim, o objetivo desta pesquisa foi identificar queixas no sono de pacientes internados, levantando as causas geradoras e propondo medidas que possam ser implementadas por enfermeiros a fim de melhorar a qualidade do sono. Trata-se de um estudo observacional, transversal e descritivo de natureza qualitativa e quantitativa. Os dados foram obtidos no Hospital Regional da Asa Norte, com 52 pacientes na Unidade de Clínica Médica em Outubro de 2008 - por meio de um questionário sócio-econômico e de um questionário do sono previamente modificado, Basic Nordic Sleep Questionnaire. As variáveis foram avaliadas nos programas SPSS e Excel. A maioria dos entrevistados apresentou dificuldades para dormir; interrupções noturnas; cochilos diurnos; ronco; e ausência de medicação para induzir o sono. As médias de latência e de tempo total de sono foram: 50 min e 5h 24, respectivamente, além de uma necessidade de 2h 30 a mais de sono noturno. A maior parte considerou o sono em ambiente hospitalar tão bom quanto em ambiente doméstico, tendo como as principais diferenças entre os dois: o ambiente, fatores emocionais, aspectos da doença e as intervenções de enfermagem. A maioria não referiu problemas no sono anteriores à internação. Os resultados sugerem que os pacientes apresentaram insônia, apesar da avaliação dos mesmos ter considerado um sono bom, o que pode ser explicado pelo fato de terem uma percepção alterada com relação aos problemas no sono. Palavras-chave: Alterações no sono, cuidados de enfermagem e hospitalização V VI ABSTRACT Sleep disturbances are a serious public health problem. They can be caused by factors that change their standard, like hospitalization, and lead the person into developing sleep disturbances. The goal of this research is to identify sleep alterations of hospitalized patients as well as the generating causes of those occurrences and also to propose actions that can be implemented by nurses so as to improve the quality of sleep. This is an observational, transversal and descriptive study of both qualitative and quantitative nature. The data were collected in the medical clinic unit of the Brasilia’s North Wing Regional Hospital comprising fifty-two patients. The collection was carried out in October 2008 by means of a socioeconomic questionnaire as well as the Basic Nordic Sleep Questionnaire for Sleep Evaluation, previously modified. The variables were evaluated using the SPSS and the Excel programs. The patients interviewed had sleeping difficulties; broken sleep; daytime somnolence; snoring; no medication was needed for sleeping. The latency and the total sleeping time was, respectively, fifty minutes and five hours and twenty-four minutes, as well as extra two-and-a half hour sleeping time needed. Most of the patients said to have found sleeping in the hospital as good as sleeping at home, taking as the main differences between the two: the environment, emotional factors, aspects of the disease and the interventions of nursing. Most did not mention problems with sleep prior to admission. The results suggest the patients to have had insomnia, although the evaluation of them has considered a good sleep, which can be explained by the fact of having an altered perception regarding sleeping problems. Keywords: night sleep disturbance, nursing care and hospitalization. VI VII LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Os estágios do ciclo de sono normal do adulto ......................................................... 18 Figura 2: Média das horas de sono a cada 24 horas, conforme a idade.................................... 19 Figura 3: Diagrama dos principais registros da polissonografia .............................................. 26 Figura 4: Estágios do sono ....................................................................................................... 26 Gráfico 1: Distribuição da freqüência de motivos da internação dos entrevistados. Brasília, DF. 2008 ................................................................................................................................... 36 Gráfico 2: Quantidade de dias na semana que os entrevistados sentiram dificuldades para dormir. Brasília, DF. 2008.. ...................................................................................................... 37 Gráfico 3: Quantidade de vezes que os entrevistados referiram interrupções noturnas. Brasília, DF. 2008. .................................................................................................................................. 38 Gráfico 4: Distribuição da freqüência de sonolência diurna semanal relatada pelos entrevistados. Brasília, DF. 2008. ............................................................................................ 38 Gráfico 5: Distribuição da freqüência de cochilos diurnos semanais referidos pelos entrevistados. Brasília, DF. 2008. ............................................................................................ 39 Gráfico 6: Quantidade de dias na semana que os pacientes roncam enquanto dormem. Brasília, DF. 2008. .................................................................................................................... 41 Gráfico 7: Características do ronco referidas pelos entrevistados, acompanhantes ou colegas de quarto. Brasília, DF. 2008.................................................................................................... 43 VII VIII LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características socioeconômicas da amostra. Brasília, DF. 2008. ........................... 34 Tabela 2: Procedência e ocupação dos usuários. Brasília, DF. 2008. ...................................... 35 Tabela 3: Diferenças entre o sono em ambiente doméstico e em ambiente hospitalar referidas pelos pacientes. Brasília, DF. 2008. ......................................................................................... 44 Tabela 4: Problemas relacionados ao sono anteriores à internação. Brasília, DF. 2008. ......... 47 VIII IX LISTA DE ABREVIATURAS BNSQ – Basic Nordic Sleep Questionnaire CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CID 10 – Classificação Internacional de Doenças CIDS – Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono CVS – Ciclo Vigília Sono DE – Diagnóstico de Enfermagem DSM – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ECG – Eletrocardiograma EEG – Eletroencefalograma EOG – Eletrooculograma EMG – Eletromiografia HRAN – Hospital Regional da Asa Norte MPP – Movimento Periódico das Pernas MSQ – Mini-sleep Questionnaire NANDA – North American Nursing Diagnosis Association NREM – Sono sem Movimentos Oculares Rápidos PSG – Polissonografia REM – Sono com Movimentos Oculares Rápidos RSB – Região Sincronizadora Bulbar SAE – Sistematização da Assistência de Enfermagem SAOS – Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono SAR – Sistema de Ativação Reticular SES/DF – Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal SNC – Sistema Nervoso Central SOL – sono de ondas lentas SPI – Síndrome das Pernas Inquietas TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TMLS – Teste das Múltiplas Latências do Sono TTS – Tempo Total de Sono UCM – Unidade de Clínica Médica IX X SUMÁRIO RESUMO.................................................................................................................................. V ABSTRACT ............................................................................................................................ VI LISTA DE ILUSTRAÇÕES ................................................................................................ VII LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... VIII LISTA DE ABREVIATURAS............................................................................................... IX 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 11 2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 14 3. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 15 3.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 15 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .......................................................................................... 15 4. REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 16 4.1 FISIOLOGIA DO SONO ................................................................................................ 16 4.2 FATORES QUE PODEM ALTERAR A QUALIDADE DO SONO ............................. 19 4.3 TRANSTORNOS DO SONO ......................................................................................... 22 4.3.1 Insônia .......................................................................................................................... 24 4.4 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ALTERAÇÕES NO SONO ............................. 25 4.5 INTERVENÇÕES UTILIZADAS NA MELHORIA DA QUALIDADE DO SONO ... 27 5. METODOLOGIA............................................................................................................. 31 5.1 TIPO DE ESTUDO ......................................................................................................... 31 5.2 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO .................................................................... 31 5.3 POPULAÇÃO ESTUDADA........................................................................................... 32 5.4 COLETA DE DADOS .................................................................................................... 32 5.5 ASPECTOS ÉTICOS ...................................................................................................... 33 5.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA .............................................................................................. 33 5.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ...................................................................................... 33 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................... 34 6.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS USUÁRIOS......................................................... 34 6.2 AVALIAÇÃO QUANTITATIVA .................................................................................. 36 6.3 AVALIAÇÃO QUALITATIVA ..................................................................................... 44 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 49 8. RECOMENDAÇÕES....................................................................................................... 50 9. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 51 10. APÊNDICES ..................................................................................................................... 55 10.1 APÊNDICE A - AVALIAÇÃO SOCIOECONÔMICA ................................................. 55 10.2 APÊNDICE B – AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO .................................... 56 10.3 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO .......... 59 11. ANEXO .............................................................................................................................. 60 11.1 ANEXO A– PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA ............................. 60 X 11 1. INTRODUÇÃO Na primeira metade do século passado se pensava que o sono era um processo unitário e totalmente passivo, com imobilidade do corpo e das extremidades. Até recentemente se estudava o indivíduo em vigília, apesar de uma terça parte das 24 horas do dia o organismo permanece dormindo. Entretanto, inúmeras pesquisas têm sido realizadas evidenciando todo um processo complexo que ocorre durante o sono (GUTIÉRREZ, 1994). Em 1937, Loomis e Harveu observaram as ondas do eletroencefalograma dos sujeitos dormindo e detectaram a existência de estágios ou fases do sono. Já o descobrimento dos movimentos oculares rápidos, através das pálpebras de uma criança adormecida e em um adulto foi feito por Aseriky e Kleitman, em 1952. Isso significou uma verdadeira comoção no mundo científico. Sendo assim, a cada 90 minutos, aproximadamente e de forma cíclica, produzia-se uma série de movimentos oculares rápidos conjugados, denominado “rapid eye movement”, que posteriormente deu lugar às siglas do sono REM, contrapondo-o ao outro tipo de sono sem movimentos oculares rápidos, “non REM” (GUTIÉRREZ, 1994). O desenvolvimento da pesquisa neurobiológica demonstrou a importância do tronco cerebral no controle e na manutenção da vigília e dos tipos de sono: sono lento, sincronizado ou sem movimentos oculares rápidos (NREM) e sono paradoxal, dessincronizado e com movimentos oculares rápidos (REM) (GUTIÉRREZ, 1994). Segundo Gutiérrez (1994) e Lecendreux (2003), hoje em dia o conceito de medicina do sono e seus transtornos passou a ser uma disciplina ou especialidade médica que se ocupa com o diagnóstico e o tratamento daqueles que se queixam de um sono noturno perturbado, sonolência diurna excessiva, apnéia do sono ou de qualquer outro tipo de problema relacionado ao sono, que pode afetar a qualidade de vida das pessoas. Uma prova de excelência no estabelecimento da medicina do sono é a existência da Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD) (DANDOLINI, 2000). Os transtornos do sono são um grave problema de saúde pública na maioria dos países industrializados e, inclusive, no Brasil. Estão entre as doenças clínicas de maiores impactos de saúde e socioeconômico, sendo tão comuns como a asma e o diabetes; porém, poucos são diagnosticados e tratados adequadamente (LECENDREUX, 2003). Segundo Souza e Reimão (2004), os transtornos do sono são prevalentes na população geral e a insônia é o mais comum, e, quando crônica, geralmente reflete transtornos psicológicos e comportamentais. 11 12 Outros estudos mostraram que as doenças do sono são mais comuns entre os idosos, aqueles com doenças médicas crônicas e com transtornos depressivos e ansiosos (SOUZA; REIMÃO, 2004). Geib et al., (2003), observaram que as doenças do sono são a maior causa de abuso de medicação psicotrópica. Já Campos et al., (2005) demonstraram, por meio de estudo epidemiológico realizado na população de São Paulo, com questionário para avaliação de transtornos do sono, que 81,6% dos entrevistados apresentavam pelo menos uma queixa de sono, sendo que 52,1% dessas estavam relacionadas à insônia. Os efeitos desastrosos dos transtornos do sono-vigília nos acidentes de trânsito são uma realidade cada vez mais evidente. Calcula-se que ela seja responsável por 10% dos acidentes de trânsito graves na França, e por 24 mil mortes anualmente nos Estados Unidos. Já no Brasil ainda não existem estatísticas confiáveis sobre isso, apesar dos dados mais otimistas indicarem que morrem em acidentes de trânsito no Brasil entre 20 mil e 50 mil pessoas por ano. As causas, oficialmente determinadas, de grandes desastres como o do Exxon Valdez, Bhopal, Challenger, Chernobyl e Three Mile Island ocorreram por impedimento de julgamento e desempenho relacionados à fadiga (LECENDREUX, 2003; BITTENCOURT et al., 2005). Estima-se que, desde o início do século XX, a duração do sono diminuiu 20% pela simples mudança das condições de vida humana. Essa “dívida de sono” afeta a saúde, com a maior propensão ao estresse, ansiedade, depressão, que estabelecem uma relação estreita com um sono insuficiente (LECENDREUX, 2003). Segundo Mathias, Sanchez e Andrade (2004), o sono é imprescindível para a manutenção de uma vida saudável. A falta e/ou hábitos inadequados de sono podem causar diminuição da motivação e concentração, déficit de memória, sonolência diurna, alterações de humor, diminuição da imunidade, entre outras. Alterações no sono também podem afetar o prognóstico de pacientes internados devido ao estresse causado pelo processo de hospitalização. Segundo Mitre e Gomes (2004), a hospitalização pode se configurar como uma experiência potencialmente traumática afastando o indivíduo de sua rotina diária, do ambiente familiar e promovendo um confronto com a dor, a limitação física e a passividade, aflorando sentimentos de culpa, punição e medo da morte. Estes fatores podem resultar em transtornos do sono durante a hospitalização. Conforme uma pesquisa relatada por Souza e Reimão (2004) - que avaliou a prevalência dos transtornos do sono em uma população hospitalar em Milão, Itália, com uma amostra de 1.347 mulheres e 1.171 homens, entre 6 e 92 anos de idade, foi encontrado 12,8% 12 13 de queixas de insônia na população pesquisada, sendo mais prevalente no setor de ortopedia (17,5%), havendo uma prevalência maior entre as mulheres e um aumento com a idade em ambos os sexos. 13 14 2. JUSTIFICATIVA O sono e o repouso são funções restauradoras necessárias para a preservação da vida, o que por si só justifica a necessidade dos profissionais de saúde atualizarem seus conhecimentos a cerca das alterações fisiológicas que ocorrem no sono, assim como sobre os fatores que interferem no sono saudável (GEIB et al., 2003). A medicina do sono é uma nova área do conhecimento, havendo a necessidade de muitas pesquisas ainda serem realizadas envolvendo as diversas especialidades médicas e outras áreas da saúde. Segundo Lecendreux (2003), ela oferece possibilidades novas para diagnosticar e tratar transtornos não diagnosticados que afetam a qualidade de vida e o prognóstico vital dos pacientes. Durante o levantamento bibliográfico desta pesquisa, observou-se uma deficiência de estudos relacionados ao sono na área de enfermagem - geralmente as pesquisas nesta área avaliam o sono dos profissionais e não dos pacientes - além de verificar como seriam as intervenções em relação à Sistematização da Assistência de Enfermagem e seus diagnósticos, bem como a atuação numa equipe multidisciplinar. Com este trabalho, pretende-se gerar e disponibilizar informações que servirão de subsídio para outras pesquisas e na elaboração de protocolos de tratamento dos transtornos do sono no ambiente hospitalar. Além disso, o estudo visa auxiliar outros profissionais de saúde na prática clínica e permitir aos enfermeiros a apropriação de novos conhecimentos a fim de melhorar a qualidade da assistência. 14 15 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Identificar as principais queixas relacionadas ao sono de pacientes internados em uma instituição hospitalar pública. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Levantar os fatores da hospitalização que levam às alterações do sono em pacientes internados em uma instituição hospitalar; Propor medidas que possam ser implementadas por enfermeiros a fim de melhorar a qualidade do sono de pacientes internados. 15 16 4. REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 FISIOLOGIA DO SONO O sono tem sido definido como um estado fisiológico complexo, durante a qual ocorrem alterações dos processos fisiológicos e comportamentais, como mobilidade relativa e aumento do limiar de respostas aos estímulos externos (GEIB, et al., 2003). Não é um estado de vigília no qual o indivíduo interage com o ambiente e nem um estado de perda de consciência. Ele se caracteriza por mudanças na atividade elétrica cerebral, que pode ser visualizada por meio do eletroencefalograma (LECENDREUX, 2003). Segundo Martinez (1999, apud DANDOLINI, 2000) existem várias definições, sendo uma delas: “O sono é um estado fisiológico caracterizado por abolição prontamente reversível da consciência, por quiescência motora relativa e por elevação do limiar de respostas ao meio ambiente, que ocorre em episódios periódicos”. Outra: “O sono é o estado fisiológico que interrompe a vigília e permite restaurar as condições do inicio da vigília precedente”; É um estado alterado da consciência com inúmeras funções, como por exemplo a conservação / restauração de energia. O sono envolve uma seqüência de estados fisiológicos mantidos pela atividade altamente integrada do Sistema Nervoso Central (SNC), associada às alterações nos sistemas nervoso periférico, endócrino, cardiovascular, respiratório e muscular. Cada seqüência pode ser identificada por respostas fisiológicas específicas e por padrões de atividade cerebral (POTTER; PERRY, 2001). Potter e Perry (2001) afirmam que o controle e a regulação do sono podem depender da inter-relação entre dois mecanismos cerebrais que ativam e suprimem os centros cerebrais superiores para controlar o sono e a vigília. Um mecanismo provoca a vigília e o outro gera o sono. Um destes mecanismos é o Sistema de Ativação Reticular (SAR), localizado na parte superior do tronco cerebral, que recebe estímulos sensoriais visuais, auditivos, dolorosos e táteis, bem como de atividade provenientes do córtex cerebral. A vigília resulta de neurônios no SAR, os quais liberam catecolaminas, como a Norepinefrina. Já o Sono pode ser produzido pela liberação de serotonina de células especializadas no sistema de sono na ponte e medula, área cerebral conhecida como Região Sincronizadora Bulbar (RSB). Se uma pessoa permanece acordada ou dorme, isso depende de um equilíbrio dos impulsos recebidos dos centros superiores (pensamentos), receptores sensoriais periféricos (estímulos sonoros ou luminosos) e do sistema límbico (emoções). À medida que as pessoas tentam dormir, fecham seus olhos e assumem uma posição relaxada os estímulos 16 17 para o SAR diminuem. Em algum momento, prevalece a RSB, provocando o sono (POTTER; PERRY, 2001). Conforme Geib et al., (2003), o sono passa por ciclos que podem ser observados em traçados eletroencefalográficos, cujas características elétricas, comportamentais e funcionais permitem classificar o sono em duas fases: 1) NREM: caracterizado por sono de ondas lentas ou sincronizadas. É a fase que inicia o sono e o aprofunda gradativamente, à medida que as ondas cerebrais se tornam progressivamente mais lentas. O sono NREM é dividido em quatro estágios, numerados de I a IV que representam progressivamente a profundidade do sono. O sono, no adulto, inicia no estágio I (5 % do tempo total em sono), seguido do II (45%), III e IV (25%). Os estágios III e IV são também denominados como sono de ondas lentas (SOL). À medida que os estágios se sucedem, o indivíduo torna-se cada vez menos reativo aos estímulos sensoriais e ocorrendo também diminuição da atividade neuromuscular. O sono NREM é considerado restaurador das funções orgânicas, por estar associado “à restituição da estrutura protéica neuronal e ao aumento da secreção do hormônio de crescimento”; Nele ocorre a diminuição da atividade do sistema nervoso autônomo simpático e o aumento do tônus parassimpático, a níveis mais altos do que durante a vigília. A atividade muscular diminui, com redução do tônus muscular, e a atividade mental atinge o seu mínimo e há relativa inatividade do cérebro (DANTAS; ABENATHAR, 2002). 2) Sono REM, Paradoxal ou sono ativo: não é dividido em estágios e caracteriza-se pela dessincronização eletroencefalográfica, episódios de movimentos oculares rápidos, movimentos da musculatura do ouvido médio, breves abalos musculares de membros e atonia muscular, tornando a musculatura esquelética paralisada. Ocorre instabilidade do sistema nervoso autônomo simpático, mas o tônus do sistema nervoso autônomo parassimpático é o mesmo do sono não - REM. No sono REM ocorrem sonhos, o que indica atividade mental (GEIB et al., 2003). Durante o sono REM considera-se que o cérebro está ativado em um corpo paralisado. Este período ocorre a intervalos regulares de aproximadamente 90 a 120 min, após ciclo completo de sono NREM e ocupa de uma a duas horas do total de sono no adulto, o que corresponde a 20 a 25% do tempo de sono (DANTAS; ABEN-ATHAR, 2002; GEIB et al., 2003). No recém-nascido, a alternância da vigília com o sono é pouco estável, com horários incertos de início e fim, que tendem a assumir gradativamente uma organização circadiana, inicialmente desvinculada de fatores ambientais. A partir de certa idade, o Ciclo Vigília-Sono 17 18 (CVS) passa a apresentar sincronização com os ciclos ambientais, isto é, a criança passa a dormir maior período à noite, fazendo uma sesta pela manhã e outra à tarde que tendem a desaparecer ao longo de seu desenvolvimento. Esse padrão persiste durante a infância e adolescência, etapa do desenvolvimento em que o CVS continua com um padrão circadiano estável, mas os inícios de sono ficam mais incertos e passam a ocorrer mais tarde (PIQUEIRA; SILVA, 1998, p.207). Potter e Perry (2001) afirmam que no adulto, o padrão de sono começa com um présono em que a pessoa se sente sonolenta. Este período dura de 10 min. a 30 min. e quando o indivíduo apresenta dificuldade para dormir, pode durar uma hora ou mais. Tendo dormido, a pessoa atravessa quatro a seis ciclos de sono completos por noite. O padrão cíclico progride do estágio1 até o estágio 4 do NREM, seguido por uma inversão do estágio 4 para o 3 e o 2, terminando com um período de sono REM, que é atingido aproximadamente em 90 a 120 min. dentro do ciclo do sono (figura 1) (POTTER; PERRY, 2001). Figura 1: Os estágios do ciclo de sono normal do adulto Fonte: Potter e Perry (2001) O tempo de sono a cada 24 horas diminui aos poucos no primeiro ano de vida, decrescendo até chegar a 9,5h por volta dos 10 anos (figura 2). Na adolescência, há variações entre as médias de sono nos dias letivos e nos fins de semana ou feriados (LECENDREUX, 2003). Durante o sono também ocorrem modificações no funcionamento do aparelho digestório decorrentes da diminuição da influência do sistema nervoso central. Embora haja resultados controversos, decorrentes das dificuldades metodológicas de estudo do aparelho digestório durante o sono, no geral, a atividade está diminuída: diminuição da salivação, da freqüência 18 19 de deglutições, da pressão do esfíncter superior do esôfago e do número de contrações primárias do esôfago (DANTAS; ABEN-ATHAR, 2002). Já os efeitos no sistema respiratório caracterizam-se pela hipoventilação alveolar durante o sono normal, já que o metabolismo e a produção de CO2 diminuem drasticamente nesse período. Também é observada uma mudança na mecânica respiratória pelo colabamento parcial da faringe, com aumento na resistência das vias aéreas superiores durante a inspiração (BALBANI; FORMIGONI, 1999). Figura 2: Média das horas de sono a cada 24 horas, conforme a idade Fonte: Lecendreux (2003) 4.2 FATORES QUE PODEM ALTERAR A QUALIDADE DO SONO Fatores fisiológicos, psicológicos e ambientais afetam a quantidade e a qualidade do sono, sendo que um fator isolado pode não ser a única causa para um problema de sono. Dentre os inúmeros fatores, Potter e Perry (2001) citam: Estilo de vida: a rotina diária de uma pessoa pode influenciar a qualidade do sono. Uma pessoa no engajamento em outras atividades no período noturno, privando-se do sono até tarde da noite - como os trabalhadores noturnos, atividades sociais e etc - são propensos a desenvolverem alterações no sono. Segundo Camargos (2004), uma boa qualidade de vida pode conduzir a um sono de qualidade, e vice-versa. Estresse emocional: a preocupação com problemas, por exemplo, pode perturbar o sono. O estresse pode aumentar a latência do sono ou desencadear despertares noturnos. Com freqüência, a sonolência excessiva resulta em comprometimento da função da vigília e em problemas comportamentais ou emocionais. A falta crônica de sono é muito mais grave que a 19 20 privação temporária do sono e pode provocar alterações na capacidade de realizar as funções diárias. Ingestão alimentar e calórica: a obtenção de bons hábitos alimentares é importante à saúde e sono adequados. Ingerir uma refeição grande, pesada e/ou condimentada à noite pode resultar em indigestão, a qual interfere no sono. A cafeína e o álcool consumidos à noite provocam a fragmentação do sono e, conseqüentemente, um sono não reparador. Exercício e fadiga: uma pessoa moderadamente fatigada geralmente alcança o sono repousante. O exercício em duas horas ou mais, antes de dormir, permite que o corpo se resfrie e mantenha um estado de fadiga que promove o relaxamento. Entretanto, a fadiga excessiva, decorrente do trabalho exaustivo ou estressante, pode tornar difícil o adormecer. Medicamentos e substâncias: a sonolência e a privação do sono são efeitos colaterais comuns de medicamentos, como hipnóticos, diuréticos, benzodiazepínicos, narcóticos, anticonvulsivantes, bloqueadores beta-adrenérgicos, antidepressivos e estimulantes. Contudo, substâncias como o L-triptofano – uma proteína encontrada no leite, queijo e carnes – pode ajudar uma pessoa a dormir. Segundo Tufik (2008), a cafeína é o estimulante do Sistema Nervoso Central mais usado atualmente, encontrada em chás, refrigerantes e chocolate. Usada em doses suficientes (200 mg), pode aumentar de forma significativa o alerta, a vigília, a agitação e a capacidade cognitiva, podendo ser prejudicadas pela sonolência excessiva. Idade: dificuldades para dormir afetam indivíduos de todas as idades, mas há um aumento no número de afetados com o aumento da idade. Comumente pessoas idosas manifestam dificuldades em obter um grau satisfatório de sono (CORRÊA; CEOLIM, 2008). Ambiente: o ambiente físico em que a pessoa dorme tem influencia significativa sobre a capacidade de adormecer e permanecer acordado. O ronco do parceiro de cama ou até a ausência dele; ventilação ruim; temperaturas elevadas ou baixas; o tamanho, a consistência e a posição da cama podem afetar a qualidade do sono, pois geralmente os leitos hospitalares são menores e menos confortáveis do que os de casa (POTTER; PERRY, 2001). O som também influencia o sono, sendo que o nível necessário para acordar uma pessoa depende do estágio do sono em que se encontra. Nos hospitais e em outras instituições com pacientes internados, o ruído cria um problema para os clientes, visto que é um barulho novo, freqüente ou estranho que provocam muitas vezes a despertar. Este problema é máximo na primeira noite de hospitalização, quando os clientes freqüentemente apresentam tempo total maior de vigília, despertar freqüente bem como diminuição do sono REM e do tempo total de 20 21 sono. O nível de ruído de hospitais pode ser muito alto. A conversação normal atinge cerca de 50 decibéis. Hilton (1987, apud POTTER; PERRY, 2001) mostrou que um alarme de bomba intravenosa criava um ruído de 44 a 80 decibéis, a descarga de um vaso sanitário de 44 a 76 decibéis e o ato de rasgar papel de 41 a 81 decibéis. O som transforma-se em ruído de 35 a 40 decibéis. Os ruídos produzidos durante as atividades de enfermagem – são fontes de elevados níveis sonoros, como também nas Unidades de Terapia Intensiva. A proximidade dos clientes, os ruídos de pacientes confusos e doentes, o soar de sistemas de alarme e telefones, bem como os transtornos provocados por emergências tornam o ambiente inadequado para conciliar um sono de qualidade. Otenio, Cremer e Claro et al., (2007, apud DIAS et al., 2006) descreveram as alterações fisiológicas que o barulho pode causar no indivíduo, ao observar que a exposição ocupacional ao ruído intenso está associada a várias manifestações sistêmicas, tais como elevação no nível geral de vigilância, aceleração da freqüência cardíaca e respiratória, alteração da pressão arterial e da função intestinal, dilatação das pupilas, aumento do tônus muscular, aumento da produção de hormônios tireoidianos e estresse. De modo semelhante, Carvalho; Pedreira e Aguiar (2005) relatam que a insônia induzida pelo ruído pode consumir a energia necessária para o processo de cura por causa de sua relação com a imunossupressão, síntese inadequada de proteínas, confusão, irritabilidade, desorientação, falta de controle e ansiedade. Sendo assim, percebe-se que o ruído, além de afetar o sono do paciente, afeta diretamente a sua recuperação. Todavia, um ambiente calmo e agradável pode beneficiar tanto o paciente como a equipe hospitalar; os profissionais de saúde experimentariam menos cansaço e menos estresse psicológico; os pacientes sofreriam menos danos psicológicos e fisiológicos e, portanto, terão uma recuperação mais rápida. Medidas simples como fechar as portas, falar suavemente e desligar alarmes assim que possível, podem reduzir os níveis de ruído (OTENIO; CREMER; CLARO, 2007; KAKEHASHI, 2007). Os níveis de iluminação também afetam a capacidade de adormecer. Alguns clientes podem preferir um quarto escuro, já outros como as crianças ou idosos, podem achar melhor manter uma luz suave ligada durante o sono. Os clientes também podem ter problemas com o sono com base na temperatura do ambiente, que não deve ser muito elevada ou muito baixa (POTTER; PERRY, 2001). Dor e condições patológicas: Uma condição física dolorosa crônica pode ser a principal causa de transtornos do sono e assim como a dor interfere na qualidade do sono do indivíduo, pessoas que dormem pouco sentem mais dor (CORRÊA; CEOLIM, 2008). Quando 21 22 as condições inflamatórias interferem nos níveis de temperatura e na secreção de citocinas, acarretam modificações indiretas no padrão do sono (TUFIK, 2008). Nível sócio-econômico: Foram também objeto de estudo a renda familiar e o grau de escolaridade. A literatura tem associado à baixa renda familiar e o baixo grau de instrução à maior prevalência de insônia (e outros transtornos do sono) na população geral. Contrariamente, o sono de qualidade tem sido relacionado a alto grau de instrução e a renda familiar elevada (CAMARGOS, 2004). 4.3 TRANSTORNOS DO SONO As alterações do sono são modificações qualitativas ou quantitativas constatadas pela observação clínica ou durante o seu registro, através do exame de polissonografia (PSG). De acordo com Lecendreux (2003), a evolução das técnicas de monitorização do cérebro permitiu a descoberta dos estágios do sono, e, em seguida, de transtornos que só ocorrem durante o sono, como as apnéias. Sendo assim, a repercussão dessas afecções para a qualidade de vida levou a conclusão de que o sono abriga um risco potencial. Ohayon & Smirne (2002, apud MÜLLER, 2007) relata que as conseqüências dos transtornos do sono envolvem questões econômicas e de saúde, como o aumento de hospitalizações, do absenteísmo, de riscos de acidentes de trânsito e de desenvolvimento de transtornos mentais. Müller (2007) também evidencia o resultado de alguns estudos que encontraram relatos de saúde precária, menos energia e pior funcionamento cognitivo entre portadores de transtornos do sono quando comparados a pessoas com sono normal. Segundo ele, os estudos – em geral - têm encontrado associação dos transtornos do sono com problemas de saúde, funcionamento diário e bem-estar. Martinez (1999, apud MÜLLER, 2007) relata que a prevalência dos transtornos do sono na população adulta é estimada em 15% a 27%, com cerca de 70 milhões de pessoas sofrendo algum tipo de distúrbio de sono só nos Estados Unidos. No Brasil, a estimativa de transtornos de sono na população geral é de aproximadamente dez a vinte milhões de pessoas. Os transtornos de maior prevalência na população geral são a insônia e a síndrome da apnéia obstrutiva do sono. Segundo Müller (2007), os numerosos transtornos do sono são definidos em três principais sistemas de classificação: Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD), Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM- e Classificação Internacional de Doenças - CID- 10. Esses três sistemas são independentes e utilizam 22 23 diferentes critérios de inclusão, causando dificuldades epidemiológicas, de diagnóstico e de interpretação de resultados sobre os diferentes transtornos do sono. Müller (2007), destaca que a Classificação Internacional dos Distúrbios do Sono (ICSD) é um dos sistemas classificatórios mais utilizados na literatura especializada, incluindo quatro grupos organizados em subgrupos: Dissonias - são transtornos primários relacionados à iniciação ou manutenção do sono ou à sonolência excessiva, com alterações na qualidade, quantidade ou regulação de ritmo do sono. As dissonias formam o maior grupo dentre os transtornos do sono, com 34 transtornos subdivididos em intrínsecos, extrínsecos e relacionados ao ritmo circadiano. Parassonias - são alterações comportamentais ou fisiológicas que ocorrem em diferentes momentos do sono e formam o segundo maior grupo de transtornos do sono, com 24 transtornos subdivididos em quatro subgrupos: transtornos do acordar, da transição sono e vigília, parassonias associadas com o sono REM e outras parassonias. Transtornos do sono relacionados a alterações médico-psiquiátricas - Reúnem 19 transtornos associados a doenças mentais ou neurológicas e outras afecções médicas: transtornos associados a doenças mentais, a enfermidades neurológicas e as afecções médica. Transtornos do sono propostos - são aqueles que englobam síndromes heterogêneas sem requisitos para definições específicas, como sono curto, sono longo, hiperidrose do sono e síndrome do engasgue no sono. Segundo Lecendreux (2003), desde o nascimento os fatores relacionados ao ambiente agem sobre o ritual do sono, seus ritmos e sua higiene. As intervenções freqüentes dos pais estimulam o bebê a acordar durante a noite e pedir atenção. Já na criança em idade escolar, um “ritual na hora de dormir” pouco eficaz, que não prepara a transição da vigília para o sono, pode causar ansiedade e dificuldades de separação dos dois momentos na ida para a cama (LECENDREUX, 2003). Borges (2000) relata que os transtornos do sono mais freqüentes nos lactentes e crianças pequenas são os freqüentes despertares noturnos repetidos e a dificuldade em adormecer. No adolescente, o sono insatisfatório, os horários irregulares para dormir e acordar podem causar um transtorno do ritmo vigília-sono. No adulto jovem a exposição a determinados fatores que contrariam o sono pode provocar as chamadas “insônias condicionadas” (LECENDREUX, 2003). No idoso, a automedicação e o desconhecimento sobre o uso de hipnóticos podem levar ao consumo prolongado desses medicamentos, desencadeando na dependência e agravamento 23 24 dos sintomas da insônia (LECENDREUX, 2003). Sabe-se que as queixas de sono se tornam mais prevalentes com o avançar da idade, sendo 1,5 vezes mais freqüente em indivíduos com mais de 65 anos. Segundo Campos et al., (2005) essas queixas são mais prevalentes em mulheres do que nos homens. Para Stein e Mellman (2005, apud CHELLAPA, 2006), os transtornos do sono são uma característica marcante do transtorno depressivo, pois aproximadamente 80% dos pacientes com depressão apresentam queixas relacionadas à quantidade e qualidade do sono. Entre as principais alterações descritas, há uma prevalência doa sintomas da insônia, como: dificuldade de iniciar e/ou manter o sono, despertar precoce pela manhã e queixas de sono não reparador. A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um outro transtorno do sono importante, associado à obesidade. Indivíduos obesos apresentam risco maior de desenvolver a doença, que se caracteriza por ser crônica, progressiva, incapacitante, com alta mortalidade e morbidade cardiovascular, se não for tratada adequadamente. Os sintomas da SAOS incluem roncos, pausas respiratórias, sono com microdespertares, sonolência excessiva, dentre outros (MANCINI; ALOE; TAVARES, 2000). 4.3.1 Insônia Segundo Passos et al., (2007), a CIDS considera insônia como as dificuldades repetidas para iniciar e/ou manter o sono (insônia inicial e de manutenção), despertar precoce (insônia terminal) ou sono não reparador. Lecendreux (2003) relata que entre 20% a 30% da população mundial sofre de insônia, contudo somente 5% dos pacientes com esta patologia buscam os cuidados primários de saúde e 69% não reportam aos médicos suas dificuldades de dormir (SOUZA; REIMÃO, 2004). Campos et al., (2005) demonstraram, por meio de estudo epidemiológico realizado na população de São Paulo, com questionário para avaliação de transtornos do sono, que 81,6% dos entrevistados apresentavam pelo menos uma queixa de sono, sendo que 52,1% dessas estavam relacionadas à insônia. De acordo com Geib et al., (2003), a insônia classifica-se quanto à duração em: Curta duração: decorre de alterações ambientais, estresse, ansiedade ou depressão e desaparece espontaneamente quando o indivíduo se adapta às mudanças ou remove os fatores causais; Transitória: com duração em torno de uma a três semanas; Crônica: com duração maior do que três semanas, podendo permanecer por períodos 24 25 prolongados. A insônia é mais freqüente em pessoas com transtornos psiquiátricos (PASSOS et al.2007), 2007), dependentes de álcool ou outras drogas, portadores de demência ou doenças ou condições graves (GEIB, et al., 2003). Segundo o I CONSENSO BRASILEIRO DE INSÔNIA, na insônia crônica - de longa duração - observam-se mais sintomas cognitivos e alteração do humor, irritabilidade, redução do desempenho acadêmico e profissional, redução da concentração e da memória (SOCIEDADE BRASILEIRA DO SONO, 2003; SOUZA; REIMÃO, 2004). Outro transtorno do sono que pode levar à queixa de insônia é o movimento periódico de pernas (MPP). MPP e síndrome das pernas inquietas (SPI) é a manifestação clínica em que os pacientes relatam um irresistível movimento de membros inferiores acompanhado de sensações de “arrastamento” das pernas. Estes sintomas podem levar a despertares noturnos, insônia e irritabilidade (CAMPOS et al., 2005). Campos et al., (2005) também observam que a insônia é o transtorno do sono mais freqüente na pós-menopausa, em decorrência de alterações hormonais, estados depressivos relacionados a este período da vida, fogachos e/ou à nictúria. 4.4 MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DE ALTERAÇÕES NO SONO Os métodos diagnósticos utilizados na investigação dos transtornos do sono variam desde a avaliação subjetiva, por meio da aplicação de questionários específicos, aos registros actigráficos ou polissonográficos diurnos ou noturnos. De acordo com Togeiro; Smith (2005), estas avaliações podem ser realizadas através de: Questionários - utilizados para fins diagnósticos, na monitorização da resposta aos tratamentos, em estudos epidemiológicos ou clínicos. Alguns avaliam o sono em seus aspectos mais gerais, como Basic Nordic Sleep Questionnaire (BNSQ), Pittsburgh Sleep Quality Índex e o Mini-sleep Questionnaire (MSQ), e outros são mais direcionados e específicos para determinadas alterações, como as escalas de sonolência de Epworth e de Stanford, e aqueles para avaliação dos transtornos respiratórios do sono, como os de Hoffstein, Deegan e de Fletcher e Luckett. Polissonografia (PSG) – denominado o método padrão ouro para o diagnóstico dos transtornos do sono. A montagem polissonográfica possibilita o registro em polígrafo do eletroencefalograma (EEG), do eletrooculograma (EOG), da eletromiografia (EMG) do mento e membros, das medidas do fluxo oronasal, do movimento tóraco-abdominal, do 25 26 eletrocardiograma (ECG) e da oximetria de pulso, além de parâmetros adicionais, como a posição corpórea, medidas de pressão esofágica, ronco e derivações suplementares de EEG (Figura 3). O estagiamento do sono é baseado no padrão de ondas cerebrais, na atividade muscular no mento e no oculograma analisados a cada período de 20 ou 30 segundos (Figura 4). Demais parâmetros, como a respiração, a saturação da oxihemoglobina, a freqüência cardíaca, entre outros, são também rotineiramente analisados. Figura 3: Diagrama dos principais registros da polissonografia Fonte: Dandolini (2000) Figura 4: Estágios do sono Fonte: Dandolini (2000) Actigrafia - Técnica de avaliação do ciclo sono-vigília que permite o registro da atividade motora através dos movimentos dos membros durante 24 horas. Trata-se de um 26 27 dispositivo colocado no punho que realiza a detecção dos movimentos podendo-se obter informações como o tempo total de sono, tempo total acordado, número de despertares e latência para o sono. É particularmente útil para o estudo de indivíduos que não toleram dormir em laboratório, como crianças pequenas, insones e idosos. Teste das Múltiplas Latências do Sono (TMLS) - É considerado o método de escolha para a avaliação e acompanhamento da sonolência diurna excessiva, quantificando este sintoma. Idealmente, o TMLS deve seguir-se à noite da polissonografia. 4.5 INTERVENÇÕES UTILIZADAS NA MELHORIA DA QUALIDADE DO SONO Após identificar a presença de alterações no sono em um determinado grupo, algumas intervenções podem ser adotadas para a promoção da qualidade do sono. Passos et al., (2007) evidenciam a importância das orientações, bem como de intervenções não-farmacológicas que envolvem diversas áreas do conhecimento, como a psicologia, a educação física, a biologia e a enfermagem (PASSOS et al., 2007). Embora o tratamento farmacológico seja o mais utilizado no tratamento das insônias, as terapias não-farmacológicas vêm sendo pesquisadas, em particular as relacionadas às mudanças de comportamento. A maior parte destas técnicas citadas por Passos et al., (2007) têm sido utilizada pela psicologia e são: Terapia Cognitiva: busca eliminar crenças disfuncionais relacionadas ao sono e analisa sintomas e queixas do paciente; Higiene do sono: orientações destinadas à modificação de comportamentos e de fatores ambientais para a promoção do sono de qualidade. Estas orientações são: deitar apenas quando estiver sentindo sono; evitar café, chá, chocolate e medicamentos com cafeína, bem como o álcool e o cigarro, no mínimo, 6 horas antes de dormir; evitar comer, fumar e álcool no meio da noite, além de refeições pesadas antes de dormir; fazer exercícios físicos 4 a 6 horas antes de deitar-se; reservar 20 a 30 minutos do seu tempo à noite, 4 horas antes de dormir, para pensar nos problemas; ingerir um lanche com leite e/ou derivados e carboidratos antes de dormir; manter horários constantes para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana. (ALÓE et al., 2003) Controle de estímulos: treinar o paciente a reassociar o quarto e a cama com sonolência; Restrição do sono: redução do tempo despendido na cama de modo a que este se aproxime do tempo total de sono; 27 28 Fototerapia: aumentar o estado de alerta do paciente por estimulação luminosa, o qual consiste em posicionar uma caixa de luz ao nível dos olhos, a uma distância de aproximadamente 90 cm; Relaxamento muscular: tensionar e relaxar diferentes grupos musculares, visando uma diminuição da tensão muscular através de estímulos visuais e/ou auditivos a fim de treinar o paciente; Intenção paradoxal: convencer o paciente a encarar o seu mais temido comportamento; Prática regular de exercícios físicos: é a prática mais recentemente adotada, porém o tipo, a intensidade e a duração do exercício ainda não estão bem definidos. Porém, sabe-se que exercícios físicos realizados a curto e longo prazo aumentam o sono delta (estágios 3 e 4), o tempo total de sono (TTS) e diminuem as latências de sono e do sono REM (ZANCHET; VIEGAS; LIMA 2004 apud KUBITZ, 1996). Segundo Mello et al., (2005) a American Sleep Disorders Association considera o exercício físico uma intervenção não-farmacológica eficaz na promoção da qualidade do sono, porém pouco recomendado e prescrito por profissionais de saúde. Outras técnicas, como hidroterapia, massoterapia, acupuntura, laser, eletroestimulação nervosa transcutânea e biofeedback também são descritas na literatura (TUFIK, 2008). Já Mathias, Sanchez e Andrade (2004) sugerem a realização de oficinas abordando os temas sono, sonho, relógio biológico e higiene do sono como forma de incentivar hábitos adequados. Em sua pesquisa realizada com adolescentes em uma escola de ensino médio – após identificar transtornos do sono em alunos por meio de um questionário – os autores realizaram encontros semanais para proporcionar uma reflexão sobre o tema em ambiente escolar. A atuação da enfermagem na prevenção e tratamento dos transtornos do sono se relaciona com a identificação real ou potencial destes transtornos e a posterior construção de diagnósticos de enfermagem e um plano de cuidados ou Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) de acordo com a situação analisada. As intervenções de enfermagem nas alterações do sono tem como base a Teoria do Auto-cuidado de Orem. Torres, Davim e Nobrega (1999 apud OREM, 1980) observa que, segundo a Teoria do auto-cuidado de Dorothea Orem, o auto-cuidado envolve a prática de atividades que o indivíduo realiza em seu próprio benefício, na manutenção da vida, da saúde e do bem-estar. Tem como propósito, as ações, que, seguindo um modelo, contribui de maneira específica, na integridade, nas funções e no desenvolvimento humano. Sendo assim, 28 29 no modelo de Orem, a meta é ajudar as pessoas a satisfazerem suas próprias exigências terapêuticas de auto-cuidado. Identificar e tratar as queixas relacionadas ao sono dos clientes é um objetivo importante para a enfermeira. Para ajudá-los, a enfermeira deve compreender a natureza do sono, os fatores que o influenciam e os hábitos de sono dos clientes. Os clientes precisam de uma conduta individualizada com base em seus hábitos pessoais e descrição dos padrões de sono, bem como nos fatores que desencadearam o transtorno. As prescrições de enfermagem podem ser efetivas na resolução dos transtornos do sono de curto e longo prazo (POTTER; PERRY, 2001). Segundo Chellapa; Araújo (2007), estudos sugerem que apenas a avaliação clínica, sem a utilização de questionários ou diários do sono, pode ser inadequada para caracterizar as queixas de sono alterado. A anamnese e o exame físico, portanto, devem ser complementados com a avaliação das queixas de transtornos do sono, por meio de questionários padronizados e validados para populações clínicas. Segundo Arcanjo et al., (2006), o diagnóstico constitui-se como uma das fases do processo de enfermagem, e é entendido como uma descrição de resposta humana, condições de saúde e processos vitais que existem em um indivíduo, família ou comunidade que influenciam diretamente o estado de saúde. O desenvolvimento do Sistema de Classificação da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) tem contribuído para promover a autonomia do enfermeiro no julgamento do cuidado ao cliente, para propiciar o uso dos conhecimentos específicos da enfermagem e para a realização de estudos sobre a qualidade dos cuidados. Também proporciona à profissão uma nomenclatura, uma linguagem e uma classificação que possibilitam descrever e organizar os dados mínimos de enfermagem (ARCANJO et al., 2006). Os Diagnósticos de Enfermagem (DE) comumente relacionados ao sono são: privação do sono e padrão de sono perturbado ou alterado. Segundo Araújo; Bachion (2005, apud NANDA, 2002), o diagnóstico de enfermagem (DE) “Privação do sono”, quer dizer, “períodos prolongados de tempo sem sono”. Já “Padrão de sono perturbado” é definido como “distúrbio decorrente do tempo limitado na qualidade de sono”. Já Pasini et al., (1996, apud FARIAS, 1990) definem este último conceito como “interrupção no período do sono causando desconforto ou interferindo no estilo de vida desejado”. Em pesquisa realizada por enfermeiras de uma equipe de Saúde da Família de Goiânia, ao avaliar 75 idosos, Araujo (2005) encontrou o DE “padrão do sono alterado” em 66 idosos e 29 30 em 23 idosos pesquisados o DE “privação de sono”. Pasini et al., (1996) encontrou o DE “distúrbio no padrão do sono” em 24 pacientes internados em uma UTI. Outro estudo realizado por enfermeiros com 66 gestantes do serviço de pré-natal de uma unidade básica de saúde em Fortaleza, foi identificado como diagnósticos de enfermagem: padrão do sono alterado. Este estudo evidencia a necessidade de um melhor direcionamento da assistência clínica no pré-natal em relação ao sono e repouso da gestante, voltado para a realidade da mesma e propondo melhorias no conforto (ARCANJO et al., 2006). Em outra pesquisa realizada por profissionais de enfermagem em uma unidade de clínica cirúrgica de um Hospital no Rio Grande do Sul, Coloriti (1978) observou que após intervir em um grupo de pacientes internados que apresentaram alterações no sono, todos apresentaram melhora significativa. As ações de enfermagem se concentraram nas medidas higiênicas vespertinas, conforto, nutrição, ambiente terapêutico, assistência psicossocial e espiritual. Desse modo, a autora conclui que as ações de enfermagem planejadas para o atendimento às necessidades do sono resultam em benefício ao paciente hospitalizado. Diante destas pesquisas, observa-se que é possível realizar diferentes intervenções – anteriormente descritas – para melhoria da qualidade do sono, seja no ambiente hospitalar ou não, podendo existir a parceria com outros profissionais de saúde. 30 31 5. METODOLOGIA 5.1 TIPO DE ESTUDO Trata-se de um estudo: Observacional: para investigar a presença de transtornos no sono, sem intervenções do pesquisador, e analisar fatos relacionados – apontados pelos pacientes – em um diário de campo; (PEREIRA, 1995). Transversal: por verificar o problema e seus efeitos de modo simultâneo; (PEREIRA, 1995). Descritivo: por traçar as alterações observadas expressando sua distribuição em termos quantitativos; (PEREIRA, 1995). Natureza: qualitativa relacionado às variáveis avaliação de alterações do sono, comparações entre o sono nos ambientes doméstico e hospitalar, entre outros. E quantitativa: relativo às variáveis freqüência de despertares noturnos, horários de acordar e dormir, quantidade de horas dormidas por noite, dentre outros. (PEREIRA, 1995). 5.2 CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO A pesquisa foi realizada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), unidade pública mantida pela Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES/DF) que oferece atendimento de demanda espontânea e referenciada do Sistema Único de Saúde nos níveis de alta e média complexidade, além da atenção básica. A instituição foi inaugurada em 04 de Dezembro de 1984 e tornou-se referência local no atendimento a pacientes vítimas de queimaduras (BRASÍLIA, 2008; BRASIL, 2008). O atendimento comporta a população do Distrito Federal, da região conhecida como Entorno e de outros Estados. A Unidade de Clínica Médica (UCM) está localizada no quinto andar (alas par e ímpar) e sexto andar (somente ala ímpar) com, respectivamente, 42 e 32 leitos disponíveis, porém apenas 30 leitos no quinto andar e 26 leitos no sexto andar estão ocupados. A equipe de Enfermagem da UCM é constituída por 26 enfermeiros e 70 auxiliares de enfermagem. Neste sentido, este serviço se constituiu em lócus privilegiado para a realização desta pesquisa, pois apresenta estrutura ampla e grande número de leitos, além de apresentar pacientes com um tempo de internação prolongado, o que possibilita a análise dos fatores que interferem no sono (BRASIL, 2008). 31 32 5.3 POPULAÇÃO ESTUDADA A população estudada foi constituída por pacientes internados na UCM do HRAN no período de Outubro de 2008, que atenderam os critérios de inclusão – ter idade igual ou superior a 18 anos e permanência entre dois e quinze dias na respectiva unidade, segundo critério utilizado por Coloriti (1978) – e aceitaram responder os questionários após assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – Apêndice C). Foram excluídos pacientes que apresentaram doenças neurológicas ou alterações na fala que impedissem a participação na pesquisa. 5.4 COLETA DE DADOS Foram realizadas sete visitas na UCM no período de Outubro de 2008. Após a explicação dos objetivos da pesquisa, a entrevista era conduzida pelo pesquisador no leito do paciente. A participação foi voluntária e todos assinaram o TCLE após serem informados dos propósitos, riscos e benefícios do estudo. A coleta das informações ocorreu por meio de dois instrumentos: Questionário Sócio-econômico: avalia características gerais da amostra como idade, data de nascimento, sexo, data de admissão na unidade, motivo da internação, escolaridade e renda mensal familiar. Basic Nordic Sleep Questionnaire (BNSQ): este foi o instrumento utilizado (apêndice B), proposto por Partinen e Gislason (1995) e elaborado em 1988 pela Sociedade Escandinava de Pesquisa do Sono. Esta sociedade formulou o questionário para possibilitar avaliar o sono com uma metodologia padronizada a fim de diminuir a dificuldade em comparar estudos de países diferentes. O BNSQ tem sido utilizado em estudos epidemiológicos, para a avaliação da prevalência e incidência dos transtornos do sono em países nórdicos (conjunto de países formado pela Noruega, Suécia, Dinamarca, Finlândia e Islândia, inclusive seus territórios associados Groenlândia, ilhas Feroé e Alanda). O BNSQ contém 27 ítens diferentes em 21 questões, sendo 1 questão subjetiva e as demais objetivas com respostas diretas e de múltipla escolha. Apresenta uma escala de 5 pontos analisando a quantidade de noites/dias por semana que um determinado fenômeno referente ao sono tem ocorrido. O questionário original avalia as alterações nos últimos três meses, mas - segundo os autores - outras escalas de tempo podem ser utilizadas e questões podem ser acrescentadas conforme a necessidade, contudo utilizando a mesma escala quantitativa. 32 33 O instrumento criado para esta pesquisa, idealizado a partir do BNSQ, avaliou itens como: qualidade do sono e dificuldades para dormir durante a internação, sonolência diurna, latência do sono, despertares, necessidade de medicamentos que induzem o sono, presença de ronco e suas características, presença de problemas relacionados ao sono anteriores à internação, diferenças do sono em ambiente hospitalar e doméstico, freqüência e tempo de cochilos, horas de acordar e levantar, necessidade de aumentar as horas de sono e tempo total de sono. Também foi adaptado quanto ao tempo, referente a uma semana, e algumas questões alteradas para melhor adaptação ao ambiente de internação hospitalar, ficando com 19 itens, sendo 10 questões abertas. 5.5 ASPECTOS ÉTICOS O estudo teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, no dia 25 de Setembro de 2008, parecer nº 250/2008. 5.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA As variáveis discretas (sexo, estado civil, entre outras) e contínuas (faixa etária, escolaridade, renda familiar mensal, entre outras) (PEREIRA, 2003) foram processadas e avaliadas por meio do Programa Estatístico SPSS versão 13.0, complementado pelo Excel 2003. 5.7 LIMITAÇÕES DA PESQUISA A pesquisa foi baseada em dados subjetivos, colhidos com o paciente relacionados ao sono. Portanto, apresentou limitações em virtude das dificuldades de alguns pacientes em informar quantos dias estavam internados, o motivo da internação, bem como se tomavam medicamentos para dormir. Estas informações, quando não respondidas pelo paciente, eram confirmadas no prontuário ou nas prescrições médicas. Além disto, alguns pacientes sentiam dificuldades em relatar as alterações do sono - em virtude de outros sinais e sintomas presentes como dor, limitação física e outros - bem como de quantificar a necessidade de horas para dormir, o tempo de horas dormidas no dia anterior e o tempo dos cochilos. 33 34 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS USUÁRIOS A amostra foi composta de 52 pacientes com idade entre 18 e 89 anos (média 48 anos), em sua maioria homens 71,2% (37), casados 43,3% (22), de cor branca 55,8% (29), com escolaridade fundamental incompleto 50% (26) e com renda mensal familiar principalmente de 1 salário-mínimo 28,8% (15). Outras informações socioeconômicas e com relação à procedência e ocupação dos usuários podem ser obtidas, respectivamente, nas tabelas 1 e 2. O número elevado de homens entrevistados deve-se a existência de maior quantidade de leitos masculinos na UCM. Tabela 1: Características socioeconômicas da amostra. Brasília, DF. 2008. Variáveis Fr % Fr % 18 – 28 9 17,3 Casado 22 42,3 29 – 39 9 17,3 Solteiro 14 26,9 40 – 50 10 19,2 Viúvo 6 11,5 51 – 61 13 25,0 Separado 5 9,6 62 – 72 4 7,7 Divorciado 3 5,8 > 72 7 13,5 Mora junto 2 3,8 52 100 52 100 Idade Variáveis Estado Civil Total Cor Total Sexo Branco 26 56,8 Masculino 37 71,2 Pardo 18 34,6 Feminino 15 28,8 Negro 4 7,7 Não respondeu 1 1,9 Total 52 100 52 100 Total Escolaridade Renda Mensal Familiar Nunca freqüentou a escola 2 3,8 Menos que 1 salário-mínimo 2 3,8 Alfabetização 2 3,8 1 salário-mínimo 15 28,8 Ensino fundamental incompleto 26 50 2 salários-mínimos 9 17,3 Ensino fundamental completo 4 7,7 3 salários-mínimos 10 19,2 Ensino médio incompleto 4 7,7 mais de 4 salários-mínimos 12 23,1 Ensino médio completo 3 5,8 Ensino superior incompleto 4 7,7 52 100 Ensino superior completo 6 11,5 Pós-graduação incompleto 1 1,9 52 100 Total 34 Total 35 Tabela 2: Procedência e ocupação dos usuários. Brasília, DF. 2008. Variáveis Fr % Fr % Brasília 4 7,7 Agricultor 6 11,5 Brazlândia 1 1,9 Área de Educação 4 7,7 Candangolândia Ceilândia 1 1,9 Auxiliar Administrativo 1 1,9 5 9,6 Chapeiro 1 1,9 Paranoá 2 3,8 Cabeleireiro 1 1,9 Planaltina 1 1,9 Cobrador 1 1,9 Riacho Fundo 2 3,8 Comerciante 4 7,7 Samambaia 5 9,6 Construção/reforma de casas 4 7,7 Santa Maria 3 5,8 Corretor de imóveis 1 1,9 São Sebastião 2 3,8 Estudante 1 1,9 Sobradinho 1 1,9 Engenheiro 1 1,9 Taguatinga 1 1,9 Ensacador 1 1,9 Varjão 2 3,8 Operador de máquina 1 1,9 Procuradoria Federal 1 1,9 Procedência (Distrito Federal) Variáveis Ocupação Procedência (Fora do Distrito Federal) Garçom / copeira 2 3,8 Águas Lindas - GO 1 1,9 Limpeza 2 3,8 Aurora – TO 1 1,9 Marceneiro 1 1,9 Campo Grande - MT 1 1,9 Motorista 1 1,9 Caiapônia – GO 1 1,9 Pastora 1 1,9 Cidade Ocidental – GO 2 3,8 Recepcionista 1 1,9 Divinópolis 1 1,9 Segurança 3 5,7 Formosa – GO 1 1,9 Sem ocupação 2 3,8 Fortuna – MA 1 1,9 Serviços domésticos 6 11,5 Foz do Iguaçu - PA 1 1,9 Serviços Gerais 2 3,8 Espírito Santo do Pinhal – SP 1 1,9 Vendas 2 3,8 Luziânia – GO 2 3,8 Não respondeu 1 1,9 Pedregal - GO 1 1,9 Santo Antônio do Descoberto – GO 1 1,9 Total 52 100 São João da Aliança – GO 2 3,8 Serra do Romário - BA 1 1,9 Valparaíso – GO 3 5,8 Vazante - MG 1 1,9 52 100 Total O tempo de internação variou entre 2 e 14 dias com uma média de 5 dias. Contudo, a maioria dos pacientes entrevistados na UCM estava internado anteriormente em outras unidades do hospital, como o pronto socorro. Quanto aos motivos que levaram os pacientes a serem internados, foi levantado o diagnóstico ou a hipótese diagnóstica. As respostas mais encontradas foram nefropatia 36,5% (19), cardiopatia 13,5% (7), endocrinopatia 13,5% (7) e pneumopatia 7,7% (4). Outras 35 36 situações clínicas em menor proporção podem ser observadas no gráfico 1 e, juntas, correspondem a 28,85% (15) do total. O grande número de internações devido à nefropatia justifica-se pela existência de um serviço de hemodiálise no setor. Dor no bíceps Púrpura Trom bocitopênica Derm atom iose / Carcinom a Lupus Eritem atoso Sistêm ico Sínd. Consuptiva / Câncer Nefropatia / anem ia Anem ia hem olítica Massa m egagástrica Derm atite/gota Câncer Doença Infecciosa Hepatopatia Pneum opatia Endocrinopatia Cardipatia Nefropatia 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 Doença Massa Anemia Nefrop Sínd. Lupus Dermat Púrpur Nefrop Cardipa Endocri Pneum Hepato Dermati Dor no Infecci Câncer megag hemolíti atia / Consup Eritema omiose a atia tia nopatia opatia patia te/gota bíceps osa ástrica ca anemia tiva / toso / Trombo Porcentagem 36,5 13,5 13,5 7,7 3,8 3,8 3,8 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 1,9 Gráfico 1: Distribuição da freqüência de motivos da internação dos entrevistados. Brasília, DF. 2008. 6.2 AVALIAÇÃO QUANTITATIVA O gráfico 2 analisa as dificuldades para dormir e descreve a quantidade de vezes que o entrevistado apresentou durante a internação. Sendo assim, 42,3% (22) dos pacientes relataram não sentir dificuldades; 32,7% (17) sentiu dificuldades de dois a quatro dias de internação; 11,5% (6) pelo menos um dia na semana; 9,6% (5) diariamente e 3,8% (2) de quatro a seis dias. Apesar de uma grande parte não sentir dificuldades, mais da metade 57,6% (30) sentiu um dia a todos os dias por motivos que serão posteriormente descritos. Esta característica também foi encontrada em outras pesquisas, como Pasini et al., (1996) que, ao avaliar pacientes em UTIs de São Paulo, observou dificuldade para dormir em 23 pacientes (95,8%); Marosti e Dantas (2006) ao avaliar seus pacientes e caracterizar estressores em uma unidade coronariana identificou o item “não conseguir dormir” como o segundo fator mais estressante. A freqüência de interrupções noturnas é analisada no gráfico 3. Durante a internação 55,8% (29) dos pacientes acordaram de duas a quatro vezes por noite; 23,1% (12) acordaram de quatro a seis vezes; 7,7% (4) mais de sete vezes ou uma vez por noite e 5,8% (3) refere não 36 37 ter acordado à noite. Os motivos que justificaram as interrupções noturnas foram: a necessidade de ir ao banheiro ou a presença de sinais e sintomas como dor, náusea ou tosse que perturbavam o sono - e, posteriormente, serão melhores explanados na análise qualitativa. 4 a 6 dias por semana Diariamente 1 dia por semana 2 a 4 dias por semana Não senti 0,0 Porcentagem 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 Não senti 2 a 4 dias por semana 1 dia por semana Diariamente 4 a 6 dias por semana 42,3 32,7 11,5 9,6 3,8 Gráfico 2: Quantidade de dias na semana que os entrevistados sentiram dificuldades para dormir. Brasília, DF. 2008. O sono fragmentado por despertares noturnos também foi observado em outras pesquisas (ZANCHET; VIEGAS; LIMA 2004; ALMEIDA et al., 2003), como Pasini et al., (1996) ao observar que 83,3% (20) dos pacientes queixavam-se de sono interrompido. A nictúria pode desencadear insônia. Em alguns pacientes, a nictúria pode ser secundária à hipertrofia prostática ou administração de diuréticos, levando a repetidos despertares noturnos, contribuindo para o desenvolvimento ou manutenção da insônia. Também pode ser conseqüência de despertares noturnos, como ocorre na SAOS (CAMARGOS, 2004). Entretanto, neste estudo a nictúria justifica-se mais por uma necessidade fisiológica do que resultante de um processo patológico. Com relação aos pacientes que acordaram cedo sem voltar a dormir, 55,8% (29) respondeu não ter acordado cedo; 23,8% (12) acordou de duas a quatro vezes na semana; 9,6% (5) uma vez na semana; 3,8% (2) respondeu acordar cedo, mas voltam a dormir ou acordar cedo diariamente; 1,9% (1) respondeu acordar cerca de dez vezes ou não soube responder. Com relação à presença de sonolência matinal, 65,4% (34) das pessoas responderam que não sentiram, enquanto 21,2% (11) sentiu de dois a quatro dias na semana, 5,8% (3) diariamente, 1,9% (1) um dia na semana e 5,8% (3) de quatro a seis dias. Deste modo, verifica-se que o sono noturno – apesar de interrompido – foi reparador. 37 38 Não acorda à noite 1 vez por noite mais de 7 vezes 4 a 6 vezes por noite 2 a 4 vezes por noite 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 2 a 4 vezes por noite 4 a 6 vezes por noite mais de 7 vezes 1 vez por noite Não acorda à noite 55,8 23,1 7,7 7,7 5,8 Porcentagem Gráfico 3: Quantidade de vezes que os entrevistados referiram interrupções noturnas. Brasília, DF. 2008. A porcentagem de pacientes que apresentaram sonolência diurna é descrita no gráfico 4: 36,5% (19) pessoas relataram não sentir sono durante o dia. Contudo, 26,9% (14) sentiu sono de dois a quatro dias na semana, 19,2% (10) diariamente, 9,6% (5) de quatro a seis dias na semana e 7,7% (4) 1 dia na semana. Dois pacientes relataram que, algumas vezes, caminham durante o dia para evitar a sonolência diurna. Pasini et al., (1996) encontrou sonolência em um paciente de sua amostra. Percebe-se que a maioria 63,3% (33) referiu sentir sonolência entre um dia e todos os dias. 1 dia na semana 4 a 6 dias na semana Diariamente 2 a 4 dias na semana Não me sinto 0,0 10,0 Não me sinto Porcentagem 36,5 20,0 30,0 2 a 4 dias na 4 a 6 dias na Diariamente semana semana 26,9 19,2 9,6 40,0 1 dia na semana 7,7 Gráfico 4: Distribuição da freqüência de sonolência diurna semanal relatada pelos entrevistados. Brasília, DF. 2008. O gráfico 5 apresenta a freqüência de cochilos diurnos. Dentre os entrevistados, 36,5% 38 39 (19) dos pacientes cochilaram de duas a quatro vezes por dia; 26,9% (14) nunca cochila; 17,3% (9) uma vez ao dia; 5,8% (3) cochilaram de quatro a seis vezes ao dia; 3,8% (2) não souber responder ou cochila uma vez, mas não todos os dias ou ainda cochilaram, mas não sabem quantas vezes; e 1,9% (1) não respondeu. Ao total, 67,30% (35) dos pacientes cochilaram pelo menos uma vez ao dia. Não respondeu Cochila, mas não sabe quantas vezes 1 vez, mas não todos os dias Não sabe 4 a 6/dia 1/dia Nunca 2 a 4/dia 0,0 Porcentagem 10,0 20,0 2a 4/dia Nunca 1/dia 4a 6/dia Não sabe 36,5 26,9 17,3 5,8 3,8 30,0 40,0 1 vez, Cochil Não mas a, mas respon não não deu 3,8 3,8 1,9 Gráfico 5: Distribuição da freqüência de cochilos diurnos semanais referidos pelos entrevistados. Brasília, DF. 2008. O tempo de cada cochilo ficou em torno de 31 min, variando entre 5 mim e 2h. Camargos (2004) observa que apesar de resultados de estudos populacionais e experimentais realizados no passado criticarem o cochilo, outros estudos mais recentes e com melhores metodologias associam o hábito de cochilar a melhorias no sono noturno. Sendo assim, percebe-se que existem controvérsias com relação aos reais benefícios do cochilo. Muitos pacientes relataram que a sonolência diurna ou o cochilo ocorriam geralmente após o almoço - o que é um fato comum. Também pode ser justificada pelas poucas atividades lúdicas ou distrações durante a internação e ao longo tempo que os pacientes permanecem deitados. Quando avaliados com relação à vontade de dormir enquanto realizam outras atividades (como andar, conversar, comer, assistir televisão, fazer algum exame, tomar banho, leitura, dentre outras) 87,2% (43) das pessoas disseram não sentir sono; 5,8% (3) não responderam; a mesma quantidade relatou sentir diariamente ou 1 dia na semana 3,8% (2); e também a mesma quantidade 1,9% (1) sentiu de dois a quatro dias ou de quatro a seis dias na semana. Sendo assim, a sonolência excessiva ou hipersonia caracterizada, segundo Bittencourt et al., (2005) como a “propensão aumentada ao sono com uma compulsão 39 40 subjetiva para dormir e tirar cochilos involuntários, quando o sono é inapropriado” não mostrou ser um sintoma presente nesta população. Ao serem questionados quanto ao fato de tomarem algum medicamento para induzir o sono, 86,5% (45) relataram que não; 3,8% (2) tomaram um dia; 3,8% (2) de dois a quatro dias na semana; 1,9% (1) diariamente; 1,9% (1) acham que sim e 1,9% (1) não sabem. Duas pessoas relataram tomar Diazepan, uma referiu tomar o Rivotril e três pacientes não informaram qual seria a medicação. Uma paciente relatou tomar chá de erva doce ou camomila para auxiliar no sono. Neste estudo verificou-se que poucos pacientes necessitaram de medicação para dormir, conforme os resultados encontrados em outras pesquisas. (PASINI et al., 1996; CORRÊA; CEOLIM, 2008). Uma paciente relatou tomar diariamente medicação para dormir, porém esta não foi fornecida durante a internação. Outro paciente, ao relatar uma situação parecida, traz o remédio de casa e, ele próprio, dividir um comprimido ao meio a fim de suprir a necessidade de 2 dias no hospital. Três pacientes associaram a sonolência diurna como efeito colateral de medicamentos prescritos, como Prednisona, Prazosina e o outro remédio não foi informado. Quanto à latência do sono, ou seja, a tempo perdido devido à dificuldade em iniciar o sono, obteve uma média de 50 min, variando entre 7 min e 3h 30. Esse início tardio do sono pode estar relacionado aos cochilos diurnos e às atividades prévias - relatadas por alguns pacientes - como a leitura, assistir televisão e a espera pelo término da medicação que, além de outros fatores que serão descritos posteriormente, possam ter dificultado o sono. Camargos (2004) observa que a literatura utiliza valores acima de 30 minutos como critério de dificuldade para iniciar o sono em estudos epidemiológicos. Segundo este critério e em virtude da latência elevada, observa-se que a amostra avaliada neste estudo apresentou dificuldades para iniciar o sono. Dados semelhantes foram encontrados por Furnali e Ceolim (2006) no estudo em 20 mulheres hospitalizadas portadoras de câncer ginecológico e mama, em que a latência média de sono foi de 49 min. Uma latência do sono aumentada foi identificada por Zanchet, Viegas e Lima (2004) em pacientes portadores de DPOC; Luchesi (2005) descreveu como uma das principais queixas do sono observada na maioria dos transtornos psiquiátricos e Almeida et al., (2003) obteve a resposta “dificuldade para iniciar o sono” ao pesquisar 26% (10) de seus pacientes com epilepsia de lobo temporal. Ao serem questionados com relação ao Tempo Total de Sono (TTS) sem contar as interrupções, a média foi de 314,64 min. ou 5h 24 variando entre 2h e 8h. Nesta questão, três 40 41 pacientes não responderam, seis disseram que não sabiam e uma pessoa disse não dormir nenhuma hora por noite. Zanchet, Viegas e Lima (2004) ao submeter 27 pacientes com DPOC ao exame de PSG, obteve como resposta de TTS 321,3m, o que corresponde à 5h 21. Marosti e Dantas (2006, apud PORTO, 2001) afirmam que o período do sono é muito importante, pois várias transformações metabólicas e fisiológicas ocorrem neste período e interferem no desempenho adequado das funções orgânicas. Os entrevistados também foram questionados com relação ao horário em que decidiam dormir e não ao horário em que iam deitar, visto que a maior parte do tempo deitados. Sendo assim, o horário respondido foi em torno de 21h 30, sendo que a resposta mais encontrada foi 23h. Neste item, um paciente não soube responder. Este dado está de acordo com Corrêa e Ceolim (2008), em que os pacientes decidem dormir em torno de 21h 55. Já com relação ao horário de despertar o resultado foi de 5h 45, sendo que a resposta mais encontrada foi 6h. Nesta questão, duas pessoas não souberam responder. Alguns pacientes relataram que acordam quando ao início da rotina de trabalho no setor, visto que diariamente - a equipe de enfermagem pesa os pacientes nefropatas e ocorrem as visitas médicas. Não respondeu 4 a 6 d/sem 1 d/sem 2 a 4 d/sem Não sabe Diariamente Ronca, mas não sabe quantos dias Não ronco 0,0 10,0 Não ronco Porcentagem 42,3 20,0 30,0 40,0 Ronc Diari 2a4 1 Não a, amen d/se d/se sabe mas te m m 25,0 9,6 7,7 7,7 3,8 50,0 4 a 6 Não d/se respo m ndeu 1,9 1,9 Gráfico 6: Quantidade de dias na semana que os pacientes roncam enquanto dormem. Brasília, DF. 2008. Outro questionamento foi com relação ao paciente roncar enquanto dorme. (Gráfico 6) Considerando que a percepção do ronco é essencialmente uma impressão subjetiva, caso não soubesse a resposta, o acompanhante ou o companheiro de quarto poderiam responder. Sendo assim, 42,3% (22) informaram não terem roncado; 25% (13) roncaram, mas não sabem dizer quantos dias; 9,6% (5) roncaram diariamente; 7,7% (4) não souberam dizer; 7,7% (4) de dois 41 42 a quatro dias na semana; 3,8% (2) um dia na semana; 1,9% (1) de quatro a seis dias na semana e 1,9% (1) não responderam. Deste modo, 48% (24) pacientes referiram roncar, sendo que muitos pacientes relataram que roncam de acordo com a posição em que dormem. Segundo Balbani e Formigoni (1999), o ronco tem implicações médicas importantes, está associado à SAOS e, quando associado, o tratamento – em alguns casos – segue as mesmas orientações do tratamento da SAOS. Os pacientes que roncavam, a média de idade em que começaram a roncar ficou em torno dos 24 anos e 30 anos a quantidade de anos que permanecem roncando. Com relação às características do ronco (gráfico 7): 42,3% (22) referiram não roncar; 19,2% (10) roncaram o tempo todo com um som baixo; 7,7% (4) não soube responder ou roncaram muito alto, mas não de forma contínua e alto ou muito alto o tempo todo; 3,8% (2) não respondeu; e 1,9% (1) ronco moderado ou ronco baixo, mas não o tempo todo. Ao serem questionados sobre a estimativa da necessidade de horas de sono individual no hospital, a média de horas foi de 7h 53, variando entre 3h 30 e 12h; três pessoas não responderam; seis não sabiam; duas respondeu não ter este problema; cinco relataram estar dormindo o suficiente; uma disse que precisa de menos horas e uma respondeu necessitar dormir a noite toda. Apesar dos pacientes estabelecerem um tempo ideal de sono, e sendo 8h a resposta mais encontrada, Müller (2007) relata que a necessidade diária de sono depende das características e funcionamento diário de cada organismo. Sendo assim, um indivíduo pode dormir oito horas por noite e mostrar indisposição, falhas de memória e hipersonolência diurna, enquanto outro pode dormir apenas cinco horas e apresentar disposição e bem-estar. Contudo, Fonseca et al., (2008), observa que informações disponíveis na literatura acerca da associação entre sono e percepção de saúde referem-se tanto à qualidade quanto à quantidade do sono, revelando melhor percepção de saúde nos sujeitos que reportam sete a oito horas diárias de sono. A avaliação quantitativa mostrou que a maioria dos pacientes apresentou dificuldades para dormir, sono fragmentado, sonolência diurna com cochilos, latência de sono elevada, e maior necessidade de sono. Estes resultados sinalizam que – de modo geral – os pacientes apresentaram insônia durante a internação. Esta afirmação se baseia no conceito de Passos et al., (2007, apud AASM, 2005) quando a CIDS define a insônia como a dificuldade repetida para iniciar e/ou manter o sono, despertar precoce ou queixa de sono não reparador. Entretanto, a avaliação dos pacientes quanto à qualidade subjetiva do sono durante a internação apresentou como resultados: 42,3% (22) dos pacientes consideraram o sono bom; 32,7% (17) regular e 23,1% (12) responderam que foi ruim. Muitos pacientes responderam ter 42 43 um sono bom no hospital por dormirem o dia todo, ou seja, associam qualidade com quantidade. Sendo assim, observa-se que não é boa a percepção dos pacientes quanto à qualidade do próprio sono. Esta percepção alterada também foi observada por Zanchet, Viegas e Lima (2004) ao descrever uma pesquisa realizada com 8091 indivíduos europeus, em que 25% deles apresentavam uma latência do sono aumentada, contudo, apenas uma parte relatou a dificuldade para iniciar o sono em questionários, enquanto os outros afirmavam possuir uma boa qualidade do sono. Ronco baixo, mas não o tempo todo Ronco moderado Não respondeu Ronco o tempo todo/som muito alto Não sabe Ronco o tempo todo/som alto Ronco muito alto mas não o tempo todo Ronco o tempo todo/som baixo Eu não ronco 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 Eu Ronc Ronc Ronc Ronc Não Ronc Ronc Não não o o o oo o o resp o o sabe ronc temp muito temp temp onde mode baixo Porcentagem 42,3 19,2 7,7 7,7 7,7 7,7 3,8 1,9 1,9 Gráfico 7: Características do ronco referidas pelos entrevistados, acompanhantes ou colegas de quarto. Brasília, DF. 2008. Em relação ao sono de ambiente doméstico, 59,6% (31) referiu dormir bem e a quantidade de pessoas que responderam ser regular ou ruim foram iguais: 19,2% (10). Corrêa e Ceolim (2008) verificaram que maior parte dos 50 sujeitos pesquisados apresentou qualidade do sono ruim. As pessoas que consideravam o sono em ambiente doméstico bom, quando questionadas em relação ao sono no hospital, 25% (13) delas responderam achar bom no hospital, 19,23% (10) considerou regular, enquanto 13,46% (7) ruim. Deste modo, a maior parte considerou o sono bom, tanto em ambiente doméstico como em ambiente hospitalar. Em geral, os pacientes da população estudada apresentaram dificuldades para responder questões relacionadas ao tempo, visto que ao serem internados muitos têm percepção das horas baseada num programa de televisão, geralmente telejornal ou novela. Percebe-se assim que os entrevistados não reconheceram as alterações no sono identificadas neste estudo - como um problema, as quais poderiam afetar a melhora e o prognóstico dos pacientes. 43 44 6.3 AVALIAÇÃO QUALITATIVA A avaliação qualitativa foi baseada na pergunta “quais as diferenças entre o sono do ambiente hospitalar e o sono em ambiente doméstico”. Alguns pacientes relataram mais de uma resposta e foi considerada a quantidade de vezes que uma mesma opção foi referida. As respostas estão explanadas na tabela 3. Tabela 3: Diferenças entre o sono em ambiente doméstico e em ambiente hospitalar referidas pelos pacientes. Brasília, DF. 2008. Variáveis Fr 1. Ambiente: colchão, luz, cama, temperatura, movimento, pessoas ou colegas de quarto, barulho (música, 18 carro e britadeira), e tranqüilidade 2. Fator emocional: preocupação com o colega de quarto, em estar no hospital, doença, casa, filho, incapaci- 15 dade física e as intervenções da equipe de enfermagem 3. Aspectos relacionados à doença: tosse, náusea, dor, mal-estar, cateterismo e fraqueza 8 4. Intervenções da equipe: medicamento 7 5. Nenhuma diferença 7 6. Sono em casa é tranqüilo / melhor / mais longo ou mais protegido 6 7. Interrupções no sono 5 8. Dificuldades para dormir 4 9. Dorme mais / melhor no hospital 4 10. Indefinido 3 11. Tratamento: oxigênio e medicamento 3 12. Dificuldade para iniciar o sono 3 13. Acordar cedo no hospital 2 14. Fator individual: posição de dormir 1 15. Fator fisiológico: presença de suor noturno 1 16. Pouca liberdade no hospital 1 17. Turbulência 1 18. Acorda assustado 1 19. Não realiza tarefas 1 A resposta mais encontrada foi com relação ao ambiente, independente do sono ser melhor ou pior, o mesmo é influenciado por fatores como: as características do colchão, a luz e a temperatura do quarto, o tamanho da cama, o movimento de pessoas e carrinhos com materiais, a presença de pessoas ou colegas de quarto, a tranqüilidade do ambiente e o barulho (música em uma boate próxima ao hospital, carros na rua ou britadeira devido a uma construção ao lado do hospital). A influência ambiental pode ser percebida por meio do relato: “O movimento e o barulho atrapalham. Em casa é bom porque fico tranqüilo. Dormir fora de casa é estranho.” Paciente 9 44 45 Apesar de alguns pacientes reclamarem do barulho, outros disseram que o ambiente hospitalar é tranqüilo e sem ruídos. Essa diferença de respostas pode ser explicada pela própria arquitetura do HRAN, visto que o hospital apresenta um formato circular, sendo rodeado por prédios comerciais, residenciais e avenidas geralmente movimentadas. Sendo assim, dependendo da posição do quarto do paciente em relação ao ambiente externo o ruído pode influenciar na dificuldade de iniciar ou manter o sono. Este fato está de acordo com Otenio, Cremer e Claro (2007, apud PEREIRA et al., 2003), ao relatar que um local que deveria estar livre de poluição sonora seriam os hospitais, porém muitos estão localizados em áreas expostas a fontes de ruído externo e ao ruído do próprio hospital. Assim, esse ambiente torna-se ruidoso e estressante, aumentando a ansiedade e a percepção dolorosa, diminuindo o sono e prolongando a convalescença. Já o fator emocional ocupou o segundo lugar, caracterizado pelos pacientes como a preocupação por estar no hospital, com a própria doença, as intervenções da equipe de enfermagem, os colegas de quarto, a incapacidade física, a própria casa, as responsabilidades fora do hospital e os filhos, dado observado pelo depoimento: “Em casa eu dormia tranqüilo; aqui só durmo preocupado em estar aqui. Fiquei rolando na cama esta noite.” Paciente 12 O terceiro item avaliado pelos pacientes foram os sinais e sintomas ou aspectos relacionados à doença que atrapalhavam o sono, como dor, náuseas, tosse, mal-estar, fraqueza a necessidade de realizar cateterismo. Estes aspectos podem ser demonstrados por meio deste relato: “A dor atrapalha a dormir. Não adianta deitar cedo que a dor não deixa. Fico deitado pra não ficar andando. Normalmente já acordo cedo.” Paciente 8 As alterações no sono são freqüentes em pacientes que sofrem de dor crônica. Corrêa e Ceolim (2008, apud PIMENTA, 2000) também encontraram forte associação entre transtornos do sono e doenças e/ou morte e que a dor interfere na capacidade de conciliar o sono em pacientes com dor crônica. De forma semelhante, Müller (2007, apud MCCRAE et al., 2003) refere que a dor e diferentes condições clínicas são exemplos de fatores que podem afetar a quantidade e a qualidade do sono. A presença da tríade “fator ambiental, fator emocional e presença de dor” alterando o sono observado nesta pesquisa, também foi avaliado em outros estudos (CORRÊA; CEOLIM, 2008; PASINI et al., 1996). Marosti e Dantas (2006) encontraram em 43 pacientes de uma 45 46 unidade coronariana o item estressor “não conseguir dormir”, correlacionando a tríade com a presença de equipamentos sonoros e luminosos e muitos outros fatores que combinaram-se para dificultar o sono/repouso dos pacientes. Não dormir e ter dor causam desconforto físico e psicológico no paciente, o que somado às condições da internação aumentam seu estresse. Medidas terapêuticas devem ser direcionadas a todas as potenciais causas, com ênfase na criação de um ambiente favorável que facilite o início do sono, diminua o número de interrupções e possibilite a manutenção do ciclo sono-vigília nestes pacientes (BITENCOURT et al., 2007). O item intervenções da equipe aparece em quarto lugar e em termos de freqüência foi mencionado sete vezes, mais especificamente relacionado à administração de medicamentos. Segundo a rotina da unidade, os horários das administrações de medicamentos são às 8h, 16h e 24h e 6h, 12h, 18h e 24h para medicações de oito e seis horas, respectivamente. Deste modo, percebe-se a administração das últimas medicações da noite podem afetar o sono dos pacientes, visto que a maioria relatou ir dormir às 21h 30. Este item foi avaliado por um paciente da seguinte forma: “O sono em casa é melhor e você deita despreocupado. Aqui, entra alguém para dar remédio e você fica numa expectativa porque alguém vai vim para interromper”. Paciente 46 Todavia, alguns pacientes relataram não haver diferença ou não definiram alguma; outros responderam que o sono em ambiente doméstico é tranqüilo, melhor, mais longo ou mais protegido; presença de um sono melhor ou mais longo no hospital, bem como itens já verificados na análise quantitativa. Outras diferenças relatadas três vezes foram em relação ao tratamento - oxigenoterapia e medicamento - e a dificuldade de iniciar o sono em ambiente hospitalar. Um item que obteve apenas uma resposta foi: acordar cedo no hospital. As respostas menos encontradas foram em relação ao fator individual, como a posição de dormir; ao fator fisiológico, como a presença de suor noturno; a pouca liberdade no ambiente hospitalar; à presença de sono turbulento no ambiente hospitalar; ao fato de se acordar assustado e a não realização de tarefas cotidianas. Outra pergunta na avaliação qualitativa foi: “se você tem problemas relacionados ao sono, quais seriam?”. Com relação aos problemas anteriores a internação – a fim de se verificar a piora na qualidade do sono – cada paciente respondeu apenas um item conforme o que apresentava. As respostas foram explanadas na tabela 4. A resposta mais encontrada foi a ausência de problemas. Contudo, uma parte respondeu 46 47 apresentar insônia, bem como preocupação e apnéia afetando o sono. Tabela 4: Problemas relacionados ao sono anteriores à internação. Brasília, DF. 2008. Variáveis Fr 1. Sem problemas 26 2. Insônia: levanta para urinar 5 3. Preocupação 5 4. Indefinido ou não sabe 5 5. Apnéia do sono 3 6. Não dorme: devido ao remédio 3 7. Dificuldade para dormir: em ambientes diferentes 3 9. Interrupção devido ao barulho 1 10. Dificuldade em iniciar o sono 1 Alguns pacientes que responderam conviver com a insônia, referiram como causa a necessidade de levantar para urinar. Este dado está de acordo com o achado referente às interrupções noturnas já descritas. Observa-se também, ao longo da pesquisa, que o fator emocional apresenta-se como agravante ao sono tanto em ambiente doméstico, como no ambiente hospitalar, sendo que a insônia e a preocupação referidas pelos pacientes apresentam uma relação comum na literatura. Reimão (1996) afirma que a insônia e ansiedade são sintomas freqüentemente coexistentes, referidos como desagradáveis, frustrantes e afetando diretamente a qualidade de vida, sendo que um é desencadeador ou reforçador do outro. Ressalta ainda que são manifestações comuns nos transtornos primários do sono e que em pacientes que apresentam insônia como queixa principal, a ansiedade pode estar implicada como fator causal, com alguma freqüência. Nesta questão, cinco entrevistados não definiram um problema; três disseram que não dormem devido à medicação; e outros três geralmente sentem dificuldades para dormir devido a mudança de ambiente. Duas pessoas não souberam responder, um paciente referiu apresentar interrupção no sono devido ao barulho e uma pessoa relatou ter dificuldade em iniciar o sono. Dos pacientes que referiram ter insônia e apnéia do sono antes da internação, alguns já haviam recebido o diagnóstico, enquanto os outros apenas acreditavam apresentar o problema. Observa-se nesta questão, segundo a opinião os entrevistados, que a maioria dos pacientes já apresentavam os problemas acima relatados e, os mesmos, continuaram durante a internação. Todavia, fatores inerentes à hospitalização – já mencionados – poderiam afetar 47 48 ainda mais o sono destes pacientes. Dois pacientes tiveram pesadelos durante a internação, mas não classificaram como um problema relacionado ao sono. Em vista disto, verifica-se que ao questionar a existência prévia de algum problema, percebe-se que os pacientes não conhecem o que seriam as alterações no sono, devido ao fato de não terem uma boa percepção do sono. Diante do exposto, a avaliação qualitativa evidenciou que as principais diferenças entre o sono em ambiente doméstico e em ambiente hospitalar são o ambiente, o fator emocional, a doença e as intervenções de enfermagem. Também é possível observar que a maioria dos pacientes acredita não ter alterações no sono anteriores à internação, enquanto que aqueles que apresentam, ressaltam que os principais problemas seriam a insônia, preocupação e a apnéia do sono. 48 49 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados sugerem que ocorreram alterações no sono durante a hospitalização, que corroboraram com a insônia, visto que apesar dos pacientes dormirem um tempo relativamente bom, apresentaram dificuldades para iniciar o sono, que mostrou-se fragmentado e sofrendo interferências de fatores ambientais, emocionais, patológicos e das intervenções da equipe de enfermagem - apontados como as principais diferenças entre o sono em ambiente hospitalar e o sono caseiro e confirmados pela literatura. Uma pequena parte dos entrevistados já convive com a insônia e apnéia do sono. Observa-se ainda que os pacientes tiveram uma boa adaptação ao ambiente hospitalar, visto que a maioria considera ter dormido bem. Sendo assim, a internação – na opinião dos pacientes - não mostrou ser um fator agravante no sono da população estudada. Com isto, percebe-se que os pacientes não apresentam uma boa percepção do sono ou o que seriam as alterações no seu padrão. De modo geral, as pessoas acreditam que dormir uma média de 8h por noite seria o necessário, porém a literatura não confirma este fato. Sugere-se a realização de novas pesquisas avaliando as alterações no sono de pacientes internados em outras unidades, como maternidade, pediatria, cardiologia e etc, correlacionando os achados com as respectivas patologias ou situações clínicas. Sugere-se também a avaliação do sono após intervenções de enfermagem em pacientes com sono alterado, a fim de avaliar a real eficácia das condutas de enfermagem. A atualização de conhecimentos acerca dos problemas de sono melhora a atuação dos profissionais de saúde e sua habilidade para a detecção, manejo e prevenção dos mesmos, em ambiente hospitalar. Os resultados deste estudo podem contribuir para esse melhor direcionamento da assistência ao paciente internado, considerando as características definidoras e os fatores relacionados que mais contribuem para um padrão de sono perturbado de maneira a proporcionar condições para que esses pacientes obtenham um padrão de sono mais saudável, contribuindo, ao final, para o aumento da qualidade de vida desses pacientes. 49 50 8. RECOMENDAÇÕES Como parte de uma equipe multidisciplinar, o enfermeiro deve buscar a implementação de medidas que possam melhorar o quadro de alterações no sono e, dessa forma, promover um aumento na qualidade do sono das pessoas acometidas. Diante dos achado, sugere-se os seguintes cuidados ou intervenções: Investigar melhor as queixas de alterações no sono dos pacientes, com relação à causa, duração e relacionado com a patologia; Construir um protocolo de investigação, prevenção e tratamento de alterações do sono baseado nas intervenções de enfermagem; Procurar eliminar os inúmeros fatores - psicológicos, ambientais e relacionados à doença - que estejam interferindo na boa qualidade do sono; Orientar os pacientes que apresentarem transtornos do sono anteriores a internação a procurar o tratamento adequado quanto ao problema; Proporcionar atividades aos pacientes durante o dia a fim de que diminuam a sonolência diurna e a quantidade de cochilos; Instruir a equipe de enfermagem a fim de que possam administrar medicações ou quaisquer outros procedimentos com o máximo de discrição possível; Proporcionar atividades relaxantes antes de dormir; Estimular a promoção da educação continuada da equipe multiprofissional, visando à pronta detecção de alterações do sono e o emprego da assistência adequada; Orientar aos pacientes quanto à realização de atividades prévias anteriores ao sono que podem ser prejudiciais; Instruir os pacientes e acompanhantes quanto à necessidade de silêncio no período de sono dos demais pacientes; Verificar na prescrição dos pacientes os medicamentos que possam estar causando insônia ou sonolência como efeitos colaterais; Procurar - conforme o possível - adaptar os horários das medicações, respeitando o sono dos pacientes. 50 51 9. 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Por favor, responda estas questões: Código de identificação: Data da avaliação: Idade: Sexo: Profissão: Residência: Unidade: Data de admissão: Motivo da internação: Cor ( ) Branco ( ) Preto ( ) Pardo ( ) Amarelo Escolaridade ( ) nunca freqüentou a escola ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo ( ) Pós-graduação Renda mensal familiar ( ) Menos que 1 salário-mínimo ( ) 1 salário-mínimo ( ) 2 salários-mínimos ( ) 3 salários-mínimos ( ) mais de 4 salários-mínimos Estado civil ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Separado ( ) Viúvo 10.2 55 56 10.2 APÊNDICE B – AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SONO Avaliação da Qualidade do Sono - Basic Nordic Sleep Questionnaire (BNSQ) Instruções: As questões a seguir referem-se aos seus hábitos de sono desde o dia em que você foi internado até hoje. Sua resposta deve ser o mais exato possível para a maioria dos dias e noites. Por favor, responda estas questões: 1.Você sente dificuldades para dormir durante os dias de internação? 1) Não sente 2) 1 dia por semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias na semana 5) diariamente 2.Quanto tempo você permanece acordado na cama antes de dormir (depois que as luzes apagam).? Fico acordado _________ minutos por noite. 3.Se você acorda durante a noite, geralmente quantas vezes isto acontece? 1) Não acordo à noite 2) 1 vez por noite 3) 2 a 4 vezes por noite 4) 4 a 6 vezes por noite 5) mais de 7 vezes 4.Com freqüência você acorda cedo, sem conseguir voltar a dormir? 1) Não acordo 2) 1 vez na semana 3) 2 a 4 vezes na semana 4) 4 a 6 vezes na semana 5) diariamente 5.Como você avalia a qualidade do seu sono durante este período de internação? 1) Bom 2) nem bom nem ruim 3) Ruim 6.Durante este período de internação, você está tomando algum remédio para dormir? 1) Não estou tomando 2) 1 dia na semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias a semana 5) diariamente Qual o nome do medicamento?___________________________________ 7.Você sente um sono muito forte quando acorda pela manhã? 1) Não sinto 2) 1 dia na semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias a semana 5) diariamente 56 57 8.Você se sente sonolento durante o dia? 1) Não me sento 2) 1 dia na semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias a semana 5) diariamente 9.Você sente uma irresistível vontade de dormir enquanto faz outras atividades no tempo em que está internado (atividades como andar, conversar, comer, assistir televisão, fazendo algum exame, tomar banho, leitura e etc)? 1) Não sinto 2) 1 dia na semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias a semana 5) diariamente 10.Quantas horas você geralmente dorme por noite no hospital? Eu durmo ______________ horas por noite. 11.Qual o horário em que você geralmente vai dormir? __________ h 12.Qual o horário em que você geralmente acorda? ___________ h 13.a)Com que freqüência você tira um cochilo durante o dia? 1) Nunca 2) 1 vez ao dia 3) 2 a 4 vezes ao dia 4) 4 a 6 vezes ao dia 5) mais de 7 vezes b) Se você tira um cochilo, quanto tempo você geralmente dorme ou dormiu pela última vez? Meu cochilo é (ou foi) geralmente ______ h _______min. 14.Você ronca enquanto dorme? Se não tiver certeza, pergunte a alguém ou ao seu companheiro de quarto. 1) Não ronco 2) 1 dia na semana 3) 2 a 4 dias na semana 4) 4 a 6 dias a semana 5) diariamente 15.Se você ronca, como é o seu ronco? Pergunte a alguém ou ao seu companheiro de quarto como é a qualidade do seu ronco. 1) Eu não ronco 2) Ronco o tempo todo e com um som baixo 3) Ronco o tempo todo e com um som alto 4) Ronco o tempo todo e com um som muito alto (outra pessoa escuta no quarto ao lado) 5) Eu ronco muito alto, mas não o tempo todo (há pausas silenciosas quando ronco e acordo com falta de ar). 16.Se você ronca menos entre uma e duas vezes na semana, há quantos anos você ronca? Eu ronco há ______ anos. Eu tinha _____ anos quando comecei a roncar. 57 58 17.Em sua opinião, quantas horas de sono você dormiria se tivesse a possibilidade de dormir tanto quanto precisasse? Eu preciso de ______ horas de sono por noite. 18.a) Como você dormia em casa? 1) Bom 2) nem bom nem ruim 3) Ruim b) Que diferença você sentiu em relação ao sono que tem no hospital? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 19.Se você tem problemas relacionados com o seu sono, que tipo de problemas são estes? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 58 59 10.3 APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE O (a) Senhor(a) está sendo convidado(a) a participar do projeto: Fatores que interferem na Qualidade do Sono de pacientes internados em uma Unidade de Clínica Médica de um Hospital público – Brasília, 2008. O nosso objetivo é analisar como é o sono de pacientes internados em uma instituição hospitalar – observando os fatores que podem alterá-lo - a fim de propor sugestões para a melhoria na qualidade do sono durante a hospitalização por meio da atuação do profissional enfermeiro. O(a) senhor(a) receberá todos os esclarecimentos necessários antes e no decorrer da pesquisa e lhe asseguramos que seu nome não aparecerá sendo mantido o mais rigoroso sigilo através da omissão total de quaisquer informações que permitam identificá-lo(a). A sua participação será através de um questionário que você deverá responder no setor de Clínica Médica. Não existe obrigatoriamente, um tempo pré-determinado, para responder o questionário, sendo respeitado o tempo de cada um para respondê-lo. Informamos que a Senhor(a) pode se recusar a responder qualquer questão que lhe traga constrangimento, podendo desistir de participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para a senhor(a) no seu entendimento. Os resultados da pesquisa serão divulgados aqui no Setor de Clínica Médica e para todo o Hospital Regional da Asa Norte podendo inclusive ser publicados posteriormente. Os dados e materiais utilizados na pesquisa ficarão sobre a guarda da FEPECS (Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde). Se o Senhor(a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor telefone para: Profª Wilton Keith Inaba na instituição Universidade Católica de Brasília - QS 07 Lote 1 EPCT, Sala S 301, CEP 71966-700, Águas Claras – Taguatinga – DF / Telefone: 3356-9052 ou 9649-9669 / e-mail ([email protected]) em horário comercial ou Lídia Ester Lopes da Silva / telefone: 3354-1548 / 9979-2204 / e-mail: ([email protected]). Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da SES/DF. Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador responsável e a outra com o(a) senhor(a). ______________________________________________ Nome / assinatura: ____________________________________________ Pesquisador Responsável Nome e assinatura: Brasília, ___ de __________de _________ 59 60 11. ANEXO 11.1 ANEXO A– PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA 60