ARTIGO ORIGINAL ORIGINAL ARTICLE Programas de promoção da saúde no sistema suplementar: avaliação de profissionais e usuários Promotion health system supplemental: evaluation of professionals and users Programas de sistema de promoción de la salud extra: evaluación y los usuarios profesionales Autores Resumo Mayara Lima Barbosa1 Suely Deysny de Matos Celino 2 Gabriela Maria Cavalcanti Costa1 1 2 Universidade Estadual da Paraíba. Faculdade de Ciência Médicas. Objetivo: Objetivou-se assimilar a avaliação de gestores, profissionais de saúde e usuários acerca das ações e programas de PS e prevenção de doenças implementados pela operadora de plano de saúde. Métodos: Estudo exploratório, qualitativo, realizado uma operadora de plano de saúde, nas cidades de João Pessoa, Recife e Natal. Foram realizadas 36 entrevistas, associadas através de estratégia de triangulação e posterior analise de conteúdo. Resultados: Da qual emergiram as categorias temáticas: avaliação dos programas e ações e avaliação da execução. Conclusão: A avaliação dos programas esteve relacionada à redução dos custos assistenciais e a melhoria da qualidade de vida. A avaliação sobre a execução revelou a satisfação dos envolvidos, embora entraves organizacionais tenham sido relatados. Palavras-chave: avaliação em saúde, prevenção de doenças, promoção da saúde, saúde suplementar. Abstract Objective: Goal was to assimilate the evaluation of managers, professionals and users about actions and PS and disease prevention programs implemented by health plan provider. Methods: A exploratory and qualitative study performed in health plan in the cities of João Pessoa-PB, Recife-PE and Natal-RN. The interviews were transcribed and attached to each other through triangulation strategy. Later the technique of content analysis was used. Results: The following thematic categories emerged: evaluation of programs and actions and evaluate the implementation. Conclusion: The impacts were related to cost reduction assists and improved quality of life. A review of the programs revealed the satisfaction of those involved, although organizational barriers have been reported. Keywords: disease prevention, health evaluation, health promotion, supplemental health. Resumen Objetivo: Dirigido a asimilar la evaluación de directivos, profesionales y usuarios sobre las acciones y los PS y los programas de prevención de enfermedades aplicadas por el proveedor de plan de salud. Métodos: Estudio cualitativo exploratorio un operador de un plan de salud, las ciudades de João Pessoa, Recife y Natal. Evaluación de la aplicación y evaluación de los programas y acciones: Se realizaron 36 entrevistas, asociado a través de la estrategia de la triangulación y el posterior análisis de contenido. Resultados: Que surgió de las categorías temáticas: evaluación de los programas y las acciones y evaluar la aplicación. Conclusión: La evaluación de los programas se relacionó con menores costos de cuidado de la salud y mejorar la calidad de vida. La evaluación de la aplicación revela la satisfacción de los implicados, aunque se ha informado de las barreras organizativas. Palabras-clave: evaluación en salud, prevención de enfermedades, promoción de la salud, salud complementaria. Data de submissão: 12/11/2014. Data de aprovação: 18/11/2014. Correspondência para: Mayara Lima Barbosa. Universidade Estadual da Paraíba. Rua Santo Antonio, nº 90, Santo Antonio, Campina Grande, PB, Brasil. CEP: 58406-025. E-mail: [email protected] DOI: 10.5935/2446-5682.20150009 Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde 1 (1) Janeiro/Junho 2015 http://www.redcps.com.br / e-mail: [email protected] 53 Promoção da saúde no Sistema Suplementar Barbosa ML, Celino SDM, Costa GMC Rev. Enf. 2015 Jan-Jun; 1(1):53 - 58 INTRODUÇÃO Trinta e seis sujeitos participaram da pesquisa, entre os três grupos de participantes. A coleta de dados foi realizada através de entrevistas semiestruturadas adaptadas a partir dos estudos empreendidos sobre PS e prevenção de doenças5. As perguntas objetivavam conhecer a assistência praticada pela operadora, bem como a avaliação de diversos aspectos envoltos no programa. Primariamente, todas as entrevistas foram transcritas e os dados coletados com os diferentes atores foram associados entre si através de estratégia de triangulação, que neste estudo buscou a utilização de “múltiplas amostras de sujeitos para pesquisar um mesmo assunto/tema”4 visando à ampliação da compreensão acerca do fenômeno. Após essa etapa, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo para apreciação dos dados das entrevistas6. A analise de conteúdo foi realizada em etapas, a saber: na primeira fase os objetivos do estudo foram retomados e o material para ser analisado foi organizado. Durante a segunda fase, foram elaboradas as categorias e subcategorias, a partir do agrupamento das unidades de registro e de contexto que possuíam o mesmo significado. Por fim, a terceira fase correspondeu ao tratamento dos resultados obtidos e sua interpretação. Tendo em vista as falas obtidas nas entrevistas, emergiram a seguintes categorias e subcategorias: avaliação dos programas e ações e avaliação da execução. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual da Paraíba, apresentando CAAE 0770.0.133.000-11. Todos os sujeitos foram identificados através de códigos, formados por letras do alfabeto grego e brasileiro e números. O setor de saúde suplementar surge em decorrência das crises de ineficiência da Previdência Social, relacionadas ao grande aumento de beneficiários, com consequente desqualificação da assistência médica praticada1. Esse tipo de atenção médica privada, realizada através de convênios e planos de saúde, direcionada a pessoas e/ou empresas que pagavam pelos serviços foi regulamentada partir da publicação da Lei 9.656/1998 e pela criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), através da Lei 9.961/20002. Entre as competências da agência, estão o controle e a avaliação dos aspectos referentes ao acesso, manutenção e qualidade dos serviços prestados, pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde2. A ANS, como agencia regulamentadora,publicou a Resolução nº 94, que dispõe sobre os incentivos e critérios condicionados à adoção de programas de promoção da saúde - PS e prevenção de riscos e doenças pelas operadoras de planos de saúde2. O objetivo da regulamentação foi incentivar a reorientação dos modelos assistenciais vigentes, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos usuários de planos privados de saúde2. Tal interesse da ANS surge em decorrência da percepção queas práticas assistenciais nesse setor são baseadas tão somente no modelo biomédico, havendo uma crescente concentração de consultas médicas especializadas, exames diagnósticos, terapias, internações e cirurgias que nem sempre se traduzem em maior resolutividade e recuperação da saúde2. Além disso, evidenciou-se crise financeira no setor suplementar, sendo necessário repensar a assistência praticada, a fim de reduzir os custos assistenciais, sem contudo, desqualificar a prestação do serviço em saúde3. Nesse ínterim, objetivou-se assimilar a avaliação de gestores, profissionais de saúde e usuários acerca dos programas ações de PS e prevenção de doenças implementados pela operadora de plano de saúde. RESULTADOS E DISCUSSÃO Caracterização dos sujeitos Aamostra dogrupode gerentesé formada por três sujeitos do sexo masculino e média de idade igual a 38,66 anos. Acerca da formação em nível superior, dois gerentes cursaram Administração de Empresas e um gerente Ciências Contábeis. Todos possuem pós-graduação, as áreas citadas foram: Gestão de Planos de Saúde; Gestão de Sistema de Saúde e MBA Gestão Empresarial. A média de tempo que atuam na empresa foi de 14,66 anos, sendo os últimos 7 anos dedicados também ao trabalho nos programas de PS. Foram entrevistados 21 profissionais, 06 do sexo masculino e 15 do sexo feminino, com média de idade do grupo igual a 40,28 anos. Sobre a formação, 18 sujeitos afirmaram possuir curso de graduação e 3 nível médio. Dentre os profissionais com nível superior, 17 afirmam possuir pós-graduação. O tempo médio de atuação na empresa correspondeu à média de 11,5 anos, sendo 4,9 anos destinados aos trabalhos com a PS. Participaram da pesquisa 12 usuários, apresentando média de idade correspondente a 58,60 anos. Destes, 06 são do sexo masculino e 06 do sexo feminino. No que se refere à formação, METODOLOGIA Trata-se de um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, realizado no período de novembro/2011 a junho/2012. Foram selecionadas unidades clínicas estaduais, nas cidades de João Pessoa/PB, Recife/PE e Natal/RN, de uma operadora de plano de saúde nacional. Os dados foram coletados em três grupos de sujeitos representados por gerentes, profissionais de saúde e usuários. O critério geral de inclusão4 para a seleção dos gerentes e profissionais foi atuar no planejamento ou execução de algum programa de PS e prevenção de doenças proposto pela operadora há pelo menos seis meses. Entre os usuários, estes deveriam participar de algum programa de PS e prevenção de doenças e ter estado presente, no mínimo, em três atividades/encontros desse programa no último ano. Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde 1 (1) Janeiro/Junho 2015 http://www.redcps.com.br / e-mail: [email protected] 54 Promoção da saúde no Sistema Suplementar Barbosa ML, Celino SDM, Costa GMC Rev. Enf. 2015 Jan-Jun; 1(1):53 - 58 9 afirmaram possuir curso superior e apenas 3, nível médio. Todos os usuários entrevistados pertencem ao tipo de plano destinado a funcionário/aposentado da instituição bancária que contribui para o patrocínio do plano de saúde,o tempo médio de adesão ao plano foi de 33,20 anos. “A Operadora de precisa de mais profissional, mais gente para trabalhar nessa unidade” ɤu6. A respeito dos obstáculos referidos pelos sujeitos, há reafirmação que os problemas inerentes a organização do serviço, aliados aos entraves e limites na estrutura interferem negativamente no desenvolvimento de algumas atividades, resultando em insatisfação quanto ao grau de implantação de programas9. A partir do momento que a empresa propõe uma nova forma de praticar sua assistência, cria o compromisso com a qualidade na execução, independente da redução de gastos almejada8. Contudo, a redução dos custos com a assistência é um objetivo passível de ser alcançado a partir do modelo de atenção à saúde implantado pela operadora de plano de saúde estudada, sem prejudicar a assistência à saúde prestada (ANS, 2008). Sobre esses aspectos, houve fala de todos os sujeitos, afirmando que a redução dos custos operacionais tem impactado positivamente a regulação econômica da empresa, após a implantação do programa de PS e prevenção de doenças na instituição. “Os indicadores mostram que nossa atuação tem provocado a diminuição da média de consultas na rede aberta. A média de internação e de dias internados também tem diminuído. Essa intervenção tem mostrado a redução de custo” αgu. “Teve redução de custo grande, a gente teve uma redução de sequelas e,no tratamento com doenças crônicas, houve diminuição de custo; a questão de internação” αp8. “Acho que reduz os custos, porque atacam antes das doenças se instalarem” αu2. Os resultados dessa pesquisa assemelham-se aos fornecidos pela ANS, quando publicou o “Panorama das ações de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar” e, constatou que entre as empresas que adotam programas de PS e realizaram avaliações, a redução dos custos assistenciais foi apresentada como principal resultado obtido10. Esse fato está condicionado à melhoria das condições de vidas das pessoas envolvidas e consequente redução de agravos, reduzindo os custos oriundos de assistências médicas11. Uma vez que, eliminados os fatores de risco condicionados ao estilo de vida, 80% dos agravos cardíacos, dos acidentes vasculares encefálicos e da diabetes tipo 2 poderiam ser evitados, e ainda, cerca de 40% dos cânceres poderiam ser prevenidos12. Dessa forma, a mudança do modelo assistencial, através da realização das ações dos programas de PS e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar, implicam na melhoria da qualidade de vida das pessoas, por acrescentar ao cotidiano dos usuários modos de vida mais saudáveis (ANS, 2011). Sobre a melhoria da qualidade de vida como percebidas por meio das ações desenvolvidas, todos os gerentes apresentaram discurso nesse sentido, corroborando com o discurso prestado pelos profissionais e usuários. “A gente percebe, os usuários comentam da melhoria da qualidade de vida”ɤgu. CATEGORIAS TEMÁTICAS Avaliação dos programas e ações A avaliação dos programas de PS e Prevenção de Doenças deve ser atividade realizada continuamente, pois a redução de gastos - objetivo visível das operadoras - não se encontra livre de conflitos de interesse, e se não manejado corretamente, poderá resultar em diminuição da qualidade de vida do usuário, em decorrência da desassistência à saúde7. Entre os gerentes das três unidades, houve avaliação positiva dos programas e ações de PS desenvolvidos, no sentido de atender aos objetivos desejados, afirmativa que se mostrou próxima aquelas fornecidas por parte profissionais e ainda foi apresentada por usuários. “São programas que buscam atender na saúde coletiva e têm impacto muito concreto na QV das pessoas e na redução de gastos na Operadora” αgu. “A gente consegue visualizar que realmente há um efeito positivo” α p4. “Quem vem para cá vem satisfeito e sai satisfeito, por que você tá adquirindo conhecimento, a respeito daquilo que você tá vindo saber” αu2. A eficiência constatada pelos atores da pesquisa converge com outros estudos, visto que osprogramas que tendem a promover saúde e prevenir doenças têm sido bastante eficientes para a redução de gastos no setor suplementar, sendo este enfoque responsável por convergir não apenas com os interesses do mercado, mas também contribuir com a saúde dos usuários7. Entre os usuários, os encontros para o desenvolvimento dos programas de PS e prevenção de doenças são entendidos como espaços que possibilitam a formação/fortalecimento de vínculos de amizades e aquisição de novos conhecimentos, que irão possibilitar a autonomia, ou seja, a possibilidade de cuidar de sua própria saúde8. Em contrapartida, a avaliação sobre os programas e ações para outros profissionais e usuários demonstrou baixa satisfação em decorrência de entraves organizacionais e de recursos. “Os programas são maravilhosos. O conteúdo e equipes preparadas nós temos, mas não temos pernas suficientes para abarcar todos os programas e realmente dar assistência aos associados”ɤp1. “A gente desprende muita energia, gastos e às vezes a adesão não é aquela esperada, então isso é a parte negativa, isso desestimula um pouco” αp1. “Uma sugestão que faço é a abrangência dos programas. Eles ainda não conseguiram abranger todo mundo” ɤu2. Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde 1 (1) Janeiro/Junho 2015 http://www.redcps.com.br / e-mail: [email protected] 55 Promoção da saúde no Sistema Suplementar Barbosa ML, Celino SDM, Costa GMC Rev. Enf. 2015 Jan-Jun; 1(1):53 - 58 “Se você promove saúde vai ter melhor qualidade de vida” ɤp1. “Impacta na condição de vida do usuário, quem participa tem um índice de vida melhor” ɤu6. A respeito da elevação na qualidade de vida sentida pelos funcionários do plano e autorreferida pelos usuários, é importante refletir sobre os quadros de adoecimentos, pois estes geram custos para as empresas e estresse para o usuário. Compreendendo que grande parte dos agravos que acometem a população poderia ser evitada, essa situação de sofrimento torna-se desnecessária. A qualidade de vida advinda de programas de PS e prevenção de doenças também tem se mostrado intimamente relacionada à integralidade da assistência, visto que potencializa a melhor vivência do usuário, possibilitando bem estar e autonomia para o próprio cuidado e necessidade de saúde8, estimula a adoção de hábitos de vida mais saudáveis11, além de possibilitar o diagnóstico precoce de agravos à saúde, preferencialmente quando sinais e sintomas ainda não estão evidentes, realidade que a médio e longo prazo acarretará na diminuição das internações e outros procedimentos de muito maior custo7. “Como em toda situação há limitações, há inseguranças, às vezes a gente gostaria de tá fazendo mais, mas a gente não consegue abraçar por que a demanda é grande e muitas vezes a gente não consegue” ɤp2. Limites de recursos utilizados para as ações de saúde é uma realidade apontada tanto no setor público, quanto no setor privado e foi abordado entre aqueles que executam as ações. A falta de recursos adequados é um fator bastante reconhecido, no que concerne a execução das atividades em instituições de saúde, tendo se mostrado um grande entrave nessas situações7. Em apenas um discurso profissional, no estado α, considerou-se que a satisfação profissional também está relacionada aos indicadores/cumprimento de metas e ao desempenho em comparação a outras equipes. “Muitas vezes há uma certa tensão quando você tá abaixo de certo indicador, porque a gente faz uma comparação das equipes. Ou as coisas melhoravam ou eu ia sair da (operadora de saúde), eu já tava decidido a fazer isso, porque em toda reunião, minha equipe tinha o pior indicador dos três, e eu era chamado na gerência todo tempo” αp6. Pode-se observar pela fala, que o estresse gerado a partir da cobrança pelo alcance das metas, por vezes é bastante incisivo e presente, chegando a levar o profissional a cogitar a possibilidade de se desligar da empresa. A valorização do profissional favorece a execução das atividades laborais, apesar da recorrente baixa satisfação profissional em relação ao reconhecimento do seu trabalho16. Sobre esse aspecto, grande parte das avaliações empreendidas em sistema de saúde está direcionada à verificação de metas e administração de recursos17. No que se refere à satisfação dos usuários,gerentes, profissionais, os próprios usuários afirmaram que percebem bons níveis de satisfação em relação ao programa de PS. “Os beneficiários têm reportado inclusive por meio de pesquisas, um grau de satisfação muito bom. A pesquisa mostra se o atendimento é satisfatório, o cuidado é satisfatório sobre a equipe, o atendimento, o retorno” αgu. “Os usuários veem como uma atividade positiva da equipe; sente feliz em saber preocupação da equipe com ele, se sente importante, então isso é uma parte positiva na avaliação” αp1. “Nós somos bem recebidos, bem atendidos, bem explicados, qualquer dúvida a gente vem aqui não tem problema, eles ligam” αu5. A literatura afirma que a satisfação dos usuários não está relacionada a simples ocorrência do atendimento, ou a presença de estrutura, médicos e preço adequados, considera também o contentamento em relação a assistência qualificada, resultante de uma atenção sanitária recebida18. Qualificar a assistência constitui-se um dos pilares centrais das ações advindas da reformulação do setor saúde. Ainda ficou notório na entrevista do gerente ɤ que a satisfação sentida pelos usuários em relação aos programas Avaliação da execução Avaliar a execução de um programa é atividade complexa, visto que a boa execução das atividades em uma empresa perpassa vários fatores, entre eles a satisfação13 e esta, por sua vez, envolve vários aspectos, internos ou externos aos atores envolvidos14. Sobre os aspectos que revelam a avaliação da execução, todos os gerentes e usuários dos estados inseridos na pesquisa percebem bons níveis de satisfação entre os profissionais que executam os programas e ações de PS. Essa realidade também foi referida por profissionais. “Eles têm um nível de satisfação de bom a ótimo, pela relação e pelas discussões que a gente faz. Temos reuniões semanais para tratar desses assuntos” αgu. “Aqui tem muito empenho, tem um clima organizacional muito bom, estrutura, então tudo isso influi, você gostar do que faz e do ambiente de trabalho” αp1. “Eu avalio que são bons, eles são interessados e envolvidos naquilo que fazem” αu2. A satisfação profissional presente neste estudo corrobora com a perspectiva de outros estudos em que se afirma ser esse sentimento permeado por diversos fatores, mas todos relacionados às atividades organizacionais e suas adjacências, como por exemplo: o reconhecimento de seu trabalho, a estrutura disponível para a execução das ações, as relações interpessoais e a supervisão de seu desempenho 15. Em contrapartida, outros profissionais atuantes nos três estados, revelaram limitações de recursos para execução do trabalho, situação que interfere na própria satisfação. Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde 1 (1) Janeiro/Junho 2015 http://www.redcps.com.br / e-mail: [email protected] 56 Promoção da saúde no Sistema Suplementar Barbosa ML, Celino SDM, Costa GMC Rev. Enf. 2015 Jan-Jun; 1(1):53 - 58 pode sofrer decréscimo relacionado a não adesão, em geral resultante da falta de compreensão do novo modelo de atenção desenvolvido. Essa percepção também esteve presente nos discurso de profissionais do estado α. “É difícil eles avaliarem uma coisa que eles não aderiram, então essa é uma dificuldade que a gente tem, uma avaliação menor” ɤgu. “Ainda uma minoria de usuários, que era acostumada com uma assistência que eles tinham, com essa mudança de organização, são algumas mudanças que quem tá acostumado com determinada coisa estranha e até afirma ah era bom naquele tempo” αp4. Acerca da compreensão e participação dos usuários a respeito da importância da PS e prevenção das doenças, afirmada como entrave para a execução plena das atividades que o plano propõe, há considerações que esses dois elementos são fundamentais para o cumprimento adequado das atividades e para que essa possa atingir os objetivos ambicionados, entre os quais a autonomia e o empoderamento dos usuários18. Há muitas possibilidades de intervenção que as operadoras podem realizar a fim de promover a sensibilização e o incentivo dos usuários para adesão dos programas e ações de PS. Em pesquisa realizada pela ANS, as principais estratégias utilizadas pelos planos de saúde para o alcance desse objetivo, são: envio de materiais de divulgação (76,0%), ligações telefônicas (64,4%), propaganda (57,4%), encontros e atividades lúdicas (52%) e acompanhamento por profissional de saúde gerenciador (49,6%)10. Por fim, um usuário afirmou que as atividades educativas deveriam ser reformuladas, a fim de apresentarem mais modernidade na execução e temas mais relevantes e inovadores. “E eu acho só não fico mais, porque eu acho muito ultrapassados, a forma e os temas. Os temas toda vez é aquela mesma história, eu queria uma coisa mais moderna “αu3. A inserção de um programa de PS e prevenção de doenças em ambiente historicamente clínico se constitui um desafio para as instituições promotoras7. Dessa forma, é essencial que os profissionais de saúde assumam suas responsabilidades no que se refere às mudanças na atenção à saúde Depreende-se que, falhas nas ações do programa de PS e prevenção de doenças são responsáveis pelo aumento da procura da rede credenciada dos planos de saúde e que simples ações, como imunizações programadas e formação de grupos para usuários específicos, evitam o uso desnecessário do sistema de saúde, mas para a real efetivação da nova forma de praticar saúde, é condição primordial que as operadoras absorvam essa realidade e destinem investimentos para esse fim, e não apenas estejam voltadas para o marketing ou acúmulo de capital19. as ações de PS e prevenção de doenças em âmbito, historicamente, médico assistencial. A melhora percebida da condição de vida é consequente da diminuição do número de agravos que poderiam estar requerendo tratamento. Por sua vez, a redução de atendimentos com fins terapêuticos resulta na redução dos custos assistenciais, bastante almejada pelas empresas de planos de saúde. Os melhores níveis de qualidade de vida associados à instalação de ações e programas de PS foram percebidos pelos gerentes e profissionais, mas essa semelhante percepção advinda dos usuários é situação que merece destaque. Esse deve ser o resultado primariamente esperado e estimulado entre as operadoras de planos de saúde, pois é o eixo central da reformulação do modelo assistencial. Não é salutar inverter a ordem natural dos fatos, sob pena da economia pretendida e intervir negativamente sobre a condição de vida dos usuários, contrariando toda a essência da PS. A avaliação sobre os programas e ações de PS, promovidos pelo plano, esteve relacionada aos bons níveis de saúde da população, embora entraves organizacionais tenham sido relatados. Deve-se considerar que o bom andamento de qualquer grande intervenção realizada está diretamente conexo ao investimento empreendido. Os resultados esperados não irão surgir em sua totalidade, caso a assistência fornecida seja inadequada. Dessa forma, a prestação de condições de trabalho satisfatórias é condição básica para os bons resultados, principalmente na situação evidenciada pelo estudo. A baixa adesão dos usuários, presente em alguns discursos, poderia sofrer intervenções para sua diminuição. Investimentos direcionados para a melhoria da estrutura física e de recursos humanos, associados à maior divulgação e esclarecimento sobre os benefícios da PS na vida das pessoas, contribuiriam certamente para a realidade. É importante referir que este estudo contribui para o planejamento das operadoras de planos de saúde que pretendem fazer investimentos na área de PS e ainda aquelas que já possuem programas e ações efetivamente implantados, visto que é capaz de apontar falhas e acertos na execução dessas atividades. Deve-se enfatizar ainda que estudos na área de avaliação de serviços de saúde podem contribuir para o aprofundamento desse trabalho, garantindo melhores embasamentos. REFERÊNCIAS 1. Bertolli Filho C. História da saúde pública no Brasil. 4 ed. São Paulo: Ática; 2010. 2. ANS. Agência Nacional de Saúde Suplementar. Manual técnico de promoção da saúde e prevenção de riscos e doenças na saúde suplementar. 4 ed. Rio de Janeiro: ANS; 2011. CONSIDERAÇÕES FINAIS 3. Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Epidemiologia & Saúde. 6 ed. Rio de Janeiro: MEDSI; 2003. 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