SIN VIOLENCIA HACIA LAS MUJERES, serían SEGUR@S las CIUDADES PARA TODOS? Lia Zanotta Machado As mais diferentes formas de violência ocorrem cotidianamente e nos interrogam sobre o futuro das sociedades modernas e das expectativas dos direitos de cidadãos e de cidadãs a cidades seguras. Hoje não só permanecem as tradicionais formas de violência, quanto novas formas ultramodernas de violência surgem e se expandem na cena urbana: 1) a violência da criminalidade organizada, local, nacional e internacionalmente em torno ao tráfico de drogas, 2) uma insistente presença do uso de violência ilegítima nos órgão de segurança estatais responsáveis pelo uso da força física legítima, associada a graus diferentes de articulações entre estes órgãos e a criminalidade organizada, 3) a violência derivada da expansão de redes de segurança privada, com graus distintos e antagônicos de sua legitimidade e legalidade ou ilegalidade e ilegitimidade e 4) a violência individual ou grupal que se caracteriza por buscar vítimas indiscriminadas , e que se faz contra vítimas em situação que possam ser consideradas estratégicas para produzir visibilidade , espetacularidade e submissão por medo reverencial. Nestes casos estão as chacinas espetaculares em metrôs, escolas, salas de cinema, shoppings. Estas formas de violência parecem ser resultado das novas formas impessoais de sociabilidade que parecem ter banalizado a violência por ter desvirtuado a percepção do outro. Em toda a América Latina e Caribe, incidem não somente as novas modalidades de violência como persistem, de forma intensa, as formas tradicionais de violência, ainda altamente toleradas. Entendemos que, hoje, o que chamamos de “violência contra as mulheres”, especialmente a violência contra as mulheres no espaço privado foram formas legítimas e legais de “correção” de suas esposas ou amantes pelos chefes masculinos de família. Da mesma forma, o desafio masculino entre homens em torno do código de honra era altamente valorizado nos séculos passados, permitindo-se aos homens matar as mulheres acusadas de infiéis. Os “crimes passionais” ainda são altamente tolerados se praticados por homens. De um lado, o desafio masculino entre homens em torno da honra e da disputa de patrimônio familiar e, de outro, a subordinação das mulheres pelos cônjuges e parceiros. Entendemos que tais violências tradicionais permanecem impregnadas por um alto grau de “tolerância social e estatal”. A persistência das violências interpessoais tradicionais é responsável pelo alto grau de atos agressivos (lesões corporais, ameaças, injúrias) praticados rotineiramente contra as mulheres no espaço privado, doméstico e familiar, ainda considerados como “crimes de bagatela”, ou seja, irrelevantes pela grande parte do aparato policial e de justiça, assim como pelo senso comum de grande parte da sociedade. A maior vulnerabilidade e insegurança cotidiana das mulheres se dão no espaço privado. Quando ocorrem os femicídios, eles são realizados no espaço privado, por cônjuges, amantes, namorados ou ex-cônjuges, ex-amantes, ex-namorados. Os homens constituem o mais alto percentual de vítimas de homicídios, assim como de agressores. São especialmente os jovens homens que mais matam e mais morrem. Os homicídios masculinos, geralmente se dão no espaço público. 1 O valor do desafio entre homens e o valor da correção física masculina dos homens sobre as mulheres, se travestiram na modernidade dos valores de valentia, coragem, e poder masculinos. Disseminaram-se e frutificaram no espaço público e privado e alimentaram e foram alimentados pelas novas formas de violência presentes na criminalidade organizada e nas formas muitas vezes selvagens das respostas dos aparatos policiais. Desafios interpessoais de honra têm lugar em corporações, empresas e formas de criminalidade organizada como o tráfico de drogas. Em torno da organização do tráfico, não somente as mulheres fazem a função, em geral, de coadjuvante se seus homens, como é vítima preferencial de lesões corporais e sexuais dos inimigos de seus parceiros, como um troféu de guerra. Em torno da organização do tráfico de pessoas, as mulheres tanto podem ser coadjuvantes do exercício do tráfico, quanto, em especial vítimas e “mercadorias” vitimadas. Como mães, passam a ser vítimas de ameaças de filhos traficantes e responsáveis pelos filhos e filhas de seus filhos. Os mapas da violência urbana, buscando caracterizar bairros e localidades mais violentas, sempre apontam estatisticamente a distribuição desigual das ocorrências dos chamados crimes graves, mais presentes nas grandes cidades, muitas vezes em bairros de maior desigualdade econômica, ou de maior desorganização social, mas suas razões sociológicas nunca foram estabelecidas de forma consistente. A resposta mais produtiva parece-me ser a correlação entre a maior presença de uma infra-estrutura urbana de serviços públicos, educação, saúde, esporte e lazer e condições de trabalho e menores índices de violência. As transformações urbanas levam a uma impessoalidade das relações e induzem a uma ilusão nostálgica de formas de coesão social tradicional, esquecendo, contudo, que elas são prenhes de violência contra as mulheres e de violência entre homens. Talvez, a crença dos direitos iguais e a busca de novas formas de associação, de proximidade, reconhecimento e de solidariedade possam melhor enfrentar tanto as violências quanto a desigualdade de gênero. A violência de gênero, por ser tolerada e quase legítima, alimenta e estrutura as demais violências e legitima o novo “ethos” do “guerreiro” moderno. 2