VIDA E OBRA DE SÃO JOÃO BATISTA DE LA SALLE: ENTRELAÇAMENTOS COM A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E DA PROFISSÃO DOCENTE Evelyn de Almeida Orlando 1 - PUCPR Grupo de Trabalho – História da Educação Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Desde os anos de 1930, muitos educadores entusiasmados com as contribuições técnicodidáticas oriundas dos movimentos de renovação pedagógicas passaram a utilizar e indicar o uso de filmes e películas como ferramentas didáticas a serem incorporadas nas diferentes disciplinas escolares. O objetivo era tornar o processo de ensino-aprendizagem mais eficaz. A ideia de “eficácia pedagógica”, no entanto, possui sentidos diferentes na trama e no tempo histórico. Esta perspectiva pedagógica teve seus rebatimentos e associada a outros fatores sociais deu espaço a compreensão de que uso dessa ferramenta poderia servir à formação de sujeitos mais autônomos, conscientes do seu lugar no mundo, capazes de refletir sobre o lugar onde vivem. O uso do cinema na educação ganhou nova conotação: instigar uma reflexão sobre o mundo e seus diferentes retratos. De entretenimento de consumo o cinema passou a objeto de leitura do mundo, passível de interpretação e de crítica. Passou a ser utilizado como recurso que estimula o pensamento e a criticidade, um produto da história, que por sua vez, carrega em si muitas outras histórias. É nessa busca de construção de sentido e compreensão dos processos históricos que a biografia São João Batista de La Salle: padroeiro dos professores lançada em filme em 2007 pelas Paulinas, é abordada neste trabalho. La Salle foi o fundador do Instituto das Escolas Cristãs (Lassalistas), tinha como núcleo central da sua obra um projeto de educação popular calcado em uma pedagogia inovadora à época e que desencadeou uma forte querela com os professores do Estado apegados ao tradicional método de ensino francês. O objeto da contenda tratava daquilo que viria a ficar conhecido no campo educacional como método individual e simultâneo. Ambos, largamente utilizados no Brasil, com permanências até os dias de hoje. Pouco difundido entre os educadores, o filme, põe em relevo questões presentes em nosso cotidiano como inclusão, educação popular, pluralismo pedagógico, métodos de ensino. Traz a cena também os processos de disputa pelo cenário educacional na França, a existência do método simultâneo de ensino desde o século XVII, o que permite ampliar o olhar para a multiplicidade de pedagogias e para a convivência desses modelos em uma mesma temporalidade, tornando muito complexa a classificação que delimita como tradicional a pedagogia católica. O filme permite, ainda, ampliar as lentes para pensar os processos de formação e de profissionalização docente naquele período. Os 1 Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Professora Adjunta da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail: [email protected] ISSN 2176-1396 30407 entrelaçamentos entre História da Educação e História da Profissão Docente, a partir de uma biografia, demonstram, mais uma vez, a fertilidade do uso da literatura como fonte histórica. Ainda que não seja este o objetivo das biografias sobre professores, é possível se observar, em larga medida, prática e representações do magistério nos registros biográficos. Mas o objetivo das biografias, que é de dar visibilidade aos sujeitos, também contribui com a História, na medida em que trazem à tona personagens, muitas vezes, relegados ao esquecimento, recolocando-os em seu lugar na História e, neste caso especificamente, na História da Educação. Como já afirmaram Lopes & Galvão (2010), a história da educação se constitui como um “território plural” de múltiplos atores e suas práticas. E e essa pluralidade vem sendo dada a conhecer pela própria pluralidade que constitui a pesquisa neste campo em relação aos objetos de estudo, aos aportes teórico-metodológicos e às fontes utilizadas. Do ponto de vista didático, o filme em questão chama a atenção para a multiplicidade de práticas e contextos ainda a serem descobertos e compreendidos em relação à História da Educação, considerando as interfaces dos processos históricos. As lentes teóricas utilizadas nessa análise passam por conceitos que vêm subsidiando os debates no campo da História da Educação, de modo privilegiado na História Cultural como práticas e representações (CHARTIER, 1990), profissão docente (NÓVOA, 1991), História e Memória (NORA, 1993; RICOEUR, 2007). Palavras-chave: História da Educação. História da profissão docente. Biografia. Cinema. REFERÊNCIAS CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Difel, 1990. LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Território Plural: a pesquisa em história da educação, São Paulo, Ática, 2010. NORA, Pierre. Entre Memória e História: a problemática dos lugares, In: Projeto História. São Paulo: PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993. NÓVOA, Antônio. Para o estudo sócio-histórico da profissão docente. Teoria e Educação, 4, 1991, p. 109-139. RICOEUR, Paul. A memória, a história e o esquecimento. São Paulo: Editora Unicamp, 2007.