Luiz Fernando Cannoni LESÕES TRAUMÁTICAS DOS NERVOS CRANIANOS. ESTUDO PROSPECTIVO DE 71 CASOS CONSECUTIVOS Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Pesquisa em Cirurgia. São Paulo 2014 (versão corrigida) Luiz Fernando Cannoni LESÕES TRAUMÁTICAS DOS NERVOS CRANIANOS. ESTUDO PROSPECTIVO DE 71 CASOS CONSECUTIVOS Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Titulo de Doutor em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reparação Tecidual. Orientador: Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga São Paulo 2014 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Cannoni, Luiz Fernando Lesões traumáticas dos nervos cranianos. Estudo prospectivo de 71 casos consecutivos./ Luiz Fernando Cannoni. São Paulo, 2014. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Pesquisa em Cirurgia. Área de Concentração: Reparação Tecidual Orientador: José Carlos Esteves Veiga 1. Traumatismos encefálicos 2. Sistema nervoso periférico/ lesões 3. Crânio/lesões 4. Nervos cranianos BC-FCMSCSP/08-14 DEDICATÓRIA Ao Senhor Deus, pela minha existência .... Aos meus pais, Fioravante e Ivani, pelo constante apoio às várias decisões que tomei em minha vida .... Ao meu irmão Rogério, pelas sugestões... Dedicatória AGRADECIMENTOS À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela oportunidade de realizar este trabalho. Ao Prof. Dr. José Carlos Esteves Veiga, Professor Titular Livre-Docente e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo, pela orientação e incentivo à realização desta pesquisa. Ao Prof. Dr. José Henrique Busetti, Professor Livre-Docente e Professor Titular do Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, pela transmissão dos conhecimentos anatômicos e permissão para que parte deste trabalho fosse realizado no laboratório de Morfologia. À Profa. Dra. Mirna Duarte Barros, Professora Adjunta-Doutora e Chefe do Departamento de Morfologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, por permitir que parte deste trabalho fosse realizado no laboratório de Morfologia. Ao Prof. Dr. Rui Raul Dahas de Carvalho, pelos ensinamentos neurocirúrgicos transmitidos ao longo da residência médica. Ao Dr. Luciano Haddad, pelos comentários e ideias. Ao Prof. Dr. Nelson Saade, pelo encaminhamento de pacientes do Ambulatório de Trauma da Santa Casa de São Paulo para o nosso ambulatório. Aos oftalmologistas, Dr. Orlando da Silva Filho e Dr. Maurício H. Nakanami, por terem cedido fotos de seus arquivos pessoais para ilustrar este trabalho. Aos residentes da Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de São Paulo, pela colaboração no diagnóstico das lesões de nervos cranianos em pacientes do Pronto-Socorro, do Ambulatório de Trauma e posterior encaminhamento destes pacientes para ambulatório específico. Agradecimentos À Bibliotecária, Sra. Sabia Hussein Mustafa, pela presteza na elaboração da ficha catalográfica deste trabalho. Aos técnicos dos laboratórios de Departamento de Morfologia da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (João Batista da Silva e Sergivan Gonçalves de Moraes), no auxílio quanto à escolha das peças anatômicas de interesse para este trabalho. Ao estatístico, Euro de Barros Couto Júnior, pela análise estatística das múltiplas variáveis contidas neste estudo. A todos os pacientes que participaram deste trabalho através da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Aos Departamentos de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, pelo acompanhamento conjunto dos pacientes. À Unidade de Fonoaudiologia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, pela avaliação conjunta de pacientes deste estudo. Àqueles que, no anonimato e de maneira altruísta, contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. Agradecimentos ABREVIATURAS E SÍMBOLOS a. aa. ACI Acid. Motociclist. ATM dB d.C. Ec ECGl ECM ENMG ERGl FCO FLM g. HED HSAT HSDA HIP LAD LCR MOE MOI n. nn. PIFR Pn SAME sec. TCE TRM v. vv. V1 V2 V3 Artéria Artérias Artéria carótida interna Acidente motociclístico Articulação têmporo-mandibular Decibel ou decibels Depois de Cristo Energia cinética Escala de coma de Glasgow Músculo esternocleidomastóideo Eletroneuromiografia Escala de resultados de Glasgow Fratura do côndilo occipital Fascículo longitudinal medial Gânglio Hematoma epidural Hemorragia subaracnoide traumática Hematoma subdural agudo Hematoma intraparenquimatoso Lesão axonial difusa Líquido cefalorraquidiano Motricidade ocular extrínseca Motricidade ocular intrínseca Nervo Nervos Pupilas isocóricas e fotorreagentes Pneumocrânio Serviço de arquivamento médico e estatístico Século Traumatismo cranioencefálico Traumatismo raquimedular Veia Veias 1a. divisão do n. trigêmeo ou n. oftálmico 2a. divisão do n. trigêmeo ou n. maxilar 3a. divisão do n. trigêmeo ou n. mandibular Abreviaturas e Símbolos SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO................................................................................................. 1 1.1. Revisão da Literatura................................................................................. 3 1.1.1. Lesões traumáticas de nervos cranianos............................................... 3 1.1.1.1. Nervo olfatório (I)............................................................................ 6 1.1.1.1.1. Alterações gustatórias............................................................... 11 1.1.1.2. Nervo óptico (II) ............................................................................. 14 1.1.1.2.1. Avulsão do nervo óptico............................................................ 22 1.1.1.2.2. Lesões quiasmáticas................................................................. 24 1.1.1.3. Complexo de nervos motores oculares.......................................... 30 1.1.1.3.1. Nervo oculomotor (III)................................................................ 30 1.1.1.3.2. Nervo troclear (IV)..................................................................... 33 1.1.1.3.3. Nervo abducente (VI)................................................................. 38 1.1.1.4. Nervo trigêmeo (V).......................................................................... 41 1.1.1.5. Nervo facial (VII)............................................................................. 43 1.1.1.6. Nervo vestibulococlear (VIII)........................................................... 58 1.1.1.7. Nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X) ........................................... 60 1.1.1.8. Nervo acessório (XI)....................................................................... 61 1.1.1.9. Nervo hipoglosso (XII).................................................................... 62 2- OBJETIVOS..................................................................................................... 65 2.1. Objetivos gerais.......................................................................................... 66 2.2. Objetivos específicos.................................................................................. 66 3- CASUÍSTICA E MÉTODO............................................................................... 67 3.1. Critérios de inclusão.................................................................................... 70 3.2. Critérios de exclusão................................................................................... 73 3.3. Análise estatística....................................................................................... 73 4- RESULTADOS................................................................................................ 74 5- DISCUSSÃO................................................................................................... 112 5.1. Nervo olfatório (I) ....................................................................................... 116 5.2. Nervo óptico (II) .......................................................................................... 118 5.3. Complexo motor ocular............................................................................... 119 5.3.1. Nervo oculomotor (III)............................................................................ 119 5.3.2. Nervo troclear (IV).................................................................................. 121 Sumário 5.3.3. Nervo abducente (VI)............................................................................. 122 5.4. Nervo trigêmeo (V)..................................................................................... 123 5.5. Nervo facial (VII) ....................................................................................... 124 5.6. Nervo vestibulococlear (VIII) ..................................................................... 126 5.7. Nervo acessório (XI)................................................................................. 127 6- CONCLUSÕES................................................................................................ 128 7- ANEXOS.......................................................................................................... 130 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 134 FONTES CONSULTADAS.............................................................................. 143 RESUMO......................................................................................................... 145 ABSTRACT..................................................................................................... 147 APÊNDICE E LISTAS..................................................................................... 149 Sumário 1- INTRODUÇÃO 2 A lesão única ou combinada de nervos cranianos (NC) é achado relativamente frequente no traumatismo cranioencefálico (TCE). De acordo com Patel et al (2005), em 12,6% dos casos de TCE ocorrem lesões dos diferentes nervos cranianos com nítido predomínio no gênero masculino e traumatismos com baixa transmissão de energia cinética (Ec). São lesões frequentemente negligenciadas nos exames neurológicos realizados em prontos-socorros e, muitas vezes, evidenciadas tardiamente durante a evolução clínica. Pacientes comatosos podem ter lesões agudas em nervos cranianos e devido ao comprometimento do nível de consciência, estas podem não ser detectadas. Exceções se fazem aos nervos oculomotor (III), abducente (VI), facial (VII) e vago (X), cujas lesões são diagnosticadas sem a colaboração do paciente. Uma rápida avaliação dos movimentos extrínsecos do globo ocular, reatividade pupilar, simetria facial e função laríngea nos permite conjecturar sobre a integridade da função dos nervos cranianos (Bhatoe, 2007). Em geral, as lesões dos nervos cranianos constituem importantes causas de morbimortalidade e requerem longos períodos de seguimento. A maioria das lesões não requer intervenção cirúrgica na fase aguda, excetuando-se as lesões do II e VII nervos, que podem ser submetidos ao procedimento cirúrgico quando indicado. Existem situações que podem simular lesão de nervos cranianos; por exemplo, a perda da olfação pode ocorrer por simples obstrução nasal e não por lesão própria do nervo olfatório. O bloqueio do canal auditivo externo ou a lesão da orelha média (sangramento) podem causar diminuição da acuidade auditiva sem lesão do VIII nervo. Deve-se considerar ainda o paciente que apresenta lesão prévia de determinado nervo craniano por doenças sistêmicas, tais como: diabetes mellitus ou doença infecciosa, além de traumatismo prévio ou cirurgias cranianas, orbitárias, faciais e plásticas. Além do comprometimento de sua integridade anatômica pela lesão direta ou por mecanismo de desaceleração brusca e estiramento, os nervos cranianos também podem ser lesados por efeito de hipertensão intracraniana (compressão do III nervo), por complicações em decorrência da formação de fibrose que envolve o local Introdução 3 de fratura e engloba o nervo e comprometimento de sua vascularização (Bhatoe, 2007). As lesões dos nervos cranianos podem sugerir o mecanismo de trauma que as causou (Keane, Baloh, 1996). Em traumatismos penetrantes (tentativas de suicídio) com ferimento de entrada em região anterior da orelha, geralmente há transecção do quiasma óptico. Em fraturas da porção basilar do osso occipital (alta energia cinética), nervos cranianos de origem bulbar são os mais afetados. O traumatismo raquimedular (TRM) também pode ser causa de lesão de nervos cranianos bulbares, representada por disfagia e alterações respiratórias, cujos mecanismos de ação incluem a extensão, flexão e rotação cervical (Schneider, Johnson, 1971). O aumento progressivo no número de pacientes vítimas de TCE com consequentes lesões em nervos cranianos e a escassez de estudos nesta área faz com que seja necessária a elaboração de protocolos e seguimento destes pacientes em nível ambulatorial para proposta de tratamento. Deste modo, propusemo-nos a estudar os diferentes eventos traumáticos como causa de lesão de nervos cranianos, seus aspectos clínicos e aspectos de neuroimagem. 1.1. Revisão da literatura 1.1.1. Lesões traumáticas de nervos cranianos Nas casuísticas de Leigh (1943) e Hughes (1964), o facial é o nervo mais frequentemente acometido por qualquer mecanismo traumático, seguido por lesão do olfatório (Tab. 1). Heinze (1969) analisa achados anatomopatológicos em indivíduos vítimas de TCE (diversos mecanismos de trauma) em rodovias. Segundo o autor, os nervos II, III, IV e VI são os mais frequentemente lesados, além do quiasma óptico e muscuIntrodução 4 latura ocular extrínseca, mesmo na ausência de fraturas cranianas. Chama a atenção para as lesões dos nervos oculomotores (III, IV e VI), que tendem a ocorrer na emergência do tronco encefálico, assim como hemorragia na fissura orbitária superior como causa de lesão do III nervo. De acordo com Keane, Baloh (1996), a incidência de lesão traumática de nervos cranianos varia de 5 a 23%. Patel et al (2005) relatam estudo com 99 pacientes portadores de lesões traumáticas de nervos cranianos, sendo a maior parte decorrente de TCE leve. De acordo com os mesmos autores, as lesões traumáticas acometem mais frequentemente os nervos olfatório (I), facial (VII) e vestibulococlear (VIII), seguidas por lesões no nervo óptico (II) e complexo oculomotor (III, IV e VI). Em menor proporção envolvem o trigêmeo (V) e os nervos cranianos de origem bulbar (IX, X, XI e XII). Tabela 1. Frequência de lesão traumática dos nervos cranianos (Hughes, 1964). Nervo craniano Olfatório (I) Óptico (II) Oculomotor (III) Abducente (VI) Oculomotor (III), Troclear (IV), Abducente (VI) Trigêmeo (V) Facial (VII) Vestibulococlear (VIII) – orelha interna Vestibulococlear (VIII) – orelha média Glossofaríngeo (IX), Vago (X), Acessório (XI), Hipoglosso (XII) Porcentagem de lesão 10,5% 3,6% 2,6% 2,7% 1,4% 3,6% 66,5% 1,5% 7,3% 0,05% Para os mesmos autores, o achado de lesões ocorreu segundo a seguinte distribuição para nervos isoladamente comprometidos e multiplicidade de nervos envolvidos (Tab. 2). Associam-se a múltiplas fraturas supratentoriais e da base do crânio, assim como fraturas de vértebras cervicais. Introdução 5 Tabela 2. Distribuição do número de pacientes por lesões traumáticas isoladas e múltiplas de nervos cranianos (Patel et al, 2005). Nervo craniano lesado isoladamente Olfatório (I) Número de pacientes 3 Nervos cranianos lesados em associação II, III, IV e VI nervos Número de pacientes 5 Óptico (II) 11 VI e VII nervos 5 Oculomotor (III) 12 VII e VIII nervos 5 Troclear (IV) 7 II e VII nervos 2 Trigêmeo (V) 0 III e IV nervos 2 Abducente (VI) 7 III, V e VI nervos 2 Facial (VII) 20 I, III, IV e VI nervos 1 Vestibulococlear (VIII) 7 I, II e VI nervos 1 Glossofaríngeo (IX) 0 I e II nervos 2 Vago (X) 0 II, VI e VII nervos 1 Acessório (XI) 0 III, IV, V e VI nervos 1 Hipoglosso (XII) 0 V e VII nervos 2 IV, VI e VII nervos 1 VII, IX e X nervos 1 IX e X nervos 1 Total 67 32 Bhatoe (2007) afirma que os nervos cranianos, juntamente com as artérias e as veias intracranianas, constituem “verdadeiras âncoras num mar de líquido cefalorraquidiano”, fato importante para a explicação das lesões por estiramento. As lesões traumáticas também podem decorrer de forças de cisalhamento, aceleração e desaceleração, lesões penetrantes, traumatismos diretos com fraturas cranianas e em consequência a procedimentos cirúrgicos. Em estudo experimental, Russell, Schiller (1949) descrevem traumatismos que levam a diferentes tipos de compressão e deformação cranianas com lesão de nervos cranianos. Na compressão transversa, segundo os autores, existe máxima deformação na base do crânio (forame lácero) com avulsão do osso petroso e rotação do ápice petroso na direção póstero-medial e estiramento do VI nervo. Quando ocorre separação da porção anterior do petroso da asa maior do esfenoide, o nervo trigêmeo é lesado. A divisão oftálmica do trigêmeo (V1) é lesada concomitantemente Introdução 6 à lesão do canal carotídeo e do cavo de Meckel. Os III e IV nervos geralmente são poupados neste tipo de lesão por terem trajeto medial ao ápice petroso. As lesões pupilares são decorrentes da lesão dos filamentos simpáticos localizados ao redor da a. carótida interna no forame lácero. As lesões do VII e VIII nervos são decorrentes de fratura na cavidade timpânica. Na compressão sagital, com lesões etmoidais e do canal óptico, o I e II nervos serão mais frequentemente lesados. A seguir é apresentada a revisão em tópicos das lesões traumáticas dos diferentes nervos cranianos. 1.1.1.1. Nervo olfatório (I) Hagan (1967) e Gurdjian* (1958) (citado por Hagan, 1967) definem a lesão traumática do olfatório como a perda da função olfativa decorrente de traumatismo craniano e que não envolve diretamente o nariz ou o epitélio olfativo, mas sim as fibras do nervo olfatório na região superior à lâmina crivosa do etmoide. A anosmia é mais comum no traumatismo occipital, quando comparada ao traumatismo frontal (Leigh, 1943; Sumner, 1964a). É decorrente do contragolpe sofrido pela região basal dos lobos frontais. Segundo os autores, a frequência da anosmia é proporcional à intensidade do trauma. Para Bhatoe (2007), a lesão do nervo olfatório deve ser suspeitada na presença de equimose periorbitária, rinoliquorreia, epistaxe e proptose. Kindler**, em 1936, (apud Sumner, 1964a) afirma que a lesão do nervo olfatório é independente do sítio ou da intensidade do traumatismo, enfatizando a importância desta lesão em profissionais de cozinha, perfumarias e provadores de café. Goland (1937) relata lesão de nervo olfatório em três pacientes com traumatismo occipital e fraturas occipitais e outros três com fraturas parietais. Nestes casos, a anosmia era unilateral e a hiposmia era contralateral à fratura, o que foi atribuído ao contragolpe. * Gurdjian ES, Webster JE. Head injuries, Boston: Little, Brown & Company; 1958. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. ** Kindler APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. Introdução 7 Leigh (1943) apresentou a primeira grande série de pacientes com anosmia em estudo de 1000 pacientes com TCE. Setenta e dois pacientes apresentaram anosmia, dos quais apenas seis recuperaram a função olfativa, enquanto 12 desenvolveram parosmia. Sumner (1964a) relata incidência de lesão de 4% em sua casuística. Sumner (1964a, 1976) afirma que a primeira descrição de lesão traumática de nervo olfatório foi realizada por Hughlings Jackson*, em 1864, com incidência de 7%, aumentando para 30% quanto o traumatismo for grave ou incluir lesões na fossa craniana anterior e que também podem existir lesões não associadas a alterações do nível de consciência (traumatismos leves). Segundo Kottmeyer** (1959) (apud Sumner, 1964a) somente o traumatismo occipital poderia causar anosmia sem fraturas, enquanto os traumatismos frontais somente o fariam na presença de fraturas. Para Schechter, Henkin (1974), a lesão traumática do nervo olfatório independe da intensidade do traumatismo, da presença ou ausência de amnésia póstraumática, da presença de fraturas e da localização do traumatismo. Contudo, a alta incidência de impactos occipitais sugere que traumatismos nesta região possam predispor a maior número de alterações olfativas e gustatórias. Acrescenta ainda que são alterações que costumam aparecer imediatamente após o traumatismo, embora tenha observado reduzido número de alterações tardias. Hagan (1967) recomenda o uso de café, canela, água de rosas, cânfora, lavanda, óleo de cravo e menta para a pesquisa da função do nervo olfatório. Com substâncias ácidas (vinagre) obteve irritação da cavidade nasal com estimulação de terminais trigeminais, contraindicando o seu uso. Para testar a gustação recomenda o uso de sal (cloreto de sódio 5%) e açúcar (sacarose 10%), além de substâncias amargas (quinino 1%) e ácidas (ácido cítrico 5%). A perda da olfação costuma não ser importante para o bem estar do paciente, a não ser em casos que o indivíduo trabalhe em profissões que exijam o reconheci- * Jackson H (1864) APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. ** Kottmeyer Introdução 8 mento de diferentes odores (perfumistas) ou em situações de trabalho com gases, onde um vazamento poderá trazer riscos para o indivíduo (Hughes, 1964). Segundo Bhatoe (2007) 40% dos pacientes com lesão traumática de nervo olfatório observam recuperação funcional nos primeiros três meses após a lesão. A recuperação precoce implica em resolução de efeitos compressivos locais, como hematoma, edema ou contusão. A recuperação tardia demonstra processo de regeneração de neurônios da mucosa olfatória em direção aos bulbos olfatórios. Hughes (1964) afirma que o local mais frequente de lesão do nervo olfatório é a região superior da lâmina crivosa do etmoide, onde a laceração das fibras olfatórias, contusão e hemorragia ocorrem por rápidas acelerações e desacelerações sofridas pelo encéfalo. Holbourn*, em 1943 (apud Sumner, 1964a), afirma, através de modelos experimentais com gelatina, que o traumatismo occipital pode causar cisalhamento dos filamentos do nervo olfatório, apesar de este cisalhamento ser mínimo nas vizinhanças da base do encéfalo poupando os nervos cranianos do movimento rotacional; porém a maior parte da energia cinética seria transmitida aos lobos temporais, podendo-se lesar outro ponto da via olfatória. Goland (1937) acredita que a lesão possa ocorrer na estria olfatória lateral, lacerada pelas margens afiadas da asa menor do esfenoide. Porém, a maior parte das lesões ocorre por traumatismos occipitais ou frontais associados a grandes alterações de aceleração (Collet**, 1933; Gurdjian et al***, 1958, citados por Hagan, 1967). Collet (1933) atribui alteração da função olfativa pós-traumática à lesão do bulbo e filamentos olfatórios (citado por Hagan, 1967). Segundo Sumner (1964 a), o prognóstico é reservado nas lesões completas do nervo olfatório. Pode haver recuperação espontânea da olfação, mesmo que parcial, o que pode ser explicado pela ausência de lesão total do nervo e diminuição do processo edematoso, que frequentemente ocorre na fase aguda do traumatismo, * Holbourn APUD Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. Collet FJ. Etude statistique et étiologique sur l'anosmie. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. *** Gurdjian ES, Webster JE. Head injuries, Boston: Little, Brown & Company; 1958. APUD Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. Introdução ** 9 além da regeneração de neurônios da mucosa olfatória. Também relata que a melhora da função olfativa ocorre em um terço dos casos e correlaciona a melhora desta função com o tempo de amnésia pós-traumática. Alega que indivíduos com amnésia pós-traumática superior a 24 horas terão anosmia definitiva em 90% dos casos. Porém, quando a melhora da função ocorre, geralmente se faz por completo. A intensidade do traumatismo foi avaliada pelo período de amnésia ou inconsciência do indivíduo. A escala de coma de Glasgow (ECGl – Anexo I) foi definida por Teasdale, Jennett, em 1974. A aplicação desta escala é útil na avaliação da intensidade do traumatismo craniano, dividindo-o em leve (13 a 15), moderado (9 a 12) e grave (3 a 8) de acordo com a pontuação. Quanto à recuperação funcional, diversos autores fornecem dados variáveis. Sumner (1964a) relata período situado entre três semanas e sete meses. Em seu artigo cita Jacob e Russell, os quais afirmam que melhoras funcionais que não ocorram até dois meses após o traumatismo, provavelmente não mais obterão recuperação. Porém, Leigh (1943) encontrou em sua casuística melhora funcional após um ano. Patel et al (2005) relatam em sua série a percentagem de 0,88% para as disfunções pós-traumáticas do nervo olfatório, relacionadas a traumatismo craniano leve e à presença de fístula liquórica. Em aproximadamente 70% dos casos de lesão traumática do nervo olfatório, podem ser demonstradas fraturas na fossa craniana anterior (Hughes, 1964). Clark, Dodge (1955a) afirmam que a gustação é uma síntese de sensações derivadas dos nervos olfatórios, papilas gustatórias e outras terminações sensitivas localizadas no interior da boca. Em outro trabalho (Clarke, Dodge, 1955b) publicam que indivíduos com anosmia podem ainda ter a sensibilidade gustatória preservada, pois os componentes extraolfatórios da gustação desempenham papel importante na manutenção da mesma e incluem sensações somáticas bucais, nasofaríngea, visuais, auditivas e de memória, assim como o estado psicológico do indivíduo ao se alimentar. Segundo estes autores, a lesão traumática do primeiro nervo está preIntrodução 10 sente em 3 a 5% de todos os casos de TCE e aumenta para 15 a 20% quando a contusão cerebral está associada. De acordo com suas observações, anosmia completa é raramente reversível, porém a hiposmia pós-traumática tende a melhorar no decorrer do tempo, devendo-se acrescentar que todos os pacientes de sua série foram vítimas de traumatismos com alto valor cinético. Em geral, a recuperação da função olfativa varia de 8 a 39% nos pacientes com anosmia pós-traumática (Sumner, 1964a; Schechter, Heinkin, 1974). Segundo Paskind (1935), casos de parosmia são descritos em meningites da base do crânio, traumatismos frontais, aterosclerose cerebral e processos infecciosos que envolvem a cavidade nasal. É difícil entender porque a parosmia contínua seja tão rara. Porém, a anosmia em lesões frontais é relativamente comum (meningeomas da goteira olfatória). Como a anosmia é um sintoma relacionado à destruição e a parosmia está relacionada à irritação da via olfatória, o referido autor acredita que a parosmia possa anteceder a anosmia. Sugere, portanto, que a parosmia seja pesquisada em pacientes que já apresentem anosmia, afirmando que a parosmia possa ser um sintoma precoce de lesão intracraniana. Zusho (1982) relata incidência de lesão de nervo olfatório em 4,2% em sua série incluído casos de anosmia e hiposmia. Em 44% dos casos houve presença de fraturas cranianas ou faciais, sendo a região occipital o local mais comum de traumatismos, seguidos dos traumatismos faciais e frontais. No trabalho de Zusho (1982) somente 14% dos pacientes observaram melhora da função olfativa no seguimento ambulatorial (6 meses a 7 anos), enquanto 11% notaram piora da função e 75% não descreveram qualquer alteração. O mesmo autor relata não haver grau de dependência entre a intensidade do traumatismo, presença ou ausência de fraturas e o grau da disfunção olfativa. Atribui o déficit olfativo traumático a quatro grandes etiologias: a) Distúrbio respiratório – devido a traumatismos faciais, principalmente aqueles com acometimento nasal, levando à deformidade da cavidade nasal. A hiposmia é mais frequente que a anosmia; b) Distúrbios epiteliais: por lesão direta do epitélio olfativo ou por lesão indireta decorrente de alterações circulatórias por alterações do sistema nervoso autôIntrodução 11 nomo ou lesão em tronco encefálico; c) Distúrbio dos nervos olfatórios: o local mais comum de lesão é a região superior da lâmina crivosa do etmoide (lesão dos filetes nervosos, presença de hematomas e contusões devidas à aceleração e desaceleração do encéfalo); d) Distúrbio central: qualquer lesão que atinja bulbos, tratos ou córtex entorrinal. Ichihara* et al, em 1962 (apud Zusho, 1982), relatam que a maioria das lesões olfativas traumáticas ocorre por traumatismo occipital. 1.1.1.1.1. Alterações gustatórias As alterações gustatórias pós-traumáticas (hipogeusia e disgeusia) têm recebido muito menos atenção e ocorrem menos frequentemente em relação às alterações olfativas; a incidência de lesão chega até 4% dos pacientes com lesão olfativa (Schechter, Heinkin, 1974). Griffith (1976) afirma que a hiperosmia tem rara ocorrência e tem etiologia psicogênica. Geralmente, as alterações gustatórias acompanham as alterações olfativas e na maioria dos casos regride espontaneamente, sugerindo que a melhora gustatória ocorra muito mais frequentemente que a olfativa. Não há relação entre a intensidade do traumatismo e o aparecimento de lesões gustatórias (Schechter, Henkin, 1974), pois podem ocorrer mesmo em traumatismos cranianos leves e seu início pode ser de ocorrência tardia (meses após o traumatismo). Quando são consideradas em conjunto, ambas as lesões atingem entre 6 a 33% dos indivíduos com TCE. A etiologia da disgeusia ou ageusia pós-traumática é obscura. Sugere-se que sejam devidas à irritação ou destruição do nervo olfatório. Leigh (1943) sugere que represente um estágio de recuperação da anosmia. Deve-se observar que alguns casos de alterações gustatórias possam ocorrer na ausência de alterações olfativas (Schechter, Henkin, 1974). Alguns pacientes com anosmia e hipogeusia pós-traumáticas exibem alterações no metabolismo do zinco semelhantes a pacientes com perdas de zinco e que apresentam alterações gustatórias (Schechter, Henkin, 1974). Porém, na maioria dos casos, existe aumento na concentração sérica de zinco (77+/-3 microgramas/ 100 ml) associada à diminuição na concentração sérica de cobre (99 +/-2 microgramas/100ml). * Ichihara M, Miyao K, Komatsu N, Kamio S, Hirayoshi H, Sakuma Y, et al Congenital anosmia. Jibiinkoka. 1962; 34:323-5. APUD Zusho H. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1982;108:90-2. Introdução 12 Cohen et al (1973) demonstraram que alterações no metabolismo do zinco e do cobre (hipozincemia e normocupremia; hiperzincúria e hipercuprúria) podem causar alterações gustatórias e olfativas, e, que a reposição do zinco tende a melhorar os sintomas em pacientes vítimas de queimaduras. Porém não fornece uma explicação para o aparecimento da hipogeusia ou ageusia. Propõe que o mecanismo de aparecimento das alterações gustatórias decorra de alterações no metabolismo do zinco. Sumner (1964b) afirma que as alterações gustatórias sejam decorrentes da lesão olfativa e que não se é dada a devida importância a este sintoma. A ageusia associada a anosmia pode ocorrer em traumatismos com alta ou baixa energia cinética. Griffith (1976) afirma que a ageusia é rara quando decorrente de traumatismo, uma vez que haveria necessidade de lesão dos três nervos responsáveis pela condução desta sensibilidade (VII, IX e X). A duração da ageusia também independe da intensidade do traumatismo. O prognóstico para a melhora da função gustatória é melhor que o da função olfativa (Sumner, 1964b) e o início da recuperação é mais precoce. Durante este período, pode haver descrição de parosmia ou parageusia. A melhora da função gustatória é lenta e progressiva [2 semanas a 18 meses segundo Sumner (1964b)], iniciando-se, geralmente, pelo sabor doce, sendo seguido pelo salgado, ácido e amargo. Rotch** (1878) descreve paciente vítima de queda de altura e que apresentou anosmia e ageusia, porém mantendo intactas as sensações térmico-dolorosas e táteis da língua (citado por Sumner, 1964b). É difícil ter-se uma estatística precisa acerca da incidência de ageusia, pois o exame raramente é realizado e esta pode ter aparecimento tardio. Acredita-se que sua incidência seja de aproximadamente 5% dos casos de anosmia pós-traumática e 0,5% de todos os casos de TCE (Sumner, 1964b). * Rotch TM. Posttraumatic ageusia. Boston Med Surg J. 1878; 99:130. APUD Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202. Introdução 13 Para Sumner (1964 a), ageusia não ocorre sem anosmia. Portanto, para se justificar ambos achados, o traumatismo deveria envolver ambos os nervos olfatórios, os dois nervos linguais (ou corda do tímpano) e os dois nervos glossofaríngeos. Porém, a lesão ocorre mesmo em traumatismos de pequena intensidade, não levando a lesão destas estruturas. Mifka* (1954) considera que ambas as lesões ocorram somente em indivíduos que possuam inervação anômala da língua, cujas fibras gustatórias dirijam-se diretamente para o nervo glossofaríngeo. Traumatismos cranianos poderiam afetar simultaneamente a lâmina crivosa do etmoide e o forame jugular, especialmente na presença de fraturas basais (citado por Sumner, 1964b). Ferrier** (1876) propôs mecanismo que envolve a porção inferior do lobo temporal, onde os centros gustativos e olfativos estão em íntima relação (subiculum) (citado por Sumner, 1964b). Do ponto de vista histológico, Hasegawa et al (1986) afirmam que na fase inicial da lesão ocorre degeneração das vesículas olfatórias com desaparecimento dos cílios sem alterações das células basais. Numa fase tardia há ausência completa de vesículas e cílios associada à presença de corpos basais nas vesículas e desorganização do arranjo celular epitelial, conferindo aparência atrófica à mucosa com afilamento de sua espessura incluindo ainda achados de tecido fibroso que auxiliam na desorganização estrutural. Estas alterações são proporcionais à intensidade do trauma segundo os autores. As células olfativas degeneram-se precocemente após a lesão do nervo olfatório, porém o epitélio olfatório pode regenerar-se a partir das células basais (Hasegawa et al, 1986). Após traumatismo que envolve a lesão dos filamentos do nervo olfatório, geralmente ocorrem processos de regeneração e fibrose que envolvem a placa crivosa do etmoide. Portanto, qualquer atividade regenerativa do epitélio olfativo na * Mifka P. 8th Proc Int Neurol Congr APUD In: Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202. ** Ferrier D. The functions of the brain. London: Smith, Elder & Co.; 1876, APUD. In: Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202. Introdução 14 tentativa de reestabelecer sinapses com o os nervos olfatórios (células mitrais), fica prejudicada, dificultando a recuperação da função. O axônio é defletido e adquire uma aparência espiralada, começando a sofrer processo de degeneração e fazendo com que as células receptoras enviem outros axônios na tentativa de estabelecer contato com o bulbo olfatório (Jafek et al, 1989). Jafek et al (1989) realizaram biópsias da mucosa olfatória em pacientes com lesão traumática de nervo olfatório e fizeram análise ultraestrutural dos achados. O epitélio olfativo normal é colunar pseudoestratificado com quatro tipos distintos de células: células de suporte, microvilares, basais e células olfatórias receptivas ciliadas (células sensitivas primárias). No epitélio olfativo pós-traumático há distorção destas estruturas. O epitélio olfativo é alargado e globoso. Os núcleos celulares são dispersos por todo o epitélio e frequentemente vistos na superfície mucosa. O epitélio olfativo contém axônios localizados nas imediações da membrana basal e podem estender-se até a superfície mucosa. Há vários feixes de fibras nervosas na lâmina própria, abaixo da membrana basal. Raras vesículas olfatórias são observadas e corpos basais podem ser visibilizados em seu interior. Cílios que se projetam das células receptoras são raramente observados. Schurr (1975) afirma que em casos de anosmia traumática unilateral podem identificar o local de fístulas liquóricas em localizações difíceis de serem determinadas. Lewin et al (1985) afirmam que a hiposmia pós-traumática decorre de lesões difusas do córtex orbito-frontal e temporal, uma vez que em sua série, os pacientes identificavam parcialmente o tipos de odores sem correlacioná-lo com fontes que pudessem emiti-los. 1.1.1.2. Nervo óptico (II) A neuropatia óptica traumática é definida como a perda visual traumática que ocorre na presença de um defeito pupilar aferente sem evidência de traumatismo ocular ou do nervo óptico. Introdução 15 Turner (1943) afirma que a lesão traumática do nervo óptico ocorre em 1,6% dos casos de TCE, sendo a maior parte causada por traumatismo direto e de alta energia cinética à região frontal. Em seu estudo, os sintomas iniciaram-se imediatamente após o traumatismo (escotomas) e a recuperação da acuidade visual ocorreu em três a quatro dias. Patel et al (2005) descrevem 22 lesões traumáticas de nervo óptico com 100% de presença de fraturas orbitárias múltiplas com extensão ao ápex, além de fraturas da parede lateral da órbita, parede medial e teto da órbita. Geralmente a perda visual é imediata, e quando tende à melhora, esta geralmente inicia-se entre o terceiro ou quarto dia após o traumatismo (Turner, 1943). Os escotomas são explicados por lesão da artéria central da retina e as alterações periféricas por lesão de ramos nutrientes do nervo óptico. Em raros casos foram descritas fraturas que envolveram o canal óptico. Classifica-se a lesão traumática do nervo óptico em direta e indireta. A indireta resulta de traumatismo ipsilateral à região frontal. Forças aqui aplicadas transmitem-se ao canal óptico, local mais frequente de lesão traumática do nervo óptico (Crompton, 1970). O traumatismo temporal ou parietal pode ocasionalmente causar lesão no nervo óptico, mas em raríssimas ocasiões o traumatismo occipital é a causa. Geralmente causam perda visual imediata e esta apresenta algum grau de recuperação em 33% dos casos (Russell, Schiller, 1949). O traumatismo direto aplica-se sobre o globo ocular, com avulsão do nervo óptico, associada à hemorragia retiniana. Cegueira unilateral é a consequência mais frequente da lesão traumática do nervo óptico, porém qualquer grau de acometimento da acuidade visual pode estar presente. Em termos de comprometimento de campo visual, os defeitos altitudinais inferiores são os mais frequentemente relatados (Turner, 1943). Em 10% dos casos há lesões bilaterais ou lesões quiasmáticas, que geralmente são assimétricas com comprometimento unilateral grave associadas a hemianopsia temporal contralateral (Turner, 1943). A deterioração progressiva da acuidade visual sugere processo de reversibilidade (Lessell, 1989) como hemorragia extraxial ou compressão direta do nervo por Introdução 16 fragmentos ósseos. Mesmo um curto período de recuperação visual após traumatismo craniano constitui, potencialmente, processo reversível. Por outro lado, perda visual imediata no impacto sugere laceração, avulsão ou contusão extensa com necrose isquêmica do nervo e prognóstico muito reservado. A tomografia de órbita fornece informações quanto a presença de fraturas do canal orbitário, assim como a presença de fragmentos ósseos em seu interior. As lesões do globo ocular ocorrem frequentemente por traumatismo direto ou traumatismos penetrantes com consequente rotura do globo ocular. Nestes casos, geralmente, ocorre mínima lesão cerebral com excelente prognóstico, porém a lesão ao globo ocular é uma importante fonte de infecção do sistema nervoso central (Kline et al, 1984), pela presença de fístula liquórica. Deve-se considerar também a possibilidade de sangramento no globo ocular, a qual é dividida em sangramento da câmara anterior, do vítreo e da retina. O sangramento retiniano é o mais frequente. É visualizado como pequena área retiniana avermelhada, edemaciada e elevada quando comparada com o nível retiniano não comprometido. Na fase crônica, o fundo de olho é visto como uma área irregular e pálida circundada por área de pigmentação enegrecida. Quando este tipo de lesão estiver localizado nas imediações da mácula, alterações da acuidade e do campo visual ocorrem. Deslocamento do eixo do olho ocorre durante o TCE quando a órbita é deformada por fraturas que envolvem a face ou a fronte (Kline et al, 1984). Os deslocamentos oculares mais frequentes ocorrem nas direções póstero-anteriores com desvio lateral do globo ocular. Deslocamentos no eixo superior e medial são raros. Consequentemente, a diplopia é queixa comum quando os neuromecanismos oculares estão lesados. Deve-se também considerar que a lesão da polia do músculo oblíquo superior contribui para os distúrbios do movimento ocular. Traumatismo direto ao nervo óptico está confinado a ferimentos por projéteis de arma de fogo ao crânio e raramente são vistos na prática civil. Introdução 17 Alterações visuais (mono ou binoculares) podem ser observadas (incluindo cegueira) em TCE sem evidência direta de traumatismo aos nervos ópticos (0,5% a 1,5%) (Hughes, 1964). A cegueira ocorre imediatamente após o traumatismo (geralmente monocular). Pode ocorrer espasmo da artéria central da retina. Em 50% dos casos há melhora progressiva da visão em 30 dias, sendo raros os casos que apresentam melhora após este período. O disco óptico torna-se pálido e pode haver pigmentação enegrecida ao redor do disco. Outra hipótese é a possível presença de extravasamento sanguíneo no interior da dura-máter que recobre o nervo óptico, de acordo com a descrição de Pringle* (1922), citado por Crompton (1970) que submeteu dois pacientes ao tratamento cirúrgico sem qualquer melhora do prognóstico. Stephenson (1919) descreve sinais de comprometimento ocular sem evidência direta de traumatismo ocular. Isso foi observado em pacientes vítimas de TCE, com equimose conjuntival que se seguiu após traumatismo em região parietal, hemorragia retiniana consequente a traumatismo frontal, além de atrofia óptica em paciente vítima de traumatismo frontal. O exame dos campos visuais revela diferentes tipos de achados como escotomas centrais, defeitos no campo visual periférico e hemianopsias horizontais (achado mais frequente) (Hughes, 1964). A lesão indireta do nervo óptico é definida como perda visual de origem traumática sem evidência externa ou oftalmoscópica de lesão ocular ou do nervo (Walsh, Hoyt**, 1963, citados por Kline et al, 1984). A explicação mais aceita para a patogênese da lesão indireta é a insuficiência vascular (Kline et al, 1984). Se a perda visual for transitória, vasoespasmo e concussão do nervo podem ser as causas responsáveis, mas se a perda for permanente, provavelmente ocorreu infarto do nervo óptico. Traquair et al (1935) sugerem que a lesão ocorra nos vasos sanguíneos do nervo óptico mais do que no nervo propriamente dito. * Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922; 2:1156-7. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. ** Walsh FB, Hoyt WF. Clinical neuro-ophthalmology. Baltimore: Williams and Wilkins; 1969. APUD Kline LB, Morawetz RB, Swaid SN. Indirect injury of the optic nerve. Neurosurgery. 1984; 14:756-64. Introdução 18 O exame dos campos visuais revela diferentes tipos de achados como escotomas centrais, defeitos no campo visual periférico e hemianopsias horizontais (achado mais frequente) (Hughes, 1964). A lesão indireta do nervo óptico é definida como perda visual de origem traumática sem evidência externa ou oftalmoscópica de lesão ocular ou do nervo (Walsh, Hoyt**, 1963, citados por Kline et al, 1984). Portanto, neste tipo de lesão, a via óptica não é lesada por corpo estranho, mas a lesão ocorre em conjunto com o TCE fechado (0,5 a 1,5% dos casos). Deve-se atentar para a possibilidade de fraturas do canal óptico e do processo clinóide anterior, mesmo que ocorram na minoria dos casos. A porção intracanalicular do nervo óptico é a região mais frequentemente lesada pelo traumatismo craniano fechado (Hedges, Gragouda, 1981; Kline et al, 1984), por ser um segmento fixo contido no interior de uma estrutura rígida e ladeado por duas estruturas com relativa mobilidade: o encéfalo e o globo ocular. As fraturas em estruturas ósseas que englobam o nervo óptico produzem lesão em menor frequência (Pringle*, 1922, citado por Crompton, 1970), podendo envolver o canal óptico, o processo clinoide anterior e o teto orbitário. Os fragmentos ósseos levam à rotura e à descontinuidade das fibras do nervo óptico. A porção intraorbitária geralmente é poupada, devido à sua mobilidade e à proteção oferecida pela gordura periorbitária e músculos extraoculares, assim como o segmento intracraniano. As lesões indiretas podem ser divididas em dois grupos (Kline et al, 1984): anterior e posterior. A lesão indireta anterior denota envolvimento da porção intraocular do nervo óptico (disco óptico), a qual contém a artéria central da retina. As alterações fundoscópicas são evidentes e pode haver oclusão desta artéria com aparecimento de edema retiniano, palidez óptica, retardo no fluxo sanguíneo retiniano em nível de * Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922; 2:1156-7. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. Introdução 19 disco óptico e na coroide peripapilar e mancha avermelhada na mácula ou espasmo vascular retiniano (Hedges, Gragouda, 1981). A angiografia por fluoresceína demonstra comprometimento da circulação arterial ciliar posterior na inserção escleral (o que justifica a ausência de exoftalmo), ausência de perfusão do disco óptico e extravazamento de contraste tingindo-se o nervo óptico. Há varáveis graus de perda visual neste tipo de lesão e o prognóstico é reservado. No nervo óptico, lacerações marginais anteriores são visibilizadas, além de hemorragia discal. Após duas semanas há resolução da hemorragia deixando uma cicatriz fortemente pigmentada nas margens do disco e após um mês, a palidez papilar torna-se evidente. A lesão indireta posterior baseia-se na lesão óptica sem alterações fundoscópicas durante a avaliação inicial. Após quatro a oito semanas do traumatismo, ocorre palidez do disco e perda da camada de fibras nervosas retinianas. Presume-se que a lesão ocorra entre a entrada da artéria central da retina no interior do nervo óptico e o quiasma óptico. Aqui ocorrem escotomas. Hughes (1964) propõe classificação das lesões traumáticas de nervo óptico pela localização anatômica da lesão em: a) Lesão marginal anterior (11,6%) – lesão que ocorre na região coroidorretiniana. Muitas vezes não visualizada na fase aguda do traumatismo e associada à lesão orbitária e frontal. O tipo de perda visual (descrita como em feixe de fibras) mais a palidez do disco óptico sugerem traumatismo à parte mais anterior do nervo óptico. Pode também haver aparência normal do fundo de olho com espasmo de vasos retinianos. Caracteriza-se por prognóstico muito reservado; b) Porção anterior do nervo óptico (13%) – lesão que ocorre posteriormente ao disco óptico, porém anteriormente à entrada da artéria central da retina. Ocorre geralmente em traumatismos frontais associados a fraturas. Frequentemente há palidez do disco óptico com perda total da visão na fase aguda e recuperação parcial da visão em 10% dos casos; c) Porção canalicular de nervo óptico (65%) – lesões que ocorrem posteriormente à entrada da artéria central da retina até o quiasma óptico. Nesta porção, o nervo óptico está firmemente preso ao canal óptico e possui o maior trajeto, estando mais sujeito às trações pelo movimento de inércia do encéfalo. Além Introdução 20 disso, o traumatismo orbitário transfere sua energia ao canal óptico (Lewin, 1954). Em 70% dos casos ocorre por traumatismo frontal (Lewin, 1954), porém somente em 10% ocorre fratura no canal óptico ou no processo clinoide anterior. Neste tipo de lesão comumente ocorre rinorreia. A perda visual é imediata com prognóstico reservado. Há palidez do disco óptico, podendo o restante do fundo de olho, ter aspecto normal. Em aproximadamente 70% os casos, o déficit do campo visual está localizado no campo inferior (hemianopsia inferior) e em 20% evidencia-se hemianopsia superior. Geralmente a lesão do nervo óptico ocorre por estiramento vascular e trombose ou lesão de pequenos vasos que nutrem o nervo óptico. É o grupo de pacientes que costumam ser submetidos ao tratamento cirúrgico, que consiste em descompressão do nervo por remoção de espículas ósseas que o comprimem; d) Lesão optoquiasmática (6,5%) – ocorre lesão no ângulo quiasmático anterior ou no nervo óptico. Geralmente são traumatismos frontais nas proximidades da linha média. A perda visual monocular é imediata, associada a hemianopsia temporal contralateral. A anatomia do suprimento vascular do ângulo quiasmático sugere que este tipo de traumatismo possa estar associado a espasmo ou trombose de um vaso específico; e) Traumatismo quiasmático (3,9%) – também ocorre por traumatismo frontal nas imediações da linha média com presença de fratura craniana em praticamente 100% dos casos. A perda visual é imediata com presença de hemianopsia bitemporal. Não foi relatada recuperação visual em qualquer caso. Acredita-se que o déficit visual ocorra por trombose ou vasoespasmo da artéria quiasmática central; f) Lesão no trato óptico e corpos geniculados – lesões raras e que ocorrem em ferimentos por projéteis de arma de fogo. Ocorre perda visual homônima e completa; g) Lesões suprageniculadas – ocorrem nas lesões do trato genículo-calcarino e córtex calcarino. Geralmente vistas em lesões penetrantes e associam-se a fraturas ou afundamentos de crânio. Ocorre perda visual congruente e homônima na periferia do campo, o que muitas vezes faz com que o indivíduo tenha uma vida normal. Porém, quando escotomas centrais ocorrem, constituem fator impeditivo às atividades de vida diária; Introdução 21 h) Lesão em radiações ópticas – ocorre perda visual homônima e congruente, geralmente no campo visual inferior por traumatismos penetrantes; i) Traumatismo ao córtex calcarino – geralmente resulta de traumatismos não penetrantes com afundamentos cranianos localizados na linha média occipital. Ocorrem escotomas centrais, mas podem ser múltiplos ou bilaterais. É possível que a cirurgia de descompressão precoce possa melhorar o prognóstico visual. Outra classificação é a preconizada por Walsh* (1966), (citada por Hedges, Gragouda, 1981) onde se divide a lesão traumática do nervo óptico em primária e secundária. A lesão primária é representada por hemorragia no nervo óptico, dura-máter que o recobre ou nos espaços entre as membranas que o recobrem. Estes casos podem levar à atrofia óptica, mas edema no disco óptico é raramente observado. Lesões do nervo óptico ocorrem por avulsão do globo ou transecção do nervo, geralmente devidas a ferimentos penetrantes do nervo por corpos estranhos ou fragmentos ósseos. Lacerações marginais do disco podem estar presentes juntamente com hemorragias peripapilares (Hedges, Gragouda, 1981). As lesões secundárias incluem papiledema associado a traumatismo cranioencefálico grave e necrose do nervo por compressão local e não perfusão de pequenos vasos ópticos centrípetos, derivados da circulação pial. Atrofia óptica secundária a glaucoma, oclusão traumática da artéria central da retina e retinopatia compressiva por pressão prolongada sobre o globo ocular também são consideradas lesões secundárias. Rodger (1943) afirma que o primeiro fenômeno observável no exame de fundo de olho é a palidez do disco (total ou em parte), sendo que a papila óptica mantém suas margens nítidas e sem alterações pigmentares retinianas. Pacientes com perda visual imediata secundária a neuropatia óptica traumática geralmente não apresentam recuperação visual em decorrência de infarto, laceração ou avulsão do nervo óptico. * Walsh APUD Hedges TR, Gragouda ES. Traumatic anterior ischemic optic neuropathy. Ann Ophthalmol. 1981; 13: 625-8. Introdução 22 1.1.1.2.1. Avulsão do nervo óptico De Vries-Knoppert (1989) relata avulsão de nervo óptico como evento traumático raro que pode resultar de traumatismo facial ou orbitário, penetrante ou não. Salzmann (1903) define a avulsão como a separação do nervo óptico do globo ocular em nível da lâmina crivosa da esclera sem a rotura da bainha do nervo ou da esclera adjacente. A lâmina crivosa é região relativamente delicada do globo ocular e composta somente por 1/3 das fibras da esclera. Além disso, os axônios do nervo óptico são desmielinizados quando deixam o globo ocular, tornando-os mais vulneráveis a lesões nesta região. O globo ocular é estirado e traciona o nervo óptico, porém, o mecanismo de trauma mais frequentemente envolvido é a rotação extrema do globo ocular causada pelo deslocamento dos ossos faciais e orbitários, o que não é compartilhado por Samborn et al (1984), afirmando que na rotação extrema do globo ocular deveria ocorrer lesão concomitante da musculatura ocular extrínseca. O exame de fundo de olho revela lesão escurecida na região do disco óptico, rodeado por hemorragia ou contusão retiniana (Fig. 1). Na fase crônica a hemorragia é substituída por tecido fibroso. O diagnóstico pode não ser feito na fase aguda pela presença de hemorragia vítrea (Fig. 2). A lesão inclui neurônios do nervo óptico, enquanto a bainha que o envolve permanece íntegra por ser mais elástica. Introdução 23 Figura 1. Traumatismo ocular com contusão retiniana (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão). Figura 2. Hemorragia vítrea (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão). Perda visual tardia também pode ocorrer e é potencialmente reversível. Ocorre por desenvolvimento de edema ou isquemia no interior do canal óptico ou Introdução 24 compressão por hematoma subperiostal (Turner, 1943). Mais raramente ocorre por desenvolvimento de mucoceles ou aneurismas traumáticos. 1.1.1.2.2. Lesões quiasmáticas Podem ocorrer lesões do quiasma óptico com consequente hemianopsia bitemporal simulando secção sagital do quiasma óptico, se bem que na maioria dos casos o diagnóstico possa ser apenas suspeitado (Wuest, 1960). Acredita-se que a lesão ocorra por fenômeno trombótico, após movimento do encéfalo em relação ao crânio ocasionando rotura de pequenos vasos piais que suprem o quiasma óptico. Existe diminuição importante da acuidade visual (hemianopsia bitemporal) associada a escotoma central. Duke-Elder (1972) afirma que a lesão possa ocorrer pelo movimento do encéfalo em relação ao crânio, provocando laceração de pequenos vasos piais que suprem o quiasma óptico. Osterberg (1938) não acredita que somente as fibras que participam da formação do quiasma possuam vascularização específica, contrariando a ideia de Duke-Elder (1949). Louw (1954) afirma que a causa mais provável de lesão traumática em quiasma óptico seja a ocorrência de múltiplas lacerações das fibras nervosas que decussam com formação de hematoma. François et al (1958) e Hughes (1958) realizaram estudo anatômico envolvendo a vascularização do quiasma. Não foram encontrados vasos que suprem as fibras ópticas que cruzam no quiasma óptico. A superfície inferior do quiasma é suprida pela artéria hipofisária ântero-superior. As fibras laterais (não cruzadas) são supridas por ramos diretos da carótida interna. A superfície superior recebe ramos da artéria cerebral anterior e comunicante anterior. O centro do quiasma óptico é irrigado pela artéria quiasmática, ramo da comunicante anterior (Fig. 3). Introdução 25 Figura 3. Vascularização intraorbitária do nervo óptico (Modificado de François et al, 1958). A– a. central da retina; B– a. central do n. óptico; C– bainha do n. óptico; D– retina; E– n. óptico. As artérias oftálmica, coroidea anterior, cerebral média e comunicante posterior estão envolvidas na vascularização do quiasma óptico. Para estes autores, a lesão quiasmática é causada por rotura nas fibras que decussam com possível formação de hematomas. Lembram ainda que a artéria central da retina fornece ramos somente para a retina e não para o nervo óptico. De acordo com François et al, o nervo óptico é suprido pela artéria central do nervo óptico, ramo da artéria oftálmica e por vasos localizados na pia-máter (sistema periférico) procedentes da artéria oftálmica e das artérias ciliares (Fig. 4). A artéria central do nervo óptico divide-se em ramos anterior e posterior, localizados ao longo do nervo. O sistema periférico é composto de que artérias alcançam a superfície do nervo perpendicularmente e depois dicotomizam-se, recebendo ramos do círculo de Zinn-Haller (derivado das artérias ciliares posteriores e que se dirigem para o disco óptico) em nível da lâmina crivosa da esclera. Introdução 26 Figura 4. Representação esquemática da vascularização das vias ópticas (Modificado de François et al, 1958). 1-a. central da retina; 2- vasos colaterais da a. central da retina que suprem apenas a retina; 3- a. central do nervo óptico (rr. anterior e posterior); 4- capilares da camada fascicular da retina; 5- capilares do nervo óptico (formas pentagonais); 6- capilares do nervo óptico (formas quadradas); 7- lado nasal do segmento intracraniano do nervo óptico com capilares; 8- a. quiasmática; 9- arcada pré-quiasmática; 10- lado temporal do quiasma com capilares; 11- junção capilar da parte média do quiasma; 12- capilares do trato óptico originários das aa. perfurantes; 13- arteríolas intratissulares do trato óptico; 14- capilares do trato óptico; 15- capilares quadrangulares do trato óptico para o corpo geniculado lateral; 16– arteríolas perfurantes para o corpo geniculado lateral; 17- capilares para o corpo geniculado lateral. Posteriormente, nos segmentos intracanalicular e intracraniano, o nervo óptico recebe grande número de arteríolas, responsáveis pela nutrição principal do nervo (François et al, 1958). Introdução 27 O trato óptico é irrigado pela artéria comunicante posterior e coroidea anterior, enquanto o corpo geniculado lateral recebe ramos da coroidea anterior (ramo da ACI) e coroides posteriores lateral e medial (ramos da cerebral posterior). Para François et al (1958) “é inconcebível que o quiasma óptico, que é nutrido profusamente por 11 artérias e grande rede anastomótica de arteríolas possa ter sua função alterada pela obstrução de uma ou mais artérias. A hemianopsia resultante deve ser atribuída a alteração capilar intratissular após compressão externa”. Osterberg (1938) acredita que a lesão quiasmática ocorra em sua porção medial quando causada por traumatismo frontal, pois os nervos ópticos são fixos no forame óptico, levando a uma rotura sagital das fibras quiasmáticas. Traquair et al (1935) descartam a possibilidade de laceração do quiasma, pois este se localiza 1 cm acima da base do crânio (mesmo quiasmas pré-fixados) e a maior parte das fraturas não atinge a base do crânio, mas o traumatismo pode levar à laceração dos vasos que nutrem o quiasma óptico. Savino et al (1980) afirmam que as principais lesões associadas à síndrome quiasmática de origem traumática são: diabetes insipidus temporária, anosmia, surdez, lesões associadas dos III, IV, V, VI e VII nervos, fístula liquórica, aneurisma de carótida interna, fístula carotidocavernosa, meningite, pneumocrânio, panhipopituitarismo e hematoma intrasselar. O TCE fechado constitui rara causa de lesão de nervo óptico (Turner, 1943) quando há traumatismo frontal de alta energia cinética associado a múltiplas fraturas cranianas e longo período de inconsciência. As alterações visuais variam de cegueira monocular a alterações hemianópticas bitemporais (Savino et al, 1980). Crompton (1970) descreve achados patológicos de etiologia traumática na via visual (da retina aos tratos ópticos) em 84 pacientes submetidos a exame de autópsia. Introdução 28 As principais lesões descritas foram: a) Hemorragias durais: sangramento em veias intradurais localizadas entre as duas camadas durais do nervo óptico; b) Hemorragias intersticiais: ocorrem no interior do nervo óptico e nos septos fibrosos que dividem os feixes nervosos; c) Necrose isquêmica: consistem de regiões de rarefação mielínica bem delimitadas e lesão axonial; d) Lesões por cisalhamento: regiões pobremente definidas de rarefação mielínica e lesão axonial; e) Hemorragias retinianas: hemorragias localizadas em qualquer das camadas da retina. A necrose isquêmica e as lesões por cisalhamento foram as mais frequentes. O autor atribui estes achados ao fato de as fibras nervosas e vasos lesados nas duas extremidades do nervo localizarem-se nas extremidades do canal ósseo, onde o movimento dos componentes orbitários e do encéfalo fariam a lesão. Ainda, segundo o autor referido, hemorragias retinianas afetaram todas as camadas da retina e não houve relação do seu aparecimento com fraturas cranianas. As hemorragias resultam da rotura de pequenos vasos pelo impacto inicial. A hemorragia coroide pode ocorrer no impacto inicial ou ser decorrente de aumento da pressão intracraniana ou hipertensão arterial. Gross et al, (1981) sugerem que o deslocamento abrupto da parede orbitária que ocorre no traumatismo frontal, após o cessar do mecanismo, leva a oscilações de tecidos moles causando estiramento do canal óptico com consequente lesão da microvasculatura intraneural e das fibras nervosas. Pringle* (1922), citado por Crompton (1970), discute se a presença de sangue na bainha do nervo óptico pode produzir qualquer alteração da acuidade visual. Hughes (1964) afirma que 50% dos pacientes com neuropatia óptica traumática não recuperarão a função visual. Para este autor, as hemianopsias horizontais são os defeitos visuais pós-traumáticos mais comuns, atribuindo à hemorragia retini* Pringle JH. Atrophy of the optic nerve following diffused violence to the skull. Br Med J. 1922; 2:11567. APUD Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. Introdução 29 ana nas imediações da mácula, a principal causa da perda visual. Descreve ainda lesões da porção anterior do nervo óptico entre o disco e a entrada da artéria central da retina. Lesão ao trato óptico seria decorrente apenas de traumatismos penetrantes. Kline et al (1984) afirmam que não há necessidade de tratamento cirúrgico quando a perda visual é total, porém quando for progressiva através de observações sequenciais, preconiza a exploração e descompressão do nervo óptico. Na casuística de Lessell (1989) os acidentes com bicicleta representaram a etiologia traumática mais comum para a lesão indireta do nervo óptico. As alterações da acuidade visual não corresponderam às alterações do nível de consciência póstraumático ou com a presença de fraturas faciais. A tríade de Maurer (TCE, epistaxe por rotura de pseudoaneurisma da a. carótida interna e cegueira unilateral) deve alertar para lesão traumática de nervo óptico (Patel et al, 2005). A pupila de Marcus-Gunn pode estar presente em pacientes com lesão traumática de nervo óptico (estímulo luminoso provoca miose no lado não afetado e midríase no lado acometido pela lesão do nervo). Segundo Louw (1954), o quiasma óptico pode ser lesado somente por traumatismos de alta energia cinética, sendo que o deslocamento ósseo nem sempre é a causa da lesão. A lesão das fibras que decussam ocorre em nível microscópico, podendo haver diminuição da acuidade visual sem que haja alterações maculares, pela existência de fibras que decussam e fibras que não decussam no quiasma óptico. Wuest (1960) e Anderson, Lloyd (1964) afirmam que a secção quiasmática completa pós-traumática é rara e deve-se a laceração de fibras que cruzam o plano sagital mediano, apesar de não desconsiderar outros mecanismos de lesão quiasmática, tais como: interrupção do fornecimento sanguíneo arterial ao quiasma, hemorragia no interior das fibras que compõem o quiasma e pressão sobre o quiasma proveniente de hematoma intrasselar. Introdução 30 Logan, Gordon (1967) por meio de observação intraoperatória de paciente com lesão traumática de quiasma óptico, afirmam que a lesão ocorreu por estiramento do quiasma através do deslocamento do nervo óptico esquerdo. Não descreveram hematomas ou aparentes lesões macroscópicas no quiasma óptico. Wyllie et al (1972) afirmam que a lesão da via visual decorrente de traumatismo frontal ocorre por isquemia devido a obstrução das artérias ciliares posteriores. Freiwald (1977) afirma que lesão penetrante em órbita pode levar à rotura do globo ocular com expulsão dos componentes oculares, avulsão do nervo óptico, descolamento de retina e traumatismo muscular suficiente para causar diplopia permanente, fratura da parede orbitária com comunicação aos seios nasais e fístula liquórica. Ramsay (1979) afirma que a tomografia computadorizada, muitas vezes, não é capaz de identificar o traço de fratura que envolve o canal óptico, mesmo conhecendo-se o local e direção de propagação da lesão. Portanto, aponta uma causa vascular. Walsh, Lindenberg (1963) descrevem lesões traumáticas de nervo óptico desde hemorragias no interior do nervo e de sua bainha com edema do nervo até necrose associada à contusão e a infarto. Acreditam que a contusão resulte de forças de tração aplicadas sobre o nervo associadas à necrose secundária por lesão em pequenos vasos nutrientes na porção canalicular e intracraniana do nervo, reafirmando o posicionamento de Hughes (1958), que considera as hemianopsias altitudinais decorrentes de lesão vascular do nervo óptico. 1.1.1.3. Complexo de nervos motores oculares 1.1.1.3.1. Nervo oculomotor (III) Elston (1984) afirma que este tipo de lesão é mais frequente no adulto jovem e é decorrente de acidentes automobilísticos ou motociclísticos. Pode ser lesado em nível mesencefálico por hemorragia intra ou perineural, no espaço subaracnoide ou por contusão primária do nervo. O déficit do nervo cosIntrodução 31 tuma ser permanente. A lesão parcial do III nervo é traduzida por ptose palpebral, dificuldade em movimentar o globo ocular no sentido superior e anormalidade da reação pupilar, além de contração da musculatura da testa (franzir) para compensar o efeito da paralisia do elevador da pálpebra superior. Para distinguir-se lesão de III nervo da limitação de movimento orbitário por lesão muscular, geralmente é necessário esperar redução do edema orbitário. Na casuística de Bhatoe (2007), o nervo oculomotor é lesado entre 8 e 16% dos traumatismos cranioencefálicos. Dilatação pupilar associada ao desvio lateral do globo ocular em paciente vítima de TCE faz o diagnóstico de lesão do nervo oculomotor mesmo no paciente inconsciente. Uma pupila midriática fixa após traumatismo facial ou orbitário, geralmente representa lesão direta do nervo, dano ao sistema nervoso autônomo parassimpático ou lesão do nervo óptico. A paralisia bilateral do III nervo, assim como a lesão completa do III nervo são mais frequentes em traumatismos com alta energia cinética (Patel et al, 2005). Na fase aguda, ptose e paralisia extraocular podem não ser devidamente diagnosticadas, exceto quando houver paralisia completa do III nervo (Memon, Paine, 1971). Deve-se lembrar que alterações pupilares por lesão de III nervo podem ser causadas por traumatismo orbitário ou na região temporoparietal (relação do III nervo com a porção petroclinóide do tentório, onde pode ser estirado durante o traumatismo craniano). Portanto, é extremamente importante diferenciar o comprometimento primário (lesão direta) do III nervo da lesão secundária (consequente ao aumento de hematoma intracraniano). Lesão mesencefálica tectal pode apresentar-se com lesão de III nervo, porém, a maior parte das lesões resulta de compressão em nível do hiato tentorial por hérnia transtentorial do uncus. Lesões orbitárias e intracavernosas (em fraturas de base de crânio) são causas de lesões associadas de III com IV, V e VI nervos. Na síndrome de Benedikt, a lesão concomitante do núcleo rubro leva ao aparecimento de tremores no hemicorpo contralateral à lesão. Na síndrome de WeIntrodução 32 ber, a lesão do pedúnculo cerebral leva à hemiparesia contralateral com lesão do III nervo ipsilateral à lesão. Recuperação da função do III nervo com melhora desproporcional da adução ocular sugere regeneração aberrante do nervo. Um teste para diagnosticar esta recuperação errônea é feito pedindo-se ao paciente elevar a pálpebra e observar-se a rotação do globo ocular para o lado medial e inferiormente (Rucker, 1966). Diferentes combinações de lesões podem ocorrer nos nervos motores oculares após TCE. O terceiro nervo (oculomotor) quando lesado pode indicar herniação uncal (que não altera as funções do IV, nem do VI nervo), principalmente quando o componente intrínseco estiver alterado. O sexto nervo (abducente) é o nervo do complexo motor ocular mais frequentemente acometido nas lesões traumáticas por possuir longo trajeto intracraniano, seguido pelo terceiro nervo (oculomotor). Se os dois músculos retos superiores forem igualmente atingidos, não haverá desvio no eixo vertical na posição primária, porém haverá elevação bilateral durante a adução. A exciclotorsão de ambos os globos oculares é devida ao fato de o músculo reto inferior no movimento de deslocamento inferior do globo ocular atuar sem a ação oponente do oblíquo superior (Chapman et al, 1970). A ação de extorsão geralmente é compensada pela intorsão proporcionada pelos oblíquos superiores. O efeito adutor dos retos inferiores não antagonizados pelos efeitos abdutores dos oblíquos superiores causa esotropia (estrabismo convergente), que é observada durante a mirada conjugada inferior (Chapman et al, 1970). Walsh (1957) afirma que nervos motores e sensitivos regeneram-se após lesão traumática periférica, assim como seus componentes autonômicos. Quando o nervo é gravemente lesado ou esmagado existe degeneração axonial nas regiões lesadas. Memon, Paine (1971) afirmam que a lesão isolada do oculomotor devida a traumatismo direto é idêntica ao quadro apresentado quando este é lesado por processo expansivo intracraniano, podendo ser parcial ou completa. Introdução 33 Na casuística de Green et al, (1964) a inervação do músculo reto superior foi a mais frequentemente lesada em decorrência de TCE e a maioria dos pacientes teve comprometimento da musculatura pupilar. Se ocorrer regeneração, a quantidade de axônios regenerados geralmente é maior que o número de neurônios existentes previamente à lesão. Existe o desenvolvimento de axônios colaterais a partir da terminação lesada e da região parcialmente lesada, ou seja, existe brotamento de novas fibras a partir do coto, onde células de Schwann justapõem-se, formando túbulos para a condução dos novos brotos até o órgão alvo. Porém, pode haver o que Walsh, Linderberg (1963) chamaram de regeneração aberrante, onde existe um mau direcionamento das fibras que se regeneram em relação ao órgão alvo (semelhantemente ao que ocorre com a regeneração do nervo facial). Com isso, os axônios que se destinavam ao elevador da pálpebra podem alcançar este músculo, mas outros axônios alcançam o reto inferior, reto medial ou o oblíquo inferior, causando uma contração em massa. Este erro de reinervação é exemplificado quando o paciente aduz o globo ocular e ocorre elevação da pálpebra superior. A lesão pós-traumática isolada de III nervo é extremamente rara (Lin et al, 2013). É geralmente indireta e deve-se à expansão de hematoma supratentorial, associado a hemorragia subaracnoide, fratura craniana, aneurisma, fístula carotidocavernosa ou lesão mesencefálica. Os autores afirmam que a reversão da ptose palpebral ocorre mais precocemente e em aproximadamente 100% dos casos, seguida pela recuperação dos movimentos oculares extrínsecos e finalmente pelas alterações pupilares, que ocorrem tardiamente e numa frequência de aproximadamente 40% dos casos, quando consideram a descompressão da órbita, uso de altas doses de metilprednisolona (30 mg/kg in bolus seguidas de 15 mg/kg a cada 6 horas por três dias) ou simples observação. 1.1.1.3.2. Nervo troclear (IV) Diplopia é a apresentação mais comum da paralisia do troclear e traduz-se frequentemente por desvio vertical e horizontal do globo ocular ou por desvio torsional. Nota-se anormalidade da postura cefálica do paciente, podendo levá-lo ao torciIntrodução 34 colo ou a escoliose. Ambliopia é incomum na lesão do IV nervo, mas pode ser identificada em pacientes com lesão congênita de IV nervo (Mansour, Reinecke 1986). Willbrand, Sanger*, citados por Chapman et al (1970), afirmam que o nervo troclear é frequentemente lesado no véu medular superior no nível do colículo inferior, onde as fibras do troclear decussam, além de apresentar finíssimo diâmetro. Traumatismo é a causa mais comum (32%) de lesão única de nervo troclear (Mansour, Reinecke, 1986), seguida de causas vasculares, inflamatórias, substâncias tóxicas e neoplasias. Por este motivo, o nervo troclear também é chamado de nervo do trauma. Possui o maior trajeto intracraniano entre os nervos cranianos (75 mm) e diplopia com desvio ocular vertical e horizontal são as apresentações clínicas mais comuns de acordo com Mansour, Reinecke (1986). Na casuística de Burger et al (1970), a maior parte das lesões do nervo troclear é de origem traumática, quando comparadas com as causas metabólicas (diabetes mellitus), vascular, neoplásica e inflamatória. Para Chapman et al (1970) a diplopia torsional não é um sintoma comum na paralisia unilateral do IV nervo. A diplopia torsional pode ou não estar associada à diplopia vertical ou horizontal quando a lesão do nervo for bilateral. Alguns pacientes são capazes de superar os sintomas de diplopia e fusão de imagens simplesmente olhando para cima. Consequentemente, irão abaixar o queixo para olhar diretamente para o plano horizontal. Após súbita desaceleração ou traumatismo à região frontal, o encéfalo, por sua inércia, tende a continuar seu movimento posteriormente e choca-se contra um crânio estacionário. Isto leva a contusão por contragolpe na passagem do nervo pelo véu medular superior com avulsão de suas fibras (Mansour, Reinecke, 1986). Pela simetria das forças contundentes durante o traumatismo, pode haver lesão bilateral do nervo. A função primária do músculo oblíquo superior é proporcionar a intorsão do globo ocular e secundariamente deprimi-lo e abduzi-lo. * Willbrand, Sanger APUD Chapman LI, Urist MJ, Folk ER, Miller MT. Acquired bilateral superior oblique muscle palsy. Arch Ophthalmol. 1970; 84:137-42. Introdução 35 Fraqueza deste músculo, como aquela causada pela lesão do IV nervo, causa diplopia vertical que piora quando o paciente olha para baixo. Para compensar isto, o paciente aprende a adotar determinada postura da cabeça. Para compensar os desvios horizontais, o paciente adota deslocamento lateral da cabeça e para desvios verticais, adota elevação ou depressão do queixo. Para desvios torsionais, inclina lateralmente a cabeça. Assim, a lesão do músculo oblíquo superior direito faz com que o paciente vire sua cabeça para a esquerda e incline sua face para a direita e seu queixo para baixo, para facilitar a fusão de imagens e diminuir a diplopia (sinal de Bielschowski). Segundo Khawam et al (1967), o traumatismo cranioencefálico é a causa mais frequente de lesão do músculo oblíquo superior. O tratamento cirúrgico destina-se à correção do defeito vertical. Para isto, recorre-se ao enfraquecimento do músculo oblíquo inferior no lado envolvido. Na casuística de Lepore (1995), estudando-se exclusivamente a lesão traumática dos nervos motores oculares, o nervo troclear foi o nervo mais frequentemente lesado no TCE, seguido pelo abducente. O prognóstico é bom (75% de recuperação) (Keane, Baloh, 1996), apesar de funcionalmente poder haver reinervação anômala de grupos musculares com produção de movimentos anômalos do globo ocular e pouca reatividade pupilar. O tratamento consiste em usar tampões oculares do lado lesado a fim de se evitar que a diplopia resultante cause confusão visuoespacial, até que a recuperação ocorra. Isto geralmente leva de quatro a cinco semanas (Sydnor et al, 1982). O IV nervo também é suscetível a lesões na região tentorial, o que é observado em traumatismos frontais oblíquos, por movimento de aceleração e desaceleração. As linhas de força são transmitidas da região frontal para a occipital contralateral passando pelo tentório. A susceptibilidade do nervo a lesões traumáticas é explicada por sua relação com a margem tentorial. Pode haver também compressão direta da região mesencefálica inferior lesando diretamente o nervo ou seu núcleo motor por sangramento local (Lindenburg, 1975). Introdução 36 A lesão ocorre após grave TCE, geralmente causado por acidente automobilístico ou motociclístico, onde existe traumatismo orbitário direto ou frontal. O traumatismo orbitário direto pode causar fratura da fissura orbitária superior, deslocamento do ânulo tendíneo de Zinn, hematoma no músculo oblíquo superior ou fratura do osso esfenoide (Burger et al, 1970). Lesões bilaterais do IV nervo também estão relacionadas a traumatismo de altíssima energia cinética que atinge diretamente a região frontal, por distribuição simétrica das linhas de força. Burger et al (1970) preconizam o tratamento cirúrgico para a lesão do IV nervo, que consta em ressecção de ambos os músculos oblíquos inferiores. Sua lesão aparece mais comumente em associação à lesão do III nervo e deve ser suspeitada quando o paciente fecha um dos olhos com o objetivo de focar um objeto. À medida que a recuperação do nervo ocorre, refere-se diplopia vertical na mirada conjugada inferior. O paciente começa a inclinar a cabeça contralateralmente à lesão nervosa para compensar a diplopia e se houver inclinação ipsilateralmente à lesão, ocorre maior separação entre as imagens e confirma-se o diagnóstico (Keane, Baloh, 1996). Younge, Sutula (1977) preconizam o teste dos três passos (descrito por Parks, em 1958) para o diagnóstico de lesão do IV nervo: a) Inicialmente deve-se observar a função primária da musculatura ocular extrínseca com o posicionamento neutro da cabeça. Se houver desvio vertical do olho esquerdo para cima (por exemplo) significa que um dos depressores do globo ocular esquerdo ou um dos elevadores do globo ocular direito está parético. Portanto, deve-se procurar a lesão no oblíquo inferior ou reto inferior esquerdo ou reto superior ou oblíquo inferior direito; b) Determinar se o desvio aumenta com o desvio lateral do olhar. Se aumentar com o desvio para a direita, onde a ação vertical do músculo parético é máxima, o reto superior ou o oblíquo superior devem estar lesados; quando o paciente inclina a cabeça para a direita ocorre a intorsão do olho direito (oblíquo superior) e a extorsão do olho esquerdo (oblíquo inferior). Porém, quando o paciente inclina a cabeça para a esquerda, ocorre a intorsão do olho esquerdo (oblíquo superior) Introdução 37 e, pelo fato de estar parético, existe elevação do globo ocular (reto superior) não compensada, tornando o desvio mais aparente; c) A terceira fase consiste no teste de Bielchowsky (já descrito anteriormente). Rush, Younge (1981) e Mansour, Reinecke (1986) afirmam que a lesão do IV nervo tem bom prognóstico em termos de melhora de sua função quando a etiologia é de origem traumática com ausência de fraturas cranianas. Sydnor et al (1982) relatam pacientes com lesão traumática do IV nervo uni e bilateralmente afirmando que na lesão unilateral há hipertropia ipsilateral à lesão com diplopia vertical mais evidente que a torsional e inclinação da cabeça para obtenção da fusão de imagens. Nas lesões bilaterais, o grau de hipertropia é menor associado a exotropia (estrabismo divergente) com exciclotorsão e inclinação da cabeça para compensar a distorsão de imagens. Lee, Flynn (1985) relatam 18 pacientes com traumatismo cranioencefálico grave e todos apresentaram diplopia vertical ou torsional por envolvimento bilateral do IV nervo. Para Younge, Sutula (1977), a recuperação funcional do troclear é rara e costuma ocorrer em até 12 meses após a lesão do nervo, desde que a causa não seja traumática. Nos casos de etiologia traumática preconiza o uso de prismas ou ressecção do músculo oblíquo inferior. Em termos de tratamento cirúrgico, tentativas de descompressão destes nervos não resultaram em bons resultados. O tratamento deve ser otimizado na tentativa de recuperar a visão binocular e a fusão de imagens. O tratamento inicial da diplopia consiste no uso de tampões oculares (convexos para se evitar a formação de glaucoma secundário) para o conforto do paciente. A maior parte dos pacientes com lesão de IV nervo prefere inclinar a cabeça para a redução da diplopia. O uso de prismas oculares pode melhorar a visão binocular, enquanto a injeção de toxina botulínica nos músculos antagonistas àqueles paralisados pode reduzir sua contratura. Introdução 38 Rucker (1958, 1966) analisa 1000 casos de lesão do complexo motor ocular e relata que em mais de 28% dos casos, a causa não foi determinada. Em aproximadamente 17% de sua série a etiologia foi traumática, sendo o nervo abducente o mais frequentemente acometido (33,92%) seguido pelo oculomotor (30,35%) e troclear (14,28%). 1.1.1.3.3. Nervo abducente (VI) A lesão traumática do VI nervo geralmente é acompanhada por fraturas da porção petrosa do temporal, paralisia facial e surdez e quando lesado isoladamente, possui o melhor prognóstico de recuperação. O déficit tardio geralmente decorre de hipertensão intracraniana ou meningite hemorrágica (Keane, Baloh, 1996). Hughes (1964) afirma que o abducente é o nervo do complexo oculomotor que mais frequentemente é lesado em traumatismos de crânio, seguido pelo oculomotor, além de ser frequente a presença de fraturas da porção petrosa do osso temporal, paralisia facial e surdez. É também o nervo que é mais frequentemente lesado bilateralmente. Porém, a combinação de lesões também existe, ou seja, dois ou três nervos podem ser acometidos pelo TCE, assim como as lesões bilaterais (mais uma vez, o nervo abducente é o nervo mais frequentemente acometido bilateralmente). Mansour, Reinecke (1986) afirmam que o TCE seja responsável por 16% dos casos de lesão do nervo oculomotor e abducente. Acidentes motociclísticos e atropelamentos predominaram como mecanismo de trauma na lesão do abducente em suas casuísticas. A lesão também pode ocorrer por laceração do nervo na base do processo clinóide posterior, inferiormente ao ligamento petroesfenoidal, uma vez que este é o único ponto que o nervo apresenta íntimo contato com o crânio (Schneider, Johnson, 1971). Keane (1976) afirma que as fístulas liquóricas são mais frequentes quando a lesão do VI nervo é bilateral em sua série de 30 casos de lesão traumática de VI Introdução 39 nervo, onde 11 pacientes tiveram lesão unilateral e 19 apresentaram lesão bilateral do nervo. Possui trajeto intracraniano longo desde a ponte até a órbita e está intimamente relacionado aos nervos trigêmeo e facial. Na síndrome de Gradenigo (petrosite temporal) os três nervos são afetados. O nervo abducente é mais vulnerável no ponto em que passa inferiormente ao ligamento petroesfenoidal (ligamento de Gruber). Posterolateralmente a esta estrutura encontra-se o cavo de Meckel, que abriga o gânglio trigeminal. Arias (1985) afirma que o mecanismo de lesão do VI nervo sem evidência de fraturas é tema de discussão. Pode ser decorrente de traumatismo frontal com marcada extensão cervical, por vezes acompanhada de fratura da coluna cervical. O nervo é lesado durante o deslocamento superior e posterior do encéfalo causando avulsão do nervo contra o ligamento de Gruber. Takagi et al (1976) não acreditam que o nervo seja lesado pelo ligamento de Gruber durante o deslocamento superior do encéfalo, pois o nervo é fixado inferiormente pela dura-máter abaixo deste ligamento e pela pirâmide petrosa. Concluem que a lesão seja decorrente do estiramento do nervo por força de aceleração no plano frontal mediano no momento do impacto e que o ápice petroso atua como alavanca, onde o nervo é comprimido, estirado ou contuso. O VI nervo também pode ser lesado em traumatismos frontais, cujo impacto avulsiona o nervo contra o rígido ligamento petroclinóide. Um impacto de alta energia cinética pode provocar deslocamento encefálico no sentido crânio-caudal e lesar o nervo abducente na incisura tentorial. A fratura temporal pode passar anteriormente a esta área e envolver o clivus, seio esfenoidal e seio cavernoso. Como o plano da fratura progride obliquamente pelo osso temporal, lesa o nervo facial no gânglio geniculado, o nervo trigêmeo no cavo de Meckel e o nervo abducente no canal de Dorello (Ghorayeb et al, 1987). Fraturas que envolvem a fissura orbitária superior tendem a lesar o abducente em conjunto com oculomotor, troclear e trigêmeo (V1 e V2). Introdução 40 Traumatismo raquimedular cervical pode ser causa de lesão de nervo abducente na ausência de lesão craniana. Schneider, Johnson (1971) relatam dois casos de lesão bilateral de nervo abducente associado a traumatismo cervical. Acredita que a lesão seja decorrente de movimentos verticais e de extensão sofridos pela cabeça durante o traumatismo e que produzem contusão ou avulsão do nervo abducente contra o rígido ligamento petroesfenoidal (ligamento de Gruber). São traumatismos de alto impacto, revelados pelas lesões cervicais altas como fratura de odontoide e arco do atlas. Diplopia homônima (a imagem forma-se na retina nasal) resultante da paralisia do nervo abducente é achado frequente na clínica oftalmológica. É achado objetivo do déficit na abdução ocular e pode significar vários tipos de doença oftalmológica (Keane, 1976). As lesões traumáticas do nervo abducente ocorrem no adulto jovem, enquanto as lesões adquiridas (diabetes mellitus, sífilis, processos neoplásicos, neurites, encefalopatia de Wernicke) tendem a ocorrer em idades mais avançadas (Schneider, Johnson, 1971). Se houver preservação da função do IV nervo, a contração do músculo oblíquo superior resultará em rotação do globo ocular (Hughes, 1964). Lyle (1961) demonstra que a diplopia traumática também pode ser causada por traumatismos diretos à órbita, além de lesão de grupos musculares (principalmente os oblíquos devido às suas inserções orbitárias). Mas, a lesão orbitária exclusiva com fratura de seu assoalho, também pode levar à diplopia por deslocamento do eixo do globo ocular (heterotopia posicional ou estrabismo). Introdução 41 1.1.1.4. Nervo trigêmeo (V) A lesão traumática do nervo trigêmeo é rara (Jefferson, Schorstein, 1955) e a literatura referente a este tipo lesão é consequentemente escassa. O primeiro relato coube a Gardiner* (citado por Jefferson, Schorstein, 1955), que em 1938 descreve a lesão do nervo por meio de observação de déficit motor na musculatura mastigatória. A primeira e segunda divisões podem ser lesadas quando o tronco encefálico desloca-se em movimento de desaceleração do crânio. Mock**, em 1950, (apud Jefferson, Schorstein, 1955) relata três casos de lesão traumática de nervo trigêmeo em 3176 fraturas de crânio. Russell, Schiller (1949) relatam 45 lesões traumáticas em nervos supraorbitários e oito lesões em infraorbitários em 1000 casos de traumatismo cranioencefálico. Lesões em couro cabeludo, levando a anestesia e parestesias, geralmente são omitidas na literatura médica, uma vez que a atenção à lesão do nervo trigêmeo se faz ao seu gânglio sensitivo e de seus ramos intracranianos ou contidos no interior dos ossos faciais. Portanto, uma procura minuciosa destas lesões sensitivas, certamente trará aumento das casuísticas. A lesão do componente sensitivo do nervo trigêmeo é frequente em traumatismos faciais. Deve-se à lesão de ramos sensitivos superficiais por ferimentos cortocontusos, contusões e fraturas. O nervo oftálmico (V1) com suas ramificações (nervo frontal, nervo lacrimal e nervo nasociliar) é frequentemente lesado em traumatismos que incidem na região supraorbitária. As lesões do supraorbitário (ramo do nervo frontal) são secundárias à lesão de tecidos localizados na região supraorbitária. * Gardiner APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. ** Mock APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. Introdução 42 A lesão do nervo nasociliar resulta de traumatismo frontal com fratura de seio frontal e etmoide. A anestesia da ponta do nariz e da córnea são os achados mais comuns. O nervo maxilar (V2) é a divisão mais frequentemente lesada no TCE, principalmente em fraturas do assoalho orbitário ou em traumatismos de altíssima energia cinética acompanhadas de fratura do forame redondo. Descrita inicialmente por Charles Bell*, em 1830 (apud Jefferson, Schorstein, 1955). Há hipoestesia facial que se estende da órbita ao longo da asa do nariz à ponta do nariz e lábio superior. O nervo infraorbitário (ramo do nervo maxilar) é lesado em fraturas maxilares e constitui a divisão mais frequentemente lesada do nervo maxilar (Jefferson, Schorstein, 1955; Hughes, 1964). Impacto sobre a região malar é causada por quedas ou traumatismo direto (chutes, socos). A saída do nervo infraorbitário pelo forame orbitário inferior direcionando-se para a região malar está protegida do impacto pelo espesso osso que compõe o rebordo orbitário. É lesado em traumatismos de alto componente cinético, principalmente associado à fratura do canal e forame infraorbitários (fratura de Le Fort tipo II). A anestesia palatal é rara, pois o palato duro é suprido pelos nervos palatinos anterior e posterior (ramos do nervo pterigopalatino), que emergem do gânglio esfenopalatino mais posteriormente. Anestesia facial persistente sugere lesão ganglionar (Jefferson, Schorstein, 1955). O nervo mandibular (V3) é mais comumente lesado em fraturas do ramo horizontal da mandíbula. Os nervos alveolares inferiores (forame mentoniano) inervam o lábio inferior e dentes da arcada inferior. Sua lesão provoca parestesias e dor neuropática nestas regiões. O tronco principal do trigêmeo é raramente lesado em traumatismos fechados, porém, mais comumente afetado em traumatismos penetrantes (projéteis de arma de fogo) ou fraturas da fossa média e da base do crânio. * Bell (1830) APUD Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. Introdução 43 No paciente consciente a lesão do nervo é facilmente detectável e consta principalmente de lesões sensitivas (anestesia e parestesia) de suas divisões. O envolvimento motor manifesta-se por fraqueza na musculatura mastigatória. No paciente comatoso, a ausência uni ou bilateral do reflexo corneano não é sinal de lesão do V nervo (Jefferson, Schorstein, 1955), pois é mais provável que o componente eferente do reflexo (pelo nervo facial) seja o responsável pela na obtenção da resposta do reflexo. Geralmente, a lesão sensitiva é parcial e de leve intensidade e a recuperação ocorre após alguns meses. Dor neuropática pode aparecer, assim como parestesias nas regiões inervadas pelo trigêmeo. Diplopia e paralisia facial impressionam muito mais ao paciente e ao observador do que a parestesia facial, muitas vezes referida como um sintoma vago. Summers, Wirtschafter (1979) afirmam que no indivíduo que sobrevive a um traumatismo craniano grave e evolui com lesão de V nervo, certamente esta lesão ocorreu em ramos extracranianos do trigêmeo. Relata o caso de criança vítima de TCE por esmagamento, evoluindo com lesão de V nervo bilateralmente e VI unilateralmente. No caso em questão, a força que provocou o TCE foi de baixa energia cinética, não havendo mecanismo de golpe ou contragolpe, permitindo assim que o crânio elástico da criança deformasse conjuntamente com o encéfalo, levando à lesão de tronco encefálico. O gânglio trigeminal está relacionado à superfície anteromedial do osso temporal. As três raízes situam-se nas proximidades do ápice petroso. Portanto, qualquer fratura que se estenda do temporal ao clivus pode lesar o gânglio trigeminal ou quaisquer de seus ramos (Jefferson, Schorstein, 1955). 1.1.1.5. Nervo facial (VII) Devido ao seu longo e sinuoso trajeto no interior do osso temporal, o nervo facial é vulnerável ao traumatismo craniano penetrante ou não penetrante, assim como ao traumatismo cirúrgico (Miehlke, 1969) nas mastoidectomias, estapedectomias, remoção de neoplasias da parótida e schwannomas vestibulares. TraumatisIntrodução 44 mos que envolvem a orelha média geralmente lesam o segmento horizontal (ou timpânico) do nervo. A laceração do nervo facial no interior do canal auditivo interno ocorre em aproximadamente 50% dos casos (Keane, Baloh, 1996) com fraturas transversas do osso temporal. A maior parte das fraturas horizontais do temporal não atravessa o conduto auditivo interno, mas podem lesar a porção timpânica ou mastoide do nervo. Nestes casos, a paralisia facial é tardia e devida ao edema traumático. As fraturas temporais são geralmente classificadas em longitudinais e transversas (Anexo 3) em relação ao eixo maior do osso temporal. Geralmente a linha de fratura segue trajeto paralelo à linha de força provocada pelo traumatismo (Goodwin, 1983) e estende-se aos forames, locais de enfraquecimento ósseo. Setenta a 80% das fraturas temporais são longitudinais e 10 a 30% são transversais (Goodwin, 1983; Adkins, Osguthorpe, 1991) (Anexo 3 e Fig. 5). Aproximadamente 10% são do tipo misto (combinação entre longitudinal e transversa). As fraturas longitudinais resultam de traumatismo temporal ou parietal (Goodwin, 1983) e o nervo facial é tipicamente lesado na região de transição do segmento timpânico para o mastóide (10 a 20%), correspondendo ao gânglio geniculado. Segundo Miehlke (1969), nas fraturas petrosas longitudinais, o nervo facial é tipicamente lesado no joelho externo, quando altera sua direção horizontal para vertical. Nas fraturas transversas, o nervo geralmente é lacerado, assim como o VIII nervo. A fratura tem início nas porções anterior e posterior da porção petrosa do temporal e segue para o canal auditivo através do teto da cavidade timpânica, anteriormente à cápsula ótica para terminar na fossa craniana média nas proximidades do forame espinhoso (fratura longitudinal anterior). Na fratura longitudinal posterior, o traço de fratura inicia-se no osso parietal e estende-se através das células aéreas mastoides, porção súpero-posterior do meato acústico externo, teto da cavidade timpânica e cápsula ótica para terminar na fossa média. Pode haver contusão do nervo ou lesão por fragmentos ósseos. Geralmente Introdução 45 ocorre laceração na pele do meato acústico externo com otorragia (Goodwin, 1983) e lesão da membrana timpânica. A perda auditiva geralmente é do tipo condutiva (decorrente da laceração da membrana timpânica, lesão da cadeia ossicular ou pelo hemotímpano) e não há evidência de lesão vestibular; mesmo assim pode haver perda auditiva neurossensorial, decorrente da concussão coclear. Mais de 90% das fraturas temporais que cursam com paralisia facial completa envolvem a região do gânglio geniculado (Adkins, Osguthorpe, 1991). De Villiers (1971) afirma que o traumatismo temporal pode levar ao deslocamento do osso petroso. Alguns tipos de deformação da base do crânio levam ao deslocamento do petroso na direção póstero-medial devido a abertura das suturas petroesfenoidal e petroescamosa. Este deslocamento ósseo pode levar à lesão do V e VI nervos pela extensão da linha de fratura. A persistência na perda auditiva do tipo condutiva deve-se à lesão na cadeia ossicular. A lesão do facial, neste tipo de fratura, geralmente é transitória e até 29% das fraturas longitudinais são bilaterais (Goodwin, 1983). Pode haver vertigem devido à concussão vestibular assemelhando-se ao quadro clínico da vertigem postural benigna (Goodwin, 1983). Nas fraturas transversas, o nervo é frequentemente lacerado, muitas vezes com lesão concomitante do VIII nervo. Seguem-se a traumatismos frontais ou occipitais, geralmente iniciando no forame magno e estendem-se perpendicularmente ao longo eixo do osso temporal, fraturando a cápsula ótica e terminando na fossa craniana média. A pele do meato acústico externo e a da membrana timpânica estão intactas. Hemotímpano é usualmente presente. Existe perda auditiva neurossensorial e evidência clínica de traumatismo vestibular (náuseas e vertigem). Instabilidade postural pode perpetuar-se por meses (Goodwin, 1983) e nistagmo pode estar presente, com o componente rápido dirigindo-se contralateralmente ao lado envolvido. Introdução 46 A paralisia facial ocorre em 40 a 50% e geralmente é de aparecimento imediato após a lesão por avulsão ou laceração do nervo por fragmento ósseo. O gânglio geniculado é a parte do nervo mais frequentemente acometida. Neste tipo de fratura a paralisia facial é definitiva. Segundo Bhatoe (2007), a lesão do facial ocorre nos locais onde o nervo é fixo, ou seja, em nível do gânglio geniculado, onde o nervo está ancorado ao n. petroso maior (segmento labiríntico). As forças de tração provocam contusão intraneural, hemorragia e edema. Um segundo local de acometimento do nervo é o meto acústico interno por suas dimensões reduzidas. A fratura da cápsula ótica ocorre em traumatismos graves, com lesão completa do nervo. Em seu trajeto extracraniano, o nervo geralmente é lesado no forame estilo mastoide e seus ramos. Aguilar 3rd et al (1987) descrevem um terceiro tipo de fratura, chamada fratura oblíqua. Esta envolve a fissura petrotimpânica inferiormente e estende-se à margem anteroinferior da porção óssea do meato acústico externo. Supero-medialmente, a fratura estende-se à parede lateral do ático, com vetor de projeção atravessando a área do gânglio geniculado. A projeção anteroinferior desta fratura envolve a articulação têmporo-mandibular. Yanagihara et al (1997) (Quadro 1) propõem um sistema diferente quanto à classificação das fraturas temporais: Tipo 1: a linha de fratura atravessa o processo mastoide (envolvimento do segmento mastoide do nervo) Tipo 2: a linha de fratura atravessa o processo mastoide e estende-se ao meato acústico externo (tipo mais frequente) Tipo 3: a linha de fratura atravessa o processo mastoide e estende-se ao meato acústico externo até a pirâmide do petroso ou porção horizontal do facial (geralmente associado à rotura da cadeia ossicular) Introdução 47 Tipo 4: a fratura atravessa o teto da cavidade timpânica e o antro com envolvimento do gânglio geniculado. Nos subtipos 4A e 4B, a orelha interna e o canal auditivo são poupados e lesados, respectivamente. Fratura longitudinal Fratura transversa Figura 5. Fraturas temporais mais comumente encontradas (setas). Modificado de Coker et al, 1987. Os tipos 1 e 2 estão associados à paralisia facial, resultante de traumatismo à mastoide ou porção piramidal do nervo. O tipo 3 relaciona-se à rotura da cadeia ossicular com profunda perda auditiva do tipo condutiva e lesão do facial no gânglio geniculado. No tipo 4 há lesão do facial do segmento labiríntico ao piramidal, levando à diminuição do lacrimejamento por lesão do n. petroso maior. O subtipo 4A produz perda auditiva condutiva e o subtipo 4B associa-se a perda auditiva neurossensorial e nistagmo (Warren et al, 2003). Introdução 48 Quadro 1. Lesões associadas ao tipo de fratura do osso temporal segundo Yanagihara et al (1997). Lesão associada Tipo de fratura Laceração do tímpano 2 Paralisia facial 1,2 Laceração do conduto auditivo 2,3 Lesão da cadeia ossicular 3 Deslocamento dos ossículos 3,4 Fístula perilinfática 3 Fratura labiríntica 4 Fratura do canal auditivo interno 4 Lesão do nervo petroso maior 3,4 Laceração dural 4 Jackson, Magi (1966) atentam para a possibilidade de rotura da cadeia ossicular consequente a TCE e afirma que uma perda auditiva do tipo condutiva com uma diferença de 60 dB entre a condução aérea e óssea e com uma membrana timpânica intacta seja sugestiva de interrupção da cadeia ossicular. Através da propedêutica pode-se determinar qual segmento do nervo está lesado (topodiagnóstico). Lesões do segmento mastóide vertical resultam em perda gustatória dos 2/3 anteriores da língua. Lesões que envolvem o segmento horizontal do nervo no interior da orelha média produzem a perda do reflexo estapediano (hipersensibilidade aos sons de alta frequência) e perda gustatória ipsilateral. Finalmente, lesões nos segmentos labirínticos proximais resultam em diminuição do lacrimejamento, perda do reflexo estapediano e gustação ipsilaterais à lesão. Bhatoe (2007) afirma que o local da lesão do VII pode ser determinado pelo teste de Schirmer, pelo estudo do fluxo salivar da glândula submandibular, reflexo estapediano e eletrogustometria, porém são exames frequentemente substituídos pela tomografia computadorizada de crânio de alta resolução. Segundo Goodwin (1983) fraturas longitudinais e transversas “puras” são raras, pois geralmente ocorre lesão óssea cominuta. Introdução 49 Na casuística de Cannon, Jahrsdoerfer (1983), a fratura temporal ocorre mais frequentemente como consequência de acidente automobilístico. Na secção completa do nervo, a extremidade distal ainda é capaz de transmitir impulsos elétricos por 72 horas, devido a ausência de degeneração walleriana. Quando a paralisia facial tem aparecimento tardio, geralmente decorre de compressão por edema ou isquemia do nervo. Traumatismo ao nervo facial é a terceira maior causa de paralisia facial (Adour et al, 1977). Diferentes testes auxiliam no diagnóstico da lesão como a excitabilidade do nervo e a eletroneuromiografia (ENMG). No primeiro teste, ambos os faciais são estimulados transcutaneamente e o valor obtido do lado lesado é comparado com o lado normal; se a diferença de excitabilidade exceder os 3,5 miliamperes, então a degeneração walleriana iniciou neste nervo. Na ENMG o nervo é estimulado nas proximidades do forame estilomastoide e os resultados são registrados no sulco nasolabial. Este teste é baseado na correlação entre a extensão da denervação dos músculos faciais com as fibras nervosas motoras. Cannon, Jahrsdoerfer (1983) atribuem as lesões labirínticas pós-traumáticas à concussão do labirinto. As fraturas transversas atravessam o labirinto e produzem sintomas semelhantes à hidropsia endolinfática. Portanto, pode haver vertigem e instabilidade de marcha na ausência de fraturas cranianas. Grobman et al (1989) relatam caso de fratura petrosa longitudinal com processo edematoso ao longo dos segmentos timpânico e labiríntico do facial com compressão do nervo (pelo edema) e sinais de desmielinização das fibras motoras, compatível com aparecimento tardio de paralisia facial. McGovern (1968), McCabe (1973) e Harker, McCabe (1974) afirmam que 15% das fraturas longitudinais e 50% das fraturas transversas do temporal evoluem com paralisia facial periférica. Geralmente, a paralisia facial causada pela fratura longitudinal tem recuperação espontânea, enquanto aquela provocada por fratura transversa requer correção cirúrgica. Introdução 50 Figura 6. Plano da fratura longitudinal passando lateralmente à cápsula ótica. Modificado de Coker, 1991. As fraturas temporais raramente apresentam deslocamentos ósseos associados, o que dificulta seu diagnóstico através da radiografia simples de crânio, a não ser que a linha de fratura esteja perpendicular ao filme. A tomografia computadorizada de crânio de alta resolução (janela óssea com cortes finos axiais e coronais) é o método de eleição no diagnóstico das fraturas temporais (Adkins, Osguthorpe, 1991) (Fig. 45). Traumatismos penetrantes do osso temporal geralmente são causados por projéteis de armas de fogo, produzindo fraturas mistas. A região infraorbitária é o local mais comum de entrada do projétil. A lesão do facial geralmente ocorre no segmento timpânico ou mastoide, com concomitante laceração da orelha média e perda auditiva condutiva. Introdução 51 Figura 7. Plano da fratura transversa com lesão dos canais semicirculares e vestíbulo. O nervo facial é lesado no segmento timpânico. Modificado de Coker, 1991. Em lesões focais, o topodiagnóstico é valioso para se determinar o local mais proximal de lesão do nervo. Lesões distais ao tronco de determinado ramo não afetarão a função deste tronco. Haberkramp et al (1990) afirmam que lesões focais ou múltiplas do nervo facial visualizadas à ressonância magnética de encéfalo contrastada por gadolínio, podem corroborar os achados do topodiagnóstico, uma vez que nas lesões múltiplas do nervo, o topodiagnóstico demonstra apenas a lesão mais proximal do nervo. McKennan, Chole (1992) afirmam que o topodiagnóstico possui mínimo valor na paralisia facial traumática, pois o reflexo estapediano geralmente está ausente pelo hemotímpano ou por perda auditiva condutiva. O teste do nervo corda do tímpano também possui pouca valia, uma vez que sua lesão indica lesão em qualquer ponto do facial acima da origem deste nervo. Introdução 52 A função do nervo petroso superficial maior é avaliada pelo teste de Schirmer, onde é avaliada a função lacrimal. O teste do reflexo estapediano avaliará a função do ramo para o estapedio e não poderá ser realizado na presença de grave perda neurossensorial ou significante perda condutiva (Adkins, Osguthorpe, 1991). A função do nervo corda do tímpano é avaliada pelo teste gustativo, medida do fluxo salivatório ou pH da saliva. De todos os nervos cranianos, o facial é o mais suscetível ao traumatismo devido ao seu complexo trajeto pelo osso temporal e por sua proximidade anatômica com a orelha interna quando ocorre fratura da base do crânio (Harker, McCabe, 1974; Kamerer, 1982; Adegbite et al, 1991) e sua recuperação ocorre mais frequentemente quando a lesão é incompleta e de aparecimento tardio. A maior parte dos casos está relacionada a fraturas basais, que envolvem a região petrosa do temporal. Fraturas da calvária que se direcionam para a região petrosa também podem causar paralisia facial (Kamerer, 1982; Keane, Baloh, 1996). Nestes casos é comum observarem-se lesões associadas na orelha externa e média, porém a lesão da orelha interna é rara. A lesão do facial ocorre por tração, compressão ou laceração do nervo. Quando o aparecimento da paralisia é imediato após o traumatismo, sugere-se lesão direta do nervo, com pior prognóstico funcional. A paralisia facial traumática de início imediato é geralmente seguida por denervação parcial, grave ou completa da musculatura facial (Adour, Boyajian, 1977). A paralisia tardia geralmente decorre de pressão exercida sobre o nervo por hematoma, edema ou mesmo tecido de granulação no interior do canal auditivo (Adegbite et al, 1991). McKennan, Chole (1992) alegam que a paralisia facial traz consequências devastadoras para o paciente e sua família. Do ponto de vista médico, cuidados deIntrodução 53 vem ser tomados com a córnea, lacrimejamento, alterações de fala, mastigação e salivação. Há também efeitos adversos emocionais, pois o movimento facial e a simetria da musculatura são importantes para o paciente, uma vez que o desfiguramento geralmente resulta em isolamento do paciente e depressão. Travis et al (1977) afirmam que fraturas extensas e cominutivas do osso temporal podem ocorrer em impactos laterais e de baixa energia cinética, produzindo fraturas longitudinais no temporal e levar à rotura da cadeia ossicular da orelha média, assim como comprometimento da função do nervo facial e do labirinto. O deslocamento do estribo é a lesão ossicular mais comumente achada. A lesão da articulação incudoestapedial ou incudomaleolar causa perda auditiva do tipo condutiva ou mista (Lambert, Brackmann, 1984) e deve-se principalmente à mobilidade destas articulações contra as fixações do martelo na membrana timpânica e estribo na janela oval (Schubiger et al, 1986). Schubiger et al (1986) afirmam que o diagnóstico da lesão da cadeia ossicular raramente é feito na fase aguda do traumatismo, uma vez que o hemotímpano e a perfuração da membrana timpânica são causas de perda auditiva do tipo condutivo. O diagnóstico clínico se faz apenas quando da persistência do déficit na vigência da absorção do hemotímpano ou cicatrização da lesão timpânica. A paralisia facial pode ser detectada no paciente inconsciente através da aplicação de estímulos dolorosos e observação da movimentação facial. A otoscopia pode revelar hemotímpano, deformidade do canal (sugerindo fratura do rochedo) e perfuração da membrana timpânica. A paralisia facial tardia ocorre em média entre dois e dez dias após o traumatismo (Turner, 1944) e a maioria (90%) está associada à fratura da calvária que se dirige à base do crânio e à orelha média. A fratura também pode direcionar-se para a escama do osso temporal e atingir o teto da cavidade timpânica cruzando o nervo facial em sua porção vertical ou nas proximidades do gânglio geniculado. Turner (1944) sugere que a lesão tardia decorra de pressão realizada pelo sangue na tuba auditiva, enquanto Robson, Dawes (1960) consideram a presença Introdução 54 de uma membrana mucosa pressionando o nervo onde ele é exposto à linha de fratura. Eby et al (1988) descrevem achados anatomopatológicos do nervo facial lesado por fratura longitudinal do osso temporal. O nervo apresenta desestruturação interna com formação de redemoinhos de neurofibrilas e fascículos retorcidos. O gânglio geniculado demonstra perda importante de células ganglionares com desmielinização e fibrose no perineuro e endoneuro. Nas porções timpânica e vertical do nervo há presença de tecido fibroso entre os fascículos nervosos. Cawthorne (1956) sugere que a combinação entre paralisia facial, surdez de condução e alterações da membrana timpânica são indicativas do tratamento cirúrgico. Além do nervo facial, as fraturas temporais podem acometer o nervo trigêmeo e abducente, porém mais raramente (Ghorayeb et al, 1987), assim como trombose de seio sigmóide e fístula carotidocavernosa. Hagan et al (1979) descrevem lesões traumáticas específicas do osso temporal e do nervo facial quando causadas por projéteis de arma de fogo. Em sua casuística, 43% dos casos apresentaram projéteis de arma de fogo que transfixaram o osso temporal. Devido à sua estrutura compacta, ocorre resistência à progressão do projétil e quando penetrante, o próprio parênquima cerebral oferece resistência à progressão maior. Consequentemente, lesões intracranianas estão presentes devido à natureza cinética do projétil. A trajetória do projétil é predominantemente tangencial ao eixo maior do temporal. Logicamente, o trajeto longitudinal ao maior eixo do osso é traduzido por maior gravidade e mortalidade. Duncan et al (1986) afirmam que projéteis de arma de fogo ao se impactarem contra o osso temporal têm sua energia cinética dissipada pelo osso e pelas estruturas adjacentes. O componente mais importante da energia cinética é a velocidade do projétil (Ec= ½.m.v2). Introdução 55 Devido a sua alta densidade, o osso temporal confere grande proteção ao encéfalo contra projéteis de arma de fogo e seus fragmentos, particularmente quando a trajetória do projétil for tangencial ao crânio ou centrada no eixo longitudinal do osso temporal (Duncan et al, 1986 ). Em sua série de 22 casos de ferimentos cranianos por projétil de fogo, 36% dos pacientes necessitaram abordagem neurocirúrgica para redução de afundamentos, drenagem de contusões cerebrais e hematomas subdurais agudos, enquanto 50% dos pacientes apresentaram alguma forma de lesão do nervo facial, na maioria das vezes de aparecimento imediato. O meato acústico externo é frequentemente lesado devido à sua localização central. A energia cinética do projétil transmite intensas ondas de choque para a porção cartilaginosa do conduto. O trajeto do projétil desvitaliza lacunas ósseas levando a necrose e sequestro. O anel ósseo timpânico pode resistir temporariamente ao impacto ou romper devido a fragmentos metálicos. A pele macerada com obstrução por edema proporciona disseminação da flora bacteriana local e pode causar otite externa ou colesteatoma (Hagan et al, 1979). Causas de perda auditiva condutiva incluem: perfuração da membrana timpânica e lesão da cadeia ossicular. A perda neurossensorial deve-se à transecção do nervo vestibular, fístula labiríntica secundária a fraturas do labirinto membranoso ou transmissão das ondas de choque do projétil para o órgão de Corti. A orelha média é a porção mais frequentemente atingida por projéteis de arma de fogo (Hagan et al, 1979) levando a perda condutiva por perfuração da membrana timpânica e lesão da cadeia ossicular. Por vezes há lesão neurossensorial devido à transecção do nervo coclear, fístula perilinfática ou lesão do órgão de Corti pelas forças transmitidas pelo projétil. As lesões por projéteis geralmente estão associadas a infarto cerebral, hidrocefalia, herniação do tronco encefálico e lesões em seios venosos. Fraturas basilares também podem levar à lesão do nervo facial (Adegbite et al, 1991). Introdução 56 Para estes autores, as lesões incompletas e tardias são aquelas que apresentam o melhor prognóstico de recuperação, sobretudo quando estudo eletroneuromiografia facial é realizado. Logicamente, o grau de lesão do nervo é fator prognóstico mais importante que o início da paralisia. Seu estudo demonstra 95% de alguma forma de melhora após seguimento de 18 meses. Em cinco meses de seguimento, 92,5% com lesões parciais demonstraram melhora na função do facial e apenas 10% dos pacientes que evidenciaram lesão total demonstraram algum tipo de melhora neste mesmo período. Preconiza a realização de anastomose hipoglossofacial em pacientes que não obtiveram melhora dos sintomas num período maior que 12 meses. Para Warren et al (2003), o projétil de arma de fogo leva à fratura temporal cominutiva ou mista. Setenta e cinco por cento dos pacientes apresentam lesão do nervo facial, 60% apresentam algum tipo de perda auditiva e 30% apresentam lesões vasculares, como lesão carotídea ou de seio venoso. Fraturas mandibulares constituem causa rara de lesão traumática do facial (Goin, 1980), o que é surpreendente haja vista a proximidade das duas estruturas. Traumatismo à mandíbula cria vetores de força que se dirigem superior e posteriormente ao côndilo mandibular lesando o nervo em sua porção extratemporal ou traciona-o no forame estilomastoide. Milford, Loizeaux (1972) destacam a possibilidade de lesão do facial por fraturas mandibulares. A força aqui aplicada é transmitida e dissemina-se para a ATM e base do crânio com envolvimento do processo estiloide e do nervo facial. O nervo facial pode ser lesado em seu trajeto intratemporal, extratemporal ou ambos os locais. Mesmo que não haja fraturas, a presença de edema pode comprimir o nervo no canal auditivo causando bloqueio de condução (Goin, 1980). Ghorayeb et al (1987) relatam complicações frequentes (hemotímpano, perda auditiva, vertigem e fístula liquórica) consequentes às fraturas temporais, além de complicações infrequentes como paralisia bilateral de abducente, paralisia trigeminal e trombose do seio sigmoide. Introdução 57 Para Hasso, Ledington (1988), existem três fraturas principais que levam à fístula liquórica: teto da cavidade timpânica, canal auditivo interno e células aéreas da mastoide. As duas primeiras localizações são as mais comuns. As lesões de mastoide são mais difíceis de serem diagnosticadas como causa de fístula liquórica pela presença de níveis hidroaéreos nas células mastoides. A fratura temporal pode lesar o V nervo no cavo de Meckel e o VI nervo no canal de Dorello. Existem condições que devem ser respeitadas a fim que possa ocorrer uma possível melhora da função do nervo após sua lesão. Inicialmente o núcleo do nervo facial na ponte deve possuir um adequado número de neurônios funcionais; o segmento proximal deve manter continuidade com o núcleo do facial e ser passível de regeneração axonial e o segmento distal deve manter contato com unidades musculares funcionantes e ter tubos endoneurais capazes de “aceitar” axônios e regeneração (Adkins, Osguthorpe, 1991). Respeitandose estas condições haverá ou não regeneração do nervo se as condições clínicas do paciente forem adequadas, se a lesão for de aparecimento imediato ou tardio, teste topográfico, resultados da eletroneuromiografia, ferimento limpo ou contaminado e localização da lesão. As lesões faciais intratemporais são causadas por fraturas temporais decorrentes de traumatismos ou lesões iatrogênicas intraoperatórias. Coker (1991) classifica a lesão do facial por regiões (extracraniana, infratemporal e intracraniana) e por tipo de trauma (penetrante, não penetrante e iatrogênica). A fratura temporal é classificada como lesão não penetrante da porção infratemporal do nervo. Geralmente, as lesões não penetrantes da porção extracraniana do nervo são de tratamento conservador, enquanto as lesões penetrantes requerem debridamento e fechamento. Na porção extracraniana predominam as lacerações, ferimentos por arma branca, avulsão de partes moles, fraturas mandibulares, cirurgia parotídea e de Introdução 58 glândulas submandibulares, cirurgia da articulação têmporo-mandibular e contusões (Coker, 1991). Lesões penetrantes de ramos distais à glândula parótida raramente resultam em grave desfiguração facial, devido às inúmeras anastomoses do nervo no interior da parótida com a face. 1.1.1.6. Nervo vestibulococlear (VIII) Na série de Patel et al (2005), as lesões do VIII nervo apresentaram-se preferencialmente com surdez neurossensitiva, seguida pela surdez condutiva e surdez mista. Segundo estes autores, vertigem e nistagmo associam-se a fraturas temporais transversas e são sintomas resistentes ao tratamento medicamentoso. Por meio da utilização de tomografia de alta resolução dos ossos temporais com cortes de 1 mm, evidenciaram fraturas deste osso em 100% dos casos com lesão de VIII nervo. Fraturas do osso temporal geralmente resultam de traumatismo direto ao crânio na região parietal ou temporal. Como a cápsula ótica, que envolve a orelha interna, é formada por tecido ósseo denso, a fratura cursa ao redor desta estrutura e lesa os forames da base do crânio, como o forame jugular. Há fraturas que envolvem as proximidades do meato acústico externo e dirigem-se ao maior eixo da porção petrosa do osso temporal, estendendo-se anteriormente ao forame lacero e artéria carótida interna (Keane, 1976). Concussão labiríntica é definida como a presença de sintomas auditivos e vestibulares (isolados ou em combinação) que resultam de traumatismo craniano sem a presença de fraturas temporais. Embora estejam protegidas por uma cápsula óssea, as membranas labirínticas são suscetíveis ao traumatismo não penetrante (Schunknecht et al, 1951). Griffiths (1979) afirma que as lesões auditivas e vestibulares pós-traumáticas são muito variáveis e necessitam ser investigadas em praticamente todos os paciIntrodução 59 entes vítimas de TCE, devendo-se atentar para o local de lesão, pois as fraturas frontais são causas menos frequentes de lesão do VIII nervo quando comparadas com as fraturas temporais. Surdez súbita após traumatismo de crânio pode ser causada por intensa estimulação acústica por ondas de pressão criadas pelo traumatismo e transmitidas pelo osso à cóclea. A vertigem posicional pós-traumática é a sequela neurootológica mais comum. O paciente desenvolve ataques de vertigem curtos e súbitos associados ao nistagmo e precipitados por mudanças na posição da cabeça (movimentos de flexão, extensão e rotação da cabeça). A vertigem dura menos de 1 minuto, mas tonturas com náuseas podem ser persistentes. Acredita-se que seja causada quando os cristais de carbonato de cálcio (CaCO3) da mácula do utrículo desloquem-se para o canal semicircular posterior. Fístula perilinfática traumática ocorre quando existe lesão das membranas que limitam o labirinto. Deve ser suspeitada quando o paciente apresentar súbita perda auditiva associada à vertigem e tinnitus imediatamente após traumatismo craniano. Muitos pacientes referem ouvir um estampido após o traumatismo seguido de perda auditiva, tinnitus e vertigem. Lindeman (1979) atenta para os casos de surdez e desequilíbrio que se seguem ao TCE na ausência de fraturas, atribuindo o quadro clínico à concussão labiríntica. Acredita que o mecanismo possa ser devido à transmissão de onda de pressão, iniciado pelo TCE, passando pelo crânio, cóclea e aparelho vestibular. Ao mesmo tempo, o mecanismo de aceleração ou desaceleração brusca da cabeça durante o TCE resulta em excessivo movimento da cadeia ossicular da orelha média, com possibilidade de rotura desta. Ferimentos por projéteis de arma de fogo são causa de surdez aguda do tipo sensorial. A perda auditiva é maior no lado do impacto do projétil (Singh, Adeloye, 1971). Introdução 60 Na estatística de Cannon, Jahrsdoerfer (1983), a perda auditiva do tipo condutiva deve-se mais frequentemente à disjunção incudoestapedial, seguida de fratura do arco do estribo e fratura da cabeça do martelo. Não há tratamento específico para a perda auditiva neurossensorial, exceto casos que apresentem fístula perilinfática. Se a perda auditiva for condutiva, procedimentos cirúrgicos podem restaurar a audição. Lesão da articulação incudoestapedial é a forma de deslocamento ossicular mais frequente no traumatismo temporal, assim como nos processos inflamatórios que atingem a orelha média (Warren et al, 2003). Lesão do aparelho vestibular resulta em sintomas agudos com tendência a melhoria à medida que ocorre compensação central. O tratamento inicial da vertigem é útil e o paciente é encorajado a executar exercícios vestibulares precocemente. Sintomas vestibulares flutuantes sugerem a presença de fístula perilinfática e requerem exploração da orelha média. Hasso, Ledington (1988) afirmam que perda auditiva condutiva acima de 30 dB sugere lesão da cadeia ossicular. As fraturas temporais podem levar a alterações na cadeia ossicular em até 50% dos casos. O deslocamento ossicular é prontamente visualizado na tomografia de alta resolução. A cadeia ossicular contralateral deve ser observada para comparação. Aquisições horizontais ou axiais visualizam o deslocamento incudomaleolar e a aquisição coronal define melhor o deslocamento incudoestapedial. A vertigem posicional benigna pode ser tratada com manobras da cabeça que visam liberar os cristais de carbonato de cálcio do canal semicircular posterior de volta ao utrículo. 1.1.1.7. Nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X) Geralmente são acometidos simultaneamente (IX, X e XI) por atravessarem o forame jugular conjuntamente, quando da fratura deste (Bhatoe, 2007), o que ocorre principalmente após traumatismos que envolvem a região posterior da base do crânio. Introdução 61 Os nervos também podem ser lesados em seus trajetos extracranianos por ferimentos por arma branca, ferimentos por projéteis de arma de fogo ou quedas de grandes alturas. Para Simoncelli et al (1989), as lesões traumáticas dos nervos cranianos de origem bulbar são raras, mas quando ocorrem, invariavelmente os nervos glossofaríngeo (IX) e vago (X) são acometidos. Na presença de contusão dos nervos, o prognóstico é melhor. Robertson et al (1984) descrevem lesão vagal bilateral após traumatismo cervical por hiperextensão. 1.1.1.8. Nervo acessório (XI) Traumatismo penetrante ou não e mecanismos de estiramento são causas raras de lesão de acessório. A lesão do acessório mais frequentemente ocorre como complicação de cirurgia cervical realizada no trígono posterior, quando da exérese de linfonodos ou durante endarterectomia, por tração do nervo. Descrevem-se lesões do XI nervo por súbita extensão do membro superior (Berry et al, 1991). Lesões penetrantes costumam lesar outros nervos além do acessório como: occipital maior e menor, grande auricular e laríngeo recorrente. O tratamento depende da gravidade e causa da lesão. Se houver lesão parcial, opta-se pelo tratamento conservador e fisioterápico a fim de prevenir o congelamento do ombro. Se a paralisia for decorrente de ferimento penetrante ou completa, preconizase a exploração cirúrgica para o estabelecimento da lesão. Um nervo gravemente lesado pode ser anastomosado ou suturado a um enxerto de nervo. O procedimento deve ser realizado nos primeiros seis meses após a lesão. Wright (1975) aponta para a necessidade do diagnóstico de lesão deste nervo, que muitas vezes é traduzida por dor incapacitante no ombro ou membro suIntrodução 62 perior com irradiação para a região escapular (pós-operatória) ou por déficit motor nos músculos trapézio e esternocleidomastoide (pós-traumáticas). Olarte, Adams (1977) alertam para o diagnóstico diferencial da lesão do acessório com a lesão do torácico longo (inervação do músculo serrátil anterior). Na lesão do acessório, a dor tem forte intensidade e localiza-se na fossa supraclavicular, região occipital e ombro. A dor por lesão do torácico longo é mínima e localiza-se na região escapular. Há maior deformidade da região supraclavicular na lesão do acessório, por atrofia muscular, assim como no trapézio. O ângulo superior da escápula desloca-se em direção lateral na lesão do acessório e o ângulo inferior e margem medial da escápula têm deslocamento lateral na lesão do torácico longo. Swann, Heros (1985) descrevem dois pacientes com paralisia de acessório que se seguiu a endarterectomia carotídea e que necessitaram de grande tracionamento do músculo esternocleidomastoideo durante os procedimentos. 1.1.1.9. Nervo hipoglosso (XII) O nervo hipoglosso (XII) é acometido nas fraturas do côndilo occipital e em traumatismos cirúrgicos (endarterectomia carotídea). Traumatismos não penetrantes raramente lesam o nervo hipoglosso e geralmente traduzem-se por lesões por hiperextensão da coluna cervical com ou sem fratura do tubérculo hipoglosso. Na síndrome de Collet-Sicard (descrita em 1915) ocorre o acometimento conjunto e unilateral dos nervos glossofaríngeo, vago, acessório e hipoglosso. Mohanty et al (1973) descrevem caso de ferimento por projétil de arma de fogo com orifício de entrada em pavilhão auricular esquerdo com ausência de ferimento de saída do projétil. Detectou a lesão dos nervos IX ao XII. Hashimoto et al (1988) descrevem um caso desta síndrome (Collet-Sicard) em paciente vítima de queda e com extensão da coluna cervical, com imediato aparecimento de rouquidão e dificuldade em deglutir saliva, paralisia unilateral de corda vocal e diminuição de força nos músculos esternocleidomastoide e trapézio. Introdução 63 Jackson* (1883) (citado por Mohanty et al, 1973), foi o primeiro autor a descrever sintomas de paralisia ipsilateral da laringe, língua e músculos do pescoço. Collet (1915) relatou caso de paralisia dos quatro nervos cranianos mais inferiores, como resultado de ferimento por projétil de arma de fogo. Sicard (1917) e Vernet (1918) também descreveram estes achados. As fraturas de côndilo occipital são raras e difíceis de ser visualizadas em radiografias simples da coluna cervical, sendo provavelmente subdiagnosticadas em traumatismos graves (Hashimoto et al, 1988), porém mais facilmente evidenciadas em tomografias computadorizadas da mesma região. Anderson, Montesano (1988) propuseram uma classificação da fratura de côndilo occipital (FCO) que correlaciona o mecanismo de trauma com a morfologia da fratura. Foram descritos três tipos com base na configuração do côndilo fraturado: 1- fratura cominutiva do côndilo, sem luxação, por compressão do crânio sobre o atlas, semelhante ao mecanismo da fratura de Jefferson; 2- fratura linear, ocorrendo como parte de fratura da base posterior do crânio; o mecanismo é por impacto direto sobre o crânio; 3- avulsão do côndilo occipital, usualmente com deslocamento medial do fragmento fraturado, determinando instabilidade da articulação Occipital - C1 por lesão do ligamento alar e da membrana tectorial; o mecanismo é por rotação ou flexão lateral ou por combinação de ambos os movimentos. Este último tipo pode causar dor e limitação de movimentos e estar associado a lesão dos nervos cranianos baixos. Tuli et al (1997) propuseram nova classificação da fratura do côndilo occipital, que se baseia no grau de lesão ligamentar refletido pela presença de deslocamento da FCO e determinação da instabilidade das articulações Occipital-C1-C2 observados no exame radiológico simples da coluna cervical, na tomografia computadorizada e na ressonância magnética. São os seguintes os critérios de instabilidade: mais de 8 graus de rotação axial para um lado da articulação Occipital -C1; mais de 1 mm de translação da articulação Occipital -C1; mais de 7 mm de deslizamento de C1 sobre C2; mais de 45 graus de rotação axial para um lado da articulação C1-C2; * Jackson (1883) APUD Mohanty SK, Barrios M, Fishbone H, Khatib R. Irreversible injury of the cranial nerves 9 through 12 (Collet-Sicard syndrome). J Neurosurg. 1973;38:86-8. Introdução 64 mais de 4 mm de translação da articulação C1-C2; mais de 13 mm de distância entre o corpo de C2 e o arco posterior de C1; evidência na ressonância magnética de avulsão do ligamento transverso. A nova classificação inclui os seguintes tipos de FCO: 1- sem deslocamento; 2A- com deslocamento e estabilidade do complexo articular Occipital -C1-C2; 2B- com instabilidade do complexo articular Occipital -C1-C2. Bolender et al (1978) referem que as lesões do côndilo occipital são raras e geralmente decorrentes de traumatismos cranianos de alta energia cinética. É frequente a lesão associada de outros nervos cranianos de origem bulbar pela proximidade anatômica com o forame jugular, assim como da v. jugular interna (Daniels et al, 1984). Bhatoe (2007) afirma que as lesões do hipoglosso devem-se principalmente à fratura do côndilo occipital pela localização anatômica do nervo, que se faz medialmente a este. A paralisia do XII nervo pode ser tardia e também ser decorrente de procedimentos cirúrgicos cervicais, especialmente cirurgias sobre a glândula submandibular ou hérnia de disco C2/C3. Introdução 65 2- OBJETIVOS 66 2.1. Objetivos gerais Avaliar o perfil epidemiológico e os mecanismos de lesão traumática em nervos cranianos. 2.2. Objetivos específicos Estabelecer correlação clinicorradiológica e de neuroimagem nas lesões traumáticas de nervos cranianos; Avaliar a distribuição de frequência da lesão de um único nervo craniano e em múltiplos (dois ou mais nervos); Averiguar a presença e a distribuição de fístula liquórica pós-traumática associada às lesões de nervos cranianos; Correlacionar as lesões traumáticas de nervos cranianos com a gravidade do TCE de acordo com a pontuação na escala de coma de Glasgow no exame físico admissional. Objetivos 67 3- CASUÍSTICA E MÉTODO 68 Estudaram-se 71 casos de lesões traumáticas de nervos cranianos (uni ou bilaterais) em pacientes atendidos inicialmente no Pronto Socorro Central da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo no período de 1º de junho de 2010 a 30 de junho de 2013, por meio de estudo prospectivo com base em protocolo previamente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição (Apêndice 1). No período citado, 678 pacientes vítimas de TCE foram admitidos e internados na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Para a avaliação do perfil epidemiológico, caracterizamos o gênero dos pacientes e estabelecemos a média de idade de ocorrência das lesões por gênero. Lesões uni ou bilaterais de nervos cranianos foram incluídas; a lateralidade da lesão não foi considerada Para a avaliação do mecanismo de lesão e energia cinética envolvida no traumatismo, dividimos os pacientes segundo seguinte critério: 1- Alta Energia Cinética 2- Média Energia Cinética 3- Baixa Energia Cinética 4- Etiologia traumática desconhecida Acidentes automobilísticos, motociclísticos, ferimentos por projéteis de arma de fogo e atropelamentos foram considerados mecanismos de transmissão de alta energia cinética. Queda de altura (laje e escada), agressão física, ferimento por arma branca e queda de bicicleta representaram os acidentes de média energia cinética. Queda de própria altura significou acidente de baixa energia cinética. No único caso em que não se identificou qualquer mecanismo agressor considerou-se etiologia desconhecida. Para a avaliação da correlação clínicorradiológica e de neuroimagem, dividimos os pacientes segundo os seguintes critérios: Casuística e Método 69 a) quanto à presença de fraturas ou afundamentos cranianos: a1- Supratentoriais a2- Infratentoriais a3- Mistos a4- Ausentes As fraturas/afundamentos supratentoriais compreenderam as fraturas frontais, temporais, parietais, occipitais, orbitárias (teto, assoalho, parede lateral e medial), fraturas faciais, fraturas de arco zigomático, fraturas petrosas longitudinais e transversas e fronto-basais. As fraturas/afundamentos infratentoriais incluíram as fraturas do processo mastoide do osso temporal, fraturas da base do crânio, fraturas do forame jugular e do côndilo occipital. Consideramos fraturas mistas aquelas que envolviam mais que um osso isoladamente e os achados incluíram fratura de zigomático e base de crânio, frontotemporal e teto orbitário, teto e assoalho orbitário, têmporo-parieto-occipital, têmporo-mastóide, têmporo-petrosa, parietal-petrosa-mastoide e teto orbitário-zigomático e côndilo occipital. Foram consideradas ausentes as lesões ósseas não detectadas por meio da radiografia simples de crânio (frente e perfil), janela óssea da tomografia computadorizada de crânio ou como achado intraoperatório. b) quanto a presença ou ausência de lesões intracranianas: b1- Focais b2- Difusas b3- Ausentes b4- Associadas As lesões focais incluíram os hematomas: epidural, subdural, intra-parenquimatoso, a contusão e a hemorragia subaracnoidea traumática confinada a uma cisterna. Casuística e Método 70 As lesões difusas foram representadas pelo inchaço cerebral, lesão axonial difusa e a hemorragia subaracnoidea traumática que envolvia duas ou mais cisternas. Utilizamos o termo “isolada” quando apenas uma lesão foi aparente à tomografia de crânio e “associadas” quando foram visibilizadas quaisquer combinações de duas ou mais lesões. Lesões associadas ocorreram quando da presença de duas ou mais lesões ipsi ou contralaterais, focais ou difusas. Ausência de lesões foi considerada quando não houve identificação de qualquer lesão focal ou difusa associada à preservação dos sulcos e giros encefálicos com ventrículos de tamanho normal e ausência de edema transependimário. Para se avaliar a distribuição de frequência da lesão de nervo craniano único ou de múltiplos nervos (mais de um nervo craniano), utilizamos o seguinte critério: a1- Lesão de nervo craniano único a2- Lesão de mais de um nervo craniano (múltiplos nervos) A avaliação de fístula liquórica foi realizada segundo este critério: a1–presença de fístula liquórica (otoliquorréia, rinoliquorréia, fístula retrofaríngea); a2 – ausência de fístula liquórica Para avaliar os pacientes quanto a gravidade do traumatismo, utilizamos a Escala de Coma de Glasgow (ECGl) à admissão e os classificamos em: trauma leve (ECGl de 13 a 15), moderado (ECGl de 9 a 12) e grave (ECGl de 3 a 8). 3.1. Critérios de inclusão Todos os pacientes som história evidente de TCE foram submetidos a exame físico neurológico e exames de imagem, que constaram de radiografia simples de crânio (frente e perfil), tomografia computadorizada de crânio (100%) com cortes axiais, janela óssea e cortes coronais (quando indicados), ressonância magnética e angiografia cerebral digital (quando indicados) no momento da admissão e repetição Casuística e Método 71 destes de acordo com o quadro clínico e evolução. Neste estudo ambos os gêneros foram incluídos. Não impusemos limite de idade. O exame neurológico dos nervos cranianos foi feito à admissão, assim como durante o período de internação e no seguimento ambulatorial. Alteração do componente motor (nervos com exclusivo componente motor), sensitivo (nervos com exclusivo componente sensitivo) ou de ambos (nervos mistos) foram consideradas como formas de lesão e foram incluídas, assim como nervos que foram lesados uni ou bilateralmente. Como critérios de lesão, incluíram-se os seguintes achados para cada nervo craniano estudado: a) Nervo olfatório: hiposmia (detecção de odor com impossibilidade de reconhecimento da fonte odorífera) uni ou bilateral; anosmia (não detecção de qualquer odor) uni ou bilateral; parosmia (detecção do odor que não corresponde à fonte odorífera); cacosmia (percepção extremamente desagradável do estímulo olfatório); fantosmia (intermitência ou persistência da sensação olfativa na ausência de estímulo externo). Os pacientes foram submetidos à análise de substâncias odoríferas (duas de três substâncias não voláteis em cada narina), facilmente reconhecíveis (café, canela, hortelã) de forma que outros nervos cranianos (trigêmeo) não fossem sensibilizados durante a análise com a oferta de substâncias ácidas (vinagre). Durante a análise tomou-se o cuidado de investigar o paciente tendo-se a certeza da ausência fístula liquórica ou rinopatia. A análise das alterações gustatórias foi feita baseando-se nas alterações observadas nas atividades diárias dos pacientes. b) Nervo óptico: diminuição da acuidade visual (cartão de Snellen), do campo visual diagnosticados por confrontação direta, mantendo-se a correção óptica (uso de óculos ou lentes de contato), alterações na campimetria confirmadas pela Disciplina de Oftalmologia; c) Nervo oculomotor: alteração na motricidade ocular extrínseca (músculos reto inferior, medial, superior, elevador da pálpebra superior e oblíquo inferior) e intrínseca do globo ocular (reatividade e tamanho pupilares) isoladamente ou em conjunto, queda palpebral; Casuística e Método 72 d) Nervo troclear: alteração da motricidade ocular extrínseca (músculo oblíquo superior); e) Nervo trigêmeo: alteração de sensibilidade facial correspondente ao território de inervação de qualquer dos três ramos principais (oftálmico, maxilar e mandibular) ou de suas divisões isoladamente ou em conjunto ou alteração da motricidade da musculatura mastigatória; f) Nervo abducente: alteração da motricidade ocular extrínseca (músculo reto lateral); g) Nervo facial: alteração da motricidade da musculatura facial segundo a escala de House-Brackmann (Anexo 2) e alteração gustatória dos dois terços anteriores da língua. Levou-se em consideração se o aparecimento da lesão foi imediato ou tardio. As lesões gustatórias foram assim divididas: ageusia (inabilidade de detectar ou reconhecer qualquer estímulo gustativo); disgeusia (distorção na percepção do estímulo gustativo); cacogeusia (percepção extremamente desagradável do estímulo gustativo), fantogeusia (persistência da sensibilidade gustatória na ausência de estímulo); h) Nervo vestibulococlear: diminuição da acuidade auditiva avaliada por diapasão e audiometria confirmada pelo Departamento de Otorrinolaringologia; i) Nervo glossofaríngeo: alteração da musculatura da deglutição e do véu palatino confirmados pela unidade de Fonoaudiologia e alteração da sensibilidade gustatória do terço posterior da língua; j) Nervo vago: distúrbios da fonação pós-traumáticos e confirmados pela unidade de Fonoaudiologia; k) Nervo acessório: alteração da motricidade dos músculos esternocleidomastoide e trapézio; l) Nervo hipoglosso: alteração da movimentação da língua. Os pacientes foram seguidos em ambulatório próprio para avaliação destas lesões em períodos regulares e avaliados sempre pelo autor. São encaminhados do Pronto-Socorro Central e das enfermarias da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo após alta (lesões agudas) ou do Ambulatório de Traumatismo Cranioencefálico quando o diagnóstico da lesão for de aparecimento tardio. Casuística e Método 73 No ambulatório aplicou-se protocolo específico de lesão de nervos cranianos e iniciou-se o seguimento do paciente. Fizeram-se os encaminhamentos necessários para as unidades de Fisioterapia e de Fonoaudiologia e para os Departamentos de Oftalmologia e Otorrinolaringologia conforme lesões nervosas detectadas ou suspeitas para a confirmação do diagnóstico da lesão, assim como complemento de exames radiológicos. O seguimento foi realizado nos intervalos de 30 dias, 60 dias, 90 dias e 180 dias após a primeira consulta ambulatorial. 3.2. Critérios de exclusão Foram excluídos do estudo indivíduos portadores de TCE com lesões prévias de nervos cranianos decorrentes de cirurgias prévias, assim como aqueles cujas lesões de nervos foram decorrentes de diabetes mellitus, esclerose múltipla, neoplasias primárias e secundárias, doenças infecciosas, herpes zoster e hemorragia subaracnoide espontânea ou traumática prévias com comprometimento de nervos cranianos. 3.3. Análise estatística Nas análises estatísticas, adotamos o nível de significância de 5% (0,050), para a aplicação dos testes estatísticos. Usamos a planilha eletrônica MS-Excel, em sua versão do MS-Office 2010 para a organização dos dados e o pacote estatístico IBM SPSS (Statistical Package for Social Sciences), em sua versão 21.0, para a obtenção dos resultados. Aplicou-se o Teste da Razão de Verossimilhança, com o intuito de verificação do grau de associação entre as variáveis de interesse. Casuística e Método 74 4- RESULTADOS 75 No período analisado, 678 pacientes vítimas de TCE foram admitidos e internados no Pronto Socorro Central da Santa Casa de São Paulo, sendo que 71 casos (10,47%) apresentavam diagnóstico de lesão traumática de nervos cranianos agudamente ou de aparecimento tardio. Dos 678 pacientes admitidos, 482 (71,09%) pertenciam ao gênero masculino e 196 (28,09%) ao gênero feminino. Dos 71 casos estudados, 34 casos (47,89%) apresentaram lesão de nervo craniano único (Tab. 3) e em 37 casos (52,11%) houve lesão combinada de nervos conforme demonstrado na Tab.4. Os nervos olfatório (I), facial (VII) e oculomotor (III) foram os nervos mais frequentemente acometidos quando lesados isoladamente (Tab. 3). Tabela 3. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervo craniano único. Nervo craniano Número de casos Porcentagem de lesão Olfatório (I) 10 29,41% Óptico (II) 1 2,94% Oculomotor (III) 7 20,59% Troclear (IV) 1 2,94% Abducente (VI) 3 8,82% Facial (VII) 8 23,53% Vestibulococlear (VIII) 3 8,82% Acessório (XI) 1 2,94% Total 34 100% Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Em termos de lesões conjuntas, os nervos facial (VII) e vestibulococlear (VIII) foram os nervos mais frequentemente acometidos, seguidos pela associação olfatório (I) e vestibulococlear (VIII) (Tab.4). Não foram encontradas lesões envolvendo os nervos glossofaríngeo (IX), vago (X) e hipoglosso (XII). Resultados 76 Tabela 4. Número e porcentagem das lesões traumáticas em múltiplos nervos cranianos. Nervos Lesados Número de lesões Porcentagem VII/VIII 7 18,92% I/VIII 5 13,51% I/II 2 5,41% I/II/V 2 5,41% I/II/VIII 2 5,41% I/II/III/V 2 5,41% I/II/III 1 2,70% I/III 1 2,70% I/III/VII 1 2,70% I/II/III/VI/VIII 1 2,70% I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 2,70% I/V/VI 1 2,70% II/III 1 2,70% II/III/IV 1 2,70% II/III/IV/V/VI 1 2,70% II/III/VI/VII/VIII 1 2,70% II/III/V/VI/VII/VIII 1 2,70% II/VII/VIII 1 2,70% III/V 1 2,70% III/V/VIII 1 2,70% III/VII 1 2,70% V/VII 1 2,70% VI/VIII 1 2,70% Total 37 100% I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. No gênero masculino constatou-se a presença de 55 casos (77,46%) com lesão traumática de nervos cranianos, enquanto o gênero feminino, 16 pacientes (22,54%) apresentaram o mesmo diagnóstico, numa razão de 3,43 (Fig. 8). Resultados 77 A média de idade foi de 35,69 anos em pacientes do gênero feminino com idades que variaram de 14 a 72 anos. No gênero masculino a média de idade foi de 35,62 anos com variação de13 a 80 anos. Figura 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervos cranianos por gênero. No tocante a biomecânica do traumatismo, os atropelamentos (20 casos ou 28,17%) constituíram a etiologia principal de lesão traumática em nervos cranianos (Fig. 9), tanto nos casos com lesão de nervo único, assim como nos casos onde dois ou mais nervos foram acometidos. Acidentes motociclísticos corresponderam a 12 casos (16,90%) (Fig. 9). Resultados 78 Figura 9. Distribuição de frequência por mecanismo de trauma. A maior parte de nossa casuística apresentou fraturas cranianas (55 casos ou 77,47%) identificadas por radiografia simples de crânio e tomografia computadorizada de crânio. As fraturas cranianas predominaram na região temporal (10 casos ou 14,08%), seguidas por traços de fraturas que comprometiam mais de um osso (Fig. 10). A maioria dos pacientes foi admitida no Pronto-Socorro com avaliações normais ou discretamente alterada do nível de consciência. Vinte e um pacientes (29,58%) foram admitidos com pontuação 15 na escala de coma de Glasgow, enquanto 13 pacientes (18,31%) foram admitidos com 14 pontos. Porém, 13 pacientes (18,31%) foram admitidos com 3 pontos na ECGl, refletindo lesões de nervos decorrentes de traumatismos com transmissão de alta energia cinética, conforme Figura 11. Resultados 79 Figura 10. Distribuição de frequência das fraturas cranianas. Figura 11. Distribuição de frequência das pontuações da Escala de Coma de Glasgow à admissão dos pacientes. Resultados 80 A maioria dos pacientes (62 casos ou 87,32%) não apresentou qualquer indício de fístula liquórica (espontânea ou por manobras provocativas) durante o período de internação ou durante o seguimento ambulatorial (Fig. 12). Quando presentes (sete casos ou 9,85%) houve predomínio de rinoliquorreia. Otoliquorreia esteve presente em dois casos (2,81%), mas não se detectou a presença de fístula liquórica retrofaríngea. Dentre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (18 casos ou 25,35%), seguidos das contusões cerebrais (17 caos ou 23,94%). Em quatorze casos (19,71%) não se evidenciaram lesões intracranianas. Os hematomas intraparenquimatosos traumáticos isolados (não associados a outras lesões) constituíram os achados menos frequentes das lesões intracranianas (dois casos ou 2,82%) (Fig. 13). Figura 12. Distribuição de frequência de fístula liquórica. Resultados 81 Figura 13. Distribuição de frequência das lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso; Pn- pneumocrânio; CONT– contusão. Nervo olfatório (I) Dos 71 pacientes, 29 (40,85%) apresentaram lesão do nervo olfatório, dos quais, 10 (34,48%) ocorreram de forma isolada e em 19 (65,52%) casos apareceram lesões combinadas com outros nervos cranianos, distribuição que se encontra representada na Tabela 5. Resultados 82 Tabela 5. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo olfatório. Nervos lesados I/VIII I/II I/II/V I/II/VIII I/II/III/V I/V/VI I/II/III I/II/III/VI/VIII I/III/VII I/II/III/V/VI/VII/VIII I/III Total Número de casos 5 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 19 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. A associação mais frequente envolveu o I e VIII nervos (Tab. 5). A anosmia bilateral ocorreu em 14 casos, seguida de hiposmia (10 casos), anosmia unilateral esquerda (três casos), anosmia unilateral direita (um caso) e parosmia (um caso), demonstradas na Figura 14. Evidenciaram-se alterações gustatórias em sete casos com lesão de nervo olfatório (9,8%) em nosso trabalho, que incluíram hipogeusia (três casos), ageusia (três casos) e disgeusia (um caso). Figura 14. Distribuição de frequência das lesões traumáticas do nervo olfatório. D– direita; E– esquerda. Resultados 83 Atropelamentos representaram a etiologia mais frequente na lesão do nervo olfatório (oito casos), seguidos de quedas de alturas (escadas e lajes) com cinco casos e quatro casos de acidente motociclístico. As fraturas cranianas ocorreram em 23 casos (p=0,323), assim distribuídas: a) supratentoriais foram demonstradas em 15 casos (Fig. 15 e 17) com predomínio em região frontal; b) três pacientes apresentaram fraturas infratentoriais; c) seis demonstraram fraturas mistas (envolvendo mais de um osso, podendo ser supra e infratentoriais) e cinco casos sem evidência de qualquer traço de fratura. Os hematomas epidurais e as contusões cerebrais (Fig. 15 e 16) ocorreram em frequências iguais (sete casos cada), seguidos de três pacientes com hemorragia subaracnoide traumática. As lesões focais predominaram (p=0,015) nas lesões olfatórias e nas gustatórias (p=0,05). Em seis pacientes não houve lesão intracraniana. Um paciente apresentou lesão gustatória na ausência de lesão intracraniana (p=0,028). Apenas um paciente apresentou rinoliquorreia na vigência de lesão do I nervo (p=0,506). A B Figura 15. Fratura occipital (A) e contusão frontal (B) em contragolpe em paciente com lesão traumática de nervo olfatório (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 84 A B Figura 16. Contusão frontal em contragolpe (A e B) em paciente com lesão traumática de nervo olfatório (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 17. Tomografia de crânio evidenciando fratura do osso nasal (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 85 Dez pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e oito com pontuação igual a 14. Seis pacientes obtiveram pontuação 13, 12 e 11, além de pacientes com pontuações mais baixas (3 e 7) com p=0,033. A maior parte dos pacientes com lesão de nervo olfatório não apresentava alteração olfativa detectável no primeiro exame e sim durante o acompanhamento ambulatorial. Nervo óptico (II) As lesões traumáticas do nervo óptico incluíram diminuição da acuidade visual, alterações do campo visual e do exame de fundo de olho isoladamente ou em associação. Acuidade visual Dezoito pacientes (25,35%) apresentaram alterações de acuidade visual (Fig. 18). Queixas de diminuição de acuidade visual foram incluídas, tendo-se a confirmação do diagnóstico realizada pela Disciplina de Oftalmologia. Constatou-se apenas um caso (5,56%) de lesão isolada do nervo óptico. Os 17 casos restantes (94,44%) apresentaram lesões concomitantes a outros nervos. Figura 18. Distribuição de frequência da acuidade visual em pacientes com lesão traumática do nervo óptico. Resultados 86 Ferimentos por projéteis de arma de fogo representaram o mecanismo de trauma mais frequente, considerando-se diminuição da acuidade visual, alteração de campo visual e do exame de fundo de olho em conjunto, seguidos dos atropelamentos e acidentes automobilísticos, acidentes motociclísticos e agressões físicas (Fig. 22). No presente estudo, três casos de lesão do nervo óptico foram causados por ferimentos por projétil de arma de fogo. Fraturas (Fig. 19 e 21) ocorreram em 14 casos, das quais nove eram supratentoriais (predomínio de lesões frontais – p=0,041), quatro eram mistas e apenas uma fratura infratentorial quando considerada apenas a diminuição da acuidade visual. Apontamos cinco casos com fraturas orbitárias em nosso estudo, a maioria decorrente de mecanismos de trauma com transmissão de alta energia cinética (ferimentos por projétil de arma de fogo, atropelamentos e acidentes automobilísticos). As contusões cerebrais ocorreram em cinco casos, enquanto os hematomas epidurais ocorreram em quatro casos, seguidos de três pacientes com hemorragia subaracnoide traumática e dois pacientes com hematoma subdural agudo (Fig. 23). Em dois pacientes não houve lesão intracraniana. Três pacientes apresentaram rinoliquorreia. Sete pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e quatro com pontuação igual a 14. Resultados 87 Tabela 6. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo óptico – acuidade visual. Nervos lesados I/II I/II/VIII I/II/V I/II/III/V II/III/IV I/II/III I/II/III/V/VI/VII/VIII II/III/IV/V/VI II/III II/III/VI/VII/VIII I/II/III/VI/VIII II/III/V/VI/VII/VIII II/VII/VIII Total Número de casos 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 17 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Campo visual Alterações do campo visual foram encontradas em 14 pacientes (19,72%). A maior parte das alterações de campo visual foram geradas por acidentes motociclísticos (três casos), automobilísticos (três casos) e ferimentos por projétil de arma de fogo. Fraturas de teto orbitário ocorreram em três casos, seguidos de dois casos com fratura frontal, dois casos com fratura temporal e dois casos que não evidenciaram fraturas. Evidenciamos também pacientes com fragmentos ósseos intraorbitários (Fig. 19 e 21) e paciente com evidência de lesão traumática de nervo óptico esquerdo (Fig. 20). Três pacientes apresentaram rinoliquorreia (os mesmos pacientes com alteração da acuidade visual). À admissão, seis pacientes apresentaram pontuação 15 na escala de Coma de Glasgow e três pacientes foram admitidos com pontuação 14. Resultados 88 Figura 19. Tomografia de crânio evidenciando fragmento ósseo intraorbitário direito (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 89 Figura 20. Ressonância magnética de encéfalo evidenciando lesão do nervo óptico esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 21. Fragmento ósseo sobre nervo óptico esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 90 Figura 22. Mecanismos de trauma nas lesões do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca. Figura 23. Lesões intracranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; alt– alterado; HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso. Resultados 91 Figura 24. Fraturas cranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico. AV– acuidade visual; CV– campo visual; arco zig– arco zigomático. Nervo oculomotor (III) Em 22 pacientes (30,99%) foram evidenciadas alterações da motricidade ocular extrínseca e intrínseca do globo ocular. Não encontramos ptose palpebral. Houve associação de anisocoria com alterações da motricidade ocular extrínseca (MOE), ou seja, comprometimento da porção extrínseca e intrínseca do nervo, assim como a presença de anisicoria sem alterações da MOE (comprometimento intrínseco exclusivo) e, ainda, pacientes com pupilas isocóricas e fotorreagentes e com alterações da MOE (comprometimento extrínseco exclusivo), conforme Tabela 7 e Figura 25. Houve lesão única do nervo oculomotor em sete deles e nos 15 casos restantes houve lesão conjunta de outros nervos, conforme demonstra a Tabela 8. Resultados 92 Tabela 7. Distribuição por frequência das lesões traumáticas do nervo oculomotor – componente intrínseco e extrínseco. Lesão Número de casos D>E + MOE alterada 5 D>E + MOE normal 5 E>D + MOE alterada 3 E>D + MOE normal 1 PIFR + MOE alterada 8 Total 22 casos D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motricidade ocular extrínseca. Fonte: SAME - Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. O presente estudo demonstra que atropelamentos, acidentes motociclísticos e ferimentos por projétil de arma de fogo constituíram as etiologias traumáticas mais frequentes como lesão do III nervo (Fig. 30). Apenas um caso de ferimento por arma branca foi causa de lesão de III com anisocoria e alteração da motricidade ocular extrínseca com fratura de assoalho de órbita (Fig. 26). As fraturas supratentoriais foram demonstradas em dez casos (Fig. 27 e 28), enquanto as infratentoriais ocorreram em dois casos e as mistas em cinco casos. Nos cinco casos restantes não se evidenciaram fraturas cranianas, dos quais dois casos apresentavam-se com anormalidades da reatividade pupilar (p=0,024). Resultados 93 Figura 25. Distribuição de frequência das alterações pupilares e motricidade ocular extrínseca. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motricidade ocular extrínseca. Figura 26. Radiografia simples de crânio com ferimento por arma branca em paciente com lesão traumática de III nervo. Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 94 Observou-se a ocorrência de sete casos de contusões cerebrais e três casos de hemorragia subaracnoide traumática. Em quarto pacientes não houve lesão intracraniana (Fig. 31). Figura 27. Tomografia de crânio evidenciando fratura de assoalho de órbita (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Seis pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e mais seis com pontuação igual a 14 (p=0,012). Observamos ainda outros seis pacientes que à admissão estavam com pontuação 3 na ECGl, evidenciando-se lesão no indivíduo inconsciente. Dois casos apresentaram rinoliquorreia. O gênero masculino foi acometido em 14 casos (63,64%) e o feminino em oito casos (36,36%). Resultados 95 Figura 28. Tomografia de crânio evidenciando fratura em teto orbitário esquerdo (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 29. Tomografia de crânio evidenciando lesão axonial em tronco encefálico (seta). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 96 Tabela 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo oculomotor. Nervos lesados I/II/III/V I/III II/III III/V III/VII I/III/VII I/II/III II/III/IV III/V/VIII I/II/III/V/VI/VII/VIII I/II/III/VI/VIII II/III/IV/V/VI II/III/V/VI/VII/VIII II/III/VI/VII/VIII Total Número de casos 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 15 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 30. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com o mecanismo de trauma. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motricidade ocular extrínseca; FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca. Resultados 97 Figura 31. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com a presença de lesões intracranianas. D>E– anisocoria D>E; E>D– anisocoria E>D; PIFR– pupilas isocóricas e fotorreagentes; MOE– motricidade ocular extrínseca; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HED– hematoma epidural; HSDA – hematoma subdural agudo; HIP – hematoma intraparenquimatoso. Nervo troclear (IV) Constatou-se a lesão do nervo troclear em três casos (4,23%) (Fig. 32). Em um caso houve lesão exclusiva do mesmo e nos dois casos restantes, lesões concomitantes a outros nervos foram observadas (Tab.9). A lesão deste nervo predominou no gênero feminino. Tabela 9. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo troclear. Nervos lesados Número de casos II/III/IV 1 II/III/IV/V/VI 1 Total 2 casos II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Um caso de atropelamento, um caso de acidente motociclístico e um caso de queda de altura foram os responsáveis pela lesão do IV nervo (Fig. 33). Resultados 98 Uma fratura frontal e outra de teto orbitário estavam presentes e em um caso não houve evidência de fratura (p=0,042). O hematoma epidural esteve presente em um caso e nos dois restantes não havia lesão intracraniana detectável (Fig. 34). Quanto às lesões mistas do complexo motor ocular, a lesão conjunta do oculomotor e abducente foi a mais frequente (9,52%), seguida pela lesão dos três nervos conjuntamente (7,73%) e lesão conjunta de oculomotor e troclear (4,16%). Não houve relato de lesão conjunta do troclear com o abducente. Figura 32. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com o mecanismo de trauma. Figura 33. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com a presença de lesões intracranianas. HED – hematoma epidural. Resultados 99 Um paciente foi admitido com pontuação 15 na ECGl, um com pontuação igual a 13 e o terceiro com pontuação 6. Nervo trigêmeo (V) Dos 11 pacientes com diagnóstico de lesão do V nervo, a totalidade apresentou lesão associada a outros nervos conforme a Tabela 10. A raiz V1 foi comprometida mais frequentemente (Fig. 35), seguida da raiz V2 e combinação V1/V2, V2/V3 e três raízes. Não se notou comprometimento exclusivo da raiz motora do trigêmeo (V3). Acidentes motociclísticos (quatro casos) e ferimentos por projéteis de arma de fogo (três casos) foram as etiologias mais frequentes (Fig.36). Nove pacientes apresentaram fraturas cranianas, das quais seis eram supratentoriais, uma infratentorial e duas mistas. Dois pacientes não apresentaram fraturas. Tabela 10. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo trigêmeo. Nervos lesados Número de casos I/II/V 2 I/II/III/V 2 III/V 1 V/VII 1 I/V/VI 1 III/V/VIII 1 II/III/IV/V/VI 1 II/III/V/VI/VII/VIII 1 I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 Total 11 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 100 Figura 34. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos. V1 – nervo oftálmico; V2 – nervo maxilar; V3 – nervo mandibular. Dentre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (três casos), as hemorragias subaracnoides traumáticas (três casos) e contusões cerebrais (dois casos) (Fig. 37). Apenas dois pacientes apresentaram rinoliquorreia. Quatro pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e dois foram admitidos com pontuação 14. Figura 35. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo o mecanismo de trauma. FAF– ferimento por projétil de arma de fogo; FAB– ferimento por arma branca; V1- ramo oftálmico do trigêmeo; V2- ramo maxilar do trigêmeo; V3- ramo mandibular do trigêmeo. Resultados 101 Figura 36. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo a presença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; V1- ramo oftálmico do trigêmeo; V2- ramo maxilar do trigêmeo; V3- ramo mandibular do trigêmeo. Nervo abducente (VI) Dez pacientes apresentaram lesão traumática do nervo abducente (Fig. 38), correspondendo a 14,08% dos casos. Três pacientes apresentaram lesões exclusivas do nervo, enquanto sete apresentaram lesões associadas conforme demonstrado na Tab. 11. Houve predomínio no gênero masculino. Tabela 11. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo abducente. Nervos lesados Número de casos VI/VIII 1 I/V/VI 1 I/II/III/VI/VIII 1 II/III/IV/V/VI 1 II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/III/VI/VII/VIII 1 I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 Total 7 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; IV– nervo troclear; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Resultados 102 Figura 37. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca por lesão traumática de nervo abducente. MOE– motricidade ocular extrínseca. Acidentes motociclísticos constituíram as etiologias mais frequentes (quatro casos) seguidos de atropelamentos (dois casos) (Fig. 39). Oito pacientes apresentaram fraturas cranianas, das quais cinco eram supratentoriais (predomínio das fraturas temporais – p=0,029), uma infratentorial e duas mistas (Fig. 40). Dois pacientes não apresentaram fraturas. Apenas um paciente apresentou rinoliquorreia. Entre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (quatro casos), seguidos de casos de contusões cerebrais (Fig. 41). Três pacientes foram admitidos com pontuação 14 na ECGl e dois foram admitidos com pontuação 13. Sete pacientes mantêm pontuação 5 na escala de resultados de Glasgow e três pacientes mantém pontuação 4. Resultados 103 Figura 38. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com o mecanismo de trauma. Figura 39. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de fraturas cranianas. Resultados 104 Figura 40. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HIP– hematoma intraparenquimatoso. Nervo facial (VII) Vinte e dois pacientes apresentaram lesão traumática do nervo facial, correspondendo a 30,99% dos casos. Oito pacientes apresentaram lesão exclusiva do nervo, enquanto 14 apresentaram lesões associadas conforme demonstrado na Tabela 12. A maior parte dos pacientes apresentou disfunção moderada do nervo facial (Escala de House-Brackmann – Anexo 2), seguida por pacientes com paralisia facial completa e disfunção moderada a grave (Fig. 42). Resultados 105 Tabela 12. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo facial. Nervos lesados Número de casos VII/VIII 7 III/VII 1 V/VII 1 II/III/V/VI/VII/VIII 1 II/III/VI/VII/VIII 1 I/II/III/V/VI/VII/VIII 1 I/III/VII 1 II/VII/VIII 1 Total 14 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 41. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial de acordo com o comprometimento funcional (House-Brackmann). Resultados 106 Acidentes motociclísticos constituíram as etiologias mais frequentes, seguidos dos atropelamentos e acidentes automobilísticos (Fig. 44). Dezoito pacientes apresentaram fraturas cranianas (Fig. 43), das quais quatorze eram supratentoriais (onze envolvendo o osso temporal – p=0,027), uma infratentorial e quatro fraturas mistas (duas fraturas envolvendo o temporal). Três pacientes não apresentaram fraturas. As fraturas temporais (exclusivas) ocorreram em onze casos (Fig. 45), dos quais três eram petrosas longitudinais e uma era petrosa transversa. Figura 42. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de fraturas e grau de comprometimento funcional. PMP – petrosa, mastoide e parietal; BCAZ – base crânio e arco zigomático; Longit – longitudinal. Resultados 107 Figura 43. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo o mecanismo de trauma e grau de comprometimento funcional. AM – acidente motociclístico; AA – acidente automobilístico; QPA- queda da própria altura; QA – queda de altura; FAB – ferimento por arma branca. Entre as lesões intracranianas (Fig. 46), predominaram os hematomas epidurais (cinco casos) e as contusões cerebrais (quatro casos), com preponderância da região temporal (p=0,019). Em quatro casos não houve evidência de lesão intracraniana. Constatamos a presença de três fístulas liquóricas nasais e dois casos de otoliquorreia. Dezenove pacientes (86,36%) apresentaram paralisia facial imediata e três pacientes (13,64%) apresentaram-na de forma tardia. A associação de lesões de nervos cranianos mais frequente foi a lesão combinada do facial com o vestibulococlear (sete casos) (Tab. 12). Resultados 108 Figura 44. Tomografia de crânio evidenciando fratura longitudinal do petroso esquerdo (setas). Fonte: Disciplina de Neurocirurgia da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 45. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de lesões intracranianas e grau de comprometimento funcional. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso. Seis pacientes foram admitidos com pontuação 3 na ECGl, seis pacientes com pontuação 15 e três foram admitidos com pontuação 14. Resultados 109 Nervo vestibulococlear (VIII) Vinte e quatro pacientes apresentaram lesão traumática do nervo vestibulococlear, correspondendo a 33,80% dos casos (Fig. 47). Três pacientes (12,50%) apresentaram lesão exclusiva do nervo, enquanto 21 (87,50%) apresentaram lesões associadas conforme demonstrado na Tabela 13. Tabela 13. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo vestibulococlear. Nervos lesados VII/VIII I/VIII I/II/VIII VI/VIII III/V/VIII II/III/VI/VII/VIII I/II/III/V/VI/VII/VIII I/II/III/VI/VIII II/III/V/VI/VII/VIII II/VII/VIII Total Número de casos 7 5 2 1 1 1 1 1 1 1 21 casos I– nervo olfatório; II– nervo óptico; III– nervo oculomotor; V– nervo trigêmeo; VI– nervo abducente; VII– nervo facial; VIII– nervo vestibulococlear. Fonte: SAME- Serviço de Arquivamento Médico e Estatístico da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Figura 46. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva. Resultados 110 Atropelamentos constituíram a etiologia na maior parte dos casos (sete casos), seguidos por acidentes automobilísticos (quatro casos) e acidentes motociclísticos (quatro casos) (Fig. 48). Figura 47. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com o mecanismo de trauma. FAF – ferimento por projétil de arma de fogo; pp. - própria. Figura 48. Distribuição das lesões traumáticas do nervo vestibulococlear segundo a presença de fraturas cranianas. Resultados 111 Vinte e dois pacientes apresentaram fraturas cranianas (Fig. 49), das quais treze eram supratentoriais (cinco temporais e três petrosas longitudinais), quatro infratentoriais e cinco mistas (quatro delas envolvendo o osso temporal). Dois pacientes não apresentaram fraturas (p=0,036). Entre as lesões intracranianas, predominaram os hematomas epidurais (oito casos) e as contusões cerebrais (seis casos), de predomínio temporal (p=0,003). Quatro pacientes não apresentaram lesões intracranianas associadas (Fig. 50). Figura 49. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com a presença de lesões intracranianas. HED– hematoma epidural; HSAT– hemorragia subaracnoide traumática; HSDA– hematoma subdural agudo; HIP– hematoma intraparenquimatoso. Três pacientes apresentaram rinoliquorreia (p=0,008). Cinco pacientes foram admitidos com pontuação 15 na ECGl e sete pacientes com pontuação 14. Nervo acessório (XI) Descreveu-se apenas um caso de lesão isolada do nervo acessório em indivíduo do gênero masculino, vítima de ferimento por arma branca em região cervical anterior direita. Foi admitido com pontuação 15 na escala de Glasgow. Resultados 112 5- DISCUSSÃO 113 A pesquisa da lesão traumática de nervos cranianos requer persistência para seu diagnóstico. Acreditamos que este seja o fato para explicar o pequeno número de trabalhos na literatura que abranjam lesão traumática de todos os nervos cranianos. O número de publicações aumenta quando se atenta para o estudo de um nervo isolado ou para um pequeno número de nervos, como o complexo motor ocular e os nervos VII e VIII, uma vez que esta pesquisa costuma ser feita por autores oftalmologistas e otorrinolaringologistas. Nas lesões traumáticas dos nervos cranianos, a biomecânica do traumatismo está diretamente ligada ao prognóstico de recuperação funcional do nervo (Bhatoe, 2007). Além de serem lesados diretamente pelo traumatismo, os nervos cranianos podem ser lesados por reação tecidual presente em fraturas, aumento na pressão intracraniana, meningite e por mecanismo de desaceleração, onde comprometimento vascular ou mecanismo de tosquia podem levar à lesão estrutural do nervo (Bhatoe, 2007). Pelo fato de os nervos cranianos possuírem longos trajetos intracranianos, por passarem por forames cranianos (os quais são geralmente envolvidos em linhas de fratura) e por estarem ancorados perifericamente sendo submetidos à tração quando do deslocamento encefálico durante o traumatismo em relação ao envoltório dural, não é de se estranhar que as lesões em nervos cranianos de origem traumática sejam relativamente frequentes. As fibras nervosas podem ser lesadas diretamente ou terem seu suprimento sanguíneo prejudicado pelo traumatismo. As perdas funcionais podem ser temporárias ou definitivas. Patel et al (2005) afirmam que a maior parte das lesões traumáticas dos nervos cranianos é decorrente de traumatismos com transmissão de baixa energia cinética. Isto está em desacordo com nossos achados, uma vez que a o mecanismo de trauma predominante nas lesões traumáticas de nervos cranianos foram atropelamentos ou acidentes (automobilísticos ou motociclísticos), ou seja, mecanismos de trauma com transmissão de altos valores de energia cinética, tanto nas lesões trauDiscussão 114 máticas de nervo único, quanto nas lesões associadas. Afirma ainda que o gênero masculino tem maior acometimento de lesões traumáticas de nervos cranianos, sobretudo indivíduos jovens e em idade produtiva. Nossa casuística também demonstrou predomínio destas lesões em indivíduos jovens do gênero masculino, considerando que nossa amostra incluiu 55 (77,46%) pacientes deste gênero. Na casuística de Hughes (1964), houve maior acometimento do nervo facial, seguido pelo nervo olfatório. Patel et al (2005) relatam estudo de 99 pacientes com lesões traumáticas de nervos cranianos, sendo a maioria portadora de lesões leves (baseadas na escala de coma de Glasgow à admissão do paciente). Descrevem também que a lesão traumática de nervos cranianos envolve mais frequentemente o nervo facial e o oculomotor. Em nosso estudo, quando observamos a distribuição de frequência da lesão traumática em nervo único, notamos que o nervo olfatório foi o mais frequentemente acometido, seguido pelo facial e oculomotor. No tocante à lesão traumática conjunta, a associação VII/VIII foi a mais frequente (sete casos). Entendemos esta associação pela proximidade anatômica dos nervos facial e vestibulococlear, desde a sua origem aparente no tronco encefálico até a passagem de ambos pelo meato acústico interno. Somando-se as lesões únicas e associadas, o nervo olfatório foi o mais frequentemente acometido (29 casos), seguido pelo acometimento dos nervos vestibulococlear, facial e oculomotor. Patel et al (2005) não descrevem lesão traumática envolvendo os nervos cranianos de origem bulbar (IX, X, XI e XII). Nos 71 pacientes analisados neste estudo, apenas 1 apresentou lesão traumática de nervo acessório (XI). Nas lesões traumáticas de nervos cranianos nem sempre as fraturas cranianas estão presentes. Para Heinze (1969), a lesão dos nervos que constituem o complexo oculomotor na ausência de fraturas cranianas deve-se a mecanismos de deDiscussão 115 saceleração brusca que levam à lesão dos nervos, em sua origem aparente no tronco encefálico. A maioria dos pacientes estudados (55 pacientes) apresentou traços de fraturas identificáveis à radiografia simples de crânio ou à tomografia computadorizada de crânio; estas predominaram na região temporal, seguidas por aquelas que acometeram dois ossos em continuidade (têmporo-parietal, frontoparietal). Deve-se considerar que na data da publicação do trabalho de Heinze (1969), os métodos diagnósticos eram muito mais simples do que aqueles que dispomos na atualidade. Por este motivo, acreditamos que a quantidade de pacientes com evidência de fraturas tenha sido muito maior em nosso trabalho. Das lesões intracranianas focais, os hematomas epidurais e as contusões constituíram os achados mais frequentes dentre as lesões intracranianas, o que está de acordo com os mecanismos de trauma com transmissão de alta energia cinética (Araújo et al, 2012). No que tange à fístula liquórica, não encontramos na literatura consultada, registro de associação de fístula liquórica traumática com lesão de nervo craniano. Diferentemente, em nosso estudo, encontramos nove casos onde ocorreram tal associação. Patel et al (2005) relatam que em sua casuística, a maior parte dos pacientes foi vítima de traumatismo leve, refletido pelas altas pontuações na ECGl à admissão. Neste estudo, a maioria dos pacientes apresentou pouco ou nenhum comprometimento do nível de consciência ao exame admissional, porém encontramos pacientes que foram admitidos em estado de coma e que apresentavam lesões de nervos cranianos visíveis ao exame, com comprometimento único ou múltiplo destes. Isto nos parece contraditório, uma vez que a maior parte dos pacientes foi vítima de traumatismo de alta energia cinética e grande parte não apresentava qualquer comprometimento do nível de consciência, ou, quando presente, apenas um discreto comprometimento deste. Acreditamos, portanto, que não seja o mecanismo Discussão 116 de trauma propriamente dito o fator causador da lesão, e sim, a quantidade de energia cinética transmitida ao segmento cefálico. Ou seja, o paciente pode ter sido vítima de atropelamento, porém o segmento cefálico pode ter sofrido processo de desaceleração com discreto comprometimento do nível de consciência e lesão de nervo craniano por desaceleração. Para facilitar a discussão dos resultados, serão postos em foco, separadamente, os principais itens deste estudo. 5.1. Nervo olfatório (I) A lesão do nervo olfatório é traduzida por alterações na percepção olfativa e pode ser completa (anosmia) ou incompleta (hiposmia). Dos pacientes com lesão traumática de nervo olfatório, a maior parte apresentou anosmia bilateral, seguida de casos de hiposmia. Foram lesões decorrentes, em sua maioria, de mecanismos de trauma com transmissão de alta ou média energia cinética (atropelamentos e quedas de altura). A quantidade de energia cinética transmitida ao crânio durante o traumatismo não é proporcional ao grau de lesão do nervo olfatório (Kindler, 1936). Nosso estudo revela a presença de indivíduos vítimas de traumatismos cranianos com transmissão de baixa energia cinética e que apresentaram lesão olfatória (desaceleração). A maior parte dos pacientes (82,75%) com lesão de nervo olfatório apresentava fratura craniana. No trabalho de Bhatoe (2007) a fratura da lâmina crivosa do osso etmoide ocorre em 70% dos casos. Porém, encontramos lesões do nervo olfatório em traumatismos occipitais (dois casos ou 6,06%), o que pode ser explicado pelo processo de desaceleração do encéfalo e movimento de tosquia das raízes olfatórias na placa crivosa ou avulsão do trato olfatório, mesmo na ausência de fratura deste osso. A desaceleração sofrida pelo encéfalo no traumatismo occipital pode levar à formação de contusão frontal com compressão direta do trato olfatório. Discussão 117 Nas séries de Leigh (1943) e de Hughes (1964), o impacto foi predominante nas regiões frontal e occipital (65,8%) e as lesões temporais e parietais ocorreram em 14,6% das lesões do nervo olfatório. A associação da lesão traumática do nervo olfatório com outros nervos é frequente, assim como a preservação da sensibilidade gustatória, que, segundo os autores, pode ser originário de receptores localizados na nasofaringe. As fraturas cranianas associadas à lesão do I nervo foram de predomínio frontal, muitas vezes estendendo-se para a região nasal. Embora a anosmia possa parecer completa, os pacientes relatam a preservação da sensibilidade gustatória, o que pode ser explicado por meio de receptores gustativos presentes na nasofaringe. Porém, muitos pacientes relatam perda (parcial ou total) concomitante da sensibilidade gustatória (Hughes, 1964). Deve-se considerar que a lesão do nervo também possa ocorrer em outros pontos da via olfativa, segundo Goland (1937), afirmando que o traumatismo occipital levaria a um impacto das estrias olfatórias contra a asa menor do osso esfenoide. Além disso, o aparecimento da parosmia também não demonstra qualquer relação com a intensidade do traumatismo (Bhatoe, 2007). Nossa casuística demonstrou que a maioria dos pacientes com lesão de nervo olfatório não apresentava alteração olfativa detectável no primeiro exame e sim durante o acompanhamento ambulatorial. Isto pode ser explicado pela ausência de processo edematoso na fase aguda, que foi se desenvolvendo ao longo do tempo, provocando diminuição na sensibilidade olfatória, muitas vezes não percebida pelo próprio paciente e somente detectada quando da aplicação de testes específicos. Comparando-se as alterações olfativas com a Escala de Coma de Glasgow à admissão, notamos que a maior parte dos pacientes apresentava pontuações de 13 a 15 à admissão. Logicamente, isto foi concluído após a recuperação total do nível de consciência naqueles com pontuação menor que 15. Dentre todos os nervos pesquisados, encontramos maior dificuldade na pesquisa de lesão traumática do Discussão 118 nervo olfatório, pois a mesma ocorre em qualquer grau de comprometimento do nível de consciência. Encontramos apenas um caso de cacosmia, onde a sensação olfativa é distorcida e não prazerosa, que ocorre geralmente na lesão do lobo temporal. 5.2. Nervo óptico (II) Embora muitos traumatismos cranianos envolvam a região frontal e as fraturas de órbita sejam frequentes, a lesão ocular é relativamente rara (Hughes, 1964), o que é explicado pela proteção conferida pela órbita óssea e a relativa mobilidade do globo ocular. Lesão traumática isolada do nervo óptico é rara. A porção intracraniana do nervo é rodeada pelo crânio e encéfalo e está protegida, exceto em traumatismos com alto componente cinético. A porção orbitária é rodeada por osso e pela gordura periorbitária. Esta porção é relativamente móvel e capaz de ser estirada com o movimento ocular ou pela compressão do globo ocular. A porção intracanalicular do nervo é englobada por canal ósseo rígido, ao qual é parcialmente aderida. Elston (1984) afirma que a lesão com alto componente cinético é mais frequente no adulto jovem e é decorrente de acidentes automobilísticos ou motociclísticos. Isto está de acordo com nossos achados, onde atropelamentos, acidentes motociclísticos e ferimentos por projétil de arma de fogo constituíram mecanismo de trauma nas lesões do II nervo. Dos 18 casos de lesão traumática de nervo óptico, somente um acometeu o nervo óptico de forma única (1,4%), o que está de acordo com a casuística de Turner (1943), que é de 1,6%. Como, normalmente, é necessária alta transmissão de energia cinética para a lesão do nervo óptico, nervos anatomicamente relacionados são lesados em conjunto, como o nervo olfatório e componentes do complexo motor ocular. Nestes casos, a presença de fraturas supratentoriais com predomínio na região frontal torna-se frequente, além da presença de lesões intracranianas, como contusões cerebrais. Discussão 119 Hematomas intraorbitários comprometem a acuidade visual por compressão da porção intraorbitária do nervo óptico (Freiwald, 1977), fator não encontrado em nossa casuística. Porém, contusões ou hematomas envolvendo a via óptica (quiasma óptico, região temporal) são causas de alteração da acuidade visual. Aproximadamente 25% das lesões traumáticas do nervo óptico são causadas por traumatismos penetrantes (Lewin, 1954), geralmente traduzidas por ferimentos por projéteis de arma de fogo, representando lesão direta do nervo. Encontramos três casos (16,66%) de lesão traumática de nervo óptico causada por ferimento por projétil de arma de fogo levando ao comprometimento da acuidade e campos visuais. Para Patel et al (2005), 22% dos casos de lesão traumática do nervo óptico apresentam fraturas que envolvem as diferentes porções da órbita. Considerando-se os pacientes com fraturas de órbita e comprometimento da acuidade visual, nossa casuística revela comprometimento orbitário em 27,5% dos casos de lesão do nervo óptico.. A minoria dos pacientes com lesão traumática de nervo óptico não apresenta fraturas cranianas, podendo-se explicar a lesão do nervo óptico por lesão indireta ou por comprometimento de seu suprimento vascular, de acordo com a teoria de DukeElder (1949). Nota-se que o comprometimento visual pode ocorrer na ausência do comprometimento do nível de consciência, independentemente do mecanismo de trauma, sobretudo nas lesões indiretas. 5.3. Complexo motor ocular 5.3.1. Nervo oculomotor (III) Trata-se de lesões comumente associadas ao traumatismo craniano em adultos. Em crianças descrevem-se lesões congênitas, neoplásicas, infecciosas, vasculares (aneurismas) e migrânia oftalmoplégica como causa de alteração na funDiscussão 120 ção do nervo oculomotor, porém o traumatismo constitui a causa adquirida mais frequente de lesão deste nervo, seguida de processos infecciosos do sistema nervoso central (Rush, Younge, 1981). São traumatismos com alto componente cinético, geralmente dirigido à região frontal com fratura craniana e perda da consciência, conforme descrito por Miller (1977). Em nossa casuística predominaram os mecanismos de trauma com transmissão de alta energia cinética, tais como atropelamentos e acidentes motociclísticos associados a contusões cerebrais. A lesão completa do III nervo resulta em ptose palpebral (apesar de nosso estudo não ter verificado nenhum caso de lesão do músculo elevador da pálpebra suerior) e anisocoria com impossibilidade de movimentar o globo ocular em qualquer direção, com exceção da abdução (se o VI nervo estiver intacto). Nestas circunstâncias, a ação do oblíquo superior (IV nervo), na tentativa de movimentar o globo ocular em sentido inferior, somente fará movimento de rotação do globo ocular. Sabidamente, as fraturas do teto orbitário são menos frequentes que as do assoalho da órbita e possuem maior importância clínica devido a possibilidade de ocorrência de hematoma intracraniano associado. A fratura de teto orbitário pode levar à lesão da divisão superior do III nervo com paralisia do elevador da pálpebra superior e reto superior. Nossa casuística demonstrou predomínio das fraturas de teto orbitário, seguidas pelas fraturas frontais e temporais. Patel et al (2005) descrevem 23 pacientes com lesão traumática do nervo oculomotor (incidência de 2,9%) e 50% destes apresentavam lesões associadas de nervos cranianos. O presente estudo demonstrou que em 68,80% dos casos de lesão traumática do nervo oculomotor, outro nervo craniano também estava envolvido. Entendemos que a proximidade anatômica no interior da órbita ou no interior do seio cavernoso seja responsável por tal associação. Trata-se de nervo cuja lesão pode ser detectada no paciente inconsciente (Elston, 1984), o que ocorreu em seis pacientes de nossa casuística. Discussão 121 5.3.2. Nervo troclear (IV) A lesão do troclear (IV) foi detectada pelo sinal de Bielchowsky (descrito em 1940), que consiste na inclinação da face para o lado da lesão na tentativa de alinhar os globos oculares e assim diminuir os efeitos da diplopia. Ocorre em 90% dos casos de lesão do IV nervo (Mansour, Reinecke, 1986). Em conformidade com o achado de Burger et al (1970), o IV nervo em raras ocasiões é lesado isoladamente. Dos três pacientes com lesão traumática de nervo troclear, apenas um teve lesão única do nervo. Embora Cantillo (1978) relate caso de paralisia do músculo obliquo superior direito com evidência de fratura de assoalho orbitário contralateral, não foi encontrada nesta pesquisa tal associação. A maior parte destas lesões está associada ao traumatismo frontal e orbitário, quando lesão conjunta do nervo óptico e do quiasma óptico também podem aparecer, além de rinorreia e fístula carotidocavernosa (Keane, Baloh, 1996). Em acordo com os achados dos referidos autores, relatamos a presença de um caso com fratura frontal e outro com fratura de teto orbitário. O IV nervo é o único nervo craniano que possui a totalidade de suas fibras cruzadas logo após emergir do mesencéfalo. O véu medular superior é o local da decussação do IV nervo e neste ponto sua estrutura é extremamente fina e facilmente deslocada do mesencéfalo. Assim, traumatismo na região frontal causa transmissão das linhas de força que o lesa na saída no véu medular superior e lesões bilaterais do IV nervo são atribuídas à lesão do véu medular superior propriamente dito. Concordamos com Keane, Baloh (1996), uma vez que observamos predomínio destas lesões na ausência lesões intracranianas decorrentes de mecanismos com transmissão de alta energia cinética. Por este motivo, a maioria dos pacientes tem o nível de consciência preservado ou discretamente alterado, possibilitando assim o diagnóstico precoce da lesão do nervo. Na série de Rush, Younge (1981) o abducente foi o nervo do complexo oculomotor mais frequentemente acometido (7%) pelo traumatismo craniano, seguido Discussão 122 pelo troclear (5,5%) e oculomotor (4,7%). Nas lesões múltiplas, o complexo motor ocular como um todo foi lesado em 1,3% dos casos; os III e IV nervos e os III e VI nervos foram lesados em 0,6% dos casos. Da mesma forma que Rucker (1958), este autor não detectou lesão conjunta do troclear com o abducente. É difícil diagnosticar a lesão do IV nervo na presença de lesão do III nervo pelo pequeno incremento do déficit depressor (m. oblíquo superior) não poder ser distinguido da paralisia depressora que resulta da fraqueza do m. reto inferior (inervado pelo III nervo). Se não houver intorsão do globo ocular na mirada inferior, suspeita-se de lesão conjunta com o IV nervo. O presente estudo demonstra que a associação de lesões traumáticas de nervos que compõem o complexo motor ocular foi liderada pela associação III e VI, seguida pela associação III/IV/VI e III/IV. Não houve associação de lesão entre os nervos IV e VI. 5.3.3. Nervo abducente (VI) Nem todas as lesões do abducente resultam de fraturas. O nervo pode ser contundido, tracionado ou lacerado no momento do traumatismo. A laceração ou a rotura do nervo são raras e ocorrem quando a fratura envolve a pirâmide petrosa. Dois casos de nosso estudo não demonstraram fraturas. Na casuística de Patel et al (2005), a lesão do VI nervo ocorreu em 3,02% dos casos, que na maior parte dos casos ocorreu em associação com lesão de outros nervos cranianos, o que está de acordo com nossos achados (sete casos com envolvimento múltiplo de nervos cranianos). Storey, Love (1949) descrevem caso de lesão traumática do nervo abducente associada à lesão do nervo facial, com recuperação espontânea. Nenhum de nossos casos apresentou tal associação exclusiva. Hughes (1964) afirma que o abducente é o nervo do complexo motor ocular que mais frequentemente é lesado em traumatismos de crânio, seguido pelo oculomotor, além de ser frequente a presença de fraturas da porção petrosa do temporal, paralisia facial e surdez. Nosso estudo está em desacordo com o autor, pois enconDiscussão 123 tramos 22 lesões traumáticas de nervo oculomotor, 10 casos de lesão traumática do abducente e três casos envolvendo o nervo troclear. Para Rucker (1958), as lesões traumáticas do VI nervo estão frequentemente associadas à presença de lesões intracranianas, pois se devem a mecanismos com transmissão de alto componente cinético. Hematomas epidurais e contusões cerebrais foram as lesões intracranianas mais frequentes na lesão traumática do VI nervo, decorrentes de acidentes motociclísticos e atropelamentos. Não constatamos qualquer tipo de lesão cervical nos pacientes portadores de lesão traumática de VI nervo, conforme descrito no estudo de Schneider, Johnson, em 1971. Da mesma forma que na lesão traumática do nervo oculomotor, a lesão traumática do nervo abducente ocorre mais frequentemente associada à lesão de outros nervos por sua proximidade anatômica no interior da órbita e seio cavernoso. 5.4. Nervo trigêmeo (V) O gânglio trigeminal está intimamente relacionado ao osso temporal. Como suas três divisões partem da fossa média, estas são adjacentes ao ápice petroso. Qualquer fratura que se estenda do temporal em direção ao clivus pode lesar o gânglio trigeminal ou qualquer de suas divisões. O nervo é particularmente vulnerável no ponto de angulação da raiz sensitiva, onde ultrapassa o forame dural em direção ao cavo de Meckel. Este forame dural localiza-se na fossa posterior inferiormente à margem da pirâmide petrosa (Jefferson, Schorstein, 1955). Apresentamos um caso com fratura temporal que se estendeu para a região mastoide. As lesões em ramos terminais do trigêmeo são mais frequentes, traduzidas por piora ou ausência de sensibilidade na distribuição do nervo. Estas lesões ocorrem em ferimentos cortocontusos do couro cabeludo ou da face. Pelo fato de receDiscussão 124 bermos pacientes com lesão traumática de trigêmeo e com preservação do nível de consciência à admissão, fizemos o diagnóstico precoce de lesão. As fraturas do ápice do petroso têm alta probabilidade de causar lesão em ramo trigeminal ou ganglionar, e, dependendo da direção do traço de fratura, podem associar-se à paralisia facial ou surdez (Jefferson, Schorstein, 1955). Raramente, fraturas parietais ou frontais levam à lesão trigeminal. Nossa casuística demonstrou que a maior parte dos pacientes apresentava fraturas cranianas supratentoriais. As lesões trigeminais ganglionares são incomumente relacionadas à fratura de base de crânio, enquanto as lesões do ramo maxilar ou ramo infraorbitário são comuns em fraturas faciais (Jefferson, Schorstein, 1955). Apontamos um caso com fratura de base de crânio. Em todos os casos, a lesão traumática do trigêmeo ocorreu de forma associada, ou seja, outros nervos foram lesados conjuntamente. Segundo os mesmos autores, a lesão traumática da raiz V2 é a mais frequentemente encontrada, o que está em desacordo com nossos achados, que evidenciaram um maior comprometimento da raiz V1. Devido a proteção imposta pelo arcabouço ósseo que envolve o gânglio trigeminal, são necessários mecanismos traumáticos de alto componente cinético para lesá-lo (Summers, Wirtschafter, 1979) tal como ocorre nos ferimentos penetrantes. Acidentes motociclísticos e ferimentos por projéteis de arma de fogo constituíram os mecanismos traumáticos mais frequentes associados a hematomas epidurais e hemorragia subaracnoide traumática nesta pesquisa. 5.5. Nervo facial (VII) O nervo facial é lesado mais frequentemente por fraturas temporais decorrentes de acidentes automobilísticos ou traumatismos penetrantes e não penetrantes (Lambert, 1984), fato constatado em nossa casuística (acidentes motociclísticos e atropelamentos). A lesão do VII nervo ocorre associadamente à fratura do temporal pela presença de cavidades e canais por onde cursa o nervo, além da frequente associação com o VIII nervo (Lambert, Brackmann, 1984). A lesão concomitante do Discussão 125 VIII nervo pode ser explicada pela proximidade anatômica na saída do tronco encefálico, trajeto intracraniano e entrada no meato acústico interno (Warren et al, 2003). Para Patel et al (2005), o nervo facial é o mais suscetível ao traumatismo craniano por sua complicada anatomia no interior do osso temporal e proximidade com a orelha interna. Em 100% dos casos evidenciou fraturas do osso temporal, sendo que as fraturas longitudinais e as lesões grau V na Escala de House-Brackmann foram as mais comumente encontradas. Nosso estudo evidenciou que a maioria dos pacientes apresentou lesões moderadas (grau III na escala de House-Brackmann) ou paralisia total (grau VI na escala de House-Brackmann). O traumatismo frontal pode resultar em fraturas da fossa craniana anterior e média, assim como do clivus levando à separação do ápice do petroso da base do crânio sem lesar a cóclea, cadeia ossicular ou tuba auditiva (Travis et al, 1977). As fraturas temporais predominaram (11 casos, sendo três longitudinais e uma transversa), seguidas pelas parietais. Em apenas dois casos não detectamos fraturas cranianas. Se o traço de fratura estende-se lateralmente para a orelha média, há surdez e paralisia facial (Lindman, 1979). Com o deslocamento do traço de fratura na direção da linha média, pode haver lesão da carótida interna com a formação de fístula carotidocavernosa. Otorreia é frequente e causada por laceração dural no teto da cavidade timpânica. A lesão do nervo é tardia e o gânglio geniculado é a região do nervo mais frequentemente afetada. Em 30% dos casos ocorre hematoma intraneural, em 30% há rotura do nervo e presença de fragmento ósseo comprimindo o nervo facial em 20% dos casos (Goodwin, 1983). O sinal de Battle pode ser visto. Dois casos de nossa casuística apresentaram otorragia (9,09%). As fístulas liquóricas podem aparecer nas fraturas longitudinais ou transversas, porém é menos aparente nas transversas. Os locais mais comuns de fístula são Discussão 126 o teto da cavidade timpânica e a mastoide (Goodwin, 1983). Relatamos a presença de fístula liquórica em cinco casos. As fraturas transversas associam-se à maior incidência de lesões concomitantes do sistema nervoso central, pois é necessária maior energia cinética para causá-las (Warren et al, 2003). Exemplos são as hemorragias intraparenquimatosas, os hematomas epidurais e as contusões em contragolpe. As lesões associadas aos hematomas epidurais e contusões por contragolpe foram as lesões intracranianas predominantes. Pelo seu trajeto mais medial, estas fraturas associam-se a menor incidência de evidências externas, como otorragia e fístula liquórica. Como a membrana timpânica é frequentemente poupada, ocorre a formação do hemotímpano, conforme descrição de Goodwin (1983). A paralisia facial tem aparecimento relativamente frequente em diferentes tipos de TCE, podendo ocorrer imediatamente após o traumatismo ou tardiamente (dias a semanas), segundo Goin (1980). Apontamos 19 casos com lesão de aparecimento imediato do VII nervo e três casos de aparecimento tardio. 5.6. Nervo vestibulococlear (VIII) A lesão do VIII nervo é comumente vista nas fraturas que envolvem a porção petrosa do osso temporal, sejam elas longitudinais ou transversas (principalmente), com lesão concomitante do VII nervo e presença de lesões intracranianas com predomínio na região temporal (Warren et al, 2003). Predominaram os atropelamentos e acidentes automobilísticos como etiologia traumática da lesão do VIII. Os hematomas epidurais e contusões cerebrais representaram as lesões intracranianas mais frequentes. Diagnosticamos oito fraturas temporais, das quais três eram petrosas longitudinais. Pode ocorrer surdez por traumatismo envolvendo a orelha média. Trata-se geralmente de traumatismo com alta energia cinética e frequentemente associa-se a fistula liquórica por laceração da dura-máter (Keane, 1976). Os atropelamentos predominaram neste estudo como causa de lesão traumática do VIII nervo. Discussão 127 A surdez ocorre pela presença de sangue ou líquor na orelha média, rotura da membrana timpânica, deslocamento da cadeia ossicular ou do músculo tensor do tímpano e lesão da tuba auditiva (Keane, 1976). A nossa casuística encontrou alteração do oitavo nervo em 24 pacientes (33,80%) representado por hipoacusia ou anacusia, dos quais três foram afetados de forma isolada e 21 de forma combinada a lesões de outros nervos cranianos. A maioria dos pacientes apresentou pontuação 14 e 15 na escala de coma de Glasgow à admissão. 5.7. Nervo acessório (XI) O presente estudo inclui paciente do gênero masculino com lesão de nervo acessório (XI) decorrente de ferimento por arma branca em região cervical, associado à lesão de plexo braquial. Trata-se de caso isolado na série de 71 casos (1,40%) de lesões de nervos cranianos, o que traduz raridade desta lesão. Discussão 128 6- CONCLUSÕES 129 Os resultados obtidos nas condições de realização do presente estudo permitem as seguintes conclusões: 1) As lesões traumáticas de nervos cranianos predominam no gênero masculino e em adulto jovem; 2) Os atropelamentos e os acidentes motociclísticos constituem o mecanismo de lesão mais frequente das lesões traumáticas de nervos cranianos; 3) A maioria dos pacientes com lesões traumáticas de nervos cranianos apresenta fraturas cranianas detectáveis à radiografia simples de crânio ou à tomografia computadorizada de crânio; 4) Os hematomas epidurais e as contusões cerebrais são as lesões intracranianas mais comuns em associação à lesão traumática de nervos cranianos; 5) Os nervos olfatório, facial e oculomotor são os nervos mais frequentemente lesados, quando se estudou o comprometimento de nervo craniano único; 6) A lesão conjunta dos nervos facial e vestibulococlear predominou no estudo, seguida pela associação olfatório e vestibulococlear; 7) A presença de fístula liquórica de origem traumática ocorre na minoria dos pacientes (12,6%) com lesão traumática de nervos cranianos, e, quando presente, exterioriza-se mais frequentemente por rinoliquorreia; 8) As lesões traumáticas de nervos cranianos predominaram no TCE leve, mesmo em mecanismo de lesão com alta transmissão de alta energia cinética. Conclusões 130 7- ANEXOS 131 ANEXO 1. Escala de Coma de Glasgow (ECGl)* ABERTURA OCULAR RESPOSTA MOTORA 1. Ausente RESPOSTA VERBAL 1. Ausente 2. Ao estímulo doloroso 1. Ausente 2. Incompreensível 2. Descerebração 3. Ao estímulo verbal 3. Inapropriado 3. Decorticação 4. Espontânea 4. Confuso 4. Retira à dor 5. Orientado 5. Localiza dor 6. Obedece (*) Teasdale, Jennett, 1974. ANEXO 2. Escala de House-Brackmann GRAU GERAL REPOUSO MOVIMENTO I - Normal Sem anormalidades Fraqueza à inspeção próxima. Pode haver sincinesia Sem anormalidades Simetria e tônus normais Sem anormalidades Diferença óbvia, mas não desfigurante entre os dois lados. Sincinesia ou espasmo hemifacial notáveis, mas não graves Fraqueza óbvia e/ou assimetria desfigurante Simetria e tônus normais Testa: movimento moderado a leve Olho: fechamento completo com esforço Boca: levemente fraca com máximo esforço Simetria e tônus normais Testa: nenhum movimento Olho: fechamento incompleto Boca: assimetria com o máximo esforço V – Disfunção grave Apenas uma movimentação discretamente perceptível Assimetria Testa: nenhum movimento Olho: fechamento incompleto Boca: movimento discreto VI – Paralisia total Sem movimentação Assimetria Nenhum movimento em testa, olho e boca II –Disfunção leve III- Disfunção moderada IV – Disfunção moderada a grave Testa: função boa a moderada Olho: fechamento completo com mínimo esforço Boca: leve assimetria Anexos 132 ANEXO 3. Comparação entre fratura longitudinal e transversa TIPO DE FRA- FRATURA LONGITUDINAL FRATURA TRANSVERSA Frequência 70 a 80% Local do trauma Temporal ou parietal Orientação da linha de fratura Paralela ao longo eixo do petroso 10% a 30% Frontal, occipital, parietal ou mastoide Perpendicular ao longo eixo do petroso Extensão do traço de fratura A fratura anterior estende-se da escama temporal, teto da cavidade timpânica e porção anterior da cápsula ótica para terminar na fossa craniana média. A fratura posterior iniciase no parietal e estende-se às células mastoides ao canal auditivo externo, teto da cavidade timpânica e porção anterior da cápsula ótica para terminar na fossa craniana média Inicia-se no forame magno e estende-se perpendicularmente ao eixo longitudinal do osso temporal, fraturando a cápsula ótica e terminando na fossa craniana média Lacerada Intacta Condutiva (rotura da cadeia ossicular) Neurossensorial (lesão da cóclea e aparelho vestibular) Presente (tonturas e vertigens, por rotura dos componentes vestibulares e cocleares) Hemotímpano (membrana timpânica íntegra) Imediata em 40 a 50% por avulsão ou compressão do nervo por fragmento ósseo Gânglio geniculado (segmento timpânico) ou intracanal TURA Membrana timpânica Perda auditiva Trauma vestibular Ausente Lesão auricular Otorreia (laceração dural no teto da cavidade timpânica) Paralisia facial Tardia em 10 a 20% Local de lesão do facial Gânglio geniculado (segmento horizontal por hematoma intraneural) Sinal de Battle Paralisia facial Recuperação Presente (sangramento ao longo da a. auricular posterior ou vv. emissárias do seio sigmoide) Presente Temporária Completa Definitiva Requer cirurgia Anexos 133 ANEXO 4. Dados dos pacientes 15 11 12 13 14 10 6 7 8 9 5 N 1 2 3 4 MBSS ROSX SSM JVSS PFAJ MCQR SABMF RN RAS DR SCS CJC ESS SPL TRC MWG Nome EDCA MCF MVG SSF 43 42 15 33 59 36 38 25 46 40 38 28 20 35 13 26 52 19 38 37 54 35 28 39 36 32 36 Idade 48 42 24 47 M Queda pp altura M M M F M M F F M M M M M M F M F M M F M F M M F M M M F M Gên F M M M Atropelamento Acid Auto Atropelamento Queda pp altura Agressão física Atropelamento FAB Atropelamento Acid Auto Queda altura Atropelamento Queda altura Atropelamento Atropelamento Acid Moto FAF FAB Agressão física Atropelamento Atropelamento Desconhecido Acid Moto Queda bicicleta Acid Auto Acid Moto Mec.trauma Queda pp altura Queda pp altura Acid Moto Agressão física Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Nasal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Nasal Ausente Ausente Ausente Queda bicicleta Ausente Acid Moto Otoliquorréia Atropelamento Ausente Acid Auto Ausente Atropelamento Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Nasal Ausente Ausente Nasal Fístula liq Ausente Ausente Ausente Ausente Inconsciente Consciente Consciente Comatoso Sonolento Consciente Inconsciente Confuso Sonolento Consciente Consciente Comatoso Comatoso Inconsciente Inconsciente Consciente Comatoso Comatoso Sonolento Sonolento Sonolento Consciente Inconsciente Inconsciente Sonolento Sonolento Inconsciente Inconsciente Sonolento Consciente Consciente Consciente Consciente Inconsciente Consciente Confuso Comatoso Consciente Confuso Comatoso Consciente Ex neurol entrada Comatoso Consciente Confuso Comatoso Teto órbita Facial Parietal Temporal Petrosa Longit Teto órbita/Arco zigomat/Côndilo Ausente Ausente Parietal Parietal Mastóide Ausente Côndilo Ausente Teto órbita Facial Petrosa Longit Base de crânio Teto órbita Frontal Petrosa Longit/Parietal/Mastóide Teto órbita/Assoalho órbita Temporal/Petrosa Longit Facial Frontal/Temporal/Teto órbita Temporal Frontal Petrosa Longit Parietal Teto órbita Ausente Temporal Parietal Temporal/Mastóide Ausente Frontal Ausente Petrosa Transv Temporal Ausente Base de crânio/Arco zigomat Temporal Occipital Parietal Teto órbita Fx/Afund Ausente Occipital Temporal Temporal Contusão Inchaço Ausente Ausente HSDA Ausente Contusão Contusão HSAT HSDA Ausente Contusão Inchaço HSAT/Contusão/Inchaço Ausente HIP HSDA Contusão HSAT HSAT Contusão Inchaço Ausente Contusão HSAT/Contusão/Pneumocr Ausente HED HED HED HED Ausente Contusão HSDA HED HSAT Ausente HSAT Ausente HSDA Contusão Inchaço HIP HED Contusão Contusão HED LIC 1 HED HED HED HED Temporal D Holocraniana Não aplicável Não aplicável Parietal E Não aplicável Frontal D Frontal E Holocraniana Temporal E Não aplicável Temporal E Temporal D Frontal bilat Não aplicável Frontal E Parietal D/Parietal E Frontal E Holocraniana Ponte Frontal D Holocraniana Não aplicável Frontal E Temporal E Não aplicável Parietal E/Occipital E Parietal D Temporal E Parietal D Não aplicável Ponte Temporal E Parietal D Temporal D Não aplicável Frontal D Não aplicável Frontal D Parietal E Holocraniana Temporal D Temporal E Frontal bilat Parietal E Frontal E Local 1 Temporal E Frontal D Temporal E Temporal E Ausente Pneumocr Ausente Ausente HSAT Ausente Ausente Ausente LAD Inchaço Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Contusão Ausente Ausente Contusão Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Contusão Ausente Ausente Ausente Contusão Inchaço Pneumocr Ausente Ausente Ausente Contusão Ausente Ausente Ausente Pneumocr HSDA Ausente Pneumocr LIC 2 HED HED Ausente Ausente Não aplicável Holocraniana Não aplicável Não aplicável Parietal E Não aplicável Não aplicável Não aplicável Mesencéfalo Holocraniana Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Frontal bilat Não aplicável Não aplicável Parietal E Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Temporal D Não aplicável Não aplicável Não aplicável Temporal E Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Temporal E Não aplicável Não aplicável Não aplicável Frontal E Temporal E Não aplicável Frontal E Local 2 Parietal E Fossa posterior Não aplicável Não aplicável 15 4 15 12 6 13 15 15 3 11 14 7 11 13 15 14 3 3 13 10 15 5 3 12 12 14 14 6 9 13 13 9 7 13 14 15 15 15 4 15 14 3 14 14 3 15 ECGl 3 15 14 7 Normal Normal Hipo Normal Normal Normal Ano bilat Normal Normal Ano bilat Ano bilat 13F Hipo Ano bilat Ano D Normal Normal Normal Normal Ano bilat Normal Normal Normal Normal Ano bilat Ano bilat Ano bilat Normal Normal Hipo Normal Normal Normal Normal Ano E Normal Hipo Normal Normal Normal Normal Normal Normal Ano bilat Normal Hipo Anosmia Normal Ano E Normal Normal Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Com alts Sem alts Com alts Sem alts Sem alts Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Com alts Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Com alts Sem alts Sem alts Com alts Ac visual Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Normal Normal Normal Normal Normal Normal Anormal Anormal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Anormal Anormal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Anormal Normal Normal Normal Normal Normal Anormal Normal Normal Normal Anormal Anormal Normal Normal Normal Normal RP Normal Normal Normal Normal PIFR D>E PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR E>D PIFR PIFR PIFR D>E PIFR D>E PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR E>D PIFR D>E PIFR E>D PIFR D>E PIFR PIFR PIFR D>E D>E D>E PIFR PIFR PIFR III MOI E>D PIFR PIFR PIFR Alterada Preservada Preservada Preservada Preservada Alterada Alterada Preservada Alterada Preservada Alterada Preservada Alterada Preservada Preservada Alterada Preservada Preservada Preservada Preservada Alterada Alterada Preservada Preservada Preservada Alterado Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Alterado Preservado Alterado Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado III MOE Alterada Preservada Preservada Preservada Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado Alterada Alterada Preservada Preservada Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado Alterada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado VI Preservado Preservado Preservado Preservado V1/V2 Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada V1/V2/V3 Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada V2 Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada V1/V2/V3 Preservada Preservada Preservada Supraorbit Preservada Supraorbit V2/V3 Preservada Preservada Preservada Preservada Supraorbit/Infraorbit Preservada Preservada Infraorbit V sens Preservada Preservada Preservada Preservada I I I V II III I I III I I I I I I I I III I I I VI I V I I I I I I I I VI I VI I I III IV III I VI VI I VI I VII I I III I Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Lacrim Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Alterado Normal Normal Normal Alterado Diminuída Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Alterado Diminuída Normal Diminuída Diminuída Diminuída Diminuída Normal Acusia Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Normal Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Alterada Normal Normal Normal Alterada Normal Normal Normal Gustação Normal Normal Normal Normal N/A Imediata N/A Imediata Imediata Imediata N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A Imediata N/A N/A N/A Imediata N/A Tardia N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A N/A Imediata N/A Imediata N/A N/A Imediata Imediata Imediata N/A Imediata Imediata N/A Imediata N/A PFP Tardia N/A N/A Imediata N/A Alterada Normal Alterada Alterada Alterada Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Normal Normal Alterada Normal Normal Alterada Normal Normal Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Alterada Normal Alterada Normal Ac. auditiva Normal Normal Alterada Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Alterado Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Alterado Normal Alterado Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Equilíbrio Normal Normal Normal Alterado Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Presente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Nistagmo Ausente Ausente Ausente Ausente IV Preservado Preservado Preservado Preservado 16 17 18 19 LFPN EVS SJG AFA 46 72 Atropelamento Queda altura Acid Moto Queda altura Ausente Ausente Ausente Ausente Assoalho órbita 61 62 63 64 60 56 57 58 59 55 51 52 53 54 50 46 47 48 49 45 41 42 43 44 40 36 37 38 39 35 31 32 33 34 30 26 27 28 29 25 21 22 23 24 DASJ JES JVJ IS MNS BCTM FLGS LFTN CAB PM MCM KCSPF JCB GCC HNR LAG JJC FRNG OOA FAN PS PRP EP CAA AJV MM BMS LESP JAS EFT ASA APR MGS MGR AG VLA AOM VSM AASF GSA IFJ AF GMS FS 45 16 27 33 25 45 48 21 18 29 54 24 32 25 62 37 46 16 48 30 32 26 14 30 38 18 53 33 17 18 42 42 52 47 17 F M M M M M M F M M M F M M M M M M M M M M F M M F M M M M M Acid Moto Acid Auto Acid Moto FAF Atropelamento Atropelamento Atropelamento Queda altura Agressão física Atropelamento Queda altura Acid Moto Queda altura Queda altura Atropelamento FAF M Queda pp altura M F M M Acid Moto Agressão física Acid Auto FAB Queda pp altura FAF Acid Auto Acid Moto Atropelamento Ausente Nasal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Nasal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Confuso Consciente Confuso Comatoso Consciente Consciente Inconsciente Consciente Comatoso Comatoso Confuso Consciente Comatoso Comatoso Consciente Comatoso Sonolento Inconsciente Consciente Consciente Consciente Mastóide Frontal/Mandíbula Ausente Ausente Ausente Frontal Petrosa Longit Temporal Temporal Frontal/Teto órbita Mastóide Ausente Temporal/Parietal Temporal Ausente Ausente Occipital 7Q Temporal/Occipital Ausente Mastóide Contusão Ausente Contusão Contusão Ausente Ausente HSAT HED HED Contusão Contusão Contusão HED/HSAT Inchaço Ausente HSDA HED HED HED HED HED Temporal D Não aplicável Frontal E Parietal D Não aplicável Não aplicável Occipital E Temporal D Temporal D Frontal E Frontal E Frontal bilat Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente HSAT Ausente Ausente Ausente HSAT Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Temporal E Não aplicável Não aplicável Não aplicável Parietal E 14 15 14 3 15 15 3 15 6 3 14 Ano bilat Hipo Hipo Normal Normal Ano E Normal Normal Normal Ano bilat Normal Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Sem alts Com alts Sem alts Anormal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Anormal Normal D>E PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR D>E PIFR Preservada Alterada Alterada Alterada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Supraorbit Preservada I II I I I I IV II I I I Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Alterada Normal Normal Normal N/A Imediata N/A N/A N/A N/A Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Atropelamento Occipital E Temporal D Temporal D Frontal D Temporal E Ausente Ausente Contusão Ausente Ausente Não aplicável Não aplicável Frontal bilat Não aplicável Não aplicável 14 12 15 15 15 Ano bilat Hipo Ano bilat Normal Normal Com alts Sem alts Sem alts Sem alts Sem alts Normal Normal Normal Normal Normal PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR PIFR Preservada Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservado Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Preservada Supraorbit Preservada Preservada Preservada I I IV I I I I I IV III Normal Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Diminuída Normal Diminuída Normal Diminuída Normal Normal Normal Normal Normal Alterada Normal Alterada Normal Alterada N/A N/A Imediata N/A N/A N/A N/A N/A Tardia Imediata Normal Alterada Normal Normal Alterada Alterada Normal Alterada Normal Alterada Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Normal Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Ausente Normal Ausente Normal Normal Normal Anormal Normal Normal Normal Normal Sem alts Sem alts Sem alts Com alts Normal Sem alts Alterada Normal Normal Alterada Hipo Alterada Hipo Normal Normal Ano bilat Imediata N/A N/A N/A 3 3 15 3 Imediata 15 Normal Normal Normal Normal Não aplicável Não aplicável Não aplicável Não aplicável Normal Não aplicável Normal Normal Normal Normal Ausente Alterado Frontal E/Temporal E HSAT Holocraniana LAD Não aplicável Ausente Frontal E/Temporal E Ausente Preservado Preservado Preservado Preservado 65 JSF VRS Preservado Alterado Preservado Alterado Preservado Preservado Preservado Preservado 20 VMS 80 Agressão física Ausente Consciente Inconsciente Consciente Confuso Inconsciente 66 67 68 69 Atropelamento Ausente Acid Auto Nasal Agressão física Ausente Acid Moto Otoliquorréia 71 70 Anexos 134 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 135 Adegbite AB, Khan MI, Tan L. Predicting recovery of facial nerve function following injury from a basilar skull fracture. J Neurosurg. 1991; 75:759-62. Adkins WY, Osguthorpe JD. Management of trauma of the facial nerve. Otolaryngol Clin North Am. 1991; 24:587-611. Adour KK, Boyajian JA, Khan ZM, Schneider GS. Surgical and nonsurgical management of facial paralysis following closed head injury. Laryngoscope. 1977; 87:380-90. Aguilar EA 3rd, Yeakley JW, Ghorayeb BY, Hauser M, Cabrera J, Jahrsdoerfer RA. High resolution CT scan of temporal bone fractures: association of facial nerve paralysis with temporal bone fractures. Head Neck Surg. 1987; 9:162-6. Anderson DL, Lloyd LA. Traumatic lesions of the optic chiasma: a report of four cases. Can Med Assoc J. 1964; 90:110-5. Anderson PA, Montesano PX. Morphology and treatment of occipital condyle fractures. Spine. 1988; 13:731-6. Araújo JLV, Saade N, Veiga JCE, Aguiar UP, Todeschini AB. Análise epidemiológica de 210 casos de hematoma epidural traumático tratados cirurgicamente. Rev Col Bras Cir. 2012; 39(4):268-71 Arias MJ. Bilateral traumatic abducens palsy without skull fracture and with cervical spine fracture: case report and review of the literature. Neurosurgery. 1985;16:232-4. Berry H, MacDonald EA, Mrazek AC. Acessory nerve palsy: a review of 23 cases. Can J Neurol Sci. 1991; 18:337-41. Bhatoe CHS. Trauma to the cranial nerves. Ind J Neurotrauma. 2007; 4:89-100. Bolender NB, Cromwell LD, Wendling L. Fracture of the occipital condyle. AJR Am J Roentgenol. 1978; 131:729-31. Burger LJ, Kalvin NH, Smith JL. Acquired lesions of the fourth cranial nerve. Brain. 1970; 93:567-74. Cannon C, Jahrsdoerfer R. Temporal bone fractures. Arch Otolaryngol. 1983; 109:285-8. Cantillo N. A case of superior oblique palsy in an orbitaria floor fracture. Am Orthopt J. 1978; 28:124-6 Cawthorne T. Facial palsy. Br Med J. 1956; 2:1197-200. Chapman LI, Urist MJ, Folk ER, Miller MT. Acquired bilateral superior oblique muscle palsy. Arch Ophthalmol. 1970; 84:137-42. Clark EC, Dodge, HW. Effect of anosmia on the appreciation of flavor. Neurology. 1955a; 5:671-4. Referências Bibliográficas 136 Clark EC, Dodge, HW. Extraolfactory components of flavor. J Am Med Assoc. 1955b; 159:1721-3. Cohen IK, Schechter PJ, Henkin RI. Hypogeusia, anorexia, and altered zinc metabolism following thermal burn. JAMA. 1973; 223:914-6. Coker NJ, Kendall KA, Jenkins HA, Alford BR. Traumatic intratemporal facial nerve injury: management rationale for preservation of function. Otolaryngol Head Neck Surg. 1987; 97:262-9. Coker NJ. Management of traumatic injuries to the facial nerve. Otolaryngol Clin North Am. 1991; 24: 215-27. Collet FJ. Sur un noveau syndrome paralytique pharyngo-larynge par blessure de guerre. (Hémiplégie glasso-laryngo-scapulo-pharyngée). Lyon Med. 1915;124:121-9. Crompton MR. Visual lesions in closed head injury. Brain. 1970; 93:785-92. Daniels DL, Williams IL, Haughton VM. The jugular foramen: anatomic and computed tomographic study. AJR Am J Roentegnol. 1984; 142:153-8. De Villiers JC. Fracture-dislocation of the petrous temporal bone. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1971; 34:105-6. De Vries-Knoppert WAEJ. Avulsion of the optic nerves. Doc Ophthalmol. 1989; 72:241-5. Duke-Elder WS. Textbook of ophthalmology. St. Louis: CV Mosby; 1949. v.4. Duke-Elder S. System of ophthalmology. St Louis: CV; Mosby; 1972. Duncan NO, Coker NJ, Jenkins HA, Canalis RF. Gunshot injuries of the temporal bone. Otolaryngol Head Neck Surg. 1986; 94: 47-55. Eby T, Pollak A, Fisch U. Histopathology of the facial nerve after longitudinal temporal bone fracture. Laryngoscope. 1988;98:717-20. Elston JS.Traumatic third nerve palsy. Br J Ophthalmol. 1984; 68, 538-43. François J, Neetens A, Collette JM. Vascularization of the primary optic pathways. Br J Ophthalmol. 1958; 42:65-80. Freiwald MJ. Penetrating wound of the orbit: a 31-year follow-up. Br J Ophthalmol. 1977; 61:544-6. Ghorayeb BY, Yeakley JW, Hall JW, Jones BE. Unusual complications of temporal bone fractures. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. 1987; 113:749-5. Referências Bibliográficas 137 Goin DW. Facial nerve paralysis secondary to mandibular fracture. Laryngoscope. 1980; 90:1777-85. Goland, P. Olfactometry in cases of acute head injury. Arch Surg. 1937; 35:1173-82. Goodwin WJ. Temporal bone fractures. Otolaryngol Clin North Am. 1983; 16:651-9. Green WR, Hackett ER, Schlezinger NS. Neuro-ophthalmologic evaluation of oculomotor nerve paralysis. Arch Ophthalmol. 1964; 72:154-67. Griffith IP. Abnormalities of smell and taste. Practitioner. 1976; 217: 907-13. Griffiths MV. The incidence of auditory and vestibular concussion following minor head injury. J Laryngol Otol. 1979; 93: 253-65. Grobman L, Pollak A, Fisch U. Entrapment injury of the facial nerve resulting in fracture of the temporal bone. Otolaryngol Head Neck Surg. 1989; 101:404-8. Gross CE, DeKock JR, Panje WR, Hershkowitz N, Newman J. Evidence for orbitária deformity that may contribute to monocular blindness following minor head trauma. J Neurosurg. 1981; 55: 963-6. Haberkramp TJ, Harvey AS, Daniels DL. The use of gadolinium-enhanced MRI to determine lesion site in traumatic facial paralysis. Laryngoscope. 1990; 100:1294300. Hagan PJ. Posttraumatic anosmia. Arch Otolaryngol.1967; 85:85-9. Hagan WE, Tabb HG, Cox RH, Travis LW. Gunshot injury to the temporal bone: an analysis of 35 cases. Laryngoscope. 1979; 89:1258-72. Harker LA, McCabe BF. Temporal bone fractures and facial nerve injury. Otolaryngol Clin North Am. 1974; 7:425-31. Hasegawa S, Yamagishi M, Nakano Y. Microscopic studies of human olfactory epithelia following traumatic anosmia. Arch Otorhinolaryngol. 1986; 243:112-6. Hashimoto T, Watanabe O, Takase M, Koniyama J, Kobota M. Collet-Sicard syndrome after minor head injury. Neurosurgery. 1988; 23: 367-70. Hasso A, Ledington J. Traumatic injuries of the temporal bone. Otolaryngol Clin North Am. 1988; 21:295-316. Hedges TR, Gragouda ES. Traumatic anterior ischemic optic neuropathy. Ann Ophthalmol. 1981; 13: 625-8. Heinze J. Cranial nerve avulsion and other neural injuries in road accidents. Med J Aust. 1969; 2:1246-9. Referências Bibliográficas 138 Hughes B. Blood supply of the optic nerves and chiasm and its clinical significance. Br J Ophthal. 1958; 42:106-25. Hughes B. The results of injury to special parts of the brain and skull: the cranial nerves. In: Rowbotham GF (ed). Acute injuries of the head. 4 th ed, Baltimore: Williams & Wilkins; 1964. p. 408-33 Jackson FE, Magi M. Traumatic dislocation of the incus associated with basilar skull fracture. J Neurosurg. 1966; 24:570-2. Jafek BW, Eller PM, Esses BA, Moran DT. Posttraumatic anosmia. Ultrastructural correlates. Arch Neurol. 1989; 46:300-4. Jefferson G, Schorstein J. Injuries of the trigeminal nerve, its ganglion and its divisions. Br J Surg. 1955; 42: 561-81. Kamerer DB. Intratemporal facial nerve injuries. Otolaryngol Head Neck Surg. 1982; 90:612-5. Keane JR. Bilateral sixth nerve palsy: analysis of 125 cases. Arch Neurol. 1976; 33:681-3. Keane JR, Baloh RW. Post-traumatic neuropathies. In: Evans RW (ed). The Neurology of trauma. Philadelphia: W B Saunders; 1996. p. 117-32. Khawam E, Scott AB, Jampolsky A. Acquired superior oblique palsy. Arch Ophthalmol. 1967; 77:761-8. Kline LB, Morawetz RB, Swaid SN. Indirect injury of the optic nerve. Neurosurgery. 1984; 14:756-64. Lambert PR, Brackmann DE. Facial paralysis in longitudinal temporal bone fractures: a review of 26 cases. Laryngoscope. 1984; 94:1022-6. Lee J, Flynn JT. Bilateral superior oblique palsies. Br J Ophthalmol. 1985; 69:508-13. Leigh AD. Defects of smell after head injury. Lancet. 1943; 244:38-40. Lepore EF. Disorders of ocular motility following head trauma. Arch Neurol. 1995; 52:924-6. Lessell S. Indirect optic nerve trauma. Arch Ophthalmol. 1989; 107:382-6. Lewin HS, High WM, Eisenerg HM. Impairment of olfactory recognition after closed head injury. Brain. 1985; 108:579-91. Lewin W. Cerebrospinal fluid rhinorrhea in closed head injuries. Br J Surg. 1954; 42:1-18. Referências Bibliográficas 139 Lin C, Dong Y, Lv L, Yu M, Hou L. Clinical features and functional recovery of traumatic isolated oculomotor nerve palsy in mild head injury with sphenoid fracture. J Neurosurg. 2013;118:364-9. Lindeman RC. Temporal bone trauma and facial paralysis. Otolaryngol Clin North Am. 1979; 12:403-13. Lindenburg R. Significance of the tentorium in head injuries from blunt forces. Clin Neurosurg. 1975; 12:129-42. Logan WC, Gordon D. Traumatic lesions of the optic chiasma. Br J Ophthalmol. 1967; 51:258-60. Louw GJ. Traumatic bisection of the optic chiasma. Afr Med J. 1954; 28:971-5. Lyle TK. Displacement of the orbitaria floor and traumatic diplopia. Br J Ophthalmol. 1961;45: 341-57. Mansour AM, Reinecke RD. Central trochlear nerve palsy. Surv Ophthalmol. 1986; 30:279-97. McCabe BF. Injuries to the facial nerve. Laryngoscope. 1973; 82: 1891-6. McGovern FH. Facial nerve injuries in skull fractures. Arch Otolaryngol. 1968; 88:536-42. McKennan KX, Chole RA. Facial paralysis in temporal bone trauma. Am J Otol. 1992; 13:167-72. Memon MY, Paine KWE. Direct injury of the oculomotor nerve in craniocerebral trauma. J Neurosurg. 1971; 35: 461-4. Miehlke A. Typical sites of facial nerve lesions. Arch Otolaryngol. 1969; 89:122-6. Milford ML, Loizeaux AD. Facial paralysis secondary to mandibular fracture: report of case. J Oral Surg. 1972; 30:605-7. Miller NR. Solitary oculomotor nerve palsy in childhood. Am J Ophthalmol. 1977; 83:106-11. Mohanty SK, Barrios M, Fishbone H, Khatib R. Irreversible injury of the cranial nerves 9 through 12 (Collet-Sicard syndrome). J Neurosurg. 1973; 38:86-8. Olarte M, Adams D. Accessory nerve palsy. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1977; 40:1113-6. Osterberg G. Traumatic bitemporal hemianoapsia (sagittal tearing of the optic chiasm). Acta Ophthalmol (Copenh). 1938; 16:466-74. Parks MM. Isolated cyclovertical muscle palsy. AMA Arch Ophthalmol. 1958; 60:1027-35. Referências Bibliográficas 140 Paskind HA. Parosmia in tumorous involvement of olfactory bulbs and nerves. Arch Neurol Psychiatry (Chic.). 1935; 33:835-8. Patel P, Kalyanaraman S, Reginald J, Natarajan P, Ganapathy K, Suresh Bapu KR, et al Post-traumatic cranial nerve injury. Indian J Neurotrauma. 2005; 2:27-32. Ramsay JH. Optic nerve injury in fracture of the canal. Br J Opthalmol. 1979; 63:9, 607-10. Robertson JC, Todd GB, Lobb M. Bilateral vocal cord paralysis due to whiplash injury. Br Med J. 1984; 288:1876. Robson FC, Dawes JKK. Delayed facial paralysis of lower motor neuron type following head injury. J Laryngol Otol. 1960; 74:275-89. Rodger FC. Unilateral involvement of the optic nerve in head injuries. Br J Ophthalmol. 1943; 27:23-33. Rucker CW. Paralysis of the third, fourth and sixth cranial nerves. Am J Ophthalmol. 1958; 46:787-94. Rucker CW. The cause of paralysis of the third, fourth and sixth cranial nerves. Am J Ophthalmol. 1966; 61:1293-8. Rush JA, Younge BR. Paralysis of cranial nerve III, IV and VI: cause and prognosis in 1000 cases. Arch Ophthalmol. 1981; 99:76-80. Russell WR, Schiller F. Crushing injuries to the skull: clinical and experimental observations. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1949; 12:52-60. Salzmann M. Die Ausreissung des Sehnerven (Evulsio nervi optici). Zeitschr für Augenh. 1903; 9:489-505. Samborn GE, Gonder JR, Goldberg RE, Benson WE, Kessler S. Evulsion of the optic nerve: a clinicopathological study. Can J Ophthalmol. 1984; 19:10-6. Savino PJ, Glaser JS, Schatz NJ. Traumatic chiasmal syndrome. Neurology. 1980; 30:963-70. Schechter PJ, Henkin RI. Abnormalities of taste and smell after head trauma. J Neurol Neurosurg Psychiatry. 1974; 37: 802-10. Schneider RC, Johnson FD. Bilateral traumatic abducens palsy: a mechanism of injury suggested by the study of associated cervical spine fractures. J Neurosurg. 1971; 34:33-7. Schubiger O, Valavanis A, Stuckmann G, Antonucci F. Temporal bone fractures and their complications, examination with high resolution CT. Neuroradiology. 1986; 28:93-9. Referências Bibliográficas 141 Schunknecht HF, Neff WD, Perlman HB. An experimental study of auditory damage following blows to the head. Ann Otol Rhinol Laryngol. 1951;60:273-89. Schurr PH. Aberrations of the sense of smell in head injury and cerebral tumors. Proc R Soc Med. 1975; 68:24-6. Sicard JA. Syndrome du Carrefour condylodéchiré postérieur (type pur paralysie laryngée associée). Marseille Med. 1917; 53:383. Simoncelli C, Altissimi G, Freguelli A, Serafini G. Post-traumatic paralytic syndromes of the jugular and condylar foramina. Rev Laryngol Otol Rhinol (Bord). 1989; 110: 115-8. Singh SP, Adeloye A. Hearing loss in missile head injuries. J Laryngol Otol. 1971; 85:1183-7. Stephenson S. Eye symptoms of fractured base of the skull. Br J Opthalmol. 1919; 3:505-9. Storey WE, Love WG. Traumatic bilateral abducent and facial paralysis with good restoration of function. A case report. J Neurosurg. 1949; 6: 539-42. Summers CG, Wirtschafter JD. Bilateral trigeminal and abducens neuropathies following low velocity, crushing head injury. J Neurosurg. 1979; 50:508-11. Sumner D. Posttraumatic anosmia. Brain. 1964a; 87:107-20. Sumner D. Posttraumatic ageusia. Brain. 1964b; 87:187-202. Sumner D. Disturbance of senses of smell and taste after head injuries. In: Vinken PJ, Bruyn BW, editors. Handbook of clinical neurology. Amsterdam: Elsevier; 1976. p. 1-25. Swann KW, Heros RC. Acessory nerve palsy following carotid endarterectomy. J Neurosurg. 1985, 63:630-2. Sydnor CF, Seaber JH, Buckley EG. Traumatic superior oblique palsies. Ophthalmology. 1982; 89:134-8. Takagi H, Miyasaka Y, Kuramae T, Ohwada T, Tsunoda M. Bilateral traumatic abducens nerve palsy without skull fractures or intracranial hematoma: a report of 3 cases and consideration of the mechanism of injury. No Shinkei Geka. 1976;4:963-9. Teasdale G, Jennett B. Assessment of coma and impaired consciousness. A practical scale. Lancet. 1974; 2:81-4. Traquair HM, Dott NM, Rissell WR. Traumatic lesions of the optic chiasma. Brain. 1935; 58:398-411. Referências Bibliográficas 142 Travis LW, Stalnaker RL, Melvin JW. Impact trauma of the human temporal bone. J Trauma. 1977; 17:761-6. Tuli S, Tator CH, Fehlings MG, Mackay M. Occipital condyle fractures. Neurosurgery. 1997; 41:368-77. Turner JWA. Indirect injuries of the optic nerve. Brain. 1943; 66:140-51. Turner JWA. Facial paralysis in closed head injuries. Lancet. 1944:756-7. Vernet M. The classification of the syndromes of associated laryngeal paralysis. J Laryngol Rhinol Otol. 1918; 33: 354-65. Walsh FB. Third nerve regeneration: a clinical evaluation. Br J Ophthalmol. 1957; 41: 577-98. Walsh FB, Lindenberg R. Die Veränderungen des Sehnerven bei Indirekten Trauma. In: Entwicklung und Fortschritt in der Augenheilkunde. Stuttgart: Ferdinand Enke; 1963. Warren WL, Bellotte JB, Wilberger JE. Diagnosis and management of seventh and eight cranial nerve injuries due to temporal bone fractures. In: Winn D, Marshall L (eds). Youmans neurological surgery. 5th ed. Philadelphia: W.B. Saunders; 2003. p.5273-83. Wright TA. Accessory spinal nerve injury. Clin Orthop Relat Res. 1975; 108:16-8. Wuest FC. Bitemporal hemianopsia following a traumatic lesion of the optic chiasma. Arch Ophthalmol. 1960; 63:721-3. Wyllie AM, McLeod D, Cullen JF. Traumatic ischemic optic neuropathy. Br J Ophthalmol. 1972; 56: 851-3. Yanagihara N, Murakami S, Nishihara S. Temporal bone fractures including facial nerve paralysis: a new classification and its clinical significance. Ear Nose Throat J. 1997; 76: 64-71. Younge BR, Sutula F. Analysis of trochlear nerve palsy: diagnosis, etiology and treatment. Mayo Clin Proc. 1977; 52:11-8. Zusho H. Post-traumatic anosmia. Arch Otolaryngol. 1982; 108:90-2. Referências Bibliográficas 143 FONTES CONSULTADAS 144 Esta Tese está de acordo com as seguintes normas em vigor no momento desta publicação: Normalização para apresentação de Dissertação e Teses da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Referências: adaptado de International Comittee of Medical Journals Editors (método Vancouver). No texto e nas legendas das ilustrações foram utilizadas, em sua maior parte, os dísticos de acordo com a Terminologia Anatômica adotada pela Comissão de Nomenclatura da Sociedade Brasileira de Anatomia. Ferreira ABH. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Curitiba: Editora Positivo; 2009. 2120p. Houaiss A. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. São Paulo: Editora Objetiva; 2009. Fontes Consultadas 145 RESUMO 146 Cannoni LF. Lesões traumáticas de nervos cranianos. [Tese]. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2014. 202p. Setenta e um pacientes com diagnóstico de lesão traumática de nervos cranianos foram estudados, buscando-se determinar os diferentes mecanismos de trauma, a distribuição por gênero e idade, assim como a presença de lesões cranianas (fraturas e afundamentos) e intracranianas (hematomas, contusões), a incidência de lesões isoladas e múltiplas de nervos cranianos, por meio da avaliação semiológica de cada nervo. Determinou-se também o nível de consciência do paciente à admissão no pronto-socorro, a presença de lesões traumáticas extracranianas (membros, cervicais, torácicas e abdominais) e a presença de fístula liquórica imediata ou tardia (rinoliquorreia, otoliquorreia e retrofaríngea). O gênero masculino foi mais frequentemente acometido, sendo o atropelamento a etiologia mais comum. A média de idade foi de 35,6 anos. A ausência de fraturas cranianas e a presença de hematomas epidurais predominaram. Isoladamente, o nervo olfatório (I) foi o mais comumente lesado e a lesão conjunta do nervo facial (VII) e do nervo vestibulococlear (VIII) predominou. A maioria dos pacientes apresentou discreto ou nenhum grau de comprometimento do nível de consciência ao exame físico de entrada e as lesões em membros constituíram as lesões extracranianas mais frequentes. Foram incluídos os aspectos anatômicos principais de cada nervo craniano, assim como sua relação com estruturas ósseas adjacentes. Trata-se de lesões, cujo diagnóstico é frequentemente omitido na avaliação inicial do paciente traumatizado, mas que podem representar diversos graus de morbidade. Palavras chave: lesão traumática de nervos cranianos, traumatismo cranioencefálico. Resumo 147 ABSTRACT 148 Cannoni LF. Traumatic lesions to the cranial nerves. [Thesis]. São Paulo: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; 2014. 202p. Seventy-one patients diagnosed with traumatic lesions to the cranial nerves have been studied in order to determine not only the different traumatic etiologies, but also the distribution of these lesions according to the gender and the age of the patients, the presence of cranial (fractures and depressed fractures), intracranial lesions (hematomas, contusions) and the incidence of isolated and combined lesions of the cranial nerves considering the individual semiology of each nerve. The patient’s consciousness level on admission and the presence of extracranial lesions, such as limbs, cervical, thoracic or abdominal lesions and CSF leakage (nasal, ear and pharyngeal leakages), were also determined. The male gender was more frequently affected and running over accidents constituted the major cause of lesions. The mean age was 35,6 years. The absence of cranial fractures and the occurrence of extradural hematomas were more frequently observed. As combined lesions, the facial (VII) and the vestibulocochlear (VIII) nerves were the dominant lesions, whereas the single most common one was the olfactory nerve (I). The vast majority of patients presented with mild or no alteration of the consciousness level on admission and the limb lesions represented the major number of extracranial lesions. Anatomical aspects of each cranial nerve and their relationship with the adjacent bone structures were also included. These are lesions, whose diagnosis is often omitted during the initial evaluation of the traumatized patient, and are normally related to different degrees of disability. Key words: cranial nerve injuries, traumatic brain injury Abstract 149 APÊNDICE E LISTAS 150 APÊNDICE 1 APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA Apêndice e Listas 151 APÊNDICE 2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO I - DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DA PESQUISA OU RESPONSÁVEL LEGAL 1. Nome do Paciente: ................................................................................................................................ Documento de Identidade Nº: ............................................ Gênero: M ( )Ž F ( ) Data Nascimento: .........../............./................ Endereço ..................................................................................... Nº .......... Apto: ..... Bairro: ............................................. Cidade ............................................................. CEP:.......................... Telefone: DDD (............) .......................................................... 2.Responsável Legal ..................................................................................................... Natureza (grau de parentesco, tutor, curador etc.) ..................................................... Documento de Identidade :................................... Sexo: M ( )Ž F ( )Ž Data Nascimento: .........../.........../.............. Endereço: ................................................................................... Nº .......... Apto: ..... Bairro.............................................. Cidade: .............................................................. CEP: .......................... Telefone: DDD (............)......................................................... ___________________________________________________________________ II - DADOS SOBRE A PESQUISA CIENTÍFICA 1. Título do protocolo de pesquisa: “Análise prospectiva das lesões traumáticas de nervos cranianos” 2. Pesquisador: Luiz Fernando Cannoni CRM: Nº 73786 3. Avaliação do risco da pesquisa: Sem risco (x) Risco mínimo Risco baixo Ž Risco maior Ž Risco médio Ž (probabilidade de que o indivíduo sofra algum dano como consequência imediata ou tardia do estudo) 4. Duração da pesquisa: a duração prevista é de 24 meses. III - REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DO PESQUISADOR AO PACIENTE OU SEU REPRESENTANTE LEGAL SOBRE A PESQUISA CONSIGNANDO: 1. Justificativa e os objetivos da pesquisa O senhor (a) será acompanhado (a) no Ambulatório de Neurocirurgia (Lesão de Nervos Cranianos) da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e por já apresentar lesão de nervo craniano, faremos seu acompanhamento para observação de melhoria ou estabilidade da lesão, além do aparecimento de novos sintomas. Verificaremos qual (is) nervos cranianos está(ão) lesados e proporemos medidas que visarão a recuperação funcional do (s) mesmo(s). Apêndice e Listas 152 2. Procedimentos que serão utilizados e propósitos, incluindo a identificação dos procedimentos que são experimentais. O Sr(a). será avaliado por um neurocirurgião que fará o diagnóstico inicial de lesão (ões) de um ou mais nervos cranianos (nervos localizados na cabeça e que são responsáveis pelo olfato, visão, audição, movimento dos olhos, sensibilidade e movimentação do rosto, sensibilidade e movimentação da língua, movimentação da cabeça). De posse do diagnóstico, vamos propor a melhor forma de recuperação destes nervos (se houver) com acompanhamento fisioterápico, fonoaudiológico e consultas com profissionais das áreas de Oftalmologia (lesões visuais e de movimentos dos olhos, imagens duplas) e Otorrinolaringologia (nas paralisias do rosto e nas alterações da audição). O Sr(a). terá acompanhamentos a cada 2 meses em média para se avaliar a progressão ou estabilidade da lesão, assim como aparecimento de novos sintomas. 3. Desconfortos e riscos esperados - Sem desconforto ou risco 4. Benefícios que poderão ser obtidos Buscar a melhor forma para recuperação da função do(s) nervo(s). 5. Procedimentos alternativos que possam ser vantajosos para o indivíduo Os doentes podem manter os métodos de tratamento clínico disponíveis no hospital. O senhor manterá seu tratamento e acompanhamento nas áreas de fisioterapia, neurocirurgia, oftalmologia, otorrinolaringologia e continuará acompanhamento com demais equipes médicas. IV - ESCLARECIMENTOS DADOS PELO PESQUISADOR SOBRE GARANTIAS DO SUJEITO DA PESQUISA CONSIGNANDO: 1. Acesso, a qualquer tempo, às informações sobre o exame clínico e propostas de melhoria na função dos nervos cranianos, para dirimir eventuais dúvidas. Os senhores(as) terão acesso a qualquer momento a informações sobre os benefícios de cada etapa da pesquisa, estando o pesquisador disponível para esses esclarecimentos. 2. Liberdade de retirar seu consentimento a qualquer momento e de deixar de participar do estudo, sem que isto traga prejuízo à continuidade da assistência. Todos têm o direito de sair do projeto a qualquer momento, sem qualquer ônus para os mesmos, sendo que continuarão a serem assistidos da mesma forma. 3. Salvaguarda da confidencialidade, sigilo e privacidade. Os doentes terão sigilo desta unidade e desse pesquisador. Nunca durante qualquer apresentação da pesquisa serão utilizados nomes ou qualquer outra forma que possa identificar os participantes. O sigilo será absoluto. Apêndice e Listas 153 4. Disponibilidade de assistência na Santa Casa de SP, por eventuais danos à saúde, decorrentes da pesquisa. Os doentes serão atendidos permanentemente no Ambulatório de Neurocirurgia do Hospital da Santa Casa de SP. Caso haja problemas urgentes o Pronto Socorro do Hospital irá atendê-los de onde poderão contatar com o executor desta pesquisa. Os senhores receberão uma cópia do termo de consentimento datado e assinado. ___________________________________________________________________ V. INFORMAÇÕES DE NOMES, ENDEREÇOS E TELEFONES DOS RESPONSÁVEIS PELO ACOMPANHAMENTO DA PESQUISA, PARA CONTATO EM CASO DE INTERCORRÊNCIAS CLÍNICAS E REAÇÕES ADVERSAS. Nome: Luiz Fernando Cannoni Endereço: Rua: Dr. Cesário Mota Jr., 112 Vila Buarque – São Paulo SP. Telefone: 2176 7000 - ramal 5574 __________________________________________________________________________________________ VII - CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado, consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa. São Paulo, _____ de ________________ de 2013. ___________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa ou responsável legal __________________________________ Assinatura do pesquisador (carimbo ou nome Legível) Apêndice e Listas 154 APÊNDICE 3 PROTOCOLO DE LESÃO TRAUMÁTICA DE NERVOS CRANIANOS IDENTIFICAÇÃO 1) Nome_____________________________________ Num. Protocolo _________ Endereço_________________________________________________________ Telefone: __________ Matrícula Santa Casa: _____________________ 2) Idade: _______________ RG: ________________ Profissão __________________________ Escolaridade_____________________________ 3) Gênero ( ) Fem ( ) Masc Dia da Internação:____/____/_____ Dia da Alta ____/____/____ MECANISMO DE TRAUMA A) Desconhecido ( ) B) Conhecido Acidente Automobilístico ( ) Colisão ( ) Capotamento ( ) Acidente Motociclístico ( ) Colisão ( ) Capotamento ( ) Queda da Própria Altura ( ) Queda de Altura ( ) Laje ( ) Escada ( ) Agressão Física ( ) Ferimento por Projétil de Arma de Fogo ( ) Entrada ______________ Saída__________ Ferimento por Arma Branca ( ) Entrada __________ Saída___________ Atropelamento ( ) Queda de Bicicleta ( ) Apêndice e Listas 155 FÍSTULA LIQUÓRICA Não ( ) Sim ( ) Localização: Rinoliquorreia ( ) Otoliquorreia ( ) Lado______ Retrofaríngea ( ) NÍVEL DE CONSCIÊNCIA À ADMISSÃO Consciente ( ) Inconsciente ( ) Sonolento ( ) Comatoso ( ) Confuso ( ) FRATURA DE CRÂNIO/AFUNDAMENTO DE CRÂNIO Não ( ) Sim ( ) Fratura ( ) Afundamento ( ) LOCALIZAÇÃO DA FRATURA/AFUNDAMENTO Frontal ( ) Lado:_____ Temporal ( ) Lado:______ Petrosa ( ) Lado:______ Longitudinal ( ) Parietal ( ) Lado:_______ Occipital ( ) Lado:_______ Mastóide ( ) Lado:________ Teto de Órbita ( ) Lado:_______ Arco Zigomático ( ) Lado:________ Transversa ( ) Base de Crânio ( ) Assoalho de Órbita ( ) Forame Jugular ( ) Mandíbula ( ) Fronto-Basal ( ) Fratura Facial ( ) Fratura de Côndilo Occipital ( ) Forame Jugular ( ) Apêndice e Listas 156 LESÕES INTRACRANIANAS ASSOCIADAS E LOCALIZAÇÃO Não ( ) Hematoma Epidural ( ) Hematoma Subdural Agudo ( ) Hemorragia Subaracnoidea Traumática ( ) Contusão Cerebral ( ) Hematoma Intraparenquimatoso ( ) Pneumocrânio ( ) Edema Cerebral ( ) Lesão Axonial Difusa ( ) LOCALIZAÇÃO Frontal Direito ( ) Temporal Direito ( ) Parietal Direito ( ) Occipital Direito ( ) Fossa Posterior ( ) Holocraniana ( ) Ponte ( ) Mesencéfalo ( ) Não se aplica ( ) Frontal Esquerdo ( ) Temporal Esquerdo ( ) Parietal Esquerdo ( ) Occipital Esquerdo ( ) Frontal Bilateral ( ) FÍSTULA CAROTIDOCAVERNOSA Não ( ) Sim ( ) Sopro ( ) Frêmito ( ) Proptose ( ) Lado ________________________ Quemose ( ) Dor ( ) Característica_________________ Oftalmoplegia ( ) Diplopia ( ) Perda Visual ( ) Característica_________________ TOMOGRAFIA Corte Axial ( ) Corte Coronal ( ) Órbita ( ) Apêndice e Listas 157 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA ESCALA DE COMA DE GLASGOW À ADMISSÃO 3() 4() 5() 6() 7 ( ) 8 ( ) 9 ( ) 10 ( ) 11 ( ) 12 ( ) 13 ( ) 14 ( ) 15 ( ) NERVO OLFATÓRIO (I) Normal ( ) Anosmia Unilateral Direita( ) Anosmia Unilateral Esquerda ( ) Anosmia Bilateral ( ) Hiposmia ( ) NERVO ÓPTICO (II) Acuidade Visual Campo Visual Fundo de Olho Reatividade Pupilar Hemorragia Vítrea Midríase por Lesão do Óptico Sem Alts ( ) Sem Alts ( ) Sem Alts ( ) Normal ( ) Sim ( ) Sim ( ) Com Alts ( Com Alts ( Com Alts ( Anormal ( Não ( ) Não ( ) ) ____________ ) _____________ ) _____________ ) NERVO OCULOMOTOR (III) Anisocoria D>E ( ) E>D ( ) Pupilas Isocóricas e Fotorreagentes ( ) Motricidade Ocular Extrínseca Preservada ( ) Motricidade Ocular Extrínseca Alterada ( ) _____________ NERVO TROCLEAR (IV) Motricidade Ocular Extrínseca Comprometida ( ) Não Comprometida ( ) Apêndice e Listas 158 NERVO ABDUCENTE (VI) Motricidade Ocular Extrínseca Comprometida ( ) Não Comprometida ( ) NERVO TRIGÊMEO (V) Sensibilidade Facial Musculatura Mastigatória Sem Alterações ( ) V1 ( ) V2 ( ) V3 ( ) Sem Alterações ( ) Déficit ( ) Alterações de Sensibilidade R. Supraorbitário ( )___________________ R. Infraorbitário ( )____________________ R. Alveolar Inferior ( )__________________ NERVO FACIAL (VII) Paralisia Facial Periférica Grau ____________ (vide escala abaixo) Lacrimejamento Sem Alterações ( ) Com Alterações ( ) Acusia Normal ( ) Aumentada ( ) Diminuída ( ) Lado___________ Gustação Normal ( ) Alterada ( ) Lesão Prévia Sim ( ) Não ( ) Lesão Imediata ( ) Lesão Tardia ( ) Não se aplica ( ) Sincinesias Sim ( ) Não ( ) · Grau I: Normal ( ) · Grau II: Disfunção Leve ( ) · Grau III: Disfunção Moderada ( ) · Grau IV: Disfunção Moderadamente Grave ( ) · Grau V: Disfunção Grave ( ) · Grau VI: Paralisia Total ( ) VESTIBULOCOCLEAR (VIII) Otoscopia Acuidade Auditiva Equilíbrio Nistagmo Normal ( ) Normal ( ) Normal ( ) Ausente ( ) Alterada ( ) _______________ Alterada ( ) _______________ Alterado ( ) _______________ Presente ( ) _______________ Apêndice e Listas 159 GLOSSOFARÍNGEO/VAGO/ACESSÓRIO (IX, X, XI) Disartria ( ) Disfagia ( ) Disfonia ( ) Sem Alterações ( ) Reflexo Nauseoso Preservado ( ) Alterado ( ) ______________ Alteração do M. Trapézio ( ) Normal ( ) Alteração do M. Esternocleidomastoideo ( ) Ambos os Músculos ( ) HIPOGLOSSO (XII) Disartria ( ) Desvio da Língua ( ) Normal ( ) EXAME NEUROLÓGICO NA ALTA ERGl ____________________________________________________ LESÕES ASSOCIADAS Tórax – Pulmões____________________________________________ Abdome___________________________________________________ MMSS____________________________________________________ MMII______________________________________________________ Vascular___________________________________________________ TRM ( ) Nível______________________________________ Cervical ( ) Pélvica ( ) Ausentes ( ) Apêndice e Listas 160 APÊNDICE 4 Apêndice e Listas 161 Apêndice e Listas 162 Apêndice e Listas 163 Apêndice e Listas 164 Apêndice e Listas 165 Apêndice e Listas 166 Apêndice e Listas 167 Apêndice e Listas 168 Apêndice e Listas 169 Apêndice e Listas 170 Apêndice e Listas 171 APÊNDICE 5 Apêndice e Listas 172 Apêndice e Listas 173 Apêndice e Listas 174 Apêndice e Listas 175 Apêndice e Listas 176 Apêndice e Listas 177 Apêndice e Listas 178 Apêndice e Listas 179 Apêndice e Listas 180 Apêndice e Listas 181 Apêndice e Listas 182 APÊNDICE 6 Apêndice e Listas 183 Apêndice e Listas 184 Apêndice e Listas 185 Apêndice e Listas 186 Apêndice e Listas 187 Apêndice e Listas 188 Apêndice e Listas 189 Apêndice e Listas 190 Apêndice e Listas 191 Apêndice e Listas 192 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Frequência de lesão traumática dos nervos cranianos (Hughes, 1964) ................................................................................................................... 4 Tabela 2. Distribuição do número de pacientes por lesões traumáticas isoladas e múltiplas de nervos cranianos (Patel et al, 2005) .............................. 5 Tabela 3. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervo craniano único ..................................................................................................... 75 Tabela 4. Número e porcentagem das lesões traumáticas em múltiplos nervos cranianos ............................................................................................................. 76 Tabela 5. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo olfatório ..................................................................................................... 82 Tabela 6. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo óptico – acuidade visual ............................................................................ 87 Tabela 7. Distribuição por frequência das lesões traumáticas do nervo oculomotor – componente intrínseco e extrínseco ............................................. 92 Tabela 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo oculomotor ................................................................................................ 96 Tabela 9. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo troclear ...................................................................................................... 97 Tabela 10. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo trigêmeo .................................................................................................... 99 Tabela 11. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo abducente ................................................................................................. 101 Tabela 12. Distribuição de frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo facial .......................................................................................................... 105 Tabela 13. Distribuição por frequência das lesões traumáticas combinadas do nervo vestibulococlear ........................................................................................ 109 Apêndice e Listas 193 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Traumatismo ocular com contusão retiniana (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão) ...................... 23 Figura 2. Hemorragia vítrea (gentileza dos Drs. Orlando da Silva Filho e Maurício H. Nakanami, com permissão) ............................................................. 23 Figura 3. Vascularização intraorbitária do nervo óptico (Modificado de François et al, 1958) .......................................................................................... 25 Figura 4. Representação esquemática da vascularização das vias ópticas (Modificado de François et al, 1958).................................................................... 26 Figura 5. Fraturas temporais mais comumente encontradas. Modificado de Coker et al, 1987. ................................................................................................ 47 Figura 6. Plano da fratura longitudinal passando lateralmente à cápsula ótica. Modificado de Coker, 1991. ................................................................................ 50 Figura 7. Plano da fratura transversa com lesão dos canais semicirculares e vestíbulo. O nervo facial é lesado no segmento timpânico. Modificado de Coker, 1991.......................................................................................................... 51 Figura 8. Distribuição por frequência das lesões traumáticas de nervos cranianos por gênero .......................................................................................... Figura 9. Distribuição de frequência por mecanismo de trauma ........................ 77 78 Figura 10. Distribuição de frequência das fraturas cranianas ............................ 79 Figura 11. Distribuição de frequência das pontuações da Escala de Coma de Glasgow à admissão dos pacientes .................................................................... Figura 12. Distribuição de frequência de fístula liquórica ................................... 79 80 Figura 13. Distribuição de frequência das lesões intracranianas ....................... 81 Figura 14. Distribuição de frequência das lesões traumáticas do nervo olfatório ............................................................................................................... 82 Figura 15. Fratura occipital (A) e contusão frontal (B) em contragolpe em paciente com lesão traumática de nervo olfatório ............................................... 83 Figura 16. Contusão frontal em contragolpe (A e B) em paciente com lesão traumática de nervo olfatório ............................................................................... Figura 17. Tomografia de crânio evidenciando fratura do osso nasal ............... Figura 18. Distribuição de frequência da acuidade visual em pacientes com lesão traumática do nervo óptico ........................................................................ Figura 19. Tomografia de crânio evidenciando fragmento ósseo intraorbitário direito .................................................................................................................. Figura 20. Ressonância magnética de encéfalo evidenciando lesão do nervo óptico esquerdo .................................................................................................. Figura 21. Fragmento ósseo sobre nervo óptico esquerdo ............................... 84 84 85 88 89 89 Apêndice e Listas 194 Figura 22. Mecanismos de trauma nas lesões do nervo óptico ......................... 90 Figura 23. Lesões intracranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico ................................................................................................................... Figura 24. Fraturas cranianas associadas à lesão traumática do nervo óptico.. 90 Figura 25. Distribuição de frequência das alterações pupilares e motricidade ocular extrínseca ................................................................................................. Figura 26. Radiografia simples de crânio com ferimento por arma branca em paciente com lesão traumática de III nervo ........................................................ Figura 27. Tomografia de crânio evidenciando fratura de assoalho de órbita.... Figura 28. Tomografia de crânio evidenciando fratura em teto orbitário esquerdo ............................................................................................................. 91 93 93 94 95 Figura 29. Tomografia de crânio evidenciando lesão axonial em tronco encefálico ............................................................................................................ 95 Figura 30. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com o mecanismo de trauma ................................... 96 Figura 31. Distribuição de frequência das alterações intrínsecas e extrínsecas do globo ocular de acordo com a presença de lesões intracranianas ................ 97 Figura 32. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com o mecanismo de trauma ................................................................................................................. 98 Figura 33. Distribuição de frequência das alterações extrínsecas do globo ocular por lesão traumática do nervo troclear de acordo com a presença de lesões intracranianas .......................................................................................... 98 100 Figura 34. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos .............. Figura 35. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo o mecanismo de trauma ...................................................................................... 100 Figura 36. Distribuição das lesões traumáticas trigeminais por ramos segundo a presença de lesões intracranianas .................................................................. 101 Figura 37. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca por lesão traumática de nervo abducente ......................................... 102 Figura 38. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com o mecanismo de trauma .......................... 103 Figura 39. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de fraturas cranianas ............ 103 Figura 40. Distribuição de frequência de alteração de motricidade ocular extrínseca (VI nervo) de acordo com a presença de lesões intracranianas ....... 104 Figura 41. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial de acordo com o comprometimento funcional (House-Brackmann) ............................................ 105 Figura 42. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de fraturas e grau de comprometimento funcional .............................. 106 Figura 43. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo o mecanismo de trauma e grau de comprometimento funcional ........................... 107 Apêndice e Listas 195 Figura 44. Tomografia de crânio evidenciando fratura longitudinal do petroso esquerdo ............................................................................................................. 108 Figura 45. Distribuição das lesões traumáticas do nervo facial segundo a presença de lesões intracranianas e grau de comprometimento funcional ........ 108 Figura 46. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva ................... 109 Figura 47. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com o mecanismo de trauma .............................................................................. 110 Figura 48. Distribuição das lesões traumáticas do nervo vestibulococlear segundo a presença de fraturas cranianas ......................................................... 110 Figura 49. Frequência de comprometimento da acuidade auditiva de acordo com a presença de lesões intracranianas ........................................................... 111 Apêndice e Listas