Mais do que um desafio, o trabalho dos cientistas pesquisadores de células-tronco é um
verdadeiro quebra-cabeças. A descoberta da célula ideal para o músculo do coração ou para
reparar o cérebro desperta ansiedade em pacientes do mundo inteiro.
Um mundo sem fronteiras, visionário e revolucionário, que se propõe a vencer o desafio do
século. Desenvolver a medicina regenerativa, utilizando o próprio corpo humano como fonte
de cura.
“Nós temos dois tipos de células-tronco: as adultas, que em geral são obtidas do próprio
paciente ou do sangue de cordão umbilical; e temos as células-tronco embrionárias, que são as
polêmicas, das quais ainda não temos um domínio completo. Por serem muito primitivas
podem até formar tumor no receptor e tem os problemas éticos e religiosos que devemos
respeitar”, explica Paulo Brofman.
“Foi conhecendo o mecanismo de manipulação genético, que foi possível manipular uma
célula adulta e fazer com que ela regredisse e ficasse como uma célula embrionária sem as
questões éticas envolvidas na questão das células embrionárias” avalia Marco Antônio Zago.
“A pesquisa com células-tronco para induzir a formação de células produtoras de insulina já
existe há algum tempo, pelo menos há mais de dez anos, mas ainda estão em seu estado
embrionário. Falta muita coisa para elas terem aplicação clínica. Não existem resultados
suficientes para que entrem em aplicação clínica”, diz Carlos Mayora Aita, professor da PósGraduação em Ciências da Saúde da PUCPR.
No Hospital Pequeno Príncipe, pesquisas realizadas com células-tronco em ratos alimentam a
esperança de um incontável número de pacientes que veem na regeneração celular, a solução
para males antes tidos como irreversíveis.
Primeiro, os cientistas provocaram em laboratório lesões por traumas nos ratos, simulando as
que acontecem na maioria dos acidentes de trânsito. Em seguida, os animais receberam um
preparado de células-tronco, retiradas da própria medula óssea. O material foi injetado no
local dos ferimentos. Os bichos partem então para uma série intensiva de exercícios na piscina.
Após 48 horas praticamente todos os ratos recuperaram pelo menos parte dos movimentos
das patas traseiras.
“Os experimentos foram baseados numa lesão traumática no rato, onde simulamos um
impacto na medula como se fosse um trauma que ocorre comumente em um acidente
automobilístico”, fala Katherine Carvalho, pesquisadora do Hospital Pequeno Príncipe.
“Eu tinha 17 anos na época, isso há 20 anos, e estava voltando da praia. Todos devidamente
com o cinto de segurança e os carros que estavam na nossa frente reduziram a velocidade
porque tinha um acidente um pouco adiante. Estava garoando também, então os carros foram
reduzindo a velocidade. Nisso vinha um carro que a gente já tinha visto na Serra fazendo umas
loucuras, e esse carro não reduziu a velocidade. Como o nosso carro estava na pista da direita,
esse motorista bateu na traseira do nosso carro e o nosso carro despencou de uma altura de
mais ou menos 20 metros. Capotou diversas vezes, e numa dessas capotagens eu fraturei a
minha coluna, minha medula, e com isso perdi todos os movimentos do pescoço para baixo.
Fiquei bastante tempo no hospital para me recuperar. Na época, fora perder todos os
movimentos, uma das consequências da lesão medular é que a gente acaba perdendo também
a capacidade de respirar sozinho”, afirma Mirella Prosdócimo, empresária.
“A gente separa os grupos: um grupo, que fica sedentário, e o outro que vai fazer atividades
físicas condicionadas a natação, após essa lesão e o tratamento. Depois comparamos os
grupos, e o que a gente identificou é que quando se associou as células-tronco, quer frescas ou
cultivadas, tanto no modelo agudo, quanto no modelo crônico, os ratos voltaram a andar bem
próximo da escala da normalidade”, explica Katherine Carvalho.
“Vou ser a pessoa mais feliz do mundo se essa cura vier enquanto eu estiver aqui ainda, viva.
Se ficar para as próximas gerações, não é por isso que eu vou deixar de ser feliz e de tocar a
minha vida, de ir à luta”, diz Mirella Prosdócimo.
“Precisamos desenvolver pesquisas, trabalhar para desenvolver o que ainda não funciona. Se a
gente ficar parado, esperando, as coisas vão continuar do jeito que estão. É através dos
estudos que fazemos, seja com tecido de animais, seja com tecido humano, que tentamos
corrigir os problemas que ainda existem”, diz Carlos Mayora Aita.
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