M A R I A LUIZA DE F R A N Ç A
PASZKIEWICZ
Características da Linguagem Oral
eaiizacao em u
D i s s e r t a ç ã o para obtenção do Grau de
M e s t r e , Á r e a de Concentração: Língua Ing l e s a / d o Curso de Pós-Graduação e m Letras, Setor de C i ê n c i a s H u m a n a s , Letras e
A r t e s , da U n i v e r s i d a d e Federal do Paraná.
CURITIBA
t 9 8 5
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Dr. José Erasmo Gruginski, pela sua orientação, amizade e incentivo.
Ao Professor David Shepherd e à Professora Dr. Cecília
Inés Erthal, pela colaboração, amizade e disponibilidade.
Ao Roberto, pela compreensão.
Aos meus pais e irmãos, pelo constante apoio.
Àqueles que permitiram ou facilitaram a coleta de dados,
a realização da pesquisa,
ou por quaisquer outros meios.
Muito obrigada.
seja
por
meio de gravações,
SUMARIO
RESUMO
V
SUMMARY
1
1.1
1.2
ví i
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
1
. METODOLOGIA
2
1.2.1
Coleta de dados
2
1.2.2
Análise dos dados
3
1.2.3
Limitações
3
2
REVISÃO DA LITERATURA
3
ANÃLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
3.1
5
A LINGUAGEM ORAL É ESPONTÂNEA, NÃO PLANEJADA
3.1.1
21
Hesitações
manifestadas
por pausas si-
lenciosas
3.1.2
22
Hesitações manifestadas por pausas preenchidas
3.1.3
21
24
Palavras que atuam como reorganizadoras
do
discurso
ganhe tempo
ou
na
permitem
que o falante
organização
do mesmo
subseqüente
26
iii
3.1.4
A imprecisão da linguagem
3.1.5X
Quebras de estrutura
3.1.6
Outras construções
•
37
que
fogem às normas
da sintaxe
3.2
41
A LINGUAGEM ORAL
TEM
O RECEPTOR E O CON-
TEXTO PRESENTES
42
3.2.1
A presença do receptor
3.2.2
A presença do contexto
3.3
A LINGUAGEM
ORAL
..
UTILIZA-SE
DE
RECURSOS
47
Recursos prosódicos como forma de suprir
as falhas decorrentes
da
falta de pla-
nejamento
3.3.2
48
Recursos prosódicos como forma de assinalar
troca
de
papéis
ou de situações
do dialogo
3.3.3
52
Recursos prosódicos como forma de sinalizar um conjunto amplo de significados
4
42
46
PROSÓDICOS
3.3.1
33
. CONCLUSÃO
53
58
ANEXO
63
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
iv
116
RESUMO
O objetivo desta dissertação
é
verificar, através da
coleta de diálogos representativos de situações reais de fala, como se realizam, no Português, as seguintes
ticas gerais da linguagem oral
bibliográfico:
sença
do
encontradas
em
caracteríslevantamento
a falta de planejamento do discurso,
contexto situacional
de elementos prosódicos.
e
Para
a
pre-
do receptor e a utilização
tal
propósito,
tomou-se
uma
amostra da linguagem de nove pessoas, de ambos os sexos, todas
de
escolaridade superior.
Como instrumento de coleta de
dados utilizou-se apenas um gravador, determinando-se para a
duração dos diálogos o tempo aproximado de 15 minutos. Através
da
análise dos dados, não se teve como intuito chegar a
nenhuma conclusão de caráter quantitativo. Buscou-se, por meio
da observação,
o
registro de fatos sistemáticos,
no
Portu-
guês, ocorridos, na amostra, com a finalidade de se confirmar
as características acima apontadas, atribuídas como próprias
da linguagem oral.
Embora a amostra não seja
representativa
da população brasileira em geral, por meio dela foi possível
o alcance
de muitos
dos
objetivos propostos.
Verificou-se
que, da falta de planejamento do discurso, surgem hesitações
manifestadas por pausas preenchidas por sons;
sença
de
surge
a
pre-
certas palavras e expressões, umas indicando a im-
precisão da linguagem, outras usadas para permitir que o faV
lante ganhe tempo
na
organização
do
discurso
subseqüente;
surgem ainda constantes quebras de estrutura e outras
ções sintáticas.
cilita
o
devia-
Percebeu-se que a presença de receptor
fa-
ato comunicativo do falante, dada a chance que tem
de ¿e.e.dback e da ajuda que pode receber na complementação de
seu pensamento.
Foi possível ainda o reconhecimento
portância da utilização de recursos prosódicos, na
são da mensagem,
com
forma de fazer frente
relação
a
aos
da
transmis-
seguintes aspectos:
como
muitos dos problemas que surgem por
questão de o discurso não ser previamente organizado;
na passagem da narração
im-
ao
também
discurso direto, sem preâmbulos,
e, a i n d a , o que é muito importante, na sinalização de um conjunto amplo de significados
parte da mensagem
(atitudes,
total.
vi
por
exemplo),,
como
SUMMARY
The aim
of this paper
is
to verify, with the use of
dialogues, representative of authentic speech situations, how
certain characteristics of oral language are realized in Portuguese. The following elements were included in the research
as
they
were found
in
the relevant literature:
discourse planning, the presence of the
and that
of
the receiver;
a
lack
situational
of
context
the use of prosodie elements. To
this end a sample, of language of nine college gratuates, both
male and female, was analyzed. The only
instrument
the data collection was a tape recorder,
to
limit
minutes.
conclusion
thus,
to
the
length of dialogues
It was not intended
would be
and
used for
it was decided
to approximately
that
fifteen
any type of quantitative
reached by this analysis.
The aim was,
register, by observation, systematically the facts
in Portuguese,
according
presence of those
to
the
aformentioned
sample,
and
establish the
characteristics,
which
we
attributed as belonging to oral language. Although the sample
may not be representative of the Brazilian population in general, it was possible
to
achieve a number of these proposed
objectives. It was verified that because of the lack of discourse planning
The
presence
some of which
of
a
number
certain
indicated
of
hesitation phenomena occurred.
words
an
and
expressions
imprecision
of
oral
was
noted,
language,
vi i
_
J
BIBLIOTECA
"CENTRAL"
!
Universidade Federal da Paraná
others enabling the speaker to gain time for the
organization
of the subsequent discourse. In addition, constant breaks in
the discourse structure as well as other syntactic
occurred.
It was observed
that
simplified the communicative
act
deviations
the presence of the speaker
of
the
speaker, providing
an opportunity for feedback in addition to providing help in
what
is
considered
speaker's thought.
to
It
be
was
a
reasonable
completion
also possible
to
of
the
recognize
the
importance of the use of prosodie resources in the transmission of the message
compensating
for
in
the following areas:
problems
arising
as
a
means of
in view of the fact that
the discourse was lacking any previous organization; in passing without a preamble, from narration
and, finally, which
is
wide range of meanings
very important,
to
in
direct discourse;
the signalling a
(e.g. attitudes) as part of the total
message.
vi i i
1
1.1
INTRODUÇÃO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
No
português,
tanto
do
ponto de vista
teórico
como
prático, têm sido poucos os trabalhos apresentados em que se
focalizam as características da linguagem
oral.
A presente pesquisa procura fazer um levantamento
bi-
bliográfico do que tem sido realizado nesse sentido, como material de apoio para o estudo que se pretende: através da coleta de diálogos representativos de situações reais de fala,
verificar
como
as características gerais levantadas com re-
lação ã linguagem oral se realizam no
Português.
Do ponto de vista teórico, este estudo poderá
tar a atenção para a necessidade
de
desper-
uma descrição mais rea-
lista da língua, feita a partir de dados reais da fala, produzidos em situações concretas de diálogo.
Este estudo é importante,
levar o professor de Português
a
acredita-se,
no sentido de
perceber que a língua
oral
e a escrita têm características próprias; são meios de comunicação diferentes.
Com
essa
conscientização,
deixará de fazer exigências absurdas
lar.
sobre
certamente,
como se dz.ve, fa-
Ë importante também no sentido de fazê-lo entender que
as dificuldades encontradas na hora em que se deseja
colocar
as idéias por escrito
pessoa estar
mais
advêm,
em grande parte,
acostumada com a comunicação
do
fato de a
por
meio da
oral.
Um dos principais objetivos que se têm em mente é que
o exame da
amostra
coletada
despertar idéias para
e
estudos
da
pesquisa
realizada possa
lingüísticos mais delimitados
e profundos do Português oral.
1.2
1.2.1
METODOLOGIA
Coleta de dados
Com o propósito de se verificar como as características gerais da linguagem oral se realizam no Português, tomouse uma amostra de pessoas de escolaridade superior, de ambos
os sexos, todas
entre
28 e 34 anos
(falantes A a I): um en-
genheiro, um médico e o restante professores.
Todas essas pessoas decidiram cooperar, cientes do objetivo da pesquisa a ser realizada.
A escolha de um número maior de professores
pessoas entrevistadas
deu-se
pela
facilidade
entre
as
de acesso, em
virtude de a pesquisadora exercer a mesma profissão.
Para a coleta de dados
utilizou-se
como
instrumento
apenas um gravador.
Duas gravações foram efetuadas pela au-
tora desta pesquisa
e
as demais pelos próprios
interlocuto-
res .
Determinou-se para duração dos diálogos o tempo aproximado de 15 minutos.
Todavia, como forma de contribuir pa-
3
ra
a
espontaneidade dos diálogos, frisou-se
que
não preci-
sariam ater-se muito a essa questão de tempo.
Foram,
ainda,
aos seus interesses,
sugeridos temas, de modo geral ligados
sobre
maiores dificuldades.
os
quais
pudessem discorrer sem
Nesse caso, com a idéia explícita
de
que não haveria problema algum se, porventura, a conversação
tomasse outros rumos.
1.2.2
Análise dos dados
Não se pretende através da análise dos dados chegar a
um estudo quantitativo. Deseja-se registrar fatos sistemáticos no Português, ocorridos na amostra, que possam ser atribuídos
a
determinadas características
gerais
da
linguagem
oral, aponta:das na Revisão da Literatura.
Para essa análise
serão
utilizados
conceitos
muito amplo em Lingüística, ligados ã gramática
1.2.3
de uso
tradicional.
Limitações
Apesar do grau de intimidade entre os
interlocutores,
da preocupação quanto à escolha de tópicos que pudessem contribuir para a descontração da linguagem no discurso, o fato
de estarem conscientes
de
que
sua
conversação estava sendo
gravada constituiu uma limitação dentro da metodologia usada
na coleta de dados.
A escassez de tempo
uma amostra maior
como a falta de:
trouxe,
para
ainda,
o levantamento e análise de
várias
outras limitações,
4
' um estudo quantitativo dos fatos sistemáticos nó Português, atribuídos
como
características
gerais
da
linguagem oral;
° uma análise instrumental de um desses fatos —
o da
utilização de recursos prosódicos;
0
um estudo de estratificação social de variáveis lingüísticas.
Com relação a este último item, todavia, embora o universo estatístico da amostra
não
represente o nível de edu-
cação da população em geral, acredita-se
que
as caracterís-
ticas apontadas na Revisão da Literatura sejam características essenciais da linguagem oral e que, portanto, devam aparecer na fala de pessoas de outros níveis culturais.
2
REVISÃO DA
LITERATURA
Muitas das características da linguagem oral são descritas em estudos que objetivam, na verdade, ressaltar as características da escrita.
Tais
estudos
começaram
a
surgir,
conforme
Michael STUBBS, como reação ao pensamento de muitos
tas e,
mais notadamente,
entre
eles
Bloomfield
aponta
lingüis-
para quem a
escrita nada mais era do que uma invenção, um meio de reproduzir
e
difundir a língua falada através de símbolos gráfi-
cos: "Writing is not language, but merely a way of recording
language by means of visible marks".
"not part
of
language
but
"The art of writing is
rather a comparatively modern in-
vention for recording and broadcasting what is spoken". 1
Como parte dessa reação, passam a ser levantados pontos sobre a relação entre a linguagem oral
e
a escrita, não
com o propósito de querer provar que uma é superior à outra,
mas
como
ponto de partida para se evidenciar
o
fato de que
cada uma tem características e funções próprias, são realizações diferentes e complementares de um mesmo sistema
to:
abstra-
a linguagem. 2
1
STUBBS, M. Language and Literacy; the socioliriguistics of reading and writing. London, Routledge & K.Paul, 1980. p.24, 21.
2
"We must therefore recognize that speech and writing are d if ferent, without one being superior to the other; but also recognize that a
language which has both written and spoken forms is a more powerful in-
6
Entre
as
tada a questão
características próprias da oral, foi aponde
a linguagem, normalmente, ser
espontânea,
não planejada, realizar-se através de processos mentais que,
na maioria das vezes, não estão sob o controle consciente do
falante.
scious
Afirma VYGOTSKY:
of
"In speaking,
he
is hardly
con-
the sounds he pronounces and quite unconscious of
the mental operations he performs". 3
0 1 D O N N E L e TODD salientam que, na linguagem oral, sendo espontânea, não
truturação
do
hã
tempo
pensamento, para
pressões mais adequadas,
tura —
suficiente
o
a
para uma melhor
escolha de palavras e ex-
que ocasionará quebras na estru-
frases interrompidas, incompletas, repetições,
tações manifestadas
por
and new beginnings),
es-
"arranques em falso"
pausas
silenciosas
ou
(false
hesistarts
preenchidas
(os
chamados "fillers"), como as exemplificam, no caso do inglês,
onde são usados
os
sons convencionais
um', ou expressões como
'you see',
transcritos
'you know',
por
'er,
'I mean'.
. . . little time can be given to planning
or revision, and so speech in operation is
characteristically broken up by 'fillers'
of various sorts; for example, 'I mean',
'sort of', 'you Know',
'you see'. It is
also sometimes marked by syntatic incompleteness, by breaks and hesitations, and
by a good deal of repetition.
All these features may be attributed to
the spontaneous nature of speech, (p.8)
strument of communication than a language with only spoken forms". STTUBS,
p.30. "language: abstract system; speech, writing: realizations of language in different media" (p.34). "If writing was just speech written
down, then it would not be very different from speech and would not be
as useful as it is." (p.100)
3
VYG0TSKY, L.
Press, 1979. p.99.
Thought
and
Language.
Cambridge, Mass., MIT
7
Normally pauses, too, are involuntary to
a large extent, occurring where the speaker
is searching for the right word of expression. Theymaybe either silent of filled.4
CHOMSKY e VANOYE também se referem a essas manifestações da oralidade.
Vejam-se, respectivamente, as suas afir-
mações :
Uma gravaçao da fala natural mostrara numerosos arranques era falso, desvios das regras, mudanças de intenção a meio caminho
e assim por diante. (CHOMSKY)
- Na língua falada é abundante a repetição
de palavras;
- na língua falada i grande a ocorrência
de anacolutos ou rupturas de construção:
a frase desvia-se de sua trajetória, o complemento nao aparece, a frase parte em outra direção.5
(VANOYE)
-
Tais manifestações
da
oralidade
surgem,
conforme as
palavras de O'Donnel e Todd acima, como produto de o discurso não ser planejado. Ana Silva Nogueira MARTINS, em seu trabalho "Algumas características do Português falado",
Segundo Ochs
(1979), o discurso não planejado é
não foi pensado antes
do
afirma:
aquele
que
momento de sua produção, não o en-
volvendo, portanto, nenhuma organização para sua emissão".
Nesse seu trabalho, Nogueira Martins cita, como meios
de fazer frente â falta de planejamento, a presença do aòé-ím
freqüentemente usado na oral como pà-^ínchídon. de. paaia
"O'DONNEL, W.R. & TODD, L.
London, Allen & Unwin, 1980. p.67.
5
1975.
1982.
e
do
Variety in Contemporary English.
CH0MSKY, N. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra, A.Amado,
p.84. VANOYE, F. Usos da Linguagem. São Paulo, Martins Fontes,
p.40.
1
8
queh. dlZ2.H como
uma mudança
reorganizador
eòtsiutu.iat.
discurso, nebpoYibav <¿L poh.
Menciona, ainda, por exemplo, o em-
p/iego de &xpAe.¿¿0e-ó que. deixam
¿OA ¿ emântZco
do
Indeterminado.
alguna
conót¿tuÁ.nte¿>
va-
Tece certas conclusões que, acre-
dita-se, não se restringem só ao Português.
do discurso não-planejado
com
—
"Assim se
Fala da sintaxe
monta
a
sintaxe
discurso não-planejado: rica de elementos facilitadores
a compreensão das mensagens veiculadas.
dente que o tensionamento sintático
é
Deste
modo,
do
para
é evi-
rompido para permitir
a entrada dos elementos que analisamos". 6
SAID ALI, ao definir Anacoluto,
Expieò ¿ão
Anaco¿útica,
também, se refere a esse problema de falta de planejamento da
linguagem oral.
Observem-se suas colocações:
Expressão anacolutica e a oraçao que começa de um modo e, em vez de ter o seguimento pedido pela sintaxe, termina por uma
construção nova. Resulta essa anomalia em
geral do fato de nao poder a linguagem
acompanhar o pensamento em que as idéias
se sucedem rápidas e tumultuarias. Ë a precipitação de começar a dizer alguma cousa
sem calcular que pelo rumo escolhido nao
se chega diretamente a concluir o pensamento. Em meio do caminho da-se pelo descuido, faz-se pausa, e, não convindo tornar atras, procura-se saída em outra dire~
çao.
7
6
MARTINS, A.S.N. Algumas Característivas do Português Falado.
In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜISTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos lingüísticos. Campinas, Pontifícia Universidade Católica, 1982. p.14, 21.
7
SAID ALI, M. Meios de Expressão e Alterações Semânticas. Rio
de Janeiro, Fundaçao Getúlio Vargas, 1971. p.22. E continua, "estas, arrancadas de linguagem, irrefletidas ou mal ponderadas, que levam o homem
a expressar-se contrariamente ãs normas da sintaxe, sao evitadas hoje
entre literatos e entre pessoas que se prezam de falar corretamente".
(p.23)
9
Além
dessa
característica
de
produção
oral, outras são ainda muito apontadas:
receptor e do emissor e o uso de recursos
da
linguagem
a usual presença do
não-verbais.
LYONS menciona estas características ao definir o que
chama de "canonical situation of utterance":
a
comunicação
que se processa pelo canal vocal-auditivo, onde todos os participantes se encontram presentes no mesmo contexto
cional, assumindo
cada um
a sua vez
de
situacio-
emissor, capazes de
ver um(uns) ao(s) outro(s) e associar às suas palavras os recursos paralingüísticos
não-vocais. 8
Pelas afirmações de LYONS, bem como de HIRSCH JR. , STUBBS
e VANOYE, verifica-se que, ãs vezes, quando a comunicação
se situa
dentro
dessa definição
de
não
"canonical situation of
utterance", a linguagem na oral assume certas características
de escrita. 9
A esse ponto voltar-se-á, mais tarde, no final
deste capítulo.
Conforme as colocações de.STUBBS, HIRSCH JR. , O'DONNEL
e TODD, Geraldo CINTRA, A.D. WILKINS e VANOYE, a presença do
receptor é muito importante, na oral, por possibilitar o {¡íidbaak —
estando presente, poderá reagir,
questionar,
falante não esteja sendo suficientemente claro.
1978.
^YONS, J.
v.2, p.639.
Semantics.
caso o
10
Cambridge, Cambridge University Press,
'LYONS, v.l, p.69; HIRSCH JR., E.D. The Philosophy of Composition. Chicago, University of Chicago Press, 1977. p.22-3; STUBBS, p.69;
VANOYE, p.169.
10
STUBBS, p.117; HIRSCH JR., p.22, 23,_27, 29; O'DONNEL & TODD,
p.8. CINTRA, G. Meio e Mensagem na Comunicaçao Oral. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO, p.24; WILKINS, A.D. The Teaching of Comprehension. London, ETIC, British Council, 1978. p. 78; VANOYE,
p.160, 161.
10
Segundo
todos
esses
autores,
a presença do receptor
faz cora que o falante não precise ser tão explícito. Assegura, por exemplo, WILKINS,
o
falante
pode
transmitir
o
que
pretende, aos poucos, passo a passo, na medida em que se faz
entender:
"When
I'm
talking
to
you
I can do
it in little
bits, and I can find out how much you know as I go along. So
I don't get so complicated.
If I say something you think is
rubbish, you'll say rubbish and I'll try and tell you why it
is not rubbish". 1 1
VANOYE afirma que o " e.e.dback favorece a comunicação.
Dissipa as inquietudes, os receios
e
namento entre emissor(es)-receptores".
rias formas em que o ¿ezdback
pode
as tensões no relacioEle apresenta as vá-
surgir:
- repetição completa e sistemática das informações (exemplo: repetição da mensagem transmitida pelo telefone);
- verificaçao final — através de uma pergunta do emissor (exemplo: pergunta do
tipo "todo mundo compreendeu?", interrogações escritas, etc.);
- verificaçao, à med-íãa que a comunicação
Vai se processando, por pergunta do emissor ("certo?", "vocês estão me seguindo? ...");
- verificaçao através de perguntas do(s)
receptor(es);
."•.'- verificaçao por meio de sinais nao verbais do(s) receptor(es), em decorrência
dos quais o emissor pode ajustar seu discurso.12
"WILKINS, p.68.
12
VANOYE, p. 160.
11
HIRSCH JR., ao
crito
('The Context
falar sobre o contexto do discurso esof
Written Speech'), menciona o fato de
o discurso oral normalmente
fornecedora
de
muitos
ocorrer
elementos
do significado pretendido pelo
numa situação
necessários
à
concreta,
compreensão
falante. 1 3
Para HIRSCH JR., LITOWITZ
e
STUBBS a linguagem oral,
estando normalmente ligada ao contexto situacional
(context-
tied, context-dependent), nem todas as informações
necessi-
tarão
ser
lexicalizadas.
text-free) , como colocam,
Já a escrita, por ser livre
deve
criar
seu
próprio
(con-
contexto
unicamente atrás do verbal. 1 4
Na
linguagem
oral,
como
afirmam O'DONNEL
e
TODD, o
emissor não precisa dar maiores detalhes sobre o que é visto
pelo receptor;
a referência a uma pessoa, por exemplo, pode
13
HIRSH JR., p.21. "Oral speech normally takes place in an actual
situation that provides abundant non-linguistic clues to the speakers
intended meaning."
14
HIRSCH JR., p.25 e 26; LITOWITZ, B.E. Writing from a Developmental Perspective. Evanston, 1978. p.23. Mimeografado; STUBBS, p.109.
Para LITOWITZ (p.23), o libertar-se, o movimento progressivo voltado para a criaçao desse contexto próprio seja, talvez, a maior característica
que distingue a linguagem escrita da oral. "Brunner has described this
progression as the child's movement towards context-free elaboration
(1975:70). The subsequent and progressive de-contextualizationof written
language is perhaps, the major characteristic differentiating it from
oral language." HIRSCH JR. (p.7) assegura que a dificuldade máxima, para
um falante nativo de uma língua aprender a escrever bem, esta em aprender
a usar a linguagem de uma forma ã qual nao esta acostumado, uma vez que
a necessidade de tecer seu próprio contexto é uma particularidade funcional da escrita. STUBBS (p.115), afirma, fazer com que os alunos entendam, saibam usar as convençoes da escrita i uma tarefa muito difícil.
Coloca ainda um outro problema: o fato de a convencionalidade da escrita
ter de ir além de seus aspectos formais, por, freqüentemente, nao serem
encontrados nos mesmos um equivalente direto na linguagem oral (p.117).
Sobre esse aspecto, ver CINTRA, p.24; PRETI, D. Sociolingüística; os
níveis da fala. São Paulo, Nacional, 1975. p.47; LYONS, v.l, p.69.
12
ser
feita
simplesmente
por
meio
de
um
pessoal. 1 5
pronome
STUBBS, ao m e n c i o n a r a definição do que Bernstein chama cod¿go ficòtfiito, faz referência ao fato de que na oral nem
tudo necessita ser verbalmente explícito, quando os
interlo-
cutores compartilham também de conhecimento sobre o mesmo assunto, quando têm interesse, idéias afins. 16
O mesmo ponto é enfocado por 0 1 D O N N E L e TODD :
mate language is characteristically
inexplicit;
terances need not be complete sentences
tend to be simple,
vague
words
such
and
as
"Inti-
so that ut-
structure
will
'nice' and 'things'
may be used, and pronunciation will tend to be relaxed...".17
As palavras
de
Geraldo CINTRA, citadas abaixo, apre-
sentam colocação semelhante
—
güísticamente expresso, na oral,
nem
tudo
em função
necessita vir linnão
só
do
que é
visto pelos interlocutores no momento do diálogo, mas também
dos acontecimentos por estes compartilhados em situações anteriores :
A interaçao oral em presença envolve os
interlocutores numa rede de acontecimentos
(nao so cotemporais com a situaçao, mas
também precedentes e mesmo antecipados) que
estabelece um relacionamento característico e específico. 0 mero registro do que
15
0'DONNEL & TODD, p.8. "Things apparent in the shared situation
may not need to be spelt out; so that reference to a person in full view
of both addressor and addressee may be accomplished by means of a personal
pronoun, where writing might call for a full description."
16
STUBBS, p.111. "... restricted code has been defined consistently as implicit, particularistic and context-bound, because it relies
on shared understandings between speakers and shared knowledge about contexts."
17
0'DONNEL & TODD, p. 75.
13
foi dito numa tal situaçao nao constitui
uma representação fiel da mesma. Assistir
a uma aula, por exemplo, e ouvir uma gravação dessa mesma aula sao experiências
completamente diversas (como muitos jã tiveram a oportunidade de verificar), a menos que a aula tenha sido apresentada sob
a forma de conferência; a gravaçao pode
chegar a nao ser compreendida por quem nao
tenha assistido a exposição original.18
HIRSCH JR. transmite a mesma idéia contida nessas palavras de Geraldo Cintra. Sustenta que qualquer participante,
de uma conversação que foi gravada, teria dificuldades em entender mesmo o que houvesse dito, quando lesse a transcrição
de suas palavras. Ainda a esse respeito, cita
tas gravadas pelo governo Nixon.
Tais
fitas,
o
caso de fi-
quando trans-
critas para o papel, não faziam muito sentido. O texto parecia menos comunicativo que a composição de um pior aluno. Sõ
através da audição das fitas, com o ritmo, a entoação usada,
podia-se captar elementos essenciais ã compreensão,
tavam no discurso transcrito.
Todavia,
só
que fal-
esses
elementos
não se faziam suficientes para uma melhor dilucidação da mensagem, afirma, foi importante
que
se levasse em conta,
bém, a situação histórica dentro da qual a conversação
reu:
"Transcribed oral speech seems puzzling and
in print
because
words
alone
supply
tamocor-
elliptical
insufficient
clues to
meaning". 19
Nas palavras de LYONS também evidencia-se o mesmo fato de o elemento lingüístico,
18
CINTRA, p. 26 e 27.
19
HIRSCH JR., p. 18, 21, 23.
por
si só,
na
oral,
não
ser
14
normalmente suficiente
um todo.
para
a transmissão
Menciona os elementos voca¿6
derados pan.al-inQÜ.lbtlcob, também,
nicação oral.
Embora
entre
como
era .uma
da
mensagem
e não-voca-Lò,
como
consi-
componentes da comu-
discussão a respeito do
que seja prosódico, paralingüístico, ou não, 20 destaca a questão concreta de, na oral, esses elementos voc.a-ib
toação, o volume de voz, o ritmo,
e
nao-vocalb
como
a en-
como gestos,
expressões faciais, serem freqüentemente usados para completar ou alterar o significado
lingüístico:
It has frequently been observed that semantic information signalled non-verbally
in an act of utterance will at times be in
conflict or in contradiction with the information transmitted by the verbal component. (p.63) (...) the pa r a 1 i ngu i s t i c
features of an utterance may, on occasion,
contradict, rather than supplement, the
information contained in the verbal and
prosodie components ... (p.65)
Ressalta LYONS que o importante
é
compreender que os
recursos paralingüísticos, tanto vocais como não vocais,
cons-
tituem parte essencial do que chama "comportamento normal da
língua
("normal language-behaviour);
te, integrando-se
ä
língua
falada
ocorrem,
e
simultaneamen-
produzindo
um sistema
total de comunicação:
It is important to realize (...) that
paralinguistic signals, both vocal and nonvocal, are essential part of all normal,
language behaviour. As Abercrombie puts
it: "We speak with our vocal organs, but
20
LYONS, v.l, p.23. "... linguistis differ as to what(...) should
count as prosodie and to what as paralinguistic."
15
we converse with our entire bodies ...
Paralinguistic phenomena . . . occur alongside spoken language, interact with it, and
produce together with it a total system of
communication ...".21
O'Donnel e Todd
também
registram
sempenhado por esses recursos.
sobre
a
Ao
o
grande papel de-
tecerem
esclarecimentos
abrangência do termo paralingüístico, mencionam o fa-
to de estes poderem vir transmitindo várias formas de significado, as quais não vêm lingüísticamente
expressas.
Segundo esses dois autores, seriam considerados
para-
lingüísticos os gestos, as expressões faciais, que não viessem apenas acompanhando a linguagem, mas integrando-se a ela,
fazendo parte da mensagem total.
cem, é o
da
entoação.
esclare-
Salientam que esta é, na maioria
vezes, um elemento lingüístico:
de sons de uma língua.
Outro aspecto que
Em
parte essencial
certos
casos,
porém,
do
das
sistema
quando vem
indicar alguma informação adicional ao conteúdo da mensagem,
passa
a
representar
uma
importante função
paralingüística.
Explicam melhor essa idéia por meio do exemplo —
"Jane came
late", onde há um contorno melódico sistêmico que indica, se
21
LYONS, v.l, p.64. Adam KENDOM, ao falar da linguagem escrita,
acaba fazendo referência a essa característica tao importante da linguagem oral. Menciona o fato de que, na escrita, dada a impossibilidade de
representação concreta de gestos e de expressões faciais, certos aspectos
de entoaçao e ênfase, ao escritor só resta recorrer ã descrição para alcançar orealismo físico epsicológico de seus personagens. Refere-se ãs dificuldades encontradas pelo escritor, nesse sentido. Diz que seria bom fossem inventadas formas convencionalizadas, que representassem pelo menos
alguns dos aspectos extralingüísticos. Kendom reconhece a importância da
concretização dessa idéia, a qual poderia ser benéfica principalmente aos
dramaturgos, pois facilitaria sua tarefa, além de possibilitar ao leitor
perceber, em sincronização com o lingüístico, o comportamento nao-verbal
das personagens. {Nonverbal Communication, Interaction and Gesture. The
Hague, Mouton, 1981. p.13 e 117.)
16
este período é uma simples declaração ou pergunta. Muitas vezes, no entanto, esta melodia
mais agudo ou mais grave
do
é
realizada
em
um tom de voz
que o habitual para
determinado
indivíduo. Neste caso, a entoação passa a desempenhar
paralingüística, podendo sugerir surpresa
ou
função
emoção, quando
o timbre é mais alto, ou entre outras possibilidades, um tom
áspero ou solene,
quando
o tom
é
mais grave.
Observam que
esta função passa a ser indicada também pela extensão do movimento do tom, dentro da melodia da fala.
um
alongamento
na
queda
do tom,
segundo
Na palavra tatz,
eles, poderia
usada para indicar descontentamento, por exemplo.
tudo, chamam atenção para o fato de os recursos
ticos agirem
dizem que,
em
função
por isso,
de
um
todo,
e não
Neste es-
paralingüís-
individualmente;
ao se interpretar o conteúdo
da entoação, este princípio deve ser
ser
semântico
considerado. 2 2
A maioria das características apontadas neste capítulo referem-se diretamente
ã
situação normal em que ocorre a
comunicação oral. Vários autores, conforme se mencionou acima, chamam a atenção para os casos em que a linguagem oral assume características de escrita.
22
O'DONNEL & TODD, p.64, 65. Luiz Carlos CAGLIARI, pelas afirmações que faz em seu trabalho Os Tons do Português Brasi-lei-ro (Campinas,
1979. p.19-20. Mimeografado), parece considerar a entoaçao sempre como
elemento lingüístico: "As diferenças de significado carreadas pela entoaçao fazem parte da gramatica da língua. Essas diferenças de significado sao da mesma natureza que as diferenças, por exemplo, de tempo, modo, aspecto etc. A entoaçao é um dos tantos processos que há na língua
de se estabelecer diferenças de significado. Lingüisticamente, os padrões entoacionais sao unidades do sistema fonológico, sintático e semântico da língua. 0 elemento sonoro do padrao entoacional pertence ao sistema fonologico da língua. As atitudes do falante expressas pela entoação devem ser enquadradas nos estudos sintáticos da língua, assim como
estão situados nesse campo, modo e aspecto".
17
Tais casos viriam, de modo geral, como produto da chamada por VANOYE
"¿>ituaç.ão de
ressalta, o feedback
náo--¿ntelcámb¿o",
onde,
como
nem sempre é possível: "o receptor, ain-
da que presente e próximo, não tem
a
possibilidade
de responder e de assumir o papel de emissor
imediata
(aula expositi-
va, discurso, sermão, comunicação teatral). Nestes
exemplos,
nota-se que a proximidade dos receptores é menor e que a situação exige quase sempre a utilização de alto-falantes, microfones, etc." 23 .
Sobre
o
estilo da linguagem oral, na comunicação
sem
intercâmbio, diz o seguinte:
A exposição, pelo seu conteúdo, estrutura
e natureza de seu preparo, se aproxima da
comunicaçao escrita, uma vez que supõe:
- uma apresentaçao séria, seletiva e organizada de uma documentação, um plano elaborado;
- o esforço de correção do vocabulario e
da sintaxe, supressão de negligências estilísticas, e de formas familiares ou vulgares da língua falada, (p.169)
LYONS, a esse respeito,
afirma
que
muitas
conferên-
cias formais, apesar de serem transmitidas oralmente e terem
a estrutura fonológica da linguagem falada, apresentam o vocabulário e a gramática próprios do estilo
HIRSCH JR. pensa da mesma forma.
tem os seus traços característicos
23
24
escrito. 2 4
0 discurso oral não
meramente
dependentes do
VANOYE, p.160, 161.
LYONS, v.l, p.69. "Many formal lectures, for example, though
they are delivered orally and have the phonological structure of the
spoken language, are composed, as far as grammar and vocabulary are concerned, in the written medium."
18
fato de realizar-se por meio
do
canal vocal-auditivo.
"The
typical difference between oral and written speech do not reside in the difference between the visual
and
phonic
media
themselves". A linguagem oral quando dirigida a todo um grupo, afirma, passa a representar um monólogo;
em toda a cul-
tura, num monólogo dirigido a um público relativamente
rogêneo, requer-se o uso
de
convenções e técnicas
hete-
similares
äs que são encontradas na escrita.
Funcionalmente falando, uma difusão radiofônica,
como
sustenta, pode ser considerada um equivalente do discurso escrito, apesar de usar o oral como meio de comunicação.
Isto
porque a audiência, além de heterogênea,
suas
reações não são conhecidas.
não
é vista;
Por isso é que haveria a neces-
sidade, como na escrita, da utilização de uma linguagem mais
elaborada,
isto
é,
(sentenças completas
de
maior
com
clareza
sujeito
e
lexical
predicado
e
gramatical
explícitos).
Por outro lado, já um bilhete, considerado nesse sentido, uma
carta informal dirigida a um amigo, afirma,
oral —
seria
linguagem
nem tudo é expresso, a linguagem apresenta-se
normal-
mente elíptica quando o outro sabe o que se passa, conhece a
situação. 25
25
HIRSCH JR., p.22. "In every culture, the delivery of a monologue to a relatively heterogeneous audience requires similar techniques
and conventions that are also found in writing. In all public speaking
one has to employ a 'code' that partly resembles normal written speech."
(p.23-4). "A radio broadcast is an oral equivalent of written discourse.
The audience is unseen, its reactions unknown, and hence many requirements
for communicative radio discourse are highly similar to the requirements
of writing." (p.22). "Written discourse has to make up for its lack of
intonation, gesture, facial expression — most of all, for its lack of
tacit situational understanding and active feedback between speaker and
listeners." (p.22-3).
19
STUBBS
também
se refere à idéia de que uma tinguage.m
não pode ser considerada como oh.a¿, pelo simples fato de ser
transmitida pelo meio
fónico:
Typically, speech takes place in a particular social situation; and typically, in
everyday conversation, speech is only one
component of communication, alongside facial expression, gesture, and reference to
the physical surroundings. But a piece of
writing typically has to stand on its own
entirely, without any help from the situation, and therefore has to supply all the
necessary contextual information explicitly. Mixed varietiesj such as radio talks
or discussions (5.6) are typically those
which are closest to written language.
Thus, normal language is usually heavily
context-dependent, whereas written language
usually has to be context free as far as
possible.26
RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS BÁSICAS
DA LINGUAGEM ORAL
Apontou-se que, no discurso oral não planejado, a linguagem é espontânea.
0 pensamento
surge na mente do falante.
é
enunciado
Normalmente
reflexão, como acontece na escrita.
não
do
modo que
há tempo para a
(Vygotsky.)
Por
isso,
quando este não consegue encontrar, de imediato, as palavras
e expressões de que necessita, surge a
hesitação—traduzida
por repetições, pausas silenciosas ou preenchidas
"fillers") —
tura.
dos
ocorrendo, assim, freqüentes quebras de estru-
(0'Donnel e Todd.)
26
(caso
STUBBS, p.109.
Sem grifos no original.
20
A espontaneidade viria,
gem
oral
características
portanto,
próprias.
conferir à lingua-
Grande importância foi'
também dada a outros dois elementos —
ã presença do contexto
situacional e a do receptor, os quais têm sido vistos, essencialmente, como fonte de toda a diferença entre
a
escrita.
se
(Lyons, Hirsch Jr., Stubbs.)
Conforme
oral
e
a
colocou,
a linguagem oral ocorre, normalmente, em uma situação de diálogo que tem seu dinamismo próprio.
Estando presente, o re-
ceptor poderá reagir caso não esteja entendendo
lante
quer
imediato.
dizer,
possibilitando-lhe,
assim,
o
que o fa-
um
feedback
(Stubbs, Hirsch Jr., Vanoye, Wilkins.)
municativo do falante seria
ainda
O ato co-
favorecido, porque os in-
terlocutores estariam inseridos numa mesma situação concreta,
normalmente, esclarecedora.
(Lyons,
Hirsch Jr.,
Litowitz,
Stubbs, Geraldo Cintra, O'Donnel e Todd.)
Na oral
não
haveria
a
exigência da lexicalização de
muitas informações, em virtude, por exemplo, da situação tácita existente entre os interlocutores,
das
mesmas
idéias,
conhecimentos
O'Donnel e Todd, Geraldo Cintra);
e
quando
compartilham
interesses . (Stubbs,
também
por
poder
contar
com os elementos vocais, tais como a altura, o tom da voz, o
ritmo, e com elementos não vocais como os gestos e expressões
faciais, os quais elementos
de significados.
podem
carrear
um
número grande
(Lyons, Cagliari, O'Donnel e Todd.)
3
Na
ANÁLISE
E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Revisão da Literatura
apontaram-se
como
caracte-
rísticas principais da linguagem oral o fato de ser, normalmente, espontânea, não planejada, ter quase sempre o contexto e o receptor presentes, e de utilizar-se de recursos prosódicos.
Neste capítulo procurar-se-ã demonstrar como essas
características se realizam no
3.1
Português.
A LINGUAGEM ORAL Ë ESPONTÂNEA, NÃO PLANEJADA
Conforme
se
registrou
na
Revisão
discurso oral não planejado normalmente
da
não
Literatura, no
há tempo para a
reflexão, para a organização do pensamento como há na escrita.
Na amostra
foram
ções do não-planejamento
encontradas as seguintes manifestado discurso:
a) keòltaçõ e-ò marcadas por pau¿a¿
panhadas, âs vezes,
1
de
Atlenclobaé1
(acom-
repetições, isto é, de reduplicação,
0 termo"pausas silenciosas" e a traduçao do termo ingles silent
pauses, utilizado por O'DONNEL, W.K. & TODD, L. Variety in Contemporary
English. London, Allen & Unwin, 1970. p.67.
Afirmam que a hesitação
deve ser considerada de modo distinto do conceito de pausa (p.66). 0 termo hesitação é aqui, todavia, usado em virtude de o falante normalmente
proferir de forma alongada a palavra que antecede a pausa.
22
principalmente de preposições e artigos);
" b) hzòitaçõzò
sons
(E) e
marcadas
por
paixòaò
ptie.ench.ida6 pelos
(Ã) , que representam respectivamente as vogais an-
terior média aberta e central média
nasal;
c) palavras que atuam como H.eotiganizadotiaò do di¿cusi¿o
ou permitem que o falante ganhe tempo no planejamento
qüente do mesmo:
a¿óim,
subse-
que.*. dizen., dig am oò, digamos
aòt>im,
ne, não t>e.i, ¿ei •£<£;
d) impn.e.c.iéão da
tinguagem;
e) co n¿tante.¿ quzbfiaò de. e-òth.txtu.fia. e. outrai de.viaçoe.&
òintãticaò.
Muitas vezes, é bom salientar, m a i s de uma dessas manifestações ocorrem
juntas.
V.
3.1.1
Hesitações manifestadas por pausas
As pausas silenciosas
rênteses
( ).
Essas pausas,
são
silenciosas
marcadas no corpus por pa-
freqüentemente,
por uma duração maior das sílabas anteriores;
vêm
por
precedidas
isso
não
costumam ser longas.
É importante salientar que elas comumente ocorrem
ra de fronteira de constituintes 2
dentro
de
fo-
(exemplos de 1 a 5 abaixo),
unidades sintáticas onde, de forma alguma, na es-
As pausas que ocorrem nessas fronteiras sao representadas no
corpus por uma e duas barras, significando respectivamente pausa menor e
pausa maior.
E importante lembrar que nem todas as pausas sao represen-
tadas na escrita por pontuação. Vejam-se, por
exemplo, as palavras
de
SAID ALI: "A vírgula indica a pausa mais fraca, devendo-se, contudo, observar que nem todas as pausas fracas se marcam na escrita". (Gramática
Secundária da Língua Portuguesa. Sao Paulo, Melhoramentos, 1969. p.228).
23
crita poderia ser utilizado qualquer sinal
de
pontuação
in-
dicando pausa.
Usando
se-ia que são
da oração
tes
a
terminologia da gramática tradicional, dir-
muito
freqüentes
(sujeito e predicado);
entre
termos
antes dos termos
(complemento nominal e verbal);
e, ainda, por exemplo, depois do
os
depois
que
de
essenciais
integran-
preposições
em orações adjetivas e
subordinativas.
Observou-se
ocorrer antes mesmo
que
que
algumas vezes
a
palavra
essas
pausas chegam a
termine, como no exemplo
(2).
EXEMPLOS:
(1)
Ta // então nos tamos àqui na casa da Margarete/ pra conversar alguma coisinha sobre ( ) um assunto de ( ) ... que a gente possa discutir / nao e então** / Margarete // (F.A, p.64,
l? 1.).***
(2)
// mas na realidade / o problema dela é de ( ) instrumental /
né // é o ( ) o verbal // e o ( ) é o ( ) ... e não tá habili ( ) nao tá habilitada pra ( ) pra ( ) ... nao se acostumou
a se expor pra conversar / pra falar // (F.B, p.65, 83 1.)
(3)
// mas ele diz que ( ) toda a vez que ele vai escrever / ele
( ) tem assim ( ) uma empolgaçao por aquilo que ele vai escrever / (F.D, p.81, 1? 1.)
(4)
// então é um trabalho assim que eu ( ) eu acho que ( ) é um
trabalho maldito / é um trabalho neurotizante / um trabalho
( ) obcedante//às vezes você fica ( ) fissurado naquilo //
(F.D, p.81, 24a 1.)
*Nesse exemplo, além dos parênteses, aparecem também as reticencias. Sao usadas sempre que se quer indicar que a estrutura ficou inacabada.
**Entoação interrogativa (não é então?).
***F.A
= Falante A;
1? 1. = primeira linha.
24
(5)
3.1.2
/ eu acho que as pessoas têm uma capacidade muito grande em
( ) sm ( ) em (E) se adaptar ou ( ) ou criar afeto por coi" sas e ( ) até por objetos // então / como hã essa ( ) essa
necessidade do casal / essa lacuna / e as pessoas tem uma ( )
capacidade muito grande em ( ) criar afeto por coisas / (F.E,
p.86, 13? 1.)
Hesitações manifestadas por pausas
preenchidas
As pausas vim, às vezes, preenchidas pelo
dos sons
meiro.
(E) e
Tal
alongamento
(Ã), sendo pouco mais freqüente o uso do pri-
como
as
pausas
silenciosas,
estas
ocorrem fora de fronteiras de constituintes
normalmente
(exemplos de 5 a
8).
(6)
// que se torne num nível bom / num nível em que você perceba certo progresso/ e voce vai ver que ( ) ... (F.D, p.82,
7? 1.)
(7)
/ e a gente continua (E) dando a ( ) a matéria e ( ) insistindo em currículo (E) de forma que a criança precise desse
auxílio dos pais // (F.H, p.114, 10? 1.)
(8)
// então os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã)
tiverem ao alcance de ( ) de ( ) de evitar que aconteça essa
diferença de tratamento / né // (E) então pra que adotar //
(F.E, p.90, 23? 1.)
Notou-se
preenchidas
pausas
por
que,
esses
na amostra,
sons
são
de
modo
menos
geral,
as pausas
freqüentes do que as
silenciosas.
Para se ter uma idéia dessa diferença de uso, a tabela
abaixo registra a ocorrência numérica individual
de
ção dentro das primeiras 2 00 palavras dos diálogos.
hesita-
25
TABELA DE FREQÜÊNCI-A DAS HESITAÇÕES
PAUSAS
SILENCIOSAS
FALANTES
ENTRE OS FALANTES
PAUSAS
PREENCHIDAS
( )
(E)
TOTAL
(A)
A
16
-
1
17
B
15
2
-
17
C
13
3
-
16
D
2
-
-
2
E
1k
3
-
17
F
11
2
-
13
G
8
8
-
H
5
1
1
7
1
1
1
-
2
85
20
TOTAL
O'DONNEL e TODD
afirmam
16
•
2
que,
107
normalmente,
as pausas
preenchidas são mais freqüentes, uma vez que as pausas silenciosas tendem
a
ser ambíguas, pois
podem ser
interpretadas
pelo ouvinte como um sinal de que o outro lhe está cedendo a
posição de falante. Por outro lado, afirmam que quanto maior
for o grau de conhecimento, intimidade entre os interlocutores
menor
(p.67).
será
o
número
encontrado
Essa observação final
talvez
de pausas
preenchidas
venha a explicar essa
somatória de 85 pausas silenciosas contra 22 preenchidas pelos sons
(E) e (Ã), pois, conforme se observou, entre os fa-
lantes da amostra, ê grande o relacionamento de amizade.
26
A tabela acima
entre os falantes —
mostra
a hesitação bastante
freqüente
dos nove, apenas três hesitam pouco.
0 porquê da maior ou menor hesitação, conseqüentemente
da maior ou menor fluência na linguagem oral, seria tema. para
um estudo â parte. Um dos itens a serem considerados
giraria
em torno das questões colocadas neste trabalho, relativas às
maiores
ou
menores
Poderia
também
reflexões
fixar-se
na
sobre o assunto
do
discurso.
hipótese de que o maior
da escrita leva a um maior domínio da oral
domínio
(o falante D, por
exemplo, que utiliza pouca hesitação, ê escritor).
t
3.1.3
Palavras que atuam como reorganizadoras
do
discurso ou permitem que o falante ganhe tempo
na organização subseqüente do mesmo
As palavras
né, não Ae¿,
u í
d¿gamoA , d¿gamo¿
a¿&¿m,
que.si dlz<tfi,
lã, acompanhadas ou não de hesitação
(alon-
gamento de suas tônicas), normalmente são usadas na oral com
o objetivo principal de permitir que o falante ganhe tempo na
organização
do
que pretendem dizer.
Muitas dessas palavras
atuam como reorganizadoras do discurso.
A
~
"k
A maioria dessas palavras e expressões e das que se apresentarao a seguir, nao aparece na amostra unicamente como produto do nao planejamento do discurso. De modo independente e ãs vezes ate mesmo paralelo, essas palavras desempenham também varias outras funções. Por isso,
nao se farã qualquer espécie de levantamento quantitativo com relaçao as
mesmas.
27
® Ai¿>¿m
Não se notou na palavra a¿¿tm
pecial quando é proferida
qualquer significado
com ama queda
de. tom
es-
ba¿ tante. te.n-
ta. Viria funcionando apenas como uma especie de piee.nch.edofia de. pauóa,
vindo, nesse caso,
normalmente
ligada ao verbo
ou ao substantivo que a precede (exemplos 9 a 14).
Ja, quan-
do quando proferida num tom que sobe na tônica, quando
da ao adjetivo ou advérbio que comumente a sucede,
liga-
observou-
se que a palavra aòòim parece vir também modalizando
a
fala
(exemplos 15 e 16). Sua principal função seria a de se obter
"uma caracterização modal
para
como atenuadora de "força
ilocucionária". 3
(9)
o que
se
lhe segue" •
Viria
// tem assim ( ) outras ãreas mais ( ) talvez (Ã) técnicas /
né / (Ã) biológicas / ou coisa assim / (F.B, p.71, 28? 1.)
(10)
(E) por exemplo / foram bem criadas / ali / ne / que você estava falando// da criança assim que ( ) ...
(11)
(F.C, p.88, 26? 1.)
// e nós vemos coisas assim ( ) coisas (E) engraçadas até /
(F.F, p.96, 28? 1.)
(12)
É / / e a ( ) e o ( ) e
assim pra ( ) pra encerrar / assim a
mensagem que a gente como obstetra / (F.F, p. 100, 22? 1.)
"MARTINS, A.S.N. Algumas características do Português Falado.
In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos lingüísticos. Campinas, Pontifícia Universidade Católica, 1982. p.18, 19.
Ao apresentar exemplos do assim como preenchedor de pausa e como modalizador, não menciona critérios. Torna-se difícil, em alguns casos, perceber a distinção. Examinem-se dois de seus exemplos: "Ficava aquela esquina, assim como uma meia dúzia de homens olhando um para o outro . . ."
"Urrou, assim por meia hora" (p.19). 0 primeiro exemplo ê dado como sendo modalizador e o segundo como preenchedor de pausa. Acredita-se, no entanto, que esse segundo também possa ser classificado como modalizador,
considerando que o falante nao quisesse ser categórico, não quisesse precisar o tempo.
28
(13) / tudo isso / já é uma coisa assim que ( ) ...
• 14? 1.)
(F.H, p.103,
(14)
5? serie / tudo / (E) pessoas assim que ( ) (Ã) os pais
jã tao pensando em preparar pra faculdade /
(F.H, p.106,
23? 1.)
(15)
/ que nao ( ) não ( ) nao ficam incutidas tanta coisa / né /
assim ( ) camufladas / (F.A., p.69, 15? 1.)
(16) Olha / a ( ) a adoçao / era uma palavra que ( ) vivia assim
bastante distante da gente / (F.F, p.94, 54 1.)
®
VIgamos
0 digam06 é também utilizado freqüentemente na
gem oral com o objetivo que se tem na escrita
—
lingua-
o de esta-
belecer uma suposição. Nesse caso, o tom normalmente sobe na
tônica e o ritmo se acelera
(exemplos 20 e 21).
Quando usado mais para permitir ao falante aquele tempo
necessário,
vem caracterizado
pela
tom mencionada com referência ao aòòlm
Nos dois casos o dlgamo¿
mesma queda lenta de
(exemplos de 17 a 19).
vem, ãs vezes, marcando um ponto de
quebra na estrutura, vem indicando a reorganização das idéias.
(17)
/ uma ( ) uma mãe (E) digamos / (E) em relação a um filho
adotivo / (F.E, p.86, antep.l.)
(18)
// então os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã)
tiverem ao alcance de ( ) de ( ) evitar que aconteça essa diferença de tratamento / né // (F.E, p.90, 234 1.)
(19) Mas / Ëdson / (E) já é praticamente ( ) ... digamos ( ) dentro de um contexto social / existe casos /
(F.G, p.98,
14? 1.)
(20)
/ a respeito de sua boa vontade / da sua ( ) ... (E) digamos
do amor que voce ( ) ... da doaçao / que voce tá fazendo / (F.G,
p.98, 18? 1.)
(21)
Mais tarde / né / quando a criança ... digamos se isso for
escondido da criança / mais tarde / a criança vai sentir mesmo um ( ) digamos* um impacto // (F.E, p.87, ult.l.)
Odigamos parece vir aqui também modalizando a fala.
29
© VigamoA
aòòlm
O cUgamoA e o a¿i,im aparecem às vezes formando uma única
expressão. É um recurso para se ganhar m a i s tempo na organização do pensamento.
(22)
/ e ( ) podia digamos / ate nao preparar o ( ) o ( ) o ( )
digamos assim / o ( )a ( ) a oraçao inteira/ né /
(F.B, p.74,
30? 1.)
(23)
Bom / resumindo / digamos assim / (E) voce em termos de papai agora / (F.G, p.100, 17? 1.)
® Quen. dize.fi
0 quefi dizun. vem freqüentemente indicando um novo rumo
sintático,
marcando
uma
mudança
estrutural. Ê nessa
função
considerado como reorganizador do discurso, como elemento
tif icador, aparecendo sempre depois de uma construção
ré-
frasai
truncada, cujo desenvolvimento foi omitido.
(24)
/ ( ) mas ( ) depois eu fui (E) ... quer dizer / fiquei lá
um ano e meio // (F.B, p.65, 17? 1.)
(25)
// então / era ( ) ... quer dizer ( ) era coisa mais específica sobre teatro // (F.B, p.66, 34? 1.)
(26)
// eu crio as coisas ... quer dizer / deixo jogado num canto / (F.D, p.84, 21? 1.)
É
pela
entoação
que
se
percebe quando o que.fi di.ze.fi
vem marcando um ponto de quebra, a mudança de rumo do pensamento.
Notou-se que sempre que o falante deseja dar a idéia
30
de retlfilcaç.ão4 o tom
nessa
expressão
torna-se
cora uma queda acentuada em relação ao tom
usado.
0
ritmo
coòtuma
supressão da vogai l.
acelera'i-òe,
que
dei ce'ndent e
vinha
havendo normalmente a
Além disso, a parte retificada
ma iniciar-se no mesmo tom mais alto anterior a essa
são.
sendo
costuexpres-
Observe-se o gráfico:
^ k d '
\zer
© Vamos dlzo.fi
O vamoó dl zun. aparece ora como elemento
Indicando
malò
uma ¿upoòlção.
ção característica
mesmo modo
em
do
ora
No primeiro caso tem a entoa-
quer dizer
retificador, aparecendo do
pontos de ruptura sintática
segundo caso, quando ovamoé dizer
(exemplo 27).
expressa a Idela
ção e o que está suposto vem a seguir,
última sílaba do dizer*
retificador,
(exemplo 28).
o
de
No
òupoòl-
tom ê mais alto na
Examine-se
o
gráfico
a seguir:
4
0 quer dizer aparece na amostra, ora introduzindo uma conclusão,
ora uma explicaçao. Ao falar do quer dizer como elemento explicativo,
MARTINS apresenta-o como tendo o mesmo valor das partículas explicativas
ou seja, isto é(p.l6). Essas partículas, todavia, podem ser substituídas
pelo quer dizer apresentado nos exemplos (24), (25) e (26) sem que sua
função retificadora se altere. Como elemento retificador parece nao haver problemas quanto ao reconhecimento de suas características entoacionais. 0 difícil e perceber entoacionalmente a distinção entre essas duas
outras funções, pois mesmo semánticamente, em muitos casos, hã dúvidas
nesse sentido.
*Observe-se que o assim catafõricoj bem como o digamos e o vamos dizer, quando estes últimos indicam uma suposição e a coisa suposta vem a
seguir, tem uma característica entoacional em comum: o tom sobe na sílaba tônica final. Parece possível afirmar que o significado sistêmico desse contorno entoacional e o de introduzir uma informaçao nova que vem a
seguir.
31
(27)
// eu sei que a ( ) a situação ( ) ... Vamos dizer ( ) o dia
em que a Sheila veio pra nós / a correria que nós tivemos atras
de documentos e papéis / (F.F, p.98, 303 1.)
(28)
// não importa/ Vamos dizer / se seje da gente / se sejede outro // (F.F, p.98, 29? 1.)
® Wé
A expressão
ne, que costuma aparecer com grande inci-
dência na linguagem oral, é mais freqüentemente usada na função fática
(classificação de Jakobson) 5
do receptor, saber se o compreendeu bem.
de
testar a opinião
Dentro dessa mesma
função, é usada, muitas vezes, no sentido de confirmar-lhe a
atenção, de prolongar a comunicação.
em que aparece "veicula
uma
Isso quando o contexto
mensagem de simplicidade corri-
queira" 6 .
Outras vezes,
nhando
a
função
de
ainda, observou-se que o n é vem desempepfieenc.he.don. de. pausa,
caso dos exemplos
abaixo.
Verificou-se
que,
distribucionalmente,
ne. aparece dentro orações,
entre
uma oração
a
e
expressão
outra
ou
no
final de períodos.
Na posição mediai observou-se
o
mesmo fenômeno acen-
tuado por MARTINS: "há uma pausa acentuada que quebra o ten-
5
JAK0BS0N, citado por GUIRAUD, P.
& K.Paul, 1975. p.7.
6
MARTINS, p.16.
Semiology. London, Routledge
32
sionamento da organização sintática e ne. deixa de ter a mesma força entoacional que o de sua posição final" 7 .
Ao perder a força entoacional, o ne. ê proferido em tom
mais baixo em relação
mente,
de
forma
ao
das palavras anteriores e, normal-
alongada,
demonstrando hesitação
(exemplos
29 a 32).
(29)
// e ( ) a gente tem visto muito no teatro /ne / que
(E)
ainda que i uma ãrea onde as pessoas tem que se expor / ne /
mais verbalmente // (F.B, p.64, 9? 1.)
(30)
/ e ( ) e expressarem verbalmente / o seu pensamento / ne /
que a nossa ( ) que a escola / tem assim / muita deficiencia
nesse aspecto // (F.B, p.64, 7? 1.)
(31)
Isso é verdade // e a gente concorda / né / porque a sociedade em geral / eu acredito / (F.A, p.64, 14? 1.)
(32)
Eu vou pegar ... eu ( ) gosto muito de citar as pessoas /
nê / os escritores / (F.D, p.79, 53 1.)
*
Não ò e.Z, ò<lá. lá.
As expressões não ò e.Ã. e ¿e-c £5, como o d¿gamo¿,
di.ze.si e o vamoò
o queà.
d-íze.fi, denotam mudança de rumo do pensamento
e ocorrem em pontos de ruptura da construção sintática. Nesse caso, não costumam vir seguidas da conjunção integrante ¿e.
e, nas palavras de MARTINS, são "asserções atenuadas que modalizam o ato de saber" 8 , além de expressar uma certa angústia, desgosto, crítica por parte do falante. Esse conteúdo é
transmitido nos exemplos transcritos a seguir:
(33)
7
// e então / quando e alguma coisa mais cerrada / eu chego
até a ( ) ... não sei. / no final fico (Ã) desnorteada / chego até a chorar / porque ( ) porque a gente ( ) ... sei lá
II você leva ( ) ... (F.A, p.65, 34? 1.)
MARTINS, p.15.
8
MARTINS, p.18.
33
(34) A gente aprende ./ mas nao ( ) ... não sei / e como se ( ) ...
sei la I a. propria escola nao te motivasse a isso // (F.H, p.
104, 13? 1.)
(35) Nao / nao // simplesmente eles ( ) ... sei lá / lêem em algum lugar / veem que no outro país e assim //
(F.H, p.HO,
7? 1.)
3.1.4
A imprecisão da
Ainda
como
linguagem
decorrência
da
falta
de
planejamento do
discurso oral, ê comum o emissor acabar deixando suas idéias
um pouco vagas.
A norma social
tolera
essa imprecisão maior que cos-
tuma ocorrer, talvez por não dispor o falante,
como
na lin-
guagem escrita, do mesmo tempo que lhe permite encontrar palavras adequadas que traduzam o seu pensamento de forma mais
fiel.
Note-se que muitos falantes, ou por sentirem
dade em se expressar,
ou
por
considerarem
certos
dificuldetalhes
desnecessários, costumam usar de expressões que deixam
cons-
tituintes com valor semântico vago.
(36)
// meu Deus / eu nao posso ser tola// eu sei falar muito bem /
tudo // mas se eu falar dessa maneira / (F.A, p.74, 6? 1.)
(37)
// e ( ) tem vocabulario reduzido / pouca leitura / tudo /
né / (F.B, p.65, 11? 1.)
(38)
/desde o primario / e mesmo 5? série / tudo / (F.H, p.106, .23?
O vocábulo tudo
distinta da que teria
em
nos
(36),
(37) e
(38) tem uma
entoação
casos em que é sujeito ou comple-
mento. Nesses exemplos há certas unidades sintáticas
idênti-
cas colocadas em seqüência, com ou sem a presença da
conjun-
ção coordenativa
e, tendo todas elas idêntico. contorno meló-
34
dico. O -tudo ocupa o lugar de uma dessas unidades
repetindo
o
contorno melódico das anteriores e apresentando
um conteúdo semântico vago
lor pragmático de
0 tudo
ma¿6,
com
terísticas
o
sintáticas,
etc.).
aparece
mesmo
(corresponde mais ou menos ao va-
ainda
valor
como
parte da expressão
semântico
e com as
mesmas
e tudo
carac-
entoacionais.
(39)
/ porque o nascimento e uma coisa assim linda/ mesmo / ne //
é aquele momento de felicidade/ aquela espera e tudo mais //
(F.F, p.99, 23a 1.)
(AO)
/ eu que lido com esterilidade feminina e tudo mais /
p.100, 25a 1.)
(41)
/ em que os pais têm tempo pra atender / pra cuidar / pra
orientar nas lições e tudo mais 11
(F.H, p, 114, 54 1.)
Essa imprecisão da linguagem
las expressões
aquilo,
e tal,
não ¿e-i o que.,
tal
e
vem
(F.F,
ainda traduzida pe-
e i.000 e aquilo,
ou lòòo
ou
cotia.
Essas expressões, como nos dois casos mencionados acima, também apresentam o mesmo contorno entoacional de unidades sintáticas precedentes, ocupando com valor semântico
in-
determinado o lugar de uma dessas unidades.
(42)
/ os veteranos ficavam tudo assim // pô / mas que pergunta
idiota / pô / mas que não sei o quê I! (F.B, p.66, ult.l.)
(43)
/ exigiu-se uma série de materiais pra poder funcionar um ( )
os cursos profissionalizantes / e isso e aquilo II (F.I,
p.105, 74 1.)
(44)
// quem ainda nao pensa / quem não tem a necessidade financeira de um emprego / ou isso ou aquilo / nao vai querer ficar na escola // (F.I, p.108, 244 1.)
(45)
// então / e aí / dependendo da educaçao que também foi dada /
desenvolvimento da criança/ e tal / né / (F.E, p.88, 64 1.)
(46)
/e como se minha mulher tivesse tendo um parto / né // o
nervosismo nosso / tal e coisa / e tudo mais / e nenê / (F.F,
p.98, 324 1.)
35
(47)
-
// eu cheguei a procurar terapia / assim achando que eu era
uma pessoa doente / não sei o que / e tal /
(F.B, p.65,
14? 1.)
(48)
// procuram terapia / procuram psicólogo/ procuram não sei o
que não sei o quê // (F.B, p.65, 6? 1.)
(49)
/ e ela acompanha as crianças todo dia// o meu nenezinho fez
isso I e tal I tal / (F.F, p.99, 34? 1.)
A palavra
vago.
Em
¿¿¿o
(49) e no exemplo
tecedente no diálogo.
elementos de uma
(50)
também ê usada com conteúdo
semântico
(50) abaixo, ela aparece sem an-
Pela entoação ocupa o lugar de um dos
enumeração.
// então você vê ... você ouve muita musica / você vê isso /
você vê mais teatro ou ( ) a ( ) teatro não / mais futebol do
que teatro // (F.A, p.69, 35? 1.)
Indicando ainda essa idéia de imprecisão é interessante apontar o uso da expressão tá
(que
no
exemplo abaixo não
deve ser confundida com a forma abreviada do verbo estar, na
3§ pessoa do presente do
Indicativo).
A amostra não tem registro dessa expressão com aquela
função de "feedback"
com
que é comum na oral.
Também não é
usada com a função do ne de prolongar a comunicação.
Em
(51), o tá apresenta mais ou menos a mesma
ção dos verbos que a cercam,
teria nas funções acima.
distinta,
Por isso
entoa-
portanto,daquela
parece
vir
que
representando
parte de uma mesma seqüência de ações.
(51)
/ um menino que escreve / daí ele fez um roteiro / eles decoraram / tã / e apresentaram // (F.B, p.75, 89 1.)
36
Essa imprecisão que costuma ocorrer na oral,
igualmente, pelo uso constante da palavra
revela-se
co-¿4a; ela pode se
referir a tudo que existe ou pode existir no Universo.
Por
esse motivo é usada em substituição a palavras que seriam mais
exatas.
É um "substantivo
coringa"9.
(52)
// principalmente / numa ( ) argumentaçao assim / bastante mais
( ) forte / chega num ponto que eu ( ) tipo assim / uma coisa que eu ( ) eu chego ati a perder mais ou menos o ( )o contato // (F.A, p.65, 32? 1.)
(53)
/ e com esse medo / com essa ( ) coisa que surgiu /
(p.69, 9? 1.)
(54)
/ agora esse do ( ) dos pais assim / eu acho Uma coisa / sei
la / eu acho que talvez seja das coisas mais graves que exista // (F.H, p.95, 11? 1.)
Vê-se na amostra
ainda
(F.A,
o uso de sílabas que se repe-
tem representando possivelmente várias
orações:
(55)
// tem aquele poder / mas chega lá / bã bã bã II bã bá bã II
bã bã bã // (F.A, p.73, 42? 1.)
(56)
// e nao é... e ( ) e esse ímpeto ... pode ser que tenha ...
a pessoa fale // te te tê 11 te te te /1 mas ela nao tem aquela capacidade / como diz/ de organizaçao// (F.A, p. 74, 2? 1.)
9
Esse termo ê usado por Diño PRETI. Ao exemplificar o "truncamento frãsico" que costuma ocorrer na linguagem oral, observa o seguinte:
"Note-se o nível do vocabulário, incluindo um 'substituto coringa' (negocio), de uso abusivo na fala atual, servindo para as mais diversas
acepções ..." "- Nao sirvo para isto... estas coisas nao se dao com o meu
gênio... Estou a tremer como se fosse o negócio comigo... 229". (Sociolingüística; os níveis da fala. São Paulo, Nacional, 1975. p.97).
57
3.1.5
Quebras de estrutura
Constantemente na oral verificam-se quebras de estrutura.
Neste capítulo,
ao
se falar
nessas
quebras,
em mente chamar-se a atenção para as estruturas
das, inacabadas, que ocorrem pela
falta
de
tem-se
interrompi-
planejamento
do
discurso.
Não se quer enquadrar aí
os
casos de orações que têm
partes implícitas que são recuperáveis em virtude do contexto lingüístico. A produção de tais orações advém, como afirma Lyons, da "competência de elipse"
do
falante.
ser capaz de se expressar através de frases
Este deve
"gramaticalmente
incompletas", mas significativas, coerentes. Como
a essa competência que o falante deve ter,
respostas elípticas.
cita
ilustração
o
caso
das
Em resposta à pergunta - "When are you
leaving?", dir-se-ia simplesmente - "As soon as I can".
ria desnecessário colocar-se aí o "I am leaving"
Se-
uma vez que
já se encontra na pergunta.
Lyons fala também dessa competência do falante em relação à presença do contexto situacional.
viu na Revisão da Literatura,
contexto
( context-free
);
a
teria
escrita
de
Conforme o que se
seria
livre de tal
criar seu próprio
con-
texto, através unicamente do verbal, enquanto que na oral, a
linguagem poderia manifestar-se dependente dele
bound, context-tied, context-dependent).
aspectos
que
viria
manifestando
essa
(context-
Para Lyons, um dos
seria
a
elipse - "One aspect of context- dependence is manifested
in
what is traditionally called elipsis". 10
10
LYONS, v.2, p.589.
dependência
38
Não podem ser considerados ainda
trutura
devidas
como
a falta de planejamento,
os
quebras de escasos em que o
falante deixa, por exemplo, frases inacabadas
por
pressupor
que o outro já o tenha compreendido, em virtude deste lhe dar
qualquer tipo de sinal indicando esta compreensão.
to, como neste trabalho
não
é difícil dizer
isso ocorre;
quando
por exemplo, da oração
(57)
Entretan-
foram feitas gravações de vídeo
pode
ter
sido o caso,
(57) abaixo:
// é porque também é um problema estrutural / de ( ) de estrutura de sociedade/ que nos ... né // que nao faz desabrochar //
- Mas é que prum governo também interessa ter um povo desorganizado // (Falantes A e B, p.70, 11? 1.)
Convém observar que as frases na oral ficam
comumente
inacabadas também por interrupção do ouvinte. Há ocasiões em
que o ouvinte interrompe
o
falante,
levado
pelo
ímpeto
de
completar-lhe o pensamento. Jã em o u t r a s , o faz para não perder determinada idéia que lhe advém no momento.
a posição do outro, normalmente, usa de um volume
Para roubar
mais
alto
de voz.
(58) Seja em que época ...
[E]~
É // seja em que época for //.(Falantes C e E, p.
92, 323 1.)
(59)
-
Nao / nao // inclusive ele foi até convidado / ele faz
sorrir / então ele ...
[B]Mas é a forma que é colocado // (Falantes A e B,
p.73, 9? 1.)
Dadas essas explicitações,
interessa no momento —
já
se pode
voltar
ao que
às quebras que o falante faz, decor-
rentes da falta de planejamento.
39
O emissor, na oral, por não dispor
cessário de reflexão,
por
CHOMSKY, "â limitações
de
estar
sujeito,
memória,
todo
competência
o conhecimento
que
não
aponta
desvios
de
reflete em seu de-
tem sobre a língua, a sua
lingüística. 1 1
Quando o falante sente dificuldade
quadamente
tempo ne-
conforme
distrações,
atenção e de interesse", normalmente
sempenho
daquele
a
estrutura
concluir o seu pensamento
já
iniciada,
ele
em
completar ade-
tenta
normalmente
por outro rumo. O truncamento pare-
ce acontecer também pelo fato
de
as
estruturas
que
estavam
sendo emitidas virem, ãs vezes, subitamente associar-se a outras.
Esses pontos observados
dentro das palavras de
CHOMSKY:
"Uma gravação
arnanqueò
em {¡a¿¿o, desvios das regras, mudançai
a melo
caminho
da
estão
fala natural
(sem grifos no original) e
mostrará
assim
numerosos
de -intenção
por
diante"
(p.84).
Demarcando
essas
quebras é comum a presença de pala-
vras tais como: pon. exempto,
quen. dlzefir digamos
(sublinha-
das nos exemplos abaixo).
(60)
// mas na realidade / o problema dela é de ( ) instrumental/
n é / / é o ( ) e o verbal / / e o ( ) é o [ ) . . . é não tá habili ( ) não tá habilitada pra ( ) ... não se acostumou a se
expor pra conversar / pra falar // (F.B, p.65, 84 1.)
(61)
— Hum-hm// agora ( ) eu me referi problema / criança problema no sentido que ( ) ... (E) por exemplo / foram bem criadas / ali / né / que você estava falando // da criança assim
11
1975.
CHOMSKY, N.
p.83.
Aspectos da Teoria da Sintaxe.
Coimbra, A.Amado,
40
que ( ) ... as vezes há pessoas que acham / que ( ) o ambiente / por exemplo / assim ( ) (E) ... do problema hereditário / seria uma coisa assim // que a criança já i problema /
porque ela já traz traços/ do pai/ da mae / já i rebelde mesmo sem saber de nada // (F.C, p.88, 24? 1.)
(62)
— E ( ) mas ( ) depois eu fui (E) ... quer dizer / fiquei lá
um ano e meio // (F.B, p.65, 173 1.)
(63)
— É // a falta nao é tao grande// e por outro lado nos dois
nao somos ... por exemplo / tem mulheres que se nao tiverem
um filho / (F.F, p.100, 13 1.)
(64)
— Mas / Ëdson / (E) já ê praticamente ( ) ... digamos ( )
dentro de um contexto social / existe casos / em que casais /
que às vezes ficaram anos tentando ter filhos / (F.G, p. 98,
143 1.)
(65)
e tem outro detalhe ... agora / 5 curioso / porque o teu colégio é de freira // (F.H, p.106, 183 1.)
(66)
// se eZe sa¿e c^e eZe foi ... se ele recebeu todo ( ) o carinho / (F.C,p.90, 13? 1.)
(67)
/ tenho que me sentar ali na minha mesa/ e pegar uma folha / e
escreuer o que eu ( ) ... aquilo que tá germinando na minha
cabeça // (F.D, p.80, 4? 1.)
i
A palavra agola, em (65), assim como o pofi zxempZo,.
digamos
e o quen. d¿zeA,
pensamento, trazendo,
conotação própria.
também
como
cada
indica
uma
a
o
mudança de rumo do
dessas expressões,
uma
Nessa oração não é advérbio de tempo. Po-
de ser tomada como uma conjunção adversativa, ou como um simples elemento
continuativo.
Observou-se que o ponto de truncamento aparece
do de alterações de volume, de ritmo de voz.
alterações,
o
falante
informa
ao ouvinte que
Através
deve
seguidessas
ignorar
toda a oração anterior ou parte dela, como no caso dos exemplos
(62) , (66) e
(67) .
41
3.1.6
Outras construções que fogem às normas da
sintaxe
Da pressa com que as idéias são exteriorizadas na oral,
como se viu
manifestadas
dos
exemplos acima, surgem quebras na estrutura
através
de frases que não terminam.
de quebra é facilmente percebido
pelo
Esse tipo
ouvinte, em virtude da
mudança de entoação a que se referiu acima.
Mas, ocorrem outros tipos de deviações sintáticas que,
às vezes, só são observadas quando se lê a transcrição do texto, pois o discurso segue um fluxo normal. É o caso de omissões de palavras e troca
de
uma forma gramatical por outra,
as quais tornam estranha e muitas vezes,
até
ambígua, a re-
lação sintagmática das orações e períodos.
Ao se mencionar essas construções
drar certas ocorrências
que,
embora
não
se quer enqua-
condenadas
pela norma
culta, são tidas como corretas por certos grupos sociais, por
fazerem parte de sua
competência
idiossincrasias, de questões
falta de planejamento.
Em
(68), somente
lingüística.
resultantes
de
Fala-se
de
desempenho,
de
Observem-se os exemplos abaixo.
pelo
contexto, pelas afirmações an-
teriores é que se percebe, por exemplo, que o sentido da oração sublinhada é mais ou menos este:
tura com a qual
Em
"...
dessa
(com quem) vocês estão no seu lar
nova cria...".
(69) há um a¿¿im que funciona pragmáticamente
como
preenchedor de pausa, indicando hesitação, e há a falta de iam
que
(ou de um de.) para formar a locução tem
(68)
que. [de.)
{¡alan.
— Ë // já que a experiência da primeira / que ainda não se
concretizou / e que ainda existe muito ( ) muita tarefa ardua / muito ( ) muita labuta pra criaçao dessa ( ) dessa no-
42
va (E) nova criatura que vocês estão no seu lar/ que não é
de vocês / (E) vai ficar só nessa*//
(F.G, p.98, 2? 1.)
(69)
3.2
/ mas ele pelo menos fazia um roteiro / pra ele ( ) pra ele
ter lógica do que ele tem assim falar // (F.B, p.74, 32? 1.)
A LINGUAGEM ORAL TEM O RECEPTOR E 0 CONTEXTO
3.2.1
PRESENTES
A presença do receptor
Conforme se apontou na Revisão Bibliográfica e se pôde constatar analisando-se a amostra,
o
emissor não se dá o
trabalho de deixar suas idéias muito explícitas quando o receptor está presente.
Isto porque sabe terá a chance de uma
adequação, uma.realimentação
que
o
imediata
da
mensagem,
uma
vez
ou
não
outro poderá reagir através de signos verbais
verbais, caso não o tenha compreendido
É lógico
que
reação do receptor.
o emissor
não
Verificou-se
bem.
espera passivamente
que,
constantemente,
pela
ele
procura testar-lhe a compreensão, através, principalmente, da
expressão né
(não é) e de outras como as sublinhadas nos exem-
plos abaixo.
Esses elementos são chamados {¡ãtlcos.
Além
de
mani-
festarem esta procura de "feedback" pelo emissor, também têm
como função captar a atenção do receptor e prolongar a comunicação.
*A entoaçao nesse final de período é de interrogação.
43
(70)
se ela entra no 2? ano / por exemplo / porque as outras escocolas compram / dao um jeitinho/ né // (F.I, p. 105, 16? 1.)
(71)
// e então eu acho / que essa uma do teatro se colocar numa
posição esquerdista / sabe / (F.B, p.72, 18? 1.)
(72)
/ ele vai / sendo bem criado / ele vai entender / ele vai receber o impacto / entendeu // ele vai receber // mas vai ser
compensado // (F.E, p.88, 11? 1.)
(73)
/ ela pode / pode reagir de uma maneira (E) (E) prejudicial
a ela própria I né it entende o que eu quero dizer // (F.E,
p.92, 21? 1.)
(74)
/ mostrar que ele e um pai adotivo // que ele tem outro pai /
certo II pra ate chegar numa ( ) num certo ponto / né / e dar
inclusive até opção / de ( ) dessa ( ) dessa pessoa até procurar quem sabe o outro pai // sabe como é que é // o pai
verdadeiro // sabe como ê II (F.E, p.92, 7? 1.)
(75)
// que a lei tirou do professor a liberdade dele / por exemplo/ decidir o que ele quer dar / como ele quer dar // entende / ele é uma pessoa/-assim / que nao participa mais das decisões da Escola // (F.H, p.104, 17? 1.)
Na oral,
o receptor.
Não
o
emissor omite tudo o que julga óbvio para
há
aquela preocupação, como na escrita, em
fazer da linguagem um código universal.
plo, o trecho do diálogo entre
página 71 do anexo, da 13
â 9?
os
Veja-se,
interlocutores
linha.
por exemA
O emissor
e B,
deixa
ã
os
verbos com sentido incompleto. As únicas palavras que aparecem ocupando a posição de complemento
são
di&¿o e
-c-i-òo, as
quais apresentam conteúdo semântico vago, pois não têm antecedente no discurso.
-Apesar de muitas informações nesse referido trecho não
terem ficado claramente expressas para quem lê a transcrição,
pôde-se perceber, não houve necessidade de o emissor
escolher
alternativas sintáticas mais explicitas, pois o receptor dava a todo momento demonstrações
sabia o que o outro estava
lingüísticas
pretendendo
claras
de
que
dizer. Essas demons-
44
trações de compreensão devem ter sido feitas também por meio
de gestos e expressões
faciais.
Conforme se apontou no capítulo 3.1.5, dada
cia de gravações
de
a
ausên-
vídeo fica difícil, muitas vezes,
quando uma oração foi deixada inacabada
jamento, ou quando por essa questão
de
por
saber
falta de plane-
pressuposição do ób-
vio por parte do falante.
Nos casos dos exemplos abaixo,
no entanto,
tenha dificuldade em descrever com exatidão
a
embora se
entoação
usa-
da, percebeu-se que há um tom ascendente na sílaba tônica da
última palavra da oração interrompida. Isso viria indicar que
a interrupção não foi feita por falta de planejamento, mas em
virtude de o falante considerar de conhecimento do ouvinte o
que ele pretendia dizer. A amostra registra,
uma manifestação do ouvinte
que
freqüentemente,
vem confirmar esse ponto de
vista.
Além disso, note-se que alguns desses exemplos registram a reação lingüística positiva
do
ouvinte, mesmo face a
essa imprecisão, o que vem confirmar a questão colocada de que
na linguagem oral o falante não precisa escolher de
alternativas sintáticas tão explícitas.
imediato
» .
(76)
/ procurar usar o humor / procurar usar a capacidade nossa
e ir jogando / que o negócio ... tipo uma semeadura / ne
Ê 1/
ir semeando // (Falantes A e B, p.72, penúlt.1.)
/
/
(77)
Ë // porque quando há exigência / começa ...
— Lógico // (Falantes H e i , p.107, 114 1.)
(78)
// e você já tem toda uma infra-estrutura montada/ então ...
— Daí vai permanecer // (Falantes H e i , p.108, 154 1.)
V
45
(79)
// mais por questão / assim / de os pais incutirem ãs vezes
. na criança // mas por ela mesmo ...
— É / os pequenos eu acho que nao// (F.H, F. I, p.109, 4? 1.)
(80)
Para // ve Margarete // mas se vem uma parte jã de ( ) de
formaçao .. . nao é então // ê difícil pra você desabrochar
uma coisa que você quase que ( ) que nunca toca//
(F.A,
p. 69, 313 1.)
(81)
Mas ê que prum governo / também interessa ter um povo desorganizado // porque daí / a partir do momento em que as pessoas começam a se organizar .. . você veja// na escola a gente
tá organizando um grêmio // (F.B, p.70, 13? 1.)
(82)
// não nasceu / deu ( ) deu as contrações ... tem que escrever // escrever ë a mesma coisa // (F.D, p.79, 17? 1.)
(83)
// podemos brigar durante quarenta anos em cima de determinadas idéias e . . . vamos encontrar o presente escritor
/ o
João Cabral de Mello Neto/ que nao acredita em inspiraçao //
(F.D, p.84, últ. linha)
(84) A gente aprende / mas nao ( ) ... nao sei / ê como se ( ) ...
sei la / a própria escola nao te motivasse a isso / / a estrutura da escola / o sistema da escola // e neste ponto / eu
acho / por exemplo que ( ) que existe a ( ) a ( ) uma certa
razão quando dizem... aí sim / talvez seja defeito da lei //
(F.H, p.104, 13? linha)
Os exemplos subseqüentes
(85 a 90) mostram que a pre-
sença do receptor também facilita o ato comunicativo do emissor, tuna vez que, se este estiver hesitante pode ser auxiliado pelo receptor na complementação do pensamento.
(85)
// então / falta uma estruturação / sei lá // falta uma
base / um conhecimento maior / quer dizer / um ( ) ...
como diz um ami ...
[ B]—
Um instrumental maior / né //
A —
Um instrumental // é // e esse daí / como diz também um
amigo meu / (p. 65, ult.l.)
(86) A —
/ e u chego até a ( ) ... não sei / no final / fico (Ã)
desnorteada / chego até a chorar / porque a gente ( ) ...
sei lá // você leva ( ) ...
[B]A —
Falta argumentaçao //
Falta argumentaçao // ou as vezes / você fica num ponco
de desespero /' que você nao consegue dizer aquilo que
você tá sentindo / direito / (p. 65, 34? 1.)
46
(87)
(88)
(89)
E —
// então vai / já vai educando a criança / já procurando entender que ( ) ...
C —
Pesar a situaçao //
E —
É / pesar a situaçao // se bem que e ( ) é ( ) é perigoso / porque esta criança nao tem ainda aquela personalidade formada / né // (p. 92, 123 1.)
F —
// porque a gente vê / às vezes / pais tão bons com filhos legítimos tao ruins / né // pais tão ruins / com
filhos tão ( ) ...
G —
Tão excelentes //
F —
Né // (p. 96, antep.l.)
F —
/ tem mulheres que se não tiverem um filho / elas
( )
elas ( ) ...
A —
Enlouquecem //
F —
Enlouquecem / né // (p.100, 24 1.)
(90) F —
// então de uma certa forma / a gente tá um pouco em
contato / e isso tira um pouco daquele ( ) ...
3.2.2
G —
Encantamento //
F —
Encan ( ) encantamento da gente / né // (p.100, 343 1.)
A presença do contexto
Frisou-se que muitas informações,
que viessem
na-
turalmente esclarecidas pelo ambiente, não necessitariam
ser
verbalizadas pelo emissor;
a referência
as
a
determinados ob-
jetos ou pessoas, por exemplo, poderia logicamente ser feita
através de simples pronomes
(com a colaboração
de
um gesto,
um olhar), o que traria a incompreensibilidade ao texto oral
quando transcrito. A amostra, no entanto, não evidenciou muito esse aspecto, talvez, dada a pobreza do cenário
vações foram feitas só entre quatro paredes)
mente, pelo fato de o assunto
sobre
o qual
ou,
(as
principal-
estavam
não se referir ao ambiente, ser mais abstrato.
gra-
falando
47
Mesmo assim, em um dos diálogos aparece nesse sentido
um exemplo interessante.
considerações claras
O
sobre
as proposições lançadas
falante
H
(p.104) vinha tecendo
a Lei 5692.
passam
Porém, subitamente,
a não se coadunar com as an-
teriores; parecem não fazer mais sentido.
bulos, motivado
meio
de
pela
É que, sem preâm-
presença do gravador,
um simples olhar,
ele
muda
o
certamente
por
tópico do discurso e
passa fazer referência ao fato de a conversa estar sendo gravada .
3.3
A LINGUAGEM ORAL UTILIZA-SE DE RECURSOS PROSÓDICOS
Nos itens antecedentes, analisando-se a amostra, procurou-se demonstrar
o
que advém no Português falado do fato
de o discurso não ser planejado antes do momento de sua produção e de contar com a presença
do
O mesmo pretende-se aqui, em relação
receptor e do contexto.
ao
fato de a linguagem
oral utilizar-se do meio fónico.
Utilizando-se de sons, através dos
cos
(o tom, volume, ritmo), conforme
se
recursos
prosódi-
verá pelos exemplos
abaixo, o falante consegue:
1) transmitir
aqueles problemas
que
sua
mensagem,
surgem
por
mesmo
através
de
todos
questão de o discurso não
ser previamente organizado;
2) passar, sem preâmbulos,da narração ao discurso direto, vivendo situações diferentes de diálogo;
3) sinalizar um conjunto amplo de significados.
48
3.3.1
Recursos prosódicos como forma de suprir as
falhas decorrentes da falta de planejamento
Ao escrever, ao registrar
marcas
no papel, o emissor
por meio do canal visual, de um modo ou de outro, tem controle da forma com que suas idéias estão sendo colocadas.
Tem
a chance de apagar, riscar, modificar a seqüência, a concordância das palavras, caso perceba estarem estas incompatíveis
com
as
regras exigidas pela sintaxe. Na oral não há essa pos-
bilidade. 0 falante acaba, muitas vezes, esquecendo a disposição das palavras que proferiu,
por exemplo,
gundos.
se mencionou, e se pôde ve-
Além do mais,
conforme
há alguns se-
rificar pelas ilustrações, não há tempo para a
reflexão—as
idéias têm de ser lançadas como surgem na mente.
A seqüência normal do discurso, em virtude dessa falta de planejamento, é freqüentemente interrompida.
Nos pon-
tos de ruptura há a inserção constante de elementos característicos da oralidade, tais como os citados:
por exemplo, o
aòòim modalizador da fala, o preenchedor de pausa, usado com
o propósito de o falante ganhar tempo
discuso subseqüente; o qu.Q.fi dlze.fi
na
organização de seu
no papel
de
reorganizador
do discurso, etc. Esses elementos colaboram com o ouvinte na
montagem do discurso.
Para
observar,
essa
mais
montagem,
importante
no
entanto,
ainda
seria
pelo
o
que
auxílio
se
pôde
prestado
pelos recursos prosódicos. Verificou-se na amostra, por exemplo, que a palavra aòòlm apresenta-se com um tom mais elevado
na
segunda sílaba, sempre
que
o falante tem o propósito
de dirigir a atenção do ouvinte para suas palavras
subseqüen-
49
tes
(função catafórica).
oposta
Quando,
(função anafórica)
descer.
Veja-se
ainda
o
tom
porém,
nessa
usado com
intenção
mesma sílaba costuma
o caso do que.fi dize.fi.
Como
elemento
retificador, reorganizador do discurso, apresenta um contorno melódico descendente, com uma característica muito
ficativa
(pelo menos na amostra):
a profundidade
signi-
que
há na
z <¿fi.
queda da sílaba
Observou-se que sempre que o falante, de alguma
forma,
interrompe a seqüência normal de seu discurso, para que o ouvinte vã estabelecendo a ligação entre as idéias, ele altera
o tom que vinha usando, o ritmo, ou ambos, jogando também com
o volume.
Desta forma, o ouvinte
falante deixou
a
é
levado a perceber que o
estrutura inacabada para tentar
expressar-
se melhor através de outro rumo, para intercalar alguma outra
idéia, ou
ainda,
anterior.
por exemplo, para retificar
uma
Se esses pontos não fossem assinalados
mente, o ouvinte não conseguiria
sagem pretendida.
afirmação
prosódica-
entender com clareza a men-
Tome-se por base a leitura
(sem a audição
das respectivas fitas) de muitos trechos transcritos no anexo,
em
que
se
evidencia esse problema de falta de planeja-
mento .
Os exemplos
(91) e (92) vim ilustrar o caso de elemen-
tos que, embora contíguos, não fazem parte
tuinte
do
mesmo
consti-
imediato:
(91) Mas e a forma que e colocado // porque ele tã numa posição
já ( ) de ( ) / em termos assim ( ) digamos / de força / ou poder / ou qualquer ooisa semelhante // (F.B, p.73, 113 1.)
50
Nesse exemplo, o falante está comparando o Chico Anísio ao Presidente da República.
semeZhante
Ouvindo-se a fita, percebe-se que a palavra
não vem
complementando
a
quaZquer
expressão
coisa,
isso,
acredita-se, pela elevação de tom que ocorre na palavra
¿a
col-
(diagrama abaixo) e pelo seu ritmo breve.
Acompanhando-se o raciocínio do falante, pelo contexto geral, vê-se que s zme.Zha.nte., embora deslocada, vem qualificar a palavra posição,
da preposição de.
do receptor,
ao
apesar da presença do advérbio jã
e
Idéia que pode ser confirmada pela reação
dizer imediatamente, referindo-se
Anísio, a seguinte frase:
ao
Chico
"Semelhante / / ele galgou isso / /
(ver Anexo) .
Observe-se
(92)
ainda,
o exemplo abaixo:
— Teve ( ) teve um ( ) um alemao ai / que veio para uma firma
aí / pra ( ) técnico assim / né / e eu sei que ( ) ... que tã fazendo um curso / ne / que meu marido tã fazendo / e daí / sei
que ( ) diz de um dia pra outro / diz que o técnico foi embora // (F.B, p.77, 31? 1.)
Note-se que em
(92)
a oração sublinhada pode parecer
Subordinada
Substantiva.
Porém, através do seu destaque, pela referida
contraposição
um complemento
da
anterior —
uma
de tom, de ritmo, de volume, percebe-se tratar-se de uma
ção
Varentetlca,
uma Adjetiva
Explicativa.
mais acelerado, o tom e o volume mais altos:
0 ritmo
ora-
torna-se
51
ritmo mais acelerado,
volume mais
alto
^
que ta fazendo um
~~
^
TOM MÉDIO
e eu sei que M
x
so /
'
•. •
i
e
!
Nesses dois exemplos, como se viu, os recursos prosódicos ajudaram a indicar
a
verdadeira relação sintática
tre as palavras do discurso.
Em
(93) e
(94) vêm
en-
assinalando
a idéia de fiztt^icação:
(93)
e ele foi fazer uma ( ) (TS) uma reportagem // uma reportagem // é / foi dar uma ( ) palestra lá na ( ) Universidade //
(F.A, p. 66, 10? 1.)
(94)
acha que todo o mundo e bebezinho / porque ele conseguiu um
( ) um lugar ao sol I! ao sol / né // que sol // (F.A, p.70,
antep.l.)
Para indicar a correção, o falante repete o que deseja corrigir num tom mais baixo e descendente.* Usa também de
um contraste de ritmo.
Em
(93)
como vinha falando em ritmo
mais lento, repete a unidade sintática uma n. up o fita g em em ritmo acelerado.
Em
(94) dá-se o contrário: quando ao ¿ole. re-
petida, o ritmo torna-se mais
lento.
*Em um trecho do diálogo do falante E, que nao consta do anexo,
há um exemplo em que o uso de recursos prosódicos também assinala a idéia
de retificação, só que de forma diferente: Você dá / dá// dá brinquedo
pra ela / dá brinquedo / né / dá brinquedo / dá uma mesada // uma mesada //. A palavra brinquedo nao é proferida pela última vez em tom mais
baixo e descendente. 0 que há é o seu aceleramento de ritmo: através da
supressão da vogai o, há a sua junção com a oraçao dá uma mesada. Essa
mudança rápida de ritmo, somada ã. ênfase que se verifica pelo maior volume e alongamento colocados a vogai tônica de mesada, é que dariam a
idéia de retificação, uma preferencia pela mesada. Para reforçar a idéia
de retificaçao, a unidade considerada correta vem ainda repetida num tom
mais elevado, mais agudo.
dá b r i n
TOM MÉDIO-»
uma me
I que
__
L do / né . /
dá b r i n
Çâs uma
IquedJ
Ime sada //
\ sada //
52
ritmo mais acelerado
TOM MÉDIO
uma r e p o r
\ta
\gem
ritmo
3.3.2
mais
//
lento
Recursos prosódicos como forma de assinalar
troca de papéis ou de situações do diálogo
Os falantes
costumam
calar, sem preliminares,
o
interromper a narração e interdiscuro direto.
lugar das pessoas da citação.
Observou-se
que
nem
péis.
Falam por elas
sempre
diferentes de diálogo, na oral,
Colocam-se
a
dá-se
vivência
no
(95).*
de situações
por essa troca de pa-
Muitas vezes, o falante transporta-se para uma situa-
ção de diálogo
mesmo participou no passado.
De
repente, passa a falar como se dirigisse ao interlocutor
da-
quele momento
de
que
ele
(96).
Na amostra,
esses
dois tipos de representação, é im-
portante assinalar, são expressos através da elevação do tom,
do volume de voz e do aceleramento do ritmo.
*Vejara-se nesse sentido mais dois exemplos da falante E, que nao
constam no anexo: - / ela teria outra ... ah / pera a% / opa // nao vou
largar / ter esse filho / nao // aí pelo menos ... nao e / / — mas mesmo
com essa atençao / aí surge aque ... opa II tã faltando alguma coisa //
o que ë // é o filho //
53
3.3.3
(95)
—
(96)
e que as ve ( ) as ( ) / sabe // poxa / mas eu to falando de
coração / voce tã falando de cabeça / como é que a gente ...
não tem condiçoes de se entender//
(F.B, p.76, 35? 1.)
Então ela vai ter aquele impacto natural de saber / põ /
este não é meu pai // pô / pensava que era meu pai // tenho
outro // vem o impacto / tenho outro II aquele ê meu pai //
este não é II então o choque / de saber que este nao é o pai
dele H
(F.E, p.90, 33? 1.)
Recursos prosódicos como forma de sinalizar
um conjunto amplo de
significados
Procurar-se-á, aqui, demonstrar o que ficou
na Revisão da Literatura,
de
tor e do contexto situacional
expresso
que além da presença do recep(ilustrados
no
Capítulo 3.2),
nem tudo precisa vir lexicalizado na oral, também em virtude
das idéias que se consegue transmitir
jogando-se
com o tom,
com o volume, com o ritmo de voz,etc.
Luiz Carlos CAGLIARI, em seu trabalho
tuguí-i,
Bla.¿¿¿&¿fio,
Oò Tonò
do Voh.-
afirma, por exemplo, que:
A escolha do tom relaciona-se com a noção
de modo (tipos de oraçoes declarativas, interrogativas), com a noção de modalidade
(asserçao de possibilidade, validade, relevancia ... do que se esta dizendo) e com
as atitudes do falante, seu comportamento
protocolar lingüístico, como: • polidez, indiferença, etc. 12
12
CAGLIARI, p.13 (Campinas, 1979. Mimeografado). Esse autor afirma ainda que um enunciado pode adquirir sentidos diferentes na medida em
que se lhe altera a entoaçao (p.27-8). Apresenta vários exemplos interessantes nesse sentido; o enunciado Apague a luz, aparece com 14 variações, entre as quais se encontram as seguintes:
//:1+ „ A/pague J /lut //
//5-
.
{iMittincía) .
V p a g u e t /luz //
M
WaciU£0)
—
/A „ A/pague . /lui II
{iãplOM)
jj
//l-^A/pagu. » Huz II
li
{lUou u. p^tveiúnií ...)
||—
54
at¿tude¿
Nas gravações da amostra, em relação a essas
expressas
pelos
recursos prosódicos, observaram-se
dos revelando, por exemplo, cnXtLca,
®
ClZtica
Em
(97)
mesmo
exa6 peiação,
enuncia-
evitu6i.a6mo.
que o ouvinte não entenda bem o signi-
ficado da expressão quel
vei
ba¿x.ah.o òanto,
acredita-se que,
com o auxílio dos recursos prosódicos, ele tenha condições de
captar o que o falante deseja transmitir —
a
idéia
dn6pie.ocupa.do.
brasileiro é
O falante assume uma atitude recriminatoria.
a indolência, a falta de iniciativa do
Essa
de que
atitude
fica
clara
pelo
brasileiro.
ritmo
lento
ciado, pelo enorme alongamento na palavra ¿ a t ó
ça de tom que aí ocorre —
há
uma
Critica
elevação
do enun-
e pela mudan-
na tônica dessa
palavra e uma volta na pós-tônica ao tom normal que o falante vinha usando na expressão.
(97)
o brasileiro é mais / assim / tipo baixar santo / né // quer
ver baixar o santo II (F.A, p.77, 25? 1.)
TOM MÉDIO
quer v e r
\.baixar
í
o/
^vE.0
^
Acredita-se que o contorno melódico do enunciado
ma possa conservar semelhante idéia de de6preocupação
aplicado também
a
GLIARI, no entanto,
outras orações afirmativas.
aci-
quando
Como diz CA-
"é difícil fazer generalizações a respei-
to dos significados dos padrões entoacionais"
(p.13).
55
Os significados desses padrões parecera estar
temente ligados
quando
ve tá
ao
velho,
seu
contexto
do
trecho abaixo
mesma forma que a expressão em
vim pouco diferente.
Não
há
lingüístico.
(97)
e
(98),
A
é
freqüenexpressão
proferida
traduz um
significado
a idéia de despreocupação.
outro lado, conserva-se a indolência;
da
Por
fala-se da pessoa ido-
sa como tendo falta de energia.
•
Exasperação
Os enunciados sublinhados nos trechos abaixo
uma certa exasperação, irritabilidade
Dada a ausência
e a impossibilidade
de
de
que
chamou
exemplo
atenção
parte do
falante.
mais exemplos semelhantes a esses
uma análise instrumental, fica difí-
cil afirmar o que exatamente
O
por
traduzem
viria
sinalizando
nesses enunciados,
essa
idéia.
principalmente
(98), foi um tom muito agudo, fora do
normal,
no
usado
pelo falante.
(98) Meu Deus do céu / a pessoa vive ali / quando vê tá velho / já
se sente inútil / (F.A, p.68, 103 1.)
Meu
^VDeus
a pessoa v i v e / \ ¿ i
ilo
X céu /
/
ve
TOM MEDIO
(99) Meu Deus II mas veja as provas das universidades II as redações que os alunos ... (F.A, p.68, antep.l.)
Meu Deus //
TOM MEDIO
l y c . ) 3 AS
^
provas
56
© Entusiasmo
No exemplo abaixo, observou-se que como em
(98) e (99),
o falante passa a falar em iam tom bem mais agudo; só que aqui,
demonstra o oposto:
entusiasmo na voz.
Para uma distinção,
quem sabe seja pertinente iam estudo instrumental sobre a distância relativa entre os vários
Por hora,
tentou-se,
tons.
através
de
uma observação mais
atenta, ver qual a variação de recurso prosódico que poderia
ser, talvez, responsável por essa diferença. Notou-se que ao
entusiasmo,
demonstrar
com as sílabas tônicas
o ritmo
era
outro;
mais
acelerado,
destacadas.
(100) eles decoraram / tá / e apresentaram // mas ficou em aima /
o público ficou assim // sabe // e então isso daí /
(F.B,
p.75, 8? 1.)
mas
sim //
I ficou
em c ima /
o público
ficou
as/
ta
TOM MÉDIO"»
e apresen)
sa
1
Iram
Il
\be II
Não houve necessidade de o falante deixar
expressa
a
reação
do
público.
exemplo, com que a palavra assim
Pela
maneira
verbalmente
vibrante, por
foi proferida já se sabe que
a peça fez sucesso.
Somente
através
riam se descrever
de um estudo mais aprofundado,
detalhes
significativos
de
pode-
variações
de
tom, volume, ritmo, as quais dariam uma idéia mais precisa do
que exatamente viria sinalizando
nificados
essas
atitudes, esses
sig-
implícitos.
Esse estudo, porém, fugiria aos objetivos m a i s amplos
dessa pesquisa.
O
que
se deseja, neste capítulo
é
frisar,
57
chamar a atenção
para
na comunicação oral.
a importância dos recursos prosódicos
É demonstrar
prosódicos é muito maior do que
que
o papel dos recursos
a parte gramatical de indi-
car, por exemplo, se uma oração é interrogativa ou afirmativa.
Esses recursos vêm suprir as falhas decorrentes da fal-
ta de planejamento —
indicam
a
ligação entre frases inter-
rompidas, palavras sintaticamente deslocadas,
o
fato de que
o falante mudou o rumo de seu pensamento, de que não pretende terminar
idéia.
mo
uma
oração,
ou
de
que
resolveu
retificar
Viu-se também que jogando-se com o tom, volume e rit-
consegue-se passar
repentinamente
para
situações
rentes de diálogo e, como disseram Vygotsky e Litowitz,
tém-se,
uma
ainda,
difeob-
a expressão de muitos significados, os quais,
para serem transmitidos, na escrita, exigiriam uma semântica
deliberada, uma diferenciação sintática,
maior.
uma
lexicalização
4
CONCLUSÃO
No capítulo da Revisão da Literatura foram apresentadas características da linguagem oral. Para se ressaltar essas características, muitas vezes, fez-se uso de comparações
com a escrita.
Observou-se
como
de a linguagem oral s er
¿empre o contexto
recursos
características
espontânea,
e o receptor
principais,
não planejada,
près entes,
o fato
ter
quase
e de utilizar-s
e de
prosódicos.
Com referência
ao
Português falado, as conseqüências
do fato de a linguagem oral ser não-planejada
se
manifestam
especialmente na ocorrência de pausas silenciosas e preenchidas
por
certos sons e expressões
(os
chamados
inglês) que são utilizados com o propósito
nhar tempo na organização de seu discurso
Representando
as
quer dizer,
ne, não sel,
Verificou-se,
o falante ga-
subseqüente.
pausas preenchidas surgiram os sons
(E) e (Ã) e palavras tais como:
sim,
de
"fillers" em
através
sei
da
assim,
digamos,
digamos
as-
lã.
observação
da amostra, que
essas palavras aparecem, dependendo do contexto
lingüístico,
desempenhando várias funções diferentes, e até mesmo paralelas, trazendo cada uma o seu conteúdo pragmático
e que o uso e o significado dessas palavras
são,
específico;
na lingua-
gem oral, na maioria das vezes, muito diferentes do que quan-
59
do na escrita,
Marcam, por exemplo, uma quebra de estrutura,
um novo inicio, colaborando com o ouvinte na montagem do discurso.
Chegou-se à conclusão do importante papel representado pelos recursos prosódicos
na
distinção
entre
os valores
pragmáticos desempenhados por essas palavras. Por exemplo, a
entoação
assim,
do
como preenchedor de pausa, como elemento
anafórico e como modalizador, é em todos os casos diferente.
Pela amostra percebeu-se também que, muitas vezes, os
falantes, por não encontrarem,
de imediato,
expressões ade-
quadas que traduzam o seu pensamento de forma mais fiel, costumam usar.de expressões de valor semântico vago, tais como:
tudo,
e tudo,
e isso
da
e tudo mais,
£ aquilo,
e tat,
etc., resultando
e tat
numa
tat,
não sei
freqüente
o quê.,
imprecisão
linguagem.
Apontou-se ainda como produto dessa falta de planeja-
mento a probabilidade de orações inacabadas e de construções
que fogem âs regras da sintaxe. Os vários exemplos encontrados
indicam
uma confirmação das palavras de CHOMSKY
de
que
"uma gravação da fala mostrará numerosos arranques em falso,
desvios
das
regras,
assim por diante",
mudanças
de
intenção
a meio caminho e
(p.84)
Todas essas manifestações decorrentes do não-planejamento do discurso
—
as
hesitações
manifestadas por pausas
silenciosas e preenchidas, a imprecisão da linguagem, as quebras de estrutura e outras deviações
sintáticas—mostram-se,
de modo geral, bastante freqüentes na amostra, que, como foi
observado no início,
superior
e
é
constituída de pessoas que têm curso
que supostamente
teriam
melhor fluência de lin-
60
guagem. Pode-se pressupor que essas características
apareçam
também, e talvez em maior grau, na fala de pessoas menos cultas. Uma pesquisa posterior seria interessante no sentido de
se verificar que fatores influenciam a maior ou menor fluencia dos falantes.
Como uma segunda característica importante da linguagem oral também responsável
pela
diferença que mantém com a
escrita, mencionou-se o fato de ter quase sempre presentes o
contexto situacional e o receptor.
Viu-se que o emissor,
a compreensão
do
receptor
tras, tais-como, entendem,
constantemente,
através
¿abe,
procura testar
da expressão né e de ou-
certo,
etc.
É a chance que
tem de realimentar a mensagem, se necessário for. Por isso e
baseado, possivelmente, ainda, nos conhecimentos que sabe com
o outro compartilha, costuma deixar muitas de suas idéias um
tanto vagas, na oral, expressando-se, às vezes, até mesmo por
meio de orações
inacabadas.
No caso de orações inacabadas,
muitas vezes,
foi di-
fícil saber-se, ao certo, terem ocorrido por essa questão de
pressuposição por parte do emissor,
nejamento.
Sentiu-se
que
ou
se por falta de pla-
paralelamente
às
gravações,
uma
»
filmagem teria sido de grande valia, pois, poderia
lado certas atitudes não-verbais
dos
ter reve-
interlocutores, neces-
sárias a uma certeza nesse sentido.
Constatou-se
que
a
presença
do
receptor
facilita o
ato comunicativo do emissor, não só porque lhe possibilita a
realimentação da mensagem, mas
também
porque, vendo o emis-
sor hesitar, poderá ajudá-lo na complementação do pensamento.
61
Quanto ã presença do contexto situacional,
frisou-se,
na Revisão da Literatura, que aquelas informações, que viessem nele contidas de modo claro, não precisariam ser expressas por palavras. Mas, a linguagem da amostra,
não apresentou evidências nesse sentido,
não
fez
alusão
a
objetos
pessoais, cujos referentes
ximo.
ou
pessoas
estariam
A linguagem da amostra
infelizmente,
como,
por
por exemplo,
meio de pronomes
no ambiente físico pró-
revelou-se
livre
do
contexto
("context-free"), talvez pelo fato apontado da abstração
do
assunto dos diálogos e pela pobreza do cenário em que se deram as gravações.
Além
da
falta de planejamento
e
da presença do con-
texto e do receptor, mencionou-se como uma terceira característica o fato de a linguagem oral
utilizar-se
de
recursos
prosódicos.
Tomou-se ciência
sos, pois, conforme
levado
a
perceber
rumo de pensamento
da
se
as
grande importância desses recur-
observou, por meio deles o ouvinte é
quebras de estrutura,
que
as
mudanças de
surgem por questão de o discurso não
ser previamente organizado. Muito mais do que isso, contando
com
a
ajuda dos mesmos,
ligação sintática
entre
o
ouvinte
as partes
consegue
que
estabelecer
a
surgem deslocadas de
sua posição no discurso.
Esses recursos são importantes, também, porque permitem ao emissor passar repentinamente da narração ao discurso
direto, sem que as quebras
por
isso ocasionadas prejudiquem
o conteúdo a ser transmitido.
Constatou-se ainda o grande papel dos recursos prosódicos no que se refere â sinalização de um conjunto muito am-
62
pio de significados.
Percebeu-se
que
lexicalização maior, na escrita, para
mesmos
seria
a
necessário
transmissão
uma
desses
significados.
Da análise dos dados
depreendeu-se
tumado ao uso desses recursos,
freqüentemente
a
a
que o estar acos-
não se planejar um texto e
contar com a ajuda do contexto
e do receptor na comunicação oral
é
situacional
que seriam as causas de
certas dificuldades encontradas, quando se vai transmitir as
idéias por meio da linguagem escrita.
Espera-se que o estudo realizado possa trazer benefícios práticos ao ensino do Português,
o professor, com respaldo
na
pois,
acredita-se que
análise feita e nas conclusões
apresentadas, possa se sentir impelido a buscar, a encontrar
caminhos
que
o venham auxiliar na superação dessas dificul-
dades encontradas
na
passagem de uma forma de produção para
a outra, da oral para a escrita.
ANEXO
Diálogo I
64
Diálogo II
79
Diálogo III
86
Dialogo IV
Diálogo V
'
94
102
64
DIÁLOGO
I
FALANTE A
Profissão: professora de inglês
Idade: 32 anos
Sexo: Feminino
FALANTE B
Profissão: professora
Idade: 3D anos
Sexo: Feminino
A —
Tá // então nos tamos aqui na casa da Margarete/ pra conversar alguma coisinha sobre
( ) um assunto de ( ) que a gente possa dis-
cutir / não e então / Margarete //
B —
Ë //
A —
E então / esse assunto / seria mais ou menos qual //
B —
A gente tava discutindo / achava assim que seria bom falar sobre a
( ) a problemática das pessoas se organizarem mentalmente / e ( ) e
expressarem verbalmente
/ o seu pensamento
/ ne / que a nossa ()
que a escola tem assim / muita deficiência neste aspecto
// e ( )
a gente tem visto muito no teatro / nê / que (E) ainda que i uma
área onde as pessoas têm que se expor
/ ni / mais verbalmente //
mas o ( ) o problema de organizaçao ( ) do pensamento
/ tá bem /
tã bastante falho / né //
A —
Isso e verdade // e a gente concorda / nê / porque a sociedade em
geral / eu acredito / na minha opinião / ela ê muito castrante/
nê //quase que
( ) de uma maneira quase que geral / a gente vê /
né // então / a gente principalmente que é mulher / também / a gente
sente essa necessidade de uma exposição maior //mas a gente vê que
é um problema geral de
( ) ...
( ) de maneira de expressão
/ né / porque
então / eu acredito queeum assunto que a gente pode dis-
cuti bem / né //
então ( ) ...
B —
Nao / porque em primeiro lugar / por exemplo / a Filosofia jã foi
[A]*-
tirada das escolas / ne / pra nao permitir que as pessoas possam
Ë verdade //
*0s colchetes usados indicam que o interlocutor, que ocupava a posição de ouvinte, passa, ao mesmo tempo que o outro, ã posição de falante. As palavras do interruptor estão localizadas exatamente abaixo daquelas onde se deu a interrupção.
65
(E) desenvolver o raciocínio // e ( ) eu ate tava estudando um liCerto //
vro lã de Oratória e Retórica
Hum //
/ né / e eles colocam esse problema
Hum
educacional // então as pessoas âs vezes acham que elas são os problemas // procuram terapia / procuram psicólogo / procuram não sei
t u '
o que nao sei o quê // mas na realidade / o problema dela ê de ( )
de instrumental / né //
ê o ( ) o verbal // ê o ( )
é nao tã habili ( ) nao tã habilitada pra ( ) pra
acostumou a se expor pra conversar / pra falar
i o ( ) ...
( ) ... não se
// e ( ) tem um vo-
cabulário reduzido / pouca leitura / tudo / né //
e acha daí que
Ë //
que ê um problema mental //eu cheguei a procurar terapia
/ assim
achando que eu era uma pessoa doente / não sei o quê / e tal //
Incrível / né //
E ( ) mas ( ) depois eu fui
e meio
(E) ... quer dizer / fiquei lã um ano
// nao resolvi porcaria nenhuma/ porque na realidade eu ...
a ( ) a minha ( ) a dificuldade que eu achava / é que eu não sabia
falar // mas eu escrevia // então pensei // não / mas se eu sei esE //
crever / então / eu tenho que saber falar // mas como resolver isso / sabe // então / não // então / (E) mas a psicóloga / o psicõIsso ê verdade //
logo / que me atendeu / não soube talvez me entender / ne // e talPuxa //
vez seja a dificuldade de muitas pessoas // então nao sabia nem me
expressar / / e ( ) foi quando eu fui pro teatro / começaram abrir
horizontes / assim /pra mim //
É verdade// isso ê maravilhoso // eu também tive a minha experiência // mas eu ainda / também/ sinto / grande dificuldade nesta parte // principalmente / numa ( ) argumentação assim / bastante mais
( ) forte /
chega num ponto que eu ( ) tipo assim / uma coisa que
eu ( ) chego até a perder mais ou menos o ( ) o contato // e então
/ quando é alguma coisa mais cerrada / eu chego até a ( ) ... não
sei / no final / fico (Ã) desnorteada / chego até a chorar / porque
( ) porque a gente ( )... sei lã //
você leva ( ) ...
Falta argumentaçao //
Falta argumentaçao
// ou ãs vezes / você fica num ponto de deses-
pero que voce nao consegue dizer aquilo que você tá sentindo / direito / e então vem um
( ) ... fica um amontoado
/ ne // então
66
/ falta uma estruturação / sei la // falta uma base / um conhecimento maior / quer dizer ( )
um ( ) ... como diz um ami ...
Um instrumental
maior / ne //
Um instrumental // é // e esse daí / como diz também um amigo meu /
que era (E) ... dos tempos que eu lecionava lá em Agudos do Sul //
o ( ) o Oscar // e ele diz / então / que
( ) uma vez o ( ) o Ferreri
( ) o ( ) o Ferreirinha / não // aquele ( ) (TS)* // aquele que diz
lá ( ) ... o ( ) da vida
// o ( ) o Gonzaguinha
já há algum tempo em Curitiba
// ele veio aqui
/ e ele foi fazer uma
( ) (TS) uma
reportagem // uma reportagem // é / foi dar uma ( ) palestra lã na
( )
na Universidade // então ele ( ) ele respondia as perguntas
que os alunos universitários faziam pra ele // e os alunos faziam
Ham ham //
perguntas mas tão idiotas / mas tão idiotas / assim a nível / por
exemplo / eram todos formandos já Hum-hm
// que //
ele chegava
/ a ( ) ficar abismado / da
/ assim
( )
( ) da maneira como ( ) como que eles
Hum hm
nao se organizavam// nao sabiam falar // nao sabiam perguntar // e
Hum-hm //
esse meu amigo / que fez filosofia / ele fez / e ele então / ele se
sentia envergonhado dos colegas
// claro
/ eram colegas de curso
de ( ) de matemática / de ( ) de outros cursos / de engenharia //
mas eles nao tinham
... eles nao sabiam
mos no campo / mas como pessoas
... eles podiam ser éti-
( ) como pessoas pra perguntar /
como pessoas pra falar / eles eram / meu Deus / piores que criança//
Mas a escola inibe /
inibe // se um faz uma pergunta / assim / o pessoal cai no pêlo/ri//
Então / gente //
Ë verdade II
Nos tivemos uma palestra agora
/ né / também / no início das auË
H
las / ali no teatro//então / era ( ) ...quer dizer ( ) era coisa
(E) mais específica sobre teatro // mas envolvia um pouco de teleSei II
visão / cinema / tal // e então / o que que acontecia // o pessoal
que se arrojava a perguntar / ainda era o pessoal de primeiro ano
/ que nao conhece ainda / por exemplo / as manhas da Escola em si /
É//
se arrojava // os veteranos ficavam tudo assim // pÔ / mas que per*TS = Consoante inspiratoria. DUBOIS, J.
São Paulo, Cultrix, 1973. p.347.
Dicionário de Lingüis-
67
gunta idiota / pô / mas que não sei o quê // mas eles nao eram capazes de fazer perguntas / sabe //
[A]—
Nada / gente //
A —
Ë verdade // Ë //
B —
Então / quer dizer / ê uma coisa assim / que as pessoas ridicularizam as próprias deficiências / que na realidade elas tao ( ) tao se
[A] —
vendo que elas iriam talvez fazer pior / do que aquilo lã / sabe //
Ë // pior // nao tem nem . . . Ë//
então nem se sacam ainda
[A]—
A —
/ que o dela ë mais deficiente / do que
Émais de-
aquele ainda //
ficiente // ë verdade // e precisa / a gente precisa ter
diz // a escola ë um
fator de
( ) abrir os horizontes
[ B] —
... como
( ) de fundamental importância pra
// como eu disse
Ë //
lã pros meus alunos //
a gente tem essa deficiência // porque eu acredito que a educaçao
ë uma formaçao de hábitos/ também / / a gente tem que ( ) por exemplo/ pegar um ( ) uma criança/ e formar // formar um hábito de leitura /e principalmente o hábito de pesquisa / de conhecimento próprio/ do próprio ser / / d e ver as deficiências // não é só chegar /
[B]-
Ê //
chegar e botar na cabeça da pessoa / matemática / história / geografia / e ciencias / daí a pouco ela esquece daquilo / ela não ( )
não tã estruturada // e o próprio comportamento dela / ela fica
alheia // ela nao sabe // ela nao sabe ver um ( ) um hábito de pes[B]Hum-hm
quisa / de
í B]
( ) auto-análise // principalmente de auto-anãlise //
Hum-hm
e isso e um fator incrível / porque a gente vê os próprios professores / como eles não gostam de se analisar // eles se acham // co[B]Nao gostam //
tnò / como eu sou o professor / e como nós somos professores / Deus o
livre / de alguëm ( ) chegar e falar / ou / então ( )
tocam de que precisam reformular /
...
nem
se
e de que precisam reivindicar
uma melhora nessa escola //
B -
É //
A —
Não ë então // porque a escola do jeito que tã / (E) depois ainda
da ( ) da revolução que ( ) que nós tivemos / ela se tornou bastante castrante //quer dizer / tudo / tudo que ( ) que de melhor que
podia influenciar a pessoa / que nem as artes cênicas / que são maravilhosas / que elas abrem um horizonte enorme / / a própria musi-
[B] -
Hum-hm
ca // os ditadores odeiam as músicas
/ a música / porque a música
68
sintoniza a pessoa / faz a pessoa abrir
[B]-
.. • une as mentes / e faz
Ë //
com que ( ) a ( ) a turma desperte/ pra um problema / que fica esquecido/ no meio de tantas coisas que eles ( ) ... que existem pra
( ) pra nos anestesiar // televisão / carnaval / futebol //
[B]— Hum-hm
A — Ne // então a pessoa vive numa roda viva // inclusive sexo / né //
[ B]—
Ë//
as revistas / a mulher nua // então / in ( ) inclusive a influência
estrangeira / de música / de coca-cola / e tanta coisa // meu Deus
do céu / a pessoa vive ali / quando vê tã velho / jã
[B]-
( ) se sente
inutil / nao é então // e nao se organiza / quer dizer / nao sabe /
Ë //
nao sabe falar nada //
[B]— Mas é uma dificuldade das pessoas // eu tava conversando cuns meB
ninos lã do teatro / até que escrevem / e tudo // e ( ) e daí / de
[A]Hum //
[A]—
repente / assim ( ) ... (E) que ë uma busca / p o r exemplo / que eu
Hum //
tenho / faz horas / porque eu sei que ë uma dificuldade // então /
fui começar a descobrir alguma coisa / através / justamente
/ es-
tudando livro de Oratória e Retórica // ele começou a mostrar / falando até de teatro ali dentro / falando do verbal / do escrito /
[A]—
de tudo / e como desenvolver isso / né // e conversando com ele /
Que maravilha //
daí / então ele ( ) ele me disse que ( ) ... sabe quando de repen[A]- Ham //
te voce começa ... parece que acende uma luz na cabeça da pessoa //
ela diz assim // meu Deus /mas então você é uma pessoa que pode me
ajudar / porque eu / se eu tenho dificuldade ... então/ de repente
/ a gente começou ver que as dificuldades sao ( ) recíprocas //
A —
Recíprocas // ë // ë verdade // ë //
B —
Então / ë uma coisa assim
/ mas que nao se conversa
// então um
pensa cada um pensa / que ele que é o errado //
A — Ë um problema // como eu disse / ë um problema próprio // ë um pro[B]t u
blema grupai //
B —
Grupai / mesmo //
A —
Meu Deus / mas veja as provas das universidades // as redações que
os alunos ... pe ( ) pela própria escola / também / que não dã mais
chance / do aluno escrever
/ do aluno redigir / do aluno botar as
69
suas idéias em pauta // devido aquela ( ) talvez àquela censura que
Ë //
criou em nós // quer dizer / isso é um problema que vem se aprofundando a partir de ( ) de ( ) de vinte anos ( ) prã ca // desde
Hum-hm
64 / né / que tornou mais grave// porque antes a. ( ) a pessoa ainHam-hm //
da ( ) ela era ( ) a ( ) até mais incentivada
/ a participar
/ a
botar as idéias né // e com esse medo / com essa ( ) coisa que surHam-hm //
giu / então / todo mundo fica se restringindo// será que eu tô falando certo / será que isto daqui nao tem uma influencia / e ( ) e
no entanto / eu acredito que a pessoa
o que ela sente / é maravilhoso
expondo seu "eu" / expondo
/ inclusive pra própria pessoa
e pra própria ( ) sociedade / que nao
/
( ) nao ( ) nao ficam incu-
Hum-hm
tidas tanta coisa / né / assim ( ) camufladas / lá dentro e
( ) e
nao desabrocham // nao desabrocham talentos / nao desabrocham escritores / nao desabrocham líderes / né / porque ...
Ë // é uma coisa um
pouco de censura interior / também / né //
Também // e que é uma Porque
decorrência
// censura é essa / nê / quer dia maior
Ë // nossa//
zer / voce nao se tolhendo / você vai escrevendo / porque um dia a
porque se é extra-oficial / quer dizer ...
censura cai //
Um dia pode // é verdade //
Então o que acontece//ver que a coisa é censurada interiormente /
a pessoa para mesmo //
Para
// vê Margarete // mas se vem uma parte já de
( ) de forma-
çao ••• nao é então// é difícil pra você desabrochar uma coisa que
você quase que ( ) que nunca toca //
Que num*... é //
Ë // então voce ve ... voce ouve muita música / você vê isso / voce
ve mais teatro o u ( ) a ( ) a ( )
teatro não / mais futebol do que
teatro // então a pessoa / (E) quer dizer ( )
ela nem ( ) ela nem
quase que tem noção daquilo // ela tã num ( ) num emaranhado / então / e por isso que a gente precisa pessoas que têm cabeça
// a
nossa geração mais assim ( ) de ( ) de mais / de quase 30 assim /
Hum-hm //
já viveu uma realidade maior / / j á viveu uma filoso ( ) uma escola
Hum-hm //
* "Que nun(ca)...".
70
em que tinha filosofia // voce já via cursos clássicos / onde existia filosofia / a ( ) ... os cursos de ( ) de ( ) de filosofia //
então / isso dal / nao ë filosofar por filosofar
// ë aumentar a
escola / ë aumentar o campo da pessoa // e se você nunca vê /ne//
Ham-hm
você acha que // olha / tá muito bem assim
/ tá numa õtima / legal
/ aquele nhenhenhe do pessoal / në // e a gente / a gente fica desesHum-hm
perado Margarete / nao ë então // a gente fica // meu Deus / mas
será que eles tao su ( ) cegos / será que eles nao têm noção disso//
ë porque tambëm ë um problema estrutural
/ de ( ) de estrutura de
sociedade / que nós ... në // que nao faz desabrochar //
Mas ë que prum governo Ë
/ //
tambëm interessa ter um povo desorganizado // porque daí / a partir do momento em que as pessoas começam a
É verdade / Margarete //
se organizar ...
você veja // na escola a gente tá organizando um
Ë //
gremio // a escola tã apavorada / a direção tã apavorada//porque/
Meu Deus //
de repente a gente tã começando a se tornar uma força / e isso eles
Claro //
Uma força //
nao querem //
E então // ë isso / ë isso que ë ( ) que ë ( ) que ë castrado // ë
isso que
( ) que e colocado // e qualquer coisinha
que se faz /
então / num ( ) num sistema castrador / todo mundo acha maravilhoso // nao tem poder de análise / nao ( ) nao tem nem condiçoes / como diz / nao tem nem organizaçao pra ( ) pra ver aquilo// pra
( )
imagine pra se organizar e botar pra fora // porque também/ quando
voce se organiza e bota / você ( ) você ë ... você ( ) você recebe
tambëm a parte ( ) negativa / daquilo / nao ê então // porque você
Hum-hm
tem a tua idëia // então voce vai ter que botar em confronto com a
Hum-hm //
do outro / në // e ( ) e claro que ( ) do ( ) do diálogo nasce a
Hum-hm
luz mas muita gente já tá tão acostumada numa situação / numa situaçao tipo esta que nós tamo vivendo / que nao quer nem saber /
Hum-hm //
Hum-hm
nao e então // acha que todo mundo ë bebezinho / porque ele conseguiu um ( ) um lugar ao sol / / a o sol / ne // que sol // e então /
Hum-hm / /
71
ele acha que ( ) que aquilo lã ë ótimo // e ( ) o ( ) resto que se
... que fique na deles / que fique... ne // e a gente precisa disso // então e uma necessidade que a gente sente/ nê / / a gente sen[ B] —
Hum-hm //
Hum-hm //
te // então / meu Deus / como ë bom / como ( ) como ë necessário /
[B]—
ne // e como a gente deve / nê // nao só nós / como todo mundo / nê /
Hum-hm
Hum-hm.//
como todos // então/ como fazer isso / né // vamos lutar bastante /
lutar sempre / pra que a gente consiga / né / Margarete //
B —
É // ë uma coisa assim // mas
( ) (E) acho que ë uma coisa que
ÍA]-
vai sendo vencida / porque em vários pontos / existem pessoas consÉ //
[A]—
cientes disso / e tentando resolver / né // então / eu acho que ë
i
Ë verdade //
uma coisa assim ( ) que ( ) a ( ) a longo prazo deve vir algum resultado //
A —
Deve vir //
B —
Porque ( ) (E) ... claro / uma coisa de massa nao vai acontecer /
mas pelo menos de grupos / né / que vao ... e ( ) claro / supoe-se
que / por exemplo / a área teatral / ë uma área assim de transfor-
[A]—
A —
B —
[A]-
maçao // não sei se realmente ë / até que ponto / né //
É verdade //
É // mas ë / sim //
(E) Quer dizer // supoe-se que seja transformador social / né // se
t H
isso for uma verdade / pode ser que aconteça alguma coisa//mas até
agora eu nao tenho visto muito esse elemento //as vezes pessoas de
outras áreas sao muito mais abertas / né // tem assim ( )
outras
areas mais ( ) talvez (Ã) técnicas / né / (Ã) biológicas / ou coisa
tli
IA]-
assim / ãs vezes até são pessoas até/mais assim/ com visão maior /
né // nao sei se porque eu
[A]—
período de estruturação
( ) a ( ) a escola já está ainda num
Ham //
/ não esta assim
( ) com uma moral ainda
... né // toda essa coisa //
A —
É // mas eu acredito que isso vã surgir / Margarete / / v á mesmo //
in ( ) inclusive autores / pessoas que se estruturem / e não ... e
partam pra ( ) pra ( ) pra criação // pra ( ) ... né // pra escrita / pra ( ) autores // que
( ) que ë maravilhoso
// meu Deus//
quantas obras / meu Deus // você vê Shakespeare lã na época dele /
72
[ B] —
o que ele nos ( ) nao trouxe //o "to be or not to be" / quer dizer
. Ham-lim //
[ B]—
que é uma pergunta constante // ser / voce tem que ser / voce tem
Ham-hm //
que assumir / e assumir tudo / também / né // assumir a ( ) as deficiências / assumir a ( ) as verdades // e principalmente no teatro ele rasga / ele faz isso // e nós tamo precisando de pessoas ...
[ B] —
Ham-hm //
Sim
/ mas só
[A]-
veja uma coisa / por exemplo / o Shakespeare / ele ( ) ele escrevia
Ham //
[A]—
criticando / até pessoas da corte / coisas assim / mas ele era uma
Então //
[A]-
pessoa da corte / era uma pessoa aliada praticamente// então quanË //
do ele escrevia/ nao era visto com olhos de quem .. .de uma oposição//
A —
Ele era quase que ( ) ...
B —
Sabe // então ele / praticamente estava dentro / criticando .dentro //
e então eu acho / que essa uma do teatro se colocar numa posição esquerdista / sabe / e simplesmente malhar / eu acho que isso aí ê
[A]-
Ham //
[ A]—
malhar em ferro frio // tem mais ê que se aliar com quem tem o poNao / nao // eu acho ...
[A]-
der / com quem tã forte / pra que você possa / realmente fazer alguma
e ...
coisa / sabe //
[A]—
É verdade // se nao você vai ficar ( ) (Ã) (Ã) de lado / você
tem que usar muito / muito a inteligência também // nao ( ) não pode realmente ... que nem eu ( ) teria ( ) tinha muito essa capacidade de ( ) de ( ) pau / pau // pedra / pedra //a gente tem que ser
racional / a gente tem que procurar estruturar uma coisa dentro do
lB]—
sistema / pra poder transformã-lo // isso /isso // isso é um princíExato //
pio / eu acho / né // você tã ali dentro / e você começa
... não
que voce teja se ( ) se violentando / nao porque a minha opinião é
totalmente fora // nao / de tudo existe uma parte positiva / nao é
então / Margarete //
B —
Claro //
A —
Nao é então // chegar lã e começar a dar murro em ponta de faca /
e porque voce jã vai se indispor / e ( ) e vai ( ) ficar magoado /
machucado / e nao vai conseguir muita coisa
// mas é ( ) partindo
de uma estrutura / ver o que que tã / e procurar jogar // procurar
usar o humor / procurar usar a capacidade nossa. / e ir jogando /
73
[ B]-
ir jogando / que o negocio ... tipo uma semeadura / né / ir seÉ // O Chico Anímeando //
B
sio / por exemplo // ele esta numa posição hoje / que ele ( ) que
ÍA]Ë //
[A]-
ele satiriza até o Presidente da Republica / e nem por isso / pelo
Ë //
[A]—
que se sabe / ele é ( ) ... (Ã) tem problemas neste sentido //
Não / não // inclusive
ele foi até convidado / ele faz sorrir / então ele ...
[ B] —
Mas é a forma que é colo[A]-
cado // porque ele tã numa posição jã ( ) de
É //
( ) em
termos assim
( ) digamos de força / ou poder / ou qualquer coisa semelhante //
A — Semelhante // ele ( ) ele galgou isso //
[ B] —
Então você primeiro precisa se ligar / pra você brigar
[A]É
com os fortes //agora você / fraco / brigar com os fortes / de que
Iß]— verdade // Maravilhoso //
>
[A]-
jeito // Ó você querer pedir pra te matar / mesmo //
Não dã // é difícil //
A —
Ë verdade // ê o que acontece // é o que acontece //
B — É que as pessoas / as que se metem ãs vezes a
[A]Ë //
( ) a discutir por
exemplo política / ou a criticar política / sem ter realmente conhecimento de base // eu nao me meto / totalmente a ... eu nao co[A]—
Conhecimento e ...
Ë //
[A] —
nheço o suficiente // vou falar o que // eu posso malhar a Educaçao /
Não /riao// e fica ali de ( )
por exemplo / que é uma coisa que eu conheço mais / nê / em termos
[A]- de ( ) ... Tudo //
*
Ë //
[A]—
críticos ou coisa assim // ou alguma ãrea especial / assim / mas a
Ë // do que aparece / / d o que a gente pode
política . ..
[A]—
A —
palpar //
Ë // nao dã // é uma coisa muito mais complexa / meu Deus do céu //
e ( ) a gente tem que realmente / usar o bom senso
//e()tu()
e realmente como diz / se organizar // a gente se organizando também / até do pensamento / a gente vai descobrindo / fórmulas / que
realmente dao resultados / nê / Margarete // né / porque tem gente
que tem um poder de retórica incrível / mas usa de maneira tola /
nao ê então // tem aquele poder / mas chega lã / bã bã bã//bã bã
[ B] —
É //
Mas
[B]—
bã // bã bã bã //__
tem que ter conteúdo / nê //
74
A —
[B]—
Nao tem conteúdo / e nao tem estruturação / porque e uma coisa'vazia /
ë uma coisa de ímpeto / nao ë então // e nao ë • - . e ( ) e esse ímpeHum-hm //
peto/pode ser que tenha ...a pessoa fale // tê tê tê // tê tê tê//
mas ela nao tem aquela capacidade / como diz / de organizaçao //
porque se voce se organiza / voce sabe // meu Deus / eu nao posso
ser tola // eu sei falar muito bem / tudo // mas se eu falar dessa
maneira / eu ( ) eu to sendo meio idiota / në //
B —
Jogando fora . .. në //
A —
Jogando fora um ( ) valor meu / que se eu falasse dessa maneira / eu
[B]—
iria atingir melhor ... në // ë verdade // mas / porque a gente na
Hum-hm //
verdade / desestruturados como somos / porque eu me reconheço / então a gente lança aquela coisa / në / / pã pã pi // rebate em cima //
[ B] —
Ë//mas tem
B — uma coisa / tambëm / Sueli // eu acho que uma das coisas que ( )
[A]t II
que ( ) ... nao sei se ë uma questão do brasileiro / vai na base da
[a]t // ë //
[A]-
improvisação//não / porque eu sei / numa boa / tã / eu vou improAh ë //
Isso //
[A]-
visar // na realidade / um bom orador / um ( ) ele ( ) ele tem que
Ê //
[A]—
planejar o que ele vai falar / ou pelo menos / então / inclusive /
Planejar / Margarete //
[A]-
assim / eu tenho lido / menciona fulano / fulano //
t U
Ham //
[A]—
temos de ( ) ... mas dizer assim / por exemplo / fulano que foi
Ë // ë // nao / nao // não lembra // lógico
só que eu em
um grande orador / fulano / cicrano / e ( ) podia digamos
preparar o ( ) o ( ) o ( ) digamos assim / o
()a
()a
/ atë nao
oração in-
teira ./ në / o discurso inteiro / mas ele pelo menos fazia um rcr[A][A]—
Hum //
teiro / pra ele ( ) pra ele ter lógica /do que ele tem assim falar
Expor //
Claro //
Il e a nossa mentalidade nao ë essa.// na hora que pinta //na hora
[A]— Lógico //
pinta //
A — Pinta / pinta // e a turma te leva no outro ponto /'/
[B]—
E no teatro ë a mesma coisa // a
[A]LÓimprovisação pinta // então / agora nos vamos desenvolver / acho que
[A]- gico //
Ë //
75
B —
[A]—
eu nao comentei com você / teatro de ( ) de feira //
Que maravi ( ) // é // foi // você me falou //
B —
É // então comentei / ne // então ( ) então por exemplo / na nossa
passeata / os meninos jãleva( )* os meninos já apresentaram
// eu
conversei / já tinha conversado com eles // vamos fazer isso / mas
tem que ensaiar / nao sei o que // então dai um grupo pegou e fez /
[A] —
um menino que escreve / daí ele fez um roteiro / eles decoraram /
Ham //
tá / e apresentaram // e ( ) mas ficou em cima
/
o público assim
sabe // então isso daí / a gente vai levar agora // então / talvez
[A]— coisa linda //
Isso //
depois / daqui a um ano / e de tanto a gente fazer o teatro de improviso / mas preparado um pouco também / a gente ganhe cancha pra
[A] —
Preparado //
poder de repente des lanchar sem precisar preparar muita coisa //só
[A]—
[ B] —
simplesmente saber o tema / e desenvolver o tema //
Lógico // e nao se deiMas pra .
A
xar levar / Margarete // porque a gente se deixa // porque se está
[b]—
Ë // nao se deixar levar //
num ponto assim / vem outro e joga pra ( ) pra lã / você quase que
infantilmente / você parte pra outro ponto
// tudo bem
// partiu
pra lá / mas voce tem que saber retornar naquele ponto / porque ê
essa a estrutura
[B]-
// e ê o que a gente realmente le( )** (Ã) vai
Hum-hm //
levar / começa a se empolgar
/ e ãs vezes sai numa discussão / num
bate boca quase que inútil / e ( ) e tá aí //
B —
É // mas uma coisa que eu aprendi / por exemplo // o Assai diz as-
sim // que voce nunca deve discutir com pessoa que ( ) nao conheça
o tema que você vai discutir / porque você está perdendo tempo //
ÍA)—
Perentao voce tem que se retirar / pense o que pensarem / porque você
[A]— dendo tempo //
Nao/nao / nao//
[a]—
( ) você não vai chegar a nada //
e a gente ...
* "os meninos já leva(ram)".
** "e ê o que a gente realmente le(va)".
76
A —
E äs vezes você pensa por que você vai / que você vai convencer aquela pessoa // nao / de jeito nenhum //
[ B]—
Nao // se tiver opinioes divergentes / por exemplo / religião / que ë uma coisa que nao se discute
[A]-
/ uma questão de fé /
uma coisa assim / é besteira discutir / né // então / coisas assim /
É //
Nao // ë verdade //
que sejam ( ) ... por exemplo
/ nao adianta voce estar discutindo
emocionalmente // nunca vai-se chegar a nada // e ë o problema por
, 3 -í?
exemplo de um casamento
[A]-
// geralmente o homem tã de cabeça
Nos( )* // ë verdade //
/ e a
mulher tã de coraçao// então ãs vezes nao se entendem / nos papos /
[A]Nada // e finé //
[A]— ca uma tristeza //
B — AÍ fica difícil de chegar a um ...
[A]—
Passam a vida inteira / e nao chegam a um acordo //
[B]—
A vida inteira se arrancando //
A —
cada um querendo o seu ponto e o outro nao //
'
B —
Querendo que o outro entenda // mas quer dizer / se o teu problema
ë emocional / o teu marido / no caso / se for o ( ) o ( ) a situação
contraria / o companheiro nao vai entender porque ( ) porque ë uma
[A]—
Ë // O contrãrio //
situaçao emocional
/ e o problema
... e ele ( ) ele não estã no
nível do ( ) do emocional //ou então ele coloca a coisa de cabeça / ou
você como está envolvida só de coração / você não vai entender o
ponto de vista dele //
A — Ë verdade // ë incrível // nossa //
[BiË aquela ( ) aquela ( ) aquela dificuldade // no nosso
lA]Fica//
[A]—
relacionamento / a gente já discutiu já muito isso / até que a genHam //
Ham //
[A]—
te chegou ã conclusão / quando a gente nao se entendia .. . ë que ãs
Ë // ë ver-
ve( )** as ( )***/sabe// poxa / mas eu to falando de coração / você tá
[A]- dade //
[A]-
falando de cabeça / como e que a gente ... nao tem condiçoes de se
111
[A]-
entender // então / daí a gente parava a discussão ali / porque a
Ë // e verdade //
* "Nos(sa)".
** "ve(zes)".
*** "as(sim)".
77
[A]—
gente nao ia chegar a nada // ate que depois / tivesse mais frio /
A ponto nenhum //
[A]—
tá / podia daí realmente discutir mais a frio / ou qualquer coisa
Ë verdade //puxa vida//
[A] —
assim / né //
por que então ( ) .. .
B —
Então você tem que discutir com alguém que entenda o mesmo assunto //
A ~
0 mesmo assunto //
B —
AÍ ele tem condições de crescer //
A —
Lógico //ou então / ou então / você ( ) sei lã / use outra técnica /
use outra coisa /mas ali no bate-boca / ou então no ( ) (Ã) malhando
em ferro frio ...
B — E tem que ser com base racional / né / porque com base emocional fi[ A] —
Ë verdade //
[A]—
ca na achologia / lembra / que até era o Amauri que falava asNossa //
[A]—
sim // achologia //eu acho / porque eu acho / eu acho //
Eu acho / acho / nao / nao / um
[ B] —
quer achar mais que o outro / e no fim nenhum / nao se acha nada //
Não dá / /
é uma loucura // mas é fato/ viu / Margarete // olha
/ e realmente
a ( )a gente precisa crescer nisso//principalmente a gente que é...
a gente / nós brasileiros / nê / que realmente vivemos num país mais
assim tipo improviso / como diz / né //o brasileiro êmais / assim /
[B]-
tipo baixar santo / nê // quer ver baixar o santo // nao ( ) nao ( )
Ë
nao tem / nao tem na sua base ja e ( ) esse espírito de pesquisa /
de organizaçao / né.// vê como ê que nós estamos / a nossa situaçao
né //
B — Teve ( ) teve um ( ) um alemão aí / que veio pra uma firma aí /
[A] —
Hum /
pra ( ) técnico assim/ nê / / e eu sei que ( ) ... que tã fazendo um
curso / né / que meu marido tava fazendo / e daí / sei que ( ) diz
que de um dia pra outro / diz que o técnico foi embora / deixou uma
carta / nao sei o que / um
um problema familiar / disse que ele
ia embora // mas na realidade / ele nao aguentou
adesorganizaçao/
porque a ( )a Alemanha principalmente / sabe*// trabalham com téc-
*Entoaçao de período afirmativo.
78
nica / com organizaçao / sabe tu ( ) // sabe onde eles têm que ir /
sabe onde o que você vai fazer / sabe o que você vai atingir //
entao / ele nao agüentou // na realidade / que ele nao agüentou
a bagunça e foi embora //
A — E é como diz// ele ia malhar em ferro frio// ele ia fazer o que //
E B] —
Gas[B]—
todo o conhecimento dele /
tar o tempo dele //
ele nao ia poder começar do nada //
nao ê entao // e ê uma realidade/ gente //então a gente precisa //
B —
[A]
Entao voce imagina como e que sao os nossos governantes / ne / que
Ë //
sao fruto / né / de ( ) de toda essa coisa de base aí //
79
DIÁLOGO
II
FALANTE D
Profissão: professor e escritor
Idade: 39 anos
Sexo: Masculino
FALANTE C
Profissão: professora
Idade: 31 anos
Sexo: feminino
C —
A capacidade / a facilidade de comunicaçao e expressão do artista
no caso o escritor
/ seria uma capacidade natural / um dom / ou o
escritor encontra
também dificuldades em expressar / em concreti-
zar o seu pensamento
D —
//
Eu vou pegar ... eu ( ) eu gosto muito de citar as pessoas / ne /
os escritores / porque eu acho que /
intelectualista
// mas
sempre dá assim maior respaldo
o Jorge Amado
/ ele falou que escrever /
exige 90% de trabalho e 10% de talento // claro / eu acho que pra
escrever voce tem que ter pendores / tem que ter pelo menos/' senão
pendores / pelo menos um gosto pela coisa
// mas escrever / como
qualquer atividade artística / ë essencialmente trabalho mesmo //
e simplesmente pegar o boi pelo chifre e ir ate o fim // ésimplesmente pegar e escrever todo o dia // i um saco
// ë dificílimo /
ne // escrever / por exemplo / eu escrevo / ê uma das piores coisas
que eu posso fazer na vida / porque eu sou obrigado a fazer praticamente todo dia // escrever e um aborto// escrever ë igual ao filho que tá pra nascer / e demora // não nasceu / deu ( ) deu as
contraçoes
. . . tem que escrever
// escrever ë a mesma coisa //eu
acho que voce só pode escrever / se voce realmente sentir necessidade de escrever // se voce realmente perceber que (palavra incompreensível) ... se alguëm falou isso ...
se voce perceber que vo-
ce pode viver sem escrever / você nao deve escrever
pessoa que nao posso viver sem escrever
// eu sou uma
// e não é que eu tô fa-
zendo texto literário / ou poesia / simplesmente
//
escrevendo o
que vem na cabeça // que ë realmente a contraçao ultima do parto /
ne // o filho tá nascendo / você tem que jogar pra fora senão você
80
vai morrer //evitar que a coisa venha nao pode // e escrever é a
mesma coisa / / e u / então / todo dia / ou praticamente todo dia /
né / quase todo dia / chega lã pelas nove e meia / dez horas
/ eu
tenho que largar tudo na vida / tenho que me sentar ali na minha
mesa / e pegar uma folha / e escrever o que eu ( ) ... aquilo que tã
germinando na cabeça // claro / nem ( ) talvez 80% disto nao e aproveitável / 80% disso eu nao faço com fins ( ) literários / com fins
( ) ... nada disso // é só escrever // jogar / pra aliviar a cabeça // porque ë uma neurose / ë uma tensão / ë uma maldiçao escreHum-hm //
ver Ileo
que o Tennessee / o Tennessee Williams falava atë / exor-
cizar os demonios / në // ë uma angustia dentro da gente // ë uma
coisa difícil / porque ( ) ... claro que a gente tem dificuldade //
tem momentos ... nao ë só uma dificuldade/ por exemplo / uma dificuldade de ( ) nao encontrar a palavra determinada que voce quer /
aquela palavra que você precisa / porque pra isso já existe mais
ou menos dicionário analógico // quer dizer
/ que tem uma idéia e
vai procurar a analogia da idéia / e vai encontrar a palavra x //
mas o problema principal ë você de repente perceber que você nao
ta conseguindo criar um texto // você tã simplesmente amontoando
palavras // ë diferente / né // escrever ëum trabalho doloroso por
Hum-hm
por isso // porque de repente você começa perceber também / que voce tã apenas imitando a si mesma // você tã fazendo aquilo que voce já fez mil / mil e uma vez // e escrever i fazer a cada dia algo
de novo // de repente voce começa ... pelo menos uma coisa que eu
percebo nos meus trabalhos // que de repente eu tô usando mais ou
menos os mesmos recursos sempre // eu tô
... eu tenho mais ... ë
como se eu tivesse criado um sulco na terra e tivesse neste sulco //
e eu nao quero isso //' eu quero cada vez / eu quero um sulco diferente // cada vez eu ( )eu quero criar uma maneira
diferente
/
Hum-hm
uma ( ) uma ( ) uma linguagem diferente // então
/ ë um trabalho
( ) assim doloroso / um trabalho difícil / um trabalho angustiante
/ né / um trabalho que me faz suar / um trabalho que não me satisfaz // e aí eu vou citar outra vez um outro escritor// Jorge Luís
Ham-hm
Borges / ni // ele ( ) ele diz o seguinte // que ( ) toda vez que
ele quer escrever / ele ( ) ... a idéia e mais ou menos a seguinte
81
II nao vou citar ipsis litteris porque eu nao me lembro // mas ele
diz que ( ) toda a vez que ele vai escrever / ele ( ) tem assim ( )
uma empolgação por aquilo que ele vai escrever / pensando que vai
ser uma coisa maravilhosa // entao ele se satisfaz com aquela idéia
// e aí quando ele escreve / quando vai 1er o que escreveu / se decepciona amargamente / porque nao é exatamente aquilo que ele queria escrever // e e exatamente o que acontece comigo // de repente
pinta uma idéia na ( ) na cabeça / né // e é uma idéia de um poema
/ uma idéia de um conto / de um texto / uma crônica / uma coisa indefinida / pã // é isso aí // voce começa a escrever / realmente /
nao / nao bate // o texto realizado com o texto planejado // e é
Hum-hm
uma coisa muito comum muitas vezes sonhar que eu to lendo // então
eu sonho que tô lendo um texto maravilhoso
/ e sempre neste sonho
eu penso o seguinte // eu seria o cara mais feliz do mundo / se eu
tivesse sido o autor deste texto //
e aí de repente eu acordo / e
Hum-
então percebo que eu é que estou elaborando aquele texto // aí eu
hm //
quero captar // nunca consegui captar / né//aí eu perco realmente
o sono // eu vou pro banheiro / eu vou pra cozinha / eu vou pro liHam-hm //
xo / eu quero ( ) descobrir novamente aquela idéia pra colocar aquela idéia no papel // mas / nao vem mais / né // entao e um trabalho
assim que eu ( ) eu acho que ( ) ê um trabalho maldito l e um trabalho neurotizante / um trabalho ( ) obcedante//ãs vezes voce fica ( ) fissurado naquilo II seria muito mais interessante / talvez/
até / jogar uma partida de futebol / né // mas é uma necessidade
que voce tem // aí / eu acho que nao ( ) não depende apenas de dom
É II
II claro/ tem que ter uma certa ( ) ... tem que ter um certo condicionamento/ um certo gosto / um certo interesse / mas vai depender
muito do trabalho/ de voce se organizar // por exemplo / e um velho
problema meu // agora acho que maior parte do pessoal que tem aqui
nesse país / nesta cidade / tem problema de organizaçao// organizaçao
de tempo / organizaçao de cabeça / organizaçao de ( ) de conhecimentos/
organizaçao tudo isto // mas a ( ) a ( ) a ( ) ... entao eu acho que este escrever ele e produto de um certo gosto que você tem // dizem
alguns que ( ) a arte ela é meramente uma sublimaçao pura / né// que
você não conseguiu realizar certas coisas na vida / entao você su-
82
blima a arte// então' seria uma compensação/ nao sei / seria mais uma
linguagem psicanalítica / ne//mas eu coloco a coisa mais assim pra
esse campo assim // é um ( ) um exercício que você vai fazer diário
/ um ( ) um costume que voce vai pegar / uma arte que voce vai realizar / so que voce tem que realizar com consciência / pra que este
ato nao seja meramente passivo // mas se torne uma coisa realmente
artística/ nê // que se torne num nível bom/ num nível em que você
perceba um certo progresso / (E) algo de tempo / analógico / que saiu
hã muito tempo / e voce vai quer que ( ) . . . e dentro desta historia da tua vida você vai perceber realmente se tem ou nao talento /
se ( ) se tem condiçoes ou nao condiçoes de um artista /né // deve
ser uma opção como outras tantas
/ nao sei // duvido muito
desta
historia de dizer que ê professor porque escolheu / é médico porque
escolheu / é jogador porque escolheu / é um ator porque
acho que sao circunstancias // porque de repente eu
...
eu
( ) eu quando
1
tu
era adolescente / a ( ) a maior paixão da minha vida era ser desenhista / era ser pintor
// tanto que os primeiros empregos que eu
tive na vida foram empregos de trabalhar como desenhista
em dia / desenho pra mim é alguma coisa que
// hoje
( ) significa alguma
coisa mas ... agora / professor / nao me entra ser professor // me
lembro que comecei a pensar em ser professor no científico / talvez / né // mas a minha grande paixao sempre foi ter um ( ) um porão onde morar / e aí escrever minhas poesias // então sei lã se
realmente existem opçoes na vida / se ( ) se o sistema em que moramos / que nos vivemos / ê possível alguém ... eu tenho meu garotao
aqui / quer ser jogador de futebol // se as circunstâncias lhe forem favorãvies // eu quero que ele seja // ele quer ser // mas sera que vai ser possível // então / numa dessa / amanha ou depois /
ele vai tã trabalhando como ( ) técnico em enfermagem / ou então /
ele vai tã trabalhando como oceanógrafo / que é outra opção que ele
tem / ou ( ) ou como piloto de aviao / sei lã // sabe que a opção
Hum-hm
... sabe que a gente é levado // estas coisas não tão muito claras
// eu acho que a gente tem que ter um objetivo de vida
//
desde
adolescente a gente tem que ter um objetivo pra batalhar pra aquilo // se a gente vai-se tornar aquilo / ou não / nao sei // a literatura pintou na minha vida quando ( ) quando eu era muito jovem // isso eu digo agora/ olhando pra trãs //talvez eu nãc tivesse
83
consciência naquela época // mas eu lembro / assim/ que o primeiro
poema que eu escrevi eu devia ter uns dez / onze anos // mas já antes / quando eu era garotinho / assim de primário / eu me lembro
que eu já escrevia historieta
// história do gato e do rato / do
gatinho que ia beber leite no pires / essas coisas
// então tã //
entao é uma coisa natural // nao sei se é natural / se as circunstâncias me favoreceram ou nao / ne// pode// e natural que voce sinta por exemplo o gosto / claro / tem que ter um pouco / sei lã / que
voce tem que aprimorar ao longo da vida / né / se nao ... sei lã //
Pode ser que pelas circunstâncias você tenha sido estimulado / um
pouco // também poderia / né //
Ë / estímulo eu acho meio difícil porque eu sou filho de operário /
né //
Ah //
Nao sei se operário vai estimular alguém ã vida intelectual / né //
Ãs vezes na escola / alguma coisa / né //
Nao sei // a escola é castradora // a escola / o objetivo é castrar
o trabalho dos alunos // nao e ( ) nao sei / eu acho que sao questões mais de ordem filosófica / né / sao considerações acerca de //
voce nunca vai realmente localizar
// acho que também
/ pra cada
autor é diferente / acho que ninguém pode dizer que determinados
autores escreveram por vocação
// Monteiro Lobato duvido que es-
creveu por vocaçao // Monteiro Lobato escreveu por acaso//ele escreveu uma ( ) uma carta pro jornal / um dia / falando
sobre deter-
minadas coisas e ele começou a perceber que ele era um talento /
começou a escrever // uma ( ) uma circunstância //
Foi por acaso / agora
/ quer dizer / ele percebeu / ele percebeu
Ele percebeu
que tinha aquela ( ) capacidade / sei lã //
que tinha talento / nao sei//
Mas quem é que nao tem capacidade pra escrever// todo munto tem //
aí nós vamo pegar aquele
( ) aquele elemento de Chomsky
// todo
mundo tem competencia / nem todo mundo tem desempenho //
Performance // competence and performance //
Todo mundo tem a ( ) a competência
/ mas a performance ... é uma
coisa difícil // é a escola / o trabalho / aquela coisa toda / / e u
por exemplo/ eu agora to sem performance / porque eu tenho que vir
pro hospital / tenho poucas horas / chego / me angustia a situação
dele // chego em casa / nao tenho ânimo pra chegar e escrever / ni /
84
mas mesmo assim ...
Talvez pudesse escrever sobre .../ne/ talvez também porque ( ) ...
Sobre // mas escrever sobre / ë muito difícil porque voce tã muito
envolvido //
V-r
Em c ima / / ë / /
Muito em cima da coisa // sabe o que ë // isso tudoëmuito complicado //
Então / voce teria dificuldade também / nao só em expressar / colocar
É difícil //
o teu pensamento no papel / como também encontrar formas //
Formas //
Formas diferentes // originalidade
Ser original // ser diferente // ë muito fácil escrever se
ë pra ser comum / né // se fosse pra criar historieta / aí'/do diaa-dia // João ama a Maria / mas a Maria gosta de José // destes temas voce criaria 49,9 por dia //
isso nao interessa
// eu quero
escrever o que ë de novo //eu trabalho mais a nível de ( ) de poesia / né // conto assim / eu nao me ligo muito // e ( ) tem uma noveleta que eu to escrevendo hã algum tempo / que eu parei também/
por uma série de circunstâncias
/ to deixando amadurecer / porque
isso aí também faz parte do meu método // eu crio as coisas ... quer
dizer / deixo jogado num canto / pra amadurecer durante um bocado
de tempo // agora tudo isto ë difícil // porque eu / ãs vezes / por
exemplo / tem momentos em que eu escrevo poemas que eu acho maravilhosos / quando eu vou reler ë um lixo // quer dizer // eu nao
consigo encontrar um ( ) uma outra maneira pra melhorar aquilo
/
né / e ( ) então deixo a coisa // eu datilografo / geralmente deixo no arquivo / e depois de um tempo / se for possível melhorar /
melhoro // mas daí jã me entra outra questão // um pintor quando
pinta um quadro / ele dificilmente retoca este quadro// por que eu
vou retocar um texto // eu acho que
( ) a coisa ( ) ... eu tenho
que retocar no processo que ele tã sendo criado / né//uma / duas /
Hum-hm //
tres semanas / um mês / sei lã // mas depois que eu jã dou ele por
pronto / acho que deriva um pouco // quer dizer / tudo isso são
coisas que eu to pensando agora
/ também //
eu nunca pensei //
acho que existem muitas questões e vãrias respostas / né //
acho
que pode variar pra cada escritor / pra cada cabeça // cada um vai
achar uma coisa diferente // podemos brigar
durante quarenta anos
85
em cima de determinadas idéias e ( ) . .. vamos encontrar o presente
[ C] -
escritor / o João Cabral / o João Cabral de Mello Neto / que não
É //
acredita em inspiraçao //
C —
Eu até queria lembrar aquela vez // comecei lã // não a forma encontrada / como é que é // sabe aquela ( ) poesia / que ele escreveu // só lembro o começo // como uma concha
/ o novelo / que o
novelo desenrola / aranha / nao sei o que // ele aí ele fala sobre
isto // que a ( ) que a poesia / né / não pode ser uma ( ) ... nao
[d]—
C —
é encontrada naquela forma pronta// ele fala sobre isso // sobre
Hum //
Eu acho que
a . ..
[d]— vai depender da história de vida de cada um // sabe / ë uma coisa
muito complicada
// nao hã respostas adequadas pra tudo isso // a
gente pode dar assim uma ( ) uma pincelada sobre isso / aquele assunto / mas dizer / a resposta ë esta / a coisa ë assim / nao // ë
tudo muito relativo
// escrever
ë uma coisa muito ligada ã nossa
condição humana / e a condição humana / ela ( ) ela ( ) ela se altetera / de ( ) de homem pra homem / se altera de escritor pra escritor / de poeta pra poeta
/ de artista pra artista
// e como nao
existe sapato que serve pra todo mundo / né // não existe uma ( )
uma resposta que ( ) que ( ) exemplifique o que ë o trabalho literario //
86
DIALOGO
III
FALANTE E
Profissão: engenheiro
Idade: 28 anos
Sexo: masculino
FALANTE C
(ver diálogo II)
C —
0 que você acha da idéia de adoçao //
E —
Sobre adotar uma criança //
C —
Ë // sobre adoçao //
E —
Sobre adoçao de uma criança // adotar uma criança // bom//digamos
que ( ) que a gente nao pudesse ter uma criança / e tivesse vontade de ter uma criança // e entao / como que eu vejo isso // o que
eu acho sobre a idéia de adoçao de uma criança // é // eu acho que
a idéia da adoçao de uma criança / eu acho que ( ) i uma necessidade // pro casal hã / hã a necessidade da ( ) da existência dos filhos // então / quando nao hã essa ( ) não hã possibilidade / digamos / de ( ) existir esses filhos / ou filho / cria um vãcuo //
cria um vãcuo que tem que
( ) de uma maneira ser preenchido //
é
um vazio // entao / eu acho que as pessoas têm uma capacidade muito grande em ( ) em ( ) em (E) se adaptar ou
( ) ou criar
afeto
por coisas e ( ) ate por objetos // então / como hã essa ( ) essa
necessidade do casal / essa lacuna / e as pessoas têm uma ( ) capacidade muito grande em ( ) em criar afeto por coisas
/ entao eu
posso citar inclusive exemplos de crianças / que (E) nasce um afeto
enorme da criança em relaçao a um animal /
a um bichinho de esti-
maçao / e ela aprende a gostar / muitas ve ( ) (E) na maioria das
vezes / mais do que ate uma própria pessoa
// entao / eu acho que
( ) dentro dessa capacidade de ( ) de ( ) de crescer afeto dentro
das pessoas / né / e dentro da ( ) daquela ( ) daquela lacuna que
surge / daquela ( ) daquele vazio (E) na vida de um casal / uma. ( )
uma mae (E) digamos / (E) em relaçao a um filho adotivo / um pai
em relaçao a esse filho / (E) tem a ( ) a possibilidade / tran-
87
quilamente de criar um afeto / na medida em que o tempo vai passando / em relação ã criança adotiva / igual / ou ate maior do que uma
( ) um filho ( ) um filho ( ) ...
Como se fosse ... nem ...
nem sente ( ) ...
acho que talvez no final / a pessoa jã
esquece // jã nem lembra mais //
nem ... nao / não sente diferença // não distingue / não
lembra // passa a gostar // aquela
( ) aquela figurazinha / (E)
aquela criança // esse pai / essa mae / naturalmente que vai procurar uma ( ) uma criança / ne que tenha assim algumas características (E) dela ou do pai / né // que se assemelhe / talvez fisicamente / né // ãs vezes o pai tem olho claro / então / procura ( )
Ë//
uma criança que tenha um olho (Ã) claro / azul / então / que tenha
alguns caracteres físicos / e ( ) isso aí faz com ( ) com que nasça
Hum-hm //
essa ( ) essa ( ) assimilaçao
entre o casal e aquela criança //
vai passando o tempo / aquela figura de criança vai ficando cada
vez mais ( ) mais ( ) como é que eu vou dizer (E) mais ligada ã imagem dos pais / né // como vai se ligando cada vez mais vai criando
aquele amor / aquele afeto / e aquela ( ) aquele início / aquela
base / nao é nao // foi ( ) adotada a criança // (E) aquilo se apaga // aquilo se apaga e e substituído pelo amor / que vai cada vez
aumentando / né // por esse motivo / eu acho que (E) talvez os pais
no começo / né / eles ( ) eles vivam aquela situaçao de adoçao //
no início / mas depois / devido esse afeto / esse amor que vai crescendo / essa situaçao de adoçao apaga / e nasça a ( )asituaçao do
filho //
Tã certo // é difícil no começo / né // mesmo que você tenha a
É //
idéia ... voce queira ... voce sempre fica com aquela ( ) ...
É // sem ( ) aquela ( ) aquela idéia de que
( ) existe adoção //
porque o ( ) digamos o amor nao / ainda não existe / de uma maneira
integral // quer dizer / aquele amor / ainda nao aconteceu / aquela ( ) aquele laço //
E ( ) e o que voce acha do problema
. .. por exemplo /
ãs vezes o Roberto pensa assim // que ( ) (E) a criança / a criança adotada / ê uma criança problema //
Uma criança problema // é //
0 que você acha //
Hais tarde / ne / quando a criança . . . digamos se isso for escondi-
88
do da criança / mais tarde / a criança vai sentir mesmo um ( ) digamos um impacto // porque tudo que se sabe
(E) de repente / causa
impacto // mas eu acho que e momentâneo //
eu / eu acredito que e
momentâneo // eu acredito / que ë momentâneo / na proporção em que
( ) em que ele recebeu / toda aquela atençao / todo aquele ( ) aquele apoio / durante todo aquele tempo // entao / e aí / dependendo
da educação que também foi dada
[ C] —
/ desenvolvimento
da criança / e
tal / né / no caminho bom / entao essa ( ) essa criança / ou ( ) talHum-hm //
vez esse adulto quando souber / ou esse adolescente quando souber /
ele vai / sendo bem criado / ele vai entender / ele vai receber o
I C]-
impacto / entendeu //ele vai receber //mas vai ser compensado
Ham-hm //
ele ( ) ele não vai ( ) ... talvez haja algum
do problema // acho que pode haver
//
( ) algum fiozinho
// Mas é melhor // ele vai en-
tender que é melhor a situaçao atual // do que descobrir/ que ( )
que ( ) esses nao sao os verdadeiros pais /mas que ele recebeu todo esse apoio / do que estar naquela situação de uma casa de ( ) de
correção / (E) aquela ( ) como é que ë / aquelas escolas de crianças
[C]—
(E) órfãs / orfanato / né // entao ë melhor a situaçao atual / de
Orfanato //
estar com ( ) com bons pais / que deram todo apoio e afeto / do que
estar numa escola daquela abandonada //
C —
[E]—
Hum-hm
// agora ( ) eu me referi problema / criança problema / no
A razao mostra isso pra ela / pra criança //
sentido que ( ) ... (E) por exemplo / foram bem criadas
[E]-
/ ali /
né / que voce estava falando / / d a criança assim ( ) que ( ) ... ãs
Ë //
vezes hã pessoas que acham
/ que ( ) o ambiente
/ por exemplo /
assim ( ) (E) ... do problema hereditario / que seria uma coisa assim // que a criança jã ë problema / porque ela jã traz traços / do
pai / da mae / já ë rebelde / mesmo sem saber de nada
// que toda
criança e ( ) ë revoltada / ë uma pessoa / uma criança / uma pessoa
revoltada // o que você acha / disso //
E —
Revoltada // bom / depende // isso ë ( )
depende de cada indiví-
duo // quer dizer / eu acho que ( ) isso pode acontecer / inclusive
[C]-
em relaçao a um filho / a um filho próprio do casal // digamos eu /
^
t ü isso aí //
eu sou pai / mas eu posso ter / ter alguma coisa de revoltado também / e transmitir alguma coisa desse tipo a um filho meu/mesmo//
89
então / é um problema que pode surgir / (E) em qualquer situaçao /
[ C] -
filho adotivo ou nao // quer dizer // e um problema comum a qualLógico //
[ C] —
quer pessoa / nao tem a ver com o fato de estar sendo adotado //
Cada um tem um ( ) ... tem o problema de( )
[ E] —
[ C] —
da individualidade / mesmo //
É individual / de cada um
a ver com o fato de ter sido adotado //
( ) no caso da Angelica e do Romulo // jã
// nao tem nada / nada
Por exemplo / no caso
( ) hã uma diferença /
[ E]—
É
Indivi-
[ E]—
na personalidade / um jã i mais teimosinho / o outro ... ne // mas
dual //
Exata-
E —
nao e um problema de ...
tamente // esse filho que estã sendo / que seria adotado / ele pode
ter as raízes num pai ( ) nervoso / neurasténico / e pode ser também / que ele seja (E) filho / né / natural / de um pai ( ) inte[ C] —
, Então /
C —
ligente / de um pai equilibrado //
voce acha que o que influi mais ê o ambiente //
E —
Inf lui // tranqüilamente // ë o ambiente em que ele estã sendo criado // se ele estã sendo bem criado/ como eu disse / nê / no ambiente]Hum-hm //
te / nê / bem educado ... eu acho que a base ë a educaçao da criança / entende //bem educada / ela vai ser conduzida por um ( ) por
um bom caminho // agora // tem a ressalva do indivíduo // cada indivíduo vai reagir de uma certa maneira ãquele ( ) aquele estímulo
da criaçao / tanto que numa família / (E) existe o que ... o bom filhinho / e o mau filho // sobre a educação dos mesmos pais / nê //
existe o ( ) a ovelha negra / e o garoto que gosta de estudar //
[C]- É // lógico //
depende do ( ) do indivíduo / n e // mas de qualquer maneira / uma
i
boa educaçao / vai conduzir esses indivíduos / a um / a um melhor
ponto possível / q u e ele pode atingir
[C]—
EC]—
// então esse problema pode
, Hum-hm // nao interessa se
acontecer (Ã) (E) com um próprio filho mesmo //
ë adotado ou nao ë / que isso ë um problema ...
C —
Lógico //
E -
Né //
C —
E o que que voce acha do problema
de' ( ) por exemplo / de repente
sofrer um impacto/ né // a criança não sabe que ë adotada // então
voce acha que ( ) como deveria ser isso //que os pais deveriam esconder / ou deveriam contar // e de que forma / por exemplo // como //
90
E —
Ë // eu.acho que
( ) ... você vê que
( ) eu coloquei como único
[C]—
problema dessa situaçao do filho adotivo / é o impacto//e o impacË // você jã viu / você
C —
to / o único problema seria o impacto/certo // porque ao ...mesmo
jã pensou nisso / logo //
Hum-hm//
assim / depois de ter o impacto / ele pesaria / estando bem orientado / ele pesaria / e chegaria ã conclusão / de que ele estã me[C]Ë //
lhor do que estaria sem aqueles pais //
C —
Depende / depende da maneira como você falou ali / que ele foi criado // porque se ele ê amado / ou nao ê amado / se ele ( )
ele vai
ter aquela reaçao assim//por exemplo// quando ele sabe / no final
ele tem mais e que agradecer // se ele sabe que ele foi ... se ele
recebeu todo ( ) carinho / todo amor / mesmo que ele tenha digamos
outro irmão jã // ãs vezes a pessoa / o casal nao tem um filho // de
repente aí / adota um / e depois vai ter / né // mas aí entao / na
[E]-
medida em que ele compara / por exemplo / se ( ) ele tem 'outro irCerto //
mao / e aí fica sabendo que o outro ë o irmão verdadeiro / que ë o
filho verdadeiro // aí se ele ( ) ë tratado mal
/ ele começa per-
ceber que hã uma / hã uma distinção / e nao sabe por quê //
[ E]—
E —
Isso sim poderá causar o problema // entao os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã) tive-
[ C]— Ë //
ele nao sabe por quê // entao neste caso ...
rem ao alcance de
[ c] -
( ) de ( ) evitar que aconteça essa diferença de
tratamento / né // (E) entao pra que adotar //se ele adotou
tu
/ en-
tao / ele tem que adotar / tratar igual // entao não adote / entao /
entao tem que... não pode haver diferença de tratamento// então essa criança / depois vai ver que nao hã diferença de tratamento entre os dois / e só tem a agradecer //
C —
E —
tu
Então ela vai ter aquele impacto natural de saber
/ pô / este não
ë meu pai // ih ( ) nao ë meu pai // po / pensava que era meu
pai // tenho outro // vem o impacto / tenho outro // aquele ë meu
tu
pai // este nao ë // então o choque / de saber que este não ë o pai
[ C] Ham-hm //
[q -
dele //
C —
Ë // no momento sempre / de qualquer forma / acho que o impacto
existe / në //
91
E —
Ha o impacto //
C — Agora o negocio de ( ) de se revoltar ou nao depois / isso i um ou[ E]—
Nao / aï depende daquetro problema // depende do ...
[E]
le outro lado que a gente falou / do indivíduo // um poderá reagir
[ C] —
reagir
E
de um modo / outro de outro //de qualquer maneira sempre hã (Ã) . . .
[C]— de um modo / outro ... depende ...
depois desse impacto / independente do indivíduo / eu acho que arazao (E) vai conduzir o elemento a comparar / / a situaçao dele / com
[c]-
aquele pai adotivo / ni / que o adotou / que o tratou bem / e que
t II
ele estã em ambiente bom
/ em relaçao àquele ambiente em que ele
estaria se nao tivesse sido adotado // a razao sempre vai conduzir
ele a esse ponto //
C E —
[C]—
t //
E no fim / ele vai sempre agradecer //
É / ele vai ter que agradecer //
E — Vai ter que agradecer // uma pessoa normal
[C]—
[c]-
// eu to me referindo
Lógico //
a uma crian ( ) um adolescente/ sei lã / a um indivíduo normal //
/
tu
com reações diferentes ao ( ) diante do impacto // mas a razao vai
conduzir ele sempre / a fazer essa comparaçao / ni //
e ele vai ...
no início / após o impacto / poderã ele ( ) ele nem agradecer //
depende da reaçao do indivíduo // mas / depois de algum tempo / ele
vai / tranqüilamente / voltar / e vai agradecer // eu ( ) eu imagino que aconteça isso//existe a razao // considerando pessoas nor[ C] —
Ë / isso com pessoas nor ...
mais//
C —
Normais / claro //
E —
Normais
[C]—
// i claro // existe aquele que
( ) que nao i normal //
então que vai sair ( ) louco / (E) vai sair matando//esse nao i ...
Ë / fica ( ) transtornado /
essa jã Í uma situaçao que ( ) dã pra colocar ã parte //
C -
Ë //
E — Ã parte // mas daí voce perguntou (E) se eu acho que ( ) (E) (E) ...
[ cl—
t u
como i que você perguntou //
C — Da idiia / o que você achava da idiia //
[E]—
Nao / se ( ) deve contar ou nao //
C —
Ah / sim //
92
E —
Deve contar ou nao // entao como eu falei / o maior problema seria
o impacto // entao acho que ( ) pra evitar esse único problema / que
seria o impacto / que poderia trazer reações como essas que nos
[ C]—
falamos / entao (E) acho que ( ) poderia jã / enquanto a criança esHum-hm //
tã sendo educada / né / jã ir (E) procurando fazer entender
...
/
mostrar que ele e um pai adotivo // que ele tem outro pai/ certo//
pra até chegar numa ( ) num certo ponto / né / e dar inclusive até
opção / de ( ) dessa ( ) dessa pessoa até procurar quem sabe o outro pai // sabe como é que é // o pai verdadeiro // sabe como é //
[ C] —
Ham-hm //
entao vai / jã vai educando a criança jã procurando entender
que
( ) ...
C —
Pesar a situaçao //
E —
É / pesar a situação // se bem que é ( ) e ( ) é perigoso / porque
[C]-
esta criança que nao tem ainda aquela personalidade formada / né //
Ë //
C —
I El —
[C]-
ela fica ( ) totalmente sem ...
Ela nao tem o caráter / a personalidade ainda / tã tudo em
Ë I/
formaçao / ela pode / pode reagir de uma maneira (E) (E)
prejudi-
cial a ela propria / né // entende o que eu quero dizer //
C —
[El —
Sei // é porque ...
Entao / é perigoso // quer dizer / é um
problema // (E) o pai
tem que lidar com muito tato // tem que ter tato //
C —
Ë que ela nao tem aquela capacidade de
( ) de discernir melhor as
coisas / e de ver qual é o melhor caminho / nao / de ponderar / de
analisar / de ver / de compreender a situaçao / e de optar pelo melhor pra ela //
E —
Em qualquer momento / eu acho assim
// em qualquer momento que se
conte / que se conte / vai gerar o impacto //
C — Seja em que época ...
[ e] —
É // seja em que época for // então / você veja a idéia
[C]—
Agora / mas
que eu tô querendo dizer //
[C]— deve existir uma época melhor //
E —
É // isso // querendo dizer/ querendo dizer / que deve ser contado
tanto que ...
[Cj —
E —
0 ( ) problema é esse / saber o momento melhor //
Saber o momento certo // é muito perigoso // tem que saber o momento certo // o momento / e tem ... e eu acho que tem que ser falado
93
/ de uma maneira gradativa / e nao / que cause aquele impacto / que
gere uma reação inesperada / né //
Então teria que ( ) que ser na infância / ja / assim // não na adolescência // jã ser quando a criança ••• quando ë pequeno ainda //
Ë//
de uma forma ...
tem que jã ir aos poucos / ir preparando //
Ë difícil / né // é uma coisa que ( ) que eu nao saberia como / por
Ë uma coisa difícil // ê um proexemplo / no caso / como / como falar / em que época / em que hora
blema //
certa / né / pra falar //
Isso mesmo // por exemplo / tem pessoas / que adotam a idéia / digamos / a linha de ação de não contar // simplesmente / nao conta //
94
DIÁLOGO
IV
FALANTE F
Profissão: médico
Idade: 34 anos
Sexo: masculino
FALANTE G
Profissão: professor
Idade: 31 anos
Sexo: masculino
FALANTE A
(ver diálogo I)
A —
Nós tamos aqui na casa do Édson / fazendo uma visita a ele / e como eie ( ) recém adotou uma criança / nos gostaríamos de perguntar
a ele / alguma coisa sobre adoção / Édson //voce poderia dizer alguma coisa pra gente //
F —
Olha / a ( ) adoçao / era uma palavra que ( ) vivia assim bastante distante da gente / até a gente casar / e nao ter filhos / né //
a partir do momento / em que ( ) nao se conseguiu a gravidez desejada /no ( ) na época certa "/ a adoçao passou a ser pra gente / uma
palavra de estudo / mais ( ) de perto da gente // e também por ( )
devido ao que a gente / a profissão que a gente exerce / né / na
parte de obstetrícia f e a minha esposa na parte de pediatria / nós
estamos todos os dias muito ligados a pessoas que estão dando neném / pessoas que estão tendo neném // entao esse ( ) mundo de adoçao com a ( ) o ( ) com o exercimento da nossa profissão / e com a
situaçao nossa / passou a ser assim / um mundo muito comum / e nos
pudemos trocar muitas idéias (E) a respeito da mesma // particularmente nós (E) jã tínhamos uma idéia formada
/ uma vez que na nos-
sa família / jã que eu tenho trinta e nove sobrinhos
[A]-
/ oito deles
Nossa //
sao adotados // minha mae criou onze filhos / adotou quatro //
A — Meu Deus // incrível //
[F]—
E então ( ) e entao / isso pra
F —
( ) na minha família era
muito comum / né //a gente encarava a adoçao como uma coisa perfeitamente normal
// não importando a idade / nao importando se a
criança sabia ou nao sabia / nao tinha problema // agora / por parte da minha esposa / as preocupações eram maiores / porque ( ) nun[A]—
Hum //
95
ca tinha tido assim um caso na família
// mas / pela necessidade
nossa de termos uma criança / e a vontade nossa de termos uma criança em casa / nós passamos / ou melhor / minha esposa passou por ciHum
I
I
.
ma desse problema / e com estímulo de amigos também medicos / acabamos (E) acabamos adotando a Sheila / ne / que chegou hã dois meses
e meio
/ e nós só nos ( ) nós só sentimos / ou só nos agradecemos
de não termos esperado muito tempo mais / ni / uma vez que esperaQue maravilha //
mos apenas três anos / n i
// estamos com três anos de casado // e
ËII
se nós tivéssemos esperado dez anos / como muitos casais esperam /
nove anos / oito anos / nós sem dúvida nenhuma estaríamos lastimando agora / porque ( ) desde a hora que a Sheila veio / mudou totalmente a nossa vida / ne / tem uma visão total / pra nós //
Isso II então a gente podia perguntar pra você / se tem influência
no comportamento posterior da criança
/ a época em que se dirã a
ela que foi adotada / ou / se no caso / naa se deve dizer // como i
que voce acha //
Ë // nós cremos que existem duas correntes
... aquelas corrente
mais antiga
// existem aqueles ( )
/ em que os pais não dizem / nao
gostariam de dizer aos filhos que eles eram adotados // então / normalmente se criava uma cadeia enorme em torno da criança / pra se
evitar que alguim dissesse ã criança
// então ãs vezes os pais se
mudavam de lugar / pegavam uma ... a mae fingia uma gravidez / coisas desse tipo / pra adotar uma criança numa outra cidade / pra que
É verdade //
achassem que ( ) que fosse filho dela // uma criança nessas condiçoes / realmente 7 que venha a saber que ela e adotada / por volta dos seus dezoito / dezenove / vinte anos / pode-se criar / nela
uma das reações mais diversas possíveis / e normalmente de nocividade ao pai e ã mae
// agora atualmente / a Psicologia nos diz /
que a melhor ipoca de se dizer pra criança que
criança adotada
( ) que ela i uma
/ i entre os três aos cinco anos l i a gente jã ir
preparando o espírito da criança / quando a criança aceita melhor
as coisas / e dizendo lentamente pra ela / que ela não i filha leHum //
gítima
// parece que nesta ipoca
/ hã uma aceitação melhor // eu
creio que o mais (E) o mais nocivo que a gente vê / ê quando a
criança recebe a notícia por terceiros / nao i // então o choque i
Ë //
96
grande / e a personalidade da criança
/ ãs vezes conforme a idade
era que ela esta / pode ( ) mudar totalmente / pode ficar agressiva/
Ë//
pode assim ter a
( ) as mais diversas formas de reações
/ ne //
Ëdson / entao / vamos fazer uma pergunta aqui / um pouquinho mais
complexa
// entao a criança adotada / então ve / devido ãs condi-
çoe;s em que se desenvolveu a gravidez materna / e devido mesmo a
uma possível hereditäriedade paterna / ela nao teria assim ( ) digamos / uma grande possibilidade de ser uma criança problema / devido
a esses fatores //
Ë // o ( ) o meio ambiente uterino / veja bem / o mundo que a criança
vive / no ( ) no utero da mãe / e uma criança que estã em contato
com o meio ambiente // e evidente / que numa gravidez sobre tensão-/ uma gravidez com susto / com tristezas / alegrias / dificuldades / essa criança vai ter algumas dificuldades / ãs vezes / ser
uma criança mais nervosa / mais irritadiça / que chore mais facilmente // pode acontecer alguma coisa desse tipo / porque a criança
no utero materno / jã estã em contato completo com o meio ambiente//
agora / a criança depois que nasce / ela é todo um mundo aberto /
Hum //
onde voce pode colocar ali tudo que voce quiser // entao e um camHum-hm //
po ( ) um campo preparado para o plantio
/ e para a ( ) o cultivo
dessa criança // entao cabe ao pai e ã mãe / (E) todõ esse trabalho
de meio ambiente / colocar na cabeça da criança tudo que eles acham
importante / para que essa criança
se adapte ao meio ambiente //
Ë//
e nós vemos coisas assim ( )
coisas (E) engraçadas ate / vamos di-
zer / que a criança acaba se parecendo com o pai / com a mãe //
É / isso i verdade //
Nao que ela mudaria tanto / a maneira de ser /mas ela acaba ãs vezes / a fisionomia parecendo / nl //
E as vezes / um filho próprio do pai / talvez nao seja tão parecido / quanto o adotivo //
Tao parecido //
Ë verdade // isso ë uma coisa muito comum mesmo / e muito bonita //
Exatamente // e a questão da hereditariedade / nós cremos que não
funciona pra esse modo // porque a gente vê / ãs vezes / pais tão bons
com filhos legítimos tao ruins / ne // pais tão ruins / com filhos
Ë / isso e //
tao ( ) . . .
97
Tão excelentes //
Ne // eu tenho a ( ) o exemplo dentro da minha casa
// meu pai /
minha mae / fumam barbaridade até hoje // de onze filhos / nao tem
nenhum que fuma
/ que goste de cigarros
// então / onde que tã a
a ( )a hereditariedade // então / coisas assim / incríveis / né //
A hereditariedade //
então se fosse assim / os filhos do Einstein seria
oito gênios
Gênios //
então ax (E) entram outros fatores / que ( ) a ciência nao explie no entanto nao acontece //
ca totalmente / né //
Ë // ê verdade // então / mais ou menos pra encerrar / Ëdson / então / ( ) vamos dizer
/ você que adotou uma criança / então vamos
fazer tipo um final aqui // o que o levou a isso / nê // voce jã
quase que falou / e como você se sente agora / então / depois //
É // o que levou nós a adotarmos uma criança
período de a gente estar casado
/ é que depois de um
/ a gente ve que a vida começa a
virar uma rotina / em termos profissionais / viagens // (E) parece
que ( ) falta uma coisa na vida da gente // e esta alguma coisa /
sem dúvida nenhuma
(E)
/ ê uma criança
// e como nós jã dissemos nós
só não ficaríamos / nós só ficaríamos arrependidos / de espe-
rarmos / vamos dizer / oito / nove anos / nê // nós estamos
felicíssimos / de termos ( ) ... de ter vindo a nossa
hora certa
assim
criança na
// seje nossa ou nao seje nossa // agora a questão de
amor a essa criança / a- questão de estima / eu creio que é uma questão / que principalmente nós / dois / tamos com todas as chances de
dar tudo que ela precisa / né / em termos de amor / como fosse uma
criança nossa / sentindo como se fosse nossa filha // como ela vai
( ) como ela vai ( ) encarar isso depois que souber que nao é nossa filha / isso mais tarde / isso ê um outro problema / que nós nao
podemos pensar agora
// se ela vai (E) ... trouxe algum problema
de desenvolvimento materno / algumas frustrações
/ algum problema
que pode ter influído / também nós nao podemos analogar / porque se
à gente pensar também muito / a gente não faz nada / né //
Ë verdade //
Mas / o importante é que nós precisávamos da ( ) da nenê / conseguimos / e eu acho que ela precisa também muito de nós / né / e nós
vamos dar tudo que for necessário e / que Deus nos ajude //
Ah / puxa vida // Ëdson / então / muito obrigada //
Espera aí que eu tenho uma perguntinha a mais pra fazer //
98
Ah / mais uma / que o Jorge tem //
.
É // jã que a experiencia da primeira / que ainda nao se concretizou e que ainda existe muito
( ) muita tarefa ãrdua
/
muito ( )
muita labuta pra criação dessa ( ) dessa nova (E) nova criatura que
voces estão no seu lar / que nao i de vocês / (E) vai ficar so nessa //
Não // o nosso plano / o plano da minha mulher
/
i a partir de
maio /.daqui a um ano / n o s partirmos para um guri //
Ah / que maravilha //
Se nao der um guri / partimos para mais uma menina //
Que coisa linda //
0 nosso plano i ficarmos entre dois a tres
/
entre duas ou três
crianças / ni //
Mas / Édson / (E) jã ê praticamente ( ) ... digamos ( ) dentro de um
contexto social / existe casos / em que casais que ãs vezes ficaram
anos tentando ter filhos / nao conseguiram / e depois que adotaram
um ou dois / tiveram um seu proprio
//
talvez ati por um premio
divino / a respeito de sua boa vontade / da sua ( ) ...
(E) digamos
do amor que voce ( ) . . . da doaçao / que voce estã fazendo / como i
Da doaçao //
que voce encararia depois / Édson // como i que você se sentiria /
(E) depois de um ou dois / ou três adotados / tivesse um filho teu //
Veja bem/Jorge//a gente que crê que somos todos filhos de Deus /
somos todos irmãos / nao e mesmo // toda a criança
toda a criança ê uma coisa linda
/ puxa vida //
/ nê // não ( ) não ( ) não quer
Incrível //
saber se i da gente/ se i do outro // toda criança tem alguma coisa assim de ( ) de Divino numa criança / de bonito
de ( ) de ( )
... que mexe com o sentimento da gente //não impor ta / vamos dizer /
se seje da gente / se seje de outro // eu sei que a ( ) a situaçao
( ) vamos dizer ( ) o dia / o dia em que a Sheila veio pra nos /
a correria que nos tivemos atrãs de documentos e papiis / i como se
a minha mulher tivesse tendo um parto / ni // o nervosismo nosso /
tal e coisa / e tudo mais / e nenê // então / eu acho que ( ) não
vai mudar praticamente nada //vai ser assim // vai ser uma criança
mais pra nós / um filho nosso / vai ser
tado / ni // (E) em termos de sentimento
vida / vai ser a mesma coisa
nenhuma //
( ) vai ser um outro ado/ não tenham a menor dú-
/ nao deve mudar nada
/ de maneira
99
G —
[F]-
Esse ( ) a Sheila / por exemplo / você acompanhou a gravidez, da geNao //
raçao da Sheila //
F -
Não //
G —
(E) Bom / ' eu como jã / jã sou pai / o filho foi gerado pela minha
esposa / e que eu acompanhei toda a gravidez dela / në / e também
fiquei grãvido / né / com ela / junto / (E) digamos / existe uma emoção muito grande no acompanhamento da gestaçao do ( ) do ( ) da gera çao do seu filho / né / na ( ) na sua esposa (E) mesmo como profissional /você como médico jã tã acostumado acompanhar gestações /
acho que de umas centenas / né // (E) é uma pergunta que eu sempre
gostaria de fazer // como é que voce se sentiria acompanhando /
como profissional
/ (E) e como pai da propria gestaçao
/ do seu
próprio filho //
F —
Olha / Jorge / não sei // mas e ( ) é ( ) uma
( )
é realmente uma
situaçao ... porque a gravidez ê uma coisa que mexe demais com a
( ) conosco / n ó
// eu me ligo assim nas pacientes / pra você ter
uma idéia / eu jã cancelei viagens minhas de prazer / por causa de
um parto que ia / devia ter naqueles dias // (E)
. perde o neném
se uma paciente
/ eu choro com a paciente / porque / puxa / aquilo
também tã dentro de mim/ aquele negócio / / a paciente quando ganha
um neném / eu choro de alegria junto com a paciente
/ e ( ) faze-
a maior festa dentro da sala / aquele rolo / sabe / porque o nascimento é uma coisa assim linda / mesmo / né / e aquele momento de
felicidade / aquela espera / e tudo mais
um
// eu creio que ser assim
( ) ... aumentar um pouco mais a felicidade da gente / ni //
esticar um pouco mais essa espera / porque o ( ) o gostoso / ni /
de tudo e aquela espera
// fazer ali / as roupinhas pra nenim //
i ver o bercinho / (E) o nenenzinho se mexeu hoje / ni //
A —
Ë // aquela coisa //
F —
Entao / eu talvez nao sinta tanto / nem minha mulher sinta tanto
porque nós temos (E) um pouquinho de remidió / porque (E) eu acompanho as gestantes / e ela acompanha as crianças todo dia // o meu
[A]-
nenezinho fez isso / e tal / tal // entao de uma certa forma /
Ë //
a
gente ta um pouco em contato / e isso tira um pouco daquele ( ) ...
G —
Encantamento //
F —
Encan ( ) encantamento da gente / ni //
A —
Nao hã talvez aquela falta / ni //
100
É // a falta nao é tao grande / né // nao é tao grande // e por
outro lado nos dois nao somos
.. . por exemplo / tem mulheres que
se nao tiverem um filho / elas ( ) elas ( ) . . .
Enlouquecem //
Enlouquecem / ne //
É verdade //
(E) Tem homem que se não tiverem um filho/ ele larga /.ali da gente / e vai pra outro //
Ë // e vai querer outro // ë //
Não era bem o nosso caso //o nosso caso / era nós dois / as crianNão //
ça seria uma coisa futura / ne //
Uma continuidade //
Uma continuidade // se nao viessem crianças / nós ( ) nós ( ) nós
viveríamos normalmente / / a criança i assim um complemento de tudo
pra nós / né //
Bom / resumindo / digamos assim / (E) você em termos de papai agora / (E) praticamente passado em cartório / mas antes disso daí /
tanto voce quanto a lide / vocês eram papais adotivos de tantas
crianças / e você pai de tantas maes grãvidas //
Ë verdade // isso é muito bom //
Ë / / e a ( ) e o ( ) e
assim pra ( ) pra encerrar / assim a mensa-
gem que a gente como obstetra / a esposa como pediatra / e a gente
como ter adotado uma criança
/ a mensagem que a gente daria a uma
pessoa que nao tivesse filhos / né / eu que lido com esterilidade
feminina
/ e tudo mais
/ e vejo os ( ) os problemas psicológicos
que as mulheres passam / em busca dos exames que sao feitos para se
buscar um diagnóstico da esterilidade da ( ) das mulheres
a minha mensagem assim /
/ e ( )
seria fazer uma doação // Pegue uma //
tem tantas criancinhas nascendo aí sem condiçoes
// pegue / que
a pessoa jamais vai se arrepender
/ jamais mesmo
// sabe / tenho
certeza que nao vai se arrepender
// mesmo que a criança seje re-
belde / seje boa / seje agradecida / ou seje aquilo // a experiência de cuidar de uma criança / dar mamadeira pra uma criança / trocar a criança
/ dar banho na criança
/ esse acompanhamento / nao
hã nada que pague isso depois / pra gente / nê //
Puxa
/ é maravilhoso // então Olha
/ Ëdson / muito obrigada pra
voce / toda a felicidade do mundo pra lide / pra Sheila
você / tã //
/ e pra
101
F —
Eu que agradeço //
A —
Tchauzão //
-
102
DIÁLOGO V
FALANTE H
Profissão:
Idade: 32 anos
Sexo: Feminino
FALANTE
I
Profissão: professora
Idade: 33 anos
Sexo: feminino
FALANTE C
(ver diálogo II)
C —
Quando eu lecionava no Pedro Macedo
/ em 76 / eu sentia que ( )
muitos alunos / nao só comigo / nao tinham
(E) nao demonstravam
muito interesse // você se matava de explicar
/ e eles nao tavam
nem ali / porque sabiam que iam ter uma nova chance
não aprendessem agora / nao iam reprovar de ano
// ora / se
// então / essa
questão de muitas recuperações / recuperaçao terapêutica / eu considero uma falha da Lei 5692 // eu gostaria de saber entao / como
vocês veem o ensino / concretamente falando / apÓs a implantaçao
da Lei 5692 // seus pontos positivos e negativos //
•H —
Essa Lei 5692 / em primeiro lugar / que nunca lecionei
/
sem ser
com a Lei 5692 / né //
I —
Eu também nao //
H —
Quando eu comecei a dar aula / em 73 / ela jã tava em funcionamento // nao assim ... (E) me lembro que eu dava Geografia // entao /
ainda tava dividido em Geografia / História / etc. // mas ( ) Estudos Sociais ainda nao tinha sido incorporado / mas
( ) jã tinha /
entrava recuperaçao / a recuperaçao terapéutica / tudo aquilo / tava em vigor
// e acho que um ano ou dois / depois / começou a en-
trar (Ã) Estudos Sociais mesmo / daí a lei funcionava normalmente//
[I]-
Fazia parte do
I —
Núcleo Comum que a lei propunha //
H —
É / #daí sim // quer dizer / antes tinha / Estudos Sociais / mas só
que era um professor que dava Geografia / outro História / e outro
Organizaçao Social e Política
// e a gente quando fazia a avalia-
çao / cada um dava sua nota / se somava / tirava a média / e tinha
uma média de Estudos Sociais //
103
I —
Entao / quer dizer / que com a lei / acabou / justamente / não
existe mais aula de História / nem de Geografia/ nem de 0.S.P.B.//
existe uma coisa em comum //
H —
Daí / sim / acho que uns dois anos depois
/ começou a vir Estudos
Sociais com um professor só // daí a gente / cada um / nê /
assumia
as suas aulas sozinho e ( ) e ( ) foi quando a lei começou a funcionar normalmente
/ como deveria ter funcionado
// agora / pelo
que eu tô ouvindo tã voltando / de novo //
I -
É //
H —
Separar // pelo menos na minha ãrea
// separarem novamente //pro-
fessor de História dando História / de Geografia dando Geografia /
e
( )
... agora em relaçao ao aproveitamento
lei tem culpa disso
// eu acho que
/ eu não sei se a
( ) esse riegõcio assim de nao
refletir / de o aluno ter preguiça mental
/ tudo isso / jã ë uma
coisa assim que ( ) ... porque a Escola nunca estimulou mesmo //
voce tã fazendo assim / descobertas / ou você tã ( ) . . . você nunca
estimula
o aluno a pensar
/ nê // normalmente a Escola
/ de um
modo geral/não // ë aquilo prontinho / a resposta certa / o livro
vem até / assim ( ) com uma resposta praticamente feita
/ quase /
jã pro aluno // entao acho que isso nao ( ) ë /propriamente culpa
da lei //
-I —
Pois ë // entao voce vê / dentro da minha ãrea / que seria Ciências / në / atribui-se justamente a ciencias
/ a grande responsa-
bilidade em parte de levar o aluno a refletir / nao ë //
H —
É / Matemática também //
I —
Entao / depois que foi colocada a lei / que foi implantada / tudo
direitinho / o pessoal da Secretaria / por exemplo / começou a
criar cursos / nao ë / pra fazer com que as professoras pudessem
se adaptar dentro do que era pedido //
H —
Ë // as reciclagens //
I —
Ë // as reciclagens / në // e mesmo depois das reciclagens / em ( )
em currículo mesmo// eu até cheguei a dar esses cursos em currículo / em Ciencias
// onde justamente se insistia nisso / / e m que a
criança deveria aprender pensar por ela mesma / processar a mensagem / entao te dar respostas / né / a partir do que ela tinha entendido / e nao a partir do conteúdo //
que a professora deveria
entao (E) aproveitando assim / ao receber uma avaliação da criança /
por exemplo / ter que considerar só as questões
em que a criança
104
mesma desse a informaçao / segundo as palavras dela / segundo o que
ela tinha entendido // quer dizer / obrigando a criança de uma certa
forma a pensar // então (E) realizando experiências / nao e / com
materiais comuns / práticos / tudo isto / porque eles acreditavam /
justamente / a proposta era essa / que a partir disso / (Ã) a criança poderia / quando chegasse a fazer uma interpretação em Português/
ou a fazer uma leitura / na ( ) tua ãrea de Estudos Sociais
/ ela
jã tivesse condiçoes de refletir / jã teria desenvolvido o racioJá teria desenvolvido o raciocínio //
[H]—
cínio // mas (E) ...
H —
Não ( ) não se faz / nê //
I —
Nao / não //
H —
A gente aprende / mas nao ( ) ... nao sei / ë como se ( ) ... sei lã /
a propria escola não te motivasse a isso // a estrutura da escola
o sistema da escola /e neste ponto / eu acho / por exemplo que ( )
que existe a
( ) a
( ) uma certa razao quando dizem ... aí sim /
talvez seja um defeito da lei // que a lei tirou do professor a
liberdade dele / por exemplo / decidir
como ele quer dar
o que que ele quer dar /
// entende// ele ê uma pessoa / assim / que nao
- participa mais das decisões da Escola
// geralmente tem uma coor-
denação / ou um ( ) mesmo uma supervisão / que tã encarregada de
[ X] —
I —
( ) de se preocupar com esta parte / e o plano jã vem prontinho//
Ë //
Até as avaliações / em muitas escolas
/ a gente sabe que funciona
assim // ë serviço da coordenadora / nê //
[H]H —
tu
E o ( ) e o professor simplesmente virou um mero ( ) um ( ) uma
máquina que aplica aquilo / um instrumento // uma máquina que aplica aquilo que jã veio programado por outra pessoa // então separa-
[I]-
t u
•
ram o pensar pra uns / eoagir pra outros // e isso talvez fosse realmente / uma conseqüência da lei // eu acho engraçado
impressão atê que voce tem uma testemunha
/ porque dã
// eu acho horrível //
lembra que ( ) num trabalho de Antropologia a gente nota ãs vezes /
que todo mundo começa a
[I]-
... alguns se inibem / tem gente que nao
fala / eu nao sei se pra você / pra mim / eu tenho impressão que
Ê/tem
tem uma testemunha / testemunha oculta /ê bom ate nao olhar muito //
[i]— pessoa //
I —
Mas eu nao sei / agora eu ( ) o que eu peguei direito mesmo / tra-
105
balhando com 29 grau
/ foi a questão do profissionalizante- / que
veio com a lei //
Ë / e // isso jã nao / quer dizer / tive porque eu trabalhava com
o 2? grau / mas minha materia nao interferia //
Pois i // entao o que a gente sentia foi isso // (E) eu trabalho
em escola particular / nao e // entao quando se implantou a lei /
exigiu-se uma série de materiais pra poder funcionar um ( ) os cursos profissionalizantes / e isso
e aquilo // entao o pessoal da
escola se ( ) se empenhou / comprou / montou laboratorio
isso / montou aquilo / organizou estagio
/ montou
/ os alunos fazem até
hoje / porque continuam mantendo evao manter o profissionalizante //
(E) as meninas fazem estãgio por exemplo na parte de saúde/ em hospitais / na TECPAR / tudo / sabe // e o que mais te desanima / é
Ham-hm //
você ver que ãs vezes você recebe uma menina de fora / vem / dentro
da lei / e que nao fez nada / nada daquilo que ... se ela entra no
29 ano por exemplo / porque as outras escolas compram / dao um j eiHam-hm //
tinho / né //
Se vem de escola / principalmente escola publica / nao tem ...
É / nao tem nada //
mas mesmo as escolas particulares / por exemplo / tipo cursinhos /
né / eles nao aplicam a lei / do jeito que ê pedido //
Mesmo curso tipo Positivo //
Nada / nada / nada / nada
// eles sõ dizem que tem as matérias /
e mandam o aluno fazer uma carga horaria mínima
exigido
// nada do que é
/ sabe //
Porque na nossa / por exemplo / tinha / mas era so ... eles tinham
aquilo de que realmente a escola tinha condiçoes //
Escola particular / né / e colégio
de freira //
Nao / pública //
Pública //
Pública // mas era assim // (E) mecanografía / porque conseguiram /
Ah onde
// / umas máquinas de escrever / Ham-hm
sabe Deus
e tinha //
também / acho
Ham-hm //
que análises químicas / mas sinceramente
boratório muito pobre na escola
/ acho que tinha um la-
/Pois
e nao
é // posso imaginar que fosse
fazer alguma coisa mesmo de ( ) ...mesmo a ( ) a parte de mecano-
106
[I]-
grafia / eles aprendiam realmente a bater ã maquina / e parava aí //
Ham-hm //
[I]—
era auxiliar de administraçao / nao era nem mecanografía //
Ham-hm //
I —
Pois ë /mas você ve / a questão do particular ou não / também isso /
quer dizer / implica
// lá ë particular
/ mas (E) não sei se por
questão de ser de freira / que elas têm / que elas acham que tem
que cumprir tudo direitinho / que cumpriam / porque lã ... porque
outros particulares que pudessem muito mais / poderiam muito mais /
por exemplo / esses grandes cursinhos que nao têm 29 grau / dentro
da lei / e que nao mantém isso //
H —
E que teriam realmente condiçoes //
I —
Muito melhores do que lá // porque o cursinho / nao / o cursinho
[H]-
Ë //
ë fábrica de vestibulando / në //
H —
Ë // ele tã interessado em ver que as pessoas
[I]-
sejam aprovadas ou
Claro //
nao no vestibular
// o resto
... e tem outro detalhe ... agora
ë curioso / porque o teu ë colégio de freira // porque quem vai pra
cursinho / jã vai pensando em faculdade // então o compromisso do
[ I ] -
t u
cursinho / ë com a faculdade // quem entra
inclusive no Positivo /
desde / desde pequenininho / desde o primãrio / e mesmo 5? série /
tudo / (E) pessoas assim que
( ) (Ã) os pais já tao pensando em
preparar pra faculdade/ pra um curso / pra uma coisa assim // e ( )
então / eles nem têm ... o compromisso deles com os pais é em relaçao mais a ( ) ...
I — Pois é // agora o que teria de vantagem dentro da lei / se fosse
[ H] —
Ë a vestibular //
aplicada realmente
/ como ( ) como se sonhou
[H]profissionalizante / principalmente
[H]— profissionalizante //
/, pode-se dizer / o
0
/ pra esse pessoal de escola
pública / que deseja trabalhar / que ... não ë que deseje só / porque tem que trabalhar / não ë / e que teria ...
[ H] —
Porque tem que ter realmente uma profissão / uma coisa assim //
[i]—
Exatamente // que teria uma iniciação //
H — Uma especializaçao / né // e depois se falava muito também na ne[I]tu
cessidade técnica / logo que começou a se implantar //
I —
Ë / e isso mesmo // e depois morreu isso //
107
H —
Morreu // nao/ nao // nao ficou em nada // agora /é curioso / porque a Escola Técnica / sempre foi profissionalizante / sempre conseguiu dar o 29 grau //
I —
Com uma concorrencia incrível / né // tem até vestibular pra entrar //
H —
Pois e // e funciona / né // por que que o resto vai mal //
I —
Mas / justamente // é o que eu te digo // pelo fato // a lei abriu /
essa possibilidade
/ mas ao mesmo tempo abriu a possibilidade de
que os outros enganassem
// entao uns cumprem / outros não // é
[H]-
claro / por exemplo / houve evasao / do nosso 29 grau em relaçao a
Ê // porque
[H]—
cursinhos //
quando hã exigencia / começa ...
I —
Lógico // entao tem que cumprir X horas de estãgio / (A) no caso
eram só ( ) sao só meninas em 29 grau / por enquanto / infelizmente
ainda // mas no caso / entao / elas / se têm possibilidade/ se nao
têm tanta necessidade do curso profissionalizante / elas pulam pra
lã / porque justamente em função de cursinho / elas terão mais tempo / né / por questão do vestibular / que fogem //
[ H] —
Ë //
É // também / o publico / a
t II
I H — clientela que é atendida pe ( ) pela escola
[ilt u
/ é uma escola também
preocupada com / uma clientela preocupada com o vestibular //
I —
Pois é //
H —
Eu nao sei // eu vejo também
... depois é aquele negócio / né /
caiu / recaiu / abriram uma quantidade / abriu-se uma quantidade /
[i]—
diminuiu-se a qualidade // e ( ) ficou realmente ( ) por uma preoA qualidade //
cupaçao / eu acho ( ) que em geral / da ( ) da ( ) nao seria específica da lei // a lei abriu pruma maior quantidade / isso deveria
ser o ideal / mas não ( ) não / não viu que não havia condições/
na propria sociedade / dentro dos estabelecimentos que estavam funcionando / de poderem atender aquelas reivindicações //
I —
Pois é // voce vê numa escola de interior / por exemplo / vai montar
um curso profissionalizante // que condiçoes tem //
H —
E depois mesmo em relação a mercado / né / porque daí eles hao
tem
[I][i]—
. . . eles
( ) a única coisa que eles conseguem
é auxiliar de
De
escritorio / essas coisas assim que ( ) requer menos material
escritório //
//
108
I —
Então/ por exemplo / assim na ãrea de saúde que seria assim necessidade premente / né / nao tem condiçoes porque nao pode montar //
H —
Ë // o material é muito caro / e nao dá //
I —
Tanto é que aqui se dá bolsa
em nivel de 29 grau
/ só pra curso
de saúde // por exemplo / Administração / (E) Secretariado / já não
[ H] —
tao dando mais / justamente porque / tem muitos / né / e que denUm monte de
[ H]—
tro da área de saúde tem muito pouca gente // e então elas estagente // e //
riam incentivando / agora / a área de Saúde // mas mesmo assim ...
H —
Ë // eu acho que
... e depois
/ agora eu nao sei / porque agora
caiu o profissionalizante de novo / né //
I —
[ H] —
A vontade // pode permanecer
// pode permanecer / justamente por
interesse de atender a clientela que precisa depois //
Ham-hm // e você jã tem
H —
toda uma infra-estrutura montada / então ...
I —
Daí vai permanecer //
H — Até nem sei como ê que você foi ...
[I]—
Eu vejo como uma faca de dois gumes / isso pra
I —
nós // porque justamente / a í
/ aí pode ocorrer uma evasao maior
ainda //
H — Ficam só aque ...
[ i] —
Claro / porque daí ê preferível
'I —
// quem não
( ) não ( )
nessa idade talvez ainda nao estejam assim pensando / nê // quem
ainda nao pensa / quem não tem a necessidade financeira de um emprego / ou isso ou aquilo / nao vai querer ficar na escola // por-
[H]—
É //
que vai preferir um lugar / então / onde nao tenha //
H —
E a clientela de vocês lã / acho que a maioria nao precisa / né //
I —
Pois agora tã modificado //
II -
Ah / é //
I —
Ë // inverteu-se //
H —
Então deve tã havendo um problema enorme / nê //
I —
Ë // tem menos número jã de gente que nao ( ) que nao precisaria //
então / acho que essas vao acabar saindo mesmo //
H —
E como ê que ( ) com essa diferença assim de pessoa
/ (E) de pes-
soa de renda menor (E) e de pessoal que você tradicionalmente tinha / e que era de uma renda mais alta / como é que se dã o entrosamento / o ( ) ....
I —
[H]-
Entre as alunas / principalmente entre os pequenos / não hã probleË
109
ma
/ de aluno pra aluno / tanto quanto hã de pais / e m relação /
aos alunos carentes
[ H] —
/ por exemplo // de nao querer que a filhinha
Ah / é / é / /
se misture / ou isso ou aquilo / sabe // mais por questão / assim /
de os pais incutirem ãs vezes na criança // mas por ela mesmo,...
H —
[i]—
Ë / os pequenos eu acho que nao //
Ninguém nem sabe quem i quem dentro da sala //
H —
É // mas adolescentes / eu acho que jã é mais problemático //
I —
Existe uniforme / justamente pra
( ) pra impedir assim / os altos
desfiles / né / se fosse o caso / ou coisa assim // mas elas nao
( ) não / nao se hostilizam assim / em comportamento / assim / porque sao turmas muito pequenas
[ H] —
/ ate dez alunas / quinze alunas /
Ham-hm //
entao / nao ( ) nao tem ainda / nao chega ao problema // mas essa
questão que ela abordava
da recuperaçao
/ isso eu acho / assim
uma ( ) uma judiaçao o que se faz com as essas recuperações //
H —
Ë // essa recuperaçao é uma coisa ridícula / né // tã ali na lei
e diz que realmente ( ) ... mas nao funciona / de maneira nenhuma //
-I —
Como é que você vai recuperar um bimestre / nao é / numa aula de
[ h ] -
tu
90 minutos //
H —
til
recuperaçao deveria ser aquela recuperaçao paralela I que você
vai fazendo / â medida que voce vai dando novos assuntos / você jã
vai revisando sempre os ( ) os anteriores / e como pré-requisitos
[I]Pois é //
pra voce entender o que vem a seguir
// mas recuperaçao mesmo ...
o que eu acho que seria ideal / nao seria propriamente / reprovação II sou contra //achar que infelizmente / se a criança vai mal
em Matemática / vai mal numa disciplina / ela deva perder o ano inteiro / mas que . . . dizer o que eu acho também ê um negócio meio
[ i] —
H —
utópico / que seria necessário também ter ...
Sistema de dependência //
Ë / sistema de dependência
/ funcionando assim em horários ... a
criança normalmente vem pra aula ã tarde// ela não conseguiu acompanhar o programa de Matemática daquele ano
/ entao ela passa pro
ano seguinte / mas ela vem fazer recuperação / daquela que ela continua tendo / continua normalmente / nê / o currículo dela continua seguindo / mas ela vem fazer recuperação de Matemática pela
manha //mas isso demandaria mais sala de aula / mais professores //
I -
Claro //
110
H —
Então também nao seria uma coisa aplicável â nossa realidade //
o grande defeito da lei / eu acho que aquele ( ) aquele velho defeito de tudo ser feito no Brasil / um grupinho de pessoas decide //
I —
De cadeira //
H —
Hum-hm //
I —
Diga-se pois / porque nao ë da prática nao / que eles tiram isso //
H —
Não/ não// simplesmente eles ( ) ... sei lã / lêem em algum lugar /
vêem que no outro país e assim
/ ou qualquer coisa assim / resol-
vem / em vez de reformar / ou de pelo menos tentar adaptar
jã tã funcionando
/ corrigir apenas o que tã indo mau
o que
/ então se
destrõi tudo que jã foi feito até aqui / e se implanta uma coisa
nova / vinda de fora / sem a menor chance / assim / sem a menor
consulta
/ pra quem / pros verdadeiros interessados opinarem so-
bre / né //
I —
É // e se surgir / no caso / uma contra-reforma / né / como dizem
que viria por aí / também nao vai ser a partir de escutar o professor/as dificuldades / a propria criança / nê // o adolescente //
[H]—
Não //
H —
Os pais //
I —
Nada disso / vai ser a partir /
H —
Dos pais /
. I —
[H]—
Ë // vai ser a partir ...
Vai ser de novo /
I — De novo / de cima pra baixo / né //
[ H] —
Mais uma coisa de cima pra baixo //
I —
Vertical / né //
H —
Vertical
// eu me lembro até que quando
(E) quando eu comecei a
lecionar
/ a lei jã tinha sido implantada
/ mas quando eu estava
na faculdade / ela ainda estava em vias / quer dizer / ela jã tinha
sido áprovada / mas estava
... nao antes até de aprovarem / antes
de aprovarem que jã se sabia que Geografia
/ Organizaçao Social /
Historia / i a m ser uma disciplina sõ // entao houve movimentos de
, professores de História//movimentos de professores de Geografia /
prevendo assim bateladas de cartas
cias com ministros
/ indo até / tentando audiên-
/ e uma série de coisas
em revistas especializadas
// publicando artigos
/ tudo / pra mostrar o que de fato ia
acontecer / mas nao adiantou nada //nós inclusive que ( ) acho que
andamos encaminhando abaixo assinado / tudo/ na faculdade / tentando
ver que nao
( ) nao se fizesse dessa forma
/ mas acho que foram
Ill
engavetados / ninguém nem sequer deu uma satisfaçao / se tinha lido
ou nao / e ficou por isso mesmo //
I —
Eu acho que outro problema que se criou / é que o proprio professor atuante na época / ele nao recebeu instruções antes da lei ser
aplicada // nao houve preparo / né / pra esse professor //
H — E ele nem se sentiu ...
[ i]—
As reciclagens foram depois da coisa estar praticamente
I —
pronta //
H —
Claro // e na medida que era uma coisa de cima pra baixo / que ele
[ I] —
se sentiu que ele não tinha participado das decisões da lei // que
Exa-
[i]—
ele nao tinha opinado / e que o que ele tinha opinado não tinha
tamente //
sido ouvido / ele também nao se sentiu responsável pela aplicaçao
I X] —
da lei // enfao fazia pro-forma
/ porque tinha que fazer
É //
/ era
assim mas ( ) ele ... era um negocio assim / no qual ele realmente
[i]—
tomava uma parte
( ) meramente formal
/ ele achava que ...
E acredito que isso em 19
I —
grau seja mais problemático ainda do que em 29 grau / quando é um
[H]-
professor / né / que se tem consciência / ele vai / né / estudar a
Lógico //
lei vai tentar aplicar / né / segundo ( ) adaptando a matéria dele
[H]—
H —
tudo // mas no Núcleo Comum / como é que isso fica //
Pois é //
Bom // que mais nós teríamos pra dizer sobre a lei // tá //.em relaçao / por exemplo / ã proporção do espaço físico / que a lei ...
uma das coisas que eu acho importante é que ela é
... (TS) aquela
norma da lei / de que os colégios poderiam ser agrupados em complexos / e ( ) em termos de sala de aula / poderia uma unidade menor aproveitado um colégio maior / mais aperfeiçoado //
I —
Ë o que faz o Colégio Estadual //
H —
Eu acho que sim / né //
I — Ë o que eles tentaram fazer / né // acho que foi o único que ten[H]Ê //
tou aplicar seguindo isso nao foi //
H —
Ë // os outros eu nao sei se chegou
á ser feito realmente
/ e também nao sei se chegou
/ efetivamente / né / como deveria ser fei-
to // mas eu achava que era um ponto importante / (E) pelo fato de
que ( ) na nossa realidade / não se tem muita biblioteca / não se
tem muito ... os colégios nao sao muito equipados //
112
I —
Laboratorios / tudo / né //
H —
Isso '// então / um colégio ãs vezes pequeno / que nao tem condiçoes de ter um laboratório / uma biblioteca / poderia usar dependências de um colégio maior //
I —
Hum-hm / /
H —
Isso eu achava que era ura ponto positivo / e que se fosse bem ( )
(E) organizado / realmente teria surtido efeito //
I —
E ( ) ainda existe um outro problema aï / que seria rivalidade /
ãs vezes que existe entre uma escola e outra / né // por um lado
poderia ... sempre se tem isso / né / que se ouve de um pro outro /
[h]—
Ham-hm //
tal / poderia sanar //
H —
Entre os alunos / nê //
I —
Um problema assim / né / entre os próprios alunos com maior integração / né / /
H —
É / entre os alunos isso ê muito freqüente // entre professores nem
tanto / mas entre alunos / eles têm realmente um espírito muito
[I]t u
competitivo
/ né // isso também é
... sobre esse aspecto também
melhoraria bastante // eu vejo ... só que nao sei / me parece que
nao foi muito bem encaminhado //
I—
Outra coisa assim que a gente sente / é que não foi feito nada /
assim pra avaliar o que estivesse sendo feito da aplicaçao da lei /
nê //
H — Exato // e ela foi aplicada e não ...
[I]Feedback assim em cima disso nao houve / né //
H —
Nao houve / nao // eu pelo menos nao tenho notícia de nada //
I —
Nem eu //
H —
A nao ser / eu acho que alguma deve ter aí. / em algumas teses na
e
biblioteca que tem / mas só sobre uns setores / né / sobre ...
[i]—
É uma pessoa
I —
também e nao uma equipe //
H —
E uma pessoa / e não uma equipe e nao ... mesmo do ministério que
seria o caso / nê //
I —
t U outro problema também que gerou / ãs vezes / foi a questão
das transferencias / né / de um local pra outro / no fato dos cur[H]Ah / foi o fato do ...
sos profissionalizantes
/ ainda
né //
H —
Os currículos não coincidiram //
/ por exemplo / principalmente /
HZ
I —
Ê // então aí você teria que fazer aquelas famosas adaptações que
que sao previstas / nê // então / então veja você / pòr exemplo /
num 19 ano de 29 grau / onde ( ) (E) aluna vinda de fora / dum curso na área de saúde / mas nao / por exemplo / Básico de Saúde / ou
Enfermagem Auxiliar / sabe //
H —
Isso //
I —
Então ela chegava e
tinha ( ) ela nunca tinha tido Anatomia //che-
gava pro 39 ano // Anatomia aqui e dada no 19 // então ela fazia /
[ H] —
faz ainda / uma avaliaçao ou duas / dependendo dá quantidade de
Ham-hm //
matéria // se é demais / pra voce nao judiar demais do aluno/ porque ele vai ter que estudar sozinho / ou se dá lá um conteúdo de um
livro todo / quer dizer / ele vai ter que estudar tudo aquilo sozinho // se ele entendeu / entendeu
que se virar por conta dele mesmo /
H —
pra adaptar / nê //
Mas isso jã havia antes mesmo com a outra lei / nao em relaçao a
profissionalizante
[ l]—
// se nao entendeu / vai ter
// eu lembro por exemplo / que quando eu fazia
o 29 grau / eu fiz um ano de normal e desisti / e resolvi fazer o
Hum-hm //
científico e ( ) então eu teria passado / eu passei pro 29 normal /
mas quando eu fui me matricular
/ eu teria
que fazer as adapta-
ções no científico / e as disciplinas que eu nao tinha cursado no
normal // e como eram muitas disciplinas
/ eu achei que era muito
melhor/ eu fazer a matrícula no 19 ano do científico / e fazer o ( )
científico normalmente //
I —
Pois é // mas e aí ( ) (A) o que eu acho pior é no caso do curso
profissionalizante / quando o aluno teria que ter uma parte prãtica //
H — Ah bom / daí ë bem mais complicado //
,
[i]—
Que isso fica / nê / fica por conta da ava[H]—
t U
I — liaçao teõ ( ) da parte teórica //
[ H] —
Que fica com a parte teórica
// jã conside-
H — ra a parte prática // ë / isso ë uma coisa assim meio absurda
[i]Hum-hm //
/ não
faz sentido mesmo //
I -
t //
H —
E ( ) em relaçao / por exemplo / uma coisa que talvez também nao tenha muito a ver com a lei / embora a lei pudesse ter pensado nesse
aspecto mas
/ nao ( ) nao me parece que ela fez qualquer referên-
114
cia a isso / ou qualquer especificidade em relaçao a isso / ao fato
do tipo da criança que a gente tá recebendo na escola / é uma criança diferente da criança que normalmente se recebia ate há pouco tempo na ( ) nas escolas // porque a escola foi preparada / por exemplo / pra ter crianças apenas de classe média / em que os pais têm
tempo pra atender / pra cuidar / pra orientar nas lições / e tudo
mais // e a criança que a gente tá recebendo agora / ë uma criança
muitas vezes
que vem de ( ) de ( ) de locais humildes
/ nê / de
uma família humilde / com mae / pai que nao dispõe de tempo / e nem
condiçoes / mesmo pra ( ) de conhecimento pra poder atender
/ e a
gente continua (E) dando a ( ) a matéria e ( ) insistindo em currículo (E) de forma que a criança precise desse auxílio dos pais//
i
- t u .
H —
A maior parte que a gente vê
/ principalmente / em ( ) em escola
primária / de 1? a 4? série / a criança
que nao
tem colaboraçao
do pai / que não tem um pai orientando pra fazer as lições / que
nao tem ... ela acompanha muito mau //
I —
Com maior dificuldade //
H —
Muito mau
// ãs vezes / inclusive / ate reprova / porque ela nao
tem ( ) ... e os pais nao têm condiçoes
[i]—
// eu sei por exemplo de
mae / que me falou / que até o 29 ano / a criança ia bem /
Porque ela
I 111 —
Por-
I — sabia ...
H — que ela sabia o conteúdo // exatamente //
[i]tu
H — Ela sabia / por exemplo / dividir por um número / que eram as conti]—
Hum-hm //
tinhas (E) do 29 ano / ela conseguia
// quando chegava / que che-
gou no 39 ano / que as contas ficaram mais complexas / e com divisão por 3 números / ela nao sabia fazer / e a criança tava acompanhando muito mal //
I —
Ham //
,
H —
Entao / nisso eu acho assim / que a lei nao se preocupou com esse
aspecto / aquele negocio / o ensino é livre / ê pra todos
obrigatorio pra todos / mas
dado / muitas vezes
[I]-
/ não
/ é
tem que ver que a forma como ele ê
( ) faz com que esse pra todos / na
realidade nao seja pra todos / né // seja apenas pra uma minoria /
Ë //
que dispõe de condiçoes de assistência paralela â escola
/ maior
115
informação / e tudo //
I —
E pelo que se sabe / também / o problema da evasao nao diminuiu
com a aplicaçao da lei //
H —
[i]—
Nao // eu acho que pelo contrãrio pudesse até aumentar / não que
Pois é // pelo contrãrio / né //
[ X] —
isso também tenha a ver diretamente com a lei / mas tem a ver com
Com a lei //
[I]-
todo o processo de ensino / né // toda maneira como ele tã sendo
tu'
dado / como ele ta sendo conduzido // eu sei que tem vãrios aspectos assim / que a gente vai aos poucos lembrando
/ agora esse do
( ) dos pais assim / eu acho uma coisa / sei lã / eu acho que talvez seja das coisas mais graves que exista //
I -
Ë //
H —
Porque a gente pensa
crianças
/ nos que a gente conhece / (E) pais que têm
( ) pequenas
/ na realidade eles
estão constantemente
atendendo //
I -
Claro //
H —
E quando nao atendem / mesmo os pais de classe média / nê / que podem / que dã assistência / quando eles param de dar por algum motivo / as crianças entram em recuperaçao
/ entram
então me
parece
que ê uma falha da escola / que a escola tã transferindo uma responsabilidade / que é dela / pros pais / pra família //
[i]—
Pros pais // E depois a criança jã vem
I —
pra escola tao habituada a ter tudo pronto que ela é incapaz de por
ela mesma querer fazer as coisas / mesmo na hora da prova / quando
ela lê uma ( ) uma questão / durante a avaliaçao / ela lê / ou estã
ali bem certinho o que é // dizendo o que é pedido / ela pergunta //
[H]—
tia / né // o que isso quer dizer // éincapaz de pensar por ela //
Ham-hm // o que é isso //
o
chega na hora da prova dã ( ) pânico //
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PASZKIEWICZ, MARIA LUIZA DE FRANCA