M A R I A LUIZA DE F R A N Ç A PASZKIEWICZ Características da Linguagem Oral eaiizacao em u D i s s e r t a ç ã o para obtenção do Grau de M e s t r e , Á r e a de Concentração: Língua Ing l e s a / d o Curso de Pós-Graduação e m Letras, Setor de C i ê n c i a s H u m a n a s , Letras e A r t e s , da U n i v e r s i d a d e Federal do Paraná. CURITIBA t 9 8 5 AGRADECIMENTOS Ao Professor Dr. José Erasmo Gruginski, pela sua orientação, amizade e incentivo. Ao Professor David Shepherd e à Professora Dr. Cecília Inés Erthal, pela colaboração, amizade e disponibilidade. Ao Roberto, pela compreensão. Aos meus pais e irmãos, pelo constante apoio. Àqueles que permitiram ou facilitaram a coleta de dados, a realização da pesquisa, ou por quaisquer outros meios. Muito obrigada. seja por meio de gravações, SUMARIO RESUMO V SUMMARY 1 1.1 1.2 ví i INTRODUÇÃO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 1 . METODOLOGIA 2 1.2.1 Coleta de dados 2 1.2.2 Análise dos dados 3 1.2.3 Limitações 3 2 REVISÃO DA LITERATURA 3 ANÃLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS 3.1 5 A LINGUAGEM ORAL É ESPONTÂNEA, NÃO PLANEJADA 3.1.1 21 Hesitações manifestadas por pausas si- lenciosas 3.1.2 22 Hesitações manifestadas por pausas preenchidas 3.1.3 21 24 Palavras que atuam como reorganizadoras do discurso ganhe tempo ou na permitem que o falante organização do mesmo subseqüente 26 iii 3.1.4 A imprecisão da linguagem 3.1.5X Quebras de estrutura 3.1.6 Outras construções • 37 que fogem às normas da sintaxe 3.2 41 A LINGUAGEM ORAL TEM O RECEPTOR E O CON- TEXTO PRESENTES 42 3.2.1 A presença do receptor 3.2.2 A presença do contexto 3.3 A LINGUAGEM ORAL .. UTILIZA-SE DE RECURSOS 47 Recursos prosódicos como forma de suprir as falhas decorrentes da falta de pla- nejamento 3.3.2 48 Recursos prosódicos como forma de assinalar troca de papéis ou de situações do dialogo 3.3.3 52 Recursos prosódicos como forma de sinalizar um conjunto amplo de significados 4 42 46 PROSÓDICOS 3.3.1 33 . CONCLUSÃO 53 58 ANEXO 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS iv 116 RESUMO O objetivo desta dissertação é verificar, através da coleta de diálogos representativos de situações reais de fala, como se realizam, no Português, as seguintes ticas gerais da linguagem oral bibliográfico: sença do encontradas em caracteríslevantamento a falta de planejamento do discurso, contexto situacional de elementos prosódicos. e Para a pre- do receptor e a utilização tal propósito, tomou-se uma amostra da linguagem de nove pessoas, de ambos os sexos, todas de escolaridade superior. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se apenas um gravador, determinando-se para a duração dos diálogos o tempo aproximado de 15 minutos. Através da análise dos dados, não se teve como intuito chegar a nenhuma conclusão de caráter quantitativo. Buscou-se, por meio da observação, o registro de fatos sistemáticos, no Portu- guês, ocorridos, na amostra, com a finalidade de se confirmar as características acima apontadas, atribuídas como próprias da linguagem oral. Embora a amostra não seja representativa da população brasileira em geral, por meio dela foi possível o alcance de muitos dos objetivos propostos. Verificou-se que, da falta de planejamento do discurso, surgem hesitações manifestadas por pausas preenchidas por sons; sença de surge a pre- certas palavras e expressões, umas indicando a im- precisão da linguagem, outras usadas para permitir que o faV lante ganhe tempo na organização do discurso subseqüente; surgem ainda constantes quebras de estrutura e outras ções sintáticas. cilita o devia- Percebeu-se que a presença de receptor fa- ato comunicativo do falante, dada a chance que tem de ¿e.e.dback e da ajuda que pode receber na complementação de seu pensamento. Foi possível ainda o reconhecimento portância da utilização de recursos prosódicos, na são da mensagem, com forma de fazer frente relação a aos da transmis- seguintes aspectos: como muitos dos problemas que surgem por questão de o discurso não ser previamente organizado; na passagem da narração im- ao também discurso direto, sem preâmbulos, e, a i n d a , o que é muito importante, na sinalização de um conjunto amplo de significados parte da mensagem (atitudes, total. vi por exemplo),, como SUMMARY The aim of this paper is to verify, with the use of dialogues, representative of authentic speech situations, how certain characteristics of oral language are realized in Portuguese. The following elements were included in the research as they were found in the relevant literature: discourse planning, the presence of the and that of the receiver; a lack situational of context the use of prosodie elements. To this end a sample, of language of nine college gratuates, both male and female, was analyzed. The only instrument the data collection was a tape recorder, to limit minutes. conclusion thus, to the length of dialogues It was not intended would be and used for it was decided to approximately that fifteen any type of quantitative reached by this analysis. The aim was, register, by observation, systematically the facts in Portuguese, according presence of those to the aformentioned sample, and establish the characteristics, which we attributed as belonging to oral language. Although the sample may not be representative of the Brazilian population in general, it was possible to achieve a number of these proposed objectives. It was verified that because of the lack of discourse planning The presence some of which of a number certain indicated of hesitation phenomena occurred. words an and expressions imprecision of oral was noted, language, vi i _ J BIBLIOTECA "CENTRAL" ! Universidade Federal da Paraná others enabling the speaker to gain time for the organization of the subsequent discourse. In addition, constant breaks in the discourse structure as well as other syntactic occurred. It was observed that simplified the communicative act deviations the presence of the speaker of the speaker, providing an opportunity for feedback in addition to providing help in what is considered speaker's thought. to It be was a reasonable completion also possible to of the recognize the importance of the use of prosodie resources in the transmission of the message compensating for in the following areas: problems arising as a means of in view of the fact that the discourse was lacking any previous organization; in passing without a preamble, from narration and, finally, which is wide range of meanings very important, to in direct discourse; the signalling a (e.g. attitudes) as part of the total message. vi i i 1 1.1 INTRODUÇÃO JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS No português, tanto do ponto de vista teórico como prático, têm sido poucos os trabalhos apresentados em que se focalizam as características da linguagem oral. A presente pesquisa procura fazer um levantamento bi- bliográfico do que tem sido realizado nesse sentido, como material de apoio para o estudo que se pretende: através da coleta de diálogos representativos de situações reais de fala, verificar como as características gerais levantadas com re- lação ã linguagem oral se realizam no Português. Do ponto de vista teórico, este estudo poderá tar a atenção para a necessidade de desper- uma descrição mais rea- lista da língua, feita a partir de dados reais da fala, produzidos em situações concretas de diálogo. Este estudo é importante, levar o professor de Português a acredita-se, no sentido de perceber que a língua oral e a escrita têm características próprias; são meios de comunicação diferentes. Com essa conscientização, deixará de fazer exigências absurdas lar. sobre certamente, como se dz.ve, fa- Ë importante também no sentido de fazê-lo entender que as dificuldades encontradas na hora em que se deseja colocar as idéias por escrito pessoa estar mais advêm, em grande parte, acostumada com a comunicação do fato de a por meio da oral. Um dos principais objetivos que se têm em mente é que o exame da amostra coletada despertar idéias para e estudos da pesquisa realizada possa lingüísticos mais delimitados e profundos do Português oral. 1.2 1.2.1 METODOLOGIA Coleta de dados Com o propósito de se verificar como as características gerais da linguagem oral se realizam no Português, tomouse uma amostra de pessoas de escolaridade superior, de ambos os sexos, todas entre 28 e 34 anos (falantes A a I): um en- genheiro, um médico e o restante professores. Todas essas pessoas decidiram cooperar, cientes do objetivo da pesquisa a ser realizada. A escolha de um número maior de professores pessoas entrevistadas deu-se pela facilidade entre as de acesso, em virtude de a pesquisadora exercer a mesma profissão. Para a coleta de dados utilizou-se como instrumento apenas um gravador. Duas gravações foram efetuadas pela au- tora desta pesquisa e as demais pelos próprios interlocuto- res . Determinou-se para duração dos diálogos o tempo aproximado de 15 minutos. Todavia, como forma de contribuir pa- 3 ra a espontaneidade dos diálogos, frisou-se que não preci- sariam ater-se muito a essa questão de tempo. Foram, ainda, aos seus interesses, sugeridos temas, de modo geral ligados sobre maiores dificuldades. os quais pudessem discorrer sem Nesse caso, com a idéia explícita de que não haveria problema algum se, porventura, a conversação tomasse outros rumos. 1.2.2 Análise dos dados Não se pretende através da análise dos dados chegar a um estudo quantitativo. Deseja-se registrar fatos sistemáticos no Português, ocorridos na amostra, que possam ser atribuídos a determinadas características gerais da linguagem oral, aponta:das na Revisão da Literatura. Para essa análise serão utilizados conceitos muito amplo em Lingüística, ligados ã gramática 1.2.3 de uso tradicional. Limitações Apesar do grau de intimidade entre os interlocutores, da preocupação quanto à escolha de tópicos que pudessem contribuir para a descontração da linguagem no discurso, o fato de estarem conscientes de que sua conversação estava sendo gravada constituiu uma limitação dentro da metodologia usada na coleta de dados. A escassez de tempo uma amostra maior como a falta de: trouxe, para ainda, o levantamento e análise de várias outras limitações, 4 ' um estudo quantitativo dos fatos sistemáticos nó Português, atribuídos como características gerais da linguagem oral; ° uma análise instrumental de um desses fatos — o da utilização de recursos prosódicos; 0 um estudo de estratificação social de variáveis lingüísticas. Com relação a este último item, todavia, embora o universo estatístico da amostra não represente o nível de edu- cação da população em geral, acredita-se que as caracterís- ticas apontadas na Revisão da Literatura sejam características essenciais da linguagem oral e que, portanto, devam aparecer na fala de pessoas de outros níveis culturais. 2 REVISÃO DA LITERATURA Muitas das características da linguagem oral são descritas em estudos que objetivam, na verdade, ressaltar as características da escrita. Tais estudos começaram a surgir, conforme Michael STUBBS, como reação ao pensamento de muitos tas e, mais notadamente, entre eles Bloomfield aponta lingüis- para quem a escrita nada mais era do que uma invenção, um meio de reproduzir e difundir a língua falada através de símbolos gráfi- cos: "Writing is not language, but merely a way of recording language by means of visible marks". "not part of language but "The art of writing is rather a comparatively modern in- vention for recording and broadcasting what is spoken". 1 Como parte dessa reação, passam a ser levantados pontos sobre a relação entre a linguagem oral e a escrita, não com o propósito de querer provar que uma é superior à outra, mas como ponto de partida para se evidenciar o fato de que cada uma tem características e funções próprias, são realizações diferentes e complementares de um mesmo sistema to: abstra- a linguagem. 2 1 STUBBS, M. Language and Literacy; the socioliriguistics of reading and writing. London, Routledge & K.Paul, 1980. p.24, 21. 2 "We must therefore recognize that speech and writing are d if ferent, without one being superior to the other; but also recognize that a language which has both written and spoken forms is a more powerful in- 6 Entre as tada a questão características próprias da oral, foi aponde a linguagem, normalmente, ser espontânea, não planejada, realizar-se através de processos mentais que, na maioria das vezes, não estão sob o controle consciente do falante. scious Afirma VYGOTSKY: of "In speaking, he is hardly con- the sounds he pronounces and quite unconscious of the mental operations he performs". 3 0 1 D O N N E L e TODD salientam que, na linguagem oral, sendo espontânea, não truturação do hã tempo pensamento, para pressões mais adequadas, tura — suficiente o a para uma melhor escolha de palavras e ex- que ocasionará quebras na estru- frases interrompidas, incompletas, repetições, tações manifestadas por and new beginnings), es- "arranques em falso" pausas silenciosas ou (false hesistarts preenchidas (os chamados "fillers"), como as exemplificam, no caso do inglês, onde são usados os sons convencionais um', ou expressões como 'you see', transcritos 'you know', por 'er, 'I mean'. . . . little time can be given to planning or revision, and so speech in operation is characteristically broken up by 'fillers' of various sorts; for example, 'I mean', 'sort of', 'you Know', 'you see'. It is also sometimes marked by syntatic incompleteness, by breaks and hesitations, and by a good deal of repetition. All these features may be attributed to the spontaneous nature of speech, (p.8) strument of communication than a language with only spoken forms". STTUBS, p.30. "language: abstract system; speech, writing: realizations of language in different media" (p.34). "If writing was just speech written down, then it would not be very different from speech and would not be as useful as it is." (p.100) 3 VYG0TSKY, L. Press, 1979. p.99. Thought and Language. Cambridge, Mass., MIT 7 Normally pauses, too, are involuntary to a large extent, occurring where the speaker is searching for the right word of expression. Theymaybe either silent of filled.4 CHOMSKY e VANOYE também se referem a essas manifestações da oralidade. Vejam-se, respectivamente, as suas afir- mações : Uma gravaçao da fala natural mostrara numerosos arranques era falso, desvios das regras, mudanças de intenção a meio caminho e assim por diante. (CHOMSKY) - Na língua falada é abundante a repetição de palavras; - na língua falada i grande a ocorrência de anacolutos ou rupturas de construção: a frase desvia-se de sua trajetória, o complemento nao aparece, a frase parte em outra direção.5 (VANOYE) - Tais manifestações da oralidade surgem, conforme as palavras de O'Donnel e Todd acima, como produto de o discurso não ser planejado. Ana Silva Nogueira MARTINS, em seu trabalho "Algumas características do Português falado", Segundo Ochs (1979), o discurso não planejado é não foi pensado antes do afirma: aquele que momento de sua produção, não o en- volvendo, portanto, nenhuma organização para sua emissão". Nesse seu trabalho, Nogueira Martins cita, como meios de fazer frente â falta de planejamento, a presença do aòé-ím freqüentemente usado na oral como pà-^ínchídon. de. paaia "O'DONNEL, W.R. & TODD, L. London, Allen & Unwin, 1980. p.67. 5 1975. 1982. e do Variety in Contemporary English. CH0MSKY, N. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra, A.Amado, p.84. VANOYE, F. Usos da Linguagem. São Paulo, Martins Fontes, p.40. 1 8 queh. dlZ2.H como uma mudança reorganizador eòtsiutu.iat. discurso, nebpoYibav <¿L poh. Menciona, ainda, por exemplo, o em- p/iego de &xpAe.¿¿0e-ó que. deixam ¿OA ¿ emântZco do Indeterminado. alguna conót¿tuÁ.nte¿> va- Tece certas conclusões que, acre- dita-se, não se restringem só ao Português. do discurso não-planejado com — "Assim se Fala da sintaxe monta a sintaxe discurso não-planejado: rica de elementos facilitadores a compreensão das mensagens veiculadas. dente que o tensionamento sintático é Deste modo, do para é evi- rompido para permitir a entrada dos elementos que analisamos". 6 SAID ALI, ao definir Anacoluto, Expieò ¿ão Anaco¿útica, também, se refere a esse problema de falta de planejamento da linguagem oral. Observem-se suas colocações: Expressão anacolutica e a oraçao que começa de um modo e, em vez de ter o seguimento pedido pela sintaxe, termina por uma construção nova. Resulta essa anomalia em geral do fato de nao poder a linguagem acompanhar o pensamento em que as idéias se sucedem rápidas e tumultuarias. Ë a precipitação de começar a dizer alguma cousa sem calcular que pelo rumo escolhido nao se chega diretamente a concluir o pensamento. Em meio do caminho da-se pelo descuido, faz-se pausa, e, não convindo tornar atras, procura-se saída em outra dire~ çao. 7 6 MARTINS, A.S.N. Algumas Característivas do Português Falado. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜISTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos lingüísticos. Campinas, Pontifícia Universidade Católica, 1982. p.14, 21. 7 SAID ALI, M. Meios de Expressão e Alterações Semânticas. Rio de Janeiro, Fundaçao Getúlio Vargas, 1971. p.22. E continua, "estas, arrancadas de linguagem, irrefletidas ou mal ponderadas, que levam o homem a expressar-se contrariamente ãs normas da sintaxe, sao evitadas hoje entre literatos e entre pessoas que se prezam de falar corretamente". (p.23) 9 Além dessa característica de produção oral, outras são ainda muito apontadas: receptor e do emissor e o uso de recursos da linguagem a usual presença do não-verbais. LYONS menciona estas características ao definir o que chama de "canonical situation of utterance": a comunicação que se processa pelo canal vocal-auditivo, onde todos os participantes se encontram presentes no mesmo contexto cional, assumindo cada um a sua vez de situacio- emissor, capazes de ver um(uns) ao(s) outro(s) e associar às suas palavras os recursos paralingüísticos não-vocais. 8 Pelas afirmações de LYONS, bem como de HIRSCH JR. , STUBBS e VANOYE, verifica-se que, ãs vezes, quando a comunicação se situa dentro dessa definição de não "canonical situation of utterance", a linguagem na oral assume certas características de escrita. 9 A esse ponto voltar-se-á, mais tarde, no final deste capítulo. Conforme as colocações de.STUBBS, HIRSCH JR. , O'DONNEL e TODD, Geraldo CINTRA, A.D. WILKINS e VANOYE, a presença do receptor é muito importante, na oral, por possibilitar o {¡íidbaak — estando presente, poderá reagir, questionar, falante não esteja sendo suficientemente claro. 1978. ^YONS, J. v.2, p.639. Semantics. caso o 10 Cambridge, Cambridge University Press, 'LYONS, v.l, p.69; HIRSCH JR., E.D. The Philosophy of Composition. Chicago, University of Chicago Press, 1977. p.22-3; STUBBS, p.69; VANOYE, p.169. 10 STUBBS, p.117; HIRSCH JR., p.22, 23,_27, 29; O'DONNEL & TODD, p.8. CINTRA, G. Meio e Mensagem na Comunicaçao Oral. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO, p.24; WILKINS, A.D. The Teaching of Comprehension. London, ETIC, British Council, 1978. p. 78; VANOYE, p.160, 161. 10 Segundo todos esses autores, a presença do receptor faz cora que o falante não precise ser tão explícito. Assegura, por exemplo, WILKINS, o falante pode transmitir o que pretende, aos poucos, passo a passo, na medida em que se faz entender: "When I'm talking to you I can do it in little bits, and I can find out how much you know as I go along. So I don't get so complicated. If I say something you think is rubbish, you'll say rubbish and I'll try and tell you why it is not rubbish". 1 1 VANOYE afirma que o " e.e.dback favorece a comunicação. Dissipa as inquietudes, os receios e namento entre emissor(es)-receptores". rias formas em que o ¿ezdback pode as tensões no relacioEle apresenta as vá- surgir: - repetição completa e sistemática das informações (exemplo: repetição da mensagem transmitida pelo telefone); - verificaçao final — através de uma pergunta do emissor (exemplo: pergunta do tipo "todo mundo compreendeu?", interrogações escritas, etc.); - verificaçao, à med-íãa que a comunicação Vai se processando, por pergunta do emissor ("certo?", "vocês estão me seguindo? ..."); - verificaçao através de perguntas do(s) receptor(es); ."•.'- verificaçao por meio de sinais nao verbais do(s) receptor(es), em decorrência dos quais o emissor pode ajustar seu discurso.12 "WILKINS, p.68. 12 VANOYE, p. 160. 11 HIRSCH JR., ao crito ('The Context falar sobre o contexto do discurso esof Written Speech'), menciona o fato de o discurso oral normalmente fornecedora de muitos ocorrer elementos do significado pretendido pelo numa situação necessários à concreta, compreensão falante. 1 3 Para HIRSCH JR., LITOWITZ e STUBBS a linguagem oral, estando normalmente ligada ao contexto situacional (context- tied, context-dependent), nem todas as informações necessi- tarão ser lexicalizadas. text-free) , como colocam, Já a escrita, por ser livre deve criar seu próprio (con- contexto unicamente atrás do verbal. 1 4 Na linguagem oral, como afirmam O'DONNEL e TODD, o emissor não precisa dar maiores detalhes sobre o que é visto pelo receptor; a referência a uma pessoa, por exemplo, pode 13 HIRSH JR., p.21. "Oral speech normally takes place in an actual situation that provides abundant non-linguistic clues to the speakers intended meaning." 14 HIRSCH JR., p.25 e 26; LITOWITZ, B.E. Writing from a Developmental Perspective. Evanston, 1978. p.23. Mimeografado; STUBBS, p.109. Para LITOWITZ (p.23), o libertar-se, o movimento progressivo voltado para a criaçao desse contexto próprio seja, talvez, a maior característica que distingue a linguagem escrita da oral. "Brunner has described this progression as the child's movement towards context-free elaboration (1975:70). The subsequent and progressive de-contextualizationof written language is perhaps, the major characteristic differentiating it from oral language." HIRSCH JR. (p.7) assegura que a dificuldade máxima, para um falante nativo de uma língua aprender a escrever bem, esta em aprender a usar a linguagem de uma forma ã qual nao esta acostumado, uma vez que a necessidade de tecer seu próprio contexto é uma particularidade funcional da escrita. STUBBS (p.115), afirma, fazer com que os alunos entendam, saibam usar as convençoes da escrita i uma tarefa muito difícil. Coloca ainda um outro problema: o fato de a convencionalidade da escrita ter de ir além de seus aspectos formais, por, freqüentemente, nao serem encontrados nos mesmos um equivalente direto na linguagem oral (p.117). Sobre esse aspecto, ver CINTRA, p.24; PRETI, D. Sociolingüística; os níveis da fala. São Paulo, Nacional, 1975. p.47; LYONS, v.l, p.69. 12 ser feita simplesmente por meio de um pessoal. 1 5 pronome STUBBS, ao m e n c i o n a r a definição do que Bernstein chama cod¿go ficòtfiito, faz referência ao fato de que na oral nem tudo necessita ser verbalmente explícito, quando os interlo- cutores compartilham também de conhecimento sobre o mesmo assunto, quando têm interesse, idéias afins. 16 O mesmo ponto é enfocado por 0 1 D O N N E L e TODD : mate language is characteristically inexplicit; terances need not be complete sentences tend to be simple, vague words such and as "Inti- so that ut- structure will 'nice' and 'things' may be used, and pronunciation will tend to be relaxed...".17 As palavras de Geraldo CINTRA, citadas abaixo, apre- sentam colocação semelhante — güísticamente expresso, na oral, nem tudo em função necessita vir linnão só do que é visto pelos interlocutores no momento do diálogo, mas também dos acontecimentos por estes compartilhados em situações anteriores : A interaçao oral em presença envolve os interlocutores numa rede de acontecimentos (nao so cotemporais com a situaçao, mas também precedentes e mesmo antecipados) que estabelece um relacionamento característico e específico. 0 mero registro do que 15 0'DONNEL & TODD, p.8. "Things apparent in the shared situation may not need to be spelt out; so that reference to a person in full view of both addressor and addressee may be accomplished by means of a personal pronoun, where writing might call for a full description." 16 STUBBS, p.111. "... restricted code has been defined consistently as implicit, particularistic and context-bound, because it relies on shared understandings between speakers and shared knowledge about contexts." 17 0'DONNEL & TODD, p. 75. 13 foi dito numa tal situaçao nao constitui uma representação fiel da mesma. Assistir a uma aula, por exemplo, e ouvir uma gravação dessa mesma aula sao experiências completamente diversas (como muitos jã tiveram a oportunidade de verificar), a menos que a aula tenha sido apresentada sob a forma de conferência; a gravaçao pode chegar a nao ser compreendida por quem nao tenha assistido a exposição original.18 HIRSCH JR. transmite a mesma idéia contida nessas palavras de Geraldo Cintra. Sustenta que qualquer participante, de uma conversação que foi gravada, teria dificuldades em entender mesmo o que houvesse dito, quando lesse a transcrição de suas palavras. Ainda a esse respeito, cita tas gravadas pelo governo Nixon. Tais fitas, o caso de fi- quando trans- critas para o papel, não faziam muito sentido. O texto parecia menos comunicativo que a composição de um pior aluno. Sõ através da audição das fitas, com o ritmo, a entoação usada, podia-se captar elementos essenciais ã compreensão, tavam no discurso transcrito. Todavia, só que fal- esses elementos não se faziam suficientes para uma melhor dilucidação da mensagem, afirma, foi importante que se levasse em conta, bém, a situação histórica dentro da qual a conversação reu: "Transcribed oral speech seems puzzling and in print because words alone supply tamocor- elliptical insufficient clues to meaning". 19 Nas palavras de LYONS também evidencia-se o mesmo fato de o elemento lingüístico, 18 CINTRA, p. 26 e 27. 19 HIRSCH JR., p. 18, 21, 23. por si só, na oral, não ser 14 normalmente suficiente um todo. para a transmissão Menciona os elementos voca¿6 derados pan.al-inQÜ.lbtlcob, também, nicação oral. Embora entre como era .uma da mensagem e não-voca-Lò, como consi- componentes da comu- discussão a respeito do que seja prosódico, paralingüístico, ou não, 20 destaca a questão concreta de, na oral, esses elementos voc.a-ib toação, o volume de voz, o ritmo, e nao-vocalb como a en- como gestos, expressões faciais, serem freqüentemente usados para completar ou alterar o significado lingüístico: It has frequently been observed that semantic information signalled non-verbally in an act of utterance will at times be in conflict or in contradiction with the information transmitted by the verbal component. (p.63) (...) the pa r a 1 i ngu i s t i c features of an utterance may, on occasion, contradict, rather than supplement, the information contained in the verbal and prosodie components ... (p.65) Ressalta LYONS que o importante é compreender que os recursos paralingüísticos, tanto vocais como não vocais, cons- tituem parte essencial do que chama "comportamento normal da língua ("normal language-behaviour); te, integrando-se ä língua falada ocorrem, e simultaneamen- produzindo um sistema total de comunicação: It is important to realize (...) that paralinguistic signals, both vocal and nonvocal, are essential part of all normal, language behaviour. As Abercrombie puts it: "We speak with our vocal organs, but 20 LYONS, v.l, p.23. "... linguistis differ as to what(...) should count as prosodie and to what as paralinguistic." 15 we converse with our entire bodies ... Paralinguistic phenomena . . . occur alongside spoken language, interact with it, and produce together with it a total system of communication ...".21 O'Donnel e Todd também registram sempenhado por esses recursos. sobre a Ao o grande papel de- tecerem esclarecimentos abrangência do termo paralingüístico, mencionam o fa- to de estes poderem vir transmitindo várias formas de significado, as quais não vêm lingüísticamente expressas. Segundo esses dois autores, seriam considerados para- lingüísticos os gestos, as expressões faciais, que não viessem apenas acompanhando a linguagem, mas integrando-se a ela, fazendo parte da mensagem total. cem, é o da entoação. esclare- Salientam que esta é, na maioria vezes, um elemento lingüístico: de sons de uma língua. Outro aspecto que Em parte essencial certos casos, porém, do das sistema quando vem indicar alguma informação adicional ao conteúdo da mensagem, passa a representar uma importante função paralingüística. Explicam melhor essa idéia por meio do exemplo — "Jane came late", onde há um contorno melódico sistêmico que indica, se 21 LYONS, v.l, p.64. Adam KENDOM, ao falar da linguagem escrita, acaba fazendo referência a essa característica tao importante da linguagem oral. Menciona o fato de que, na escrita, dada a impossibilidade de representação concreta de gestos e de expressões faciais, certos aspectos de entoaçao e ênfase, ao escritor só resta recorrer ã descrição para alcançar orealismo físico epsicológico de seus personagens. Refere-se ãs dificuldades encontradas pelo escritor, nesse sentido. Diz que seria bom fossem inventadas formas convencionalizadas, que representassem pelo menos alguns dos aspectos extralingüísticos. Kendom reconhece a importância da concretização dessa idéia, a qual poderia ser benéfica principalmente aos dramaturgos, pois facilitaria sua tarefa, além de possibilitar ao leitor perceber, em sincronização com o lingüístico, o comportamento nao-verbal das personagens. {Nonverbal Communication, Interaction and Gesture. The Hague, Mouton, 1981. p.13 e 117.) 16 este período é uma simples declaração ou pergunta. Muitas vezes, no entanto, esta melodia mais agudo ou mais grave do é realizada em um tom de voz que o habitual para determinado indivíduo. Neste caso, a entoação passa a desempenhar paralingüística, podendo sugerir surpresa ou função emoção, quando o timbre é mais alto, ou entre outras possibilidades, um tom áspero ou solene, quando o tom é mais grave. Observam que esta função passa a ser indicada também pela extensão do movimento do tom, dentro da melodia da fala. um alongamento na queda do tom, segundo Na palavra tatz, eles, poderia usada para indicar descontentamento, por exemplo. tudo, chamam atenção para o fato de os recursos ticos agirem dizem que, em função por isso, de um todo, e não Neste es- paralingüís- individualmente; ao se interpretar o conteúdo da entoação, este princípio deve ser ser semântico considerado. 2 2 A maioria das características apontadas neste capítulo referem-se diretamente ã situação normal em que ocorre a comunicação oral. Vários autores, conforme se mencionou acima, chamam a atenção para os casos em que a linguagem oral assume características de escrita. 22 O'DONNEL & TODD, p.64, 65. Luiz Carlos CAGLIARI, pelas afirmações que faz em seu trabalho Os Tons do Português Brasi-lei-ro (Campinas, 1979. p.19-20. Mimeografado), parece considerar a entoaçao sempre como elemento lingüístico: "As diferenças de significado carreadas pela entoaçao fazem parte da gramatica da língua. Essas diferenças de significado sao da mesma natureza que as diferenças, por exemplo, de tempo, modo, aspecto etc. A entoaçao é um dos tantos processos que há na língua de se estabelecer diferenças de significado. Lingüisticamente, os padrões entoacionais sao unidades do sistema fonológico, sintático e semântico da língua. 0 elemento sonoro do padrao entoacional pertence ao sistema fonologico da língua. As atitudes do falante expressas pela entoação devem ser enquadradas nos estudos sintáticos da língua, assim como estão situados nesse campo, modo e aspecto". 17 Tais casos viriam, de modo geral, como produto da chamada por VANOYE "¿>ituaç.ão de ressalta, o feedback náo--¿ntelcámb¿o", onde, como nem sempre é possível: "o receptor, ain- da que presente e próximo, não tem a possibilidade de responder e de assumir o papel de emissor imediata (aula expositi- va, discurso, sermão, comunicação teatral). Nestes exemplos, nota-se que a proximidade dos receptores é menor e que a situação exige quase sempre a utilização de alto-falantes, microfones, etc." 23 . Sobre o estilo da linguagem oral, na comunicação sem intercâmbio, diz o seguinte: A exposição, pelo seu conteúdo, estrutura e natureza de seu preparo, se aproxima da comunicaçao escrita, uma vez que supõe: - uma apresentaçao séria, seletiva e organizada de uma documentação, um plano elaborado; - o esforço de correção do vocabulario e da sintaxe, supressão de negligências estilísticas, e de formas familiares ou vulgares da língua falada, (p.169) LYONS, a esse respeito, afirma que muitas conferên- cias formais, apesar de serem transmitidas oralmente e terem a estrutura fonológica da linguagem falada, apresentam o vocabulário e a gramática próprios do estilo HIRSCH JR. pensa da mesma forma. tem os seus traços característicos 23 24 escrito. 2 4 0 discurso oral não meramente dependentes do VANOYE, p.160, 161. LYONS, v.l, p.69. "Many formal lectures, for example, though they are delivered orally and have the phonological structure of the spoken language, are composed, as far as grammar and vocabulary are concerned, in the written medium." 18 fato de realizar-se por meio do canal vocal-auditivo. "The typical difference between oral and written speech do not reside in the difference between the visual and phonic media themselves". A linguagem oral quando dirigida a todo um grupo, afirma, passa a representar um monólogo; em toda a cul- tura, num monólogo dirigido a um público relativamente rogêneo, requer-se o uso de convenções e técnicas hete- similares äs que são encontradas na escrita. Funcionalmente falando, uma difusão radiofônica, como sustenta, pode ser considerada um equivalente do discurso escrito, apesar de usar o oral como meio de comunicação. Isto porque a audiência, além de heterogênea, suas reações não são conhecidas. não é vista; Por isso é que haveria a neces- sidade, como na escrita, da utilização de uma linguagem mais elaborada, isto é, (sentenças completas de maior com clareza sujeito e lexical predicado e gramatical explícitos). Por outro lado, já um bilhete, considerado nesse sentido, uma carta informal dirigida a um amigo, afirma, oral — seria linguagem nem tudo é expresso, a linguagem apresenta-se normal- mente elíptica quando o outro sabe o que se passa, conhece a situação. 25 25 HIRSCH JR., p.22. "In every culture, the delivery of a monologue to a relatively heterogeneous audience requires similar techniques and conventions that are also found in writing. In all public speaking one has to employ a 'code' that partly resembles normal written speech." (p.23-4). "A radio broadcast is an oral equivalent of written discourse. The audience is unseen, its reactions unknown, and hence many requirements for communicative radio discourse are highly similar to the requirements of writing." (p.22). "Written discourse has to make up for its lack of intonation, gesture, facial expression — most of all, for its lack of tacit situational understanding and active feedback between speaker and listeners." (p.22-3). 19 STUBBS também se refere à idéia de que uma tinguage.m não pode ser considerada como oh.a¿, pelo simples fato de ser transmitida pelo meio fónico: Typically, speech takes place in a particular social situation; and typically, in everyday conversation, speech is only one component of communication, alongside facial expression, gesture, and reference to the physical surroundings. But a piece of writing typically has to stand on its own entirely, without any help from the situation, and therefore has to supply all the necessary contextual information explicitly. Mixed varietiesj such as radio talks or discussions (5.6) are typically those which are closest to written language. Thus, normal language is usually heavily context-dependent, whereas written language usually has to be context free as far as possible.26 RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DA LINGUAGEM ORAL Apontou-se que, no discurso oral não planejado, a linguagem é espontânea. 0 pensamento surge na mente do falante. é enunciado Normalmente reflexão, como acontece na escrita. não do modo que há tempo para a (Vygotsky.) Por isso, quando este não consegue encontrar, de imediato, as palavras e expressões de que necessita, surge a hesitação—traduzida por repetições, pausas silenciosas ou preenchidas "fillers") — tura. dos ocorrendo, assim, freqüentes quebras de estru- (0'Donnel e Todd.) 26 (caso STUBBS, p.109. Sem grifos no original. 20 A espontaneidade viria, gem oral características portanto, próprias. conferir à lingua- Grande importância foi' também dada a outros dois elementos — ã presença do contexto situacional e a do receptor, os quais têm sido vistos, essencialmente, como fonte de toda a diferença entre a escrita. se (Lyons, Hirsch Jr., Stubbs.) Conforme oral e a colocou, a linguagem oral ocorre, normalmente, em uma situação de diálogo que tem seu dinamismo próprio. Estando presente, o re- ceptor poderá reagir caso não esteja entendendo lante quer imediato. dizer, possibilitando-lhe, assim, o que o fa- um feedback (Stubbs, Hirsch Jr., Vanoye, Wilkins.) municativo do falante seria ainda O ato co- favorecido, porque os in- terlocutores estariam inseridos numa mesma situação concreta, normalmente, esclarecedora. (Lyons, Hirsch Jr., Litowitz, Stubbs, Geraldo Cintra, O'Donnel e Todd.) Na oral não haveria a exigência da lexicalização de muitas informações, em virtude, por exemplo, da situação tácita existente entre os interlocutores, das mesmas idéias, conhecimentos O'Donnel e Todd, Geraldo Cintra); e quando compartilham interesses . (Stubbs, também por poder contar com os elementos vocais, tais como a altura, o tom da voz, o ritmo, e com elementos não vocais como os gestos e expressões faciais, os quais elementos de significados. podem carrear um número grande (Lyons, Cagliari, O'Donnel e Todd.) 3 Na ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS Revisão da Literatura apontaram-se como caracte- rísticas principais da linguagem oral o fato de ser, normalmente, espontânea, não planejada, ter quase sempre o contexto e o receptor presentes, e de utilizar-se de recursos prosódicos. Neste capítulo procurar-se-ã demonstrar como essas características se realizam no 3.1 Português. A LINGUAGEM ORAL Ë ESPONTÂNEA, NÃO PLANEJADA Conforme se registrou na Revisão discurso oral não planejado normalmente da não Literatura, no há tempo para a reflexão, para a organização do pensamento como há na escrita. Na amostra foram ções do não-planejamento encontradas as seguintes manifestado discurso: a) keòltaçõ e-ò marcadas por pau¿a¿ panhadas, âs vezes, 1 de Atlenclobaé1 (acom- repetições, isto é, de reduplicação, 0 termo"pausas silenciosas" e a traduçao do termo ingles silent pauses, utilizado por O'DONNEL, W.K. & TODD, L. Variety in Contemporary English. London, Allen & Unwin, 1970. p.67. Afirmam que a hesitação deve ser considerada de modo distinto do conceito de pausa (p.66). 0 termo hesitação é aqui, todavia, usado em virtude de o falante normalmente proferir de forma alongada a palavra que antecede a pausa. 22 principalmente de preposições e artigos); " b) hzòitaçõzò sons (E) e marcadas por paixòaò ptie.ench.ida6 pelos (Ã) , que representam respectivamente as vogais an- terior média aberta e central média nasal; c) palavras que atuam como H.eotiganizadotiaò do di¿cusi¿o ou permitem que o falante ganhe tempo no planejamento qüente do mesmo: a¿óim, subse- que.*. dizen., dig am oò, digamos aòt>im, ne, não t>e.i, ¿ei •£<£; d) impn.e.c.iéão da tinguagem; e) co n¿tante.¿ quzbfiaò de. e-òth.txtu.fia. e. outrai de.viaçoe.& òintãticaò. Muitas vezes, é bom salientar, m a i s de uma dessas manifestações ocorrem juntas. V. 3.1.1 Hesitações manifestadas por pausas As pausas silenciosas rênteses ( ). Essas pausas, são silenciosas marcadas no corpus por pa- freqüentemente, por uma duração maior das sílabas anteriores; vêm por precedidas isso não costumam ser longas. É importante salientar que elas comumente ocorrem ra de fronteira de constituintes 2 dentro de fo- (exemplos de 1 a 5 abaixo), unidades sintáticas onde, de forma alguma, na es- As pausas que ocorrem nessas fronteiras sao representadas no corpus por uma e duas barras, significando respectivamente pausa menor e pausa maior. E importante lembrar que nem todas as pausas sao represen- tadas na escrita por pontuação. Vejam-se, por exemplo, as palavras de SAID ALI: "A vírgula indica a pausa mais fraca, devendo-se, contudo, observar que nem todas as pausas fracas se marcam na escrita". (Gramática Secundária da Língua Portuguesa. Sao Paulo, Melhoramentos, 1969. p.228). 23 crita poderia ser utilizado qualquer sinal de pontuação in- dicando pausa. Usando se-ia que são da oração tes a terminologia da gramática tradicional, dir- muito freqüentes (sujeito e predicado); entre termos antes dos termos (complemento nominal e verbal); e, ainda, por exemplo, depois do os depois que de essenciais integran- preposições em orações adjetivas e subordinativas. Observou-se ocorrer antes mesmo que que algumas vezes a palavra essas pausas chegam a termine, como no exemplo (2). EXEMPLOS: (1) Ta // então nos tamos àqui na casa da Margarete/ pra conversar alguma coisinha sobre ( ) um assunto de ( ) ... que a gente possa discutir / nao e então** / Margarete // (F.A, p.64, l? 1.).*** (2) // mas na realidade / o problema dela é de ( ) instrumental / né // é o ( ) o verbal // e o ( ) é o ( ) ... e não tá habili ( ) nao tá habilitada pra ( ) pra ( ) ... nao se acostumou a se expor pra conversar / pra falar // (F.B, p.65, 83 1.) (3) // mas ele diz que ( ) toda a vez que ele vai escrever / ele ( ) tem assim ( ) uma empolgaçao por aquilo que ele vai escrever / (F.D, p.81, 1? 1.) (4) // então é um trabalho assim que eu ( ) eu acho que ( ) é um trabalho maldito / é um trabalho neurotizante / um trabalho ( ) obcedante//às vezes você fica ( ) fissurado naquilo // (F.D, p.81, 24a 1.) *Nesse exemplo, além dos parênteses, aparecem também as reticencias. Sao usadas sempre que se quer indicar que a estrutura ficou inacabada. **Entoação interrogativa (não é então?). ***F.A = Falante A; 1? 1. = primeira linha. 24 (5) 3.1.2 / eu acho que as pessoas têm uma capacidade muito grande em ( ) sm ( ) em (E) se adaptar ou ( ) ou criar afeto por coi" sas e ( ) até por objetos // então / como hã essa ( ) essa necessidade do casal / essa lacuna / e as pessoas tem uma ( ) capacidade muito grande em ( ) criar afeto por coisas / (F.E, p.86, 13? 1.) Hesitações manifestadas por pausas preenchidas As pausas vim, às vezes, preenchidas pelo dos sons meiro. (E) e Tal alongamento (Ã), sendo pouco mais freqüente o uso do pri- como as pausas silenciosas, estas ocorrem fora de fronteiras de constituintes normalmente (exemplos de 5 a 8). (6) // que se torne num nível bom / num nível em que você perceba certo progresso/ e voce vai ver que ( ) ... (F.D, p.82, 7? 1.) (7) / e a gente continua (E) dando a ( ) a matéria e ( ) insistindo em currículo (E) de forma que a criança precise desse auxílio dos pais // (F.H, p.114, 10? 1.) (8) // então os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã) tiverem ao alcance de ( ) de ( ) de evitar que aconteça essa diferença de tratamento / né // (E) então pra que adotar // (F.E, p.90, 23? 1.) Notou-se preenchidas pausas por que, esses na amostra, sons são de modo menos geral, as pausas freqüentes do que as silenciosas. Para se ter uma idéia dessa diferença de uso, a tabela abaixo registra a ocorrência numérica individual de ção dentro das primeiras 2 00 palavras dos diálogos. hesita- 25 TABELA DE FREQÜÊNCI-A DAS HESITAÇÕES PAUSAS SILENCIOSAS FALANTES ENTRE OS FALANTES PAUSAS PREENCHIDAS ( ) (E) TOTAL (A) A 16 - 1 17 B 15 2 - 17 C 13 3 - 16 D 2 - - 2 E 1k 3 - 17 F 11 2 - 13 G 8 8 - H 5 1 1 7 1 1 1 - 2 85 20 TOTAL O'DONNEL e TODD afirmam 16 • 2 que, 107 normalmente, as pausas preenchidas são mais freqüentes, uma vez que as pausas silenciosas tendem a ser ambíguas, pois podem ser interpretadas pelo ouvinte como um sinal de que o outro lhe está cedendo a posição de falante. Por outro lado, afirmam que quanto maior for o grau de conhecimento, intimidade entre os interlocutores menor (p.67). será o número encontrado Essa observação final talvez de pausas preenchidas venha a explicar essa somatória de 85 pausas silenciosas contra 22 preenchidas pelos sons (E) e (Ã), pois, conforme se observou, entre os fa- lantes da amostra, ê grande o relacionamento de amizade. 26 A tabela acima entre os falantes — mostra a hesitação bastante freqüente dos nove, apenas três hesitam pouco. 0 porquê da maior ou menor hesitação, conseqüentemente da maior ou menor fluência na linguagem oral, seria tema. para um estudo â parte. Um dos itens a serem considerados giraria em torno das questões colocadas neste trabalho, relativas às maiores ou menores Poderia também reflexões fixar-se na sobre o assunto do discurso. hipótese de que o maior da escrita leva a um maior domínio da oral domínio (o falante D, por exemplo, que utiliza pouca hesitação, ê escritor). t 3.1.3 Palavras que atuam como reorganizadoras do discurso ou permitem que o falante ganhe tempo na organização subseqüente do mesmo As palavras né, não Ae¿, u í d¿gamoA , d¿gamo¿ a¿&¿m, que.si dlz<tfi, lã, acompanhadas ou não de hesitação (alon- gamento de suas tônicas), normalmente são usadas na oral com o objetivo principal de permitir que o falante ganhe tempo na organização do que pretendem dizer. Muitas dessas palavras atuam como reorganizadoras do discurso. A ~ "k A maioria dessas palavras e expressões e das que se apresentarao a seguir, nao aparece na amostra unicamente como produto do nao planejamento do discurso. De modo independente e ãs vezes ate mesmo paralelo, essas palavras desempenham também varias outras funções. Por isso, nao se farã qualquer espécie de levantamento quantitativo com relaçao as mesmas. 27 ® Ai¿>¿m Não se notou na palavra a¿¿tm pecial quando é proferida qualquer significado com ama queda de. tom es- ba¿ tante. te.n- ta. Viria funcionando apenas como uma especie de piee.nch.edofia de. pauóa, vindo, nesse caso, normalmente ligada ao verbo ou ao substantivo que a precede (exemplos 9 a 14). Ja, quan- do quando proferida num tom que sobe na tônica, quando da ao adjetivo ou advérbio que comumente a sucede, liga- observou- se que a palavra aòòim parece vir também modalizando a fala (exemplos 15 e 16). Sua principal função seria a de se obter "uma caracterização modal para como atenuadora de "força ilocucionária". 3 (9) o que se lhe segue" • Viria // tem assim ( ) outras ãreas mais ( ) talvez (Ã) técnicas / né / (Ã) biológicas / ou coisa assim / (F.B, p.71, 28? 1.) (10) (E) por exemplo / foram bem criadas / ali / ne / que você estava falando// da criança assim que ( ) ... (11) (F.C, p.88, 26? 1.) // e nós vemos coisas assim ( ) coisas (E) engraçadas até / (F.F, p.96, 28? 1.) (12) É / / e a ( ) e o ( ) e assim pra ( ) pra encerrar / assim a mensagem que a gente como obstetra / (F.F, p. 100, 22? 1.) "MARTINS, A.S.N. Algumas características do Português Falado. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos lingüísticos. Campinas, Pontifícia Universidade Católica, 1982. p.18, 19. Ao apresentar exemplos do assim como preenchedor de pausa e como modalizador, não menciona critérios. Torna-se difícil, em alguns casos, perceber a distinção. Examinem-se dois de seus exemplos: "Ficava aquela esquina, assim como uma meia dúzia de homens olhando um para o outro . . ." "Urrou, assim por meia hora" (p.19). 0 primeiro exemplo ê dado como sendo modalizador e o segundo como preenchedor de pausa. Acredita-se, no entanto, que esse segundo também possa ser classificado como modalizador, considerando que o falante nao quisesse ser categórico, não quisesse precisar o tempo. 28 (13) / tudo isso / já é uma coisa assim que ( ) ... • 14? 1.) (F.H, p.103, (14) 5? serie / tudo / (E) pessoas assim que ( ) (Ã) os pais jã tao pensando em preparar pra faculdade / (F.H, p.106, 23? 1.) (15) / que nao ( ) não ( ) nao ficam incutidas tanta coisa / né / assim ( ) camufladas / (F.A., p.69, 15? 1.) (16) Olha / a ( ) a adoçao / era uma palavra que ( ) vivia assim bastante distante da gente / (F.F, p.94, 54 1.) ® VIgamos 0 digam06 é também utilizado freqüentemente na gem oral com o objetivo que se tem na escrita — lingua- o de esta- belecer uma suposição. Nesse caso, o tom normalmente sobe na tônica e o ritmo se acelera (exemplos 20 e 21). Quando usado mais para permitir ao falante aquele tempo necessário, vem caracterizado pela tom mencionada com referência ao aòòlm Nos dois casos o dlgamo¿ mesma queda lenta de (exemplos de 17 a 19). vem, ãs vezes, marcando um ponto de quebra na estrutura, vem indicando a reorganização das idéias. (17) / uma ( ) uma mãe (E) digamos / (E) em relação a um filho adotivo / (F.E, p.86, antep.l.) (18) // então os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã) tiverem ao alcance de ( ) de ( ) evitar que aconteça essa diferença de tratamento / né // (F.E, p.90, 234 1.) (19) Mas / Ëdson / (E) já é praticamente ( ) ... digamos ( ) dentro de um contexto social / existe casos / (F.G, p.98, 14? 1.) (20) / a respeito de sua boa vontade / da sua ( ) ... (E) digamos do amor que voce ( ) ... da doaçao / que voce tá fazendo / (F.G, p.98, 18? 1.) (21) Mais tarde / né / quando a criança ... digamos se isso for escondido da criança / mais tarde / a criança vai sentir mesmo um ( ) digamos* um impacto // (F.E, p.87, ult.l.) Odigamos parece vir aqui também modalizando a fala. 29 © VigamoA aòòlm O cUgamoA e o a¿i,im aparecem às vezes formando uma única expressão. É um recurso para se ganhar m a i s tempo na organização do pensamento. (22) / e ( ) podia digamos / ate nao preparar o ( ) o ( ) o ( ) digamos assim / o ( )a ( ) a oraçao inteira/ né / (F.B, p.74, 30? 1.) (23) Bom / resumindo / digamos assim / (E) voce em termos de papai agora / (F.G, p.100, 17? 1.) ® Quen. dize.fi 0 quefi dizun. vem freqüentemente indicando um novo rumo sintático, marcando uma mudança estrutural. Ê nessa função considerado como reorganizador do discurso, como elemento tif icador, aparecendo sempre depois de uma construção ré- frasai truncada, cujo desenvolvimento foi omitido. (24) / ( ) mas ( ) depois eu fui (E) ... quer dizer / fiquei lá um ano e meio // (F.B, p.65, 17? 1.) (25) // então / era ( ) ... quer dizer ( ) era coisa mais específica sobre teatro // (F.B, p.66, 34? 1.) (26) // eu crio as coisas ... quer dizer / deixo jogado num canto / (F.D, p.84, 21? 1.) É pela entoação que se percebe quando o que.fi di.ze.fi vem marcando um ponto de quebra, a mudança de rumo do pensamento. Notou-se que sempre que o falante deseja dar a idéia 30 de retlfilcaç.ão4 o tom nessa expressão torna-se cora uma queda acentuada em relação ao tom usado. 0 ritmo coòtuma supressão da vogai l. acelera'i-òe, que dei ce'ndent e vinha havendo normalmente a Além disso, a parte retificada ma iniciar-se no mesmo tom mais alto anterior a essa são. sendo costuexpres- Observe-se o gráfico: ^ k d ' \zer © Vamos dlzo.fi O vamoó dl zun. aparece ora como elemento Indicando malò uma ¿upoòlção. ção característica mesmo modo em do ora No primeiro caso tem a entoa- quer dizer retificador, aparecendo do pontos de ruptura sintática segundo caso, quando ovamoé dizer (exemplo 27). expressa a Idela ção e o que está suposto vem a seguir, última sílaba do dizer* retificador, (exemplo 28). o de No òupoòl- tom ê mais alto na Examine-se o gráfico a seguir: 4 0 quer dizer aparece na amostra, ora introduzindo uma conclusão, ora uma explicaçao. Ao falar do quer dizer como elemento explicativo, MARTINS apresenta-o como tendo o mesmo valor das partículas explicativas ou seja, isto é(p.l6). Essas partículas, todavia, podem ser substituídas pelo quer dizer apresentado nos exemplos (24), (25) e (26) sem que sua função retificadora se altere. Como elemento retificador parece nao haver problemas quanto ao reconhecimento de suas características entoacionais. 0 difícil e perceber entoacionalmente a distinção entre essas duas outras funções, pois mesmo semánticamente, em muitos casos, hã dúvidas nesse sentido. *Observe-se que o assim catafõricoj bem como o digamos e o vamos dizer, quando estes últimos indicam uma suposição e a coisa suposta vem a seguir, tem uma característica entoacional em comum: o tom sobe na sílaba tônica final. Parece possível afirmar que o significado sistêmico desse contorno entoacional e o de introduzir uma informaçao nova que vem a seguir. 31 (27) // eu sei que a ( ) a situação ( ) ... Vamos dizer ( ) o dia em que a Sheila veio pra nós / a correria que nós tivemos atras de documentos e papéis / (F.F, p.98, 303 1.) (28) // não importa/ Vamos dizer / se seje da gente / se sejede outro // (F.F, p.98, 29? 1.) ® Wé A expressão ne, que costuma aparecer com grande inci- dência na linguagem oral, é mais freqüentemente usada na função fática (classificação de Jakobson) 5 do receptor, saber se o compreendeu bem. de testar a opinião Dentro dessa mesma função, é usada, muitas vezes, no sentido de confirmar-lhe a atenção, de prolongar a comunicação. em que aparece "veicula uma Isso quando o contexto mensagem de simplicidade corri- queira" 6 . Outras vezes, nhando a função de ainda, observou-se que o n é vem desempepfieenc.he.don. de. pausa, caso dos exemplos abaixo. Verificou-se que, distribucionalmente, ne. aparece dentro orações, entre uma oração a e expressão outra ou no final de períodos. Na posição mediai observou-se o mesmo fenômeno acen- tuado por MARTINS: "há uma pausa acentuada que quebra o ten- 5 JAK0BS0N, citado por GUIRAUD, P. & K.Paul, 1975. p.7. 6 MARTINS, p.16. Semiology. London, Routledge 32 sionamento da organização sintática e ne. deixa de ter a mesma força entoacional que o de sua posição final" 7 . Ao perder a força entoacional, o ne. ê proferido em tom mais baixo em relação mente, de forma ao das palavras anteriores e, normal- alongada, demonstrando hesitação (exemplos 29 a 32). (29) // e ( ) a gente tem visto muito no teatro /ne / que (E) ainda que i uma ãrea onde as pessoas tem que se expor / ne / mais verbalmente // (F.B, p.64, 9? 1.) (30) / e ( ) e expressarem verbalmente / o seu pensamento / ne / que a nossa ( ) que a escola / tem assim / muita deficiencia nesse aspecto // (F.B, p.64, 7? 1.) (31) Isso é verdade // e a gente concorda / né / porque a sociedade em geral / eu acredito / (F.A, p.64, 14? 1.) (32) Eu vou pegar ... eu ( ) gosto muito de citar as pessoas / nê / os escritores / (F.D, p.79, 53 1.) * Não ò e.Z, ò<lá. lá. As expressões não ò e.Ã. e ¿e-c £5, como o d¿gamo¿, di.ze.si e o vamoò o queà. d-íze.fi, denotam mudança de rumo do pensamento e ocorrem em pontos de ruptura da construção sintática. Nesse caso, não costumam vir seguidas da conjunção integrante ¿e. e, nas palavras de MARTINS, são "asserções atenuadas que modalizam o ato de saber" 8 , além de expressar uma certa angústia, desgosto, crítica por parte do falante. Esse conteúdo é transmitido nos exemplos transcritos a seguir: (33) 7 // e então / quando e alguma coisa mais cerrada / eu chego até a ( ) ... não sei. / no final fico (Ã) desnorteada / chego até a chorar / porque ( ) porque a gente ( ) ... sei lá II você leva ( ) ... (F.A, p.65, 34? 1.) MARTINS, p.15. 8 MARTINS, p.18. 33 (34) A gente aprende ./ mas nao ( ) ... não sei / e como se ( ) ... sei la I a. propria escola nao te motivasse a isso // (F.H, p. 104, 13? 1.) (35) Nao / nao // simplesmente eles ( ) ... sei lá / lêem em algum lugar / veem que no outro país e assim // (F.H, p.HO, 7? 1.) 3.1.4 A imprecisão da Ainda como linguagem decorrência da falta de planejamento do discurso oral, ê comum o emissor acabar deixando suas idéias um pouco vagas. A norma social tolera essa imprecisão maior que cos- tuma ocorrer, talvez por não dispor o falante, como na lin- guagem escrita, do mesmo tempo que lhe permite encontrar palavras adequadas que traduzam o seu pensamento de forma mais fiel. Note-se que muitos falantes, ou por sentirem dade em se expressar, ou por considerarem certos dificuldetalhes desnecessários, costumam usar de expressões que deixam cons- tituintes com valor semântico vago. (36) // meu Deus / eu nao posso ser tola// eu sei falar muito bem / tudo // mas se eu falar dessa maneira / (F.A, p.74, 6? 1.) (37) // e ( ) tem vocabulario reduzido / pouca leitura / tudo / né / (F.B, p.65, 11? 1.) (38) /desde o primario / e mesmo 5? série / tudo / (F.H, p.106, .23? O vocábulo tudo distinta da que teria em nos (36), (37) e (38) tem uma entoação casos em que é sujeito ou comple- mento. Nesses exemplos há certas unidades sintáticas idênti- cas colocadas em seqüência, com ou sem a presença da conjun- ção coordenativa e, tendo todas elas idêntico. contorno meló- 34 dico. O -tudo ocupa o lugar de uma dessas unidades repetindo o contorno melódico das anteriores e apresentando um conteúdo semântico vago lor pragmático de 0 tudo ma¿6, com terísticas o sintáticas, etc.). aparece mesmo (corresponde mais ou menos ao va- ainda valor como parte da expressão semântico e com as mesmas e tudo carac- entoacionais. (39) / porque o nascimento e uma coisa assim linda/ mesmo / ne // é aquele momento de felicidade/ aquela espera e tudo mais // (F.F, p.99, 23a 1.) (AO) / eu que lido com esterilidade feminina e tudo mais / p.100, 25a 1.) (41) / em que os pais têm tempo pra atender / pra cuidar / pra orientar nas lições e tudo mais 11 (F.H, p, 114, 54 1.) Essa imprecisão da linguagem las expressões aquilo, e tal, não ¿e-i o que., tal e vem (F.F, ainda traduzida pe- e i.000 e aquilo, ou lòòo ou cotia. Essas expressões, como nos dois casos mencionados acima, também apresentam o mesmo contorno entoacional de unidades sintáticas precedentes, ocupando com valor semântico in- determinado o lugar de uma dessas unidades. (42) / os veteranos ficavam tudo assim // pô / mas que pergunta idiota / pô / mas que não sei o quê I! (F.B, p.66, ult.l.) (43) / exigiu-se uma série de materiais pra poder funcionar um ( ) os cursos profissionalizantes / e isso e aquilo II (F.I, p.105, 74 1.) (44) // quem ainda nao pensa / quem não tem a necessidade financeira de um emprego / ou isso ou aquilo / nao vai querer ficar na escola // (F.I, p.108, 244 1.) (45) // então / e aí / dependendo da educaçao que também foi dada / desenvolvimento da criança/ e tal / né / (F.E, p.88, 64 1.) (46) /e como se minha mulher tivesse tendo um parto / né // o nervosismo nosso / tal e coisa / e tudo mais / e nenê / (F.F, p.98, 324 1.) 35 (47) - // eu cheguei a procurar terapia / assim achando que eu era uma pessoa doente / não sei o que / e tal / (F.B, p.65, 14? 1.) (48) // procuram terapia / procuram psicólogo/ procuram não sei o que não sei o quê // (F.B, p.65, 6? 1.) (49) / e ela acompanha as crianças todo dia// o meu nenezinho fez isso I e tal I tal / (F.F, p.99, 34? 1.) A palavra vago. Em ¿¿¿o (49) e no exemplo tecedente no diálogo. elementos de uma (50) também ê usada com conteúdo semântico (50) abaixo, ela aparece sem an- Pela entoação ocupa o lugar de um dos enumeração. // então você vê ... você ouve muita musica / você vê isso / você vê mais teatro ou ( ) a ( ) teatro não / mais futebol do que teatro // (F.A, p.69, 35? 1.) Indicando ainda essa idéia de imprecisão é interessante apontar o uso da expressão tá (que no exemplo abaixo não deve ser confundida com a forma abreviada do verbo estar, na 3§ pessoa do presente do Indicativo). A amostra não tem registro dessa expressão com aquela função de "feedback" com que é comum na oral. Também não é usada com a função do ne de prolongar a comunicação. Em (51), o tá apresenta mais ou menos a mesma ção dos verbos que a cercam, teria nas funções acima. distinta, Por isso entoa- portanto,daquela parece vir que representando parte de uma mesma seqüência de ações. (51) / um menino que escreve / daí ele fez um roteiro / eles decoraram / tã / e apresentaram // (F.B, p.75, 89 1.) 36 Essa imprecisão que costuma ocorrer na oral, igualmente, pelo uso constante da palavra revela-se co-¿4a; ela pode se referir a tudo que existe ou pode existir no Universo. Por esse motivo é usada em substituição a palavras que seriam mais exatas. É um "substantivo coringa"9. (52) // principalmente / numa ( ) argumentaçao assim / bastante mais ( ) forte / chega num ponto que eu ( ) tipo assim / uma coisa que eu ( ) eu chego ati a perder mais ou menos o ( )o contato // (F.A, p.65, 32? 1.) (53) / e com esse medo / com essa ( ) coisa que surgiu / (p.69, 9? 1.) (54) / agora esse do ( ) dos pais assim / eu acho Uma coisa / sei la / eu acho que talvez seja das coisas mais graves que exista // (F.H, p.95, 11? 1.) Vê-se na amostra ainda (F.A, o uso de sílabas que se repe- tem representando possivelmente várias orações: (55) // tem aquele poder / mas chega lá / bã bã bã II bã bá bã II bã bã bã // (F.A, p.73, 42? 1.) (56) // e nao é... e ( ) e esse ímpeto ... pode ser que tenha ... a pessoa fale // te te tê 11 te te te /1 mas ela nao tem aquela capacidade / como diz/ de organizaçao// (F.A, p. 74, 2? 1.) 9 Esse termo ê usado por Diño PRETI. Ao exemplificar o "truncamento frãsico" que costuma ocorrer na linguagem oral, observa o seguinte: "Note-se o nível do vocabulário, incluindo um 'substituto coringa' (negocio), de uso abusivo na fala atual, servindo para as mais diversas acepções ..." "- Nao sirvo para isto... estas coisas nao se dao com o meu gênio... Estou a tremer como se fosse o negócio comigo... 229". (Sociolingüística; os níveis da fala. São Paulo, Nacional, 1975. p.97). 57 3.1.5 Quebras de estrutura Constantemente na oral verificam-se quebras de estrutura. Neste capítulo, ao se falar nessas quebras, em mente chamar-se a atenção para as estruturas das, inacabadas, que ocorrem pela falta de tem-se interrompi- planejamento do discurso. Não se quer enquadrar aí os casos de orações que têm partes implícitas que são recuperáveis em virtude do contexto lingüístico. A produção de tais orações advém, como afirma Lyons, da "competência de elipse" do falante. ser capaz de se expressar através de frases Este deve "gramaticalmente incompletas", mas significativas, coerentes. Como a essa competência que o falante deve ter, respostas elípticas. cita ilustração o caso das Em resposta à pergunta - "When are you leaving?", dir-se-ia simplesmente - "As soon as I can". ria desnecessário colocar-se aí o "I am leaving" Se- uma vez que já se encontra na pergunta. Lyons fala também dessa competência do falante em relação à presença do contexto situacional. viu na Revisão da Literatura, contexto ( context-free ); a teria escrita de Conforme o que se seria livre de tal criar seu próprio con- texto, através unicamente do verbal, enquanto que na oral, a linguagem poderia manifestar-se dependente dele bound, context-tied, context-dependent). aspectos que viria manifestando essa (context- Para Lyons, um dos seria a elipse - "One aspect of context- dependence is manifested in what is traditionally called elipsis". 10 10 LYONS, v.2, p.589. dependência 38 Não podem ser considerados ainda trutura devidas como a falta de planejamento, os quebras de escasos em que o falante deixa, por exemplo, frases inacabadas por pressupor que o outro já o tenha compreendido, em virtude deste lhe dar qualquer tipo de sinal indicando esta compreensão. to, como neste trabalho não é difícil dizer isso ocorre; quando por exemplo, da oração (57) Entretan- foram feitas gravações de vídeo pode ter sido o caso, (57) abaixo: // é porque também é um problema estrutural / de ( ) de estrutura de sociedade/ que nos ... né // que nao faz desabrochar // - Mas é que prum governo também interessa ter um povo desorganizado // (Falantes A e B, p.70, 11? 1.) Convém observar que as frases na oral ficam comumente inacabadas também por interrupção do ouvinte. Há ocasiões em que o ouvinte interrompe o falante, levado pelo ímpeto de completar-lhe o pensamento. Jã em o u t r a s , o faz para não perder determinada idéia que lhe advém no momento. a posição do outro, normalmente, usa de um volume Para roubar mais alto de voz. (58) Seja em que época ... [E]~ É // seja em que época for //.(Falantes C e E, p. 92, 323 1.) (59) - Nao / nao // inclusive ele foi até convidado / ele faz sorrir / então ele ... [B]Mas é a forma que é colocado // (Falantes A e B, p.73, 9? 1.) Dadas essas explicitações, interessa no momento — já se pode voltar ao que às quebras que o falante faz, decor- rentes da falta de planejamento. 39 O emissor, na oral, por não dispor cessário de reflexão, por CHOMSKY, "â limitações de estar sujeito, memória, todo competência o conhecimento que não aponta desvios de reflete em seu de- tem sobre a língua, a sua lingüística. 1 1 Quando o falante sente dificuldade quadamente tempo ne- conforme distrações, atenção e de interesse", normalmente sempenho daquele a estrutura concluir o seu pensamento já iniciada, ele em completar ade- tenta normalmente por outro rumo. O truncamento pare- ce acontecer também pelo fato de as estruturas que estavam sendo emitidas virem, ãs vezes, subitamente associar-se a outras. Esses pontos observados dentro das palavras de CHOMSKY: "Uma gravação arnanqueò em {¡a¿¿o, desvios das regras, mudançai a melo caminho da estão fala natural (sem grifos no original) e mostrará assim numerosos de -intenção por diante" (p.84). Demarcando essas quebras é comum a presença de pala- vras tais como: pon. exempto, quen. dlzefir digamos (sublinha- das nos exemplos abaixo). (60) // mas na realidade / o problema dela é de ( ) instrumental/ n é / / é o ( ) e o verbal / / e o ( ) é o [ ) . . . é não tá habili ( ) não tá habilitada pra ( ) ... não se acostumou a se expor pra conversar / pra falar // (F.B, p.65, 84 1.) (61) — Hum-hm// agora ( ) eu me referi problema / criança problema no sentido que ( ) ... (E) por exemplo / foram bem criadas / ali / né / que você estava falando // da criança assim 11 1975. CHOMSKY, N. p.83. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra, A.Amado, 40 que ( ) ... as vezes há pessoas que acham / que ( ) o ambiente / por exemplo / assim ( ) (E) ... do problema hereditário / seria uma coisa assim // que a criança já i problema / porque ela já traz traços/ do pai/ da mae / já i rebelde mesmo sem saber de nada // (F.C, p.88, 24? 1.) (62) — E ( ) mas ( ) depois eu fui (E) ... quer dizer / fiquei lá um ano e meio // (F.B, p.65, 173 1.) (63) — É // a falta nao é tao grande// e por outro lado nos dois nao somos ... por exemplo / tem mulheres que se nao tiverem um filho / (F.F, p.100, 13 1.) (64) — Mas / Ëdson / (E) já ê praticamente ( ) ... digamos ( ) dentro de um contexto social / existe casos / em que casais / que às vezes ficaram anos tentando ter filhos / (F.G, p. 98, 143 1.) (65) e tem outro detalhe ... agora / 5 curioso / porque o teu colégio é de freira // (F.H, p.106, 183 1.) (66) // se eZe sa¿e c^e eZe foi ... se ele recebeu todo ( ) o carinho / (F.C,p.90, 13? 1.) (67) / tenho que me sentar ali na minha mesa/ e pegar uma folha / e escreuer o que eu ( ) ... aquilo que tá germinando na minha cabeça // (F.D, p.80, 4? 1.) i A palavra agola, em (65), assim como o pofi zxempZo,. digamos e o quen. d¿zeA, pensamento, trazendo, conotação própria. também como cada indica uma a o mudança de rumo do dessas expressões, uma Nessa oração não é advérbio de tempo. Po- de ser tomada como uma conjunção adversativa, ou como um simples elemento continuativo. Observou-se que o ponto de truncamento aparece do de alterações de volume, de ritmo de voz. alterações, o falante informa ao ouvinte que Através deve seguidessas ignorar toda a oração anterior ou parte dela, como no caso dos exemplos (62) , (66) e (67) . 41 3.1.6 Outras construções que fogem às normas da sintaxe Da pressa com que as idéias são exteriorizadas na oral, como se viu manifestadas dos exemplos acima, surgem quebras na estrutura através de frases que não terminam. de quebra é facilmente percebido pelo Esse tipo ouvinte, em virtude da mudança de entoação a que se referiu acima. Mas, ocorrem outros tipos de deviações sintáticas que, às vezes, só são observadas quando se lê a transcrição do texto, pois o discurso segue um fluxo normal. É o caso de omissões de palavras e troca de uma forma gramatical por outra, as quais tornam estranha e muitas vezes, até ambígua, a re- lação sintagmática das orações e períodos. Ao se mencionar essas construções drar certas ocorrências que, embora não se quer enqua- condenadas pela norma culta, são tidas como corretas por certos grupos sociais, por fazerem parte de sua competência idiossincrasias, de questões falta de planejamento. Em (68), somente lingüística. resultantes de Fala-se de desempenho, de Observem-se os exemplos abaixo. pelo contexto, pelas afirmações an- teriores é que se percebe, por exemplo, que o sentido da oração sublinhada é mais ou menos este: tura com a qual Em "... dessa (com quem) vocês estão no seu lar nova cria...". (69) há um a¿¿im que funciona pragmáticamente como preenchedor de pausa, indicando hesitação, e há a falta de iam que (ou de um de.) para formar a locução tem (68) que. [de.) {¡alan. — Ë // já que a experiência da primeira / que ainda não se concretizou / e que ainda existe muito ( ) muita tarefa ardua / muito ( ) muita labuta pra criaçao dessa ( ) dessa no- 42 va (E) nova criatura que vocês estão no seu lar/ que não é de vocês / (E) vai ficar só nessa*// (F.G, p.98, 2? 1.) (69) 3.2 / mas ele pelo menos fazia um roteiro / pra ele ( ) pra ele ter lógica do que ele tem assim falar // (F.B, p.74, 32? 1.) A LINGUAGEM ORAL TEM O RECEPTOR E 0 CONTEXTO 3.2.1 PRESENTES A presença do receptor Conforme se apontou na Revisão Bibliográfica e se pôde constatar analisando-se a amostra, o emissor não se dá o trabalho de deixar suas idéias muito explícitas quando o receptor está presente. Isto porque sabe terá a chance de uma adequação, uma.realimentação que o imediata da mensagem, uma vez ou não outro poderá reagir através de signos verbais verbais, caso não o tenha compreendido É lógico que reação do receptor. o emissor não Verificou-se bem. espera passivamente que, constantemente, pela ele procura testar-lhe a compreensão, através, principalmente, da expressão né (não é) e de outras como as sublinhadas nos exem- plos abaixo. Esses elementos são chamados {¡ãtlcos. Além de mani- festarem esta procura de "feedback" pelo emissor, também têm como função captar a atenção do receptor e prolongar a comunicação. *A entoaçao nesse final de período é de interrogação. 43 (70) se ela entra no 2? ano / por exemplo / porque as outras escocolas compram / dao um jeitinho/ né // (F.I, p. 105, 16? 1.) (71) // e então eu acho / que essa uma do teatro se colocar numa posição esquerdista / sabe / (F.B, p.72, 18? 1.) (72) / ele vai / sendo bem criado / ele vai entender / ele vai receber o impacto / entendeu // ele vai receber // mas vai ser compensado // (F.E, p.88, 11? 1.) (73) / ela pode / pode reagir de uma maneira (E) (E) prejudicial a ela própria I né it entende o que eu quero dizer // (F.E, p.92, 21? 1.) (74) / mostrar que ele e um pai adotivo // que ele tem outro pai / certo II pra ate chegar numa ( ) num certo ponto / né / e dar inclusive até opção / de ( ) dessa ( ) dessa pessoa até procurar quem sabe o outro pai // sabe como é que é // o pai verdadeiro // sabe como ê II (F.E, p.92, 7? 1.) (75) // que a lei tirou do professor a liberdade dele / por exemplo/ decidir o que ele quer dar / como ele quer dar // entende / ele é uma pessoa/-assim / que nao participa mais das decisões da Escola // (F.H, p.104, 17? 1.) Na oral, o receptor. Não o emissor omite tudo o que julga óbvio para há aquela preocupação, como na escrita, em fazer da linguagem um código universal. plo, o trecho do diálogo entre página 71 do anexo, da 13 â 9? os Veja-se, interlocutores linha. por exemA O emissor e B, deixa ã os verbos com sentido incompleto. As únicas palavras que aparecem ocupando a posição de complemento são di&¿o e -c-i-òo, as quais apresentam conteúdo semântico vago, pois não têm antecedente no discurso. -Apesar de muitas informações nesse referido trecho não terem ficado claramente expressas para quem lê a transcrição, pôde-se perceber, não houve necessidade de o emissor escolher alternativas sintáticas mais explicitas, pois o receptor dava a todo momento demonstrações sabia o que o outro estava lingüísticas pretendendo claras de que dizer. Essas demons- 44 trações de compreensão devem ter sido feitas também por meio de gestos e expressões faciais. Conforme se apontou no capítulo 3.1.5, dada cia de gravações de a ausên- vídeo fica difícil, muitas vezes, quando uma oração foi deixada inacabada jamento, ou quando por essa questão de por saber falta de plane- pressuposição do ób- vio por parte do falante. Nos casos dos exemplos abaixo, no entanto, tenha dificuldade em descrever com exatidão a embora se entoação usa- da, percebeu-se que há um tom ascendente na sílaba tônica da última palavra da oração interrompida. Isso viria indicar que a interrupção não foi feita por falta de planejamento, mas em virtude de o falante considerar de conhecimento do ouvinte o que ele pretendia dizer. A amostra registra, uma manifestação do ouvinte que freqüentemente, vem confirmar esse ponto de vista. Além disso, note-se que alguns desses exemplos registram a reação lingüística positiva do ouvinte, mesmo face a essa imprecisão, o que vem confirmar a questão colocada de que na linguagem oral o falante não precisa escolher de alternativas sintáticas tão explícitas. imediato » . (76) / procurar usar o humor / procurar usar a capacidade nossa e ir jogando / que o negócio ... tipo uma semeadura / ne Ê 1/ ir semeando // (Falantes A e B, p.72, penúlt.1.) / / (77) Ë // porque quando há exigência / começa ... — Lógico // (Falantes H e i , p.107, 114 1.) (78) // e você já tem toda uma infra-estrutura montada/ então ... — Daí vai permanecer // (Falantes H e i , p.108, 154 1.) V 45 (79) // mais por questão / assim / de os pais incutirem ãs vezes . na criança // mas por ela mesmo ... — É / os pequenos eu acho que nao// (F.H, F. I, p.109, 4? 1.) (80) Para // ve Margarete // mas se vem uma parte jã de ( ) de formaçao .. . nao é então // ê difícil pra você desabrochar uma coisa que você quase que ( ) que nunca toca// (F.A, p. 69, 313 1.) (81) Mas ê que prum governo / também interessa ter um povo desorganizado // porque daí / a partir do momento em que as pessoas começam a se organizar .. . você veja// na escola a gente tá organizando um grêmio // (F.B, p.70, 13? 1.) (82) // não nasceu / deu ( ) deu as contrações ... tem que escrever // escrever ë a mesma coisa // (F.D, p.79, 17? 1.) (83) // podemos brigar durante quarenta anos em cima de determinadas idéias e . . . vamos encontrar o presente escritor / o João Cabral de Mello Neto/ que nao acredita em inspiraçao // (F.D, p.84, últ. linha) (84) A gente aprende / mas nao ( ) ... nao sei / ê como se ( ) ... sei la / a própria escola nao te motivasse a isso / / a estrutura da escola / o sistema da escola // e neste ponto / eu acho / por exemplo que ( ) que existe a ( ) a ( ) uma certa razão quando dizem... aí sim / talvez seja defeito da lei // (F.H, p.104, 13? linha) Os exemplos subseqüentes (85 a 90) mostram que a pre- sença do receptor também facilita o ato comunicativo do emissor, tuna vez que, se este estiver hesitante pode ser auxiliado pelo receptor na complementação do pensamento. (85) // então / falta uma estruturação / sei lá // falta uma base / um conhecimento maior / quer dizer / um ( ) ... como diz um ami ... [ B]— Um instrumental maior / né // A — Um instrumental // é // e esse daí / como diz também um amigo meu / (p. 65, ult.l.) (86) A — / e u chego até a ( ) ... não sei / no final / fico (Ã) desnorteada / chego até a chorar / porque a gente ( ) ... sei lá // você leva ( ) ... [B]A — Falta argumentaçao // Falta argumentaçao // ou as vezes / você fica num ponco de desespero /' que você nao consegue dizer aquilo que você tá sentindo / direito / (p. 65, 34? 1.) 46 (87) (88) (89) E — // então vai / já vai educando a criança / já procurando entender que ( ) ... C — Pesar a situaçao // E — É / pesar a situaçao // se bem que e ( ) é ( ) é perigoso / porque esta criança nao tem ainda aquela personalidade formada / né // (p. 92, 123 1.) F — // porque a gente vê / às vezes / pais tão bons com filhos legítimos tao ruins / né // pais tão ruins / com filhos tão ( ) ... G — Tão excelentes // F — Né // (p. 96, antep.l.) F — / tem mulheres que se não tiverem um filho / elas ( ) elas ( ) ... A — Enlouquecem // F — Enlouquecem / né // (p.100, 24 1.) (90) F — // então de uma certa forma / a gente tá um pouco em contato / e isso tira um pouco daquele ( ) ... 3.2.2 G — Encantamento // F — Encan ( ) encantamento da gente / né // (p.100, 343 1.) A presença do contexto Frisou-se que muitas informações, que viessem na- turalmente esclarecidas pelo ambiente, não necessitariam ser verbalizadas pelo emissor; a referência as a determinados ob- jetos ou pessoas, por exemplo, poderia logicamente ser feita através de simples pronomes (com a colaboração de um gesto, um olhar), o que traria a incompreensibilidade ao texto oral quando transcrito. A amostra, no entanto, não evidenciou muito esse aspecto, talvez, dada a pobreza do cenário vações foram feitas só entre quatro paredes) mente, pelo fato de o assunto sobre o qual ou, (as principal- estavam não se referir ao ambiente, ser mais abstrato. gra- falando 47 Mesmo assim, em um dos diálogos aparece nesse sentido um exemplo interessante. considerações claras O sobre as proposições lançadas falante H (p.104) vinha tecendo a Lei 5692. passam Porém, subitamente, a não se coadunar com as an- teriores; parecem não fazer mais sentido. bulos, motivado meio de pela É que, sem preâm- presença do gravador, um simples olhar, ele muda o certamente por tópico do discurso e passa fazer referência ao fato de a conversa estar sendo gravada . 3.3 A LINGUAGEM ORAL UTILIZA-SE DE RECURSOS PROSÓDICOS Nos itens antecedentes, analisando-se a amostra, procurou-se demonstrar o que advém no Português falado do fato de o discurso não ser planejado antes do momento de sua produção e de contar com a presença do O mesmo pretende-se aqui, em relação receptor e do contexto. ao fato de a linguagem oral utilizar-se do meio fónico. Utilizando-se de sons, através dos cos (o tom, volume, ritmo), conforme se recursos prosódi- verá pelos exemplos abaixo, o falante consegue: 1) transmitir aqueles problemas que sua mensagem, surgem por mesmo através de todos questão de o discurso não ser previamente organizado; 2) passar, sem preâmbulos,da narração ao discurso direto, vivendo situações diferentes de diálogo; 3) sinalizar um conjunto amplo de significados. 48 3.3.1 Recursos prosódicos como forma de suprir as falhas decorrentes da falta de planejamento Ao escrever, ao registrar marcas no papel, o emissor por meio do canal visual, de um modo ou de outro, tem controle da forma com que suas idéias estão sendo colocadas. Tem a chance de apagar, riscar, modificar a seqüência, a concordância das palavras, caso perceba estarem estas incompatíveis com as regras exigidas pela sintaxe. Na oral não há essa pos- bilidade. 0 falante acaba, muitas vezes, esquecendo a disposição das palavras que proferiu, por exemplo, gundos. se mencionou, e se pôde ve- Além do mais, conforme há alguns se- rificar pelas ilustrações, não há tempo para a reflexão—as idéias têm de ser lançadas como surgem na mente. A seqüência normal do discurso, em virtude dessa falta de planejamento, é freqüentemente interrompida. Nos pon- tos de ruptura há a inserção constante de elementos característicos da oralidade, tais como os citados: por exemplo, o aòòim modalizador da fala, o preenchedor de pausa, usado com o propósito de o falante ganhar tempo discuso subseqüente; o qu.Q.fi dlze.fi na organização de seu no papel de reorganizador do discurso, etc. Esses elementos colaboram com o ouvinte na montagem do discurso. Para observar, essa mais montagem, importante no entanto, ainda seria pelo o que auxílio se pôde prestado pelos recursos prosódicos. Verificou-se na amostra, por exemplo, que a palavra aòòlm apresenta-se com um tom mais elevado na segunda sílaba, sempre que o falante tem o propósito de dirigir a atenção do ouvinte para suas palavras subseqüen- 49 tes (função catafórica). oposta Quando, (função anafórica) descer. Veja-se ainda o tom porém, nessa usado com intenção mesma sílaba costuma o caso do que.fi dize.fi. Como elemento retificador, reorganizador do discurso, apresenta um contorno melódico descendente, com uma característica muito ficativa (pelo menos na amostra): a profundidade signi- que há na z <¿fi. queda da sílaba Observou-se que sempre que o falante, de alguma forma, interrompe a seqüência normal de seu discurso, para que o ouvinte vã estabelecendo a ligação entre as idéias, ele altera o tom que vinha usando, o ritmo, ou ambos, jogando também com o volume. Desta forma, o ouvinte falante deixou a é levado a perceber que o estrutura inacabada para tentar expressar- se melhor através de outro rumo, para intercalar alguma outra idéia, ou ainda, anterior. por exemplo, para retificar uma Se esses pontos não fossem assinalados mente, o ouvinte não conseguiria sagem pretendida. afirmação prosódica- entender com clareza a men- Tome-se por base a leitura (sem a audição das respectivas fitas) de muitos trechos transcritos no anexo, em que se evidencia esse problema de falta de planeja- mento . Os exemplos (91) e (92) vim ilustrar o caso de elemen- tos que, embora contíguos, não fazem parte tuinte do mesmo consti- imediato: (91) Mas e a forma que e colocado // porque ele tã numa posição já ( ) de ( ) / em termos assim ( ) digamos / de força / ou poder / ou qualquer ooisa semelhante // (F.B, p.73, 113 1.) 50 Nesse exemplo, o falante está comparando o Chico Anísio ao Presidente da República. semeZhante Ouvindo-se a fita, percebe-se que a palavra não vem complementando a quaZquer expressão coisa, isso, acredita-se, pela elevação de tom que ocorre na palavra ¿a col- (diagrama abaixo) e pelo seu ritmo breve. Acompanhando-se o raciocínio do falante, pelo contexto geral, vê-se que s zme.Zha.nte., embora deslocada, vem qualificar a palavra posição, da preposição de. do receptor, ao apesar da presença do advérbio jã e Idéia que pode ser confirmada pela reação dizer imediatamente, referindo-se Anísio, a seguinte frase: ao Chico "Semelhante / / ele galgou isso / / (ver Anexo) . Observe-se (92) ainda, o exemplo abaixo: — Teve ( ) teve um ( ) um alemao ai / que veio para uma firma aí / pra ( ) técnico assim / né / e eu sei que ( ) ... que tã fazendo um curso / ne / que meu marido tã fazendo / e daí / sei que ( ) diz de um dia pra outro / diz que o técnico foi embora // (F.B, p.77, 31? 1.) Note-se que em (92) a oração sublinhada pode parecer Subordinada Substantiva. Porém, através do seu destaque, pela referida contraposição um complemento da anterior — uma de tom, de ritmo, de volume, percebe-se tratar-se de uma ção Varentetlca, uma Adjetiva Explicativa. mais acelerado, o tom e o volume mais altos: 0 ritmo ora- torna-se 51 ritmo mais acelerado, volume mais alto ^ que ta fazendo um ~~ ^ TOM MÉDIO e eu sei que M x so / ' •. • i e ! Nesses dois exemplos, como se viu, os recursos prosódicos ajudaram a indicar a verdadeira relação sintática tre as palavras do discurso. Em (93) e (94) vêm en- assinalando a idéia de fiztt^icação: (93) e ele foi fazer uma ( ) (TS) uma reportagem // uma reportagem // é / foi dar uma ( ) palestra lá na ( ) Universidade // (F.A, p. 66, 10? 1.) (94) acha que todo o mundo e bebezinho / porque ele conseguiu um ( ) um lugar ao sol I! ao sol / né // que sol // (F.A, p.70, antep.l.) Para indicar a correção, o falante repete o que deseja corrigir num tom mais baixo e descendente.* Usa também de um contraste de ritmo. Em (93) como vinha falando em ritmo mais lento, repete a unidade sintática uma n. up o fita g em em ritmo acelerado. Em (94) dá-se o contrário: quando ao ¿ole. re- petida, o ritmo torna-se mais lento. *Em um trecho do diálogo do falante E, que nao consta do anexo, há um exemplo em que o uso de recursos prosódicos também assinala a idéia de retificação, só que de forma diferente: Você dá / dá// dá brinquedo pra ela / dá brinquedo / né / dá brinquedo / dá uma mesada // uma mesada //. A palavra brinquedo nao é proferida pela última vez em tom mais baixo e descendente. 0 que há é o seu aceleramento de ritmo: através da supressão da vogai o, há a sua junção com a oraçao dá uma mesada. Essa mudança rápida de ritmo, somada ã. ênfase que se verifica pelo maior volume e alongamento colocados a vogai tônica de mesada, é que dariam a idéia de retificação, uma preferencia pela mesada. Para reforçar a idéia de retificaçao, a unidade considerada correta vem ainda repetida num tom mais elevado, mais agudo. dá b r i n TOM MÉDIO-» uma me I que __ L do / né . / dá b r i n Çâs uma IquedJ Ime sada // \ sada // 52 ritmo mais acelerado TOM MÉDIO uma r e p o r \ta \gem ritmo 3.3.2 mais // lento Recursos prosódicos como forma de assinalar troca de papéis ou de situações do diálogo Os falantes costumam calar, sem preliminares, o interromper a narração e interdiscuro direto. lugar das pessoas da citação. Observou-se que nem péis. Falam por elas sempre diferentes de diálogo, na oral, Colocam-se a dá-se vivência no (95).* de situações por essa troca de pa- Muitas vezes, o falante transporta-se para uma situa- ção de diálogo mesmo participou no passado. De repente, passa a falar como se dirigisse ao interlocutor da- quele momento de que ele (96). Na amostra, esses dois tipos de representação, é im- portante assinalar, são expressos através da elevação do tom, do volume de voz e do aceleramento do ritmo. *Vejara-se nesse sentido mais dois exemplos da falante E, que nao constam no anexo: - / ela teria outra ... ah / pera a% / opa // nao vou largar / ter esse filho / nao // aí pelo menos ... nao e / / — mas mesmo com essa atençao / aí surge aque ... opa II tã faltando alguma coisa // o que ë // é o filho // 53 3.3.3 (95) — (96) e que as ve ( ) as ( ) / sabe // poxa / mas eu to falando de coração / voce tã falando de cabeça / como é que a gente ... não tem condiçoes de se entender// (F.B, p.76, 35? 1.) Então ela vai ter aquele impacto natural de saber / põ / este não é meu pai // pô / pensava que era meu pai // tenho outro // vem o impacto / tenho outro II aquele ê meu pai // este não é II então o choque / de saber que este nao é o pai dele H (F.E, p.90, 33? 1.) Recursos prosódicos como forma de sinalizar um conjunto amplo de significados Procurar-se-á, aqui, demonstrar o que ficou na Revisão da Literatura, de tor e do contexto situacional expresso que além da presença do recep(ilustrados no Capítulo 3.2), nem tudo precisa vir lexicalizado na oral, também em virtude das idéias que se consegue transmitir jogando-se com o tom, com o volume, com o ritmo de voz,etc. Luiz Carlos CAGLIARI, em seu trabalho tuguí-i, Bla.¿¿¿&¿fio, Oò Tonò do Voh.- afirma, por exemplo, que: A escolha do tom relaciona-se com a noção de modo (tipos de oraçoes declarativas, interrogativas), com a noção de modalidade (asserçao de possibilidade, validade, relevancia ... do que se esta dizendo) e com as atitudes do falante, seu comportamento protocolar lingüístico, como: • polidez, indiferença, etc. 12 12 CAGLIARI, p.13 (Campinas, 1979. Mimeografado). Esse autor afirma ainda que um enunciado pode adquirir sentidos diferentes na medida em que se lhe altera a entoaçao (p.27-8). Apresenta vários exemplos interessantes nesse sentido; o enunciado Apague a luz, aparece com 14 variações, entre as quais se encontram as seguintes: //:1+ „ A/pague J /lut // //5- . {iMittincía) . V p a g u e t /luz // M WaciU£0) — /A „ A/pague . /lui II {iãplOM) jj //l-^A/pagu. » Huz II li {lUou u. p^tveiúnií ...) ||— 54 at¿tude¿ Nas gravações da amostra, em relação a essas expressas pelos recursos prosódicos, observaram-se dos revelando, por exemplo, cnXtLca, ® ClZtica Em (97) mesmo exa6 peiação, enuncia- evitu6i.a6mo. que o ouvinte não entenda bem o signi- ficado da expressão quel vei ba¿x.ah.o òanto, acredita-se que, com o auxílio dos recursos prosódicos, ele tenha condições de captar o que o falante deseja transmitir — a idéia dn6pie.ocupa.do. brasileiro é O falante assume uma atitude recriminatoria. a indolência, a falta de iniciativa do Essa de que atitude fica clara pelo brasileiro. ritmo lento ciado, pelo enorme alongamento na palavra ¿ a t ó ça de tom que aí ocorre — há uma Critica elevação do enun- e pela mudan- na tônica dessa palavra e uma volta na pós-tônica ao tom normal que o falante vinha usando na expressão. (97) o brasileiro é mais / assim / tipo baixar santo / né // quer ver baixar o santo II (F.A, p.77, 25? 1.) TOM MÉDIO quer v e r \.baixar í o/ ^vE.0 ^ Acredita-se que o contorno melódico do enunciado ma possa conservar semelhante idéia de de6preocupação aplicado também a GLIARI, no entanto, outras orações afirmativas. aci- quando Como diz CA- "é difícil fazer generalizações a respei- to dos significados dos padrões entoacionais" (p.13). 55 Os significados desses padrões parecera estar temente ligados quando ve tá ao velho, seu contexto do trecho abaixo mesma forma que a expressão em vim pouco diferente. Não há lingüístico. (97) e (98), A é freqüenexpressão proferida traduz um significado a idéia de despreocupação. outro lado, conserva-se a indolência; da Por fala-se da pessoa ido- sa como tendo falta de energia. • Exasperação Os enunciados sublinhados nos trechos abaixo uma certa exasperação, irritabilidade Dada a ausência e a impossibilidade de de que chamou exemplo atenção parte do falante. mais exemplos semelhantes a esses uma análise instrumental, fica difí- cil afirmar o que exatamente O por traduzem viria sinalizando nesses enunciados, essa idéia. principalmente (98), foi um tom muito agudo, fora do normal, no usado pelo falante. (98) Meu Deus do céu / a pessoa vive ali / quando vê tá velho / já se sente inútil / (F.A, p.68, 103 1.) Meu ^VDeus a pessoa v i v e / \ ¿ i ilo X céu / / ve TOM MEDIO (99) Meu Deus II mas veja as provas das universidades II as redações que os alunos ... (F.A, p.68, antep.l.) Meu Deus // TOM MEDIO l y c . ) 3 AS ^ provas 56 © Entusiasmo No exemplo abaixo, observou-se que como em (98) e (99), o falante passa a falar em iam tom bem mais agudo; só que aqui, demonstra o oposto: entusiasmo na voz. Para uma distinção, quem sabe seja pertinente iam estudo instrumental sobre a distância relativa entre os vários Por hora, tentou-se, tons. através de uma observação mais atenta, ver qual a variação de recurso prosódico que poderia ser, talvez, responsável por essa diferença. Notou-se que ao entusiasmo, demonstrar com as sílabas tônicas o ritmo era outro; mais acelerado, destacadas. (100) eles decoraram / tá / e apresentaram // mas ficou em aima / o público ficou assim // sabe // e então isso daí / (F.B, p.75, 8? 1.) mas sim // I ficou em c ima / o público ficou as/ ta TOM MÉDIO"» e apresen) sa 1 Iram Il \be II Não houve necessidade de o falante deixar expressa a reação do público. exemplo, com que a palavra assim Pela maneira verbalmente vibrante, por foi proferida já se sabe que a peça fez sucesso. Somente através riam se descrever de um estudo mais aprofundado, detalhes significativos de pode- variações de tom, volume, ritmo, as quais dariam uma idéia mais precisa do que exatamente viria sinalizando nificados essas atitudes, esses sig- implícitos. Esse estudo, porém, fugiria aos objetivos m a i s amplos dessa pesquisa. O que se deseja, neste capítulo é frisar, 57 chamar a atenção para na comunicação oral. a importância dos recursos prosódicos É demonstrar prosódicos é muito maior do que que o papel dos recursos a parte gramatical de indi- car, por exemplo, se uma oração é interrogativa ou afirmativa. Esses recursos vêm suprir as falhas decorrentes da fal- ta de planejamento — indicam a ligação entre frases inter- rompidas, palavras sintaticamente deslocadas, o fato de que o falante mudou o rumo de seu pensamento, de que não pretende terminar idéia. mo uma oração, ou de que resolveu retificar Viu-se também que jogando-se com o tom, volume e rit- consegue-se passar repentinamente para situações rentes de diálogo e, como disseram Vygotsky e Litowitz, tém-se, uma ainda, difeob- a expressão de muitos significados, os quais, para serem transmitidos, na escrita, exigiriam uma semântica deliberada, uma diferenciação sintática, maior. uma lexicalização 4 CONCLUSÃO No capítulo da Revisão da Literatura foram apresentadas características da linguagem oral. Para se ressaltar essas características, muitas vezes, fez-se uso de comparações com a escrita. Observou-se como de a linguagem oral s er ¿empre o contexto recursos características espontânea, e o receptor principais, não planejada, près entes, o fato ter quase e de utilizar-s e de prosódicos. Com referência ao Português falado, as conseqüências do fato de a linguagem oral ser não-planejada se manifestam especialmente na ocorrência de pausas silenciosas e preenchidas por certos sons e expressões (os chamados inglês) que são utilizados com o propósito nhar tempo na organização de seu discurso Representando as quer dizer, ne, não sel, Verificou-se, o falante ga- subseqüente. pausas preenchidas surgiram os sons (E) e (Ã) e palavras tais como: sim, de "fillers" em através sei da assim, digamos, digamos as- lã. observação da amostra, que essas palavras aparecem, dependendo do contexto lingüístico, desempenhando várias funções diferentes, e até mesmo paralelas, trazendo cada uma o seu conteúdo pragmático e que o uso e o significado dessas palavras são, específico; na lingua- gem oral, na maioria das vezes, muito diferentes do que quan- 59 do na escrita, Marcam, por exemplo, uma quebra de estrutura, um novo inicio, colaborando com o ouvinte na montagem do discurso. Chegou-se à conclusão do importante papel representado pelos recursos prosódicos na distinção entre os valores pragmáticos desempenhados por essas palavras. Por exemplo, a entoação assim, do como preenchedor de pausa, como elemento anafórico e como modalizador, é em todos os casos diferente. Pela amostra percebeu-se também que, muitas vezes, os falantes, por não encontrarem, de imediato, expressões ade- quadas que traduzam o seu pensamento de forma mais fiel, costumam usar.de expressões de valor semântico vago, tais como: tudo, e tudo, e isso da e tudo mais, £ aquilo, e tat, etc., resultando e tat numa tat, não sei freqüente o quê., imprecisão linguagem. Apontou-se ainda como produto dessa falta de planeja- mento a probabilidade de orações inacabadas e de construções que fogem âs regras da sintaxe. Os vários exemplos encontrados indicam uma confirmação das palavras de CHOMSKY de que "uma gravação da fala mostrará numerosos arranques em falso, desvios das regras, assim por diante", mudanças de intenção a meio caminho e (p.84) Todas essas manifestações decorrentes do não-planejamento do discurso — as hesitações manifestadas por pausas silenciosas e preenchidas, a imprecisão da linguagem, as quebras de estrutura e outras deviações sintáticas—mostram-se, de modo geral, bastante freqüentes na amostra, que, como foi observado no início, superior e é constituída de pessoas que têm curso que supostamente teriam melhor fluência de lin- 60 guagem. Pode-se pressupor que essas características apareçam também, e talvez em maior grau, na fala de pessoas menos cultas. Uma pesquisa posterior seria interessante no sentido de se verificar que fatores influenciam a maior ou menor fluencia dos falantes. Como uma segunda característica importante da linguagem oral também responsável pela diferença que mantém com a escrita, mencionou-se o fato de ter quase sempre presentes o contexto situacional e o receptor. Viu-se que o emissor, a compreensão do receptor tras, tais-como, entendem, constantemente, através ¿abe, procura testar da expressão né e de ou- certo, etc. É a chance que tem de realimentar a mensagem, se necessário for. Por isso e baseado, possivelmente, ainda, nos conhecimentos que sabe com o outro compartilha, costuma deixar muitas de suas idéias um tanto vagas, na oral, expressando-se, às vezes, até mesmo por meio de orações inacabadas. No caso de orações inacabadas, muitas vezes, foi di- fícil saber-se, ao certo, terem ocorrido por essa questão de pressuposição por parte do emissor, nejamento. Sentiu-se que ou se por falta de pla- paralelamente às gravações, uma » filmagem teria sido de grande valia, pois, poderia lado certas atitudes não-verbais dos ter reve- interlocutores, neces- sárias a uma certeza nesse sentido. Constatou-se que a presença do receptor facilita o ato comunicativo do emissor, não só porque lhe possibilita a realimentação da mensagem, mas também porque, vendo o emis- sor hesitar, poderá ajudá-lo na complementação do pensamento. 61 Quanto ã presença do contexto situacional, frisou-se, na Revisão da Literatura, que aquelas informações, que viessem nele contidas de modo claro, não precisariam ser expressas por palavras. Mas, a linguagem da amostra, não apresentou evidências nesse sentido, não fez alusão a objetos pessoais, cujos referentes ximo. ou pessoas estariam A linguagem da amostra infelizmente, como, por por exemplo, meio de pronomes no ambiente físico pró- revelou-se livre do contexto ("context-free"), talvez pelo fato apontado da abstração do assunto dos diálogos e pela pobreza do cenário em que se deram as gravações. Além da falta de planejamento e da presença do con- texto e do receptor, mencionou-se como uma terceira característica o fato de a linguagem oral utilizar-se de recursos prosódicos. Tomou-se ciência sos, pois, conforme levado a perceber rumo de pensamento da se as grande importância desses recur- observou, por meio deles o ouvinte é quebras de estrutura, que as mudanças de surgem por questão de o discurso não ser previamente organizado. Muito mais do que isso, contando com a ajuda dos mesmos, ligação sintática entre o ouvinte as partes consegue que estabelecer a surgem deslocadas de sua posição no discurso. Esses recursos são importantes, também, porque permitem ao emissor passar repentinamente da narração ao discurso direto, sem que as quebras por isso ocasionadas prejudiquem o conteúdo a ser transmitido. Constatou-se ainda o grande papel dos recursos prosódicos no que se refere â sinalização de um conjunto muito am- 62 pio de significados. Percebeu-se que lexicalização maior, na escrita, para mesmos seria a necessário transmissão uma desses significados. Da análise dos dados depreendeu-se tumado ao uso desses recursos, freqüentemente a a que o estar acos- não se planejar um texto e contar com a ajuda do contexto e do receptor na comunicação oral é situacional que seriam as causas de certas dificuldades encontradas, quando se vai transmitir as idéias por meio da linguagem escrita. Espera-se que o estudo realizado possa trazer benefícios práticos ao ensino do Português, o professor, com respaldo na pois, acredita-se que análise feita e nas conclusões apresentadas, possa se sentir impelido a buscar, a encontrar caminhos que o venham auxiliar na superação dessas dificul- dades encontradas na passagem de uma forma de produção para a outra, da oral para a escrita. ANEXO Diálogo I 64 Diálogo II 79 Diálogo III 86 Dialogo IV Diálogo V ' 94 102 64 DIÁLOGO I FALANTE A Profissão: professora de inglês Idade: 32 anos Sexo: Feminino FALANTE B Profissão: professora Idade: 3D anos Sexo: Feminino A — Tá // então nos tamos aqui na casa da Margarete/ pra conversar alguma coisinha sobre ( ) um assunto de ( ) que a gente possa dis- cutir / não e então / Margarete // B — Ë // A — E então / esse assunto / seria mais ou menos qual // B — A gente tava discutindo / achava assim que seria bom falar sobre a ( ) a problemática das pessoas se organizarem mentalmente / e ( ) e expressarem verbalmente / o seu pensamento / ne / que a nossa () que a escola tem assim / muita deficiência neste aspecto // e ( ) a gente tem visto muito no teatro / nê / que (E) ainda que i uma área onde as pessoas têm que se expor / ni / mais verbalmente // mas o ( ) o problema de organizaçao ( ) do pensamento / tá bem / tã bastante falho / né // A — Isso e verdade // e a gente concorda / nê / porque a sociedade em geral / eu acredito / na minha opinião / ela ê muito castrante/ nê //quase que ( ) de uma maneira quase que geral / a gente vê / né // então / a gente principalmente que é mulher / também / a gente sente essa necessidade de uma exposição maior //mas a gente vê que é um problema geral de ( ) ... ( ) de maneira de expressão / né / porque então / eu acredito queeum assunto que a gente pode dis- cuti bem / né // então ( ) ... B — Nao / porque em primeiro lugar / por exemplo / a Filosofia jã foi [A]*- tirada das escolas / ne / pra nao permitir que as pessoas possam Ë verdade // *0s colchetes usados indicam que o interlocutor, que ocupava a posição de ouvinte, passa, ao mesmo tempo que o outro, ã posição de falante. As palavras do interruptor estão localizadas exatamente abaixo daquelas onde se deu a interrupção. 65 (E) desenvolver o raciocínio // e ( ) eu ate tava estudando um liCerto // vro lã de Oratória e Retórica Hum // / né / e eles colocam esse problema Hum educacional // então as pessoas âs vezes acham que elas são os problemas // procuram terapia / procuram psicólogo / procuram não sei t u ' o que nao sei o quê // mas na realidade / o problema dela ê de ( ) de instrumental / né // ê o ( ) o verbal // ê o ( ) é nao tã habili ( ) nao tã habilitada pra ( ) pra acostumou a se expor pra conversar / pra falar i o ( ) ... ( ) ... não se // e ( ) tem um vo- cabulário reduzido / pouca leitura / tudo / né // e acha daí que Ë // que ê um problema mental //eu cheguei a procurar terapia / assim achando que eu era uma pessoa doente / não sei o quê / e tal // Incrível / né // E ( ) mas ( ) depois eu fui e meio (E) ... quer dizer / fiquei lã um ano // nao resolvi porcaria nenhuma/ porque na realidade eu ... a ( ) a minha ( ) a dificuldade que eu achava / é que eu não sabia falar // mas eu escrevia // então pensei // não / mas se eu sei esE // crever / então / eu tenho que saber falar // mas como resolver isso / sabe // então / não // então / (E) mas a psicóloga / o psicõIsso ê verdade // logo / que me atendeu / não soube talvez me entender / ne // e talPuxa // vez seja a dificuldade de muitas pessoas // então nao sabia nem me expressar / / e ( ) foi quando eu fui pro teatro / começaram abrir horizontes / assim /pra mim // É verdade// isso ê maravilhoso // eu também tive a minha experiência // mas eu ainda / também/ sinto / grande dificuldade nesta parte // principalmente / numa ( ) argumentação assim / bastante mais ( ) forte / chega num ponto que eu ( ) tipo assim / uma coisa que eu ( ) chego até a perder mais ou menos o ( ) o contato // e então / quando é alguma coisa mais cerrada / eu chego até a ( ) ... não sei / no final / fico (Ã) desnorteada / chego até a chorar / porque ( ) porque a gente ( )... sei lã // você leva ( ) ... Falta argumentaçao // Falta argumentaçao // ou ãs vezes / você fica num ponto de deses- pero que voce nao consegue dizer aquilo que você tá sentindo / direito / e então vem um ( ) ... fica um amontoado / ne // então 66 / falta uma estruturação / sei la // falta uma base / um conhecimento maior / quer dizer ( ) um ( ) ... como diz um ami ... Um instrumental maior / ne // Um instrumental // é // e esse daí / como diz também um amigo meu / que era (E) ... dos tempos que eu lecionava lá em Agudos do Sul // o ( ) o Oscar // e ele diz / então / que ( ) uma vez o ( ) o Ferreri ( ) o ( ) o Ferreirinha / não // aquele ( ) (TS)* // aquele que diz lá ( ) ... o ( ) da vida // o ( ) o Gonzaguinha já há algum tempo em Curitiba // ele veio aqui / e ele foi fazer uma ( ) (TS) uma reportagem // uma reportagem // é / foi dar uma ( ) palestra lã na ( ) na Universidade // então ele ( ) ele respondia as perguntas que os alunos universitários faziam pra ele // e os alunos faziam Ham ham // perguntas mas tão idiotas / mas tão idiotas / assim a nível / por exemplo / eram todos formandos já Hum-hm // que // ele chegava / a ( ) ficar abismado / da / assim ( ) ( ) da maneira como ( ) como que eles Hum hm nao se organizavam// nao sabiam falar // nao sabiam perguntar // e Hum-hm // esse meu amigo / que fez filosofia / ele fez / e ele então / ele se sentia envergonhado dos colegas // claro / eram colegas de curso de ( ) de matemática / de ( ) de outros cursos / de engenharia // mas eles nao tinham ... eles nao sabiam mos no campo / mas como pessoas ... eles podiam ser éti- ( ) como pessoas pra perguntar / como pessoas pra falar / eles eram / meu Deus / piores que criança// Mas a escola inibe / inibe // se um faz uma pergunta / assim / o pessoal cai no pêlo/ri// Então / gente // Ë verdade II Nos tivemos uma palestra agora / né / também / no início das auË H las / ali no teatro//então / era ( ) ...quer dizer ( ) era coisa (E) mais específica sobre teatro // mas envolvia um pouco de teleSei II visão / cinema / tal // e então / o que que acontecia // o pessoal que se arrojava a perguntar / ainda era o pessoal de primeiro ano / que nao conhece ainda / por exemplo / as manhas da Escola em si / É// se arrojava // os veteranos ficavam tudo assim // pÔ / mas que per*TS = Consoante inspiratoria. DUBOIS, J. São Paulo, Cultrix, 1973. p.347. Dicionário de Lingüis- 67 gunta idiota / pô / mas que não sei o quê // mas eles nao eram capazes de fazer perguntas / sabe // [A]— Nada / gente // A — Ë verdade // Ë // B — Então / quer dizer / ê uma coisa assim / que as pessoas ridicularizam as próprias deficiências / que na realidade elas tao ( ) tao se [A] — vendo que elas iriam talvez fazer pior / do que aquilo lã / sabe // Ë // pior // nao tem nem . . . Ë// então nem se sacam ainda [A]— A — / que o dela ë mais deficiente / do que Émais de- aquele ainda // ficiente // ë verdade // e precisa / a gente precisa ter diz // a escola ë um fator de ( ) abrir os horizontes [ B] — ... como ( ) de fundamental importância pra // como eu disse Ë // lã pros meus alunos // a gente tem essa deficiência // porque eu acredito que a educaçao ë uma formaçao de hábitos/ também / / a gente tem que ( ) por exemplo/ pegar um ( ) uma criança/ e formar // formar um hábito de leitura /e principalmente o hábito de pesquisa / de conhecimento próprio/ do próprio ser / / d e ver as deficiências // não é só chegar / [B]- Ê // chegar e botar na cabeça da pessoa / matemática / história / geografia / e ciencias / daí a pouco ela esquece daquilo / ela não ( ) não tã estruturada // e o próprio comportamento dela / ela fica alheia // ela nao sabe // ela nao sabe ver um ( ) um hábito de pes[B]Hum-hm quisa / de í B] ( ) auto-análise // principalmente de auto-anãlise // Hum-hm e isso e um fator incrível / porque a gente vê os próprios professores / como eles não gostam de se analisar // eles se acham // co[B]Nao gostam // tnò / como eu sou o professor / e como nós somos professores / Deus o livre / de alguëm ( ) chegar e falar / ou / então ( ) tocam de que precisam reformular / ... nem se e de que precisam reivindicar uma melhora nessa escola // B - É // A — Não ë então // porque a escola do jeito que tã / (E) depois ainda da ( ) da revolução que ( ) que nós tivemos / ela se tornou bastante castrante //quer dizer / tudo / tudo que ( ) que de melhor que podia influenciar a pessoa / que nem as artes cênicas / que são maravilhosas / que elas abrem um horizonte enorme / / a própria musi- [B] - Hum-hm ca // os ditadores odeiam as músicas / a música / porque a música 68 sintoniza a pessoa / faz a pessoa abrir [B]- .. • une as mentes / e faz Ë // com que ( ) a ( ) a turma desperte/ pra um problema / que fica esquecido/ no meio de tantas coisas que eles ( ) ... que existem pra ( ) pra nos anestesiar // televisão / carnaval / futebol // [B]— Hum-hm A — Ne // então a pessoa vive numa roda viva // inclusive sexo / né // [ B]— Ë// as revistas / a mulher nua // então / in ( ) inclusive a influência estrangeira / de música / de coca-cola / e tanta coisa // meu Deus do céu / a pessoa vive ali / quando vê tã velho / jã [B]- ( ) se sente inutil / nao é então // e nao se organiza / quer dizer / nao sabe / Ë // nao sabe falar nada // [B]— Mas é uma dificuldade das pessoas // eu tava conversando cuns meB ninos lã do teatro / até que escrevem / e tudo // e ( ) e daí / de [A]Hum // [A]— repente / assim ( ) ... (E) que ë uma busca / p o r exemplo / que eu Hum // tenho / faz horas / porque eu sei que ë uma dificuldade // então / fui começar a descobrir alguma coisa / através / justamente / es- tudando livro de Oratória e Retórica // ele começou a mostrar / falando até de teatro ali dentro / falando do verbal / do escrito / [A]— de tudo / e como desenvolver isso / né // e conversando com ele / Que maravilha // daí / então ele ( ) ele me disse que ( ) ... sabe quando de repen[A]- Ham // te voce começa ... parece que acende uma luz na cabeça da pessoa // ela diz assim // meu Deus /mas então você é uma pessoa que pode me ajudar / porque eu / se eu tenho dificuldade ... então/ de repente / a gente começou ver que as dificuldades sao ( ) recíprocas // A — Recíprocas // ë // ë verdade // ë // B — Então / ë uma coisa assim / mas que nao se conversa // então um pensa cada um pensa / que ele que é o errado // A — Ë um problema // como eu disse / ë um problema próprio // ë um pro[B]t u blema grupai // B — Grupai / mesmo // A — Meu Deus / mas veja as provas das universidades // as redações que os alunos ... pe ( ) pela própria escola / também / que não dã mais chance / do aluno escrever / do aluno redigir / do aluno botar as 69 suas idéias em pauta // devido aquela ( ) talvez àquela censura que Ë // criou em nós // quer dizer / isso é um problema que vem se aprofundando a partir de ( ) de ( ) de vinte anos ( ) prã ca // desde Hum-hm 64 / né / que tornou mais grave// porque antes a. ( ) a pessoa ainHam-hm // da ( ) ela era ( ) a ( ) até mais incentivada / a participar / a botar as idéias né // e com esse medo / com essa ( ) coisa que surHam-hm // giu / então / todo mundo fica se restringindo// será que eu tô falando certo / será que isto daqui nao tem uma influencia / e ( ) e no entanto / eu acredito que a pessoa o que ela sente / é maravilhoso expondo seu "eu" / expondo / inclusive pra própria pessoa e pra própria ( ) sociedade / que nao / ( ) nao ( ) nao ficam incu- Hum-hm tidas tanta coisa / né / assim ( ) camufladas / lá dentro e ( ) e nao desabrocham // nao desabrocham talentos / nao desabrocham escritores / nao desabrocham líderes / né / porque ... Ë // é uma coisa um pouco de censura interior / também / né // Também // e que é uma Porque decorrência // censura é essa / nê / quer dia maior Ë // nossa// zer / voce nao se tolhendo / você vai escrevendo / porque um dia a porque se é extra-oficial / quer dizer ... censura cai // Um dia pode // é verdade // Então o que acontece//ver que a coisa é censurada interiormente / a pessoa para mesmo // Para // vê Margarete // mas se vem uma parte já de ( ) de forma- çao ••• nao é então// é difícil pra você desabrochar uma coisa que você quase que ( ) que nunca toca // Que num*... é // Ë // então voce ve ... voce ouve muita música / você vê isso / voce ve mais teatro o u ( ) a ( ) a ( ) teatro não / mais futebol do que teatro // então a pessoa / (E) quer dizer ( ) ela nem ( ) ela nem quase que tem noção daquilo // ela tã num ( ) num emaranhado / então / e por isso que a gente precisa pessoas que têm cabeça // a nossa geração mais assim ( ) de ( ) de mais / de quase 30 assim / Hum-hm // já viveu uma realidade maior / / j á viveu uma filoso ( ) uma escola Hum-hm // * "Que nun(ca)...". 70 em que tinha filosofia // voce já via cursos clássicos / onde existia filosofia / a ( ) ... os cursos de ( ) de ( ) de filosofia // então / isso dal / nao ë filosofar por filosofar // ë aumentar a escola / ë aumentar o campo da pessoa // e se você nunca vê /ne// Ham-hm você acha que // olha / tá muito bem assim / tá numa õtima / legal / aquele nhenhenhe do pessoal / në // e a gente / a gente fica desesHum-hm perado Margarete / nao ë então // a gente fica // meu Deus / mas será que eles tao su ( ) cegos / será que eles nao têm noção disso// ë porque tambëm ë um problema estrutural / de ( ) de estrutura de sociedade / que nós ... në // que nao faz desabrochar // Mas ë que prum governo Ë / // tambëm interessa ter um povo desorganizado // porque daí / a partir do momento em que as pessoas começam a É verdade / Margarete // se organizar ... você veja // na escola a gente tá organizando um Ë // gremio // a escola tã apavorada / a direção tã apavorada//porque/ Meu Deus // de repente a gente tã começando a se tornar uma força / e isso eles Claro // Uma força // nao querem // E então // ë isso / ë isso que ë ( ) que ë ( ) que ë castrado // ë isso que ( ) que e colocado // e qualquer coisinha que se faz / então / num ( ) num sistema castrador / todo mundo acha maravilhoso // nao tem poder de análise / nao ( ) nao tem nem condiçoes / como diz / nao tem nem organizaçao pra ( ) pra ver aquilo// pra ( ) imagine pra se organizar e botar pra fora // porque também/ quando voce se organiza e bota / você ( ) você ë ... você ( ) você recebe tambëm a parte ( ) negativa / daquilo / nao ê então // porque você Hum-hm tem a tua idëia // então voce vai ter que botar em confronto com a Hum-hm // do outro / në // e ( ) e claro que ( ) do ( ) do diálogo nasce a Hum-hm luz mas muita gente já tá tão acostumada numa situação / numa situaçao tipo esta que nós tamo vivendo / que nao quer nem saber / Hum-hm // Hum-hm nao e então // acha que todo mundo ë bebezinho / porque ele conseguiu um ( ) um lugar ao sol / / a o sol / ne // que sol // e então / Hum-hm / / 71 ele acha que ( ) que aquilo lã ë ótimo // e ( ) o ( ) resto que se ... que fique na deles / que fique... ne // e a gente precisa disso // então e uma necessidade que a gente sente/ nê / / a gente sen[ B] — Hum-hm // Hum-hm // te // então / meu Deus / como ë bom / como ( ) como ë necessário / [B]— ne // e como a gente deve / nê // nao só nós / como todo mundo / nê / Hum-hm Hum-hm.// como todos // então/ como fazer isso / né // vamos lutar bastante / lutar sempre / pra que a gente consiga / né / Margarete // B — É // ë uma coisa assim // mas ( ) (E) acho que ë uma coisa que ÍA]- vai sendo vencida / porque em vários pontos / existem pessoas consÉ // [A]— cientes disso / e tentando resolver / né // então / eu acho que ë i Ë verdade // uma coisa assim ( ) que ( ) a ( ) a longo prazo deve vir algum resultado // A — Deve vir // B — Porque ( ) (E) ... claro / uma coisa de massa nao vai acontecer / mas pelo menos de grupos / né / que vao ... e ( ) claro / supoe-se que / por exemplo / a área teatral / ë uma área assim de transfor- [A]— A — B — [A]- maçao // não sei se realmente ë / até que ponto / né // É verdade // É // mas ë / sim // (E) Quer dizer // supoe-se que seja transformador social / né // se t H isso for uma verdade / pode ser que aconteça alguma coisa//mas até agora eu nao tenho visto muito esse elemento //as vezes pessoas de outras áreas sao muito mais abertas / né // tem assim ( ) outras areas mais ( ) talvez (Ã) técnicas / né / (Ã) biológicas / ou coisa tli IA]- assim / ãs vezes até são pessoas até/mais assim/ com visão maior / né // nao sei se porque eu [A]— período de estruturação ( ) a ( ) a escola já está ainda num Ham // / não esta assim ( ) com uma moral ainda ... né // toda essa coisa // A — É // mas eu acredito que isso vã surgir / Margarete / / v á mesmo // in ( ) inclusive autores / pessoas que se estruturem / e não ... e partam pra ( ) pra ( ) pra criação // pra ( ) ... né // pra escrita / pra ( ) autores // que ( ) que ë maravilhoso // meu Deus// quantas obras / meu Deus // você vê Shakespeare lã na época dele / 72 [ B] — o que ele nos ( ) nao trouxe //o "to be or not to be" / quer dizer . Ham-lim // [ B]— que é uma pergunta constante // ser / voce tem que ser / voce tem Ham-hm // que assumir / e assumir tudo / também / né // assumir a ( ) as deficiências / assumir a ( ) as verdades // e principalmente no teatro ele rasga / ele faz isso // e nós tamo precisando de pessoas ... [ B] — Ham-hm // Sim / mas só [A]- veja uma coisa / por exemplo / o Shakespeare / ele ( ) ele escrevia Ham // [A]— criticando / até pessoas da corte / coisas assim / mas ele era uma Então // [A]- pessoa da corte / era uma pessoa aliada praticamente// então quanË // do ele escrevia/ nao era visto com olhos de quem .. .de uma oposição// A — Ele era quase que ( ) ... B — Sabe // então ele / praticamente estava dentro / criticando .dentro // e então eu acho / que essa uma do teatro se colocar numa posição esquerdista / sabe / e simplesmente malhar / eu acho que isso aí ê [A]- Ham // [ A]— malhar em ferro frio // tem mais ê que se aliar com quem tem o poNao / nao // eu acho ... [A]- der / com quem tã forte / pra que você possa / realmente fazer alguma e ... coisa / sabe // [A]— É verdade // se nao você vai ficar ( ) (Ã) (Ã) de lado / você tem que usar muito / muito a inteligência também // nao ( ) não pode realmente ... que nem eu ( ) teria ( ) tinha muito essa capacidade de ( ) de ( ) pau / pau // pedra / pedra //a gente tem que ser racional / a gente tem que procurar estruturar uma coisa dentro do lB]— sistema / pra poder transformã-lo // isso /isso // isso é um princíExato // pio / eu acho / né // você tã ali dentro / e você começa ... não que voce teja se ( ) se violentando / nao porque a minha opinião é totalmente fora // nao / de tudo existe uma parte positiva / nao é então / Margarete // B — Claro // A — Nao é então // chegar lã e começar a dar murro em ponta de faca / e porque voce jã vai se indispor / e ( ) e vai ( ) ficar magoado / machucado / e nao vai conseguir muita coisa // mas é ( ) partindo de uma estrutura / ver o que que tã / e procurar jogar // procurar usar o humor / procurar usar a capacidade nossa. / e ir jogando / 73 [ B]- ir jogando / que o negocio ... tipo uma semeadura / né / ir seÉ // O Chico Anímeando // B sio / por exemplo // ele esta numa posição hoje / que ele ( ) que ÍA]Ë // [A]- ele satiriza até o Presidente da Republica / e nem por isso / pelo Ë // [A]— que se sabe / ele é ( ) ... (Ã) tem problemas neste sentido // Não / não // inclusive ele foi até convidado / ele faz sorrir / então ele ... [ B] — Mas é a forma que é colo[A]- cado // porque ele tã numa posição jã ( ) de É // ( ) em termos assim ( ) digamos de força / ou poder / ou qualquer coisa semelhante // A — Semelhante // ele ( ) ele galgou isso // [ B] — Então você primeiro precisa se ligar / pra você brigar [A]É com os fortes //agora você / fraco / brigar com os fortes / de que Iß]— verdade // Maravilhoso // > [A]- jeito // Ó você querer pedir pra te matar / mesmo // Não dã // é difícil // A — Ë verdade // ê o que acontece // é o que acontece // B — É que as pessoas / as que se metem ãs vezes a [A]Ë // ( ) a discutir por exemplo política / ou a criticar política / sem ter realmente conhecimento de base // eu nao me meto / totalmente a ... eu nao co[A]— Conhecimento e ... Ë // [A] — nheço o suficiente // vou falar o que // eu posso malhar a Educaçao / Não /riao// e fica ali de ( ) por exemplo / que é uma coisa que eu conheço mais / nê / em termos [A]- de ( ) ... Tudo // * Ë // [A]— críticos ou coisa assim // ou alguma ãrea especial / assim / mas a Ë // do que aparece / / d o que a gente pode política . .. [A]— A — palpar // Ë // nao dã // é uma coisa muito mais complexa / meu Deus do céu // e ( ) a gente tem que realmente / usar o bom senso //e()tu() e realmente como diz / se organizar // a gente se organizando também / até do pensamento / a gente vai descobrindo / fórmulas / que realmente dao resultados / nê / Margarete // né / porque tem gente que tem um poder de retórica incrível / mas usa de maneira tola / nao ê então // tem aquele poder / mas chega lã / bã bã bã//bã bã [ B] — É // Mas [B]— bã // bã bã bã //__ tem que ter conteúdo / nê // 74 A — [B]— Nao tem conteúdo / e nao tem estruturação / porque e uma coisa'vazia / ë uma coisa de ímpeto / nao ë então // e nao ë • - . e ( ) e esse ímpeHum-hm // peto/pode ser que tenha ...a pessoa fale // tê tê tê // tê tê tê// mas ela nao tem aquela capacidade / como diz / de organizaçao // porque se voce se organiza / voce sabe // meu Deus / eu nao posso ser tola // eu sei falar muito bem / tudo // mas se eu falar dessa maneira / eu ( ) eu to sendo meio idiota / në // B — Jogando fora . .. në // A — Jogando fora um ( ) valor meu / que se eu falasse dessa maneira / eu [B]— iria atingir melhor ... në // ë verdade // mas / porque a gente na Hum-hm // verdade / desestruturados como somos / porque eu me reconheço / então a gente lança aquela coisa / në / / pã pã pi // rebate em cima // [ B] — Ë//mas tem B — uma coisa / tambëm / Sueli // eu acho que uma das coisas que ( ) [A]t II que ( ) ... nao sei se ë uma questão do brasileiro / vai na base da [a]t // ë // [A]- improvisação//não / porque eu sei / numa boa / tã / eu vou improAh ë // Isso // [A]- visar // na realidade / um bom orador / um ( ) ele ( ) ele tem que Ê // [A]— planejar o que ele vai falar / ou pelo menos / então / inclusive / Planejar / Margarete // [A]- assim / eu tenho lido / menciona fulano / fulano // t U Ham // [A]— temos de ( ) ... mas dizer assim / por exemplo / fulano que foi Ë // ë // nao / nao // não lembra // lógico só que eu em um grande orador / fulano / cicrano / e ( ) podia digamos preparar o ( ) o ( ) o ( ) digamos assim / o ()a ()a / atë nao oração in- teira ./ në / o discurso inteiro / mas ele pelo menos fazia um rcr[A][A]— Hum // teiro / pra ele ( ) pra ele ter lógica /do que ele tem assim falar Expor // Claro // Il e a nossa mentalidade nao ë essa.// na hora que pinta //na hora [A]— Lógico // pinta // A — Pinta / pinta // e a turma te leva no outro ponto /'/ [B]— E no teatro ë a mesma coisa // a [A]LÓimprovisação pinta // então / agora nos vamos desenvolver / acho que [A]- gico // Ë // 75 B — [A]— eu nao comentei com você / teatro de ( ) de feira // Que maravi ( ) // é // foi // você me falou // B — É // então comentei / ne // então ( ) então por exemplo / na nossa passeata / os meninos jãleva( )* os meninos já apresentaram // eu conversei / já tinha conversado com eles // vamos fazer isso / mas tem que ensaiar / nao sei o que // então dai um grupo pegou e fez / [A] — um menino que escreve / daí ele fez um roteiro / eles decoraram / Ham // tá / e apresentaram // e ( ) mas ficou em cima / o público assim sabe // então isso daí / a gente vai levar agora // então / talvez [A]— coisa linda // Isso // depois / daqui a um ano / e de tanto a gente fazer o teatro de improviso / mas preparado um pouco também / a gente ganhe cancha pra [A] — Preparado // poder de repente des lanchar sem precisar preparar muita coisa //só [A]— [ B] — simplesmente saber o tema / e desenvolver o tema // Lógico // e nao se deiMas pra . A xar levar / Margarete // porque a gente se deixa // porque se está [b]— Ë // nao se deixar levar // num ponto assim / vem outro e joga pra ( ) pra lã / você quase que infantilmente / você parte pra outro ponto // tudo bem // partiu pra lá / mas voce tem que saber retornar naquele ponto / porque ê essa a estrutura [B]- // e ê o que a gente realmente le( )** (Ã) vai Hum-hm // levar / começa a se empolgar / e ãs vezes sai numa discussão / num bate boca quase que inútil / e ( ) e tá aí // B — É // mas uma coisa que eu aprendi / por exemplo // o Assai diz as- sim // que voce nunca deve discutir com pessoa que ( ) nao conheça o tema que você vai discutir / porque você está perdendo tempo // ÍA)— Perentao voce tem que se retirar / pense o que pensarem / porque você [A]— dendo tempo // Nao/nao / nao// [a]— ( ) você não vai chegar a nada // e a gente ... * "os meninos já leva(ram)". ** "e ê o que a gente realmente le(va)". 76 A — E äs vezes você pensa por que você vai / que você vai convencer aquela pessoa // nao / de jeito nenhum // [ B]— Nao // se tiver opinioes divergentes / por exemplo / religião / que ë uma coisa que nao se discute [A]- / uma questão de fé / uma coisa assim / é besteira discutir / né // então / coisas assim / É // Nao // ë verdade // que sejam ( ) ... por exemplo / nao adianta voce estar discutindo emocionalmente // nunca vai-se chegar a nada // e ë o problema por , 3 -í? exemplo de um casamento [A]- // geralmente o homem tã de cabeça Nos( )* // ë verdade // / e a mulher tã de coraçao// então ãs vezes nao se entendem / nos papos / [A]Nada // e finé // [A]— ca uma tristeza // B — AÍ fica difícil de chegar a um ... [A]— Passam a vida inteira / e nao chegam a um acordo // [B]— A vida inteira se arrancando // A — cada um querendo o seu ponto e o outro nao // ' B — Querendo que o outro entenda // mas quer dizer / se o teu problema ë emocional / o teu marido / no caso / se for o ( ) o ( ) a situação contraria / o companheiro nao vai entender porque ( ) porque ë uma [A]— Ë // O contrãrio // situaçao emocional / e o problema ... e ele ( ) ele não estã no nível do ( ) do emocional //ou então ele coloca a coisa de cabeça / ou você como está envolvida só de coração / você não vai entender o ponto de vista dele // A — Ë verdade // ë incrível // nossa // [BiË aquela ( ) aquela ( ) aquela dificuldade // no nosso lA]Fica// [A]— relacionamento / a gente já discutiu já muito isso / até que a genHam // Ham // [A]— te chegou ã conclusão / quando a gente nao se entendia .. . ë que ãs Ë // ë ver- ve( )** as ( )***/sabe// poxa / mas eu to falando de coração / você tá [A]- dade // [A]- falando de cabeça / como e que a gente ... nao tem condiçoes de se 111 [A]- entender // então / daí a gente parava a discussão ali / porque a Ë // e verdade // * "Nos(sa)". ** "ve(zes)". *** "as(sim)". 77 [A]— gente nao ia chegar a nada // ate que depois / tivesse mais frio / A ponto nenhum // [A]— tá / podia daí realmente discutir mais a frio / ou qualquer coisa Ë verdade //puxa vida// [A] — assim / né // por que então ( ) .. . B — Então você tem que discutir com alguém que entenda o mesmo assunto // A ~ 0 mesmo assunto // B — AÍ ele tem condições de crescer // A — Lógico //ou então / ou então / você ( ) sei lã / use outra técnica / use outra coisa /mas ali no bate-boca / ou então no ( ) (Ã) malhando em ferro frio ... B — E tem que ser com base racional / né / porque com base emocional fi[ A] — Ë verdade // [A]— ca na achologia / lembra / que até era o Amauri que falava asNossa // [A]— sim // achologia //eu acho / porque eu acho / eu acho // Eu acho / acho / nao / nao / um [ B] — quer achar mais que o outro / e no fim nenhum / nao se acha nada // Não dá / / é uma loucura // mas é fato/ viu / Margarete // olha / e realmente a ( )a gente precisa crescer nisso//principalmente a gente que é... a gente / nós brasileiros / nê / que realmente vivemos num país mais assim tipo improviso / como diz / né //o brasileiro êmais / assim / [B]- tipo baixar santo / nê // quer ver baixar o santo // nao ( ) nao ( ) Ë nao tem / nao tem na sua base ja e ( ) esse espírito de pesquisa / de organizaçao / né.// vê como ê que nós estamos / a nossa situaçao né // B — Teve ( ) teve um ( ) um alemão aí / que veio pra uma firma aí / [A] — Hum / pra ( ) técnico assim/ nê / / e eu sei que ( ) ... que tã fazendo um curso / né / que meu marido tava fazendo / e daí / sei que ( ) diz que de um dia pra outro / diz que o técnico foi embora / deixou uma carta / nao sei o que / um um problema familiar / disse que ele ia embora // mas na realidade / ele nao aguentou adesorganizaçao/ porque a ( )a Alemanha principalmente / sabe*// trabalham com téc- *Entoaçao de período afirmativo. 78 nica / com organizaçao / sabe tu ( ) // sabe onde eles têm que ir / sabe onde o que você vai fazer / sabe o que você vai atingir // entao / ele nao agüentou // na realidade / que ele nao agüentou a bagunça e foi embora // A — E é como diz// ele ia malhar em ferro frio// ele ia fazer o que // E B] — Gas[B]— todo o conhecimento dele / tar o tempo dele // ele nao ia poder começar do nada // nao ê entao // e ê uma realidade/ gente //então a gente precisa // B — [A] Entao voce imagina como e que sao os nossos governantes / ne / que Ë // sao fruto / né / de ( ) de toda essa coisa de base aí // 79 DIÁLOGO II FALANTE D Profissão: professor e escritor Idade: 39 anos Sexo: Masculino FALANTE C Profissão: professora Idade: 31 anos Sexo: feminino C — A capacidade / a facilidade de comunicaçao e expressão do artista no caso o escritor / seria uma capacidade natural / um dom / ou o escritor encontra também dificuldades em expressar / em concreti- zar o seu pensamento D — // Eu vou pegar ... eu ( ) eu gosto muito de citar as pessoas / ne / os escritores / porque eu acho que / intelectualista // mas sempre dá assim maior respaldo o Jorge Amado / ele falou que escrever / exige 90% de trabalho e 10% de talento // claro / eu acho que pra escrever voce tem que ter pendores / tem que ter pelo menos/' senão pendores / pelo menos um gosto pela coisa // mas escrever / como qualquer atividade artística / ë essencialmente trabalho mesmo // e simplesmente pegar o boi pelo chifre e ir ate o fim // ésimplesmente pegar e escrever todo o dia // i um saco // ë dificílimo / ne // escrever / por exemplo / eu escrevo / ê uma das piores coisas que eu posso fazer na vida / porque eu sou obrigado a fazer praticamente todo dia // escrever e um aborto// escrever ë igual ao filho que tá pra nascer / e demora // não nasceu / deu ( ) deu as contraçoes . . . tem que escrever // escrever ë a mesma coisa //eu acho que voce só pode escrever / se voce realmente sentir necessidade de escrever // se voce realmente perceber que (palavra incompreensível) ... se alguëm falou isso ... se voce perceber que vo- ce pode viver sem escrever / você nao deve escrever pessoa que nao posso viver sem escrever // eu sou uma // e não é que eu tô fa- zendo texto literário / ou poesia / simplesmente // escrevendo o que vem na cabeça // que ë realmente a contraçao ultima do parto / ne // o filho tá nascendo / você tem que jogar pra fora senão você 80 vai morrer //evitar que a coisa venha nao pode // e escrever é a mesma coisa / / e u / então / todo dia / ou praticamente todo dia / né / quase todo dia / chega lã pelas nove e meia / dez horas / eu tenho que largar tudo na vida / tenho que me sentar ali na minha mesa / e pegar uma folha / e escrever o que eu ( ) ... aquilo que tã germinando na cabeça // claro / nem ( ) talvez 80% disto nao e aproveitável / 80% disso eu nao faço com fins ( ) literários / com fins ( ) ... nada disso // é só escrever // jogar / pra aliviar a cabeça // porque ë uma neurose / ë uma tensão / ë uma maldiçao escreHum-hm // ver Ileo que o Tennessee / o Tennessee Williams falava atë / exor- cizar os demonios / në // ë uma angustia dentro da gente // ë uma coisa difícil / porque ( ) ... claro que a gente tem dificuldade // tem momentos ... nao ë só uma dificuldade/ por exemplo / uma dificuldade de ( ) nao encontrar a palavra determinada que voce quer / aquela palavra que você precisa / porque pra isso já existe mais ou menos dicionário analógico // quer dizer / que tem uma idéia e vai procurar a analogia da idéia / e vai encontrar a palavra x // mas o problema principal ë você de repente perceber que você nao ta conseguindo criar um texto // você tã simplesmente amontoando palavras // ë diferente / né // escrever ëum trabalho doloroso por Hum-hm por isso // porque de repente você começa perceber também / que voce tã apenas imitando a si mesma // você tã fazendo aquilo que voce já fez mil / mil e uma vez // e escrever i fazer a cada dia algo de novo // de repente voce começa ... pelo menos uma coisa que eu percebo nos meus trabalhos // que de repente eu tô usando mais ou menos os mesmos recursos sempre // eu tô ... eu tenho mais ... ë como se eu tivesse criado um sulco na terra e tivesse neste sulco // e eu nao quero isso //' eu quero cada vez / eu quero um sulco diferente // cada vez eu ( )eu quero criar uma maneira diferente / Hum-hm uma ( ) uma ( ) uma linguagem diferente // então / ë um trabalho ( ) assim doloroso / um trabalho difícil / um trabalho angustiante / né / um trabalho que me faz suar / um trabalho que não me satisfaz // e aí eu vou citar outra vez um outro escritor// Jorge Luís Ham-hm Borges / ni // ele ( ) ele diz o seguinte // que ( ) toda vez que ele quer escrever / ele ( ) ... a idéia e mais ou menos a seguinte 81 II nao vou citar ipsis litteris porque eu nao me lembro // mas ele diz que ( ) toda a vez que ele vai escrever / ele ( ) tem assim ( ) uma empolgação por aquilo que ele vai escrever / pensando que vai ser uma coisa maravilhosa // entao ele se satisfaz com aquela idéia // e aí quando ele escreve / quando vai 1er o que escreveu / se decepciona amargamente / porque nao é exatamente aquilo que ele queria escrever // e e exatamente o que acontece comigo // de repente pinta uma idéia na ( ) na cabeça / né // e é uma idéia de um poema / uma idéia de um conto / de um texto / uma crônica / uma coisa indefinida / pã // é isso aí // voce começa a escrever / realmente / nao / nao bate // o texto realizado com o texto planejado // e é Hum-hm uma coisa muito comum muitas vezes sonhar que eu to lendo // então eu sonho que tô lendo um texto maravilhoso / e sempre neste sonho eu penso o seguinte // eu seria o cara mais feliz do mundo / se eu tivesse sido o autor deste texto // e aí de repente eu acordo / e Hum- então percebo que eu é que estou elaborando aquele texto // aí eu hm // quero captar // nunca consegui captar / né//aí eu perco realmente o sono // eu vou pro banheiro / eu vou pra cozinha / eu vou pro liHam-hm // xo / eu quero ( ) descobrir novamente aquela idéia pra colocar aquela idéia no papel // mas / nao vem mais / né // entao e um trabalho assim que eu ( ) eu acho que ( ) ê um trabalho maldito l e um trabalho neurotizante / um trabalho ( ) obcedante//ãs vezes voce fica ( ) fissurado naquilo II seria muito mais interessante / talvez/ até / jogar uma partida de futebol / né // mas é uma necessidade que voce tem // aí / eu acho que nao ( ) não depende apenas de dom É II II claro/ tem que ter uma certa ( ) ... tem que ter um certo condicionamento/ um certo gosto / um certo interesse / mas vai depender muito do trabalho/ de voce se organizar // por exemplo / e um velho problema meu // agora acho que maior parte do pessoal que tem aqui nesse país / nesta cidade / tem problema de organizaçao// organizaçao de tempo / organizaçao de cabeça / organizaçao de ( ) de conhecimentos/ organizaçao tudo isto // mas a ( ) a ( ) a ( ) ... entao eu acho que este escrever ele e produto de um certo gosto que você tem // dizem alguns que ( ) a arte ela é meramente uma sublimaçao pura / né// que você não conseguiu realizar certas coisas na vida / entao você su- 82 blima a arte// então' seria uma compensação/ nao sei / seria mais uma linguagem psicanalítica / ne//mas eu coloco a coisa mais assim pra esse campo assim // é um ( ) um exercício que você vai fazer diário / um ( ) um costume que voce vai pegar / uma arte que voce vai realizar / so que voce tem que realizar com consciência / pra que este ato nao seja meramente passivo // mas se torne uma coisa realmente artística/ nê // que se torne num nível bom/ num nível em que você perceba um certo progresso / (E) algo de tempo / analógico / que saiu hã muito tempo / e voce vai quer que ( ) . . . e dentro desta historia da tua vida você vai perceber realmente se tem ou nao talento / se ( ) se tem condiçoes ou nao condiçoes de um artista /né // deve ser uma opção como outras tantas / nao sei // duvido muito desta historia de dizer que ê professor porque escolheu / é médico porque escolheu / é jogador porque escolheu / é um ator porque acho que sao circunstancias // porque de repente eu ... eu ( ) eu quando 1 tu era adolescente / a ( ) a maior paixão da minha vida era ser desenhista / era ser pintor // tanto que os primeiros empregos que eu tive na vida foram empregos de trabalhar como desenhista em dia / desenho pra mim é alguma coisa que // hoje ( ) significa alguma coisa mas ... agora / professor / nao me entra ser professor // me lembro que comecei a pensar em ser professor no científico / talvez / né // mas a minha grande paixao sempre foi ter um ( ) um porão onde morar / e aí escrever minhas poesias // então sei lã se realmente existem opçoes na vida / se ( ) se o sistema em que moramos / que nos vivemos / ê possível alguém ... eu tenho meu garotao aqui / quer ser jogador de futebol // se as circunstâncias lhe forem favorãvies // eu quero que ele seja // ele quer ser // mas sera que vai ser possível // então / numa dessa / amanha ou depois / ele vai tã trabalhando como ( ) técnico em enfermagem / ou então / ele vai tã trabalhando como oceanógrafo / que é outra opção que ele tem / ou ( ) ou como piloto de aviao / sei lã // sabe que a opção Hum-hm ... sabe que a gente é levado // estas coisas não tão muito claras // eu acho que a gente tem que ter um objetivo de vida // desde adolescente a gente tem que ter um objetivo pra batalhar pra aquilo // se a gente vai-se tornar aquilo / ou não / nao sei // a literatura pintou na minha vida quando ( ) quando eu era muito jovem // isso eu digo agora/ olhando pra trãs //talvez eu nãc tivesse 83 consciência naquela época // mas eu lembro / assim/ que o primeiro poema que eu escrevi eu devia ter uns dez / onze anos // mas já antes / quando eu era garotinho / assim de primário / eu me lembro que eu já escrevia historieta // história do gato e do rato / do gatinho que ia beber leite no pires / essas coisas // então tã // entao é uma coisa natural // nao sei se é natural / se as circunstâncias me favoreceram ou nao / ne// pode// e natural que voce sinta por exemplo o gosto / claro / tem que ter um pouco / sei lã / que voce tem que aprimorar ao longo da vida / né / se nao ... sei lã // Pode ser que pelas circunstâncias você tenha sido estimulado / um pouco // também poderia / né // Ë / estímulo eu acho meio difícil porque eu sou filho de operário / né // Ah // Nao sei se operário vai estimular alguém ã vida intelectual / né // Ãs vezes na escola / alguma coisa / né // Nao sei // a escola é castradora // a escola / o objetivo é castrar o trabalho dos alunos // nao e ( ) nao sei / eu acho que sao questões mais de ordem filosófica / né / sao considerações acerca de // voce nunca vai realmente localizar // acho que também / pra cada autor é diferente / acho que ninguém pode dizer que determinados autores escreveram por vocação // Monteiro Lobato duvido que es- creveu por vocaçao // Monteiro Lobato escreveu por acaso//ele escreveu uma ( ) uma carta pro jornal / um dia / falando sobre deter- minadas coisas e ele começou a perceber que ele era um talento / começou a escrever // uma ( ) uma circunstância // Foi por acaso / agora / quer dizer / ele percebeu / ele percebeu Ele percebeu que tinha aquela ( ) capacidade / sei lã // que tinha talento / nao sei// Mas quem é que nao tem capacidade pra escrever// todo munto tem // aí nós vamo pegar aquele ( ) aquele elemento de Chomsky // todo mundo tem competencia / nem todo mundo tem desempenho // Performance // competence and performance // Todo mundo tem a ( ) a competência / mas a performance ... é uma coisa difícil // é a escola / o trabalho / aquela coisa toda / / e u por exemplo/ eu agora to sem performance / porque eu tenho que vir pro hospital / tenho poucas horas / chego / me angustia a situação dele // chego em casa / nao tenho ânimo pra chegar e escrever / ni / 84 mas mesmo assim ... Talvez pudesse escrever sobre .../ne/ talvez também porque ( ) ... Sobre // mas escrever sobre / ë muito difícil porque voce tã muito envolvido // V-r Em c ima / / ë / / Muito em cima da coisa // sabe o que ë // isso tudoëmuito complicado // Então / voce teria dificuldade também / nao só em expressar / colocar É difícil // o teu pensamento no papel / como também encontrar formas // Formas // Formas diferentes // originalidade Ser original // ser diferente // ë muito fácil escrever se ë pra ser comum / né // se fosse pra criar historieta / aí'/do diaa-dia // João ama a Maria / mas a Maria gosta de José // destes temas voce criaria 49,9 por dia // isso nao interessa // eu quero escrever o que ë de novo //eu trabalho mais a nível de ( ) de poesia / né // conto assim / eu nao me ligo muito // e ( ) tem uma noveleta que eu to escrevendo hã algum tempo / que eu parei também/ por uma série de circunstâncias / to deixando amadurecer / porque isso aí também faz parte do meu método // eu crio as coisas ... quer dizer / deixo jogado num canto / pra amadurecer durante um bocado de tempo // agora tudo isto ë difícil // porque eu / ãs vezes / por exemplo / tem momentos em que eu escrevo poemas que eu acho maravilhosos / quando eu vou reler ë um lixo // quer dizer // eu nao consigo encontrar um ( ) uma outra maneira pra melhorar aquilo / né / e ( ) então deixo a coisa // eu datilografo / geralmente deixo no arquivo / e depois de um tempo / se for possível melhorar / melhoro // mas daí jã me entra outra questão // um pintor quando pinta um quadro / ele dificilmente retoca este quadro// por que eu vou retocar um texto // eu acho que ( ) a coisa ( ) ... eu tenho que retocar no processo que ele tã sendo criado / né//uma / duas / Hum-hm // tres semanas / um mês / sei lã // mas depois que eu jã dou ele por pronto / acho que deriva um pouco // quer dizer / tudo isso são coisas que eu to pensando agora / também // eu nunca pensei // acho que existem muitas questões e vãrias respostas / né // acho que pode variar pra cada escritor / pra cada cabeça // cada um vai achar uma coisa diferente // podemos brigar durante quarenta anos 85 em cima de determinadas idéias e ( ) . .. vamos encontrar o presente [ C] - escritor / o João Cabral / o João Cabral de Mello Neto / que não É // acredita em inspiraçao // C — Eu até queria lembrar aquela vez // comecei lã // não a forma encontrada / como é que é // sabe aquela ( ) poesia / que ele escreveu // só lembro o começo // como uma concha / o novelo / que o novelo desenrola / aranha / nao sei o que // ele aí ele fala sobre isto // que a ( ) que a poesia / né / não pode ser uma ( ) ... nao [d]— C — é encontrada naquela forma pronta// ele fala sobre isso // sobre Hum // Eu acho que a . .. [d]— vai depender da história de vida de cada um // sabe / ë uma coisa muito complicada // nao hã respostas adequadas pra tudo isso // a gente pode dar assim uma ( ) uma pincelada sobre isso / aquele assunto / mas dizer / a resposta ë esta / a coisa ë assim / nao // ë tudo muito relativo // escrever ë uma coisa muito ligada ã nossa condição humana / e a condição humana / ela ( ) ela ( ) ela se altetera / de ( ) de homem pra homem / se altera de escritor pra escritor / de poeta pra poeta / de artista pra artista // e como nao existe sapato que serve pra todo mundo / né // não existe uma ( ) uma resposta que ( ) que ( ) exemplifique o que ë o trabalho literario // 86 DIALOGO III FALANTE E Profissão: engenheiro Idade: 28 anos Sexo: masculino FALANTE C (ver diálogo II) C — 0 que você acha da idéia de adoçao // E — Sobre adotar uma criança // C — Ë // sobre adoçao // E — Sobre adoçao de uma criança // adotar uma criança // bom//digamos que ( ) que a gente nao pudesse ter uma criança / e tivesse vontade de ter uma criança // e entao / como que eu vejo isso // o que eu acho sobre a idéia de adoçao de uma criança // é // eu acho que a idéia da adoçao de uma criança / eu acho que ( ) i uma necessidade // pro casal hã / hã a necessidade da ( ) da existência dos filhos // então / quando nao hã essa ( ) não hã possibilidade / digamos / de ( ) existir esses filhos / ou filho / cria um vãcuo // cria um vãcuo que tem que ( ) de uma maneira ser preenchido // é um vazio // entao / eu acho que as pessoas têm uma capacidade muito grande em ( ) em ( ) em (E) se adaptar ou ( ) ou criar afeto por coisas e ( ) ate por objetos // então / como hã essa ( ) essa necessidade do casal / essa lacuna / e as pessoas têm uma ( ) capacidade muito grande em ( ) em criar afeto por coisas / entao eu posso citar inclusive exemplos de crianças / que (E) nasce um afeto enorme da criança em relaçao a um animal / a um bichinho de esti- maçao / e ela aprende a gostar / muitas ve ( ) (E) na maioria das vezes / mais do que ate uma própria pessoa // entao / eu acho que ( ) dentro dessa capacidade de ( ) de ( ) de crescer afeto dentro das pessoas / né / e dentro da ( ) daquela ( ) daquela lacuna que surge / daquela ( ) daquele vazio (E) na vida de um casal / uma. ( ) uma mae (E) digamos / (E) em relaçao a um filho adotivo / um pai em relaçao a esse filho / (E) tem a ( ) a possibilidade / tran- 87 quilamente de criar um afeto / na medida em que o tempo vai passando / em relação ã criança adotiva / igual / ou ate maior do que uma ( ) um filho ( ) um filho ( ) ... Como se fosse ... nem ... nem sente ( ) ... acho que talvez no final / a pessoa jã esquece // jã nem lembra mais // nem ... nao / não sente diferença // não distingue / não lembra // passa a gostar // aquela ( ) aquela figurazinha / (E) aquela criança // esse pai / essa mae / naturalmente que vai procurar uma ( ) uma criança / ne que tenha assim algumas características (E) dela ou do pai / né // que se assemelhe / talvez fisicamente / né // ãs vezes o pai tem olho claro / então / procura ( ) Ë// uma criança que tenha um olho (Ã) claro / azul / então / que tenha alguns caracteres físicos / e ( ) isso aí faz com ( ) com que nasça Hum-hm // essa ( ) essa ( ) assimilaçao entre o casal e aquela criança // vai passando o tempo / aquela figura de criança vai ficando cada vez mais ( ) mais ( ) como é que eu vou dizer (E) mais ligada ã imagem dos pais / né // como vai se ligando cada vez mais vai criando aquele amor / aquele afeto / e aquela ( ) aquele início / aquela base / nao é nao // foi ( ) adotada a criança // (E) aquilo se apaga // aquilo se apaga e e substituído pelo amor / que vai cada vez aumentando / né // por esse motivo / eu acho que (E) talvez os pais no começo / né / eles ( ) eles vivam aquela situaçao de adoçao // no início / mas depois / devido esse afeto / esse amor que vai crescendo / essa situaçao de adoçao apaga / e nasça a ( )asituaçao do filho // Tã certo // é difícil no começo / né // mesmo que você tenha a É // idéia ... voce queira ... voce sempre fica com aquela ( ) ... É // sem ( ) aquela ( ) aquela idéia de que ( ) existe adoção // porque o ( ) digamos o amor nao / ainda não existe / de uma maneira integral // quer dizer / aquele amor / ainda nao aconteceu / aquela ( ) aquele laço // E ( ) e o que voce acha do problema . .. por exemplo / ãs vezes o Roberto pensa assim // que ( ) (E) a criança / a criança adotada / ê uma criança problema // Uma criança problema // é // 0 que você acha // Hais tarde / ne / quando a criança . . . digamos se isso for escondi- 88 do da criança / mais tarde / a criança vai sentir mesmo um ( ) digamos um impacto // porque tudo que se sabe (E) de repente / causa impacto // mas eu acho que e momentâneo // eu / eu acredito que e momentâneo // eu acredito / que ë momentâneo / na proporção em que ( ) em que ele recebeu / toda aquela atençao / todo aquele ( ) aquele apoio / durante todo aquele tempo // entao / e aí / dependendo da educação que também foi dada [ C] — / desenvolvimento da criança / e tal / né / no caminho bom / entao essa ( ) essa criança / ou ( ) talHum-hm // vez esse adulto quando souber / ou esse adolescente quando souber / ele vai / sendo bem criado / ele vai entender / ele vai receber o I C]- impacto / entendeu //ele vai receber //mas vai ser compensado Ham-hm // ele ( ) ele não vai ( ) ... talvez haja algum do problema // acho que pode haver // ( ) algum fiozinho // Mas é melhor // ele vai en- tender que é melhor a situaçao atual // do que descobrir/ que ( ) que ( ) esses nao sao os verdadeiros pais /mas que ele recebeu todo esse apoio / do que estar naquela situação de uma casa de ( ) de correção / (E) aquela ( ) como é que ë / aquelas escolas de crianças [C]— (E) órfãs / orfanato / né // entao ë melhor a situaçao atual / de Orfanato // estar com ( ) com bons pais / que deram todo apoio e afeto / do que estar numa escola daquela abandonada // C — [E]— Hum-hm // agora ( ) eu me referi problema / criança problema / no A razao mostra isso pra ela / pra criança // sentido que ( ) ... (E) por exemplo / foram bem criadas [E]- / ali / né / que voce estava falando / / d a criança assim ( ) que ( ) ... ãs Ë // vezes hã pessoas que acham / que ( ) o ambiente / por exemplo / assim ( ) (E) ... do problema hereditario / que seria uma coisa assim // que a criança jã ë problema / porque ela jã traz traços / do pai / da mae / já ë rebelde / mesmo sem saber de nada // que toda criança e ( ) ë revoltada / ë uma pessoa / uma criança / uma pessoa revoltada // o que você acha / disso // E — Revoltada // bom / depende // isso ë ( ) depende de cada indiví- duo // quer dizer / eu acho que ( ) isso pode acontecer / inclusive [C]- em relaçao a um filho / a um filho próprio do casal // digamos eu / ^ t ü isso aí // eu sou pai / mas eu posso ter / ter alguma coisa de revoltado também / e transmitir alguma coisa desse tipo a um filho meu/mesmo// 89 então / é um problema que pode surgir / (E) em qualquer situaçao / [ C] - filho adotivo ou nao // quer dizer // e um problema comum a qualLógico // [ C] — quer pessoa / nao tem a ver com o fato de estar sendo adotado // Cada um tem um ( ) ... tem o problema de( ) [ E] — [ C] — da individualidade / mesmo // É individual / de cada um a ver com o fato de ter sido adotado // ( ) no caso da Angelica e do Romulo // jã // nao tem nada / nada Por exemplo / no caso ( ) hã uma diferença / [ E]— É Indivi- [ E]— na personalidade / um jã i mais teimosinho / o outro ... ne // mas dual // Exata- E — nao e um problema de ... tamente // esse filho que estã sendo / que seria adotado / ele pode ter as raízes num pai ( ) nervoso / neurasténico / e pode ser também / que ele seja (E) filho / né / natural / de um pai ( ) inte[ C] — , Então / C — ligente / de um pai equilibrado // voce acha que o que influi mais ê o ambiente // E — Inf lui // tranqüilamente // ë o ambiente em que ele estã sendo criado // se ele estã sendo bem criado/ como eu disse / nê / no ambiente]Hum-hm // te / nê / bem educado ... eu acho que a base ë a educaçao da criança / entende //bem educada / ela vai ser conduzida por um ( ) por um bom caminho // agora // tem a ressalva do indivíduo // cada indivíduo vai reagir de uma certa maneira ãquele ( ) aquele estímulo da criaçao / tanto que numa família / (E) existe o que ... o bom filhinho / e o mau filho // sobre a educação dos mesmos pais / nê // existe o ( ) a ovelha negra / e o garoto que gosta de estudar // [C]- É // lógico // depende do ( ) do indivíduo / n e // mas de qualquer maneira / uma i boa educaçao / vai conduzir esses indivíduos / a um / a um melhor ponto possível / q u e ele pode atingir [C]— EC]— // então esse problema pode , Hum-hm // nao interessa se acontecer (Ã) (E) com um próprio filho mesmo // ë adotado ou nao ë / que isso ë um problema ... C — Lógico // E - Né // C — E o que que voce acha do problema de' ( ) por exemplo / de repente sofrer um impacto/ né // a criança não sabe que ë adotada // então voce acha que ( ) como deveria ser isso //que os pais deveriam esconder / ou deveriam contar // e de que forma / por exemplo // como // 90 E — Ë // eu.acho que ( ) ... você vê que ( ) eu coloquei como único [C]— problema dessa situaçao do filho adotivo / é o impacto//e o impacË // você jã viu / você C — to / o único problema seria o impacto/certo // porque ao ...mesmo jã pensou nisso / logo // Hum-hm// assim / depois de ter o impacto / ele pesaria / estando bem orientado / ele pesaria / e chegaria ã conclusão / de que ele estã me[C]Ë // lhor do que estaria sem aqueles pais // C — Depende / depende da maneira como você falou ali / que ele foi criado // porque se ele ê amado / ou nao ê amado / se ele ( ) ele vai ter aquela reaçao assim//por exemplo// quando ele sabe / no final ele tem mais e que agradecer // se ele sabe que ele foi ... se ele recebeu todo ( ) carinho / todo amor / mesmo que ele tenha digamos outro irmão jã // ãs vezes a pessoa / o casal nao tem um filho // de repente aí / adota um / e depois vai ter / né // mas aí entao / na [E]- medida em que ele compara / por exemplo / se ( ) ele tem 'outro irCerto // mao / e aí fica sabendo que o outro ë o irmão verdadeiro / que ë o filho verdadeiro // aí se ele ( ) ë tratado mal / ele começa per- ceber que hã uma / hã uma distinção / e nao sabe por quê // [ E]— E — Isso sim poderá causar o problema // entao os pais que adotam um filho / que (E) digamos (Ã) tive- [ C]— Ë // ele nao sabe por quê // entao neste caso ... rem ao alcance de [ c] - ( ) de ( ) evitar que aconteça essa diferença de tratamento / né // (E) entao pra que adotar //se ele adotou tu / en- tao / ele tem que adotar / tratar igual // entao não adote / entao / entao tem que... não pode haver diferença de tratamento// então essa criança / depois vai ver que nao hã diferença de tratamento entre os dois / e só tem a agradecer // C — E — tu Então ela vai ter aquele impacto natural de saber / pô / este não ë meu pai // ih ( ) nao ë meu pai // po / pensava que era meu pai // tenho outro // vem o impacto / tenho outro // aquele ë meu tu pai // este nao ë // então o choque / de saber que este não ë o pai [ C] Ham-hm // [q - dele // C — Ë // no momento sempre / de qualquer forma / acho que o impacto existe / në // 91 E — Ha o impacto // C — Agora o negocio de ( ) de se revoltar ou nao depois / isso i um ou[ E]— Nao / aï depende daquetro problema // depende do ... [E] le outro lado que a gente falou / do indivíduo // um poderá reagir [ C] — reagir E de um modo / outro de outro //de qualquer maneira sempre hã (Ã) . . . [C]— de um modo / outro ... depende ... depois desse impacto / independente do indivíduo / eu acho que arazao (E) vai conduzir o elemento a comparar / / a situaçao dele / com [c]- aquele pai adotivo / ni / que o adotou / que o tratou bem / e que t II ele estã em ambiente bom / em relaçao àquele ambiente em que ele estaria se nao tivesse sido adotado // a razao sempre vai conduzir ele a esse ponto // C E — [C]— t // E no fim / ele vai sempre agradecer // É / ele vai ter que agradecer // E — Vai ter que agradecer // uma pessoa normal [C]— [c]- // eu to me referindo Lógico // a uma crian ( ) um adolescente/ sei lã / a um indivíduo normal // / tu com reações diferentes ao ( ) diante do impacto // mas a razao vai conduzir ele sempre / a fazer essa comparaçao / ni // e ele vai ... no início / após o impacto / poderã ele ( ) ele nem agradecer // depende da reaçao do indivíduo // mas / depois de algum tempo / ele vai / tranqüilamente / voltar / e vai agradecer // eu ( ) eu imagino que aconteça isso//existe a razao // considerando pessoas nor[ C] — Ë / isso com pessoas nor ... mais// C — Normais / claro // E — Normais [C]— // i claro // existe aquele que ( ) que nao i normal // então que vai sair ( ) louco / (E) vai sair matando//esse nao i ... Ë / fica ( ) transtornado / essa jã Í uma situaçao que ( ) dã pra colocar ã parte // C - Ë // E — Ã parte // mas daí voce perguntou (E) se eu acho que ( ) (E) (E) ... [ cl— t u como i que você perguntou // C — Da idiia / o que você achava da idiia // [E]— Nao / se ( ) deve contar ou nao // C — Ah / sim // 92 E — Deve contar ou nao // entao como eu falei / o maior problema seria o impacto // entao acho que ( ) pra evitar esse único problema / que seria o impacto / que poderia trazer reações como essas que nos [ C]— falamos / entao (E) acho que ( ) poderia jã / enquanto a criança esHum-hm // tã sendo educada / né / jã ir (E) procurando fazer entender ... / mostrar que ele e um pai adotivo // que ele tem outro pai/ certo// pra até chegar numa ( ) num certo ponto / né / e dar inclusive até opção / de ( ) dessa ( ) dessa pessoa até procurar quem sabe o outro pai // sabe como é que é // o pai verdadeiro // sabe como é // [ C] — Ham-hm // entao vai / jã vai educando a criança jã procurando entender que ( ) ... C — Pesar a situaçao // E — É / pesar a situação // se bem que é ( ) e ( ) é perigoso / porque [C]- esta criança que nao tem ainda aquela personalidade formada / né // Ë // C — I El — [C]- ela fica ( ) totalmente sem ... Ela nao tem o caráter / a personalidade ainda / tã tudo em Ë I/ formaçao / ela pode / pode reagir de uma maneira (E) (E) prejudi- cial a ela propria / né // entende o que eu quero dizer // C — [El — Sei // é porque ... Entao / é perigoso // quer dizer / é um problema // (E) o pai tem que lidar com muito tato // tem que ter tato // C — Ë que ela nao tem aquela capacidade de ( ) de discernir melhor as coisas / e de ver qual é o melhor caminho / nao / de ponderar / de analisar / de ver / de compreender a situaçao / e de optar pelo melhor pra ela // E — Em qualquer momento / eu acho assim // em qualquer momento que se conte / que se conte / vai gerar o impacto // C — Seja em que época ... [ e] — É // seja em que época for // então / você veja a idéia [C]— Agora / mas que eu tô querendo dizer // [C]— deve existir uma época melhor // E — É // isso // querendo dizer/ querendo dizer / que deve ser contado tanto que ... [Cj — E — 0 ( ) problema é esse / saber o momento melhor // Saber o momento certo // é muito perigoso // tem que saber o momento certo // o momento / e tem ... e eu acho que tem que ser falado 93 / de uma maneira gradativa / e nao / que cause aquele impacto / que gere uma reação inesperada / né // Então teria que ( ) que ser na infância / ja / assim // não na adolescência // jã ser quando a criança ••• quando ë pequeno ainda // Ë// de uma forma ... tem que jã ir aos poucos / ir preparando // Ë difícil / né // é uma coisa que ( ) que eu nao saberia como / por Ë uma coisa difícil // ê um proexemplo / no caso / como / como falar / em que época / em que hora blema // certa / né / pra falar // Isso mesmo // por exemplo / tem pessoas / que adotam a idéia / digamos / a linha de ação de não contar // simplesmente / nao conta // 94 DIÁLOGO IV FALANTE F Profissão: médico Idade: 34 anos Sexo: masculino FALANTE G Profissão: professor Idade: 31 anos Sexo: masculino FALANTE A (ver diálogo I) A — Nós tamos aqui na casa do Édson / fazendo uma visita a ele / e como eie ( ) recém adotou uma criança / nos gostaríamos de perguntar a ele / alguma coisa sobre adoção / Édson //voce poderia dizer alguma coisa pra gente // F — Olha / a ( ) adoçao / era uma palavra que ( ) vivia assim bastante distante da gente / até a gente casar / e nao ter filhos / né // a partir do momento / em que ( ) nao se conseguiu a gravidez desejada /no ( ) na época certa "/ a adoçao passou a ser pra gente / uma palavra de estudo / mais ( ) de perto da gente // e também por ( ) devido ao que a gente / a profissão que a gente exerce / né / na parte de obstetrícia f e a minha esposa na parte de pediatria / nós estamos todos os dias muito ligados a pessoas que estão dando neném / pessoas que estão tendo neném // entao esse ( ) mundo de adoçao com a ( ) o ( ) com o exercimento da nossa profissão / e com a situaçao nossa / passou a ser assim / um mundo muito comum / e nos pudemos trocar muitas idéias (E) a respeito da mesma // particularmente nós (E) jã tínhamos uma idéia formada / uma vez que na nos- sa família / jã que eu tenho trinta e nove sobrinhos [A]- / oito deles Nossa // sao adotados // minha mae criou onze filhos / adotou quatro // A — Meu Deus // incrível // [F]— E então ( ) e entao / isso pra F — ( ) na minha família era muito comum / né //a gente encarava a adoçao como uma coisa perfeitamente normal // não importando a idade / nao importando se a criança sabia ou nao sabia / nao tinha problema // agora / por parte da minha esposa / as preocupações eram maiores / porque ( ) nun[A]— Hum // 95 ca tinha tido assim um caso na família // mas / pela necessidade nossa de termos uma criança / e a vontade nossa de termos uma criança em casa / nós passamos / ou melhor / minha esposa passou por ciHum I I . ma desse problema / e com estímulo de amigos também medicos / acabamos (E) acabamos adotando a Sheila / ne / que chegou hã dois meses e meio / e nós só nos ( ) nós só sentimos / ou só nos agradecemos de não termos esperado muito tempo mais / ni / uma vez que esperaQue maravilha // mos apenas três anos / n i // estamos com três anos de casado // e ËII se nós tivéssemos esperado dez anos / como muitos casais esperam / nove anos / oito anos / nós sem dúvida nenhuma estaríamos lastimando agora / porque ( ) desde a hora que a Sheila veio / mudou totalmente a nossa vida / ne / tem uma visão total / pra nós // Isso II então a gente podia perguntar pra você / se tem influência no comportamento posterior da criança / a época em que se dirã a ela que foi adotada / ou / se no caso / naa se deve dizer // como i que voce acha // Ë // nós cremos que existem duas correntes ... aquelas corrente mais antiga // existem aqueles ( ) / em que os pais não dizem / nao gostariam de dizer aos filhos que eles eram adotados // então / normalmente se criava uma cadeia enorme em torno da criança / pra se evitar que alguim dissesse ã criança // então ãs vezes os pais se mudavam de lugar / pegavam uma ... a mae fingia uma gravidez / coisas desse tipo / pra adotar uma criança numa outra cidade / pra que É verdade // achassem que ( ) que fosse filho dela // uma criança nessas condiçoes / realmente 7 que venha a saber que ela e adotada / por volta dos seus dezoito / dezenove / vinte anos / pode-se criar / nela uma das reações mais diversas possíveis / e normalmente de nocividade ao pai e ã mae // agora atualmente / a Psicologia nos diz / que a melhor ipoca de se dizer pra criança que criança adotada ( ) que ela i uma / i entre os três aos cinco anos l i a gente jã ir preparando o espírito da criança / quando a criança aceita melhor as coisas / e dizendo lentamente pra ela / que ela não i filha leHum // gítima // parece que nesta ipoca / hã uma aceitação melhor // eu creio que o mais (E) o mais nocivo que a gente vê / ê quando a criança recebe a notícia por terceiros / nao i // então o choque i Ë // 96 grande / e a personalidade da criança / ãs vezes conforme a idade era que ela esta / pode ( ) mudar totalmente / pode ficar agressiva/ Ë// pode assim ter a ( ) as mais diversas formas de reações / ne // Ëdson / entao / vamos fazer uma pergunta aqui / um pouquinho mais complexa // entao a criança adotada / então ve / devido ãs condi- çoe;s em que se desenvolveu a gravidez materna / e devido mesmo a uma possível hereditäriedade paterna / ela nao teria assim ( ) digamos / uma grande possibilidade de ser uma criança problema / devido a esses fatores // Ë // o ( ) o meio ambiente uterino / veja bem / o mundo que a criança vive / no ( ) no utero da mãe / e uma criança que estã em contato com o meio ambiente // e evidente / que numa gravidez sobre tensão-/ uma gravidez com susto / com tristezas / alegrias / dificuldades / essa criança vai ter algumas dificuldades / ãs vezes / ser uma criança mais nervosa / mais irritadiça / que chore mais facilmente // pode acontecer alguma coisa desse tipo / porque a criança no utero materno / jã estã em contato completo com o meio ambiente// agora / a criança depois que nasce / ela é todo um mundo aberto / Hum // onde voce pode colocar ali tudo que voce quiser // entao e um camHum-hm // po ( ) um campo preparado para o plantio / e para a ( ) o cultivo dessa criança // entao cabe ao pai e ã mãe / (E) todõ esse trabalho de meio ambiente / colocar na cabeça da criança tudo que eles acham importante / para que essa criança se adapte ao meio ambiente // Ë// e nós vemos coisas assim ( ) coisas (E) engraçadas ate / vamos di- zer / que a criança acaba se parecendo com o pai / com a mãe // É / isso i verdade // Nao que ela mudaria tanto / a maneira de ser /mas ela acaba ãs vezes / a fisionomia parecendo / nl // E as vezes / um filho próprio do pai / talvez nao seja tão parecido / quanto o adotivo // Tao parecido // Ë verdade // isso ë uma coisa muito comum mesmo / e muito bonita // Exatamente // e a questão da hereditariedade / nós cremos que não funciona pra esse modo // porque a gente vê / ãs vezes / pais tão bons com filhos legítimos tao ruins / ne // pais tão ruins / com filhos Ë / isso e // tao ( ) . . . 97 Tão excelentes // Ne // eu tenho a ( ) o exemplo dentro da minha casa // meu pai / minha mae / fumam barbaridade até hoje // de onze filhos / nao tem nenhum que fuma / que goste de cigarros // então / onde que tã a a ( )a hereditariedade // então / coisas assim / incríveis / né // A hereditariedade // então se fosse assim / os filhos do Einstein seria oito gênios Gênios // então ax (E) entram outros fatores / que ( ) a ciência nao explie no entanto nao acontece // ca totalmente / né // Ë // ê verdade // então / mais ou menos pra encerrar / Ëdson / então / ( ) vamos dizer / você que adotou uma criança / então vamos fazer tipo um final aqui // o que o levou a isso / nê // voce jã quase que falou / e como você se sente agora / então / depois // É // o que levou nós a adotarmos uma criança período de a gente estar casado / é que depois de um / a gente ve que a vida começa a virar uma rotina / em termos profissionais / viagens // (E) parece que ( ) falta uma coisa na vida da gente // e esta alguma coisa / sem dúvida nenhuma (E) / ê uma criança // e como nós jã dissemos nós só não ficaríamos / nós só ficaríamos arrependidos / de espe- rarmos / vamos dizer / oito / nove anos / nê // nós estamos felicíssimos / de termos ( ) ... de ter vindo a nossa hora certa assim criança na // seje nossa ou nao seje nossa // agora a questão de amor a essa criança / a- questão de estima / eu creio que é uma questão / que principalmente nós / dois / tamos com todas as chances de dar tudo que ela precisa / né / em termos de amor / como fosse uma criança nossa / sentindo como se fosse nossa filha // como ela vai ( ) como ela vai ( ) encarar isso depois que souber que nao é nossa filha / isso mais tarde / isso ê um outro problema / que nós nao podemos pensar agora // se ela vai (E) ... trouxe algum problema de desenvolvimento materno / algumas frustrações / algum problema que pode ter influído / também nós nao podemos analogar / porque se à gente pensar também muito / a gente não faz nada / né // Ë verdade // Mas / o importante é que nós precisávamos da ( ) da nenê / conseguimos / e eu acho que ela precisa também muito de nós / né / e nós vamos dar tudo que for necessário e / que Deus nos ajude // Ah / puxa vida // Ëdson / então / muito obrigada // Espera aí que eu tenho uma perguntinha a mais pra fazer // 98 Ah / mais uma / que o Jorge tem // . É // jã que a experiencia da primeira / que ainda nao se concretizou e que ainda existe muito ( ) muita tarefa ãrdua / muito ( ) muita labuta pra criação dessa ( ) dessa nova (E) nova criatura que voces estão no seu lar / que nao i de vocês / (E) vai ficar so nessa // Não // o nosso plano / o plano da minha mulher / i a partir de maio /.daqui a um ano / n o s partirmos para um guri // Ah / que maravilha // Se nao der um guri / partimos para mais uma menina // Que coisa linda // 0 nosso plano i ficarmos entre dois a tres / entre duas ou três crianças / ni // Mas / Édson / (E) jã ê praticamente ( ) ... digamos ( ) dentro de um contexto social / existe casos / em que casais que ãs vezes ficaram anos tentando ter filhos / nao conseguiram / e depois que adotaram um ou dois / tiveram um seu proprio // talvez ati por um premio divino / a respeito de sua boa vontade / da sua ( ) ... (E) digamos do amor que voce ( ) . . . da doaçao / que voce estã fazendo / como i Da doaçao // que voce encararia depois / Édson // como i que você se sentiria / (E) depois de um ou dois / ou três adotados / tivesse um filho teu // Veja bem/Jorge//a gente que crê que somos todos filhos de Deus / somos todos irmãos / nao e mesmo // toda a criança toda a criança ê uma coisa linda / puxa vida // / nê // não ( ) não ( ) não quer Incrível // saber se i da gente/ se i do outro // toda criança tem alguma coisa assim de ( ) de Divino numa criança / de bonito de ( ) de ( ) ... que mexe com o sentimento da gente //não impor ta / vamos dizer / se seje da gente / se seje de outro // eu sei que a ( ) a situaçao ( ) vamos dizer ( ) o dia / o dia em que a Sheila veio pra nos / a correria que nos tivemos atrãs de documentos e papiis / i como se a minha mulher tivesse tendo um parto / ni // o nervosismo nosso / tal e coisa / e tudo mais / e nenê // então / eu acho que ( ) não vai mudar praticamente nada //vai ser assim // vai ser uma criança mais pra nós / um filho nosso / vai ser tado / ni // (E) em termos de sentimento vida / vai ser a mesma coisa nenhuma // ( ) vai ser um outro ado/ não tenham a menor dú- / nao deve mudar nada / de maneira 99 G — [F]- Esse ( ) a Sheila / por exemplo / você acompanhou a gravidez, da geNao // raçao da Sheila // F - Não // G — (E) Bom / ' eu como jã / jã sou pai / o filho foi gerado pela minha esposa / e que eu acompanhei toda a gravidez dela / në / e também fiquei grãvido / né / com ela / junto / (E) digamos / existe uma emoção muito grande no acompanhamento da gestaçao do ( ) do ( ) da gera çao do seu filho / né / na ( ) na sua esposa (E) mesmo como profissional /você como médico jã tã acostumado acompanhar gestações / acho que de umas centenas / né // (E) é uma pergunta que eu sempre gostaria de fazer // como é que voce se sentiria acompanhando / como profissional / (E) e como pai da propria gestaçao / do seu próprio filho // F — Olha / Jorge / não sei // mas e ( ) é ( ) uma ( ) é realmente uma situaçao ... porque a gravidez ê uma coisa que mexe demais com a ( ) conosco / n ó // eu me ligo assim nas pacientes / pra você ter uma idéia / eu jã cancelei viagens minhas de prazer / por causa de um parto que ia / devia ter naqueles dias // (E) . perde o neném se uma paciente / eu choro com a paciente / porque / puxa / aquilo também tã dentro de mim/ aquele negócio / / a paciente quando ganha um neném / eu choro de alegria junto com a paciente / e ( ) faze- a maior festa dentro da sala / aquele rolo / sabe / porque o nascimento é uma coisa assim linda / mesmo / né / e aquele momento de felicidade / aquela espera / e tudo mais um // eu creio que ser assim ( ) ... aumentar um pouco mais a felicidade da gente / ni // esticar um pouco mais essa espera / porque o ( ) o gostoso / ni / de tudo e aquela espera // fazer ali / as roupinhas pra nenim // i ver o bercinho / (E) o nenenzinho se mexeu hoje / ni // A — Ë // aquela coisa // F — Entao / eu talvez nao sinta tanto / nem minha mulher sinta tanto porque nós temos (E) um pouquinho de remidió / porque (E) eu acompanho as gestantes / e ela acompanha as crianças todo dia // o meu [A]- nenezinho fez isso / e tal / tal // entao de uma certa forma / Ë // a gente ta um pouco em contato / e isso tira um pouco daquele ( ) ... G — Encantamento // F — Encan ( ) encantamento da gente / ni // A — Nao hã talvez aquela falta / ni // 100 É // a falta nao é tao grande / né // nao é tao grande // e por outro lado nos dois nao somos .. . por exemplo / tem mulheres que se nao tiverem um filho / elas ( ) elas ( ) . . . Enlouquecem // Enlouquecem / ne // É verdade // (E) Tem homem que se não tiverem um filho/ ele larga /.ali da gente / e vai pra outro // Ë // e vai querer outro // ë // Não era bem o nosso caso //o nosso caso / era nós dois / as crianNão // ça seria uma coisa futura / ne // Uma continuidade // Uma continuidade // se nao viessem crianças / nós ( ) nós ( ) nós viveríamos normalmente / / a criança i assim um complemento de tudo pra nós / né // Bom / resumindo / digamos assim / (E) você em termos de papai agora / (E) praticamente passado em cartório / mas antes disso daí / tanto voce quanto a lide / vocês eram papais adotivos de tantas crianças / e você pai de tantas maes grãvidas // Ë verdade // isso é muito bom // Ë / / e a ( ) e o ( ) e assim pra ( ) pra encerrar / assim a mensa- gem que a gente como obstetra / a esposa como pediatra / e a gente como ter adotado uma criança / a mensagem que a gente daria a uma pessoa que nao tivesse filhos / né / eu que lido com esterilidade feminina / e tudo mais / e vejo os ( ) os problemas psicológicos que as mulheres passam / em busca dos exames que sao feitos para se buscar um diagnóstico da esterilidade da ( ) das mulheres a minha mensagem assim / / e ( ) seria fazer uma doação // Pegue uma // tem tantas criancinhas nascendo aí sem condiçoes // pegue / que a pessoa jamais vai se arrepender / jamais mesmo // sabe / tenho certeza que nao vai se arrepender // mesmo que a criança seje re- belde / seje boa / seje agradecida / ou seje aquilo // a experiência de cuidar de uma criança / dar mamadeira pra uma criança / trocar a criança / dar banho na criança / esse acompanhamento / nao hã nada que pague isso depois / pra gente / nê // Puxa / é maravilhoso // então Olha / Ëdson / muito obrigada pra voce / toda a felicidade do mundo pra lide / pra Sheila você / tã // / e pra 101 F — Eu que agradeço // A — Tchauzão // - 102 DIÁLOGO V FALANTE H Profissão: Idade: 32 anos Sexo: Feminino FALANTE I Profissão: professora Idade: 33 anos Sexo: feminino FALANTE C (ver diálogo II) C — Quando eu lecionava no Pedro Macedo / em 76 / eu sentia que ( ) muitos alunos / nao só comigo / nao tinham (E) nao demonstravam muito interesse // você se matava de explicar / e eles nao tavam nem ali / porque sabiam que iam ter uma nova chance não aprendessem agora / nao iam reprovar de ano // ora / se // então / essa questão de muitas recuperações / recuperaçao terapêutica / eu considero uma falha da Lei 5692 // eu gostaria de saber entao / como vocês veem o ensino / concretamente falando / apÓs a implantaçao da Lei 5692 // seus pontos positivos e negativos // •H — Essa Lei 5692 / em primeiro lugar / que nunca lecionei / sem ser com a Lei 5692 / né // I — Eu também nao // H — Quando eu comecei a dar aula / em 73 / ela jã tava em funcionamento // nao assim ... (E) me lembro que eu dava Geografia // entao / ainda tava dividido em Geografia / História / etc. // mas ( ) Estudos Sociais ainda nao tinha sido incorporado / mas ( ) jã tinha / entrava recuperaçao / a recuperaçao terapéutica / tudo aquilo / tava em vigor // e acho que um ano ou dois / depois / começou a en- trar (Ã) Estudos Sociais mesmo / daí a lei funcionava normalmente// [I]- Fazia parte do I — Núcleo Comum que a lei propunha // H — É / #daí sim // quer dizer / antes tinha / Estudos Sociais / mas só que era um professor que dava Geografia / outro História / e outro Organizaçao Social e Política // e a gente quando fazia a avalia- çao / cada um dava sua nota / se somava / tirava a média / e tinha uma média de Estudos Sociais // 103 I — Entao / quer dizer / que com a lei / acabou / justamente / não existe mais aula de História / nem de Geografia/ nem de 0.S.P.B.// existe uma coisa em comum // H — Daí / sim / acho que uns dois anos depois / começou a vir Estudos Sociais com um professor só // daí a gente / cada um / nê / assumia as suas aulas sozinho e ( ) e ( ) foi quando a lei começou a funcionar normalmente / como deveria ter funcionado // agora / pelo que eu tô ouvindo tã voltando / de novo // I - É // H — Separar // pelo menos na minha ãrea // separarem novamente //pro- fessor de História dando História / de Geografia dando Geografia / e ( ) ... agora em relaçao ao aproveitamento lei tem culpa disso // eu acho que / eu não sei se a ( ) esse riegõcio assim de nao refletir / de o aluno ter preguiça mental / tudo isso / jã ë uma coisa assim que ( ) ... porque a Escola nunca estimulou mesmo // voce tã fazendo assim / descobertas / ou você tã ( ) . . . você nunca estimula o aluno a pensar / nê // normalmente a Escola / de um modo geral/não // ë aquilo prontinho / a resposta certa / o livro vem até / assim ( ) com uma resposta praticamente feita / quase / jã pro aluno // entao acho que isso nao ( ) ë /propriamente culpa da lei // -I — Pois ë // entao voce vê / dentro da minha ãrea / que seria Ciências / në / atribui-se justamente a ciencias / a grande responsa- bilidade em parte de levar o aluno a refletir / nao ë // H — É / Matemática também // I — Entao / depois que foi colocada a lei / que foi implantada / tudo direitinho / o pessoal da Secretaria / por exemplo / começou a criar cursos / nao ë / pra fazer com que as professoras pudessem se adaptar dentro do que era pedido // H — Ë // as reciclagens // I — Ë // as reciclagens / në // e mesmo depois das reciclagens / em ( ) em currículo mesmo// eu até cheguei a dar esses cursos em currículo / em Ciencias // onde justamente se insistia nisso / / e m que a criança deveria aprender pensar por ela mesma / processar a mensagem / entao te dar respostas / né / a partir do que ela tinha entendido / e nao a partir do conteúdo // que a professora deveria entao (E) aproveitando assim / ao receber uma avaliação da criança / por exemplo / ter que considerar só as questões em que a criança 104 mesma desse a informaçao / segundo as palavras dela / segundo o que ela tinha entendido // quer dizer / obrigando a criança de uma certa forma a pensar // então (E) realizando experiências / nao e / com materiais comuns / práticos / tudo isto / porque eles acreditavam / justamente / a proposta era essa / que a partir disso / (Ã) a criança poderia / quando chegasse a fazer uma interpretação em Português/ ou a fazer uma leitura / na ( ) tua ãrea de Estudos Sociais / ela jã tivesse condiçoes de refletir / jã teria desenvolvido o racioJá teria desenvolvido o raciocínio // [H]— cínio // mas (E) ... H — Não ( ) não se faz / nê // I — Nao / não // H — A gente aprende / mas nao ( ) ... nao sei / ë como se ( ) ... sei lã / a propria escola não te motivasse a isso // a estrutura da escola o sistema da escola /e neste ponto / eu acho / por exemplo que ( ) que existe a ( ) a ( ) uma certa razao quando dizem ... aí sim / talvez seja um defeito da lei // que a lei tirou do professor a liberdade dele / por exemplo / decidir como ele quer dar o que que ele quer dar / // entende// ele ê uma pessoa / assim / que nao - participa mais das decisões da Escola // geralmente tem uma coor- denação / ou um ( ) mesmo uma supervisão / que tã encarregada de [ X] — I — ( ) de se preocupar com esta parte / e o plano jã vem prontinho// Ë // Até as avaliações / em muitas escolas / a gente sabe que funciona assim // ë serviço da coordenadora / nê // [H]H — tu E o ( ) e o professor simplesmente virou um mero ( ) um ( ) uma máquina que aplica aquilo / um instrumento // uma máquina que aplica aquilo que jã veio programado por outra pessoa // então separa- [I]- t u • ram o pensar pra uns / eoagir pra outros // e isso talvez fosse realmente / uma conseqüência da lei // eu acho engraçado impressão atê que voce tem uma testemunha / porque dã // eu acho horrível // lembra que ( ) num trabalho de Antropologia a gente nota ãs vezes / que todo mundo começa a [I]- ... alguns se inibem / tem gente que nao fala / eu nao sei se pra você / pra mim / eu tenho impressão que Ê/tem tem uma testemunha / testemunha oculta /ê bom ate nao olhar muito // [i]— pessoa // I — Mas eu nao sei / agora eu ( ) o que eu peguei direito mesmo / tra- 105 balhando com 29 grau / foi a questão do profissionalizante- / que veio com a lei // Ë / e // isso jã nao / quer dizer / tive porque eu trabalhava com o 2? grau / mas minha materia nao interferia // Pois i // entao o que a gente sentia foi isso // (E) eu trabalho em escola particular / nao e // entao quando se implantou a lei / exigiu-se uma série de materiais pra poder funcionar um ( ) os cursos profissionalizantes / e isso e aquilo // entao o pessoal da escola se ( ) se empenhou / comprou / montou laboratorio isso / montou aquilo / organizou estagio / montou / os alunos fazem até hoje / porque continuam mantendo evao manter o profissionalizante // (E) as meninas fazem estãgio por exemplo na parte de saúde/ em hospitais / na TECPAR / tudo / sabe // e o que mais te desanima / é Ham-hm // você ver que ãs vezes você recebe uma menina de fora / vem / dentro da lei / e que nao fez nada / nada daquilo que ... se ela entra no 29 ano por exemplo / porque as outras escolas compram / dao um j eiHam-hm // tinho / né // Se vem de escola / principalmente escola publica / nao tem ... É / nao tem nada // mas mesmo as escolas particulares / por exemplo / tipo cursinhos / né / eles nao aplicam a lei / do jeito que ê pedido // Mesmo curso tipo Positivo // Nada / nada / nada / nada // eles sõ dizem que tem as matérias / e mandam o aluno fazer uma carga horaria mínima exigido // nada do que é / sabe // Porque na nossa / por exemplo / tinha / mas era so ... eles tinham aquilo de que realmente a escola tinha condiçoes // Escola particular / né / e colégio de freira // Nao / pública // Pública // Pública // mas era assim // (E) mecanografía / porque conseguiram / Ah onde // / umas máquinas de escrever / Ham-hm sabe Deus e tinha // também / acho Ham-hm // que análises químicas / mas sinceramente boratório muito pobre na escola / acho que tinha um la- /Pois e nao é // posso imaginar que fosse fazer alguma coisa mesmo de ( ) ...mesmo a ( ) a parte de mecano- 106 [I]- grafia / eles aprendiam realmente a bater ã maquina / e parava aí // Ham-hm // [I]— era auxiliar de administraçao / nao era nem mecanografía // Ham-hm // I — Pois ë /mas você ve / a questão do particular ou não / também isso / quer dizer / implica // lá ë particular / mas (E) não sei se por questão de ser de freira / que elas têm / que elas acham que tem que cumprir tudo direitinho / que cumpriam / porque lã ... porque outros particulares que pudessem muito mais / poderiam muito mais / por exemplo / esses grandes cursinhos que nao têm 29 grau / dentro da lei / e que nao mantém isso // H — E que teriam realmente condiçoes // I — Muito melhores do que lá // porque o cursinho / nao / o cursinho [H]- Ë // ë fábrica de vestibulando / në // H — Ë // ele tã interessado em ver que as pessoas [I]- sejam aprovadas ou Claro // nao no vestibular // o resto ... e tem outro detalhe ... agora ë curioso / porque o teu ë colégio de freira // porque quem vai pra cursinho / jã vai pensando em faculdade // então o compromisso do [ I ] - t u cursinho / ë com a faculdade // quem entra inclusive no Positivo / desde / desde pequenininho / desde o primãrio / e mesmo 5? série / tudo / (E) pessoas assim que ( ) (Ã) os pais já tao pensando em preparar pra faculdade/ pra um curso / pra uma coisa assim // e ( ) então / eles nem têm ... o compromisso deles com os pais é em relaçao mais a ( ) ... I — Pois é // agora o que teria de vantagem dentro da lei / se fosse [ H] — Ë a vestibular // aplicada realmente / como ( ) como se sonhou [H]profissionalizante / principalmente [H]— profissionalizante // /, pode-se dizer / o 0 / pra esse pessoal de escola pública / que deseja trabalhar / que ... não ë que deseje só / porque tem que trabalhar / não ë / e que teria ... [ H] — Porque tem que ter realmente uma profissão / uma coisa assim // [i]— Exatamente // que teria uma iniciação // H — Uma especializaçao / né // e depois se falava muito também na ne[I]tu cessidade técnica / logo que começou a se implantar // I — Ë / e isso mesmo // e depois morreu isso // 107 H — Morreu // nao/ nao // nao ficou em nada // agora /é curioso / porque a Escola Técnica / sempre foi profissionalizante / sempre conseguiu dar o 29 grau // I — Com uma concorrencia incrível / né // tem até vestibular pra entrar // H — Pois e // e funciona / né // por que que o resto vai mal // I — Mas / justamente // é o que eu te digo // pelo fato // a lei abriu / essa possibilidade / mas ao mesmo tempo abriu a possibilidade de que os outros enganassem // entao uns cumprem / outros não // é [H]- claro / por exemplo / houve evasao / do nosso 29 grau em relaçao a Ê // porque [H]— cursinhos // quando hã exigencia / começa ... I — Lógico // entao tem que cumprir X horas de estãgio / (A) no caso eram só ( ) sao só meninas em 29 grau / por enquanto / infelizmente ainda // mas no caso / entao / elas / se têm possibilidade/ se nao têm tanta necessidade do curso profissionalizante / elas pulam pra lã / porque justamente em função de cursinho / elas terão mais tempo / né / por questão do vestibular / que fogem // [ H] — Ë // É // também / o publico / a t II I H — clientela que é atendida pe ( ) pela escola [ilt u / é uma escola também preocupada com / uma clientela preocupada com o vestibular // I — Pois é // H — Eu nao sei // eu vejo também ... depois é aquele negócio / né / caiu / recaiu / abriram uma quantidade / abriu-se uma quantidade / [i]— diminuiu-se a qualidade // e ( ) ficou realmente ( ) por uma preoA qualidade // cupaçao / eu acho ( ) que em geral / da ( ) da ( ) nao seria específica da lei // a lei abriu pruma maior quantidade / isso deveria ser o ideal / mas não ( ) não / não viu que não havia condições/ na propria sociedade / dentro dos estabelecimentos que estavam funcionando / de poderem atender aquelas reivindicações // I — Pois é // voce vê numa escola de interior / por exemplo / vai montar um curso profissionalizante // que condiçoes tem // H — E depois mesmo em relação a mercado / né / porque daí eles hao tem [I][i]— . . . eles ( ) a única coisa que eles conseguem é auxiliar de De escritorio / essas coisas assim que ( ) requer menos material escritório // // 108 I — Então/ por exemplo / assim na ãrea de saúde que seria assim necessidade premente / né / nao tem condiçoes porque nao pode montar // H — Ë // o material é muito caro / e nao dá // I — Tanto é que aqui se dá bolsa em nivel de 29 grau / só pra curso de saúde // por exemplo / Administração / (E) Secretariado / já não [ H] — tao dando mais / justamente porque / tem muitos / né / e que denUm monte de [ H]— tro da área de saúde tem muito pouca gente // e então elas estagente // e // riam incentivando / agora / a área de Saúde // mas mesmo assim ... H — Ë // eu acho que ... e depois / agora eu nao sei / porque agora caiu o profissionalizante de novo / né // I — [ H] — A vontade // pode permanecer // pode permanecer / justamente por interesse de atender a clientela que precisa depois // Ham-hm // e você jã tem H — toda uma infra-estrutura montada / então ... I — Daí vai permanecer // H — Até nem sei como ê que você foi ... [I]— Eu vejo como uma faca de dois gumes / isso pra I — nós // porque justamente / a í / aí pode ocorrer uma evasao maior ainda // H — Ficam só aque ... [ i] — Claro / porque daí ê preferível 'I — // quem não ( ) não ( ) nessa idade talvez ainda nao estejam assim pensando / nê // quem ainda nao pensa / quem não tem a necessidade financeira de um emprego / ou isso ou aquilo / nao vai querer ficar na escola // por- [H]— É // que vai preferir um lugar / então / onde nao tenha // H — E a clientela de vocês lã / acho que a maioria nao precisa / né // I — Pois agora tã modificado // II - Ah / é // I — Ë // inverteu-se // H — Então deve tã havendo um problema enorme / nê // I — Ë // tem menos número jã de gente que nao ( ) que nao precisaria // então / acho que essas vao acabar saindo mesmo // H — E como ê que ( ) com essa diferença assim de pessoa / (E) de pes- soa de renda menor (E) e de pessoal que você tradicionalmente tinha / e que era de uma renda mais alta / como é que se dã o entrosamento / o ( ) .... I — [H]- Entre as alunas / principalmente entre os pequenos / não hã probleË 109 ma / de aluno pra aluno / tanto quanto hã de pais / e m relação / aos alunos carentes [ H] — / por exemplo // de nao querer que a filhinha Ah / é / é / / se misture / ou isso ou aquilo / sabe // mais por questão / assim / de os pais incutirem ãs vezes na criança // mas por ela mesmo,... H — [i]— Ë / os pequenos eu acho que nao // Ninguém nem sabe quem i quem dentro da sala // H — É // mas adolescentes / eu acho que jã é mais problemático // I — Existe uniforme / justamente pra ( ) pra impedir assim / os altos desfiles / né / se fosse o caso / ou coisa assim // mas elas nao ( ) não / nao se hostilizam assim / em comportamento / assim / porque sao turmas muito pequenas [ H] — / ate dez alunas / quinze alunas / Ham-hm // entao / nao ( ) nao tem ainda / nao chega ao problema // mas essa questão que ela abordava da recuperaçao / isso eu acho / assim uma ( ) uma judiaçao o que se faz com as essas recuperações // H — Ë // essa recuperaçao é uma coisa ridícula / né // tã ali na lei e diz que realmente ( ) ... mas nao funciona / de maneira nenhuma // -I — Como é que você vai recuperar um bimestre / nao é / numa aula de [ h ] - tu 90 minutos // H — til recuperaçao deveria ser aquela recuperaçao paralela I que você vai fazendo / â medida que voce vai dando novos assuntos / você jã vai revisando sempre os ( ) os anteriores / e como pré-requisitos [I]Pois é // pra voce entender o que vem a seguir // mas recuperaçao mesmo ... o que eu acho que seria ideal / nao seria propriamente / reprovação II sou contra //achar que infelizmente / se a criança vai mal em Matemática / vai mal numa disciplina / ela deva perder o ano inteiro / mas que . . . dizer o que eu acho também ê um negócio meio [ i] — H — utópico / que seria necessário também ter ... Sistema de dependência // Ë / sistema de dependência / funcionando assim em horários ... a criança normalmente vem pra aula ã tarde// ela não conseguiu acompanhar o programa de Matemática daquele ano / entao ela passa pro ano seguinte / mas ela vem fazer recuperação / daquela que ela continua tendo / continua normalmente / nê / o currículo dela continua seguindo / mas ela vem fazer recuperação de Matemática pela manha //mas isso demandaria mais sala de aula / mais professores // I - Claro // 110 H — Então também nao seria uma coisa aplicável â nossa realidade // o grande defeito da lei / eu acho que aquele ( ) aquele velho defeito de tudo ser feito no Brasil / um grupinho de pessoas decide // I — De cadeira // H — Hum-hm // I — Diga-se pois / porque nao ë da prática nao / que eles tiram isso // H — Não/ não// simplesmente eles ( ) ... sei lã / lêem em algum lugar / vêem que no outro país e assim / ou qualquer coisa assim / resol- vem / em vez de reformar / ou de pelo menos tentar adaptar jã tã funcionando / corrigir apenas o que tã indo mau o que / então se destrõi tudo que jã foi feito até aqui / e se implanta uma coisa nova / vinda de fora / sem a menor chance / assim / sem a menor consulta / pra quem / pros verdadeiros interessados opinarem so- bre / né // I — É // e se surgir / no caso / uma contra-reforma / né / como dizem que viria por aí / também nao vai ser a partir de escutar o professor/as dificuldades / a propria criança / nê // o adolescente // [H]— Não // H — Os pais // I — Nada disso / vai ser a partir / H — Dos pais / . I — [H]— Ë // vai ser a partir ... Vai ser de novo / I — De novo / de cima pra baixo / né // [ H] — Mais uma coisa de cima pra baixo // I — Vertical / né // H — Vertical // eu me lembro até que quando (E) quando eu comecei a lecionar / a lei jã tinha sido implantada / mas quando eu estava na faculdade / ela ainda estava em vias / quer dizer / ela jã tinha sido áprovada / mas estava ... nao antes até de aprovarem / antes de aprovarem que jã se sabia que Geografia / Organizaçao Social / Historia / i a m ser uma disciplina sõ // entao houve movimentos de , professores de História//movimentos de professores de Geografia / prevendo assim bateladas de cartas cias com ministros / indo até / tentando audiên- / e uma série de coisas em revistas especializadas // publicando artigos / tudo / pra mostrar o que de fato ia acontecer / mas nao adiantou nada //nós inclusive que ( ) acho que andamos encaminhando abaixo assinado / tudo/ na faculdade / tentando ver que nao ( ) nao se fizesse dessa forma / mas acho que foram Ill engavetados / ninguém nem sequer deu uma satisfaçao / se tinha lido ou nao / e ficou por isso mesmo // I — Eu acho que outro problema que se criou / é que o proprio professor atuante na época / ele nao recebeu instruções antes da lei ser aplicada // nao houve preparo / né / pra esse professor // H — E ele nem se sentiu ... [ i]— As reciclagens foram depois da coisa estar praticamente I — pronta // H — Claro // e na medida que era uma coisa de cima pra baixo / que ele [ I] — se sentiu que ele não tinha participado das decisões da lei // que Exa- [i]— ele nao tinha opinado / e que o que ele tinha opinado não tinha tamente // sido ouvido / ele também nao se sentiu responsável pela aplicaçao I X] — da lei // enfao fazia pro-forma / porque tinha que fazer É // / era assim mas ( ) ele ... era um negocio assim / no qual ele realmente [i]— tomava uma parte ( ) meramente formal / ele achava que ... E acredito que isso em 19 I — grau seja mais problemático ainda do que em 29 grau / quando é um [H]- professor / né / que se tem consciência / ele vai / né / estudar a Lógico // lei vai tentar aplicar / né / segundo ( ) adaptando a matéria dele [H]— H — tudo // mas no Núcleo Comum / como é que isso fica // Pois é // Bom // que mais nós teríamos pra dizer sobre a lei // tá //.em relaçao / por exemplo / ã proporção do espaço físico / que a lei ... uma das coisas que eu acho importante é que ela é ... (TS) aquela norma da lei / de que os colégios poderiam ser agrupados em complexos / e ( ) em termos de sala de aula / poderia uma unidade menor aproveitado um colégio maior / mais aperfeiçoado // I — Ë o que faz o Colégio Estadual // H — Eu acho que sim / né // I — Ë o que eles tentaram fazer / né // acho que foi o único que ten[H]Ê // tou aplicar seguindo isso nao foi // H — Ë // os outros eu nao sei se chegou á ser feito realmente / e também nao sei se chegou / efetivamente / né / como deveria ser fei- to // mas eu achava que era um ponto importante / (E) pelo fato de que ( ) na nossa realidade / não se tem muita biblioteca / não se tem muito ... os colégios nao sao muito equipados // 112 I — Laboratorios / tudo / né // H — Isso '// então / um colégio ãs vezes pequeno / que nao tem condiçoes de ter um laboratório / uma biblioteca / poderia usar dependências de um colégio maior // I — Hum-hm / / H — Isso eu achava que era ura ponto positivo / e que se fosse bem ( ) (E) organizado / realmente teria surtido efeito // I — E ( ) ainda existe um outro problema aï / que seria rivalidade / ãs vezes que existe entre uma escola e outra / né // por um lado poderia ... sempre se tem isso / né / que se ouve de um pro outro / [h]— Ham-hm // tal / poderia sanar // H — Entre os alunos / nê // I — Um problema assim / né / entre os próprios alunos com maior integração / né / / H — É / entre os alunos isso ê muito freqüente // entre professores nem tanto / mas entre alunos / eles têm realmente um espírito muito [I]t u competitivo / né // isso também é ... sobre esse aspecto também melhoraria bastante // eu vejo ... só que nao sei / me parece que nao foi muito bem encaminhado // I— Outra coisa assim que a gente sente / é que não foi feito nada / assim pra avaliar o que estivesse sendo feito da aplicaçao da lei / nê // H — Exato // e ela foi aplicada e não ... [I]Feedback assim em cima disso nao houve / né // H — Nao houve / nao // eu pelo menos nao tenho notícia de nada // I — Nem eu // H — A nao ser / eu acho que alguma deve ter aí. / em algumas teses na e biblioteca que tem / mas só sobre uns setores / né / sobre ... [i]— É uma pessoa I — também e nao uma equipe // H — E uma pessoa / e não uma equipe e nao ... mesmo do ministério que seria o caso / nê // I — t U outro problema também que gerou / ãs vezes / foi a questão das transferencias / né / de um local pra outro / no fato dos cur[H]Ah / foi o fato do ... sos profissionalizantes / ainda né // H — Os currículos não coincidiram // / por exemplo / principalmente / HZ I — Ê // então aí você teria que fazer aquelas famosas adaptações que que sao previstas / nê // então / então veja você / pòr exemplo / num 19 ano de 29 grau / onde ( ) (E) aluna vinda de fora / dum curso na área de saúde / mas nao / por exemplo / Básico de Saúde / ou Enfermagem Auxiliar / sabe // H — Isso // I — Então ela chegava e tinha ( ) ela nunca tinha tido Anatomia //che- gava pro 39 ano // Anatomia aqui e dada no 19 // então ela fazia / [ H] — faz ainda / uma avaliaçao ou duas / dependendo dá quantidade de Ham-hm // matéria // se é demais / pra voce nao judiar demais do aluno/ porque ele vai ter que estudar sozinho / ou se dá lá um conteúdo de um livro todo / quer dizer / ele vai ter que estudar tudo aquilo sozinho // se ele entendeu / entendeu que se virar por conta dele mesmo / H — pra adaptar / nê // Mas isso jã havia antes mesmo com a outra lei / nao em relaçao a profissionalizante [ l]— // se nao entendeu / vai ter // eu lembro por exemplo / que quando eu fazia o 29 grau / eu fiz um ano de normal e desisti / e resolvi fazer o Hum-hm // científico e ( ) então eu teria passado / eu passei pro 29 normal / mas quando eu fui me matricular / eu teria que fazer as adapta- ções no científico / e as disciplinas que eu nao tinha cursado no normal // e como eram muitas disciplinas / eu achei que era muito melhor/ eu fazer a matrícula no 19 ano do científico / e fazer o ( ) científico normalmente // I — Pois é // mas e aí ( ) (A) o que eu acho pior é no caso do curso profissionalizante / quando o aluno teria que ter uma parte prãtica // H — Ah bom / daí ë bem mais complicado // , [i]— Que isso fica / nê / fica por conta da ava[H]— t U I — liaçao teõ ( ) da parte teórica // [ H] — Que fica com a parte teórica // jã conside- H — ra a parte prática // ë / isso ë uma coisa assim meio absurda [i]Hum-hm // / não faz sentido mesmo // I - t // H — E ( ) em relaçao / por exemplo / uma coisa que talvez também nao tenha muito a ver com a lei / embora a lei pudesse ter pensado nesse aspecto mas / nao ( ) nao me parece que ela fez qualquer referên- 114 cia a isso / ou qualquer especificidade em relaçao a isso / ao fato do tipo da criança que a gente tá recebendo na escola / é uma criança diferente da criança que normalmente se recebia ate há pouco tempo na ( ) nas escolas // porque a escola foi preparada / por exemplo / pra ter crianças apenas de classe média / em que os pais têm tempo pra atender / pra cuidar / pra orientar nas lições / e tudo mais // e a criança que a gente tá recebendo agora / ë uma criança muitas vezes que vem de ( ) de ( ) de locais humildes / nê / de uma família humilde / com mae / pai que nao dispõe de tempo / e nem condiçoes / mesmo pra ( ) de conhecimento pra poder atender / e a gente continua (E) dando a ( ) a matéria e ( ) insistindo em currículo (E) de forma que a criança precise desse auxílio dos pais// i - t u . H — A maior parte que a gente vê / principalmente / em ( ) em escola primária / de 1? a 4? série / a criança que nao tem colaboraçao do pai / que não tem um pai orientando pra fazer as lições / que nao tem ... ela acompanha muito mau // I — Com maior dificuldade // H — Muito mau // ãs vezes / inclusive / ate reprova / porque ela nao tem ( ) ... e os pais nao têm condiçoes [i]— // eu sei por exemplo de mae / que me falou / que até o 29 ano / a criança ia bem / Porque ela I 111 — Por- I — sabia ... H — que ela sabia o conteúdo // exatamente // [i]tu H — Ela sabia / por exemplo / dividir por um número / que eram as conti]— Hum-hm // tinhas (E) do 29 ano / ela conseguia // quando chegava / que che- gou no 39 ano / que as contas ficaram mais complexas / e com divisão por 3 números / ela nao sabia fazer / e a criança tava acompanhando muito mal // I — Ham // , H — Entao / nisso eu acho assim / que a lei nao se preocupou com esse aspecto / aquele negocio / o ensino é livre / ê pra todos obrigatorio pra todos / mas dado / muitas vezes [I]- / não / é tem que ver que a forma como ele ê ( ) faz com que esse pra todos / na realidade nao seja pra todos / né // seja apenas pra uma minoria / Ë // que dispõe de condiçoes de assistência paralela â escola / maior 115 informação / e tudo // I — E pelo que se sabe / também / o problema da evasao nao diminuiu com a aplicaçao da lei // H — [i]— Nao // eu acho que pelo contrãrio pudesse até aumentar / não que Pois é // pelo contrãrio / né // [ X] — isso também tenha a ver diretamente com a lei / mas tem a ver com Com a lei // [I]- todo o processo de ensino / né // toda maneira como ele tã sendo tu' dado / como ele ta sendo conduzido // eu sei que tem vãrios aspectos assim / que a gente vai aos poucos lembrando / agora esse do ( ) dos pais assim / eu acho uma coisa / sei lã / eu acho que talvez seja das coisas mais graves que exista // I - Ë // H — Porque a gente pensa crianças / nos que a gente conhece / (E) pais que têm ( ) pequenas / na realidade eles estão constantemente atendendo // I - Claro // H — E quando nao atendem / mesmo os pais de classe média / nê / que podem / que dã assistência / quando eles param de dar por algum motivo / as crianças entram em recuperaçao / entram então me parece que ê uma falha da escola / que a escola tã transferindo uma responsabilidade / que é dela / pros pais / pra família // [i]— Pros pais // E depois a criança jã vem I — pra escola tao habituada a ter tudo pronto que ela é incapaz de por ela mesma querer fazer as coisas / mesmo na hora da prova / quando ela lê uma ( ) uma questão / durante a avaliaçao / ela lê / ou estã ali bem certinho o que é // dizendo o que é pedido / ela pergunta // [H]— tia / né // o que isso quer dizer // éincapaz de pensar por ela // Ham-hm // o que é isso // o chega na hora da prova dã ( ) pânico // REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Os Tons do Portugués Mimeografado. Brasileiro. 1 CAGLIARI, L.C. pinas, 197 9. 2 CHOMSKY, N. Aspectos da A.Amado, 1975. 372 p. 3 CINTRA, G. Meio e Mensagem na Comunicação Oral. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos Lingüísticos. Campinas, Pontifícia Universidade Católica, 1982. p.23-30. 4 DUBOIS, J. Vlcionánlo trix, 1973. 653 p. de Lingüística. 5 GUIRAUD, P. Semiology. 1975. 106 p. London, 6 HIRSCH JR., E.D. The Philosophy o{¡ Composition. Chicago, University of Chicago Press, 1977. 200 p. 7 KENDON, A. Gesture. 8 LITOWITZ, B.E. Writing rom a Vev elo pm entai tive. Evanston, 1978. Mimeografado. 9 LYONS, J. Semantics. Press, 1978. 2 v. Teoria da Sintaxe. Coimbra, são Paulo, Cul- Routledge Nonverbal Communication, The Hague, Mouton, 1980. Cambridge, Cam- & K.Paul, Interaction 548 p. Cambridge and Perspec- University 10 MARTINS, A.S.N. Algumas Características do Português Falado. In: GRUPO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Estudos Lingüísticos. 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