pesquisa Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão RESUMO João Andrade Silva1, Leonardo Ferreira Soares 2 , Elizabete Lourenço da Costa3 Em virtude da falta de um melhor controle sanitário durante sua produção, a carne de aves tem sido responsável por um elevado número de surtos de toxinfecções alimentares. Com o objetivo de reduzir a contaminação inicial e, conseqüentemente, os riscos de toxinfecções, soluções contendo 1,0 ou 2,0% de ácido lático ou ácido acético e suco de limão integral e diluído a 50% foram utilizadas na sanitização de carcaças de aves destinadas ao consumo humano. Aproximadamente uma hora depois da sanitização, realizou-se a contagem total de bactérias mesófilas, bolores e leveduras, número mais provável de coliformes totais e fecais e pesquisa de Salmonella spp. Os resultados encontrados foram comparados àqueles obtidos pelas mesmas determinações, antes dos tratamentos. Todos os tratamentos apresentaram eficiência na redução da contaminação inicial das carcaças de frango, porém, os resultados do tratamento com ácido acético foram superiores aos obtidos com ácido láctico, eliminando inclusive a presença de Salmonella spp e reduzindo significativamente a contagem total de bactérias aeróbias, bolores e leveduras, e de bactérias do grupo coliforme. A sanitização com o suco de limão também reduziu significativamente a contaminação das carcaças de frango. Palavras-Chave: ácidos orgânicos, carne de aves, microrganismos, sanitização, suco de limão Prof. do Dep. de Nutrição CCS/UFPB. 2 Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos 3 Aluna do Curso de PósGraduação em Engenharia de Alimentos FEA/ UNICAMP 1 Dep. de Nutrição CCS/UFPB Endereço: Rua Praia da Ponta Negra, 51 Conj. Água Fria CEP 58073-510 João Pessoa PB. e-mail: [email protected] SUMMARY Sanitation of Poultry Carcasses by Manifactured Organic Acids and Lemon Juice. Due to the lack of hygienic control in its production, various food diseases have been caused for poultry consumption. Aiming to reduce poultry contamination, and dangers of this food born, the carcasses were sanitized with lactic acid and acetic acid containing 1,0 or 2,0% acid in sterile water, and integral lemon juice and diluted (50% v/v). An hour after treatment were determinated the aerobic plate count bacteria, mold plate count, yeast plate count, coliform and fecal coliforms, and the presence of Salmonella sp. The results of analyses were compared with same analyses before sanitation. All treatments reduced initial contamination in poultry carcasses, but acetic acid solutions eliminated Salmonella sp., that also were the most effective in aerobic plate count bacteria, total and fecal coliforms, and mold and yeast reduce. The lemon juice also reduced satisfactory initial contamination of poultry carcasses. Key Words: lemon juice, microorganisms, organic acids, poultry, sanitation 19 pesquisa A carne é uma porção de tecidos comestíveis localizados entre duas regiões muito susceptíveis à contaminação: a parte externa, coberta por pêlos, lã ou penas, e a parte interna, onde se localiza o trato intestinal. Durante o abate dos animais de açougue, preparação de suas carcaças, conversão dos músculos em carne e sua subseqüente comercialização, ocorre todo um processo de manipulação, que pode aumentar a microbiota contaminante. O principal objetivo no abate de animais domésticos para o consumo humano é a obtenção da carne com a menor contaminação possível (Silva, 1995). A contaminação pode ser a principal responsável tanto por perdas econômicas, provocadas pela deterioração da carne, como também pelos problemas ligados à saúde do consumidor, em função da ingestão de bactérias patogênicas ou das toxinas por elas produzidas. De acordo com estudos realizados por Nortjé & Naudé (1981) e Tompkim (1983), muitos gêneros de bactérias podem ser isolados da carne de animais de açougue, no entanto, os mais importantes são os patogênicos e os deterioradores, principais responsáveis pela perda de qualidade da carne e de seus derivados. Devido à sua composição, rica em elementos nutritivos necessários ao desenvolvimento microbiano, a carne é muito perecível, podendo deteriorarse em um breve espaço de tempo. Sua vida-de-prateleira depende, principalmente, da contaminação da carcaça durante o processo de abate. O tipo e o número de microrganismos presentes na carne refletem o grau de sanitização do abatedouro, como também das condições de armazenamento após o abate dos animais, o que naturalmente define a sua qualidade (Ali et al., 1982). Na opinião de Butler et al. (1979), a determinação desses microrganismos é de suma importância para se fazer o controle de qualidade da carne e de seus derivados. 20 Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> De acordo com Silva & Almeida (1992), a contaminação microbiológica das carcaças de frango é representada, seja pela microbiota oriunda das aves vivas e, seja devido à incorporação de bactérias presentes em qualquer uma das fases do abate e do processamento. Um ponto crítico na operação de abate é, sem dúvida nenhuma, a contaminação cruzada, na qual vísceras, às vezes perfuradas, podem entrar em contato com as carnes limpas, tornando-as potencialmente perigosas, uma vez que microrganismos patogênicos de importância em saúde pública podem estar presentes no trato digestivo dos animais. A microbiota das aves vivas se encontra principalmente em sua superfície externa (penas, espaço interdigital e tegumentos cutâneos), no trato digestivo e, em menor grau, no aparelho respiratório. Segundo Garcia (1995), essa microbiota é muito variada. A maioria dos microrganismos que alteram a carne fresca são bactérias aeróbias mesófilas e algumas delas são causadoras de toxinfecções alimentares. Entre esses microrganismos podem ser incluídos Salmonella spp., Clostridium botulinum, C. perfringens, Campylobacter spp., Escherichia coli enterohemorrágica, Listeria monocytogenes e Staphylococcus aureus. O fator mais importante para reduzir a presença desses microrganismos é sem dúvida a higienização nos locais de abate e manipulação (Nottingham, 1982; Smulders, 1986; Schmidt, 1989). No entanto, apesar do aumento e da sofisticação nos cuidados higiênicos e na sanitização da superfície das carcaças, ainda são encontrados contaminantes patogênicos como Campylobacter e Salmonella spp. nessa superfície (Smulders et al., 1986; Dickson, 1988; Siragusa & Dickson, 1993). Portanto, a sanitização da carcaça deve ser incluída, como operação de rotina, no processo de abate de animais para consumo humano, no sentido de eliminar, ou pelo menos reduzir, a incidência desses contaminantes (Smulders & Woolthuis, 1985; Schmidt, 1989; Dickson & Anderson, 1992). Sanitizantes como hipoclorito de sódio e quaternário de amônia são utilizados na indústria de alimentos para destruir microrganismos existentes em superfícies que entram em contato com os alimentos. Alguns agentes de sanitização, como os ácidos orgânicos, podem eliminar microrganismos em superfícies de alimentos sólidos como a carne (Silva, 1995). Os microrganismos que contaminam a superfície da carne durante o abate podem ser removidos, subseqüentemente, por lavagem com água potável (Anderson & Marshall, 1990) e/ou por sanitização com agentes físicos ou químicos (Acuff et al., 1987; Anderson et al., 1988). Os ácidos lático e acético como sanitizantes em carcaças de animais abatidos para consumo humano são recomendados por Adams & Hall (1988) pelo fato de sua toxicidade ser alta contra os microrganismos e baixa contra os seres humanos. Segundo Corlett Jr. & Brown (1980), a ação antimicrobiana desses ácidos resulta de sua ação lipofílica, durante a qual os íons de hidrogênio penetram a membrana celular do microrganismo, acidificando o seu interior e inibindo o transporte de nutrientes. Ultimamente, o uso de ácidos fracos, particularmente os ácidos lático e acético, vem sendo objeto de grande interesse na redução da carga bacteriana da carne fresca (Dickson, 1988; Hamby et al., 1987; Siragusa & Dickson, 1993; Cutter & Siragusa, 1994; Xavier & Beraquet, 1994; Silva & Beraquet; 1996). De acordo com Snijder (1985), citado por Prasai et al. (1992), o ácido lático exerce tanto efeito bactericida, imediatamente após a sua aplicação, como efeito bacteriostático, de ação prolongada, na extensão da vida-de-prateleira da carne. Van Netten et al. (1994) estudaram a ação bactericida do ácido lático pesquisa a 2,0% em bactérias patogênicas presentes na carne. Os testes foram realizados in vitro, em intervalos de tempo entre 30 e 120 segundos. O tratamento foi efetivo contra Campylobacter jejuni e Salmonella typhimurium, mas revelou-se ineficiente contra Listeria monocytogenes e enterobactérias mesófilas. Muitos agentes químicos que têm sido utilizados para reduzir a carga bacteriana no tanque de escaldagem, lavagem e resfriamento de carcaças de frangos não foram completamente aceitos devido aos custos elevados, resíduos químicos ou descoloração da pele (Yanbyn, 1994). O ácido acético, além de não apresentar tais problemas, pode reduzir a população microbiana pelo abaixamento do pH dos tecidos da superfície da carne e pela mudança de permeabilidade na membrana da célula microbiana. Reduções na contagem de bactérias podem ser obtidas pela adequada sanitização com soluções de ácidos orgânicos (Osthold et al., 1984; Greer & Jones, 1991; Lambert et al., 1991). Portanto, o objetivo deste trabalho foi verificar a viabilidade da sanitização de carcaças de frango pela aspersão com soluções de ácidos orgânicos como ácido acético, ácido lático e suco de limão, como forma de reduzir a sua contaminação inicial. Material e Métodos Para o desenvolvimento deste trabalho foram utilizadas 54 carcaças de frango adquiridas em abatedouros comerciais e transportadas sob refrigeração para o Laboratório de Microbiologia de Alimentos DTQA/ CT/UFPB, onde foram submetidas a tratamentos com soluções de ácidos orgânicos e suco de limão. Os tratamentos foram realizados com soluções de ácido lático e ácido acético, em concentrações de 1,0 e 2,0%, e suco de limão (Citrus limonum L.), integral e diluído a 50%. As soluções foram preparadas com ácido 21 Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> acético glacial a 99,7%, ácido lático a 85,0% e água destilada estéril. Após a coleta das amostras para verificar a contaminação inicial, as carcaças foram penduradas pelos pés, com o auxílio de ganchos de aço galvanizado, e sanitizadas por aspersão com as soluções de ácidos orgânicos e suco de limão descritas no item anterior. As amostras para as análises microbiológicas foram coletadas antes e uma hora depois de cada tratamento. A amostragem foi realizada utilizando-se uma zaragatoa e um molde de aço inoxidável estéril, com área contínua de 25 cm2, sobre a pele do dorso da carcaça, seguindo as recomendações de Cotta & Delpech (1995). Após a coleta, as amostras foram diluídas em tubos contendo 25 ml de água peptonada estéril, de modo que cada mililitro dessa suspensão representou 1,0 cm2 de superfície da carcaça. Contagem total de bactérias mesófilas - Efetuadas as diluições necessárias, 1,0 ml de cada diluição foi plaqueado, em plate count ágar (PCA) e as placas foram incubadas a 37 °C por 48 horas. Pesquisa de bactérias coliformes - Essa determinação foi realizada pela semeadura de 1,0ml de cada diluição em uma série de três tubos contendo caldo lauril-sulfato triptose e incubados em estufa bacteriológica a 35 °C por 48 horas. Dos tubos que apresentaram formação de gás no interior do tubo de Duhran (teste presuntivo positivo), foram repicados com alça de platina: para tubos contendo caldo verde bile brilhante, e incubados em estufa a 35°C por 48 horas para verificar a presença de coliformes totais, e para tubos contendo caldo EC, que foram incubados em banho-maria a 44,5±0,2°C por 24 horas, para verificar a presença de coliformes fecais. Contagem total de bolores e leveduras - A contagem total de bolores e leveduras foi realizada utilizando-se o método de diluições e semeadura em placas contendo potato dextrose ágar (PDA), acidificado com ácido tartárico a 1,0%, incubadas a 25°C por um período de três a cinco dias. Pesquisa de Salmonella spp. - Para essa análise, os tubos contendo as amostras foram incubados por 24 horas a 35°C, para o pré-enriquecimento. Em seguida, 1,0 ml do inóculo foi transferido para uma série de tubos contendo 10 ml do caldo tetrationato e incubados em banho-maria a 35°C por 24 horas. Simultaneamente, 1,0 ml do mesmo inóculo foi transferido para uma série de tubos contendo 10 ml de caldo selenito cistina, que foram incubados a 43°C, em estufa, por 24 horas (enriquecimento seletivo). Na seqüência, alíquotas dos tubos de caldo tetrationato e de selenito cistina foram repicadas para ágar xilosedesoxicolato e ágar entérico Hektoen, por meio de alça de platina ou níquelcromo, e incubados em estufa a 35°C por 24 horas. Colônias características no ágar xilose-desoxicolato (pequenas colônias com centro negro e halo rosa) e no ágar entérico Hektoen (pequenas colônias com centro negro e halo azul) foram submetidas à identificação bioquímica. Todas as análises foram realizadas seguindo recomendações de Vanderzant e Splittstoesser (1992). Todas as análises foram realizadas em triplicata e os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância pelo teste Tukey, para um intervalo de confiança de 95%, utilizando-se o Statistical Package for the Social Sciences (1992). Resultado e Discussão Contagem total de bactérias aeróbias mesófilas - Os resultados da contagem total de bactérias aeróbias mesófilas nas carcaças de frango, realizada antes e depois dos tratamentos por aspersão, nas carcaças de frango com as soluções de ácido lático 1,0% e 2,0% (v/v); ácido acético 1,0% e 2,0% (v/v); e suco de limão integral e diluído a 50% (v/v), são apresentados Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> pesquisa na Figura 1. Com exceção do tratamento realizado com a solução de ácido acético a 1,0%, todas as soluções utilizadas reduziram significativamente (p<0,05) a contagem total de bactérias aeróbias mesófilas, comparandose os resultados obtidos antes e depois dos tratamentos. O tratamento com a solução contendo 1,0% (v/v) de ácido lático reduziu a carga microbiana das carcaças de frango em 1,11 ciclo logarítmico. Reduções ainda mais expressivas foram conseguidas no tratamento das carcaças com soluções contendo 2,0% (v/v) desse mesmo ácido, no qual ocorreu uma redução de 1,65 log ufc/ cm2. O tratamento com a solução de ácido acético a 2,0% reduziu a contaminação das carcaças de frango em 1,30 ciclos logarítmicos. Os melhores resultados foram observados nos tra- tamentos realizados com o suco de limão diluído e integral, quais sejam, 1,89 e 2,12 log ufc/cm2, respectivamente. Van Der Marel et al. (1988), utilizando uma solução de ácido lático 1,5% (v/v) em carcaças de frango, também conseguiram redução de 1,00 ciclo logarítmico. Prasai et al. (1991) obtiveram resultados ainda mais expressivos: a redução de 95% na contagem total de bactérias após aplicação do ácido lático a 1,0% (v/v). Resultados semelhantes foram observados por Greer & Dilts (1991), utilizando soluções de ácidos acético, lático e cítrico em concentrações variáveis entre 1,0% e 3,0% (v/v). Hamby et al. (1987) e Woolthuis et al. (1984) também utilizaram soluções contendo 1,0% de ácido lático na sanitização de carcaças de animais recém-abatidos e concluíram que o tra- Log UFC/cm2 Figura 1 – Contagem total de bactérias aeróbias mesófilas encontradas nas carcaças de frango, antes e depois dos tratamentos 3,31 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 3,35 3,12 3,29 3,10 3,32 2,30 2,20 1,80 1,70 1,40 1,20 Antes do tratamento Após o tratamento Ác. lac. Ác. lac. Ác. ac. Ác. ac. Suc. lim. Suc. lim. 1,0% 2,0% 1,0% 2,0% dil. int. Tratamentos Figura 2 - Contagem total de bolores e leveduras encontrados nas carcaças de frango, antes e depois dos tratamentos Log UFC/cm2 2,5 2,20 2,20 2 1,50 1,5 1,50 0,80 1 0,90 1,10 1,301,20 1,20 1,10 1,10 Antes do tratamento 0,5 Após o tratamento 0 Ác. lac. Ác. lac. Ác. ac. Ác. ac. Suc. lim.Suc. lim. 1,0% 2,0% 1,0% 2,0% dil. int. Tratamentos 22 tamento reduz a contaminação inicial das carcaças, sem provocar perdas nas propriedades sensoriais da carne. Ponce & Guerrero (1990) não encontraram nenhuma diferença nas características físico-químicas da carne após o tratamento com soluções contendo até 2,0% de ácido lático, observando também que o odor da sua superfície também não foi alterado. Van Der Marel et al. (1988) explicam que no processo de sanitização com o uso de soluções de ácido lático formase um filme na superfície da carne, com uma ligeira diminuição no pH e conseqüente redução no número de microrganismos. Contagem total de bolores e leveduras - Na Figura 2 estão sendo apresentados os resultados da contagem total de bolores e leveduras das carcaças de frango antes e depois dos tratamentos com as soluções de ácido lático 1,0% e 2,0% (v/v), ácido acético 1,0% e 2,0% (v/v) e suco de limão integral e diluído a 50% (v/v). Todos os tratamentos efetuados reduziram a contagem total desses microrganismos. De forma semelhante, após tratamento do tensor da fascia lata da carcaça bovina com soluções dos ácidos láctico, acético e cítrico, Silva (1995) conseguiu obter contagens inferiores às observadas nas amostras sem tratamento. O tratamento com as soluções contendo 1,0 e 2,0% (v/v) de ácido lático reduziram a carga de bolores e leveduras das carcaças de frango em 0,70 e 0,60 ciclos logarítmicos respectivamente. O tratamento das carcaças com soluções de suco de limão integral e diluído a 50% (v/v) provocou uma pequena redução, em torno de apenas 0,10 ciclo logarítmico. O índice de maior redução foi proporcionado com a utilização do ácido acético 1,0% e 2,0% (v/v), que reduziu em 1,10 e 0,90 log ufc/cm2, respectivamente, as contagens iniciais desses microrganismos. Segundo Lueck (1980), Dezeure-Wallays & Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> pesquisa minação por bactérias aeróbias. Número mais provável de coliformes totais e fecais - Na Figura 3 são apresentados os resultados da pesquisa do número mais provável (NMP) de coliformes totais e, na Figura 4, o NMP de coliformes fecais, antes e depois do tratamento com as soluções de ácido lático 1,0% e 2,0% (v/v), ácido acético 1,0% e 2,0% (v/ v) e suco de limão integral e diluído a 50% (v/v). De acordo com os resultados obtidos, podemos verificar que em todos os tratamentos efetuados ocorreram reduções desses microrganismos, quando os resultados foram comparados com aqueles obtidos antes dos tratamentos. A presença de microrganismos indicadores de contaminação fecal em alimentos alerta para o fato de que uma higienização inadequada durante as Van Hoof (1980), Franco & Landgraf (1996), bolores e leveduras toleram a presença dos ácidos lático, cítrico e acético. Todavia, no presente trabalho, os tratamentos com as soluções de ácido acético reduziram significativamente (p < 0,05) a contagem total de bolores e leveduras na superfície da carcaça de frango. Esse fato também pode ser atribuído à carga mais elevada do microrganismos presentes nessa superfície. Smulders & Woolthuis (1985) observaram a presença de bolores e leveduras em quantidades extremamente baixas em carcaças de animais de abate e relatam a dificuldade em quantificar esses microrganismos nos primeiros 5 dias pós-abate. De acordo com Jay & Margitic (1981), as baixas contagens de bolores e leveduras podem ser relacionadas à baixa conta- Figura 3 – Número mais provável de coliformes totais encontrados nas carcaças de frango, antes e depois dos tratamentos 2,5 Log NMP/cm2 2,03 2,00 2 1,61 1,80 1,79 3,10 1,32 1,5 1 Antes do tratamento 0,70 0,60 1,80 0,51 0,52 0,5 Após o tratamento 0 Ác. lac. Ác. lac. Ác. ac. Ác. ac. Suc. lim. Suc. lim. 1,0% 2,0% 1,0% 2,0% dil. int. T ratamentos Log NMP/cm2 Figura 4 – Número mais provável de coliformes fecais encontrados nas carcaças de frango, antes e depois dos tratamentos (log ufc/cm2). 1,82 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 1,79 1,52 1,70 1,69 1,50 1,20 0,73 0,48 0,49 0,50 0,48 Antes do tratamento Após o tratamento Ác. lac. Ác. lac. Ác. ac. Ác. ac. Suc. lim.Suc. lim. 1,0% 2,0% 1,0% 2,0% dil. int. Tratamentos 23 fases de processamento e manipulação, é um fator que determina perigo potencial de contaminação (Snijder et al., 1985; Franco & Landgraf, 1996). Embora a legislação brasileira não apresente padrões para os níveis de coliformes em carnes (Brasil, 1997), a presença desses microrganismos indica falhas higiênicas no processo de abate. No presente trabalho, verificouse que o número mais provável de coliformes foi relativamente elevado. Os tratamentos com ácidos orgânicos e o suco de limão reduziram consideravelmente a incidência desse grupo de microrganismos nas carcaças de frango. O tratamento com a solução 1,0% (v/v) de ácido lático reduziu em 0,71 log NMP/cm2 de coliformes totais e em 0,62 log NMP/cm2 de coliformes fecais. Maiores reduções foram conseguidas com o tratamento das carcaças com soluções contendo 2,0% (v/ v) desse mesmo ácido, no qual ocorreu uma redução de 1,40 log NMP/cm2 de coliformes totais e de 1,31 log NMP/cm2 de coliformes fecais. As bactérias do grupo coliforme têm o seu crescimento fortemente inibido com a utilização de solução de ácido lático (Snijder et al., 1985). Cutter & Siragusa (1994) conseguiram reduzir de 1 a 2 ciclos logarítmicos o número mais provável de coliformes fecais da superfície da carne, utilizando aspersão com soluções de ácido lático a 5,0% (v/v). No presente trabalho foram obtidos resultados bastante expressivos, quais sejam, reduziuse 90% dos coliformes fecais pela aspersão com uma solução contendo 2,0% (v/v) de ácido lático, sugerindo que em tais concentrações os ácidos podem ser tão eficazes quanto soluções mais concentradas, com a vantagem de não provocar modificações na coloração da superfície da carcaça. A aspersão das carcaças de frango com a solução de ácido acético 2,0% (v/v) reduziu o número mais provável de coliformes Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> pesquisa totais e fecais em pouco mais que 1,0 ciclo logarítmico. Também o suco de limão, tanto concentrado como diluído a 50% (v/ v) em água destilada estéril, reduziu em aproximadamente 1,3 e 1,2 ciclos logarítmicos o número mais provável de coliformes totais e coliformes fecais. Como pode ser observado, não há nenhuma diferença entre os resultados obtidos nos tratamentos com o suco de limão integral e diluído, o que sugere a realização de pesquisas com soluções mais diluídas. Na literatura consultada, nenhuma referência foi encontrada sobre o emprego do suco de limão como sanitizante em carcaças de animais abatidos para o consumo humano, porém Dabbah et al. (1970) conseguiram reduzir em 98% o número inicial de coliformes fecais, utilizando uma solução contendo 1000 ml/l de óleo essencial de limão. Óleos de outras frutas cítricas também foram testados na redução desses microrganismos. O suco de limão a 10 e 25%, utilizado por D’Aquino & Teves (1994), eliminou a presença de coliformes fecais em água para consumo. As análises foram realizadas entre 5 e 10 minutos após o contato do suco com a água. A redução da incidência de microrganismos indicadores da qualida- de sanitária da carne de frango através da utilização de suco do limão confirma uma prática tradicional: a utilização do limão como um descontaminante natural da carne. A utilização de outras substâncias alternativas como soluções de extrato de alho, cebola e gengibre, outrora usadas como flavorizantes, também demonstrou as propriedades antimicrobianas sobre os contaminantes da carne de frango, podendo ser utilizados na preservação da carne (Ziauddin, 1996). A utilização do suco de limão diluído ou integral, além de reduzir significativamente o número mais provável de coliformes, também proporcionou consideráveis reduções na contagem total de microrganismos aeróbios mesófilos. Pela análise de variância, observou-se que apenas o tratamento com solução de ácido lático 1% (v/v) não apresentou diferença significativa (p>0,05) na pesquisa do número mais provável de coliformes totais. Os tratamentos com as soluções de ácido lático 1% (v/v) e ácido acético 1% (v/v) também não reduziram significativamente o número mais provável de coliformes fecais. Pesquisa de Salmonella spp. - Pela portaria n° 451/97, de 19 de setembro de 1997 (Brasil, 1997), que dispõe so- Figura 5 – Pesquisa de Salmonella spp na superfície das carcaças de frango, antes e depois dos tratamentos Presença de Salmonella spp/cm2 5 5 5 5 4 4 4 4 4 3 2 2 Antes do tratamento 2 1 1 1 0 0 Ác. lac. Ác. lac. Ác. ac. Ác. ac. Suc. lim. Suc. lim. 1,0% 2,0% 1,0% 2,0% dil. int. Tratamentos 24 Após o tratamento bre as normas e padrões de controle de qualidade para alimentos, a carne fresca que apresentar Salmonella spp. em 25 g de amostra é considerada inapta para o consumo humano. A Salmonella, porém, faz parte da flora normal do intestino das aves; assim, durante o abate, quando não são obedecidos os critérios higiênicos sanitários, esses microrganismos podem contaminar a carcaça com relativa facilidade. A sanitização das carcaças de frango com soluções de ácidos orgânicos pode ser utilizada como uma forma de reduzir essa contaminação, desde que seja mantido um rigoroso controle higiênico-sanitário, em todas as etapas de abate dos animais. Como podemos observar na Figura 5, dentre as nove carcaças submetidas ao tratamento com a solução de ácido lático a 1,0%, foi detectada a presença de Salmonella spp., antes do tratamento, em cinco delas. Após a sanitização, a presença desse microrganismo ainda foi detectada em duas das carcaças submetidas ao tratamento. Resultado semelhante foi encontrado na sanitização das carcaças com a solução de ácido lático a 2,0%, sugerindo que o aumento da concentração do ácido não exerceu nenhuma influência nesse tratamento. Tanto nas análises realizadas antes quanto nas realizadas depois do tratamento com a solução de ácido acético a 1,0%, verificou-se a presença de Salmonella spp. em quatro das nove carcaças sanitizadas. Esse resultado sugere que, nessa concentração, o ácido acético não apresenta eficiência como sanitizante da superfície da carcaça de frango. Por outro lado, nas análises realizadas depois do tratamento com a solução de ácido acético a 2,0%, não se detectou a presença de Salmonella spp. nas quatro carcaças, em que havia sido encontrado esse microrganismo. Com base nesses resultados, podemos sugerir a utilização do ácido acético, nessa concentração como sanitizante da superfície da car- Silva, J. A.; Soares L. F.; Costa, E. L. - Sanitização de Carcaças de Frango com Soluções de Ácidos Orgânicos Comerciais e Suco de Limão - Revista TeC Carnes Campinas, SP, v.3, n.1, p.19-26, 2001 <http://www.comciencia.br/teccarnes/artigos.htm> pesquisa caça de frango. Estes resultados estão de acordo com os dados publicados por Dickson (1988), ou seja, redução de 76% da presença de Salmonella spp. na superfície da carcaça bovina, após o tratamento com uma solução contendo 2,0% de ácido acético. Frederick et al. (1994) também reduziram significativamente a presença de Salmonella spp. em carne de porco, utilizando uma solução de ácido acético 2,0%, resultados esses que confirmam a eficiência do ácido acético como inibidor da presença de Salmonella spp. em carnes. A sanitização com o suco de limão integral e diluído a 50% (v/v) reduziu consideravelmente a presença de Salmonella spp. na superfície das carcaças. Os dois tratamentos apresentaram resultados iguais, ou seja, das nove carcaças submetidas ao tratamento, em quatro foi detectada a presença de Salmonella spp.; após a sanitização, a presença desse microrganismo continuou sendo observada em apenas uma carcaça. Na literatura consultada não foram encontradas referências quanto ao uso do suco de limão como sanitizante na superfície da carne, porém Dabbah et al. (1970) conseguiram, em experimentos in vitro, reduzir em 98% o número inicial de Salmonella spp. utilizando uma solução contendo 1000 m litro/litro de óleo essencial de limão. A redução da incidência de Salmonella spp. em carnes pode ser viabilizada não só pela sanitização com soluções de ácidos orgânicos em concentrações adequadas, mas também pela higienização dos animais antes do abate; dos locais de abate e de manipulação das carnes, utensílios e equipamentos; bem como pela higienização do pessoal. As condições higiênicas das rações e dos criadouros também podem ter influência decisiva na incidência desses microrganismos em carnes, portanto, a sanitização das carcaças de aves pode ser utilizada para reduzir a presença de microrganismos patogênicos na carne. É importante ressaltar que a sanitização não deve ser utilizada como forma de mascarar as falhas higiênicas que possam ocorrer durante a criação e o abate dos animais, como também no processamento das carcaças. Conclusões Em todos os tratamentos que foram realizados pela aspersão das soluções de ácidos orgânicos houve redução da contagem total de bactérias encontradas na superfície das carcaças de frango. Excepcionalmente, a solução contendo 2,0% de ácido acético eliminou totalmente a presença de Salmonella spp. da superfície das carcaças. No entanto, a contagem total de bolores e leveduras só foi significativamente reduzida nos tratamentos realizados com as soluções de ácido acético. Mas, de modo geral, todos os tratamentos realizados reduziram a contaminação inicial das carcaças de frango. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acuff, G. R., Vanderzant, C., Savell, J. W., Jones, D. K., Griffin, D. B., Ehlers, J. G. Effect of acid decontamination of beef subprimal cuts on the microbiological and sensory characteristics of steaks. Meat Science., v.19, n.3, p.217-226, 1987. Cotta, T & Delpech, P. 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