Joel Silva Ferreira Mata
9.4. A  visitação à comenda de Canha
9.4.1. A  visitação a Canha em 1493
Estudarmos a visitação de 1493, efectuada a 27 de Maio, faz sentido, como termo de
comparação com a que apresentamos a seguir: 1571, véspera da doação ao Mosteiro de Santos
desta vila. Claro que o senhorio de Canha, no princípio do século XVI, não fazia parte dos planos
rentistas do Convento de Santos. Tal incorporação só viera a acontecer pela insuficiência das
rendas, tendo em vista o desejo de lançar o hábito da Ordem de Santiago a um maior número
de mulheres – tal era o sonho do cardeal-rei D.  Henrique não sendo com certeza alheia a esta
mercê –, a influência directa da comendadeira, D.  Helena de Lencastre.
Para este acto dos finais do século XV foram eleitos Luís Pires, escolar em Artes, prior de
Santiago do Cacém e D.  Jorge de Sousa, cavaleiro do Mestre D.  Jorge, no Capítulo Geral realizado
em Lisboa. Competia-lhes visitar todo o Mestrado.
Era comendador de canha D.  Henrique de Noronha, do conselho do rei. O comendador‑mor,
que não estava presente, deixara a representá-lo Rui Dias, seu escudeiro e mordomo149.
Os inquiridores reuniram com as gentes de Canha e do seu termo, na igreja de Santa Maria
de Canha, tendo assistido à missa. Os representantes da Ordem, vestidos com os seus mantos
brancos, conforme os rigores da Regra, mandaram, sob pena de excomunhão, que fossem conservadas todas as coisas da espiritualidade. Aqueles que tivessem bens da comenda ou que tivessem
terras usurpadas e sem título, que viessem falar com o visitador, para se tirarem as anotações e
determinar-se o que fosse justo.
Compareceram os oficiais concelhios: João Gonçalves, juiz ordinário, procurador do concelho
João Pinheiro, vereador Lopo Afonso, procurador do concelho; Pêro Anes, calvo; Martins Anes,
calvo; João Pires, João Fernandes Meira; Martins Afonso; Pêro Gonçalves; e outros homens-bons.
Não faltou também Diogo Dias, escrivão da câmara, da almotaçaria e dos órfãos, tabelião público
que apresentou ao visitador as suas cartas.
Luís Pires encontrou por capelão da matriz João Fernandes, clérigo de missa, mostrando a
sua carta de cura, passada pelo vigário do arcebispo de Lisboa. Luís Pires e Álvaro de Frielas,
seu escrivão, observaram os ornamentos e outros objectos do recheio da igreja.
O capelão recebia de soldada um moio de trigo e outro de segunda, um tonel de vinho na
comenda de Aldeia Galega, ou, em substituição, outro moio de trigo depositado ao pé do altar.
Era da sua responsabilidade espiritual servir o povo todos os domingos, festas principais e
ministrar os sacramentos. Porém, para o exercício de capelão, precisava de uma carta do prior‑mor
da Ordem. Foi-lhe ordenado que a adquirisse durante o mês de Abril, sob pena de multa de
duzentos reais para o meirinho da Ordem.
Quanto à prata, foram inventariados os seguintes objectos:
1.Cálice todo dourado. Tem no pé fogareiros e na maçã seis línguas de fogos. No vaso
tem uma inscrição. Tem uma caixa em couro para sua guarda.
2.Cálice de estanho com patena.
3.Cruz de estanho, em filigrana toda dourada, com um crucifixo branco.
No domínio das vestimentas, anotou o escrivão Álvaro de Frielas os itens seguintes:
1.Vestimenta comprida, de seda, em várias cores.
2.Vestimenta comprida de chamalote, com uma cruz de terço pelo brocado, forrada.
149 AN/TT,
Ordem de Santiago. Convento de Santiago de Palmela, m.2, doc.73.
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