Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil) INSTITUTO ARTE NA ESCOLA Septuor: Luiz Hermano / Instituto Arte na Escola ; autoria de Rita Demarchi ; coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Instituto Arte na Escola, 2006. (DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 53) Foco: LA-17/2006 Linguagens Artísticas Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia ISBN 85-98009-58-X 1. Artes - Estudo e ensino 2. Artes plásticas 3. Escultura 4. Hermano, Luiz I. Demarchi, Rita II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série CDD-700.7 Créditos MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA Organização: Instituto Arte na Escola Coordenação: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação MAPA RIZOMÁTICO Copyright: Instituto Arte na Escola Concepção: Mirian Celeste Martins Gisa Picosque Concepção gráfica: Bia Fioretti SEPTUOR (Luiz Hermano) Copyright: Instituto Arte na Escola Autor deste material: Rita Demarchi Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa Diagramação e arte final: Jorge Monge Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express Tiragem: 200 exemplares DVD SEPTUOR (LUIZ HERMANO) Ficha técnica Gênero: Vídeo experimental. Palavras-chave: Escultura; poética pessoal; tridimensionalidade; arte contemporânea, cultura popular; procedimentos técnicos inventivos. Foco: Linguagens Artísticas. Tema: Esculturas para vestir, do artista plástico Luiz Hermano. Artista abordado: Luiz Hermano. Indicação: 8ª série do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Direção: Gustavo Guimarães. Realização/Produção: Santa Clara Imagem & Movimento, São Paulo. Ano de produção: 1995. Duração: 11´. Sinopse A poética do trabalho do artista Luiz Hermano é apresentada, de modo particular, por meio de um “espetáculo” visual que reúne suas esculturas e a expressão corporal de atores, integrando estas diferentes linguagens artísticas. As imagens oferecem a visualidade do diálogo entre corpo e escultura, causando um estranhamento e uma surpresa desde o poema de abertura até as cenas finais. Ao final, na leitura dos créditos, são dadas as referências sobre o ponto de partida e o tema específico do trabalho que permanece até então como um mistério a ser contemplado e desvendado: a série Esculturas para vestir, exposta no MAM/SP em 1994. Trama inventiva Falar sem palavras. Falar a si mesmo, ao outro. Arte, linguagem não-verbal de força estranha que ousa, se aventura a tocar assuntos que podem ser muitos, vários, infinitos, do mundo das coisas e das gentes. São invenções do persistente ato criador que elabora e experimenta códigos imantados na articulação de significados. Sua riqueza: ultrapassar limites processuais, técnicos, formais, temáticos, poéticos. Sua ressonância: provocar, incomodar, abrir fissuras na percepção, arranhar a sensibilidade. A obra, o artista, a época geram linguagens ou cruzamentos e hibridismo entre elas. Na cartografia, este documentário é impulsionado para o território das Linguagens Artísticas como possibilidade de desvendar como elas se produzem. O passeio da câmera Palavras deslizam na tela. Palavras de ensinamento sagrado que sedimentam sentidos e segredos, ofertando uma revelação do desconhecido: a permanência da ordem sobre o caos. São trechos do poema A conferência dos pássaros1 , do poeta persa Farid ud-Din Attar2 , convocando-nos para crescer em silêncio e prestar atenção. Surge uma projeção incessante de imagens de um coração pulsante simultaneamente a espirais que se aproximam e se afastam, chamando, em zoom suave, o nome Septuor. A tela branca, vazia, num segundo, nos prepara para o desenrolar de imagens que nossa retina irá contemplar. Contemplação estética, ativa, ante as imagens de corpos humanos envolvidos e alongados em vestes esculturais. Corpo-escultura dançando em sinuosas coreografias. 2 Há algo nestas imagens que nos cativa, nos atrai, nos fisga. Imagens fluídas de um corpo a outro numa reversão do humano ao animal, vegetal, mineral. Figurações criadas pela interação com as Esculturas para vestir, transformando os corpos em prolongamentos, reentrâncias, volumes, interior e exterior. material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) Somos levados a habitar aquele tempo passado, mitológico, de seres e entidades fantásticas que nossa imaginação pode conceber. No jogo antropomorfista do encontro entre corpo expressivo e corpo-escultura, nossa imaginação sonha e faz nossos olhos deslizarem por imagens em que a sensualidade intimista, mística, advinda do sagrado, é desvelada pela matéria e forma em movimentos sutis. Em Septuor, a emoção perdura em nós num mistério suave, alisando para sempre nosso coração. Septuor nos permite ver modelos vivos para um estudo visual das Esculturas para vestir, de Luiz Hermano. Oferece, assim, percursos em: Materialidade, os materiais que o artista emprega e seu trançado; Processo de Criação, a poética pessoal, a atitude lúdica, o repertório pessoal e cultural; FormaConteúdo, a temática não-figurativa nas formas abstratas de suas esculturas que aparentam simbologias arquetípicas; Mediação Cultural, a experiência estética e estésica provocada pela utilização particular do corpo expressivo com a escultura; Saberes Estéticos e Culturais, o diálogo entre a escultura contemporânea e a cultura popular; Conexões Transdisciplinares, o sufismo como uma doutrina mística no foco da arte e ciências humanas. Neste material, o foco é Linguagens Artísticas, para explorar questões próprias da linguagem tridimensional. Sobre Luiz Hermano (Preaoca/Ceará, 1954) As pessoas falam muito de artesanato por eu ser cearense. Mas, para mim, estou desenhando mesmo. Essa trama vem da linha, que é uma característica muito forte do meu trabalho. Meu trabalho vem do desenho, que conta uma história por meio da linha. Essa linha apenas ganhou uma terceira dimensão. Luiz Hermano 3 A arte da trama exige mãos obreiras. Mãos como as de Luiz Hermano que retorcem fios, colam pedaços e encaixam partes 3 distintas para compor um todo. Mãos trabalhadoras de artista/ artesão, mãos atentas de artista coletor que descobre o encanto da madeira laminada em tiras, dos metais em fios de cobre, do arame, da maleabilidade da mola ou da flexibilidade das fibras naturais do cipó para armar a trama estrutural de suas Esculturas para vestir. Menino criado no interior do Ceará, Hermano certamente traz em suas referências pessoais as técnicas artesanais do trançado nordestino. Mas seu processo artístico se inicia com o grafismo de seus primeiros desenhos, nos quais se percebe uma mitologia própria. Faunos, deuses, humanos, animais bizarros, naves espaciais, caravelas, castelos, faróis são todos misturados em situações insólitas, suspensos em jardins de um universo lúdico e primitivo. Entre os signos recorrentes na produção do artista, dois são notáveis: a espiral e a fita de Moebius, isoladas ou compondo outras formas, como vemos nas esculturas em Septuor. Na obra de Hermano, na produção de seus objetos e esculturas, a linha é o elemento construtor, tanto no plano bidimensional como no tridimensional. É como se a gestualidade de um vai-evem da mão do artista fosse insistente, tanto no ato de desenhar como no ato de tecer. Luiz Hermano é formado em filosofia e autodidata em artes visuais. Inicia suas atividades em meados na década de 70, quando desenvolve trabalhos em gravura de metal e desenho. Em 1979, estuda gravura com Carlos Martins, no Rio de Janeiro. No início dos anos 80, dedica-se à pintura e, a partir da década de 90, aos objetos e esculturas. Escolhe a cidade de São Paulo para viver, onde realiza a sua primeira exposição individual de desenho, a convite do professor Pietro Maria Bardi, no MASP, em 1979; e outra de gravura, em 1981. Luiz Hermano é, hoje, um dos artistas de maior presença em coleções particulares e museus. Sua obra já foi exposta em Paris, Berlim, Madri, Lisboa, Havana, Seul, Santiago e Porto Rico, e teve também destaque na 21ª Bienal de São Paulo, um ano antes de 4 material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) ganhar uma viagem da Fundação Mokiti Okada para estudar em Nova York, em 1982. Em suas obras Esculturas para vestir, expostas no MAM/ SP, em 1994, o fazer manual da trama se condensa, formando invólucros para o corpo por meio de uma estrutura modular maleável. A linha aqui faz sinuosidades orgânicas numa ondulação vibrátil e ritmada que dialoga com a flexibilidade da geometria estrutural dos Bichos articuláveis, de Lygia Clark, e com o lado lúdico e esquemático dos Parangolés, de Hélio Oiticica. A partir de 1994, o artista plástico cearense amplia o campo de sua atitude lúdica passando a investigar com mais profundidade as noções de brinquedo e de jogo. Mais recentemente, nos apresenta novos trabalhos e pesquisas na exposição Encantados, na Galeria Nara Roesler, realizada no segundo semestre de 2005. Luiz Hermano mostra brinquedos populares em meio a estruturas de palha de aço, arames e telas. As obras são feitas de insetos, bichos, bonequinhos e flores de plástico, além de contar com bandeiras criadas pelo artista. Hermano “pinta” bandeiras com brinquedos: no caso, com bois de plástico que criam uma ilusão de paisagem. Há, ainda, uma instalação feita com canos de cobre e casinhas; Cidade vermelho, trabalho de parede em arame e capacitadores de computador; Volta ao mundo, irônico objeto em forma de maleta com seis pequenos globos terrestres; e Cordoária, longo cordão produzido com pecinhas em madeira dos jogos infantis de montar. Para Hermano, a arte é uma prática ancorada na satisfação da pura alegria de construir. Por isso, talvez, suas obras têm a função de emocionar, de tecer amor em nós e de amortecer os impactos violentos de que somos vítimas no cotidiano. São obras silenciosas, feitas à mão, que nos indagam; pedem para serem manipuladas; mexem com o nosso pensamento, opondo o que são, no instante visível, com o que poderiam ser, nas nossas construções mais subjetivas. 5 Os olhos da arte Eu tenho essa preocupação em fazer uma arte brasileira, bonita, poética... Quero tentar mostrar uma beleza simples. Luiz Hermano 4 Simples na forma, frágil na aparência, mas intensa na vibração, são as Esculturas para vestir de Luiz Hermano. O que se pode dizer sobre a linguagem escultórica a partir da peculiaridade das obras deste artista? O que sua linguagem atravessa? Com quem ela cola, funde, na escultura contemporânea? Efetivamente, as esculturas de Hermano não são estátuas em pedra ou bronze que se erguem altivas, impondo uma arrogante presença. Não são esculturas em chapa de ferro, cortadas e dobradas pela potência do gesto como em Amílcar de Castro. Em Esculturas para vestir, Hermano centra o seu trabalho na criação de esculturas que se podem fazer com as mãos, tramando, amarrando, incorporando à arte brasileira contemporânea práticas artesanais antiqüíssimas preexistentes na tecelagem, na cestaria. O artista utiliza materiais processados industrialmente: metais em fios de cobre, arame, madeira laminada em tiras, molas, etc. Mas os fios e os pedaços de madeira ou de metal são encaixados com o mesmo jeitinho, truques ensinados na tradição da cultura popular, na arte da gambiarra, do fazer e construir dentro de um estado de precariedade crônica. Justamente essa intersecção entre um modo de produção precário, originário de um mundo pré-industrial, usado para a realização de formas autônomas com materiais industrializados é que habita a escultura de Hermano. Essa fusão entre o urbano e o regional é radicalmente um dos motes da produção artística tridimensional realizada no Brasil a partir da década de 80. 6 Nesse sentido, a artista Shirley Paes Leme se sobressai. Em sua obra Som do silêncio, de 1995, por exemplo, Paes Leme, assim como Hermano, tem no desenho sua fonte primária; e, como parâmetro para a produção escultórica, tem procedimentos igualmente mais próximos da tradição artesanal. material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) Luiz Hermano - Penetrável Antes dos anos 80 e 90, apenas um ou outro artista conseguia romper o cerco da arte erudita para impor soluções cujas origens remontam a culturas materiais de extração popular. Rubem Valentim5 pode ser lembrado como um artista exemplar, neste caso. Marcos Coelho Benjamim6 é outro artista que vem impondo as heranças do artesão anônimo do interior do país na cena artística brasileira. As peças produzidas por Benjamim e Hermano parecem objetos artesanais insatisfeitos com a possibilidade de permanecer em dimensões diminutas e, por isso, se rebelam e crescem desmesuradamente. De alguma maneira, esses e outros artistas ampliaram certos conceitos típicos da linguagem da escultura contemporânea: a perda da precessão da verticalidade e da necessidade da base, da nobreza dos materiais entre outros convencionalismos. Desse modo, em suas obras não existe um código, algo a priori que o artista usa para se comunicar. Na verdade, a obra se manifesta apenas como presença em sua materialidade. No dizer de Tadeu Chiarelli, historiador, professor e crítico de arte: Nem “escultores” nem “modeladores” esses artistas propõem com suas obras certas experiências em princípio impermeáveis a qualquer descri- 7 Luiz Hermano - Ícaros ção, pelo fato de serem exatamente o que são: proposições de experiências espaço-temporais – muitas vezes multissensoriais -, tendentes sempre a travar uma relação com o espectador por intermédio de uma inteligência (ou uma lógica) individual, que se esgota, às vezes, numa única peça, ou então numa série delas, para ser substituída por outra, e mais outra...7 A mudança dos suportes, dos materiais, dos procedimentos e das poéticas, portanto, transforma a modalidade artística conhecida por escultura. Esta designação utilizada para trabalhos com a caracterização tradicional, como modelar volumes ou retirar resíduos de um volume, não mais abarca a pluralidade de experiências, que ora refere-se à tradicional, ora a retraduz, ora manifesta outros modos de inscrever formas e gestos no espaço, sendo designadas, muitas vezes, como objetos escultóricos. Se Michelangelo esculpiu e Rodin modelou, Hermano e outros artistas vêm tramando, amarrando, torcendo, empilhando, dobrando, enrolando, rasgando, justapondo, encaixando, colando, eriçando as matérias no ensejo da criação de maleabilidade e mutação permanentes na própria invenção da linguagem tridimensional. Como espectadores das proposições desses artistas, é só deixar o corpo envolver-se, seja para ser acariciado ou açoitado. O passeio dos olhos do professor Convidamos você a ser um leitor de Septuor antes do planejamento de sua utilização. Considerando que a sua linguagem videográfica é bastante diferente da convencional, na primeira vez, procure assistir de uma maneira descompromissada. Com a percepção aguçada, livre de preocupações conceituais, você estará mais aberto para as primeiras impressões, que são únicas. Pode 8 material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) ser bastante interessante ir fazendo, durante a exibição ou no final, anotações livres e poéticas usando palavras, cores ou formas. Nossa sugestão é que as anotações livres marquem o início de um diário de bordo, como um instrumento para o seu pensar pedagógico durante todo o processo de trabalho junto aos alunos. É recomendável que você assista ao vídeo experimental várias vezes, para que a sua sensibilidade possa apropriar-se de diferentes elementos. Assim, você estará bastante aquecido e pronto para pensar sobre as possibilidades de trabalho com os seus alunos. Segue uma pauta do olhar que pode ajudá-lo: O que Septuor desperta em você? O que mais lhe chama a atenção? À primeira vista, as imagens lhe geram outras imagens? O que elas te levam a imaginar? Septuor lhe faz perguntas? Quais? O que você percebe em relação à linguagem tridimensional das Esculturas para vestir dialogando com a linguagem da expressão corporal dos atores? Para você, com a integração dessas linguagens, o que modifica a experiência estética frente à linguagem tridimensional? A exibição de Septuor como um estudo visual das Esculturas para vestir, de Luiz Hermano, possibilita trabalhar quais conteúdos? Você sente necessidade de pesquisar sobre algum assunto? O que você imagina que seus alunos gostariam de ver no vídeo experimental? O que causaria atração ou estranhamento? Para você, quais focos de trabalho podem ser desencadeados partindo dele? Agora, reveja suas anotações. Elas revelam o seu modo peculiar e criativo de analisar o vídeo experimental. A partir delas, qual foco você escolheria para trabalhar com os seus alunos? Quais questões você colocaria em uma pauta do olhar dirigida a eles? 9 objetos escultóricos vídeo experimental qual FOCO? meios novos qual CONTEÚDO? artes visuais meios tradicionais o que PESQUISAR? não-figurativa: abstração informal, abstração geométrica cinema temáticas desenho, escultura relações entre elementos da visualidade Mediação Cultural formação de público Linguagens Artísticas elementos da visualidade relação público e obra, experiência estética e estésica movimento, bidimensionalidade, tridimensionalidade linha, formas espirais, espaço Forma - Conteúdo Saberes Estéticos e Culturais Materialidade história da arte arte contemporânea, cultura popular qualidade e singularidade da matéria, trançado, potencialidade poéticas da materialidade Conexões Transdisciplinares Processo de Criação procedimentos técnicos inventivos procedimentos Zarpando poética pessoal ambiência de trabalho natureza da matéria matérias não convencionais, matéria industrializada, fibras, arame de cobre, alumínio, ouro, latão, guizos, molas, cipó, madeira ação criadora arte e ciências humanas filosofia, sofismo, fita de moebius potências criadoras viagens de estudo atitude lúdica, repertório pessoal e cultural Percursos com desafios estéticos No mapa potencial, localizado ao final deste material, é possível visualizar diferentes trilhas que conduzem ao foco Linguagens Artísticas. Dentro de uma vasta gama de possibilidades, com sensibilidade e invenção, é você quem melhor pode escolher como montar o percurso e a maneira de trabalhar com seus alunos. O passeio dos olhos dos alunos Algumas possibilidades: Antes dos alunos assistirem ao vídeo experimental, você pode ler o poema de abertura para eles. Peça a eles que fiquem de olhos fechados para a escuta. Sua leitura pode ser acompanhada por um trecho da trilha sonora ou outra música instrumental que você considere adequada. Em seguida, com a trilha completa ao fundo, proponha um trabalho plástico com as imagens evocadas. Ofereça materiais e suportes diversos, tais como: lápis, canetas hidrográficas, tintas, papéis diversos, papelão, fios de arame, cordas, barbante, sucata, pedaços de madeira, etc. A proposta pode ser mais aberta quanto aos materiais e encaminhada para ser realizada no plano tridimensional. Depois, numa apreciação coletiva, a conversa pode girar em torno de questões acerca das imagens e sentimentos despertados pelo poema e pela música, e as formas singulares que os alunos encontraram para materializá-los. Em seguida, faça a exibição de Septuor. O que causa atração ou estranhamento nos alunos? O que gera curiosidade para saber mais? 12 Tendo como suporte a música Movimento III, de Arnaldo Antunes, produzida para o balé O corpo, do Grupo Corpo, 2000 (consulte, na bibliografia, o site sobre esta indicação), proponha aos alunos a criação de movimentos expressivos, por meio da improvisação. É interessante dividir os alunos em grupos: enquanto um grupo improvisa, o outro vai registrando com uma câmera de vídeo. Após o revezamento dos material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) grupos, provoque uma leitura das imagens captadas, percebendo e refletindo sobre as diferentes soluções encontradas, tanto na linguagem da expressão corporal dos alunos como no modo de construção do registro em vídeo. Neste registro, as observações podem cercar: movimento de câmera, da objetiva, do enquadramento (diferentes planos), da passagem de planos, da seqüência, do ritmo das imagens. Depois, você pode fazer a exibição de Septuor. Como os alunos percebem a integração entre a linguagem tridimensional das esculturas e a linguagem da expressão corporal dos atores? E o movimento da câmera na linguagem videográfica? Os artistas poderiam criar obras de arte para vestir? Esta pode ser uma pergunta para iniciar uma conversa com os alunos antes da exibição do vídeo. A partir das hipóteses levantadas, você pode provocar o olhar dos alunos com imagens dos Parangolés, de Hélio Oiticica, do Manto da apresentação, de Arthur Bispo do Rosario, ou mesmo do Manto tupinambá, do século 17, que pertenceu aos indígenas exterminados depois da chegada do europeu ao Brasil e hoje está no Museu Nacional da Dinamarca. Em seguida, faça a exibição de Septuor. Quais aproximações e diferenciações os alunos estabelecem entre as imagens do experimental e aquelas vistas anteriormente? As sugestões acima podem gerar outras que provoquem a sensibilidade dos alunos. É importante que haja conexão entre as proposições realizadas anteriormente e as questões geradas pela apreciação de Septuor. Desvelando a poética pessoal A percepção de que são várias as possibilidades de criação pode levar cada aluno a descobrir a sua poética pessoal. Para que isso aconteça, é importante estimular a produção de uma série de trabalhos, perseguindo a mesma idéia. Septuor pode impulsionar dois eixos principais de criação pes- 13 soal: a linguagem da escultura e a linguagem do vídeo. Os alunos poderiam escolher entre uma ou outra linguagem. Objetos escultóricos poderiam ser criados com diversos materiais, tal como fez Luiz Hermano: tiras de madeira, molas, fios de arame, fibras naturais, etc., valorizando a construção e interação dos elementos visuais na tridimensionalidade e a expressividade das formas. Criação de um vídeo experimental de curta duração ou até mesmo de um curta-metragem de um minuto. Mesmo sabendo que dificilmente você e seus alunos terão acesso a equipamentos profissionais sofisticados para a filmagem e edição, a exploração de uma filmadora pode ser provocada. Isso estimulará a compreensão do trabalho envolvido para a produção de um vídeo: roteiro, filmagem, cenografia, iluminação, trilha sonora, etc. A possibilidade de realizar um vídeo sobre os trabalhos plásticos da turma também é bastante interessante. Obras para vestir – o que os alunos poderiam criar para vestir? Roupas, sapatos, piercings e jóias8 , parangolés, etc. As sugestões trazidas aqui não são “receitas”, mas proposições abertas e flexíveis para que você pense na construção de um caminho próprio para trilhar junto a seus alunos. O acompanhamento dos trabalhos até a sua finalização e a apresentação para discussão na sala de aula serão importantes. Ampliando o olhar No texto Olhos da arte, os artistas Shirley Paes Leme, Marcos Coelho Benjamim e Rubem Valentim foram citados em aproximação com a linguagem tridimensional de Luiz Hermano. Conhecer a obra desses artistas pode provocar uma experiência estética que mova o olhar dos alunos para a compreensão da mudança dos suportes, dos materiais, dos procedimentos e das poéticas na escultura contemporânea. 14 Trançar, tramar, dobrar são ações do fazer das tradições culturais. O olhar pode ser ampliado na busca de imagens e material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) sites onde essas ações apareçam na cultura popular. A partir daí, os alunos podem criar tramas e trançados com materiais inusitados, seguindo a ação de Hermano, que poderia os aproximar da cestaria, do tear. Coisas do mundo transformam-se em coisas no mundo. Ou seja, coisas já existentes podem se transformar em outras inventadas. As primeiras são do mundo; as criadas passam a estar no mundo, uma vez que não existiam antes. Pensar sobre isso pode ampliar o olhar na coleta sensorial em casa, nas ruas, na escola, de materiais novos ou usados como: fios de metal, fios de fibra, palha de aço, flores de plástico, canudinhos, copinhos, etc. Assim pode-se gestar obras escultóricas que tenham como desafio: cortar, emendar, sobrepor, amassar, torcer, empilhar, dobrar, enrolar, rasgar, encaixar, colar, eriçar, etc. O que os alunos juntaram? Como juntaram? A confecção de tramas é uma constante em vários trabalhos de Luiz Hermano e, em especial, nas Esculturas para vestir. Uma proposta de ampliação conceitual e do olhar poderia ser a observação das tramas e redes encontradas na natureza: teias de aranha, asas de insetos, vegetação, colméias, ninhos de pássaros, etc., e relacioná-las às tramas construídas pelo homem, sejam artesanais, como as citadas acima, ou industriais, como as telas de galinheiro, por exemplo. Por fim, seria oportuno relacioná-las à rede virtual da internet. A apreciação de vídeos com linguagem alternativa é interessante para ampliar o repertório dos alunos. Ter contato com outros vídeos experimentais, trabalhos de videoarte, de animação, possibilita conhecer outras possibilidades expressivas do vídeo, que muitas vezes os alunos não têm acesso. Consulte a DVDteca Arte na Escola para selecionar DVDs que sejam desses gêneros. Captar imagens do corpo projetadas na tv pode gerar gravações em vídeo, diretamente da tv. Pode-se gravar imagens do corpo que aparecem nas diferentes programações e nos vários canais de tv, o corpo dos jornalistas do 15 telejornalismo, o corpo dos anúncios de publicidade, o corpo de atores/atrizes de telenovelas e o corpo dos que apresentam e participam de programas infantis, de variedade, de humor. Para levar à percepção (leitura), discussão e reflexão sobre a amostragem recolhida da programação, uma pauta do olhar pode girar em torno de comparações que cercam: onde o corpo é mostrado inteiro, ou meio-corpo, ou com menos roupa? Como é mostrado o corpo da criança, do jovem, do cidadão comum? Como é mostrado o corpo que dança, que canta, que fala, que sente na tv? Qual padrão de beleza de corpo é mostrado na tv? Quais as diferenças e semelhanças entre essas imagens de corpo coletadas e as imagens de corpo em Septuor? Conhecendo pela pesquisa O poema de abertura do vídeo, A conferência dos pássaros, de Farid Attar, traz uma história que é referência do sufismo, corrente religiosa derivada do islamismo. Através de sua poética oriental, o poema desvela ensinamentos de valorização humana e de busca do divino, com uma sabedoria que ultrapassa as barreiras religiosas e culturais. A arte islâmica também tem uma estética muito singular, como pode ser visto no livro Para entender as religiões, citado na bibliografia. O que os alunos podem descobrir sobre o sufismo e a arte islâmica? Em Septuor, uma das esculturas faz referência ao mito grego de Ícaro. Assim como o poema A conferência dos pássaros, é evidente a valorização da figura mitológica, que no vídeo experimental é associada ao êxtase. O que os alunos sabem sobre esse mito? 16 Na série Bichos, Lygia Clark produz esculturas de alumínio que apresentam várias faces planas, geométricas, unidas por dobradiças, que convidam o público a interagir com elas, para sentir todas as possibilidades espaciais que elas contêm. Pesquisar sobre Lygia Clark e, especialmente, sobre material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) essa série de trabalho pode levar os alunos à investigação sobre arte interativa, hoje tão presente. Em quais culturas podemos encontrar o desenvolvimento de técnicas de tecelagem, cestaria e dobradura? Por exemplo, o que os alunos podem descobrir sobre o tear Kaxinawá, utilizado para a confecção de redes? Luiz Hermano possui uma obra e uma trajetória das mais interessantes, utilizando-se de diversos meios: escultura, desenho, pintura, gravura, instalação. Uma pesquisa mais aprofundada sobre o artista e um deleite de suas obras podem ser desencadeados a partir da visita ao site oficial do artista. Amarrações de sentidos Perceber o percurso trilhado e as diversas ações como a pesquisa, o exercício da poética pessoal, a apreciação, o pensar e discutir arte é importante para que o aluno se aproprie de suas descobertas. A intenção não é a produção de uma pasta que simplesmente guarde os trabalhos, mas registrar e organizar as etapas de modo significativo, com a marca pessoal do aluno. Como o disparador de todas as discussões e propostas aqui colocadas foi um vídeo experimental e o foco direcionado para Linguagens Artísticas, sugerimos a elaboração de um roteiro para cinema. Uma narrativa que associe palavras, textos, sons e imagens, contando a história do processo vivido, envolvendo as propostas iniciais, as perguntas, as descobertas, as soluções encontradas, os esboços, os estudos e trabalhos prontos. Valorizando a processualidade Houve transformações? O que os alunos percebem que conheceram? A discussão a partir da apresentação dos trabalhos pode levar à reflexão sobre todo o processo. A fala dos alunos sobre o que foi mais e menos significativo, sobre as dificuldades e 17 sobre o que faltou no desenrolar do trabalho é um valioso instrumento de avaliação. Você pode aproveitar essas informações levantadas e, juntamente com o seu diário de bordo, achar um momento para pensar sobre o seu próprio aprendizado. Quais foram as suas descobertas e achados pedagógicos neste projeto? Que novas idéias e possibilidades foram despertadas em você a partir desta experiência? Você pretende trabalhar com outro DVD da DVDteca Arte na Escola? Glossário Escultura – é um meio de expressão que cria formas plásticas em volumes ou relevos, tanto pela modelagem de substâncias maleáveis e/ou moldáveis, como pelo desbaste de sólidos ou pela reunião de materiais e/ ou objetos diversos. Fonte: Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Está “peculiarmente situado na junção entre repouso e movimento, entre o tempo capturado e a passagem do tempo. É dessa tensão, que define a condição mesmo da escultura, que provêm seu enorme poder expressivo.” Fonte: KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p.6. Fita de Moebius – descoberta em 1865 pelo matemático e astrônomo alemão August Ferdinand Moebius (1790-1868), a fita de Moebius foi o embrião de um ramo inteiramente novo da matemática conhecido como topologia, o estudo das propriedades de uma superfície que permanecem invariantes quando a superfície sofre uma deformação contínua. A fita de Moebius chamou a atenção de vários artistas, entre eles Max Bill e M. C. Escher. Fonte: <http://geocities.yahoo.com.br/lucia_math/moebius.htm>. Sufismo, Sufi – ordens e crenças derivadas do islamismo, os sufi são muçulmanos que buscam uma experiência próxima e pessoal com Deus, observando tanto a lei islâmica, quanto a experiência amorosa entre a alma e Deus. Um de seus símbolos é o pássaro Simurgh, presente no poema A conferência dos pássaros, que simboliza a aspiração pela unidade com o divino. Fonte: BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997. 18 Vídeo experimental – por vídeo experimental entende-se o alternativo e o autoral, a partir da busca experimental e da ruptura com as formas do espetáculo audiovisual liderado pela tv. Esta idéia conceitua o alcance “admirável” da criação artística audiovisual, que, em alguns casos, se torna transcendente. A fórmula mídias + obra + arte + experimental + independente continua tendo valor subversivo num mundo dominado pelo alheamento e leis provenientes de instituições públicas e corporações privadas. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais <www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2014&cd_materia=664>. material educativo para o professor-propositor SEPTUOR (LUIZ HERMANO) Bibliografia BOWKER, John. Para entender as religiões. São Paulo: Ática, 1997. KRAUSS, Rosalind. Caminhos da escultura moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1998. TUCKER, William. A linguagem da escultura. São Paulo: Cosac & Naify, 1999. Catálogo TRIDIMENSIONALIDADE na arte brasileira do século XX. Apresentação Ricardo Ribenboim. São Paulo: Instituto Itaú Cultural, 1997. HERMANO, Luiz. Luiz Hermano: esculturas para vestir. Apresentação Maria Alice Milliet. São Paulo: MAM, 1994. Seleção de endereços sobre arte na rede internet Os sites abaixo foram acessados em 26 ago. 2005. A CONFERÊNCIA DOS PÁSSAROS. Resenhas e textos sobre o poema sufi. Disponível em <www.attar.com.br>. ANTUNES, Arnaldo. Disponível em: <www.arnaldoantunes.com.br/>. BENJAMIM, Marcos Coelho. Disponível em: <www.comartevirtual.com.br/ mcoelhob>. FITA DE MOEBIUS: Disponível em: <http://inorgan221.iq.unesp.br/ quimgeral/moebius/moebius2.htm.>. HERMANO, Luiz. Disponível em: <www.luizhermano.com>. ___. Disponível em: <www.nararoesler.com.br/artistas>. MANTO TUPINAMBÁ. Disponível em: <www.tveldorado.com.br/ divirtase/mat/div04224.htm>. ___. Disponível em: <www.arcoweb.com.br/interiores/interiores8c.asp>. ___. Disponível em: <www.ensino.net/novaescola/133_jun00/html/ redescob_exc.htm>. OITICICA, Hélio. Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Disponível em: <www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/ho/home/ dsp_home.cfm>. LEME, Shirley Paes. Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Disponível em: <www.itaucultural.org.br/acervo_itau/fixeres.htm>. ROSARIO, Arthur Bispo do. Disponível em: <www.proa.org/exhibicion/ inconsciente/salas/id_bispo_1.html>. SUFISMO. Disponível em: : <www.terra.com.br/planetanaweb/ transcedendo/religiao/homem_se_confunde_com_deus.htm>. 19 TRIDIMENSIONALIDADE NA ARTE BRASILEIRA DO SÉCULO XX. Disponível em: <www.itaucultural.org.br/tridimensionalidade>. VALENTIM, Rubem. Disponível em: <http://mac.mac.usp.br/projetos/ seculoxx/lista.html>. Notas 1 Poema místico-filosófico do poeta persa Farid ud-Din Attar, composto provavelmente na segunda metade do século XII, A conferência dos pássaros - cujo título original Mantiq ut-tair é traduzido indiferentemente por “linguagem”, “conferência”, “fala”, “discurso” ou “parlamento” dos pássaros - tem como tema uma assembléia de pássaros que decidem partir à procura de um rei ideal, Simurgh, o Grande Pássaro. Nessa alegoria está simbolizada a busca da divindade empreendida pela alma humana. Para guiá-los nessa peregrinação, os pássaros elegem como líder a poupa, que os incentiva a iniciar a longa e difícil viagem, da qual alguns pássaros logo se esquivam, alegando vários pretextos. 2 A vida do grande poeta persa que foi Attar permanece um profundo mistério. Sabe-se que nasceu em Neshapur, na província de Korassã, entre 1120 e 1140, e que morreu entre 1200 e 1230. Conta-se que trabalhou toda a vida com o florescente comércio de perfumes, ungüentos e especiarias, herdado de seu pai, e por isso tornou-se Attar, que significa “aquele que faz o comércio de perfumes”. Certamente Attar deve ter passado por uma experiência decisiva para ter se iniciado no sufismo. A ele são atribuídas diversas obras – poucas, entretanto, têm sua autoria comprovada. Entre as mais célebres estão Memorial dos santos, O livro divino, O livro dos conselhos, Os livro dos segredos e a que é talvez a sua obra-prima: A linguagem dos pássaros. 3 Retirado da matéria publicada na Editoria Ilustrada do jornal Folha de S. Paulo, 8/5/97, p. 5-12. 4 Idem. 5 Veja o DVD Rubem Valentim: geometria sagrada, disponível na DVDteca Arte na Escola. 6 Consulte o DVD Marcos Coelho Benjamim: o fazedor de coisas, na DVDteca Arte na Escola. 7 CHIARELLI, Tadeu. O tridimensional na arte brasileira dos anos 80 e 90: genealogias, superações. In: TRIDIMENSIONALIDADE na arte brasileira do século XX, p. 170. 8 Veja também as jóias e piercings no site da artista Marina Sheetikoff, disponível em: <www.marinasheetikoff.com.br>. Acesso em 27 ago. 2005. 20