BRICS Monitor Posição dos BRICS diante da questão da Palestina Janeiro de 2012 Núcleo de Política Internacional e Agenda Multilateral BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS BRICS Monitor Posição dos BRICS diante da questão da Palestina Janeiro de 2012 Núcleo de Política Internacional e Agenda Multilateral BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisa BRICS BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina Autor: Luiza Maria Barroso de Aguiar Coordenação: Mônica Herz Posição dos BRICS diante da questão da Palestina 1 Introdução subdivida em duas partes, discute o da posicionamento dos BRICS por meio Assembleia Geral da ONU (AGNU) de do histórico do relacionamento entre 2011, eles, e faz um apontamento dos fatos Durante a a reunião Palestina provocou divergências entre os países membros do da o membros dos BRICS na AGNU e na reconhecimento de seu Estado. Essa votação da UNESCO. A segunda postura foi um enfrentamento direto seção se volta às reflexões sobre esse aos Estados Unidos e também a posicionamento favorável à Palestina. Israel, que já haviam ameaçado tomar Cabe aqui realçar que, embora com providências para evitar que esse relação à Palestina os BRICS tenham plano palestino obtivesse êxito. A uma posição coordenada, isso não Palestina o quer dizer que tal coordenação se reconhecimento de seu Estado como expresse em todos os temas políticos. membro pleno da ONU. O presidente Um tema extremamente controverso da Autoridade Nacional da Palestina, para o grupo, por exemplo, são os Mahmoud Abbas, então, buscou o direitos reconhecimento do seu Estado em um postura conjunta dos BRICS não braço da ONU, a UNESCO, o órgão significa uma política unida do grupo para educação, ciência e cultura, no em todos os temas. O caso da qual obteve sucesso. Palestina organização não ao pedir conseguiu Todos os países membros dos BRICS expressaram o seu apoio ao comportamento humanos. dos Portanto, representa apenas países essa uma instância de coordenação atingida pelo bloco. reconhecimento palestino tanto na ONU quanto na UNESCO. Pergunta- 2. Posicionamento dos BRICS na se, portanto, o porquê dessa postura questão da Palestina conjunta e quais são as possíveis implicações políticas e de a. Relações Históricas entre BRICS representatividade da mesma para o grupo. Para isso, o texto está dividido em duas seções que se seguem a essa introdução. A primeira seção e a Palestina: O histórico dos países membros dos BRICS sempre foi de 3 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina apoio à causa palestina. Por exemplo, ano, e anunciou sua posição a favor Rússia, Índia, Brasil, China e África do da Sul reconhecem o Estado palestino Palestino. Além disso, ele defendeu desde 1988, quando foi colocada em que tanto as organizações regionais pauta quanto as internacionais deveriam ter a opção diplomaticamente. de reconhecê-lo Outrossim, cabe um construção papel de mais um Estado proeminente nos mencionar que todos os países BRICS acordos de paz – mais uma vez, votaram a favor da resolução 272 na encaminhando para uma tomada de Assembleia Geral da ONU da 65ª decisão multilateral, em detrimento de sessão ocorrida em 2010, no que diz medidas e cursos de ação unilaterais. respeito Para os representantes dos países ao fortalecimento da capacidade de gerência da Agência BRICS, das Nações Unidas de Assistência unilateralmente agravariam situações aos no de conflito ao invés de solucioná-las. Oriente Próximo, o que foi visto como O presidente russo também confirmou uma perda política significativa a seu desejo de criar uma conferência Refugiados da Palestina 1 decisões tomadas Israel. Igualmente, os BRICS votaram sobre o Oriente Médio em Moscou contra os assentamentos israelenses comprovando o interesse russo e, em nos territórios palestinos ocupados no especial, do bloco de exercer maior 2 Conselho de Segurança da ONU. De papel na mediação de conflitos 3 tal modo, ilustra-se o apoio contínuo internacionais. Dessa forma, o apoio dos países do grupo à Palestina. Esse dos BRICS à Palestina já se fazia apoio previsível no cenário internacional.4 também é visível na contribuição do IBAS – grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul – ao b. BRICS e a 66ª Sessão da AGNU: povo da Palestina. Por exemplo, o grupo foi quem financiou um Centro Ficou claro o apoio de Brasil, Rússia, Multiesportivo na cidade de Ramala, Índia, entre outros projetos que já foram Palestina no encontro paralelo dos acordados. BRICS Esse pode e que África ocorreu do Sul antes à da ser Assembleia Geral da ONU.5 Vale exemplificado por meio de uma ação lembrar que foi o próprio ministro das tomada pelo presidente da Rússia, Relações Dmitry Medvedev, que se reuniu com Serguey Lavrov, que insistiu com o o presidente da Autoridade Palestina, líder Mahmound Abbas para enviar Mahmoud Abbas, em janeiro desse um apoio China Exteriores documento formal da Rússia, pedindo o 4 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina reconhecimento ao desde que não ameace Israel, é uma Conselho de Segurança da ONU.6 O condição necessária para que cessem ministro das Relações Exteriores do os constantes choques e ameaças Brasil, entre eles. Antônio da palestina Patriota, realçou posteriormente a existência de uma Do mesmo modo, o apoio à Palestina ação coordenada por parte dos BRICS foi notado nos próprios discursos dos a partir da citada reunião.7 A principal presidentes dos países BRICS na justificativa para esse posicionamento Assembleia pode ser ilustrada pela colocação do presidente do Brasil, Dilma Rousseff, presidente da África do Sul, Jacob disse “lamentar não poder saudar, Zuma, de que a inclusão da Palestina desta tribuna, o ingresso pleno da como membro das Nações Unidas Palestina na Organização das Nações seria um passo decisivo para o mundo Unidas”,12 assim como o ministro dos alcançar a paz.8 Como ainda não Negócios houve a votação do reconhecimento Serguey Lavrov, e o primeiro-ministro palestino na ONU, o Brasil e os outros da Índia, Manmohan Singh, também BRICS concordaram que a Palestina expressaram apoio à Palestina em se estabeleça como país observador seus discursos na AGNU. Enfim, na todos os discursos dos chefes de organização Quarteto 9 em por o Estrangeiros da A Rússia, dos Estados Unidos, Nações Unidas e BRICS abordaram União Europeia – voltaria a mediar às reconhecimento palestino, realçando negociações de paz entre a Palestina esse posicionamento confluente. O porta-voz do Itamaraty do diálogo para resolver posição está de acordo com a dos outros países BRICS, que visam à resolução de conflitos por meio da diplomacia. Além disso, todos os países BRICS têm a visão de que a independência do Estado Palestino, questão do UNESCO: Os BRICS também votaram a conflitos, em detrimento do uso da força.11 Cabe mencionar que essa a dos c. BRICS e a Votação na útil porque coincide com a visão meio membros afirmou que essa segunda opção seria brasileira de incentivar a mediação por países ONU. estado e Israel. formado troca, da Rússia, 10 – e, Geral favor do reconhecimento da Palestina como Estado na UNESCO. Todos os representantes dos países BRICS no órgão da ONU parabenizaram a conquista palestina e lamentaram a retaliação norte-americana de cortar seu orçamento destinado à 5 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina organização. o Por exemplo, o desejo dos BRICS, Itamaraty divulgou uma nota na qual principalmente de Brasil, África do Sul “o e governo A exemplo brasileiro disso, felicita a Palestina por sua admissão como membro pleno da UNESCO”. 13 Índia, é o de exercer maior participação, com maior poder de A barganha nos assuntos internacionais, presidente Dilma Rousseff até mesmo demonstrando que são capazes de visitou a sede da organização para exercer oferecer seu apoio à diretora geral do apenas regional. Cabe aqui ressaltar o órgão, mesma dilema enfrentado pelos países dos maneira, o ministro dos Negócios BRICS uma vez que eles precisam do Estrangeiros apoio norte americano para conseguir Irina Bokova. da Da Rússia, Serguey uma liderança aspirações que não Lavrov, lamentou em uma entrevista suas coletiva, logo após o feito, a decisão econômicas, dos EUA de cortar seu orçamento casos eles procuram uma postura destinado à UNESCO como protesto contra ao reconhecimento. Ainda, Lavrov reafirmarem no sistema internacional afirmou que continua com esperanças como seguidores de suas respectivas de que os norte americanos revejam diplomacias, diferentes da dos EUA. essa decisão.14 Cabe aqui ressaltar Os que todos os países BRICS não governança acham que esse reconhecimento deva governança global não haverá de ser interpretado como uma alternativa negligenciar a negociação com as às negociações com Israel, uma vez grandes potências, como os EUA, que reconhecer a Palestina não seria enquanto se tenta traçar um caminho o suficiente para atingir a paz entre menos dependente. essa BRICS políticas enquanto em hegemonia e outros para se querem uma nova global, mas essa esses países do Oriente Médio. O Além disso, o grupo avançou a reconhecimento do Estado Palestino interação politica entre as partes, o na ONU seria um dos passos para que levou a um visível processo de garanti-la. institucionalização entre eles, emergindo, assim, uma faceta política 3. Reflexões sobre o posicionamento do grupo - dantes reunido por motivos dos BRICS no caso da Palestina apenas econômicos. Parece plausível dizer que essa politização do bloco se A partir das colocações anteriores, percebem-se certas implicações dessa postura conjunta dos BRICS. torna cada vez mais reconhecida por outros países, devido a esses interesses políticos que os BRICS 6 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina buscam avançar na arena internacional. em concordância com a Declaração de Sanya, estado assinada pelos chefes de dos política daqueles envolvidos no conflito, evitando que a Essas aspirações políticas estão 15 participação países membros dos agenda global organizações e as próprias internacionais sejam conduzidas apenas pelo desejo de algumas potências hegemônicas. Com BRICS, que estabelecia em seus relação objetivos e em suas finalidades temas Palestina, observa-se essa tentativa mais políticos como paz, segurança e do bloco de evitar que as decisões estabilidade internacionais sejam tomadas por um mundial. Ademais, a à dois questão países, política da Declaração também sugere que os ou enfatizando o BRICS representam um grupo politico multilateralismo. O Brasil, assim como que incentivam o multilateralismo e a os outros países do BRICS, acredita resolução de conflitos por meio da que a inclusão de mais países nas diplomacia e do diálogo reconhecendo negociações do processo de paz traria o principio de não intervenção dos “ar fresco para o processo de paz”.16 Estados. O discurso – apresentado pelos governantes dos países BRICS 4. Considerações finais tanto em Sanya quanto nos discursos O apoio político dos BRICS da Assembleia da ONU – fundamenta comprovou – por meio do caso do politicamente, reconhecimento da Palestina – que portanto, o posicionamento adotado em favor da esses entrada da Palestina como membro multilateralismo permanente da UNESCO. O bloco internacionais. Além disso, com a aborda essa questão como sendo de ação cunho internacional, o que fortalece Palestina, o grupo revelou sua força sua posição de que a solução para a como um bloco político. A politização questão será do grupo coloca-o com força suficiente resolvida por meio de um consenso para ter posições dissonantes em entre vários países, e não apenas relação aos EUA, caso suas visões alguns. sejam díspares, e para avançar seu Palestina-Israel só países visam via coordenada incentivar o organizações de apoio à Ademais, é possível notar o interesse por um maior papel nas desejo do grupo de exigir que ações escolhas importantes de governança unilaterais não prevaleçam, uma vez global. que um dos objetivos avançados pelos ambiciosa, contesta a governança BRICS global atual, na tentativa de tornar-se é aumentar a voz e a O grupo, de maneira 7 BRICS POLICY CENTER - BRICS MONITOR Posição dos BRICS diante da questão da Palestina mais representativo tanto política quanto economicamente. 1 A Assembleia Geral aprovou a resolução com 123 votos a favor e 1 contra (Israel) <http://www.un.org/en/ga/65/resolutio ns.shtml> 2 Cabe adicionar aqui que essa resolução não foi aprovada pelo Conselho de Segurança e o Brasil se manifestou lamentando o feito. 3 Cabe aqui colocar ainda uma transcrição da conferência entre o presidente da Rússia e o presidente da Autoridade Palestina. Há ambos os discursos da Rússia e da Palestina. <http://eng.kremlin.ru/transcripts/1634 #sel=1:1,1:21;4:5,5:31> 4 Essa afirmação foi tirada de um discurso do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov <http://www.pantanalnews.com.br/con tents.php?CID=77369> 5 Cabe ressaltar que nessa reunião paralela entre os BRICS também foram tratados outros temas como a crise econômica mundial e mudanças climáticas. Porém, estes não foram mencionados nesse trabalho.<http://oglobo.globo.com/mundo/mat/ 2011/09/26/patriota-entre-os-brics-esta-claroque-todos-apoiam-palestina-925450547.asp> 6 < http://www.guardian.co.uk/world/blog/ 2011/sep/21/palestinian-state-un-liveupdates?newsfeed=true> 7 http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2 011/09/26/patriota-entre-os-brics-estaclaro-que-todos-apoiam-palestina925450547.asp 8 http://mg.co.za/article/2011-09-22zuma-throws-weight-behindpalestinian-un-bid/ 9 <http://noticias.terra.com.br/mundo/n oticias/0,,OI5469749-EI308,00EUA+UE+Russia+e+ONU+negociam +com+palestinos+e+israelenses.html> 10 A reunião do Quarteto foi agendada para dezembro desse ano 11 <http://www.itamaraty.gov.br/salade-imprensa/selecao-diaria-denoticias/midias-nacionais/brasil/oglobo/2011/09/18/apoio-com-ressalva> 12 < http://www1.folha.uol.com.br/mundo/9 78582-veja-os-principais-pontos-dodiscurso-de-dilma-rousseff-naonu.shtml> 13 < http://oglobo.globo.com/mundo/govern o-brasileiro-felicita-palestina-pelaaceitacao-como-membro-pleno-daunesco-3078788> 14 < http://www.diariodarussia.com.br/inter nacional/noticias/2011/11/01/russialamenta-atitude-dos-estados-unidosante-a-unesco/> 15 A declaração de Sanya foi realizada em Sanya na China no dia 14 de abril de 2011 < http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/notas-a-imprensa/declaracaode-sanya-2013-reuniao-de-lideres-dobrics-sanya-china-14-de-abril-de2011> 16 Citação retirada diretamente do discurso da embaixadora brasileira Maria Luiza Ribeiro Viotti na votação do Conselho de Segurança da ONU sobre os assentamentos israelenses na palestina. A citação foi colocada no trabalho para enfatizar o resultado da inclusão de mais países em negociações internacionais segundo o Brasil e que os outros países BRICS concordam. <http://www.itamaraty.gov.br/sala-deimprensa/notas-a-imprensa/votacaono-conselho-de-seguranca-de-projetode-resolucao-sobre-os-assentamentosisraelenses-nos-territorios-palestinosocupados> 8