28 ATRIBUNA VITÓRIA, ES, TERÇA-FEIRA, 28 DE JULHO DE 2015 Economia ANTONIO COSME/AT CELSO MING Gambiarra não resolve erdeu sentido o discurso de que viria aí um ajuste temporário e de que logo mais a economia voltaria a crescer, a produzir empregos e o salário deixaria de ser tão carcomido pela inflação. Foi o que a presidente Dilma e seus ministros da área econômica repetiram ao longo do primeiro semestre deste ano. P Crise econômica, desemprego e reajuste de tarifas são alguns dos motivos alegados para o atraso no pagamento das contas Cristian Favaro crise econômica, o desemprego e o reajuste nas tarifas estão dificultando o orçamento de alguns moradores do Estado, que não conseguem pagar nem mesmo as contas básicas mensais, como a taxa de condomínio e a conta de água. Segundo levantamento junto a empresas e sindicatos, 81.953 pessoas estão com essas contas atrasadas na Grande Vitória. Segundo a gerente de Relações com o Cliente da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), Maria José Fernandes, na Serra são 26.980 inadimplentes. Em Cariacica, são 24.940; em Vila Velha, 14.495; em Vitória, são 11.030; e em Viana, 4.022. “O contexto atual da economia transparece uma dificuldade das pessoas em quitar seus débitos, até mesmo as contas básicas”, afirmou ela, destacando que a Cesan está intensificando as abordagens para evitar o endividamento. “Quanto mais contas atrasadas, mais difícil de pagar. Por isso, esta- A mos reforçando a nossa divulgação de programas como a Tarifa Social, que dá desconto nas contas, e a renegociação de dívidas”. Já nos condomínios, 486 moradores da Grande Vitória estão com problemas para pagar as taxas, segundo o presidente do Sindicato Patronal de Condomínios Residenciais, Comerciais, Mistos e Empresas de Administração de Condomínios (Sipces), Cyro Bach Monteiro. “Este ano, tivemos um pico na inadimplência. A crise e os reajustes no salário da categoria aumentaram em 7% o valor cobrado na taxa condominial”, disse. Para o economista Mário Vasconcelos, a organização é a palavra para evitar problemas. “Analisar as contas e economizar é a solução para não ter um serviço indispensável, como a água, suspenso”. mais despesas, como se viu na flexibilização do fator previdenciário, até mesmo com o voto do PSDB em cujo governo foi criado. Como a percepção dos políticos e da sociedade sobre esses problemas estruturais é fraca, a economia precisa piorar muito mais, antes que se gere essa consciência e que se mobilizem as forças para produzir a virada. Piora O medo de que o governo da China reduza suas intervenções na Bolsa de Xangai produziu o 30 40 5 0 20 Mais de 80 mil devem água e condomínio na receita. Durante alguns anos, essa deficiência foi disfarçada pelo grande boom das commodities, que criou renda e espalhou dinheiro até mesmo pelos grotões do Brasil. Mas, agora que a China vai reduzindo seu ritmo, não dá mais para contar com esse efeito. Problemas estruturais não se resolvem com gambiarras. “Ou mudamos a fiação ou dará curtocircuito”, avisou o ministro Levy, ontem. Exigem reformas estruturais. Todos sabemos do que se trata, mas não custa repetir: reforma da 10 CYRO BACH MONTEIRO disse que houve um aumento na inadimplência “Você tem todo direito de se irritar e de se preocupar. Mas lhe peço paciência e compreensão, porque esta situação é passageira. O Brasil tem todas as condições de vencer estes problemas temporários. (...) As dificuldades são conjunturais, esperamos uma primeira reação já no final do segundo semestre deste ano”, disse a presidente Dilma em seu pronunciamento de 8 de março. Não era só uma conversa para enganar os trouxas. Era uma convicção da Presidente, partilhada pelos ministérios da área econômica e pelo Banco Central. Agora, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, entoa um hino diferente. Vem repetindo, antes à voz pequena e agora a plenos pulmões, que há um “desequilíbrio estrutural na área fiscal”. A despesa pública tende a crescer mais do que o PIB e mais do que a arrecadação. É claro, sempre dá para cortar os gastos. Mas não dá para superestimá-los. A tampinha é sempre insignificância diante do tamanho da garrafa. Grande parte desse desequilíbrio foi exacerbada pela política econômica irrealista iniciada em 2009 e mantida no primeiro mandato da presidente Dilma, que o ministro Guido Mantega denominou pomposamente de Nova Matriz Macroeconômica. Baseou-se no alargamento das despesas públicas, no pressuposto de que era necessário alavancar o consumo para movimentar a atividade econômica e garantir o emprego. O resultado foi o aprofundamento do rombo que a baixa da maré expõe com crueza. O desequilíbrio estrutural do setor fiscal, alargado pelo diagnóstico errado e pelas decisões mais erradas ainda na administração das contas públicas, tem a ver com o sistema que criou a montanha de direitos sociais e econômicos sem contrapartida A economia precisa piorar muito mais, antes que se crie essa consciência e que se mobilizem as forças para produzir a virada Previdência, do setor tributário, do Estado, das leis trabalhistas; reforma política, mais acordos comerciais e abertura da economia. O diabo é que não se vê disposição do governo nem do Congresso em votá-las. Ao contrário, as iniciativas vão na direção oposta: na criação de tombo de 8,5% no pregão de ontem, o maior em oito anos. Esse mergulho, reforçado pelas estatísticas que indicam mau desempenho da indústria da China, provocou um momento de fuga das aplicações de risco que, no Brasil, também se refletiu com mais queda da bolsa e com alta do dólar. SAIBA MAIS Contas de água e condomínio atrasadas > NO TOTAL, 81.953 pessoas estão inadimplentes com contas de água e condomínio na Grande Vitória. > A INADIMPLÊNCIA está sendo influenciada pela crise, que reduziu o poder de compra das pessoas. > ESPECIALISTAS destacaram a importância de organizar as contas. Fonte: Cesan e Sipces. Publicação simultânea com o jornal O Estado de São Paulo Indústria da cerveja investe 1,9 bi em Pernambuco Enquanto muitas empresas repensam seus negócios, a indústria da cerveja decidiu apostar em Pernambuco, levando para o estado investimentos que devem chegar a R$ 1,9 bilhão até 2020. Atraídas por incentivos fiscais, lo- calização estratégica e baixo custo da mão de obra, as líderes Ambev, Grupo Petrópolis e Brasil Kirin, que têm 90% do mercado, reforçaram a presença no polo cervejeiro de Itapissuma e Igarassu, na Grande Recife. Ao lado da Bahia, Pernambuco tem recebido os mais novos projetos do setor no Nordeste — a região tem o segundo maior mercado de bebidas e responde por 23% da produção, segundo a CervBrasil (Associação Brasileira da Indústria da Cerveja).