O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA Resumo Partindo dos estudos do Imaginário, temos como objetivo neste ensaio tecer algumas considerações sobre a vocação, sobretudo vista a partir de um enfoque arquetípico. Mesmo considerando os problemas que esse termo ‐ vocação ‐ possa implicar, procuramos amplificar os seus desdobramentos, a fim de trazer à luz outras questões que ele pode nos remeter. A vocação aqui tratada refere‐se aos anseios da alma humana e aos sentidos que ela dá ao seu entorno existencial. Portanto, é diferenciada da profissão na medida em que esta é mutável e construída pelo contexto histórico. Palavras‐chave: Palavras‐chave: Educação. Vocação. Imaginário. José Aparecido Celorio Universidade Estadual de Maringá Universidade Federal de Pelotas [email protected] Lúcia Maria Vaz Peres Universidade Federal de Pelotas [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres A vocação não é um assunto acabado e esgotado no campo educacional, embora muitas pesquisas já a abordaram. Nosso intuito será trazê‐la no sentido existencial e arquetípico do termo, tendo os estudos do Imaginário como andaimes teóricos. Por ser um assunto controverso, convidamos o leitor a olhar a vocação não como definidora de uma profissão ou ofício, mas como uma maneira de interpretar o mundo, como caráter, como expressão da alma humana diante da finitude da vida. Pautados nos estudos do Imaginário, temos como objetivo neste ensaio tecer algumas considerações mediante questões que se apresentam quando o assunto vocação é colocado em pauta, seja na fala de colegas professores quando se dizem seres vocacionados para o ensino, seja na angústia vivida por muitos adolescentes diante da escolha de uma profissão ou mesmo nas crises de meia‐idade que provocam mudanças significativas na vida de muitas pessoas. Primeiramente, cabe trazer o sentido etimológico da palavra. A origem da palavra “vocação” vem do verbo latino “vocare”, que quer dizer “chamar”. A vocação é, portanto, um chamado. No âmbito religioso, é sempre um chamado de Deus para alguma coisa. A pessoa chamada se sente impelida, atraída para aquilo a que justamente é chamada. É comum ouvir alguém que fez essa experiência da vocação dizer que o chamado é como se fosse uma voz que ressoa suave e insistentemente aos nossos ouvidos. É como uma idéia que insiste em permanecer, mesmo quando queremos descartá‐la. A pessoa do vocacionado se sente atraída para aquilo que considera belo, grandioso, importante e necessário que se faça. A vocação é sempre vista como algo que se pode fazer de útil para os outros, e que é, portanto, um serviço que se pode prestar aos outros. É importante dizer que a vocação tem sempre essa dimensão da “alteridade”, é sempre “alter”, isto é, sempre voltada para o outro. Considerando sua origem, em especial, no que se refere ao vocare, trazemos junto o conceito de arquétipo, preconizado por C. G. Jung, como sendo uma das forças primevas (genuínas e primeiras) que nos impele a realização de nosso trajeto no mundo. Portanto, esta força motriz como vocare pode constituir‐se no sentido que cada ser no X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres mundo vai desenhando no seu trajeto de formação, rumo a uma profissão, no caso, ser professor. Nesse sentido, queremos chamar atenção para a relativização de sentimentos de desdém quando um colega de profissão, um professor, diz em seu discurso que "ser professor é uma vocação", "nasci para ser professor" ou ainda "a vocação que escolhi foi ser professor". Entendemos que tal desdém surge da compreensão de que para ser professor é preciso formação sólida, muito estudo e dedicação, reflexão e disposição para aprender ideias, conceitos, teorias e paciência para se dedicar ao outro. Neste caso, não se nasce para ser professor, é‐se formado para isso; professor não é vocação, é profissão, é trabalho; vocação não é escolhida, a profissão sim. Podemos concordar que quando atribuímos ao nosso trabalho, a nossa profissão, um caráter vocacional, à representação que se tem de professor segue uma avalanche de menosprezo e desvalorização. Dizer que se é professor por vocação e não por trabalho ou formação, é atribuir ao seu trabalho um caráter sacrifical, que mesmo não sendo valorizado e bem remunerado, será mantido por amor, como se tivesse que se entregar ao outro se despedaçando inteira e completamente. Quando a expressão "sou professor por vocação" chega aos nossos ouvidos, não há mais nada a fazer a não ser o repúdio e um alerta sobre o risco de alienação? E se resolvermos compreender essa expressão? Por que ser professor seria vocação, e o que de fato é a vocação? Não seria profícuo entrar nessa fantasia (aqui não como alienação, mas criar outras possibilidades de existência por meio da imaginação criadora) de que não se forma professor, mas nasce‐se professor? Considerar alienado um colega que se considera vocacionado para tal profissão não é também um atitude alienada, ao ignorar o que esse sentimento pode expressar de novo? Não queremos dizer com isso que concordamos com a ideia de que para ser professor ‐ ou qualquer outra profissão ‐ a vocação é ponto forte, mais importante até que a própria formação. Não! Definitivamente, não! O que questionamos é que ao entrar na fantasia do "ser vocacionado" para uma profissão, e tentar enxergar através dela, como pressupõe a psicologia arquetípica (HILLMAN, 2010), a própria ideia de que a vocação define a profissão passa a ser desconstruída. As reflexões que surgem dessa X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres desconstrução e desse "ver através" pode revelar, por exemplo, como e sob que condições se deu a escolha para esta ou aquela profissão. E mais ainda, talvez o mais importante, que a vocação não está relacionada a uma profissão ou a um ofício, mas ao como agimos no mundo e ao como reagimos a esse mundo que nos afeta. Se essa ideia de que professor é professor por vocação ainda permanece na fala de muitos colegas, é porque pouco se tem feito para entrar nessa fantasia e desvelar outros aspectos (e a própria incompreensão sobre o termo) que podem existir ali e que podem dar sentido a sua vida, não somente a sua profissão. Atrelar a vocação à profissão é reduzir seu valor e sua importância como meio para se compreender as imagens básicas que nos constituem e que nos movem em nosso processo autoformativo. A autoformação pressupõe a reflexão sobre o nosso próprio processo formativo e de que forma nos apropriamos daquilo que nos é ensinado. Essas imagens, que são arquetípicas, revelam que a busca e os dilemas pessoais ecoam nos dilemas coletivos e vice‐versa. Nesse sentido, consideramos a vocação no seu aspecto arquetípico, como se fosse, seguindo a esteira de Hillman (1996), o daimon que nos acompanha por toda a vida. A vocação é a que dá qualidade às coisas que tocamos e pelas quais somos tocados, é geradora de sentido e não de acontecimentos, é compreendida pelos sinais e pistas que nos são dadas desde a infância. Por outro lado, é resistente a qualquer calabouço conceitual. É o que nos caracteriza, o que nos informa sobre o nosso caráter, o que revela a nossa imagem básica; é fugidia e avessa a retratos ou representações que a definem deste ou daquele modo, é um farol com o qual olhamos o mundo para nele sermos e exercermos uma existência. Tocar no tema da vocação não diz respeito apenas à escolha de ser professor, antes disso, diz respeito às escolhas que fazemos na vida, como fazemos e por que fazemos, por que tomamos tais caminhos e não outros, por que às vezes temos certeza de que escolhemos fazer algo, em outras, a certeza de que fomos escolhidos, fomos convocados a exercer um papel, mesmo que em nosso íntimo, sentimos não ser aquele o nosso destino. Eis aqui a função do arquétipo na vida humana, ou seja, daquele denominado por Jung (2012a, p.122) como um "quadro dinâmico, uma parte da psique X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres objetiva, que só conseguimos entender corretamente quando vivenciada como uma coisa autônoma colocada fora de nós e à nossa frente". Falar em vocação, em daimon, em alma, implica em olhar e tentar enxergar nas entrelinhas do nosso trajeto como seres humanos, a não‐linearidade e a‐temporalidade da nossa vida. Apesar de parecer contraditório, invertemos essa noção de que a biografia só de dá em seu tempo comum cronológico. A grafia da nossa vida é perpassada por acidentes, por desvios de rota, por versos e reversos, desenrola‐se em um tempo de relógios banidos, é escrita sobre linhas tênues que exigem comprometimento; é um não‐ lugar de onde nada é fixo, tudo está em movimento e mutação. O sentido daimonico da existência pede um telos, um propósito para cada fragmento de existência, sem nos lançarmos para um fim grandioso, que nos permite compreender a razão de darmos esses e não aqueles passos, para seguirmos esse e não aquele caminho, para choramos ao invés de rirmos, para abraçarmos alguém ao invés de corrermos ao longe em busca apenas de nós mesmos. A alma ‐ o daimon‐ denota um destino, mas não o sela. A alma, o daimon ou o fruto do carvalho, na expressão de Hillman (1996, p. 217) "age menos como um guia pessoal, encaminhando‐se para um fim remoto determinado, do que como um estilo de movimentação, uma dinâmica interna que dá o sentimento de propósito às ocasiões". A nossa biografia é de idas e vindas, permite contornos, voltas e reviravoltas, por isso, não pode ser compreendia com base na causalidade, como se um evento fosse o resultado de outro. É comum buscarmos as causas dos acontecimentos em nossas vidas, como se eles já estivessem determinados, sem ao menos percebermos que a nossa vida também é marcada pelos momentos caóticos: de desordem, de indefinições, que abrem brechas e nos convidam ‐ e nos obrigam a viver de outro modo e a dar um sentido a eles. O nosso passado também é interpretado mediante o nosso presente, com base naquilo que estamos vivendo, o que altera a rede causal que havíamos formado para explicar por que de uma escolha e não de outra. Essa rede de causa e efeito se desfaz à luz do imaginário durandiano (2002) onde as coisas estão sempre em potencial para serem imaginadas de uma forma ou de outra. As várias faces da nossa vida estão ali para X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres serem consteladas. O sentido aparece como uma constelação do céu, quando cada fragmento de vida se conecta a outro mediante a forma como o nosso caráter imagina a nossa vida. Inicialmente, quando dissemos que entrar na fantasia da vocação implica em novas reflexões sobre as escolhas que fazemos e sobre os momentos que vivemos, isso se refere, sobretudo, à possibilidade de constelar os vários pontos luminosos ‐ e também sombrios ‐ que formam cada face da nossa psique. Compreender a vocação nessa perspectiva, permite‐nos assumirmos a responsabilidade diante da vida, sem que os nossos pesares e lágrimas sejam atribuídos aos pais ou à família ou à formação que tivemos. A vocação como caráter nos obriga a buscar sentido em cada acontecimento, em cada escolha e em cada acidente da vida, expressando assim a jornada arquetípica do trajeto do humano em formação. Não somos, portanto, destinados a um fim inexorável, a um modo de vida ou a uma condição social. Se o caráter é o destino, a maneira como lidamos com as coisas externas que nos afetam é o que nos determina, mesmo nos acontecimentos acidentais da vida, há sempre algo para ser interpretado, um propósito que nos abre a um sentido, a um significado. As nossas escolhas se dão na existência, na relação que estabelecemos com o mundo, com a vida e com a cultura. Se a vocação nos indica os primeiros sinais que podem nos levar a exercer certas funções na vida, isso não quer dizer o que especificamente faremos. James Hillman, no seu polêmico livro O código do ser (1996), apresenta um estudo de uma série de biografias para mostrar que os primeiros sinais vocacionais se dão desde tenra idade. Ele retoma o Mito de Er narrado por Platão ‐ 428/427– 348/347 a.C (2001) em que Er, depois de ter morrido em combate e percorrido o mundo dos mortos, pode retornar à vida e contar o que havia visto e como o destino de cada um era entregue. Diante da deusa Necessidade e de suas filhas, Láquesis (o passado), Cloto (o presente) e Átropos (o futuro) ‐ as Parcas ‐, Er compreendeu que o ser humano escolhe seu gênio ‐ seu daimon‐, que por sua vez contém o seu destino. Das fiandeiras do destino, o indivíduo recebe de Láquesis o seu daimon ‐ ou gênius ‐, que o acompanhará e o fará cumprir sua designação. Esse daimon é a impressão em nós de uma imagem, de um padrão arquetípico que viveremos durante a nossa existência. Na X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres perspectiva arquetípica, nossa biografia, para além de uma cronologia de fatos vividos, é marcada pelo inesperado, pela necessidade, por aquilo que entendemos como destino e como vocação. Quando uma criança ganha o tão esperado instrumento musical, sua sensibilidade para os sons e para a música se torna mais visível. É muito comum vermos na biografia de músicos, que seu começo se deu em tenra idade, como no caso do compositor grego Vangelis (1943‐), que aos quatro anos de idade já traçava suas primeiras composições. Quando algo nos toca profundamente, ali pode ter um dedo do daimon. É comum vermos crianças escolherem latas para fazerem seus sons, alguns até ensurdecedores, mas isso não significa que serão músicos ou compositores. Entre a maioria dessas crianças, esse interesse se desfaz com o tempo e outros objetos passam a ser motivos de atenção. Porém, para alguns, isso permanece como fonte de interesse e tem profunda repercussão na vida adulta, sobretudo nas escolhas que farão profissionalmente, como no caso citado acima. Desse modo, a vocação não define a profissão, mas pode ser exercida em uma profissão. Não nascemos para sermos médicos, professores ou psicólogos, mas talvez dispomos de uma sensibilidade para com o outro, um impulso que nos move para o outro na forma de cuidar, ajudar e compreender. A profissão é forjada pelo meio social, pelo contexto histórico, cultural e econômico. E dizer que uma criança se inclina mais para ser professora ou engenheira, talvez carregue mesmo certo teor ideológico, pois algumas profissões são mais valorizadas do que outras dependendo do lugar e da região onde se vive. Além disso, as profissões não são eternas, elas mudam conforme o contexto sócio‐cultural e histórico, sobretudo no período em que vivemos, com os avanços da tecnologia e da ciência. Como vivemos em um momento histórico e cultural onde tudo parece estar ao nosso alcance e onde podemos ser qualquer coisa que quisermos, a escolha profissional passou a ser cada vez mais angustiante. Não temos mais uma sociedade tradicional que nos dirige a este ou aquele ofício, conforme as sociedades tradicionais faziam. Estamos, aparentemente, livres para fazermos as escolhas que queremos, e talvez aqui resida o maior problema que os jovens enfrentam continuamente ao depararem com a necessidade de escolherem uma profissão, um futuro. E como afirma Rollo May (1976), a liberdade é responsável pela ansiedade que muitos de nós vivemos atualmente. Se antes X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres não podíamos decidir, porque as decisões eram vindas de cima para baixo, hoje, nas relações mais horizontalizadas, cabe a nós as decisões. E agora, o que fazer, para onde ir? Se antes tínhamos um futuro certo, um objetivo único, escolhido por uma sociedade familiar diretiva, hoje temos uma gama de opções acompanhada de uma boa dose de insegurança. Não temos mais um objetivo, pelo contrário, temos muitos e não sabemos o que fazer. E a escola precisa se abrir a esses novos dilemas e abandonar essa nostalgia de querer voltar a um passado moderno em que o ensino era pautado no "eu sei, você não". Vivemos em um período de tempo escasso em que as necessidades individuais exigem serem atendidas prontamente. Não queremos esperar, produzimos e consumimos em excesso, buscamos o lucro a qualquer custo, tornamos a vida um campo de batalha, seja por títulos ou prêmios de produtividade, ou ainda, a tão sonhada fama. A escola e os nossos alunos não estão imunes a isso, pelo contrário, estão entrando na mesma ciranda. Nossos alunos ‐ os filhos, as crianças ‐ estão sob pressão, como bem alerta Carl Honore (2009). Conforme esse autor, "os professores descrevem uma geração de abelhas operárias, mestras em jogar segundo as regras, mas desprovidas de um brilho pessoal" (2009, p. 27). Desde pequenos já se incute nas crianças o que elas devem fazer e ser, sem ao menos terem seus anseios atendidos. Precisamos escutar as crianças! O daimon também se rebela e quando isso ocorre, vem um diagnóstico e diz, é "hiperativo", precisa de medicação. A escola já está se tornando uma zona de treinamento para que o menino ou a menina se torne uma pessoa bem sucedida, importante e inteligente, de preferência poliglota aos 12 anos. Queremos adequar as crianças ao tempo adulto, o tempo do relógio, da agenda, do compromisso e, consequentemente, do esquecimento, do trabalho e do seu excesso, da preocupação excessiva com a saúde e do sono agitado. Estamos terceirizando as nossas crianças, qualquer sinal que foge aos padrões que estabelecemos como normais, as enviamos para os clínicos. Quando falamos em vocação na perspectiva arquetípica do daimon, rompemos com essa tendência à normatização de comportamentos, valorizamos o indivíduo no seu processo, ouvimos os sonhos e anseios dos pequenos, respeitamos o tempo de cada um e alertamos sobre a importância de viver a própria vida e de manter as próprias convicções. Além disso, reconhecemos que nem sempre o daimon se atenta para X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres aquilo que nós, como professores, determinamos. Ou ainda "aquele que anseia por assumir a condição humana e viver como um igual entre os homens, resiste a assumir um comportamento adequado e a obedecer (ARAÚJO; ARAÚJO; RIBEIRO, 2012, p. 43) Infelizmente a escola, em sua grande maioria, aderiu ao aparelhamento nosológico, ao taxar, sem um cuidado reflexivo, seus alunos de "hiperativos". Paradoxalmente, queremos alunos autônomos, criativos e críticos, todavia geralmente essas características vêm acompanhadas de agitação, impulsividade e indisciplina. A escola precisa se abrir à alma, aos seus aspectos criativos; precisa se abrir para o mundo, para aquilo que tem de novo, de diferente; precisa se abrir para a diversidade e para a variedade de culturas com as quais o nosso entorno é constituído. Para Jung (1985, p. 37) "embora a criança não nasça consciente, sua mente não é tabula rasa; ela vem ao mundo com uma interioridade definida [...]". Cada um de nós tem um pedacinho do mundo guardado em nossa corporeidade, pronto para ser manifesto, conhecido e apreciado. Muitas vezes questionamos a razão de muitas escolas não mostrarem aos seus alunos os diversos movimentos culturais do mundo, seja por meio da música, da dança ou mesmo da culinária de um povo. Com o acesso facilitado à Internet, o professor tem condições de levar para a sala de aula aquilo que a TV aberta e as rádios não mostram. A escola é fonte cultural em uma cidade, ainda mais tratando‐se de uma cidade de pequeno porte. Se uma cidade não tem um teatro ou um cinema, é na escola onde os alunos vão conhecer um pouco sobre as várias faces do mundo. No entanto, não é isso o que vemos comumente. Algumas escolas acabam reproduzindo o que é que hegemônico nas emissoras de TV e nas rádios. Conforme Lipovetsky e Serroy (2011, p.151) passamos da "sociedade disciplinar‐ autoritária do primeiro momento da modernidade para a sociedade consumista‐ hedonista‐neoindividualista da hipermodernidade". Corremos atrás de algo sem saber exatamente o que, destruímos as relações solidárias, perdemos o respeito pelo humano, tornamo‐nos indiferentes à dor do outro e corrompemos o sentido das nossas vidas em nome de um progresso que mesmo antes de chegar derrama sua lama quente pondo fim a sonhos e a vidas. A escola, na concepção de Lipovetsky e Serroy, poderia aproveitar o melhor do antigo, da autoridade (e não do autoritarismo) e do trabalho do professor X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres como aquele que ensina e do papel do aluno na condição de aprendente; e o melhor do novo: da parte do professor, uma disposição para o diálogo e para a escuta e uma disposição ainda maior para ser avaliado pelo aluno, sem que isso implique em um tipo de vigilância. O que está em jogo para os autores, é "realmente fazer com que o mundo, e o desejo de se inserir nele, entre na escola. [...] Uma escola que não se limite a fornecer quadro teóricos, mas que permita o enriquecimento da experiência vivida dos jovens pelo contato com o que não é ela" (LIPOVETSKY; SERROY, 2011, p.160. grifos do autor). Outra questão que se apresenta quando buscamos os rastros daimonicos, é a quantidade de adolescentes em dúvida sobre que caminho profissional escolher após o término do Ensino Médio. Refletindo, de algum modo, a sociedade desacralizada de sentidos genuínos onde estão iseridos. Algumas escolas oferecem "teste vocacional" para facilitar a escolha, mas muitos desses testes acabam gerando mais dúvida, além de não conseguirem perscrutar as intimações mais básicas do indivíduo. Por outro lado, há outros recursos que ajudam muitíssimos os alunos, como as técnicas de psicodrama (LUCCHIARI, 1992). Quando, em nossos estudos, defendemos a importância de uma pedagogia simbólica atrelada ao imaginário individual e coletivo, buscamos na imaginação simbólica e criadora a imagem multifacetada do humano e suas mais profundas intimações oriundas de sua alma no mundo. A imaginação simbólica e criadora, fortemente preconizada nos estudos de Gilbert Durand (1988, 2002) não é aquela que usamos para fazer um desenho ou uma pintura, é mais do que isso, é a capacidade do ser humano em fazer dialogar as suas faces do dia e da noite, é valorizar os paradoxos e romper com as dualidades e comportamentos maniqueístas, do isso é bom, isso é mau. Quando consideramos o valor do símbolo na escola, a vida que antes era apenas construída em bases heroicas e racionais passa também a ser construía em bases poéticas, tornando a educação também uma fonte de autoconhecimento. Se tomarmos a educação como um meio de valorizar nas pessoas tudo o que elas trazem em si, inclusive seus paradoxos, a escola tem um grande papel a desempenhar para além da formação intelectual e para além de um treinamento para o exercício de um bom emprego. O caráter arquetípico da vocação exige uma autoformação, uma capacidade de localizar em si os anseios, as angústias, os sonhos e o próprio sentido de X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres viver. Quando alertamos sobre a angústia de muitos adolescentes diante da premência de escolher o seu futuro, queremos dizer que muitos deles têm sua vida interior completamente colocada para escanteio. Foram tantas as exigências e os conteúdos, que suas agendas ficaram sem espaço para eles mesmos. Na dificuldade de pensar e sentir o que seu mundo interior pede para ser vivido, muitos não têm escolha a não ser realizar aquilo que os pais não conseguiram realizar. Como questiona Hollis (2005, p. 18) "Por que deveríamos chegar mais rápido a algum lugar, ou aprender mais sobre algo, quando não temos a menor idéia de quem somos, ou a quais valores servem essas informações?" (sic). Em seu livro O Desenvolvimento da Personalidade (1986) Jung alerta que o maior fardo que uma criança pode carregar é a vida não vivida dos pais. Quantos jovens não se direcionam para uma determinada carreira movidos por um desejo que, na verdade, foi inculcado sub‐repticiamente por um (ou pelos dois) de seus progenitores? Não queremos dizer que um jovem não possa seguir a carreira de um dos pais. O que vemos, muitas vezes, são jovens que não demonstram tanto entusiasmo com a escolha que fizeram ou ainda com a que estão pensando em fazer. No entanto, sabemos que nossos pais e avós carregam ainda um sentimento de que poderiam ter feito algo diferente, apesar de reconhecerem também que diante da conjuntura em que viviam não havia muitas possibilidades de escolha. De qualquer modo, hoje, muitos deles estão conseguindo realizar seus sonhos que até então estavam guardados. Um exemplo disso são os alunos das Universidades Abertas à Terceira Idade, na qual tivemos o prazer em lecionar. Ouvimos muitas histórias, que agora não são mais histórias de frustração, mas de realização, de sonhos guardados e agora desvelados em sua plenitude. Como diz o poeta Antonio Cícero, "[...] guardar uma coisa é vigiá‐la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela [...]" (1997, p. 11). Vivemos em outros tempos, desenvolvemos teorias nas mais diversas áreas que nos permitiram ter mais consciência das coisas que ocorrem no mundo e em nossa psique, e por isso, este seja momento de cuidarmos para que nossos jovens não sejam portadores de um sonho que não pudemos ou, talvez, não tivemos coragem de realizar. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres A vocação acompanhada por aquele sentimento de que devemos realizar algo se aproxima da jornada do herói, sobretudo porque "o chamado ou convocação representa a necessidade de que um valor mais antigo, pessoal ou tribal seja superado. Raramente o caminho é nítido. e certamente nunca é fácil" (HOLLIS, 1997, p. 102). Essa jornada pode levar a vida toda, mas, apesar disso, não deixa de ser uma vida de realizações. Da mesma forma que o caminho às vezes parece ser tortuoso, a certeza de que vamos para um determinado lugar não surge após os anos finais do Ensino Médio. Apesar de nosso daimon dar os primeiros sinais na infância, podemos levar anos para compreendê‐los ou mesmo aceitá‐los. Se não fosse assim, as crises que surgem na meia‐idade não seriam portais para outros lugares de encontro com o daimon da infância. E concordamos com Campbell (2003, p. 373) quando diz que a tarefa do herói "deve configurar‐se como uma busca destinada a trazer outra vez à luz a Atlântida perdida da alma coordenada". É a busca da multiplicidade da nossa alma, é manter em diálogo as nossas faces de luz e de sombra, é nos mantermos no crepúsculo, onde os poetas anunciam a chegada de um novo mundo, respeitoso para com as diferenças. E as diferenças não dizem respeito apenas às peculiaridades da vida de outros seres humanos. Dizem respeito também, e fundamentalmente, àquilo que é diferente em nós, à vida em toda sua face trágica. Ao falar dessas diferenças, aludimos ao fato de que reconhecer que humano só humano quando ele admitir que em si não há somente o ser protetor, amoroso e solidário, mas também o maníaco, o perverso e assassino. O caráter surge justamente na forma como lidamos com essas faces. A nossa história como seres vocacionados, seres daimonicos, rumo a uma jornada, também possui um caráter iniciático, um voltar‐se para nós mesmos para encontrar o nosso mundo que também é do outro. A iniciação, como diz Durand (2002, p. 306) "é mais que um batismo: é um comprometimento". O percurso iniciático, que poderia se dar na escola, é "condição de formação de si‐mesmo (ARAÚJO; ARAÚJO; RIBEIRO, 2012, p. 20). Essa condição iniciática implica em um viver um destino, o caminho de todo neófito, que como um herói, passa pela morte iniciática para se tornar um novo homem. Esse caminho é intrínseco ao processo de individuação, em que individuação significa "tornar‐ se único, na medida em que por 'individualidade' entendermos nossa singularidade mais X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres íntima, última e incomparável", significando também que nos tornamos o nosso próprio si‐mesmo" (JUNG, 2012b, p.63). É no ato de mergulhar no inconsciente, de ir ao encontro de nossa sombra, das nossas fraquezas e das nossas potências, que descobrimos o motivo de estarmos aqui. Assim como o Jonas Bíblico, a "passagem através do mar, esta incubação no ventre do monstro, é uma condição para nos tornarmos seres autênticos" (LELOUP, 2003, p. 59). O nosso daimon pede para ser vivido, com o passar do tempo ele surge em nossa vida, em forma de um lampejo, de um acontecimento. E "o menor acontecimento desdobra‐se com um destino. O próprio destino é como um amplo e admirável tecido em que dedos de infinita ternura conduzem cada fio" (RILKE, 1992, p. 30). No entanto, parece que a escola contemporânea, ainda baseada em relações verticalizadas, está bem distante de ser iniciática. Por fim: Era uma vez, conta a história, um rapaz que vivia em Isfahan como criado de um rico mercador. Uma bela manhã, despreocupado e com a bolsa cheia de moedas retiradas dos cofres do mercador para comprar carne, frutas e vinho, ele cavalgou até o mercado; ali chegando, deparou‐se com a Morte, que lhe fez um sinal como que para dizer alguma coisa. Aterrorizado, o rapaz fez o cavalo dar meia‐volta e fugiu a galope, pegando a estrada que levava a Samara. Ao anoitecer, sujo e exausto, chegou a uma estalagem dessa cidade e, com o dinheiro do mercador, alugou um quarto. Nele entrando, prostrou‐se na cama, entre fatigado e aliviado, pois lhe parecia ter conseguido lograr a Morte; No meio da noite, porém, ouviu baterem à porta, e no umbral ele viu a Morte parada, de pé, sorrindo amavelmente. ‐ Por que você está aqui? – perguntou o moço, pálido e trêmulo. – Eu só a vi esta manhã na feira, em Isfahan; E a Morte respondeu: ‐ Ora, eu vim buscá‐lo, conforme está escrito. Pois quando o encontrei esta manhã na feira, em Isfahan, tentei lhe dizer que nós tínhamos um encontro esta noite em Samara. Mas você não me deixou falar e simplesmente fugiu em disparada (apud GREENE, 1990, p. 9) O destino é um encontro com o daimon, por isso, caráter, vocação e destino caminham em parceria, se entrelaçam, se formam mutuamente e juntos dão um sentido às nossas vidas, quando damos passagem ao arquétipo ou arquétipos que nos orientam. A escola, como espaço onde a educação pode assumir "sua vocação originária e de sempre, que é a da viagem como formação de um Eu em busca incessante de uma X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13 X Anped Sul O CARÁTER ARQUETÍPICO DA VOCAÇÃO: (RE)PENSANDO AS NOSSAS ESCOLHAS A PARTIR DO IMAGINÁRIO E DA (AUTO)FORMAÇÃO HUMANA José Aparecido Celorio ‐ Lúcia Maria Vaz Peres trans(des)cendência salvífica" (ARAÚJO; ARAÚJO; RIBEIRO, 2012, p. 20), poderia se abrir a alma individual e coletiva, acolher o mundo e suas memórias. Assim estaria perpetuando a velha saga de todo o herói, do "terror diante do tempo que foge, a angústia diante da ausência e a esperança na realização do tempo, a confiança numa vitória sobre ele" (DURAND, 2002, p. 282). No fim, o destino de todos nós é a morte e, por conseguinte, a vocação de todos nós, é driblar esse fim até o último momento de nossas vidas. E talvez, um dos papeis da educação e da escola seja apresentar aos seus alunos esta condição humana e todos os desdobramentos que ela tem na vida de cada um de nós, aliada ao histórico papel da escola de transmitir conhecimentos e ajudar no trajeto de ascensão pessoal e profissional. Referências ARAÚJO, Alberto Filipe; ARAÚJO, Joaquim Machado de Araújo; RIBEIRO, José Augusto. As lições de pinóquio. Estou farto de ser sempre um boneco! Curitiba: CRC, 2012. CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Cultrix: Pensamento, 2003. CÍCERO, Antonio. Guardar. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997. DURAND, Gilbert. A imaginação simbólica. São Paulo: Martins Fontes, 1988. DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. Introdução à arquetipologia geral. São Paulo: Martins Fontes, 2002. GREENE, Liz. A astrologia do destino. São Paulo: Cultrix: Pensamento, 1990. HILLMAN, James. O código do ser. Uma busca do caráter e da vocação pessoal. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. 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