Avaliação das características físico-químicas de leite cru refrigerado: um estudo de uma indústria de Laticínios em Colorado do Oeste/RO Cristiane Cabral da Silva Leite1, Alice Maria Dahmer2, Luiz Cícero Gregianini1 , Nélio Ranieli Ferreira de Paula2 Discentes do Curso Superior de Tecnologia de Laticínios – IFRO Câmpus Colorado do Oeste. e-mail: [email protected] Professor do IFRO Câmpus Colorado do Oeste. e-mail: [email protected] 1 2 Área do conhecimento do CNPQ: Ciência e Tecnologia de Alimentos Resumo: A determinação e o controle dos teores dos componentes do leite são importantes para o estabelecimento da sua qualidade nutricional e adequação para o processamento e consumo humano. Desta forma, objetivou-se avaliar as características físico-químicas do leite cru refrigerado destinado ao processamento em uma indústria de laticínios no município de Colorado do Oeste /RO. Foram analisadas 258 amostras de leite, de maio a junho de 2012. Os resultados compreenderam as análises do teor de gordura, proteína, extrato seco desengordurado (ESD), índice crioscópico (IC), acidez titulável, redutase, pelo método de TRAM e a temperatura do leite cru refrigerado. Do total de amostras analisadas, 70,94% foram reprovadas nas análises físico-químicas em no mínimo uma das provas por estarem em desacordo com a legislação vigente. O percentual de amostras em desacordo em relação ao TRAM foi o maior, com 68,21%, seguida do IC (3,87%), ESD (1,93%), gordura e proteína (0,38%), enquanto que a acidez e temperatura atenderam os padrões estabelecidos pela legislação. Os resultados mostram a necessidade de priorizar ações para a melhoria da qualidade do leite desde a produção até sua chegada à indústria. Palavras–chave: análise físico-química, leite, leite cru refrigerado, qualidade dos alimentos Evaluation of physico and chemical characteristics of refrigerated raw milk: a study of a Dairy industry in Colorado do Oeste/RO Abstract: The determination and control of the levels of milk components are important for the establishment of its nutritional quality and fitness for human consumption and processing. The objective of this study was to evaluate milk physico and chemical characteristics of refrigerated raw milk intended for processing in a dairy in the Colorado do Oeste’s municipality, state of Rondônia/RO. It was analyzed 258 examples of milk samples at May-June 2012. The results of the analyzes comprised of fat, protein, nonfat dry(ESD), crioscopic index (IC), acidity, TRAM reductase by the method of temperature and refrigerated raw milk. Of the total samples analyzed, 70,94 % were rejected on physical-chemical analysis in at least one of the tests for being in violation of the law. The percentage of samples in disagreement with the TRAM was the highest with 68,21%, followed by HF (3,87%), ESD (1,93%), fat, and protein (0,38%), while acidity and temperature met the standards set by law. The results show the need to prioritize actions to improve the quality of milk from production to their arrival to the industry. Keywords: physical-chemistry analysis, milk, refrigerated milk, food quality Introdução A determinação e o controle dos teores dos componentes do leite são importantes para o estabelecimento da sua qualidade nutricional e adequação para o processamento e consumo humano. De acordo com a legislação (BRASIL, 2002), o leite tipo C, cru refrigerado, deve conter teores mínimos de gordura de 3% (g/100g), proteína total de 2,9% (g/100g), sólidos não gordurosos (ESD) de 8,4% (g/100g), redutase (ou TRAM - tempo de redução do azul de metileno) com o mínimo de 90 minutos, a acidez titulável de 14 a 18°D, índice crioscópico (IC) máximo de -0,530°H, e estabelece a temperatura máxima para a chegada do leite na indústria como 10°C. Este trabalho objetivou avaliar as características físico-químicas do leite cru refrigerado destinado ao processamento, de 31 de maio a 29 de junho de 2012, em uma indústria de laticínios no município de Colorado do Oeste – RO. Material e Métodos Na elaboração deste trabalho, foram utilizados os resultados de 258 análises de leite cru refrigerado, com a média de 7 amostras diárias, analisadas no laboratório de uma unidade de 1 processamento de leite do município de Colorado do Oeste/RO, no período de 31 de maio a 29 de junho de 2012. Foram determinados os parâmetros da composição do leite, gordura, proteína e ESD, com auxílio de um analisador de leite por ultra-som, Ekomilk®, a acidez titulável, que tem por objetivo a quantificação do ácido lático presente no leite, índice crioscópico (IC), que determina o ponto de congelamento do leite, com finalidade da detecção de fraudes por adição de água realizada com o aparelho chamado de Crioscópio MK 540®, redutase, pelo método de TRAM (tempo de redução do azul de metileno), para determinação do perfil microbiológico e a temperatura do leite de tanques isotérmicos na chegada do caminhão à indústria. As amostras foram coletadas na chegada dos caminhões tanques à indústria, acondicionados em vidros esterilizados com aproximadamente 600 mL de leite e conduzidos rapidamente ao laboratório para a realização das análises. Os resultados foram registrados manualmente em planilhas, transferidos para o programa Microsoft Excel®, analisados estatisticamente (média e desvio-padrão) e confrontados com os valores estabelecidos pela Instrução Normativa n° 51 (IN51) (BRASIL, 2002). Resultados e Discussão Do total de amostras analisadas, 70,94% foram reprovadas nas análises físico-químicas em no mínimo uma das provas, por estarem em desacordo com a legislação vigente. O percentual de amostras em desacordo em relação ao TRAM foi o maior, com 68,21%, seguida do IC (3,87%), ESD (1,93%), gordura e proteína (0,38%), conforme Tabela 1. Tabela 1. Valores médios, desvios-padrão, máximos e mínimos e não conformes de análises físicoquímicas em amostras de leite cru de indústria de Colorado do Oeste, RO, mai./jun., 2012. b c ICd °H n Gordura% Proteína % ESD % TRAM min. Acidez °D Temp.°C Média aritmética Desvio padrão Máximo Mínimo 3,83 0,31 4,49 2,91 3,03 0,04 3,13 2,87 8,76 0,14 9,05 8,01 82,08 8,07 102 60 15,78 0,44 17 15 -0,537 4,43 -0,550 -0,529 7,63 1 10 5 % NCa 0,38 0,38 1,93% 68,21% 0,00% 3,87% 0,00% a NC = não conforme segundo a legislação vigente (BRASIL, 2002) b ESD = extrato seco desengordurado c TRAM = tempo de redução do azul de metileno. d IC = índice crioscópico Segundo Behmer (1999), a gordura é o componente mais variável do leite, influenciado por fatores genéticos, de manejo e ambientais. Nota-se na Tabela 1 a média de 3,83% e somente uma amostra apresentou valor em desacordo com a IN 51(BRASIL, 2002). Variações dos teores de proteínas são determinantes do rendimento industrial na fabricação de queijos e outros lácteos, dependentes de concentrações adequadas de caseína na matéria prima (BEHMER, 1999). A proteína foi o componente que apresentou a menor variação de resultados em relação à média, com desvio padrão de 0,04% e somente uma amostra não apresentou conformidade com a IN 51(BRASIL, 2002). O percentual médio para o ESD observado foi de 8,76%, 1,93% das amostras apresentaram valores inferiores à determinação da legislação (BRASIL, 2002). No caso da determinação da acidez, os resultados mostraram valores entre 15 a 17 °D, as 258 amostras (100%) estavam dentro dos valores estabelecidos pela legislação (BRASIL, 2002). O IC apresentou 10 (3,87%) amostras incompatíveis com o determinado pela legislação (BRASIL, 2002), com grande variação de resultados em relação à média. A temperatura de chegada do leite na indústria é importante para o controle da multiplicação de micro-organismos, os quais são capazes de influenciar negativamente a qualidade do leite (ROOS et al., 2002). Os resultados demonstraram uma variação entre 5 a 10°C, o que é considerado adequado. O TRAM é um método de análise de triagem, que mede indiretamente a população bacteriana do leite, de aeróbios mesófilos, coliformes e psicrotróficos, a presença desses, enfatiza a existência de problemas nas etapas de resfriamento, manejo da ordenha, higienização de equipamentos e utensílios 2 (CHAPAVAL; PIEKARSKI, 2000). Nesse teste se avalia a atividade das bactérias presentes no leite, por meio de um corante. Quanto mais rápido for o tempo de descoloração do corante de azul para branco, maior é o número de micróbios existentes. Os resultados apontaram que 68,2% (FIGURA 1) das amostras analisadas não cumpriram as exigências estabelecidas na IN 51(BRASIL, 2002). 31,8% Conforme Não conforme 68,2% Figura 1 - Distribuição percentual dos resultados das análises de TRAM segundo a conformidade ou não à IN 51 (BRASIL, 2012), de 258 amostras de leite cru refrigerado de indústria de Colorado do Oeste, RO, mai./jun., 2012. Conclusões Os resultados apresentados mostram que há algumas barreiras relacionadas aos limites estabelecidos na IN 51, principalmente ao tempo de redução ao azul de metileno (TRAM). Para atender ao estabelecido na IN 51, especial atenção deve ser dada aos procedimentos de produção do leite, com boas práticas agropecuárias, principalmente com a higienização e limpeza dos processos de obtenção, dos utensílios que entram em contato com o leite bem como sua refrigeração imediata. Fica evidenciado que a qualidade do leite cru refrigerado analisado está deficiente, e é imperativo que haja ações de assistência e conscientização do produtor rural para a garantia da qualidade e segurança do leite como alimento. Agradecimentos A Deus, à Professora e Orientadora Alice Maria Dahmer pelo apoio nesse trabalho, ao Professor Nélio Ranieli, ao meu filho Victor Kauan pela compreensão, a minha família, ao Sr. Carlos Louzada pelo apoio financeiro e incentivo. A todos os colegas e todos que contribuíram, direta ou indiretamente, na produção deste trabalho. Literatura citada BRASIL. Ministério da Agricultura. Instrução Normativa n° 51 de 18 de setembro de 2002. Aprova os Regulamentos Técnicos de Produção, Identidade e Qualidade do Leite tipo A, do Leite tipo B, do Leite tipo C, do Leite Pasteurizado e do Leite Cru Refrigerado e o Regulamento Técnico da Coleta de Leite Cru Refrigerado e seu Transporte a Granel. Diário Oficial [da] União, Brasília, p.13, 20 set. 2002. Seção 1. BEHMER, M. L. A. Tecnologia do leite: leite, queijo, manteiga, caseína, iogurte, sorvetes e instalações: produção, industrialização, análise. 13. ed. rev. atualizada. São Paulo: Nobel, 1999. CHAPAVAL, L.; PIEKARSKI, P. R. B. Leite de Qualidade: manejo reprodutivo, nutricional e sanitário, Aprenda Fácil editora, Viçosa-MG, p. 71-78, 115, 131-136, 2000. ROOS, T. B.; OLIVEIRA, D. S.; MORAES, C. M.; GONZALEZ, H. L.; ALEXIS, M. A.; PORTO, C. R.; TIMM, C. D. Temperatura do leite cru entregue na indústria na região sudeste do Rio Grande do Sul. XXIX Congresso Brasileiro de Medicina Veterinaria, p. 126, Gramado, 2002. 3