Imagem Institucional: Justiça para todos – justo para a Casa Maria Goretti Dias Lopes Paiva Este trabalho pretende fazer uma reflexão sobre as práticas de comunicação organizacional na contemporaneidade, tomando como estudo de caso o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), que, em 1998, realizou pesquisa de opinião pública para mensurar o nível de conhecimento do Poder Judiciário entre os seus vários públicos. A partir da pesquisa, o TJMG implementou um Plano Estratégico de Comunicação e criou diversos programas de comunicação interna e externa com o objetivo de consolidar sua imagem institucional entre os seus públicos, dar visibilidade às suas ações e aproximar-se da sociedade. Um mundo em constantes transformações. Comportamentos mutantes. Tentativa de acompanhar acontecimentos e informações em tempo real. Esses, entre outros, são aspectos do cenário da sociedade atual e das organizações que a integram. Segundo Manuel Castells, a revolução tecnológica que sustenta a chamada “sociedade da informação” traz para a contemporaneidade uma nova forma de relação entre economia, estado e sociedade. Nesse contexto, a comunicação exerce papel relevante nas organizações. A idéia, neste trabalho, é buscar nos teóricos da comunicação organizacional o embasamento para contextualizar a experiência comunicacional do TJMG. Nesse sentido, a professora da ECA/USP, Margarida M. Krohling Kunsch, em seu trabalho “Alternativas Organizacional” para o apresenta fortalecimento uma extensa acadêmico lista na área de Comunicação de autores que tratam do tema Comunicação Organizacional;Empresarial, separando-os em: autores brasileiros, norteamericanos, ibero-americanos e franceses. Ela traça a evolução desses estudos e mostra que, no Brasil, o pioneiro na área foi Gaudêncio Torquato, que, em 1972, defendeu na ECA/USP a primeira tese de doutorado sobre “Comunicação na empresa e o jornalismo empresarial”. Segundo Kunsch, “a temática mais presente em toda essa produção está centrada no Jornalismo Empresarial, Assessoria de imprensa, Comunicação nas Organizações/Empresas, Comunicação Integrada, Comunicação Institucional, Relações Públicas, Comunicação Mercadológica ou de Marketing e relatos de cases e experiências profissionais”. Scrofeneker afirma que a comunicação organizacional vem assumindo grande importância devido ao cenário globalizado e que o elo comum entre os autores é a preocupação em definir e caracterizar comunicação organizacional e seu campo de abrangência, evidenciando a necessidade atribuir-lhe um lugar de destaque nas organizações. A comunicação organizacional abrange todas as formas de comunicação utilizadas pela organização para relacionar-se e interagir com seus públicos. Daí o nosso interesse em estudar a experiência do TJMG à luz dos teóricos da comunicação organizacional na tentativa de fazer esse diálogo entre a teoria e a prática. No estudo dos novos paradigmas da comunicação organizacional, Kunsch (1997) apresenta a sociedade contemporânea como complexa, heterogênea, diversa. O fenômeno da globalização econômica, o livre mercado, a competitividade, a automação industrial, as alterações impostas ao mundo do trabalho compõem as culturas: “No centro de tudo isso podemos enxergar uma sociedade complexa e dialética, impregnada por essa ‘nova cultura’ (da informática, da rapidez, da simplificação das coisas), que provoca mudanças no nível macro (sistema social global, no nível micro (organizações) e no homem individual”. (KUNSCH, 1997, p.136) A diversidade e a complexidade de uma cultura organizacional originam-se de todos os públicos que estejam a ela ligados de forma direta ou indireta. Lévy (1993) diz que, ao interagir com a cultura, o indivíduo constrói uma rede complexa. Ele apresenta o programa da ecologia cognitiva, ao estabelecer relações entre o pensamento individual, as instituições sociais e as técnicas de comunicação. O autor esboça articulações entre o sistema cognitivo humano e os sistemas semióticos das culturas, possibilitando a compreensão de como emergem as racionalidades. A memória, a cultura e as tecnologias fundam atividades cognitivas, representações. Transformações das tecnologias, redefinições, criação de redes. A cada nova conexão alteram-se os usos e as significações sociais de uma determinada técnica e criam-se infinitas interfaces. As culturas se modificam, as racionalidades também e é neste processo dinâmico que trabalha o comunicador organizacional. É ele quem vai perceber a importância da cultura organizacional, identificar as alterações na identidade da organização e de seus públicos, estabelecer mediações, buscar alternativas, procurar qualificar a ação comunicativa de forma integrada. Somente assim, o comunicador organizacional poderá conviver com as fronteiras da contemporaneidade, estabelecendo sua competência e tornando-se reconhecido como o profissional da área. A esse respeito, Torquato (1991) identifica os desajustes que ocorrem no processo administrativo, onde as organizações adotam a lógica da produção, ignorando a complexidade dos grupos, da história e da cultura empresarial. Como elementos de reforço das culturas organizacionais, o autor ressalta o aspecto histórico, que cria vínculos com o passado, dificultando possíveis mudanças. Valores, apego a antigos costumes, conservação de vínculos, sensação de ambiente familiar, são características históricas que permeiam as organizações. Também a natureza técnica, os produtos e serviços produzidos, que introduzem nos públicos características peculiares de produção ou consumo, que diferencia comportamentos e atitudes, é um fator a ser considerado. E ainda o modelo de gestão adotado, seja o de administração familiar, autocrática ou democrática, em qualquer circunstância, imprime traços que identificam as culturas nas organizações. Torquato aponta como reforçadores de cultura, entre outros, os programas de benefícios, associações, padrões sociais, culturais e econômicos das comunidades externas. Ele deixa claro que é um desafio para o administrador identificar o perfil médio da cultura nas organizações. Se não há esse reconhecimento, pode ocorrer um distanciamento psicológico entre os públicos e a administração, o que vai resultar em uma retratação parcial e limitada da comunidade. O descompasso das diretrizes administrativas com o contexto cultural da organização e dos públicos leva a adoção de políticas e rotinas voltadas para a homogeneização e não para a diversidade. Na identificação de elementos da cultura do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, podemos destacar valores como: imparcialidade, neutralidade, equidade, autoridade, respeito, valorização da antiguidade em detrimento da competência, comportamento ético, publicidade, transparência, cidadania, formalismo. Entre as crenças e pressupostos, encontramos: prestação jurisdicional de qualidade, valorização dos anseios da sociedade, necessidade de antecipar-se ao conflito, promovendo a paz social, prioridade inquestionável no atendimento a juízes e desembargadores, uma vez que “os juízes pensam que são deuses; os desembargadores têm certeza”. Dentre os ritos, rituais e cerimônias, o TJMG tem: treinamentos introdutórios para servidores e magistrados; treinamentos operacionais e comportamentais; uso obrigatório de becas nas sessões de julgamento; proibição do uso de shorts e bermudas nas dependências do TJ e fóruns; eventos de confraternização e integração como festa junina, semana do servidor, festa de natal; programas de responsabilidade social como Juizados de conciliação, Centrais de Conciliação, Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental Infrator (PAI-PJ); Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (APAC); concursos de monografia, literários e de fotografia. As culturas e, em especial, as organizacionais, são influenciadas pelas características da contemporaneidade. É preciso compreender essa dimensão para valorizar a cultura no estabelecimento de diretrizes administrativas e de comunicação dentro das organizações. As trajetórias da comunicação não ficam ilesas no processo, ao contrário, assumem prioridade no desenvolvimento das organizações. Kunsch (1997) propõe a comunicação integrada para garantir a eficácia e dar conta da fragmentação da comunicação, servindo de estratégia organizacional para acompanhar a realidade complexa, em acelerada transformação. Para ela, não é possível realizar uma brilhante assessoria de imprensa, “criar campanhas retumbantes ou produzir peças publicitárias impactantes de forma isolada, sem o envolvimento de todas as subáreas da comunicação organizacional”. ( KUNSCH, 1997,p.149) Freitas (1997) também reconhece que novas exigências são impostas às organizações. Maior conhecimento, novas relações de poder, flexibilidade à mudança, são novas necessidades oriundas da competitividade e do novo perfil de consumidor. É papel da comunicação estabelecer o diálogo interna e externamente. A dinâmica se dá na interação entre os indivíduos e a cultura organizacional, e a comunicação é a facilitadora da cooperação, da credibilidade e do comprometimento com os valores, com as pessoas que constituem a base da organização, argumenta a autora. Neste sentido, Kunsch (1997) ressalta que a trajetória da comunicação deve estar alinhada com o planejamento estratégico geral da organização. As diretrizes devem ser coerentes com a missão, os valores, os negócios, objetivos e metas estabelecidas, para resultarem em uma comunicação excelente e simétrica. Ressalta a necessidade de reciclagem na formação do relações públicas, que vê como a área competente para responder ao perfil da comunicação organizacional integrada, como mostra a seguinte argumentação: “(...)Esta, como já dissemos de outra forma, inclui, sinergicamente: a comunicação administrativa (redes formal e informal, fluxos descendentes, ascendente e horizontal); a comunicação institucional (relações públicas, jornalismo, edit oração, propaganda institucional, identidade corporativa e visual, marketing social e marketing cultural) e a comunicação mercadológica (propaganda comercial, promoção de vendas, merchandising, venda pessoal, demonstração de produtos, exposições e feiras comerciais, treinamento de vendedores, assessoria aos clientes e assistência técnica no pós-venda)”. (KUNSCH, 1997, p.145) A Função do Profissional de Comunicação O reconhecimento da importância da comunicação foi impulsionado pelo fenômeno da globalização que neste final de século, admite seu poder nos processos de desenvolvimento e democratização das nações. Enquanto produtores de significados, os profissionais da área atuam na elaboração cultural e nos processos de construção de olhares sobre o mundo, trabalham diretamente na educação assistemática da sociedade. Esta visão abrangente do comunicador como agente cultural, interventor social e portanto educador, ressalta a autoridade da comunicação. Na comunicação integrada, o planejamento deve conceber fluxos contínuos de comunicação com todos os públicos envolvidos. A ação comunicativa não fica restrita a informação, ela pressupõe uma comunicação construída na inter-relação, no cotidiano da organização e que depende do conhecimento e da compreensão dos públicos. O Planejamento Estratégico - Facilitador da Ação Comunicativa O reconhecimento de que o planejamento serve como catalizador, integrando a organização e unificando as diretrizes administrativas é observado na teoria da administração e da comunicação organizacional. Como processo dinâmico e organizador, o planejamento encaminha as ações para os objetivos predeterminados . Kunsch (1986) diz que sua importância está no processo de redimensionamento contínuo das ações e na condução de esforços, estratégias e recursos para os fins estabelecidos. É uma postura de antecipação e prospecção das ações estruturadas a partir de pesquisas, de análises pormenorizadas da realidade organizacional, afirma. O planejamento evita improvisações e ações amadoras, oferece competência e controle do processo operacional. Baseado na ação crítica da avaliação constante (antes, durante e depois), indica desvios e adianta possíveis problemas, além de garantir a previsão dos recursos humanos, materiais e financeiros. Schuler (1996) acredita que a administração da comunicação empresarial facilita as decisões e as ações efetivas das direções empresariais, que enfrentam a competição e as dificuldades dos mercados internacionalizados. Procedimentos de recepção das mensagens internas e o controle da empresa como mensagem, servem para detectar ruídos e aferir a eficácia do discurso construído, em relação aos objetivos propostos, argumenta a autora. A relação entre o planejamento estratégico administrativo e o planejamento da comunicação é evidente. A coerência entre os dois é determinante na eficácia da ação comunicativa. Kunsch (1997) sugere etapas sequenciais plano estratégico desenvolvimento de comunicação competente de para o desenvolvimento do e atribui ao encadeamento cada etapa a excelência da lógico e ao comunicação organizacional. Em primeiro lugar está o comprometimento da administração superior com o planejamento da comunicação. Acreditamos que aqui já se estabelece a função educativa do trabalho de relações públicas, que se prolonga por todas as etapas seguintes. Cada estratégia pensada, deve ser acompanhada de técnicas educativas para os atingir os públicos de interesse. Não basta informar, é preciso sensibilizar, buscar adesão e engajamento dos públicos. Na segunda etapa do processo previsto por Kunsch, está a avaliação da organização no contexto social, seguida da pesquisa e auditoria; elaboração do briefing; análise e construção do diagnóstico; definição da missão de comunicação; estabelecimento de filosofias e políticas; determinação de objetivos e metas; esboço das estratégias gerais; relacionamento dos programas específicos; montagem do orçamento; divulgação do plano de implementação e controle e avaliação dos resultados. Caso TJMG - Imagem Institucional - A Assessoria de Comunicação Institucional A Justiça Estadual é responsável pelo julgamento de processos envolvendo materiais cíveis, de família, do consumidor, de sucessões, de falências e concordatas, da infância e juventude, também as matérias criminais, dentre outras. É estruturada da seguinte forma: Tribunal de Justiça e Tribunal de Alçada; Tribunal e Conselhos de Justiça Militar; Tribunais do Júri; Juízes de Direito e Juizados Especiais. No cenário contemporâneo, tanto as instituições privadas quanto as públicas têm reconhecido a importância da comunicação como instrumento facilitador da motivação, divulgador de objetivos e agregador de valores, numa demonstração de transparência administrativa, fundamental para a credibilidade de uma organização. Dentro desse contexto, a Assessoria de Comunicação Institucional do Tribunal de Justiça (Ascom) tem como missão criar e implementar políticas, estratégias e ações de comunicação, que consolidem e ampliem os relacionamentos com os públicos interno e externo, visando aprimorar a imagem institucional e aproximar o TJ da sociedade. Hoje, a Ascom atua em áreas distintas: Assessoria de Imprensa, Relações Públicas e Cerimonial e Comunicação Visual, além de uma equipe de apoio que interage com todas as áreas. Existe, ainda, um núcleo da Ascom no Fórum Lafayette. Na área de jornalismo, a Ascom é responsável pela cobertura jornalística de todos os eventos do TJ, do Fórum Lafayette e em comarcas do interior. Diariamente, são elaborados releases com notícias, enviados por fax e por e-mail para a imprensa local, para o STF e para o Canal Justiça. Há, ainda, o atendimento pessoal e por telefone de inúmeros jornalistas que procuram a Ascom. Há também produtos de comunicação interna. A produção e locução do TJ Informa e Fórum Notícias (sistema interno de rádio) são também de responsabilidade da Assessoria de Imprensa. A Ascom também produz o TJMG Informativo, jornal mensal que é recebido por todos magistrados e servidores da ativa e aposentados. Há o clipping “Notícias em Destaque” (com recortes de notícias de jornais e revistas), que circula diariamente nos prédios da capital e encontra-se também na Intranet. Outras atribuições da imprensa são: uma página diária no jornal Minas Gerais, a alimentação e atualização da internet e intranet, notícias para os murais, textos para as esperas telefônicas, respostas a e-mails e agenda do presidente. Além do atendimento à imprensa local e nacional, a Assessoria de Imprensa envia aos veículos de comunicação sugestões de pauta de matérias institucionais e decisões. Para as matérias sobre as decisões, é feito um acompanhamento das sessões de julgamento. Há também o “Encontro com a Imprensa” com profissionais de comunicação, líderes e formadores de opinião. A equipe de Relações Públicas e Cerimonial cuida da organização de eventos, tanto na Capital como no Interior. Solenidades, funerais, encontros nacionais e locais, palestras, concursos, visitas de autoridades, de estudantes e público em geral, publicações, festas de integração e correspondência social do presidente estão na rotina da equipe. Outro destaque nessa área é o Espaço Cultural, que engloba a Galeria de Arte, Cine TJ e apoio ao Pensa TJ que têm como objetivo integrar o público interno e externo. Há também o Programa “Conhecendo o Judiciário” que possui atividades quase diárias, como visitas orientadas ao Palácio da Justiça e palestras para crianças, adolescentes e universitários. Todas as etapas desse programa, desde o agendamento até a finalização, são de responsabilidade da equipe de Relações Públicas e Cerimonial. A Comunicação Visual é responsável pela elaboração e execução de projetos de campanhas internas nas diversas mídias adotadas no TJ. Na mídia imprensa, podemos citar cartazes, livros, cartilhas e folders e a mídia eletrônica inclui internet e intranet. Criado há quatro anos, o Núcleo da Ascom no Fórum Lafayette também desenvolve atividades de Imprensa, Relações Públicas e Cerimonial da Justiça da Capital, além de ser responsável por projetos como o Fórum Entrevista, um programa no som ambiente que ocasionalmente entrevista juízes e servidores envolvidos com projetos interessantes. É também de responsabilidade da Ascom Fórum o projeto Fale com o Diretor do Foro – caixas de sugestões que foram espalhadas em diversos pontos do prédio e podem ser usadas por servidores, magistrados, advogados e usuários em geral. A Ascom trabalha com vários públicos distintos. Internamente, existem os desembargadores, juízes e servidores. Externamente, são os advogados, promotores, formadores de opinião, meios de comunicação, entidades empresariais, meio acadêmico, usuários da Justiça e sociedade em geral. A Ascom convive com demandas desde as baseadas nas mais modernas estratégias de gestão até as mais retrógradas. Por exemplo, trabalhamos a comunicação alinhada com os principais projetos e ações institucionais, criados a partir de levantamentos e diagnósticos para uma melhor prestação jurisdicional. Por outro lado, temos também demandas que nos exigem ações propostas por magistrados e/ou servidores que tratam a Ascom como se fosse uma extensão de seus projetos pessoais. Quanto ao público externo, sua natureza física é difusa, pois convivemos com instituições governamentais, privadas e acadêmicas, alunos, jornalistas, advogados, entre outros. E, lá na ponta de cada um desses segmentos, está o usuário e a sociedade em geral. Cabe à Ascom administrar o nível de necessidade de cada um dos públicos específicos de modo a não se deixar influenciar pelas suas nuances de humor, limitações e desejos. O público interno apresenta-nos suas necessidades e motivações através das ações demandadas. Por exemplo, se vai haver um evento qualquer em um setor, somos acionados em nossos cinco setores: Relações Públicas, Comunicação Visual, Imprensa, Cerimonial e Apoio. Ou seja: fazemos desde os convites, toda a produção visual e gráfica, contatos com pessoas e setores diversos, divulgação para público interno, preferencial e externo, até todo o serviço de Relações Públicas e Cerimonial. As necessidades e motivações do público externo podem ser percebidas em um projeto como por exemplo a Central de Conciliação, criada recentemente pelo TJMG para melhoria na redução do acervo processual mediante a realização de sessões prévias de conciliação entre as partes. Havendo a conciliação, as partes sentem-se satisfeitas em suas necessidades, resolvidos os seus conflitos de forma rápida e desburocratizada. A Ascom participa desde o início da criação do projeto – planejamento das ações de implantação, divulgação, expansão e controle. A Ascom está em todas as fases do projeto, alinhada com as estratégias propostas. Para fundamentar o planejamento de comunicação foi contratado o Instituto Vox Populi para realização da pesquisa de opinião pública “A Justiça e a Sociedade”. Foram realizadas 999 entrevistas com os seguintes grupos: Desembargadores, Juizes, servidores, Promotores, Advogados, População, Formadores de Opinião. Os resultados da pesquisa trazem um relato bastante interessante sobre o Poder Judiciário mineiro. Se comparada à Justiça de outros Estados, a Justiça de Minas Gerais é bem avaliada, principalmente, no tocante à formação e integridade de seus membros. Confirmando uma tendência observada entre todos os grupos pesquisados nesse estudo, a morosidade da justiça é uma questão muito Importante levantada também pelos formadores de opinião. Todavia, um aspecto ainda mais relevante, na opinião dos entrevistados, é o distanciamento que o Poder Judiciário mantém da sociedade. Essa distância não representa, de forma alguma, a imparcialidade da instituição. Ao contrário, esse distanciamento é visto como prejudicial e desnecessário. Dois fatores confirmam essa idéia: o incentivo à maior abertura da Justiça, através dos meios de comunicação e a boa avaliação dos Juizados Especiais, o que mostra a importância da aplicação da Justiça de maneira acessível e menos complexa. A questão é mudar a mentalidade e refletir sobre a postura que o Judiciário vem adotando frente à sociedade. A eficiência, a qualidade e a agilidade da Justiça estã o intrinsecamente ligadas a esse fato, uma vez que o Poder Judiciário possui recursos materiais e principalmente humanos para reverter a imagem que carrega. A pesquisa apontou para uma percepção geral de que o Poder Judiciário mantém um perfil discreto no que diz respeito ao seu relacionamento com a sociedade. Essa situação tem reconhecimento dos próprios membros da Instituição uma vez que a pesquisa de opinião realizada como os desembargadores e juízes mostra que a maioria dos entrevistados vê a comunicação do TJ com a sociedade entre regular e péssima. De acordo com a pesquisa, 42% dos juízes atribuem a desinformação sobre o Judiciário à falta de interesse/desconhecimento da população e 57% declaram que é devido ao fato de que o próprio Judiciário não se comunica. Com os desembargadores, os números são ligeiramente invertidos, mas similares, com 53% indicando desinteresse da população como causa e 46% destacando a responsabilidade do Judiciário em não informar a sociedade. O que esses números mostram é que existe uma consciência do público interno em relação à responsabilidade do próprio Tribunal no que se refere à desinformação sobre o Judiciário, estando explícita a idéia de que o TJ deve tomar a iniciativa nas suas relações com os meios de comunicação. A análise dos dados da pesquisa com o público externo mostra um cenário que exige uma atenção especial dos dirigentes do Judiciário. Se por um lado, a população coloca grau de confiança na instituição no nível relativamente baixo (35% confiam e 63% não confiam), há uma expectativa favorável de melhoria de imagem da Justiça (41%) nos próximos cinco anos. A população se julga desinformada (73%) sobre o Poder e 65% opinam que as notícias que recebem através dos meios de comunicação são ruins, ou seja, são desfavoráveis ao Judiciário. Os dados mais desfavoráveis de toda a pesquisa são provenientes da variação dos formadores de opinião que representam um público a ser considerado como chave pelo seu maior nível de informação e seu poder de alavancagem e de multiplicação. Nesse caso, a Justiça é avaliada como uma instituição muito fechada e distante da população destacando-se a dificuldade de se obter informações a respeito do Judiciário que é apontado como burocrático e elitista. Mas esse mesmo público preserva a imagem de integridade moral e ética ligada à seriedade de seus integrantes e destaca o alto nível de formação dos desembargadores e juízes. Através de programas institucionais, a Ascom também tem conseguido aumentar o grau de colaboração e comprometimento de servidores e magistrados. Um exemplo é a elaboração do Programa de Redução do Acervo Processual e Agilização dos Procedimentos Internos. Esse programa foi criado a partir de sensibilização feita pela Ascom e que foi responsável pela coleta de 1.500 sugestões elaboradas por servidores e magistrados do Judiciário de todo o Estado. Com relação ao público externo, deve-se considerar que a maior parte das pessoas que procuram o Judiciário o fazem por ser este o único canal legítimo de solução de seus conflitos. Dessa maneira, fica difícil avaliar o grau de lealdade e comprometimento. No entanto, no tocante às ações específicas de comunicação, é possível perceber um interesse e comprometimento por parte do público externo. Nesse sentido, a cobertura que a imprensa tem feito do Poder Judiciário, através, por exemplo da publicação dos releases produzidos pela Ascom sobre as decisões dos magistrados, pode ser compreendida como um comprometimento com a informação produzida pela Assessoria de Imprensa. Outro exemplo, é o grande interesse que as escolas de ensino básico possuem em participar do Programa Conhecendo o Judiciário. Apenas em 2002, 70 escolas procuraram o programa, sendo realizadas visitas orientadas ao Palácio da Justiça com aproximadamente 4.110 alunos. Plano Estratégico de Comunicação Para se construir um plano estratégico de comunicação é fundamental conhecer a identidade da instituição. Os elementos levantados pela pesquisa de opinião foram importantes para que se pudesse conhecer o elenco de padrões que compõem o TJMG e que foram expressados de maneira consciente ou inconsciente pelos entrevistados. Dessa maneira, o plano estratégico de comunicação partiu da identidade do TJMG, visando apresentá-la à sociedade através de uma imagem coerente e uniforme. As ações elaboradas no plano estratégico foram distribuídas em seis grandes grupos, de acordo com o público a ser atingido: Programa de Relacionamento com Lideranças e Públicos Preferenciais, Programa de Relacionamento com os Meios de Comunicação, Programa Conhecendo o Judiciário, Programa de Comunicação Interna, Ações Gerais de Comunicação e Comunicação nos Processos de Gestão. O objetivo do Programa de Relacionamento com Lideranças e Públicos Preferenciais é ampliar o relacionamento do Tribunal com entidades representativas da sociedade, buscando com que seus integrantes compreendam cada vez mais o papel e a importância do Poder Judiciário. Entre as ações realizadas, pode-se citar, por exemplo, a realização de palestras e fóruns pela Escola Judicial que procuram atingir entidades da sociedade civil, universitários, advogados, etc. Já o Programa de Relacionamento com os Meios de Comunicação tem como objetivo estreitar os laços com todos os integrantes deste público e intensificar as relações entre o Judiciário e os Meios de Comunicação. São realizadas várias ações, como, seminários de relacionamento com os meios de comunicação para juízes estagiários e da capital, publicação de um Manual de Relacionamento com os Meios de Comunicação, café da manhã do Presidente do TJ com os diretores dos principiais veículos de comunicação, encontros com a imprensa e estabelecimento de parcerias com os veículos. O Programa Conhecendo o Judiciário procura privilegiar a comunicação face-aface para maior interação com os públicos e maior credibilidade, ao mesmo tempo em que alavanca a mudança da cultura interna. Esse programa tem como objetivo ampliar o conhecimento sobre as funções e a estrutura do Judiciário e foi direcionado para as escolas de ensino fundamental, médio e superior, para autoridades, meios de comunicação e entidades de classe. São criadas e distribuídas publicações para o público infantil, para o público adulto e um vídeo institucional. O Conhecendo o Judiciário prevê também a realização de visitas orientadas no TJ e nos Fóruns da Capital e do Interior para as escolas de ensino fundamental e palestras de juízes para os alunos do ensino médio. Através dele, está sendo também realizado um concurso de desenho para estudantes do ensino fundamental e médio com o tema “Justiça e Cidadania”. O objetivo do Programa de Comunicação Interna é promover uma maior integração entre magistrados e servidores, maior satisfação no trabalho e incentivo à busca do aperfeiçoamento constante. Tudo isso, tendo em vista a necessidade de se consolidar uma cultura institucional aberta a inovações e ao aperfeiçoamento da prestação de serviços. Os produtos desenvolvidos e aperfeiçoados foram um jornal de circulação mensal; o clipping com seleção de notícias sobre o Judiciário veiculadas na imprensa; o circuito de som interno com inserções de notícias e programação de rádio; e os murais com informações de cursos, palestras e eventos desenvolvidos pelo TJ e por outras entidades. Além disso, o Programa de Comunicação Interna procura privilegiar a realização de vários eventos, incorporados ao calendário da instituição, com o objetivo de informar e integrar magistrados e servidores. Como exemplo, pode-se citar a Semana do Servidor (programação cultural, envolvendo talentos da instituição e externos, com o objetivo de comemorar o Dia do Servidor Público) e a Semana da Justiça (também envolvendo programação cultural, com palestras e atividades específicas sobre o tema). Além disso, são realizadas atividades de congraçamento (Festa Junina, de Natal, Celebrações), além de solenidades diversas de posse, outorga de medalha, inaugurações de prédios e Fóruns, instalações de Comarcas, e realização de concursos de monografias e concursos literários. Outra ação foi a elaboração da nova identidade visual do TJMG com a criação de logomarca para padronização e fortalecimento da identidade corporativa, causando impacto junto ao público interno e externo. Aperfeiçoando o programa de comunicação interna, foram realizadas duas sondagens internas de opinião: Pesquisa sobre Comunicação Interna (2001) – visou identificar o nível de eficácia da comunicação interna, avaliar os fluxos de comunicação, a aceitação de produtos e atividades desenvolvidas pela Ascom; bem como avaliar a comunicação gerencial, a cooperação entre os setores e a efetividade das políticas e práticas da comunicação do TJMG. Pesquisa de Opinião com Magistrados (2002) – visou identificar o perfil, o posicionamento e as principais necessidades e demandas dos representantes do Poder Judiciário frente às questões mais importantes para o desempenho de suas atividades. As Ações Gerais de Comunicação são aquelas realizadas em conjunto com outros setores do TJMG. Como exemplo, temos a comunicação através da internet e da intranet, os proje tos culturais e a Galeria de Arte. Por fim, a Comunicação nos Processos de Gestão, onde a Ascom vem participando estrategicamente em todas as iniciativas da gestão do TJMG. Isso pode ser demonstrado na parceria e apoio às áreas de recursos humanos, saúde, qualidade, informática, corregedoria de Justiça, planejamento, etc. As várias campanhas internas realizadas dão apoio às iniciativas administrativas, tais como a divulgação da Missão, Visão e Valores do TJMG. A Ascom dá efetividade também aos projetos de responsabilidade social do TJMG, onde são empreendidas diversas ações de comunicação, com o objetivo de criar um conceito e divulgá-lo para a opinião pública. Os Juizados de Conciliação, Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – APACs e Programa de Atenção Integral ao Paciente Judiciário Portador de Sofrimento Mental Infrator são exemplos de projetos sociais instituições desenvolvidos pelo TJMG em parceria com outras públicas, igrejas, ongs, empresas, dentre outras entidades e estão estruturados em trabalho voluntário. Resultados Com a implementação das ações propostas pelo plano estratégico de comunicação, pretendeu-se que reposicionando-a fosse junto agregado à sociedade, valor à imagem clarificando o do papel, Tribunal os de Justiça, instrumentos, a especificidade e a importância do Poder Judiciário no regime democrático. O plano estratégico da Ascom teve como objetivo dar maior visibilidade ao trabalho do TJMG, com foco nos aspectos positivos. Com a intensificação do relacionamento do Tribunal com os meios de comunicação e com os formadores e multiplicadores de opinião, um dos resultados esperados é que a sociedade passe a conhecer e compreender o trabalho que é desenvolvido na instituição. Em relação ao público interno, o resultado esperado é que novos paradigmas na comunicação sejam adotados, em especial no que diz respeito à abertura do Poder Judiciário para a sociedade. Com as ações de comunicação já adotadas foram constatados alguns resultados como: aperfeiçoamento no relacionamento com a imprensa; aumento do nível e da qualidade da informação interna aos servidores e magistrados; aumento da qualidade do relacionamento com clientes através das ações do Programa Conhecendo Judiciário; adesão dos juízes e funcionários graduados no apoio e na participação nos programas; adesão espontânea das escolas no Programa Conhecendo o Judiciário; feedbacks espontâneos de apoio às iniciativas por parte do público preferencial e interno; e o alinhamento do planejamento da comunicação aos projetos estratégicos do TJMG. Entre os resultados positivos, pode-se citar o prêmio concedido pelo Conselho Nacional de Profissionais de Relações Públicas – 2ª Região – SP/PR, em novembro de 1999. Outro prêmio recebido foi o I Prêmio Nacional de Comunicação e Justiça pelos produtos: Programa “Conhecendo o Judiciário”, o jornal “TJMG Informativo” e a identidade visual/marca do TJ. Considerações Finais O Poder Judiciário tem uma longa história de serviços prestados ao País, o que contribuiu para a formação de sua identidade hoje. Apoiados em história, valores, crenças, usos e costumes, a atitude dos integrantes do Poder Judiciário tem sido sempre a de manter um perfil discreto no que diz respeito ao relacionamento com a sociedade. Seja pela especificidade da função do Poder que, em sua essência, requer afastamento e discrição, seja pela demora da sociedade em cobrar seu direito à informação, e também pela própria estrutura processual e burocrática da Justiça, o Poder Judiciário sempre deu pouca importância à comunicação, principalmente com o público externo. Prova disso é a incipiente política de comunicação externa, que não conta com orçamento próprio, em especial no que se refere às verbas de propaganda. Outra dificuldade é que muitas vezes a linguagem e a complexidade da área jurídica são responsáveis por criar um afastamento dos meios de comunicação, que seriam os mediadores entre o Poder e a sociedade. Diante dessas dificuldades, a Assessoria de Comunicação deve procurar aprimorar cada vez mais a comunicação interna e externa e a vontade política da Presidência em intensificar o relacionamento com a sociedade. Somente dessa maneira é possível reposicionar a imagem do TJMG na sociedade. A avaliação de um trabalho de comunicação de tamanha envergadura não pode ser realizada no curto prazo. O tempo de implementação do trabalho é ainda pequeno para justificar nova pesquisa de opinião pública. Considera-se, assim, como avaliação: a grande demanda espontânea das escolas para visitas orientadas e palestras dos “Juizes Vão à Escola”; as avaliações positivas realizadas pelas escolas participantes; o grande número de pessoas alcançadas pelas ações de comunicação, com os jornalistas dos veículos participantes dos Encontros com a Imprensa; os alunos e professores participantes do Conhecendo o Judiciário; a repercussão positiva nos meios de comunicação de massa sobre as mudanças, no TJMG, no processo de comunicação com a sociedade. Os resultados alcançados podem ser medidos, entre outros, pelo aperfeiçoamento no relacionamento com a imprensa; aumento do nível e na qualidade da informação interna aos servidores; aumento na qualidade do relacionamento com “clientes” por meio das ações do “Conhecendo o Judiciário”; extraordinária adesão dos juizes e funcionários graduados no apoio e na participação dos programas; adesão espontânea das escolas de 1º e 2º Graus ao Programa de Visitas Orientadas e ao Programa Juizes Vão à Escola; os feedbacks espontâneos de apoio às iniciativas por parte de autoridades, imprensa, dirigentes de escolas e alunos; a incorporação do planejamento da comunicação dentro do planejamento estratégico de gestão do TJMG; a utilização do case de comunicação do TJMG pela professora Astréia Soares, na Cadeira de Sociologia do Direito da UNIBH, para trabalhos com seus alunos. Referências Bibliográficas CAHEN, Roger. Comunicação empresarial. São Paulo, Editora Best Seller, 1990. 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