O PERFIL DO ESTUDANTE DO ENSINO MÉDIO NA MODALIDADE EJA E SUAS
EXPECTATIVAS PARA O ENSINO SUPERIOR
Driely Xavier de Holanda¹; Suelídia Maria Calaça ².
Kátia Fabiana Lopes ¹ Nyedja da Silva Pinto²
Introdução
O presente trabalho busca mostrar resultados de uma pesquisa realizada no ano de 2013 pela
equipe do Projeto PET/Conexões de Saberes Projeto “Acesso e permanência de jovens de
origem popular à universidade, diálogos comunidade-universidade” da Universidade Federal
da Paraíba em escolas públicas com alunos do 3º ano do Ensino Médio na modalidade
Regular e na EJA. A pesquisa surgiu em meio às inquietações partilhadas pela equipe com
relação ao acesso de jovens oriundos de origem popular à universidade. Com tal pesquisa
buscamos entender como a Educação Básica no Brasil prepara os alunos para a busca de uma
vaga na universidade, no entanto nossa discussão se deterá na Educação de Jovens e Adultos
buscando entender quais as expectativas do sujeito dessa modalidade com relação ao ensino
superior. A equipe partiu do pressuposto que alguns entraves são colocados para o aluno de
origem popular em relação a seu acesso ao ensino superior, e tais entraves são mais
agravantes na EJA apesar de entendermos que o ensino público num contexto geral pouco
contribui para a inclusão de jovens de origem popular a universidade, no entanto este
problema se agrava na educação de jovens e adultos.
Objetivos
Em geral objetivamos discutir a qualidade do ensino básico a fim de compreendermos como
tal qualidade favorece a inserção de jovens oriundos de origem popular, em especial aqueles
que fazem parte da EJA, nas universidades. Especificamente buscamos identificar os sujeitos
da Educação de Jovens e Adultos e as principais dificuldades enfrentadas por estes na difícil
tarefa de adquirir conhecimento, além de entender quais as principais expectativas de tal
grupo com relação a ao ensino superior.
Metodologia
A pesquisa foi realizada em 04 (quatro) escolas públicas de ensino médio, sendo três (03) na
cidade de João Pessoa - PB e 01 (uma) na cidade de Santa Rita – PB, a saber: Escola Estadual
Presidente Médici, no bairro Castelo Branco, Escola Estadual Dom José Maria Pires, no
bairro das Indústrias, Escola Estadual Damásio Franca - CAIC, no bairro de Mangabeira e a
Escola Estadual Enéas Carvalho, no bairro Centro. A escolha dessas escolas obedeceu aos
seguintes critérios: ser uma escola pública, situada em territórios vulneráveis e possuir turmas
do 3º ano do ensino médio. Tais critérios se identificarem com o perfil do projeto
PET/Conexões de Saberes que trabalha com pessoas egressas das camadas populares e tem
como objetivo maior garantir o acesso e a permanência desses jovens no ensino superior.
Como metodologia de pesquisa, a equipe se utilizou dos pressupostos teóricos e metrológicos
da pesquisa quantitativa. Neste sentido, o instrumento de coleta de dados foi um questionário
elaborado pelo grupo, dividido em três partes: dados gerais, dados sobre a aprendizagem e
dados sobre o acesso ao ensino superior. No que respeita aos dados gerais as seguintes
questões foram levantadas: a idade, o sexo, o bairro onde reside, o estado civil, se tem filhos,
se trabalha e com que trabalha. Já as questões sobre a aprendizagem, foram as seguintes: você
é repetente e qual o motivo da repetência? Você considera o ambiente de sua sala de aula
adequado para estudar? Como você classifica o desempenho dos professores? Você gosta de
estudar? Você utiliza outros ambientes para estudar além da sala de aulas? Quais? Você
frequenta a biblioteca da escola? Das disciplinas abaixo (história, geografia, português –
literatura, português – redação, matemática, química, física, biologia, língua estrangeira,
sociologia e filosofia) assinale as que você tem mais dificuldade. Das disciplinas abaixo
(história, geografia, português – literatura, português – redação, matemática, química, física,
biologia, língua estrangeira, sociologia e filosofia) assinale as que você tem mais facilidade.
Você recebeu material didático para estudar? Quais? Você utiliza a internet para estudar?
Participa de projetos da escola ou da comunidade onde você mora? Quais? O que você faz
com seu tempo fora da escola? A terceira parte do questionário compreende as seguintes
questões: Participa de algum curso preparatório para o ingresso no ensino superior? Você
pretende fazer o exame de seleção para o ensino superior? Você pretende fazer um curso
superior? Como você avalia (péssima, ruim, boa e excelente) a responsabilidade de ser
aprovado numa seleção para o ensino superior? Quais formas de ingresso no ensino superior
você conhece? Você pretende usar o critério de cotas para ter acesso ao ensino superior?
Resultados e discussão
Sabemos que diversos são os problemas enfrentados pela educação no Brasil, principalmente
no que diz respeito à educação pública. São problemas de caráter individual, ou seja, quando
o aluno apresenta dificuldades que não consegue saná-las ao longo da sua jornada de estudos
a problemas de caráter coletivos como, por exemplo: a falta de investimento necessário por
parte dos governantes para que haja qualidade, o qual parte do sistema e afeta e a população
como um todo. Esses problemas se refletem em todos os níveis de educação, entretanto se
projetam principalmente na Educação Básica, em suas diversas modalidades e em especial na
EJA.
Sabemos que o público da EJA é um grupo específico, com suas diversas particularidades, o
qual necessita de um ensino diferenciado das demais modalidades que compõem a Educação
Básica no Brasil. Discutir a Educação de Jovens e Adultos é uma tarefa árdua, levando em
consideração a falta de valorização, de investimento na educação de forma geral. As
principais características desse grupo estão ligadas a pessoas inseridas em um contexto que
desfavorece suas expectativas em relação a assumir um espaço de prestígio na sociedade, são
moradores de comunidades periféricas, de classes populares que por algum motivo não
conseguiram concluir seus estudos na faixa etária.
Por meio de nossa pesquisa foi possível identificar que os alunos de tal modalidade, em sua
maioria, não acreditam ser capaz de ingressar no ensino superior e conquistar um espaço de
prestígio na sociedade. Ou seja, entrar num curso superior e ter uma profissão por escolha e
não por falta de opção parece algo distante para eles. Além disso, percebemos que a
preocupação maior desse grupo em concluir a educação básica está associada a ter tal
certificação. O sujeito da EJA é mais autônomo com relação à posição social que ele ocupa,
são responsáveis pelos seus atos a partir de um determinado momento da sua história de vida
e geralmente, o movimento que ocorre em sociedade é de sua inferiorização (por sua baixa
escolarização e por assumir subempregos).
Ao analisarmos as respostas dos questionários percebemos que na questão sobre o estado
civil, grande parte dos entrevistados da EJA declaram serem casados e terem filhos (questões
dos dados gerais). Já na questão relacionada a ter parado de estudar, muitos associam essa
parada ao fato de terem assumido responsabilidades como casar, ter filhos e trabalhar.
Com relação ao ingresso no ensino superior os dados da pesquisa mostram que poucos alunos
almejam este nível de escolarização, além de considerar difícil a possibilidade de ingressar
numa universidade por não se sentirem preparados e considerarem insuficiente o
conhecimento que recebem durante o Ensino Médio. Quando perguntados pela forma de
ingresso muitos responderam que desconheciam as formas apresentadas no questionário e não
souberam responder em relação ao sistema de cotas por também desconhecerem.
Tais dados comprovam a inferiorização sofrida pelos sujeitos da EJA e demonstram um
vergonhoso processo de exclusão de pessoas pela educação brasileira em pleno século XXI.
É por meio desses dados que comprovamos a defasagem das escolas públicas, a falta de
compromisso com a educação no Brasil por partes dos governantes, a desvalorização do ser
humano como ser pensante capaz de refletir sobre a sociedade na qual está inserido, como
agente modificador e transformador da sua própria realidade e a alienação social na qual a
maior parte dos sujeitos oriundos de origem popular parece estar imersa. Ou seja, são sujeitos
que por falta de uma valorização social como sujeitos de direito (direito a uma educação de
qualidade) continuam com baixo nível de escolarização, ocupando os piores empregos, sem
uma participação plena na sociedade brasileira pretensamente democrática. É importante
ressaltar que nossa pesquisa objetiva refletir sobre a realidade da escola pública com base nos
questionários aqui discutidos.
Conclusão
Buscando compreender o perfil do aluno estudante do ensino médio na modalidade EJA e
seus interesses pelo ensino superior, analisamos as respostas do questionário aqui expostos
com os objetivos de discutirmos essa realidade.
Entendemos aqui a Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade específica, que, no
cotidiano de sua prática educativa, necessita de um processo ensino aprendizagem baseado na
mediação entre os conteúdos a serem estudados e a realidade vivida pelo aluno como
metodologia de ensino, de acordo com a proposta freiriana. Percebemos ainda uma gradação
com relação às dificuldades enfrentadas pelos alunos da EJA. Em primeiro plano essas
dificuldades surgem pela falta de investimento na educação de forma geral, essa falta de
investimento se projeta em diversas dificuldades na escola pública que por sua vez não
consegue prestar um serviço de qualidade e tais dificuldades em último grau reflete -se nos
alunos, em especial nos alunos da modalidade EJA.
Percebemos por meio dos questionários que a mediação aqui discutida tem sido negada nas
escolas, o que contribui para a despreparação dos alunos com relação à formação crítica e
com relação à capacidade de ingressa no ensino superior.
Identificamos também a insatisfação dos alunos com relação à qualidade da educação
oferecida pela rede pública de ensino, com relação ao processo de aprendizagem e com a
metodologia de alguns professores. Além disso, poucos conhecem as formas de ingresso ao
ensino superior e se consideram incapazes de conseguirem uma vaga na universidade.
É fato que a educação no Brasil tem avançado nos últimos anos, mas é preciso reconhecer que
temos muito a melhorar e podemos fazer isso assumindo o real compromisso do educador,
qual seja, o de formar alunos mais críticos, capazes de modificar sua própria realidade.
Referências
1. BEISIEGEL, Celso de Rui. Estado e educação popular. Brasília: Líber Livro, 2004.
2. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire. Encontrado em:
http://sitiodarosadosventos.com.br/livro/images/stories/anexos/oque_metodo_paulo_freire
.pdf
3. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á pratica educativa, São
Paulo, Paz e Terra, 2011.
4. FREIRE, Paulo. Educação como prática para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1994.
5. CARMO, M. P. do. Differential Geometry of Curves and Surfaces. Prentice-Hall, Inc.
Englewood Cliffs, New Jersey, 1976.
6. PAIVA, Vanilda. Educação popular e educação de adultos. São Paulo: Loyola, 1987.
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