Ano I – No 2 Dezembro/2004 Comunidade Itinerante Bairro “La Unión” Letícia – Amazonas – COLÔMBIA Escritório da Equipe Itinerante Rua: Marechal Rondon, n. 159 CEP: 69640-000 Tabatinga – AM – BRASIL Fone/fax: (97) 412.4933 E-mail: [email protected] Juntos tecendo uma Amazônia mais fraterna e plural, mais justa e solidária O ano foi entre a instalação da casa e escritório, as visitas de conhecimento da realidade da fronteira (Peru, Colômbia e Brasil), encontros, articulações e algumas itinerâncias. I.- Escritório, comunidade e bairro O escritório da Equipe foi instalado com o básico: computadores, impressoras, telefone/fax (secretária eletrônica), estantes, prateleiras, mesas, cadeiras, etc. A instalação da Comunidade Itinerante foi um desafio. Compramos uma casa pronta com um espaço do lado para construir. Inicialmente o vendedor assumiu as reformas e a construção, porém, teve problemas e não cumpriu seu compromisso. A gente teve que assumir e todos mãos à obra. Resultado: estamos morando na casa nova, mas ainda em situação de “acampamento”. A metade da outra casa continua ocupada pelos antigos donos; ainda não conseguem outro espaço... Além disso, enfrentamos a falta de água. Com tudo, a experiência é muito rica. Temos consciência que isto faz parte da caminhada. Deus está nos falando e questionando muito: o que Ele quer de nós nesta situação? Sem duvida, é um privilégio, um presente de Deus, participar como missionários/as (uma vez na vida!), de alguns dos condicionamentos em que vivem os pobres e excluídos no cotidiano. No bairro “La Unión” (Leticia) continuamos fazendo amizade com a vizinhança. Já visitamos à maioria das famílias. Quase todas são colombianas ou peruanas. O bairro é pobre e o meio-ambiente muito degradado: lixo e esgoto das cidades de Letícia e Tabatinga. O bairro carrega a fama de ser perigoso e refúgio de marginais. As pessoas são muito discriminadas. Porém, nossa experiência mostra o contrario: são pessoas muito humanas, lutadoras e carinhosas. Até agora, todas as noites dormimos no maior sossego, sem sermos perturbados por brigas, discussões ou tiroteio. Muitos questionam: “como morar num lugar tão precário como este?” Nós respondemos: “é justamente por isso que nós estamos ai.” 1 II.- Visitas, encontros e itinerâncias Neste tempo visitamos: párocos, comunidades religiosas, grupos pastorais, organizações civis diversas, bairros das periferias de Tabatinga e Letícia e algumas comunidades do lado peruano. Levantamos os principais problemas e necessidades que tinham. De nossa parte apresentamos a proposta da Equipe Itinerante, nosso jeito de viver e trabalhar. Visitas pela Diocese do Alto Solimões. Na metade do ano nos separamos em duplas para visitar distintas áreas da região de fronteira e levantar as necessidades sentidas. Carmen e Neori realizaram uma viagem a Tonantins, S. Antônio do Içá e Amaturá. Não foi possível visitar S. Paulo de Olivença. São cidades pequenas, mas alguns dos problemas são de cidade grande. As três cidades apresentaram uma realidade comum: falta de oportunidades de trabalho, principalmente para a juventude; o problema das drogas, envolvendo jovens, adolescentes e até crianças; as galeras... Segundo o Pe. Elias, de Tonantins, muitos dos integrantes das galeras vêm das comunidades ribeirinhas, onde participavam na vida da comunidade, até como catequistas! A necessidade que todos sentem é a formação de lideranças. Um contraste percebido: de um lado um grande número de jovens que perderam o sentido da vida, envolvidos em drogas, no alcoolismo, nas galeras, na violência; de outro lado, muitos jovens participam nos grupos juvenis, vivem com alegria e entusiasmo, dão valor à sua vida e se dedicam ao serviço das outras pessoas da comunidade. Como foi bonito ver em Tonantins estampado no rosto a alegria e a simplicidade de coração das(os) jovens, das(os) adolescentes e das crianças que participam na Infância e Adolescência Missionária. Coco e Raí foram a Benjamin Constant e Atalaia do Norte para visitar as organizações indígenas e levantar com elas algumas das necessidades sentidas. As organizações indígenas ficaram felizes por perceber que de novo, pouco a pouco, a Diocese está querendo se comprometer mais com os povos indígenas da região. Odila e Fernando visitaram o Vicariato Apostólico San Jose del Amazonas (PERU). Dom Alberto Campos recebeu muito bem a proposta da Equipe Itinerante e logo nos assumiu oficialmente como missionários/as do Vicariato, com carteirinha e tudo! Também foi muito importante visitar distintas paróquias e equipes pastorais do Vicariato. A diocese tem 14 sacerdotes, 35 religiosos/as, 13 leigos, 1000 animadores, uns 350 catequistas, 15 equipes de missionários/as dos quais muitos são mexicanos. Dom Alberto levantou algumas necessidades: 1) Pastoral Indígena; 2) Pastoral de fronteira conjunta; 3) Recolher informações sobre a realidade da fronteira. Também pediu acompanhar aos migrantes peruanos: “Acompanhá-los com muito carinho. Eles têm muito baixa estima. Não julgá-los. Visitá-los, animá-los, mostrar-lhes que Deus não os abandona nunca. É importante falar com eles em espanhol”. E concluiu: “Para nós a presença de vocês da Equipe Itinerante é uma graça de Deus. Necessitamos informações sobre os migrantes e criar a pastoral do migrante. Gostaria que vocês me enviassem informações sobre a situação de fronteiras. Reflexões, situações de violência, etc. para nós poder ajudar, informar seus familiares, etc.” Ficamos muito animados e motivados para somar e tecer com a igreja irmã do Peru prestando o nosso pequeno serviço missionário. 2 Alguns dos desafios comuns das três fronteiras que vamos sentindo: Criar maior ligação entre as três Dioceses da fronteira (Brasil-Colômbia-Peru), através de uma equipe inter-diocesano e internacional de Pastoral de Fronteira, porque muitos problemas são comuns aos três países. Pastoral Indigenista de Fronteira. Na região são vários os povos indígenas que estão “partidos” e fragilizados pela tríplice fronteira que em vez de uni-los os separa. Alternativas de trabalho para a sobrevivência na região. É uma necessidade antiga que envolve a ribeirinhos, indígenas, moradores das periferias urbanas, etc. Pastoral de Mobilidade Humana para acompanhar os milhares de peruanos e colombianos que percorrem as fronteiras tentando buscar condições de vida melhor para suas famílias. Os peruanos de modo particular são muito discriminados. Itinerância junto aos Ribeirinhos de Benjamin Constant (Odila, Enrique e Neori): Visitamos 18 comunidades que pertencem a essa paróquia (delas, 3 comunidades tikunas). Fr. Benigno, na carta que enviou às comunidades comunicando nossa visita, dizia: É uma novidade! Uma equipe que passa sem barco e sem aonde morar. Querem apenas viver com o povo sem levar nada, como Jesus falou aos seus apóstolos: “Ide e anunciai o Reino de Deus e não levai nada pelo caminho”. Também não pretendem nada da comunidade. Vão trabalhar nas roças e pescar com o povo e ajudarão no que a comunidade pedir. Dormem em qualquer tapiri, em qualquer casa ou escola. Pedem apenas que a comunidade que os acolhe os acompanhe de canoa, até a próxima comunidade. Fomos bem recebidos em todas as comunidades, muitas pediram que continuássemos em outra oportunidade a visitá-las para dar força e ânimo. Quando chegamos a São João de Veneza, uma comunidade indígena tikuna, fomos recebidos com faixas e foguetes. Da beira do rio até a capela, um corredor enfeitado com arco de entrada e bandeirinhas ao longo... Pensamos que tudo aquilo era para algum político que ia chegar, pois era época de campanha eleitoral. Porém, logo percebemos que era para nós mesmos! Ficamos dois dias em cada comunidade, visitando as famílias, escutando, realizando estudos de formação sobre o projeto “Queremos Ver Jesus” (CNBB), também sobre Fé e Política, com as orientações da Igreja para os cristãos assumirem responsavelmente o direito e o dever do voto. Itinerância junto aos Indígenas (Raí, Nilvo e Fernando): Passos lentos, porém muitos felizes, fizemos nas margens dos belos rios da Amazônia querida, por onde estão nossos irmãos na luta em defesa da vida humana e da natureza como um todo. No Peru na comunidade Comandância, no rio Orosa, participamos de um encontro com os povos Yagua, Kokama e outros. Neste encontro, eles comemoraram o aniversário do Dia do Índio no Peru e discutiram temas importantes como: identidade indígena e suas organizações, perigo das concessões madeireiras em sua região. Nós, da Equipe 3 Itinerante, contribuímos com reflexões e partilhando experiências que os povos indígenas no Brasil já vivem. No rio Javari, Atalaia do Norte, encontramos fortes apelos dos povos indígenas daquela região. “Estamos morrendo de doença e com muita raiva da FUNASA e FUNAI”. Fizeram uma manifestação e não foram ouvidos. Nas itinerâncias pelas paróquias, foi conversado com os párocos, irmãs e organizações indígenas a necessidade de re-articular o trabalho especifico da diocese junto aos povos indígenas. Todos coincidem em que há que rearticular a Pastoral da Diocese do Alto Solimões junto aos povos indígenas. Encontro inter-diocesano das três fronteiras Em outubro tivemos um importante encontro inter-diocesano de fronteira. O objetivo foi conhecer os trabalhos das três igrejas e preparar uma apresentação para o encontro dos bispos amazônicos (Manaus, Outubro/2004), com os desafios que apresentam estas fronteiras. O encontro foi muito rico e ajudou a perceber a necessidade de conformar uma equipe pastoral inter-diocesana de fronteira. Sejam muito bem vindas/os... Damos as boas vindas aos companheiros e companheiras novos na Equipe Itinerante: Silvia (leiga voluntária dos Jesuitas Alemanha) e ao Ir. Nilvo (marista). Também já estamos esperando a Graça (leiga da CPT), Pe. Carlos (missionário da Consolata) que estarão chegando ao início do próximo ano 2005 e a Ir. Floranice (Filha do Sagrado Coração de Jesus da província do Nordeste). Que bom que vocês estão chegando companheiras/os! Feliz Natal! Que o Menino Deus nos encoraje cada dia mais para continuar servindo-lhe nos mais pequenos! Bom ano 2005! 4