XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. SOLUBILIDADE DE POLÍMEROS: UMA REVISÃO PRÁTICA DOS PARÂMETROS TERMODINÂMICOS Felipe L. N. Sousa1, Flávia C. Guinhos2, Raquel A. P. Oliveira3, Ignes R. Santos4, Ana M. Segadães5 Introdução Para análise da solubilidade de polímeros não é válida a análise clássica por via de produto de solubilidade de íons, pois a solubilização de polímeros não envolve mecanismos iônicos, mas sim fenômenos relativos à interação intermolecular. O primeiro modelo teórico-experimental para determinação da solubilidade de polímeros foi proposto por Hildebrand & Schott (1949), definindo-se a solubilidade em termos de densidade de energia coesiva da molécula, que experimentalmente corresponde à energia requerida para evaporar o líquido utilizado na solubilização. Matematicamente o parâmetro de solubilidade do polímero, δ, é igual à raiz quadrada da razão entre, Ev, energia de vaporização do composto, pelo volume molar do polímero, Vm: δ = (Ev/Vm)½ (1) O conceito de densidade de energia coesiva foi estendido por Hansen (1967), para o conceito de energia de coesão total, δ2, que relaciona o contributo parcial de energia de vaporização que cada tipo de interação intermolecular confere para a unidade de volume molar: δD – interações por dipolo, δP – interações por dipolos permanentes, δH – interações por ligação de hidrogênio. δ2 = (δD)2 + (δP)2 + (δH)2 (2) Para definir uma relação do quão solúvel um polímero é em um solvente, Hansen propôs o conceito de diferença relativa de energia coesiva (RED, do inglês relative energy difference). Quanto menor a diferença dos contributos de energias coesivas entre o polímero e o solvente, Ra, maior será a solubilidade: Ra2 = 4(δD1 - δD2)2 + (δP1 - δP2)2 ± (δH1 - δH2)2 (3) RED = Ra/Ro (4) Nestas equações, Ro = δD1, δP1 e δH1 são os contributos de energia coesiva do solvente e δD2, δP2 e δH2 são os contributos de energia coesiva do polímero. Flory e Huggins (1953) descreveram o parâmetro de interação, χ, entre o polímero e o solvente. O parâmetro influenciado em grande parte pela temperatura seguindo uma Lei de Arrhenius. O processo de dissolução do polímero ocorre em duas etapas termodinâmicas: a primeira etapa consiste no inchamento do polímero e a segunda na mobilidade das moléculas. O inchamento do polímero é o ponto crítico de absorção de solvente, aumentando a massa e volume específicos. O inchamento é o ponto onde a soma dos contributos de entalpia e entropia são iguais, segundo a Teoria de Flory-Huggins; o polímero não possui energia suficiente para promover alterações na conformação da molécula, não possui mobilidade em solução. A segunda etapa é o aumento do volume de solvente absorvido, aumentando o contributo entrópico do sistema, permitindo que o polímero tenha graus de liberdade e translade rapidamente para as conformações energeticamente favoráveis em solução. A solubilidade dos polímeros, em termos termodinâmicos, é função dos contributos de interação intermolecular do conjunto polímero-solvente e temperatura de tratamento. Entretanto o parâmetro cinético, conformação das moléculas é um passo limitador do processo, pois relaciona-se com a difusão do solvente da matriz polimérica; dessa forma compõe um cenário de mútuo contributo: termodinâmico e cinético, pois o coeficiente de difusão do solvente na matriz do polímero é um parâmetro termoativado. O presente trabalho objetiva a análise qualitativa dos parâmetros termodinâmicos mais importantes para solubilidade de poliestireno expandido (PSE) em solventes orgânicos e separação do sistema solvente-polímero. Material e métodos Foram utilizadas amostras de poliestireno expandido (PSE) comercial. Os solventes testados no estudo foram Rlimoneno e terebentina, ambos comerciais. 1 Aluno de Graduação em Química Licenciatura com período sanduíche em Engenharia de Materiais na Universidade de Aveiro (UA- Portugal), Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE-Brasil, CEP: 52171-900. Email: [email protected] 2 Professora Adjunta I do Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE-Brasil, CEP: 52171-900. 3 Pos-Doutoranda, Departamento de Física, Universidade Federal de Sergipe. Av. Mal. Rondon, s/nº, Jardim Rosa Elze, São Cristóvão/SE-Brasil, 49100-000. 4 Aluna de Graduação em Química Licenciatura, Departamento de Química, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE-Brasil, CEP: 52171-900. 5 Professora Associada com Agregação, Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia de Materiais e Cerâmica (CICECO), Av. Padre Fernão de Oliveira, Aveiro – Portugal, CEP: 3810-193. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. A. Testes de solubilidade. A solubilidade foi determinada gravimetricamente por meio da quantidade mínima de massa solvente para dissolver completamente a massa de amostra de PSE. Foram realizados testes com PSE no intervalo de (0,1 - 5,0) g à temperatura de 298 K. B. Evaporação dos solventes. Após a solubilização do polímero foi avaliada qualitativamente a evolução da espessura da película do polímero durante evaporação a 298 K e a 323 K. Resultados e Discussão A. Pré-seleção dos solventes. A tabela 1 reúne os dados relevantes a análise da solubilidade. Segundo as teorias de solubilidade de polímeros, os solventes que possuírem parâmetros de interação intermolecular semelhantes ao do poliestireno tenderão a uma maior solubilidade. Com base nos parâmetros de energia coesiva total e energia coesiva por dipolo-dipolo, descritos na tabela 1, os solventes são bons candidatos a bons solventes para o poliestireno. Entretanto a diferença entre as solubilidades, para cada conjunto solvente-polímero, será determinada por fatores estéricos na interação. É descrito por Hildebrand e Scott (1949) um desvio da tendência termodinâmica da solubilidade. O parâmetro cinético da interação solvente-polímero, para a análise da solubilidade, será determinante. A viscosidade também será um parâmetro importante para a escolha dos solventes, pois é uma função de energias associadas a interações intermoleculares e tem implicações na fluidez do solvente, tornando-se um parâmetro limitante para a cinética da solubilização. A terebentina possui um parâmetro de viscosidade superior ao do R-limoneno, pelo que espera-se uma maior solubilidade do poliestireno em R-limoneno do que em terebentina. B. Teste de solubilidade. A solubilidade do PSE, a 298 K, é descrita na figura 1. A figura 2 descreve o raio de interação do poliestireno com os solventes selecionados. O raio de interação foi descrito em relação ao limoneno, assumindo-o como raio de tolerância de solubilidade. Assumindo os parâmetros termodinâmicos de interação intermolecular mais significativos, para os sistemas em estudo, δP e δD, os pontos que estão inscritos na área do círculo são bons solventes. O raio Ra, raio de interação intermolecular polímero-solvente foi calculado em relação ao poliestireno-limoneno, segundo a equação 3. Quanto mais próximo o valor dos parâmetros termodinâmicos de solubilidade, parâmetro RED, maior a tendência à solubilidade. Segundo a análise termodinâmica, figura 2, a terebentina (16.4, 1.4) tem maior tendência a solubilizar o poliestireno (18.64, 10.52), quando comparado com o limoneno (16.04, 0.2). Entretanto o parâmetro determinante para a solubilização do polímero é o fator cinético. Os dois solventes são classificados como terpenos, que tem por fórmula geral (C5H8)n. A terebentina é composta em maior quantidade por pineno, um biciclo, que oferece grande impedimento estérico durante a solubilização. O R-limoneno oferece um menor impedimento estérico, permitindo uma maior interação por dipolo-dipolo com o polímero, fato que se reflete em um maior valor de solubilidade. C. Evaporação dos solventes. O processo de evaporação do solvente envolve duas fases distintas e que são associadas a diversos fenômenos. A primeira etapa (figura 3 - A) é controlada pela resistência ao transporte de solvente entre a interface solução-atmosfera, fase com maior difusão interna, maior evaporação do solvente, e a segunda é controlada pela resistência a difusão interna para a perda do solvente (figura 3 - B), fase com mistura de solvente e polímero. Uma das barreiras ao processo de recuperação do polímero via evaporação do solvente é a retenção do solvente pela matriz polimérica pela diminuição da difusão interna do solvente Hansen (1967). Tal como já referido para a dissolução, o fato é devido a barreira espacial a difusão formada pela configuração das moléculas dos solventes. De modo qualitativo, tal fato foi observado durante o tratamento a temperaturas de 298 K e a 323 K e houve maior retenção de solvente quando o polímero foi solubilizado com terebentina. A presença do biciclo e dos grupos metila em posições equatoriais, aumenta o impedimento estérico a difusão na matriz polimérica. O fenômeno de retenção de solventes é observado em polímeros de grande massa molecular por conta do baixo coeficiente de difusão na matriz. O solvente não é retido por interações intermoleculares, mas sim por não possuir energia suficiente para difundir entre os retículos do polímero. O valor da energia de ativação para o processo de difusão e evaporação no segundo estágio é consideravelmente maior do que as interações intermoleculares Clará et al. (2009). Alguns dos fatores que podem aumentar a mobilidade do solvente na matriz do polímero são (a) aumento da temperatura, que pode trazer degradação por ação de agentes oxidantes, (b) aumento do fluxo de ar a superfície da mistura ou pela (c) utilização de solventes baseados em moléculas de conformação linear. Agradecimentos Os autores agradecem ao CNPq-Brasil pelo apoio financeiro durante o período sanduíche em Portugal. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Referências Buckley-Smith, M. K. The use of solubility parameters to select membrane materials for evaporation of organic mixtures. New Zealand: University of Waikato, 2006. Tese de Pós-doutorado. Clará, R. A. Gómez Marigliano, A. C. Sólimo, H. M. Study of the solubility and stability of polystyrene wastes in a dissolution recycling process. J. Chem. Eng. Data 54, 2009, p. 1087–1090. Hildebrand, J.; Scott, R. The solubility of Non-electrolytes. New York: 3rd ed., Reinhold Publishing Corp., 1949. Flory, P. J. Principles of Polymer Chemistry. Cornell University Press, New York, 1953. Chapter XII. Statistical Thermodynamics of polymers solutions. p. 495-539. Grulke, E. A. Polymer Handbook. Edited by: J. Brandrup, E. H. Immergu. John Wiley & Sons, Inc., VII – 519-559, 1989. Hansen, C. M. The three dimensional solubility parameter and solvent diffusion coefficient: Their Importance in surface coating Formulation. Copenhagen, Danish Technical Press, 1967. Hansen, C. M. Skand. Tidskr. Färg Lack 17, 1971, p. 69. Petrobras. Turpentine. Safety Data Sheet – according to regulation (EC) No. 453/2010. World Health Organization. Limonene. Prepared by: Filipsson, A. F. Bard, J. Karisson, S. Concise international chemical assessment document; 5, Geneva, 1998. Zeng, W. Du, Y. Xue, Y. Frisch, H. L. Solubility Parameters. Physical Properties of Polymers Handbook, 2007, p. 289303. Tabela 1. Solubilidade de EPS, viscosidade (η), densidade (ρ) e parâmetros de solubilidade de Hildebrand e Hansen a 298 K. a η ρ (mPa·s) (gcm-3) 7,51a - 1,04e 0,2b,c 0,2b,c 0,923e 0,841f 1,4d 0,4d 1,371e 0,860g Composto Solubilidade EPS (g/g) δT(MPa)½ δD(MPa)½ δP(MPa)½ δH(MPa)½ Poliestireno - 22,69a,c 18,64a 10,52a R-limoneno 0,1901±0,0085 16,38b,c 16,04b,c Terebentina 0,0614±0,0018 16,6a 16,4d Hansen (1971), bBuckley-Smith (2006), cZeng et al. (2007), dGrulke (1989), eClará et al. (2009), fWHO (1998), Petrobras (2010). (Intervalo de confiança com grau de confiança de 95%). g Figura 2. Raio termodinâmico de interação Figura 1. Solubilidade EPS (298 K) A B Figura 3. Espessura das camadas de EPS