738 IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Efeito de Soluções Tampão na Estabilidade do pH de uma Solução Salina Sintética visando a Carbonatação de Aqüíferos Salinos Marta Kerber Schütz1,3, Natália Lopes2,3, Angélica Cenci2,4, Jeane Dullius1,2,3, Rosane Ligabue1,2,3, Sandra Einloft1,2,3 e João Marcelo Ketzer1,3 1 Programa de Pós-graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (PGETEMA), 2Faculdade de Química (FAQUI), 3Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (CEPAC), 4 Programa de Educação Tutorial (PetQuímica) - PUCRS Introdução O dióxido de carbono (CO2) é o principal gás contribuinte ao efeito estufa. A queima de combustíveis fósseis e demais atividades antropogênicas causaram um aumento drástico na concentração de CO2 na atmosfera - atualmente tem-se uma concentração de 380 ppm, para o ano de 2050 estima-se que a sua concentração seja superior a 550 ppm. Nesse contexto, o armazenamento geológico de carbono em aqüíferos salinos profundos passa a ser considerado como uma opção atraente de reduzir sua emissão para atmosfera e, conseqüentemente, para mitigar as mudanças climáticas ocasionadas pelo aquecimento global. O armazenamento do CO2 em aqüíferos salinos pode ocorrer por três principais mecanismos de aprisionamento: físico, iônico e mineral. No aprisionamento físico o CO2 é imobilizado por armadilhas estruturais e/ou estratigráficas da formação geológica. Com o tempo o CO2 passa a se dissolver na água de formação do reservatório (aprisionamento iônico) formando os íons hidrônio (H+), bicarbonato (HCO3-) e carbonato (CO32-), conforme equações 1 a 4. Por fim, o aprisionamento mineral ocorre quando há interação entre os íons carbonatos e cátions oriundos da água de formação ou da dissolução de rochas do reservatório devido à adição de CO2. Por meio destas reações tem-se a formação de carbonatos sólidos estáveis, tais como, a calcita (CaCO3), a magnesita (MgCO3) e a dolomita (CaMg(CO3)2), conforme equações 5 a 7. CO2 (g) ↔ CO2 (aq) (1) Ca2+ + CO3 2-(aq) ↔ CaCO3 (s) 2+ 2- CO2 (aq) + H2O ↔ H2CO3 (aq) (2) Mg + CO3 H2CO3 (aq) ↔ H+(aq) + HCO3-(aq) (3) Ca2+ + Mg2+ + CO3 2-(aq) ↔ CaMg(CO3)2 (s) - HCO3 (aq) ↔ H+(aq) + CO3 2(aq) (aq) ↔ MgCO3 (s) (5) (6) (7) (4) Sabe-se que a precipitação dos carbonatos é favorecida quando se tem um pH alcalino. Entretanto, como observado nas equações 3 e 4, tem-se a produção de íons H+ o que reduz o IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009 739 pH da água de formação do reservatório (IPCC, 2005). Por esta razão, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do hidróxido de sódio (NaOH) e diferentes soluções tampão na estabilidade do pH de uma solução salina sintética quando reagida com o gás CO2. Através deste estudo, pretendeu-se verificar a eficiência de cada solução tampão, quando adicionado à solução salina, na precipitação de carbonatos minerais. Metodologia As reações de carbonatação foram realizadas em duplicada e em reator de vidro, com tempo reacional de 4h, em temperatura de aproximadamente 40˚C e à pressão atmosférica. Utilizou-se CO2 gasoso e o excesso do gás foi retido em uma solução de hidróxido de cálcio na saída do reator. A proporção utilizada de solução salina:NaOH 1 M:solução tampão nas reações de carbonatação foi de 300:6:3 v/v, respectivamente. Para a preparação da solução salina sintética utilizou-se quatro sais: NaCl, MgCl2,CaCl2 e KCl, totalizando uma salinidade de 31.490 mg/L - salinidade inferior a água do mar. A escolha destes sais baseou-se nas composições de águas de formação de aqüíferos salinos que geralmente são referenciadas na literatura (Portier e Rochelle, 2005). Para o ajuste do pH desta solução salina foi utilizado NaOH 1 M e diferentes soluções tampão: NaHCO3/NaOH, NaH2PO4/NaOH e NH4Cl/NH4OH, todas com pH de tamponamento próximo a 10. A variação na composição da solução salina foi verificada através de análises antes e após as reações de carbonatação, utilizando-se Espectroscopia de Absorção Atômica com Chama (FAAS). A Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), auxiliada por Espectrômetro de Raio-X por Energia Dispersa (EDS), foi utilizada para caracterização dos precipitados formados durante as reações de carbonatação. Resultados e Discussão Após as reações de carbonatação, observou-se uma diminuição significativa no pH da solução salina, quando da adição de solução tampão NaHCO3/NaOH e NaH2PO4/NaOH, como mostra figura 1. Figura 1 Variação no pH da solução salina, antes e após reação de carbonatação IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009 740 Porém, quando se utilizou a solução tampão NH4Cl/NH4OH o pH da solução salina após carbonatação ainda permaneceu relativamente elevado (pH próximo de 7). Além disso, só foi observada a formação de precipitado nas reações em que se utilizou a mesma solução tampão, nas reações em que o pH foi ajustado com os tampões NaHCO3/NaOH e NaH2PO4/NaOH não foi observada a precipitação. Através das micrografias verificou-se que o precipitado formado tratava-se da calcita (figura 2). Por EDS foi possível verificar que o precipitado possuía em sua composição apenas cálcio (Ca), carbono (C) e oxigênio (O). O pico de ouro (Au) é atribuído ao procedimento de preparação da amostra (etapa de metalização). - Figura 2 (a e c) Cristais de CaCO3 e (b e d) Espectro da análise por EDS da calcita precipitada A fim de determinar a quantidade de cálcio convertido em carbonato, analisou-se por FASS a concentração de Ca2+ na solução salina sintética, antes e após as reações em que se utilizou tampão de NH4Cl/NH4OH, pois, como já discutido, apenas nestas reações houve a precipitação de carbonato. Como as reações foram feitas em duplicata, verificou-se que na primeira reação a concentração inicial de Ca2+ em solução era de 425,4 ppm e após a reação passou para 155,2 ppm. Já na reação de duplicata a concentração inicial de Ca2+ era de 407,8 ppm e após a reação passou para 111,0 ppm. Portanto, verificou-se uma conversão de 63,52% a 72,78% nas duas reações tamponadas com o sistema NH4Cl/NH4OH. Conclusão Dentre as soluções tampão testadas nas reações de carbonatação, apenas o tampão de NH4Cl/NH4OH manteve o pH relativamente alto, mesmo com adição de CO2, favorecendo a precipitação do carbonato calcita. Nas reações em que se utilizou esse mesmo sistema de tamponamento, houve uma conversão de 63,52% a 72,78% de Ca2+ à CaCO3. Referências INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (IPCC). Special Report on Carbon Dioxide Capture and Storage. Cambridge University Press, Cambridge, United Kingdom and New York, 2005. 442 p. Disponível em: <www.ipcc.ch/ipccreports/special-reports.htm>. Acesso em: 4 junho 2009. PORTIER, S.; ROCHELLE, C., Modelling CO2 solubility in pure water and NaCl-type waters from 0 to 300°C and from 1 to 300 bar. Application to the Utsira Formation at Sleipner. Chemical Geology. Vol. 217, (2005), pp.187 -199. IV Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2009