III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação PUCRS Estudo da Carbonatação de Soluções Salinas e o seu Efeito sobre o Armazenamento de CO2 Marta Kerber Schütz1,3, Natália Lopes2,3,Thaís Corso2,3, Jeane Dullius1,2,3, Rosane Ligabue1,2,3, Sandra Einloft1,2,3, João Marcelo Ketzer1,3,4 1 Programa de Pós-graduação em Engenharia e Tecnologia de Materiais (PGETEMA), 2Faculdade de Química (FAQUI), 3Centro de Excelência em Pesquisa sobre Armazenamento de Carbono (CEPAC), 4 Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH) - PUCRS Resumo As mudanças climáticas causadas pelas elevadas emissões antrópicas de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, principalmente o dióxido de carbono (CO2), é uma preocupação atual, sendo necessária a diminuição da concentração destes gases. O armazenamento geológico é um meio atraente de redução de CO2 na atmosfera. Entre as opções de armazenamento, os aqüíferos salinos têm grande potencial devido à profundidade adequada, água subterrânea com alta salinidade, imprópria para o consumo humano, pelo fato de estarem imediatamente disponíveis e possuírem grande capacidade de armazenamento. Um dos mecanismos existentes de aprisionamento geológico de CO2 é o aprisionamento iônico, no qual, o dióxido de carbono se encontra em espécies dissolvidas na água subterrânea. Desta forma, este trabalho teve como objetivo estudar a reação de carbonatação de soluções salinas sintéticas em condições brandas. Introdução Para se evitar mudanças climáticas catastróficas é preciso que países industrializados, os quais contribuíram em dois terços dos GEEs acumulados desde séc. XIX, reduzam as concentrações de CO2 em 5% referente aos níveis de 1990 mantendo-se, assim, os níveis de emissões em 21bt/ano mundialmente, considerando que hoje se emite cerca de 24bt/ano (Ketzer, 2006). Os aqüíferos salinos estão entre as opções promissoras de armazenamento de CO2, sendo que os mecanismos existentes de aprisionamento geológico do carbono são: o aprisionamento físico, onde o CO2 injetado está na forma de um fluído supercrítico numa estrutura flexível ocorrendo o efeito “pluma”; aprisionamento iônico, o CO2 encontra-se em III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 espécies dissolvidas na água subterrânea; e o aprisionamento mineral, onde ocorre a formação de precipitados estáveis, devido à reação entre as espécies dissolvidas e as rochas do aqüífero. É importante salientar que a carbonatação depende das condições termodinâmicas (pressão e temperatura) do aqüífero, da salinidade e pH da água subterrânea (Lima, 2008). Metodologia Para a reação de carbonatação utilizou-se um reator de vidro conforme a figura 1. A reação foi mantida durante 4h com uma temperatura de aproximadamente 40˚C e a pressão atmosférica. Utilizou-se CO2 gasoso e o excesso do gás foi retido em uma solução de hidróxido de cálcio na saída do reator. A solução salina sintética foi preparada através da mistura dos sais NaCl, KCl, MgCl2 e CaCl2, segundo a literatura (Portier e Rochelle, 2005). Para caracterização da solução salina, antes e após a reação de carbonatação, utilizou-se o Espectrofotômetro de Absorção Atômica com Chama, modelo 3110 da Perkin Elmer e com detector do tipo fotomultiplicador. Controle da Temperatura Reator Solução de Ca(OH)2 Banho-maria Chapa de Aquecimento com Agitação Figura 1 Representação esquemática do equipamento utilizado na reação de carbonatação Resultados e Discussão A dissolução do CO2 na água resulta na formação de ácido carbônico (H2CO3) que dissocia nos íons bicarbonato (HCO3-) e carbonato (CO32-) (Equações 1-4). A precipitação de carbonatos ocorrem através da interação entre o CO32- e os cátions presentes no meio (Equações 5-7). CO2 (g) ↔ CO2 (aq) (1) CO2 (aq) + H2O ↔ H2CO3 (aq + H2CO3 (aq) ↔ H (2) - (aq) + HCO3 (aq) (3) III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008 HCO3-(aq) ↔ H+(aq) + CO3 2-(aq) 2+ Ca + CO3 2-(aq) ↔ CaCO3 (s) Mg2+ + CO3 2-(aq) ↔ MgCO3 (s) (4) (5) (calcita) (6) (magnesita) Ca2+ + Mg2+ + 2CO3 2-(aq) ↔ CaMg(CO3)2 (s) (dolomita) (7) Através da análise por absorção atômica pôde-se verificar uma variação nas concentrações dos íons presentes na solução salina, antes e após a reação de carbonatação conforme a tabela I. Tabela I Composição da solução salina sintética utilizada na reação com reator de vidro, antes e após a reação de carbonatação. Solução salina sintética Antes da reação Após a reação Concentração de Na (mg/L) 10220 10060 Concentração de Ca (mg/L) 330 332 Concentração de K (mg/L) 310 310 Concentração de Mg (mg/L) 187 183 Observa-se que houve uma diminuição da concentração de Na+ e Mg+2 indicando que ocorreu a carbonatação dos mesmos. Espera-se que em condições mais drásticas haja uma maior redução da concentração dos íons, melhorando o rendimento no processo de carbonatação, e conseqüentemente, a maior eficiência no armazenamento de CO2. Conclusão É possível o armazenamento de CO2 a partir de reações de carbonatação de soluções salinas em condições brandas. Como os resultados deste trabalho são preliminares, pretendese realizar novos experimentos visando um maior rendimento no processo. Para isto, estará sendo estudada a variação das condições que influenciam nas reações de carbonatação: a pressão, temperatura, salinidade e pH da água subterrânea. Referências KETZER, J. M. Redução das Emissões de Gases Causadores do Efeito Estufa através da Captura e Armazenamento Geológico de CO2. In: Carbono: Desenvolvimento Tecnológico, Aplicação e Mercado Global. Curitiba: UFPR – Ecoplan, 2006. LIMA, V. de, Estudo experimental de interações geoquímicas em selos e reservatórios alvo para o armazenamento geológico de CO2. Porto Alegre: PUCRS, 2008. Anteprojeto (Doutorado em Engenharia e Tecnologia dos Materiais), Faculdade de Engenharia, Química e Física. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2008. PORTIER, S.; ROCHELLE, C., Modelling CO2 solubility in pure water and NaCl-type waters from 0 to 300°C and from 1 to 300 bar. Application to the Utsira Formation at Sleipner. Chemical Geology. Vol. 217, (2005), pp.187 –199. III Mostra de Pesquisa da Pós-Graduação – PUCRS, 2008