INSUFICIÊNCIA CARDÍACA JOSÉ MARIA PEIXOTO Diretor Científico da Sociedade Mineira de Cardiologia Insuficiência Cardíaca Conceito É a incapacidade do coração de manter um débito cardíaco que atenda às necessidades metabólicas do organismo, ou fazêlo somente através de elevadas pressões de enchimento. Eugene Braunwald,1980 Epidemiologia • Aumento da incidência de IC no Brasil e no mundo - problema de saúde pública. • Prevalência: 2,9% da população. • SUS: 339.770 internações com 26.000 óbitos (2004) - custo > R$ 200 milhões • Principal causa de internação em > 60 anos – prevalência 7,5% • Desafio: prevenção (HAS, DM, DLP, Tabagismo, Obesidade e IAM) Epidemiologia • IC é a via final comum da maioria das cardiopatias • 1/3 dos pacientes é hospitalizado anualmente • Taxa de readmissão em 90 dias > 30% • Hospitalizações: aumento > 50% nos próximos 25 anos. • Mortalidade: 40 a 50% (CF IV NYHA) • Adultos: a maioria ( 70% ) tem IC sistólica, 30% IC diastólica Prognóstico McMurray JJV, Stewart S. Eur Heart J 2002; 4 (suppl D): 50-58 Classe Funcional e Sobrevida SOBREVIDA HOSPITALIZAÇÕES World Health Statistics, World Health Organization, 1999. American Heart Association, 2002 Heart and Stroke Statistical Update. Etiologia Fisiopatologia Patogenia MECANISMOS COMPENSATÓRIOS FRAÇÃO DE EJEÇÃO 60% LESÃO SECUNDÁRIA 20% Assintomático Sintomático Mann, DL Circulation 1999;100:999-1008 Classificações • • • • • Direita / Esquerda Sistólica / Diastólica Alto débito / Baixo débito Anterograda / Retrograda Etiológica Classificação Funcional da Insuficiência Cardíaca I dispnéia aos grandes esforços II dispnéia para esforços moderados III dispnéia para os mínimos esforço IV dispnéia em repouso New York Heart Association, 1955 CLASSIFICAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AHA/ACC, novembro 2001 Estágios A Fatores de risco para IC B Cardiopatia estrutural assintomática C Cardiopatia estrutural sintomática NYHA (I-IV) D IC refratária Diagnóstico clínico da Insuficiência Cardíaca Critérios de Boston Categoria I – História Dispnéia em repouso Ortopnéia Dispnéia paroxística noturna Dispnéia ao andar no plano Dispnéia ao subir escadas Insuficiência Cardíaca Nº ptos 4 4 3 2 1 Categoria III – RX de tórax Edema alveolar pulmonar Edema intersticial pulmonar Derrame pleural bilateral Índice cardiotorácico > 0,5 Inversão do padrão vascular pulmonar 4 3 3 3 2 Definida: 8 a 12 pontos Possível: 5 e 7 pontos Pouco provável: < 4 pontos Categoria II Exame físico Taquicardia: 91-110 bpm > 110 bpm Elevação da pressão venosa PV < 6 cm de H2O > 6 cm de H2O + hepatomegalia ou edema Dor membros inferiores Crepitação pulmonar basal Crepitação pulmonar acima das bases Terceira bulha Sibilos Nº ptos 1 2 2 3 3 3 1 3 4 2 Exames Complementares • Hemograma, Glicemia, Cr, Na, K, EAS • Peptídeo natriurético cerebral (BNP) – excelente marcador de disfunção do VE e IC: diagnóstico e prognóstico (gravidade) • • • • Radiografia de tórax em PA e Perfil Eletrocardiograma Ecocardiograma com doppler Outros.... Critérios de gravidade • • • • • • • Idade > 65 anos CF III e IV ( NYHA) Cardiomegalia acentuada FE do VE < 35%( ECO ) Hipotensão BRE no ECG Consumo de O2 < 15 ml/kg/min no TEE. • Níveis elevados de catecolaminas • IC por Doença de Chagas ou Amiloidose • Fibrilação Atrial • Arritmias complexas (TV ou FV) e/ou síncope. • Níveis elevados de BNP • Débito cardíaco reduzido • Hiponatremia (Na < 132 mEq) Tratamento da IC Objetivos • • • • • Reduzir a progressão Melhorar os sintomas Reduzir a mortalidade Prevenir a morte súbita Reduzir o remodelamento miocárdico Fatores precipitantes da IC • • • • • • • • • • • • Má aderência à restrição hidrossalina ou à medicação Hipertensão arterial sistêmica não controlada Arritmias cardíacas (fibrilação atrial, por ex.) Isquemia ou infarto agudo do miocárdio Infecção, incluindo endocardite infecciosa Tromboembolismo pulmonar Anemia Hipertireoidismo Estresse físico ou psíquico Dosagem insuficiente de medicação Gravidez Obesidade Tratamento não farmacológico 1. Identificar etiologia. 2. Eliminação / correção de fatores agravantes. 3. Mudanças de estilo de vida: – – – – – – Dieta Ingestão de álcool Atividade Física Atividade Sexual Atividades Laborativas Vacinação: gripe e pneumonia Tratamento farmacológico: IECA • Reduzem morbidade e mortalidade (35%) em TODOS os estágios de IC. • Ação: reduzem pré e pós carga, bloqueiam o SRAA e promovem o remodelamento reverso. • Efeito dose-resposta e de classe. • Reações adversas: hipotensão, “efeito de primeira dose “, tosse, K, Cr, contraindicados na gravidez. Antagonistas dos receptores da angiotensina II • RVP, DC, interferem na remodelação ventricular, REDUZEM MORTALIDADE. • Indicação: Intolerância aos IECA. • São tão efetivos quanto IECA para reduzirem mortalidade. • Losartan 12,5mg - 50mg/dia (alvo) • Valsartan 40mg - 320mg/dia (alvo) Beta bloqueadores • REDUZEM mortalidade na IC. • Carvedilol, Metoprolol, Bisoprolol. • Indicação: CFII, III e IV (COPERNICUS) Também CF I, se cardiomiopatia isquêmica (CAPRICORN ). • Iniciar com dose baixa, estabilidade clínica. • Cuidado: PAS<100, bradicardia. • Contra indicações: BAV 2º e 3º, asma, DPOC grave, DAP sintomática. Doses dos ß-bloqueadores na ICC Droga Dose inicial Dose-alvo Bisoprolol 1.25 mg 1x/d 10 mg 1x/d Carvedilol 3.125 mg 2x/d 6.25–25 mg 2x/d Metoprolol 12.5–25 mg 1x/d 200 mg 1x/d The Medical Letter, June 26, 2000 Antagonistas da aldosterona • Espironolactona: efeito benéfico independemente da ação diurética. Estabilização ou redução da fibrose miocárdica. • Reduz mortalidade (RALES) • CF III e IV (NYHA) • Dose 25 a 50 mg/dia • Eplerenone: antagonista específico, Reduz mortalidade no cardiopatia isquêmica ( Ephesus ). Estudo RALES N Engl J Med 1999; 341:709 Digitálicos • Indicados nos pacientes sintomáticos com IC sistólica e/ou com FA de alta resposta (mesmo assintomáticos) • Ação: inotrópica positiva, ativ. simpática, estimulação vagal, FC, hospitalizações Estudo DIG não altera mortalidade. • Cautela: disfunção renal (digoxina), BAV, arritmia ventricular complexa, bradiarritmias, idosos Estudo DIG Mortalidade Hospitalização N Engl J Med 1997; 336:525-33 Diuréticos • Terapêutica preferencial no estado congestivo • Melhora tolerância aos exercícios • Facilita o uso de outras drogas (associadas) • Pode causar queda de eletrólitos (K) • Não deve ser utilizado isoladamente • Doses elevadas de diuréticos podem elevar a mortalidade Hunt, SA, et al ACC/AHA Guidelines for the Evaluation and Management of Chronic Heart Failure in the Adult, 2001 Antagonistas dos canais de cálcio • Verapamil, diltiazem e nifedipina: contraindicados na IC - aumentam mortalidade. • Amlodipina: Não influi na mortalidade, mas pode ser usada se persistir Hipertensão Arterial, a despeito de doses máximas de IECAS, Beta-bloqueadores e Diuréticos. Antiarrítmicos • 90% têm alguma arritmia. • Papel ainda indefinido, provavelmente úteis. • CAMIAT e EMIAT: Amiodarona reduziu a morte cardíaca súbita em pacientes com arritmias ventriculares complexas e FE baixa. NÃO houve redução de mortalidade cardíaca global (IIa/A) • CDI: Miocardiopatia dilatada não isquêmica + arritmia ventricular complexa. Anticoagulantes • Cumarínicos: Fibrilação Atrial, trombo intraventricular, antecedentes de tromboembolismo, grandes áreas acinéticas Outras opções terapêuticas • Inotrópicos • Ressincronização ventricular • Transplante cardíaco Tratamento Escalonado • Estágio A correção de fatores de risco • Estágio B IECA/BRA e β-bloqueadores • Estágio C NYHA I e II IECA/BRA, β-bloqueadores Digitálicos e Diuréticos NYHA III e IV IECA/BRA, β-bloqueadores Digitálicos,diuréticos, Espironolactona • Estágio D Internação, CTI, inotrópicos, TX..... Obrigado pela atenção José Maria Peixoto Fone: (31)21047500 [email protected]