INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRÔNICA Pedro Pimenta de Mello Spineti, MSc Prof. substituto do Departamento de Clínica Médica da UFRJ Médico da Clínica de Insuficiência Cardíaca da UERJ Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2013 CASO CLÍNICO ● ● A.F.S. masculino, pardo, 67 anos, natural do Rio de Janeiro, motorista aposentado. Falta de ar e inchaço nas pernas HDA ● Início do quadro há cerca de 6 meses, com cansaço ao subir ladeiras e escadas porém nas últimas 3 semanas apresenta cansaço mesmo quando vai ao mercado, localizado a 2 quarteirões de sua casa. Relata tosse noturna, sendo que por 2 vezes acordou subitamente com intensa dispnéia, melhorando quando dorme com travesseiro alto. ANAMNESE DIRIGIDA • Nega dor torácica ou palpitações. • Nega tosse ou disúria HPP ● DM II diagnosticada há 5 anos ● HAS há 25 anos ● ● Ex-tabagista, parou de fumar há 22 anos, carga tabágica 20 maços/ano Nega alergias, cirurgias prévias, hemotransfusão ou uso regular de medicações. HISTÓRIA SOCIAL • Ex-tabagista (um maço/durante 15a, parou há 20 anos) • Etilista de duas garrafas de cerveja por dia e uma dose de cachaça. • Sedentário • Dieta rica em carboidratos e pobre em verduras e legumes. EXAME FÍSICO ● ● ● ● ● ● Paciente desperto, orientado, acianótico, ausência de esforço respiratório em repouso. PA 110 x 60 mmHg FC 80 bpm ACV: ictus de VE visível e palpável no 6 EICE, difuso, RCR, 3T (B3), sopro sistólico 2+/6+ em foco mitral AR: MV universalmente audível com estertores crepitantes nos 2/3 infeirores de ambos os hemitóraces. Abdome: globoso, peristalse presente, timpânico, indolor, sem massas ou visceromegalias. MMII: sem edema, panturrilhas sem empastamento. Pulsos pediosos reduzidos. HIPÓTESE DIAGNÓSTICA? HIPÓTESE DIAGNÓSTICA? • INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA IC • FRAMINGHAM • BOSTON • EUROPEU DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM Critérios Maiores: a) Dispneia paroxística noturna; b) Turgência jugular c) Crepitações pulmonares d) Cardiomegalia (à radiografia de tórax) e) Edema agudo de pulmão f) Terceira bulha (galope) g) Aumento da pressão venosa central (> 16 mmH2O) h) Refluxo hepatojugular i) Perda de peso > 4,5 Kg em 5 dias em resposta ao tratamento DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM Critérios Maiores: a) Dispneia paroxística noturna; b) Turgência jugular c) Crepitações pulmonares d) Cardiomegalia (à radiografia de tórax) e) Edema agudo de pulmão f) Terceira bulha (galope) g) Aumento da pressão venosa central (> 16 mmH2O) h) Refluxo hepatojugular i) Perda de peso > 4,5 Kg em 5 dias em resposta ao tratamento DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM Critérios Menores: a) Edema de tornozelos bilateral; b) Tosse noturna c) Dispnéia a esforços ordinários d) Hepatomegalia e) Derrame pleural f) Diminuição da capacidade funcional em um terço da máxima registrada previamente g) Taquicardia (FC > 120 bpm) DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE FRAMINGHAM Critérios Menores: a) Edema de tornozelos bilateral; b) Tosse noturna c) Dispnéia a esforços ordinários d) Hepatomegalia e) Derrame pleural f) Diminuição da capacidade funcional em um terço da máxima registrada previamente g) Taquicardia (FC > 120 bpm) DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE BOSTON Critério Pontos Categoria I: História Dispnéia em repouso 4 Ortopnéia 4 Dispnéia paroxística noturna 3 Dispnéia ao caminhar no plano 2 Dispnéia ao subir escadas 1 Diagnóstico de IC: - “definitivo” entre 8 e 12 pontos - “possível” entre 5 e 7 pontos - “improvável” < = 4 DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE BOSTON Critério Pontos Categoria I: História Dispnéia em repouso 4 Ortopnéia 4 Dispnéia paroxística noturna 3 Dispnéia ao caminhar no plano 2 Dispnéia ao subir escadas 1 DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE BOSTON Critério Pontos Categoria II: Exame Físico Frequencia cardíaca (FC): 1 ponto se FC 91 – 110 bpm ; 1 ou 2 2 pontos de FC > 110 bpm Turgência jugular: 2 pontos se > 6 cm H2O; 3 pontos se 2 ou 3 > 6 cm H2O + hepatomegalia ou edema Crepitantes pulmonares: 1 ponto se restrito às bases, 2 1 ou 2 pontos se mais do que apenas nas bases Sibilos 3 Terceira bulha cardíaca 3 DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE BOSTON Critério Pontos Categoria II: Exame Físico Frequencia cardíaca (FC): 1 ponto se FC 91 – 110 bpm ; 1 ou 2 2 pontos de FC > 110 bpm Turgência jugular: 2 pontos se > 6 cm H2O; 3 pontos se 2 ou 3 > 6 cm H2O + hepatomegalia ou edema Crepitantes pulmonares: 1 ponto se restrito às bases, 2 1 ou 2 pontos se mais do que apenas nas bases Sibilos 3 Terceira bulha cardíaca 3 DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIOS DE BOSTON Critério Pontos Categoria III: Radiografia de tórax Edema pulmonar alveolar 4 Edema pulmonar intersticial 3 Derrame pleural bilateral 3 Índice cardiotorácico > 0,5 3 Redistribuição de fluxo para os lobos superiores 2 DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO DA IC Sinais e sintomas pouco acurados Dispnéia: infecção respiratória, embolia pulmonar, DPOC, broncoaspiração, ansiedade, etc A presença de estertores e sibilos é inespecífica Sinais específicos (B3, pulso jugular) nem sempre estão presentes DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIO EUROPEU O diagnóstico de ICFER necessita do preenchimento de 3 critérios: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. Fração de ejeção do ventrículo esquerdo reduzida O diagnóstico de ICFEP necessita do preenchimento de 4 critérios: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. Fração de ejeção do ventrículo esquerdo normal ou levemente reduzida e ventrículo esquerdo não dilatado. 4. Doença estrutural cardíaca (hipertrofia do ventrículo esquerdo/ aumento do átrio esquerdo) e/ou disfunção diastólica. DIAGNÓSTICO DA IC – CRITÉRIO EUROPEU O diagnóstico de ICFER necessita do preenchimento de 3 critérios: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. Fração de ejeção do ventrículo esquerdo reduzida O diagnóstico de ICFEP necessita do preenchimento de 4 critérios: 1. Sintomas típicos de IC 2. Sinais típicos de IC 3. Fração de ejeção do ventrículo esquerdo normal ou levemente reduzida e ventrículo esquerdo não dilatado. 4. Doença estrutural cardíaca (hipertrofia do ventrículo esquerdo/ aumento do átrio esquerdo) e/ou disfunção diastólica. QUAL O MODELO HEMODINÂMICO ? • ICFER – IC com fração de ejeção reduzida – FE < 40 % • ICFEP – IC com fração de ejeção preservada – FE > 50% • IC Borderline – 40% > FE < 50% QUAL A ETIOLOGIA/ ETIOPATOGENIA ? • I – Distúrbio da contratilidade ventricular • II – Sobrecarga ventricular de pressão • III – Sobrecarga ventricular de volume • IV – Distúrbios do enchimento ventricular I – DISTÚRBIO DA CONTRATILIDADE VENTRICULAR • Cardiomiopatia isquêmica • Cardiomiopatias específicas • Miocardites • Cardiomiopatias idiopáticas II – SOBRECARGA VENTRICULAR DE PRESSÃO • Hipertensão arterial • Estenose valvar aórtica • Coarctação da aorta • Estenose da VSVE III – SOBRECARGA VENTRICULAR DE VOLUME • Insuficiência mitral • Insuficiência aórtica • Cardiopatias congênitas com shunt (CIV e PCA) • Síndromes hipercinéticas e hipervolêmicas: hipertiroidismo, anemia, Bériberi, fístulas AV etc... IV – DISTÚRBIO DO ENCHIMENTO VENTRICULAR • Anomalias do relaxamento: hipertiroidismo, anemia, Bériberi, fístulas AV. • Diminuição da complacência ventricular: processos infiltrativos (amiloidose), endomiocardiofibrose, cardiopatia isquêmica • Interferência mecânica do enchimento ventricular: estenose mitral, compressões extrínsecas (pericardite e tamponamento) V - OUTROS • Alterações do ritmo cardíaco: bradiarritmias e taquiarritmias • Cor pulmonale QUAIS EXAMES DEVEM SER SOLICITADOS? Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2012;98(1 supl.1):1-33. RECOMENDAÇÕES PARA DIAGNÓSTICO DE IC História e Exame Físico – I B ECG – I C Laboratório – I C Telerradiografia de tórax – I C ECO com Doppler – I B ECO hemodinâmico – I B CAT – I B (angina) Cardiologia nuclear – IIa B Angiotomografia – IIa C RM – IIa B Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2012;98(1 supl.1):1-33. ECG RADIOGRAFIA DE TÓRAX LABORATÓRIO ● ● ● ● Hb 13 ● Ur 45 ● Cr 1,1 ● Na 135 ● K 4,2 Ht 40 % Leu. 16.300 Bastões 6% ● Plaq. 137.000 ● INR 1,4 ● PTT 30 s ECOCARDIOGRAMA • AO 26 mm AE 42 mm Ved 60 mm Ves 51 mm SIV 10 mm PPVE 10 mm FE 31 % VENTRÍCULO ESQUERDO • Diâmetros cavitários aumentados. • Hipocinesia difusa, movimento paradoxal do septo. Disfunção sistólica global grave. • Disfunção diastólica grau I. VENTRÍCULO DIREITO • Ventrículo direito com função sistólica preservada ÁTRIO ESQUERDO: de diâmetro aumentado ÁTRIO DIREITO: de diâmetro normal • Veia cava inferior distendida, com variação respiratória reduzida. AORTA: diâmetros normais VÁVULA AÓRTICA: aspecto normal VÁVULA MITRAL: posteriorizada com regurgitação moderada. VÁLVULA TRICÚSPIDE: de aspecto normal, com regurgitação moderada. • PSAP estimada pela IT em 35 mmHg PERICÁRDIO: de aspecto normal CONCLUSÃO: • Cardiopatia dilatada com disfunção sistólica grave do VE. Disfunção diastólica do VE grau I. Regurgitação mitral moderada. Regurgitação tricúspide moderada. Hipertensão arterial pulmonar leve. MÉTODOS DE IMAGEM Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2012;98(1 supl.1):1-33. RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CARDÍACA Avaliação da Cardiopatia Isquêmica Importância Prognóstica 1. Pesquisa de isquemia miocárdica 2. Diagnóstico e caracterização de IAM 3. Avaliação de viabilidade miocárdica 4. Quantificação da massa infartada CLASSIFICAÇÃO DA IC - NYHA CLASSE FUNCIONAL SINTOMAS I Assintomático nas atividades usuais II Sintomas desencadeados por esforços habituais III Sintomas presentes em esforços menores IV Sintomas em repouso ou aos mínimos esforços NOVA CLASSIFICAÇÃO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AHA/ACC, novembro 2001 A B Alto risco para IC Doença estrutural s/ sintomas C Doença estrutural c/ sintomas NYHA (I-IV) D IC terminal TRATAMENTO DA IC Diretriz Brasileira de IC – ABC - 2009 TRATAMENTO PELA CLASSE FUNCIONAL Classe I Classe II Classe III Classe IV Cirurgia Transplante Otimização terapêutica Espironolactona Hidralazina +Nitrato Diuréticos Digitálicos Betabloqueadores Inibidores da Enzima Conservadora Angiotensina Restrição de sódio (até 6 g/dia) 2 g/dia sal restrição hídrica(20ml/kg) Adequação da Atividade Física USO DE MEDICAMENTOS BASEADO EM EVIDÊNCIAS NA IC Pacientes tratads (%) Altas de 10/2001 – 01/2004 (n = 34.498) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 IECA BRA Beta-bloqueador Diurético Digoxina 80,8 57,4 50,8 41 12,8 Pacientes com IC crônica antes da hospitalização Clínicas de IC Os programas de clínica de IC aumentam a utilização e as doses das medicações preconizadas Aumentam aderência a dieta e medicações melhorando a CF e capacidade de exercício Reduzem no. de internações Podem reduzir custos Podem melhorar a sobrevida I Latin-American Guidelines on Decompensated Heart Failure. Arq Bras Cardiol. 2005 Sep;85 Suppl 3:49-94 ORIENTAÇÕES PARA SEGUIMENTO Atualização da Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca Crônica. Arq Bras Cardiol 2012;98(1 supl.1):1-33. PROGNÓSTICO NA IC Sobrevida da ICC é pior do que muitos tipos de câncer McMurray JJV, Stewart S. Eur Heart J 2002; 4 (suppl D): 50-58 CLÍNICA DE IC - UERJ Long-term mortality predictors in a Brazilian cohort with chronic heart failure. Curva de Sobrevida N=340 1996-2005 Risco de morte = 2,2%/ano Meses Mourilhe Rocha, Albanesi Filho F. M. , Albuquerque D. C. et al. J Cardiac Failure 2006;12(6) (suppl 1):S92. OBRIGADO ! [email protected]