UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR. HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL MESTRADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS ANA KARLA LIMA FREIRE MANAUS 2011 i ANA KARLA LIMA FREIRE CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Prof. Dr. João Vicente Braga de Souza Co-orientador: Prof. Dr. Bodo Wanke MANAUS 2011 . FICHA CATALOGRÁFICA Catalogação na Fonte: Auxiliadora Queiroz Batista – Bibliotecária - CRB11/ 596. F866c . Freire, Ana Karla Lima Caracterização molecular de agentes causadores de Criptococose Isolados de pacientes atendidos em uma unidade terciária de saúde do Estado do Amazonas / Ana Karla Lima Freire. – Manaus: UEA, 2011. 62 fl. : il ; 30 cm Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas para obtenção do grau de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas. Orientador: Profº. Dr. João Vicente Braga de Souza. Co-orientador: Prof°. Dr. Bodo Wanke. 1. Cryptococcus spp. 2. Genotipagem. 3. PCR-Fingerprinting. 4. URA5-RFLP. 5. ITS5/NL. I. Título. CDU 616.9 ii FOLHA DE JULGAMENTO CARACTERIZAÇÃO MOLECULAR DE AGENTES CAUSADORES DE CRIPTOCOCOSE ISOLADOS DE PACIENTES ATENDIDOS EM UMA UNIDADE TERCIÁRIA DE SAÚDE DO ESTADO DO AMAZONAS ANA KARLA LIMA FREIRE “Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de PósGraduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”. Banca Julgadora: ______________________________________ Prof. João Vicente Braga de Souza, Dr. Presidente ______________________________________ Profa. Ani Beatriz Jackisch Matsuura, Dra. Membro ______________________________________ Profa. Maria das Graças Vale Barbosa, Dra. Membro iii AGRADECIMENTOS A Deus pelo sopro da vida e pelos planos, dEle, cumpridos. Aos meus pais queridos, pelo imenso amor, paciência, incentivo e suporte em todos os momentos. Ao meu noivo por todo amor, compreensão, pelas orações que nunca cessam e por fazer tudo parecer mais simples. Ao meu orientador, Dr. João Vicente Braga de Souza, pela oportunidade, aprendizado, idéias, paciência, amizade e pela chance de conhecer essa grande pessoa. Ao meu co-orientador, Dr. Bodo Wanke pela chance de compartilhar de sua experiência, conhecimento e colaboração. À Dra. Júlia Ignez Salem pela imensa gentileza na realização e otimização deste trabalho, com suas críticas e sugestões. Às minhas amigas Ivanete Sampaio e Mirlane Santos, pelos ensinamentos sobre os procedimentos. Aos funcionários dos Laboratório de Micobacteriologia e Micologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, pelo pronto auxílio. Ao Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, onde tudo começou. À Universidade do Estado do Amazonas pela qualificação profissional oferecida. À Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado pela oportunidade concedida da utilização das instalações e materiais do Laboratório de Micologia. Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia pela cedência do espaço nos testes de biologia molecular. Ao INCQS-RJ pelo envio das cepas fúngicas de referência para a realização desta pesquisa. À Suframa e Fundação Muraki pelo apoio na estrutura deste Programa de PósGraduação. À CAPES pelo auxílio financeiro. À FAPEAM pelo financiamento desta pesquisa através do edital n°.014/2006 PPSUS 2006. iv RESUMO A Criptococose é uma micose sistêmica que acomete órgãos profundos e a pele, decorrente da aquisição de propágulos infectantes por via inalatória das espécies de leveduras patogênicas pertencente à classe dos Basidiomycetes e ao gênero Cryptococcus, afetando pacientes imunodeprimidos ou imunocompetentes. Embora a porta de entrada no hospedeiro humano seja o pulmão, o fungo apresenta tropismo pelo Sistema Nervoso Central (SNC), onde causa quadro grave de meningoencefalite. A partir do conhecimento de que existem 4 grupos moleculares de Cryptococcus neoformans (VNI e VNII, VNIII e VNIV) e 4 de C. gattii (VGI e VGII, VGIII e VGIV) vem se tornando importante a identificação dos grupos incidentes em diferentes regiões geográficas do mundo. Neste sentido foi investigado quais os tipos moleculares de 60 cultivos de Cryptococcus spp., isolados de pacientes atendidos em uma unidade terciária do Estado do Amazonas, entre 2006-2010. Os isolados foram caracterizados pela PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e confirmados por PCR-RFLP do gene URA5. Avaliou-se também um protocolo experimental de PCR-RFLP utilizando como alvo a região ITS do DNAr. A presença de genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e MATa) das espécies, foi analisada por PCR. Constatou-se que os pacientes em sua maioria são do sexo masculino (66,7%), com idade entre 16-30 anos (51,7%), portadores de HIV (75%) que apresentaram meningite (71,7%), cujos isolados de C. neoformans (66,7%) em sua maioria foram caracterizados como grupo molecular VNI (97,5%) e os de C. gattii como VGII (100%). Três isolados (5,0%) não puderam ser caracterizados por nenhum dos protocolos estudados e o protocolo experimental avaliado apenas discriminou 2 grupos moleculares de C. gattii (VGII e VGIII). Quanto aos mating types, 58 isolados foram do tipo α e apenas 2 foram do tipo a. C. neoformans do grupo molecular VNI é o principal agente etiológico. Entretanto, temse o encontro do grupo molecular VNII nunca antes relatado para a Região Norte do Brasil. Além do exposto, constatou-se que a nova metodologia sugerida para genotipagem utilizando como gene alvo a região ITS do DNAr caracterizou somente os 2 grupos moleculares de C. gattii. Palavras-Chaves: Cryptococcus spp.; Genotipagem; PCR-Fingerprinting M13; URA5-RFLP; ITS5/NL4 v ABSTRACT Cryptococcosis is a systemic mycosis that affects deep organs and skin, resulting from the acquisition of infective propagules inhalation of pathogenic yeast species belonging to the class of Basidiomycetes and the genus Cryptococcus, affecting immunocompetent or immunocompromised patients. Althought the entrance to the human host is the lung, the fungus has tropism for Central Nervous System (CNS), where it causes severe meningoencephalitis. From the knowledge that there are four molecular groups of Cryptococcus neoformans (VNI and VNII, VNIII and VNIV) and four of Cryptococcus gattii (VGI and VGII, VGIII and VGIV) has become important to identify groups of incidents in different geographic regions worldwide. This effect was investigated what molecular types of 60 cultures of Cryptococcus species isolated from patients in a tertiary hospital in the State of Amazonas, Brazil, between 20062010. The isolates were characterized by PCR-Fingerprinting using M13 mini-satellite and confirmed by PCR-RFLP of the URA5 gene. An experimental protocol using PCR-RFLP targeting the ITS rDNA was also evaluated. The presence of specific genes with mating type locus ((MATα and MATa) species was analyzed using PCR. It was found that patients are mostly male (66.7%), aged 16-30 years (51.7%), HIV (75.0%) with meningitis (71.7%). Whose isolates of C. neoformans (66.7%) were mostly characterized as VNI molecular group (97.5%) and C. gattii (100.0%). Three isolates (5.0%) could not be characterized by any of the protocols under study and the experimental protocol evaluated only discriminated two molecular groups of C. gattii (VGII and VGIII). As for the mating types, 58 isolates were of type α and only two were type a. C. neoformans VNI molecular group was the main etiologic agent. However, there is the meeting of the VNII molecular group has never been reported for the northern region of Brazil. Besides the above, it was found that the new methodology suggested for genotyping using as a target gene of rDNA ITS region characterized only two groups of C. gattii. Key words: Cryptococcus spp., Genotyping, PCR-Fingerprinting M13, URA5-RFLP, ITS5/NL4. vi LISTA DE FIGURAS Figura 1. Imagem do ciclo de infecção por Cryptococcus spp............................... 14 Figura 2. Imagem de leveduras do Gênero Cryptococcus..................................... 19 Figura 3. Imagem do cultivo de Cryptococcus em Ágar Sabouraud...................... 19 Figura 4. Imagem do cultivo de Cryptococcus em Ágar Níger com produção de melanina.................................................................................................................. 20 Figura 5. Imagem de cultivo de Cryptococcus em CGB, amarelo, C. neoformans e azul, C. gattii........................................................................................................ 20 Figura 6. Imagem da distribuição dos tipos moleculares de acordo com os Estados Brasileiros incluídos na análise................................................................. 25 Figura 7. Fluxograma da Reativação e Isolamento Fúngico.................................. 33 Figura 8. Fluxograma da Metodologia de Extração do DNA genômico................. 34 Figura 9. Fluxograma da PCR-Fingerprinting do Minissatélite M13...................... 35 Figura 10. Fluxograma da PCR-RFLP do gene URA5.......................................... 36 Figura 11. Fluxograma da PCR dos mating types................................................. 37 Figura 12. Fluxograma da PCR-RFLP da região ITS do DNAr.............................. 38 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1. Fatores de Virulência das espécies patogênicas de Cryptococcus....... Tabela 2. Lista de cepas de referência utilizadas neste estudo, incluindo informações gerais, sorotipo (ST), mating type (MAT), tipo molecular (TM)........................................................................................................................ 18 29 viii LISTA DE ABREVIATURAS AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome µm Microlitros BC British Columbia CEP Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos CGB Canavanina-glicina-azul de bromotimol CR3 Complement Receptor Type 3 DNA Desoxirribonucleic Acid dNTP Desoxirribonucleosídeo Trifosfato EDTA Ácido Etilenodiaminotetracético EUA Estados Unidos da América FAPEAM Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas FMT-AM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas H Hora HCl Ácido Clorídrico HIV Human Immunodeficiency Virus INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia ITS Espaço Interno Transcrito ITS5 Espaço Interno Transcrito 5 KCl Cloreto de Potássio LCR Líquido Cefalorraquidiano Mg Miligrama MgCl 2 Cloreto de Magnésio Min Minuto mL Mililitro Nm Nanômetro PCR Polymerase Chain Reaction pH Potencial Hidrogeniônico RAPD Random Amplified Polymorphic DNA RFLP Restriction Fragment Length Polymorphism Rpm Rotações por Minuto S Segundo SNC Sistema Nervoso Central ix Tris 2-amino-2-hidroximetilpropano-1,3-diol U Unidade UFC Unidade Formadora de Colônia URA5 Urotidina Monofosfato Pirofosforilase 5 UV Ultravioleta V Volts VGI, VGII, VGIII, VGIV Variedade gattii do tipo I, II, III e IV VNI,VNII, VNIII, VN IV Variedade neoformans do tipo I, II, III e IV. x SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................. 12 1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 O Microrganismo........................................................................................... A doença....................................................................................................... Fatores de Virulência.................................................................................... O Diagnóstico Laboratorial............................................................................ A Epidemiologia e Grupos Moleculares........................................................ 12 13 16 18 21 2. OBJETIVOS..................................................................................................... 27 2.1 Geral.............................................................................................................. 27 2.2 Específicos.................................................................................................... 27 3. MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 28 3.1 3.2 3.3 3.4 Modelo de Estudo......................................................................................... Universo de Estudo....................................................................................... Procedimentos.............................................................................................. Características dos Pacientes....................................................................... 28 28 29 39 4. RESULTADOS................................................................................................. 40 5. CONCLUSÃO.................................................................................................. 56 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 57 7. ANEXOS.......................................................................................................... 64 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 O Microrganismo Os estudos com Cryptococcus tiveram início em 1894, na Itália, quando Sanfelice registrou o primeiro isolado deste fungo a partir de suco de pêssego, chamando-o de Saccharomyces neoformans1. No mesmo ano, foi relatada uma infecção pela levedura em um paciente alemão, sendo a referida levedura chamada de Saccharomyces hominis. Entretanto, observações posteriores demonstraram a ausência dos ascóporos característicos do gênero Saccharomyces 2. Atualmente, esta levedura capsulada é taxonomicamente descrita como fazendo parte da Classe Basidiomycetes, Família Cryptococcaceae e gênero Cryptococcus3. O gênero engloba mais de 50 espécies que se caracterizam morfologicamente por se apresentarem na forma de levedura esférica, que variam de 4 a 10 µm de diâmetro, possuem cápsula e reproduzem-se assexuadamente por brotamento4. As leveduras das espécies de Cryptococcus podem formar hifas verdadeiras durante reprodução sexuada, mas não são considerados fungos dimórficos verdadeiros, porque a fase filamentosa é apenas transitória, surgido após fusão entre dois mating types: a e α resultando no estágio sexuado do fungo denominado Filobasidiella spp5. Como patógenos, apresentam-se como intracelulares facultativos, os quais fisiologicamente são capazes de tolerar desde baixas temperaturas ambientais, à temperatura corpórea dos mamíferos (37°C)6. As espécies patogênicas do gênero Cryptococcus atualmente são classificadas em duas: C. neoformans e C. gattii. Passoni (1999) descreveu que C. neoformans tem a capacidade de colonizar a mucosa do sistema respiratório de pombos (Columba spp.), sem causar doença, comportando-se como endosaprófitas naturais destas aves. A peculiar adaptação de pombos aos centros urbanos proporciona o isolamento do fungo em fontes ambientais, inclusive em poeira domiciliar7. Já C. gattii é encontrado isolado em espécies de árvores, principalmente Eucalyptus camaldulensis8. 2 As duas espécies foram classificadas em cinco sorotipos: Cryptococcus neoformans (sorotipos A, D e o híbrido AD) de distribuição cosmopolita e encontrada com facilidade em hábitat de pombos (Columba spp.), e Cryptococcus gattii (sorotipos B e C) predominante em regiões tropicais e subtropicais e originalmente encontrado em restos vegetais de Eucalyptus camaldulensis 9,10,11,12. Os sorotipos B e C (C. gattii) são hábeis em infectar e causar doenças em hospedeiros imunocompetentes, enquanto que os sorotipos A e D (C. neoformans) ocorrem em pacientes imunocomprometidos, principalmente naqueles infectados pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) 13. Litvintseva et al. (2007)14 explicam que o sorotipo AD é um híbrido das variedades A e D. Ao contrário do que se pensava, a infecção por esse sorotipo parece ser comum. Em estudo, realizado na América do Norte, foi relatado que 7,5% dos isolados ambientais eram sorotipo AD14. Na Europa, Dromer et al. (2007)15 observaram que 30% dos isolados pertenciam também a esse sorotipo. No Brasil a presença do sorotipo AD foi relatada por Nishikawa et al. (2003)11, isolado tanto em amostras de origem clínica como ambientais. 1.2 A Doença A Criptococose, antigamente conhecida como torulose ou blastomicose Européia, é uma micose sistêmica que acomete órgãos internos e a pele14. O primeiro caso de infecção humana provocada por C. neoformans foi detectado há pouco mais de 100 anos por Busse e Buschke na Alemanha. Entretanto, a Criptococose começou a receber atenção especial a partir da década de 80, com o aumento da população imunocomprometida decorrente da pandemia de HIV e uso de agentes imunossupressores, para a terapia do câncer ou transplantes de órgãos. Por esta razão, a Criptococose oportunista transformou-se em uma infecção relativamente comum neste começo de milênio16. Quanto à patogenia, a doença caracteriza-se pela inalação de basidiósporos ou leveduras desidratadas infectantes que chegam até os espaços alveolares. A 3 progressão da infecção para as formas sintomáticas depende da competência imunológica do indivíduo, da virulência do isolado e da quantidade do inóculo fúngico inalado (Figura 1)17. Instalação nos alvéolos Inalação Pulmões Esporos Disseminação para o Sistema Nervoso Árvores ou Ocos Excretas Cultura Positiva Figura 1. Imagem do ciclo de infecção por Cryptococcus spp. Fonte: www.bmolchem.wisc.edu Mecanismos de defesa do organismo, através da ativação de macrófagos, normalmente são suficientes para uma satisfatória e protetora resposta do hospedeiro. Entretanto, os fatores de virulência podem tornar a resposta imunológica ineficaz, permitindo a infecção pulmonar, bem como a subseqüente disseminação do fungo para outros órgãos e sistemas, em especial ao Sistema Nervoso Central (SNC)18,19. Uma maior susceptibilidade de infecção pelo fungo é manifestada por alterações da imunidade celular ou humoral. A infecção pulmonar é o sintoma preliminar da aquisição da Criptococose, resultando em doença pulmonar progressiva ou foco pulmonar assintomático, que pode conduzir à disseminação hematogênica e mais freqüentemente à infecção do SNC ou comprometimento cutâneo. A infiltração nodular pulmonar é o achado clínico mais freqüente da Criptococose pulmonar20. O neurotropismo de C. neoformans vem sendo associado com sua capacidade em utilizar as catecolaminas (adrenalina, noradrenalina e dopamina) como substratos necessários ao seu desenvolvimento. Isto justifica o fato de que as 4 áreas cerebrais ricas em catecolaminas são as mais afetadas pelo Cryptococcus durante a meningoencefalite, quadro prevalente da doença17,21. O quadro de meningoencefalite varia de acordo com o quadro geral de saúde dos indivíduos acometidos. Em pacientes imunocomprometidos, as manifestações clínicas são agudas e predominantes, e em pacientes sem comprometimento imunológico tendem a ser mais crônicas22. A Criptococose é a infecção fúngica mais frequente e fatal em pacientes com aids e a terceira causa de doença oportunista do SNC. Estudos multicêntricos internacionais demonstraram que a taxa de mortalidade dos pacientes acometidos de HIV aproximou-se de 69%, sendo que a maioria dos pacientes que foram ao óbito, ocorreu nos primeiros 30 dias de co-infecção23. Sua prevalência varia de 2,9 a 13,3% representando importante causa de mortalidade na aids, apesar do tratamento específico23,24. Em indivíduos hígidos, as respostas imunológicas celular e humoral delimitam a contaminação pela espécie C. neoformans, caracterizando um quadro assintomático da doença. A resistência da infecção depende da sensibilização prévia de linfócitos e posterior ativação de macrófagos e neutrófilos, além de uma resposta humoral mediada por anticorpos opsonizantes25. Quanto ao perfil característico dos indivíduos acometidos por Criptococose, estudos prospectivos realizados na região Sudeste do Brasil, no período entre 1998 e 2003 relataram a presença de 96 pacientes com diagnóstico clínico-laboratorial de Criptococose, sendo que destes a maior predominância (81,3%) foi de pacientes portadores de aids26. Em recentes estudos brasileiros sobre o perfil epidemiológico dos pacientes acometidos com Criptococose por C. neoformans, constatou-se que a maioria dos pacientes era do sexo masculino, com faixa etária de 30 a 39 anos e portadores de HIV27,28 e que casos de infeçcão por C. gattii acometia pacientes sem imunocomprometimento evidente29. 5 1.3 Fatores de Virulência Os fatores de virulência estão abaixo e relacionados na Tabela 1. 1.3.1 A cápsula A patogenicidade é determinada pela cápsula do Cryptococcus, composta principalmente pelo polissacarídeo glicuronoxilmanana4. Este fator de virulência impede a fagocitose e ativação do sistema complemento16. O processo fagocítico é impelido, uma vez que o potencial zeta negativo dos componentes capsulares decorre, e isto provoca repulsão eletrostática entre o fungo e os macrófagos30. No meio ambiente, a cápsula possibilita a sobrevivência em condições de baixa umidade, protegendo a levedura contra alta desidratação31. A cápsula criptocócica fornece uma barreira física em torno da parede fúngica e modula respostas imunes do hospedeiro em diversos níveis. O material capsular está relacionado tanto com alterações na eficiência do processo fagocítico fúngico, quanto com a resistência à destruição da parede celular pelos efeitos imunes, redução na produção de citocinas pró-inflamatórias e a apresentação dos antígenos aos linfócitos T. Este fator de virulência, ainda interfere, no funcionamento dos componentes do complemento impossibilitando a ligação aos receptores CR3 dos leucócitos o que prejudica a resposta humoral30,32. 1.3.2 Lacase e Melanina As colônias de Cryptococcus, quando semeadas em Ágar Níger apresentam coloração marrom, isso foi observado pela primeira vez, em 1962 por Staib33. Porém, o mecanismo pelo qual ocorria a produção desse pigmento, no entanto, não havia sido estabelecido ainda33,34. Todavia, desde então, a detecção da melanina em meio de cultura tem sido utilizada para isolamento, purificação e identificação desse microrganismo em laboratórios de análises clínicas4. A melanina é um fator de virulência muito estudado no gênero Cryptococcus. Esta é um pigmento carregado negativamente, que resiste à degradação em pH 6 ácido4. Ela é responsável pela proteção da célula fúngicas, contra a ação fagocitária dos macrófagos, atuando como antioxidante, além disso, inibe a produção de TNFα, citocina importante para desencadeamento da resposta imune celular35. Tanto C. neoformans quanto C. gattii secretam a lacase, enzima dependente de cobre, substância que catalisa a formação de melanina, quando estes microrganismos crescem em substratos contendo compostos difenólicos5, incluindo as catecolaminas4. Um estudo de interrupção gênica revelou que cepas selvagens de Cryptococcus são mais virulentas que seus mutantes albinos21, portanto a melanina é importante na patogenicidade da Criptococose. 1.3.3 Mating Types Cryptococcus spp. possuem dois tipos sexuais ou mating types (MAT) complementares: MATa e MATα3. C. neoformans e C. gattii se reproduzem assexuadamente por brotamento, estando a grande maioria dos isolados clínicos e ambientais presentes na forma anamórfica haplóide. Apesar disso, essa levedura pode se reproduzir sexuadamente, correspondendo ao estado perfeito, sendo este estágio denominado de Filobasidiella neoformans e F. bacillispora, correspondente aos anamorfos C. neoformans e C. gattii, respectivamente3,36,37. O MATα apresenta maior prevalência tanto em amostras clínicas como ambientais2,4,38. Essa maior prevalência do mating type α sugere que ele tenha vantagem seletiva permitindo maior sobrevivência do fungo no meio ambiente e também maior virulência39. 7 Tabela 1. Fatores de Virulência das espécies patogênicas de Cryptococcus. Fator de Virulência Funções no Ambiente Funções na Patogênese Prevenção da dessecação Anti-fagocítico Proteção contra predadores ameboides Imunomodulador Degradação da Lignina Interferência no stress oxidativo Cápsula Lacase Proteção contra luz ultravioleta Resistência à morte oxidativa Tolerância ao calor e frio Antifagocítico Redução da susceptibilidade à degradação enzimática Imunomodulador Fosfolipase Função Nutricional (ainda indefinida) Crescimento intracelular Proteases Função Nutricional Dano Tecidual Urease Captação de Nitrogênio Crescimento intracelular Mating Type Reprodução Sexual Regulação dos Fatores de Virulência Melanina 30 Fonte: Casadevall et al., 2003 . 1.4 O Diagnóstico Laboratorial As leveduras de Cryptococcus spp. podem ser visualizadas facilmente em espécimes clínicos como líquido cefalorraquidiano (LCR), escarro, lavado brônquico, urina e outros tipos de secreções ou fluidos, por microscopia óptica contendo tinta 8 da China. Nesta coloração, visualiza-se a levedura no interior da cápsula (Figura 2), uma vez que esta contrasta com a tinta40. Figura 2. Imagem de leveduras do Gênero Cryptococcus. Fonte: www.adam.com A microscopia é positiva quando há 103 ou 104 UFC/mL de células fúngicas. O diagnóstico laboratorial através do teste da tinta da China tem sensibilidade de 7090% dos pacientes com aids, porém cai para somente 50% em pacientes imunocompetentes17. C. neoformans pode ser isolado em meios de cultivo que contenham uma fonte de carbono, nitrogênio e oxigênio41, produzindo colônias brancas mucóides (dependendo da espessura da cápsula), usualmente após 48 e 72 h (Figura 3). Figura 3. Imagem de Cryptococcus em Ágar Fonte: Acervo Pessoal cultivo de Sabouraud. As espécies do gênero Cryptococcus tem atividade de urease. A patogenicidade de C. neoformans está relacionada com a sua capacidade de crescer a 37 ºC. No entanto, a temperatura ótima de crescimento está entre 30- 9 35ºC. Em meios de cultura como o ágar níger, a presença de compostos difenólicos propicia a produção de lacase que leva à formação de melanina (Figura 4), que pode ser observada pelo aparecimento de coloração marrom nas colônias33. Figura 4. Imagem de cultivo de Cryptococcus em Ágar Níger com produção de melanina. Fonte: Acervo Pessoal Alguns sorotipos de C. neoformans podem ser diferenciados pela reação de coloração quando cultivados em meio ágar CGB, pois C. gattii é resistente à canavanina e utiliza a glicina como fonte de Carbono e Nitrogênio, modificando o pH do meio, deixando-o alcalino. O azul de bromotimol funciona como um indicador da mudança de pH, modificando a coloração do meio, de amarelo para azul, caracterizando C. gattii, diferenciando de C. neoformans (Figura 5)42. Figura 5. Imagem de cultivo de Cryptococcus em CGB, amarelo, C. neoformans e azul, C. gattii. Fonte: Severo 43 LC. In: Consenso em Criptococose, 2008 . Inúmeras técnicas baseadas na análise do DNA têm sido utilizadas para estudos de detecção, caracterização, filogenia e epidemiologia do gênero Cryptococcus. Essas técnicas incluem análises RFLP (fragmentos de DNA gerados 10 por enzimas de restrição). Em 1997, ao utilizar esta metodologia, Franzot et al.44 ao analisarem a diversidade genética de isolados C. neoformans do Brasil e da cidade de Nova York (EUA), através do perfil de RFLP da seqüência do gene URA5, sugeriram uma dispersão global de certos isolados patogênicos. 1.5 A Epidemiologia e Grupos Moleculares Cryptococcus neoformans possui distribuição geográfica mundial, freqüentemente associa-se a habitat de aves, excretas secas, ricas em fontes de nitrogênio, como uréia e creatinina. Uma vez que tenha condições favoráveis para o seu crescimento abundante, esta levedura forma microfocos, notadamente em centros urbanos e relacionados a pombos45. C. neoformans é mais comum no continente europeu, embora tenha distribuição mundial, onde mais de 30% dos casos da doença são causados por essa espécie2. Países como Suíça, Alemanha, Áustria46 e França47 já informaram sobre seu isolamento. A Criptococose neoformans ocorre como primeira manifestação oportunista em cerca de 4,4% dos casos de aids no Brasil48. Esta micose sistêmica associada à aids predomina nas regiões, Sul, Sudeste e Centro-oeste do Brasil 49,50,51 . Por outro lado, Cryptococcus neoformans é capaz de causar infecção fatal em indivíduos aparentemente normais52. Todavia, esta espécie já foi encontrada no Brasil, sendo isolada de árvores em diferentes localidades53,54,55: Rio de Janeiro (RJ), em Teresina (PI), em Boa Vista e Ilha de Maracá (RR), no interior do Amazonas e na Cidade de São Paulo56. Espécies de C. neoformans são isoladas com maior freqüência na Europa e América do Sul. No Brasil, por ser área endêmica desta espécie, há um grande interesse em se determinar os genótipos dos isolados deste fungo3,49,54,57. A Criptococose por Cryptococcus gattii ocorre na América Latina, em países como Argentina, Brasil, Venezuela11, Peru e Colômbia58,59. No Brasil, principalmente nas regiões Norte e Nordeste, estudos clínico-epidemiológicos vem mostrando a 11 importância dessa espécie que acomente o SNC de adultos jovens e crianças, com alta letalidade60. Sabe-se que Criptococose gattii pode ocorrer em áreas de clima temperado e apresentar-se sob forma de surtos. Em áreas, onde há alta pressão endêmica por C. gattii, observa-se significativa associação deste agente com aids50. Em estudo prévio, na Região Norte do Brasil, realizado na Fundação de Medicina Tropical do Estado do Amazonas, Santos (2000)61 relatou que a frequência da Criptococose infantil entre os anos de 1988-1998, representou uma significante fração dentre os casos reportados (33%, n=75), dado este realmente preocupante, frente à vasta região de florestas, um dos hábitats deste fungo. Um recente surto de infecção por Cryptococcus gattii, no clima temperado da Ilha de Vancouver, British Columbia (BC), Canadá, deflagrou o início e a colaboração de pesquisadores no esforço de investigação deste distúrbio em relação às descrições geográficas, demográficas e microbiológicas, referenciando as características clínicas dos casos de Criptococose, bem como identificar possíveis reservas ambientais responsáveis pelo surto. Como a maioria dos pacientes eram imunocompetentes, a infecção criptocócica foi listada como doença notificável em BC, Canadá62. A partir de então, muitos questionamentos foram surgindo em relação à virulência da espécie de Cryptococcus que gerou a epidemia em BC. Por isso, ferramentas moleculares foram utilizadas para caracterizar o genótipo envolvido no surto. Os estudos genotípicos utilizando PCR-Fingerprinting e PCR-RFLP realizados por Meyer et al. (1999)63 conseguiram distinguir oito genótipos, sendo 4 de C. neoformans (VNI e VNII, VNIII e VNIV) e 4 de C. gattii (VGI e VGII, VGIII e VGIV). Após as análises que reproduziram a metodologia de Meyer et al. (1999)63, um estudo posterior constatou que VGII era o grupo molecular causador do surto na Ilha de Vancouver62. As técnicas moleculares de tipificação incluem a PCR-Fingerprinting onde um lócus de polimorfismo no DNA é amplificado gerando diferentes fragmentos que geram diferentes padrões de bandas de DNA e podem ser relacionados com uma espécie, variedade ou linhagem. A técnica de RAPD (Random Amplified Polymorphic DNA) é um fingerprinting que utiliza sequências arbitrárias que geram 12 diferentes padrões de amplificação, os quais permitem no caso de Cryptococcus spp. discriminar grupos moleculares e também são utilizados em estudos epidemiológicos64,65. A metodologia proposta por Meyer et al. (1999)63 propuseram a tipagem molecular de Cryptococcus spp. através do PCR-Fingerprinting que utilizou como primer uma seqüência obtida do “núcleo” do fago M13 para detectar seqüências minissatélites hipervariadas existentes no genoma da levedura. Este protocolo permitiu a separação dos isolados de C. neoformans e C. gattii em oito grandes grupos moleculares, como já foi mencionado. Em 2003, um dos primeiros grandes estudos multicêntricos de caracterização molecular de espécies de Cryptococcus foi realizado pelo Ibero American Cryptocococcal Study Group, que envolveu oito países da America Latina e a Espanha. O minissatélite M13 foi utilizado para diferenciação dos grupos moleculares das espécies e a confirmação dos mesmos ocorreu por análises de Restriction Fragment Length Polymorphism (RFLP) do Gene Urotidina Monofosfato Pirofosforilase (URA5), o qual demonstrou a prevalência de VNI dentre as cepas de Cryptococcus neoformans66. Muitos estudos utilizando a classificação de Meyer et al. (1999)63 foram realizados em diversas partes do mundo. Na Austrália, um estudo de 61 isolados clínicos e 49 ambientais (isolados de eucaliptos e outras árvores) de C. gattii revelou que 92% dos clínicos pertenciam ao genótipo VGI e 100% dos ambientais isolados de eucaliptos, eram VGI, além disso, três isolados clínicos e um ambiental de outra árvore, que não o eucalipto, foi VGII e apenas um isolado clínico foi VGIII67. Na Índia, o genótipo VNI mostrou-se predominante ocorrendo em 89% dos 57 isolados clínicos, os genótipos VNIV e VGII também foram encontrados, com porcentagens de 2% e 9%, respectivamente68. Em Barcelona, Espanha, o tipo VNI ocorreu em todos os 22 isolados escolhidos randomicamente para genotipagem, todos foram provenientes de amostras do solo misturadas a excrementos de pombos69. 13 Na América Latina, Meyer et al. (2003)66, ao estudarem 304 cepas de Cryptococcus spp. do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru, Venezuela, Guatamela e Espanha, encontraram o genótipo VNI em 68,2% dos isolados e o genótipo VNII, em pequena proporção (5,6%) seguido do genótipo VNIII (sorotipo AD) com 4,1% e do VNIV, com 1,8%. Já o genótipo VGI foi encontrado em 3,5% dos isolados, VGII, em 6,2%, VGIII em 9,1% e VGIV em 1,5%. O Brasil participou do estudo com 66 cepas. Dessas 82,3% foram VNI, 3% VNII e 13,6% VGII66. Em relação aos estudos realizados no Brasil, Casali et al. (2003)38 ao estudar 105 cepas clínicas e 19 ambientais relataram que o genótipo VNI era o mais comum na região sul do Brasil (89,3%), seguido pelo genótipo VGI (8,9%) e VNIV (7,3%), ao qual pertenciam todos os isolados obtidos de Eucalyptus spp. O estudo de Abegg et al. (2006)9, no Rio Grande do Sul, relatou que todos os genótipos de C. neoformans foram VNI, já os C. gatiii, VGI9. Já em 2008, Trilles e colaboradores70 realizaram um estudo verificando a distribuição dos tipos moleculares de C. neoformans e C. gattii em todo o Brasil, a fim de correlacionar os genótipos com as regiões geográficas e condições dos hospedeiros. Foram analisados 443 isolados, sendo 320 de C. neoformans e 123 de C. gattii, de todas as regiões do Brasil, representadas por onze Estados. Os tipos moleculares mais comuns foram VNI (64%) e VGII (21%), seguido por VNII (5%), VGIII (4%), VGI e VNIV (3% cada), e VNIII (< 1%). O tipo molecular VGIV não foi identificado dentre os isolados estudados no Brasil. O estudo revelou ainda que o genótipo VGII ocorreu predominantemente na macrorregião nordeste, e o VNI na macrorregião sudeste, como ilustra a Figura 6. Do Estado do Amazonas foram obtidos 12 isolados e os tipos moleculares identificados foram VNI e VGII70. Em recente estudo realizado por Silva (2009)71, na Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, foram realizadas tanto a feno quanto a genotipagem de 40 isolados clínicos, sendo que usando o meio CGB (Canavanina-Glicina-Azul de Bromotimol), foi observado que 75,5% (n=31) e 22,5% (n=9) dos isolados eram Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii, respectivamente. Já a PCRfingerprinting usando a seqüência M13, mostrou que a maioria dos isolados, 72,5% (n=29) era do genótipo VNI e que todos os nove isolados da espécie C. gattii eram do genótipo VGII71. 14 Figura 6. Imagem da distribuição dos tipos moleculares de acordo com os Estados 70 Brasileiros incluídos na análise. Fonte: Trilles et al., 2008 . Métodos moleculares tem sido desenvolvidos para diagnóstico e monitoramento de infecções fúngicas, bem como para tipificação dos isolados, visando principalmente, estudos epidemiológicos. A reação em cadeia de polimerase (PCR) tem sido a principal ferramenta utilizada no desenvolvimento de protocolos de detecção de DNA de C. neoformans e C. gattii72. Quanto à possibilidade de se utilizar a Região ITS (Internal Transcript Space) para caracterização de Cryptococcus, os genes ribossomais são alvos estudados nos sistemas baseados em PCR, para detecção e identificação deste patógeno fúngico 73,74 . As regiões ITS possuem sequências altamente variáveis que tem sido usadas para identificação de fungos nos mais diferentes formatos de níveis de espécie 75,76,77. Em 1999, Irobi e colaboradores78 descreveram um método molecular para identificação de leveduras do gênero Candida, tendo como alvo a região ITS. Os primers utilizados foram ITS5 (5’-GAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-3’) e NL4 (5’GGTCCGTCTTTCAAGACGG-3’). O método provou ser simples e reprodutível, além de oferecer potenciais vantagens sobre os métodos de fenotipagem78. Já em 2009, Santos e colaboradores79 identificaram agentes causadores de fungemias (Candida albicans, Candida parapsilosis, Candida tropicalis, Candida glabrata, Cryptococcus neoformans, Cryptococcus gattii e Histoplasma capsulatum) utilizando PCR/RFLP, e entre as combinações de pares de enzimas de restrição, 15 somente uma combinação (par de primers ITS5/NL4 e enzima de restrição Ddel) produziu um padrão RFLP específico para cada microrganismo estudado. Neste estudo, a região dos primers ITS5 e NL4, permitiu a distinção de genótipos VGII e VNI79. Diante do contexto, há escassez de estudos desta natureza na região Norte, especialmente no Estado do Amazonas71. Em um país com dimensões continentais, há necessidade de realizar pesquisas sobre as características genotípicas do gênero Cryptococcus, pois fatores ambientais, geográficos e climáticos propiciam variações tanto na feno quanto na genotipagem, e conseqüentemente na patogenicidade das infecções oportunistas43. O evento que ocorreu em Vancouver aumentou ainda mais o interesse das comunidades médico-científicas em conhecer os grupos moleculares causadores da doença, pois as espécies estão começando a ocupar novos nichos ecológicos. É de grande importância monitorar onde e quantos casos de infecção por Cryptococcus estão ocorrendo, a fim de identificar os grupos moleculares envolvidos, mesmo em regiões com clima onde não seria esperado encontrar a espécie. Este estudo traz informações particulares sobre os genótipos que causam infecção no Amazonas. Estas informações são importantes para a epidemiologia da doença no Estado, uma vez que os dados do Amazonas ainda são pouco conhecidos, pois há ausência de outros estudos. Estudos similares devem ser estimulados em todas as áreas endêmicas, determinando o grau de sua potencialidade patogênica em indivíduos imunocomprometidos ou imunocompetentes. 16 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Caracterizar por métodos moleculares agentes causadores de Criptococose, isolados de pacientes atendidos em Unidade Terciária de Saúde do Estado do Amazonas. 2.2 Específicos - Investigar quais os grupos moleculares causadores de Criptococose através do PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e pelo perfil de restrição (PCRRFLP) utilizando o gene URA5; - Avaliar a possibilidade de se utilizar uma PCR-RFLP, tendo como alvo a região ITS do DNAr, para caracterização dos grupos moleculares de Cryptococcus; - Verificar a presença de genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e MATa) das espécies por PCR; - Descrever e correlacionar as características epidemiológicas dos pacientes com os grupos moleculares, a partir dos dados obtidos nas requisições de exames. 17 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Modelo de Estudo Estudo descritivo transversal com a finalidade de caracterizar os isolados causadores de Criptococose no Estado do Amazonas. 3.2 Universo de estudo Local: Este estudo foi realizado no Laboratório de Micologia da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e no Laboratório de Micobacteriologia do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Período: O período de estudo foi entre Março de 2006 a Fevereiro de 2010. Amostras: Os isolados foram obtidos de material clínico procedente do Laboratório de Micologia da FMT-HVD. Aspectos éticos: Este projeto de pesquisa foi registrado e aprovado pelo CEPFMT/AM, Processo n°. 763/2010-FMT-AM, CAAE – 0007.0.114.000-10 (Anexos). Financiamento: Este estudo foi financiado pela FAPEAM, através do edital N°.014/2006 PPSUS 2006. Microrganismos Analisados Isolados Clínicos Os 60 isolados deste estudo foram obtidos de pacientes acometidos por Criptococose, portadores de HIV ou não, internados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, entre março de 2006 a fevereiro de 2010. De cada paciente foi utilizado apenas um único isolado fúngico (o primeiro isolado da amostra enviada ao Laboratório). Estes isolados estavam sendo mantidos sob refrigeração (4oC), na Coleção de Fungos da FMT-HDV. Cepas de Referência As linhagens foram caracterizadas genotipicamente de acordo com as cepaspadrão concedidas gentilmente pela Coleção de Culturas da Fundação Oswaldo 18 Cruz (FIOCRUZ-RJ) (Tabela 2). Tabela 2. Lista de cepas de referência utilizadas neste estudo, incluindo informações gerais, sorotipo (ST), mating type (MAT), tipo molecular (TM). Isolados WM 148R WM 626R WM 628R WM 629R WM 179R WM 178R WM 161R WM 779R WM N°. WM 148 WM 626 WM 628 WM 629 WM 179 WM 178 WM 161 WM 779 País Austrália Austrália Austrália Austrália Austrália Austrália Austrália África do Sul Fonte CLIN CLIN CLIN CLIN CLIN CLIN CLIN VET ST A A AD D B B B C MAT Alpha Alpha Alpha Alpha Alpha Alpha Alpha Alpha TM VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV 3.3 Procedimentos 3.3.1 Determinação dos grupos moleculares 3.3.1.1 Reativação dos isolados fúngicos A fim de reativar os microrganismos, foi utilizado o cultivo em Ágar Sabouraud a 37 oC por 48 h. Após este período, foram purificados em placa contendo Ágar Níger, e apenas uma colônia foi retirada e semeada em Caldo Sabouraud a 30 °C, para obtenção da biomassa, utilizada nos estudos genotípicos (extração de DNA) (Figura 7). 3.3.1.2 Extração de DNA genômico A extração foi baseada na utilização de membrana de sílica (Kit QIAamp Tissue and Blood, Qiagen, Hilden, Germany) (Figura 8). Cerca de 90 mg de biomassa foram transferidos com auxílio de alça descartável para eppendorf contendo 180 µL de tampão de lise e pérolas de vidro lavadas em ácido (450-600 nm). As células foram rompidas com choque mecânico e depois se procedeu à extração genômica com adição de Proteinase K overnight a 56 °C, em seguida adicionou-se 200 µL de tampão de guanidina e fez-se a agitação a frio em vórtex por 15 s e incubou-se por 10 min a 70 °C. Passado este período, foi adicionado o mesmo volume, 200 µL, desta vez de etanol e foi homogeneizado em 19 agitador. A mistura foi transferida para as colunas de sílica e foi centrifugada a 8000 rpm em 1 min. O material foi transferido para novo tubo da coluna e 500 µL do primeiro tampão de lavagem foi adicionado à coluna, em seguida, foi centrifugado por 1 min a 8000 rpm. Novamente o tubo da coluna foi trocado, e 500 µL do segundo tampão de lavagem foi adicionado à coluna de sílica, e centrifugado a 14000 rpm por 3 min. Mais uma vez, o tubo da coluna foi retirado e o tampão de eluição do DNA foi adicionado, procedendo com a centrifugação a 8000 rpm por 1 min, desprezando a coluna e armazenando o filtrado a 4 °C. A concentração de DNA Genômico foi verificada através de leitura em espectrofotômetro (GeneQuant-pro RNA/DNA Calculator, GE Healthcare) no comprimento de onda de 260 nm (unidade de absorbância correspondeu a 50 μg/mL) e a razão de pureza foi determinada pela razão entre as absorbâncias a 260 e 280 nm. 3.3.1.3 PCR-Fingerprinting RAPD utilizando o minissatélite M13 Foi utilizada a seqüência específica do minissatélite M13 (5’- 63 GAGGGTGGCGGTTCT-3’) (Meyer et al., 1999) . A reação de amplificação foi realizada em um volume final de 25 μL contendo 50 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, 30 ng de oligonucleotídeo iniciador e 2,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante-Invitrogen). A PCR foi realizada em um termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação consitiu em 6 min de desnaturação (94 oC); 40 ciclos de 1 min desnaturação à 94 ºC, 1 min de anelamento à 50 ºC e 2 min de extensão à 72 ºC; por fim foi realizada uma extensão final de 6 min à 72 ºC. Os produtos da amplificação foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,4%, por 6 h a 60 V (Figura 9). 3.3.1.4 PCR-RFLP do Gene URA5 A PCR do gene URA5 foi conduzida com um volume final de 50 μL. Cada reação continha 50 ng de DNA molde (extraído com conjunto de extração QIAamp DNA blood kit - Qiagen, Hilden, Germany), solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, e 1,5 U de Taq DNA polimerase 20 (Recombinante Invitrogen) e 50 ng de cada primer URA5 (5´-ATGTCCTCCCAAGC CCTCGACTCCG´-3) e SJ01 (5´-TTAAGACCTCTGAACACCGTACTC´-3). A PCR foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, iniciou-se com 2 min de desnaturação (94 ºC) e 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30 s de anelamento à 61 ºC e 1 min de extensão à 72 ºC, finalizou-se com um ciclo de extensão final de 10 min à 72 ºC. Os produtos da amplificação foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,5%, por 2 h a 100 V, corados com SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados sob luz ultravioleta. Oito microlitros dos produtos de PCR foram misturados a 1 µL de tampão da enzima Hha I e digeridos duplamente com Sau96I (10 U/µL)e Hha I (20 U/µL) em incubação por 3 horas ou overnight a 37 °C, e separados por eletroforese em gel de agarose 3%, por 5 h a 100 V, corados com SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados sob luz ultravioleta. Os padrões de RFLP foram visualizados comparando-os com os padrões obtidos das cepas de referência (VNI-VNIV e VGI-VGIV) (Figura 10). 3.3.1.5 Determinação dos Mating Types O mating type foi determinado por PCR, que foi conduzida para um volume final de 25 µL. Os primers do tipo α-específicos foram Mat-αF (5'- CTTCACTGC CATCTTCACCA-3') e Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3') e os primers do tipo a-específicos foram Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’) e Mat-aR (5’AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’). Cada reação conteve 20 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP e 20 ng cada primer, e 1,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). A amplificação foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, primeiramente foi realizada desnaturação inicial a 94 °C por 3 min, em seguida foram realizados 35 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30 s de anelamento a 58 ºC e 1 min de extensão à 72 ºC, seguidos por um ciclo de extensão final de 7 min 21 à 72 ºC. As reações de amplificação foram realizadas de acordo com o procedimento de Chaturvedi et al. (2000) modificado80. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 2% por 3 h a 100 V, corado com SybrGreen e iluminado com luz ultravioleta (Figura 11). 3.3.2 Caracterização dos grupos moleculares utilizando região ITS do DNAr A PCR do gene espaço transcrito interno (ITS) do DNAr foi conduzida com um volume final de 50 µL. Cada reação continha 50 ng de DNA molde (extraído com conjunto de extração QIAamp DNA blood kit - Qiagen, Hilden, Germany), solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, e 3,0 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen) e 50 pM de cada primer ITS5 (5´-GGAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-´3) e NL4 (5´-GGTCCGT GTTTCAAGACGG-´3). A amplificação foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, primeiramente com desnaturação inicial por 6 min a 94 °C, em seguida foram realizados 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94 ºC, 30 s de anelamento à 55 ºC e 1 min de extensão à 72 ºC, seguidos por um ciclo de extensão final de 10 min à 72 ºC. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 0,7% corado com SybrGreen e iluminados com luz ultravioleta. Oito microlitros e meio dos produtos de PCR foram misturados a 1 µL de tampão da enzima Ddel (New England Biolabs, Beverly, MA, USA) e foram digeridos com 5,0 U da mesma (10 U/µL) em incubação por 3 horas ou overnight a 37 °C , e separados por eletroforese em gel de agarose 2% por 3 h a 110 V, corados com SybrGreen (0,5 μg/mL) e visualizados sob luz ultravioleta. Os padrões de RFLP foram visualizados comparando-os com os padrões obtidos das cepas de referência (VNI-VNIV e VGI-VGIV) (Figura 12). REATIVAÇÃO/ISOLAM. FÚNGICO 22 Amostra Biológica Isolamento em Ágar Níger Conservação a 4 °C Reativação em Ágar Sabouraud Purificação em Ágar Níger Figura 7. Fluxograma da Reativação e Isolamento Fúngico Uma colônia é cultivada em Caldo Sabouraud 23 60 Isolados EXTRAÇÃO Colônia do Caldo Sabouraud 90 mg de biomassa fúngica Extração pelo Kit Qiagen ® Obtenção do DNA Figura 8. Fluxograma da Metodologia de Extração do DNA Genômico. Leitura em Espectrofotômetro da Concentração de DNA e pureza 24 PCR- FINGERPRINTING 60 Isolados DNA Minissatélite M13 (5’-GAGGGTGGCGGTTCT-3’) Mix de PCR Primer Oligonucleotídeo Amplificação DNA amplificado Figura 9. Fluxograma da PCR-Fingerprinting do Minissatélite M13 Gel de Agarose 1,4% 25 PCR- RFLP Gene URA5 60 Isolados DNA Gene URA5 URA5 (5'-TGTCCTCCCAAGCCCTCGACTCCG-3') SJ01 (5'-TTAAGACCTCTGAACACCGTACTC-3') Mix de PCR Primer URA5/SJ01 Amplificação DNA amplificado Figura 10. Fluxograma da PCR-RFLP do gene URA5 DNA digerido Sau96I e HhaI Gel de Agarose 3% 26 60 Isolados PCR- Mating Types DNA MATα Mat-αF (5'- CTTCACTGC CATCTTCACCA-3') Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3') MATa Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’) Mat-aR (5’-AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’). Mix de PCR Par de primers Mat-αF/Mat-αR ou Mat-aF/mat-aR Amplificação DNA amplificado Figura 11. Fluxograma da PCR dos mating types. Gel de Agarose 2% 27 60 Isolados PCR- RFLP ITS DNA DNAr ITS5 (5'-GGAAGTAAAAGTCGTAACAAGG-3) NL4 (5'-GGTCCGTGTTTCAAGACGG-3') Mix de PCR Par de primers ITS5/NL4 Amplificação DNA amplificado Figura 12. Fluxograma da PCR-RFLP da região ITS do DNAr. DNA digerido Ddel Gel de Agarose 2% 28 3.4 Caracterização Epidemiológica dos Pacientes O perfil dos pacientes acometidos por Criptococose (gênero, idade, infecção pelo HIV e tipo de amostra clínica de isolamento) foi obtido através da análise das requisições de exames, presentes no Laboratório de Micologia da FMT-HVD. 29 4 RESULTADOS Os resultados estão apresentados na forma de Artigo Científico que será submetido à publicação na Revista Mycoses (Alemanha) (B1). ARTIGO ORIGINAL Molecular characterization of causative agents of Cryptococcosis isolated from patients in a tertiary healthcare in the State of Amazonas. 1 2 1 Ana Karla Lima Freire, Amaury dos Santos Bentes, Lucilaide Oliveira Santos, Maurício 2 2 1,3 1,2 and João Vicente Braga de Souza Morishi Ogusku, Julia Ignez Salem, Bodo Wanke 1 Laboratório de Micologia, Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Universidade do Estado do Amazonas, Brasil 2 Laboratório de Micobacteriologia, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Brasil 3 Laboratório de Micologia, Fundação Osvaldo Cruz, Brasil. SUMMARY From the knowledge that there are four molecular groups of Cryptococcus neoformans (VNI and VNII, VNIII and VNIV) and four of Cryptococcus gattii (VGI and VGII, VGIII and VGIV) has become important to identify groups of incidents in different geographic regions worldwide. This effect was investigated what molecular types of 60 cultures of Cryptococcus species isolated from patients in a tertiary hospital in the State of Amazonas, Brazil, between 2006-2010. The isolates were characterized by PCR-Fingerprinting using M13 mini-satellite and confirmed by PCR-RFLP of the URA5 gene. An experimental protocol using PCR-RFLP targeting the ITS1 rDNA was also evaluated. The presence of specific genes with mating type locus ((MATα and MATa) species was analyzed using PCR. It was found that patients are mostly male (66.7%), aged 16-30 years (51.7%), HIV (75.0%) with meningitis (71.7%). Whose isolates of C. neoformans (66.7%) were mostly characterized as VNI molecular group (97.5%) and C. gattii (100.0%). Three isolates (5.0%) could not be characterized by any of the protocols under study and the experimental protocol evaluated only discriminated two molecular groups of C. gattii (VGII and VGIII). As for the mating types, 58 isolates were of type α and only two were type a. It found the prevalence of VNI molecular group, the meeting of the VNII molecular group, never before reported for the northern region of Brazil, and suggested that the new methodology for genotyping using as a target gene of rDNA ITS region characterized only the two molecular groups C. gattii. Key words: Cryptococcus, Genotyping, PCR-Fingerprinting M13, URA5-RFLP, ITS5/NL4. 30 INTRODUÇÃO A Criptococose é uma micose sistêmica que acomete os órgãos internos e a pele, decorrente da inalação de propágulos infectantes das espécies patogênicas leveduriformes - Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. A doença apresenta-se de forma subaguda ou crônica, afetando tanto os indivíduos imunodeprimidos (aids, principalmente) como os imunocompetentes. A aids é o fator predisponente mais importante para infecção, sendo que, falhas no sistema imunológico, inato e adaptativo, induzido pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency Virus) são responsáveis pela disseminação da Criptococose. Uma das características do gênero Cryptococcus é o tropismo meningoencefálico que resulta em elevada mortalidade na ausência de tratamento.1-3 A patogenicidade do gênero Cryptococcus é determinada, principalmente, pela cápsula polissacarídica, que promove resistência a fagocitose, proteção da levedura e inativação do sistema complemento; e pela produção da enzima fenol-oxidase responsável pelo neurotropismo do fungo.4 Tanto C. neoformans quanto C. gattii, apesar de reproduzirem-se assexuadamente, possuem um sistema complementar com dois mating types: a e α. Para que este tipo de reprodução sexuada ocorra é necessário que haja o encontro entre dois mating types opostos. Geneticamente, o locus mating type é a região do genoma fúngico que regula o ciclo sexual e pode ser diferente entre células de mating types opostos.5 A espécie C. neoformans possui distribuição geográfica mundial, enquanto que C. gattii é encontrado com maior freqüência em regiões tropicais e subtropicais. Porém, este cenário foi remodelado em 1998, quando foi observado um surto de infecção por Cryptococcus gattii, no clima temperado da Ilha de Vancouver, British Columbia (BC), Canadá, caracterizado por ferramentas de PCR-Fingerprinting.6-9 As técnicas moleculares de tipificação PCR-Fingerprinting fundamentam-se na amplificação de produtos de PCR a partir de regiões gênicas que permitem estudos filogenéticos e propiciam discussões nos vários níveis taxonômicos até mesmo de: espécie, variedade ou linhagem.10-11 Atualmente, devido aos estudos realizados por 31 Meyer et al. [12], foram definidos oito grandes grupos moleculares a partir dos protocolos de PCR-Fingerprinting Minissatélite M13 e PCR-RFLP-URA5. Os grupos moleculares correspondentes a C. neoformans são VNI, VNII, VNIII e VNIV, enquanto o C. gattii é subdividido em VGI, VGII e VGIII e VGIV.12-13 Outra região gênica que vem sendo utilizada na detecção e identificação de patógenos fúngicos por PCR corresponde as regiões do espaço transcrito interno (ITS), com sequências conservadas, encontradas em genes ribossomais.14-21 O uso da região ITS foi estabelecida em 1999, quando Irobi et al. [15] descreveram um método molecular para identificação de leveduras do gênero Candida. Especificamente para Cryptococcus spp., os estudos realizados por Santos et al. [19] , utilizando o mesmo alvo e primers, diferenciaram as espécies C. neoformans e C. gattii. Segundo os autores, os resultados demonstram que a região gênica possui potencial para distinção das espécies e talvez até mesmo dos grupos gênicos.19 Os estudos de tipificação molecular aperfeiçoam o diagnóstico fúngico, elucidam a diversidade genética e corroboram com bases científicas para estudos epidemiológicos globais.20,22-23 Atualmente, estes estudos também possuem importância na associação de diferentes grupos moleculares às características de virulência, à sensibilidade aos antifúngicos e a terapêutica.24-25 Investigar os grupos moleculares do gênero Cryptococcus, isolados de pacientes atendidos em Unidade Terciária de Saúde do Estado do Amazonas, foi o objetivo do presente estudo. Especificamente pretendeu-se: determinar os grupos moleculares por PCR-Fingerprinting utilizando o minissatélite M13 e pela PCR-RFLP do gene URA5; avaliar a utilização de uma PCR-RFLP tendo como alvo a região ITS do DNAr para caracterizar os grupos moleculares de Cryptococcus; analisar a presença de genes sexuais específicos, com locus mating type (MATα e MATa) das espécies por PCR; e caracterizar os pacientes quanto ao gênero, idade, infecção pelo HIV e amostra clínica, de onde os agentes foram isolados. 32 Materiais e Métodos Microrganismos analisados Os 60 isolados de Cryptococcus spp. analisados foram obtidos de amostras de pacientes acometidos por Criptococose, internados na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT/HVD), entre março de 2006 e fevereiro de 2010. Foi analisado apenas o isolado obtido da primeira amostra processada de cada paciente, mantido sob refrigeração (4 oC), na Coleção de Fungos da FMT/HVD. Os microrganismos foram reativados em meio de cultivo Ágar Sabouraud a 37 oC por 48h. Posteriormente, foram semeados em Caldo Sabouraud a 30 ºC por 48h para obtenção da massa fúngicas a ser utilizada nos estudos de caracterização molecular. Para a caracterização foram utilizadas cepas padrões: WM 148 (sorotipo A, VNI), WM 626 (sorotipo A, VNII), WM 628 (sorotipo AD, VNIII), WM 629 (sorotipo D, VNIV), WM 179 (sorotipo B, VGI), WM 178 (sorotipo B, VGII), WM 161 (sorotipo B, VGIII) e WM 779 (sorotipo C, VGIV). Estas foram gentilmente cedidas pela coleção de fungos da FIOCRUZ-Rio de Janeiro-Brasil. Extração do DNA Genômico Na extração foi utilizado o kit comercial QIAamp Tissue and Blood, Qiagen, Hilden, Germany). A concentração do DNA Genômico foi verificada por leitura em espectrofotômetro (GeneQuant-pro RNA/DNA Calculator, GE Healthcare), no comprimento de onda de 260 nm (unidade de absorbância correspondeu a 50 μg/mL) e a razão de pureza foi determinada pela razão entre as absorbâncias a 260 e 280 nm. Caracterização dos Grupos Moleculares PCR-Fingerprinting: Foi utilizada a seqüência específica do minissatélite M13 (5’GAGGGTGGCGGTTCT-3’) (MEYER et al. [12]). A reação de amplificação foi realizada em um volume final de 25 μL contendo 50 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada 33 dNTP, 30 ng de oligonucleotídeo iniciador e 2,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante-Invitrogen). A PCR foi realizada em um termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação consistiu em 6 min de desnaturação (94oC); 40 ciclos de 1 min desnaturação à 94ºC, 1 min de anelamento à 50ºC e 2 min de extensão à 72ºC; por fim foi realizada uma extensão final de 6 min à 72ºC. Os produtos da amplificação foram separados por eletroforese em gel de agarose 1,4%, por 6 h a 60 V. Gene URA5 RFLP: A PCR do gene URA5 foi conduzida com um volume final de 50 μL, contendo 50 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, 50 ng de cada primer URA5 (5´ATGTCCTCCCAAGCCCTCGACTCCG´-3) e SJ01 (5´-TTAAGACCTCTGAAC ACCGTACTC´-3) e 1,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). A PCR foi realizada em um termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação consitiu em 2 min de desnaturação inicial (94oC); 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94ºC, 30 s de anelamento à 61ºC e 1 min de extensão à 72ºC; por fim foi realizada uma extensão final de 10 min à 72ºC. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram visualizados por eletroforese em gel de agarose 1,5% corado com SybrGreen e iluminado com luz ultravioleta. Oito microlitros dos produtos de PCR foram misturados a 1 µL de tampão da enzima Hha I e digeridos duplamente com Sau96I (10U/ µL) e Hha I (20U/ µL) em incubação por 3 horas ou overnight à 37°C. Os fragmentos de restrição foram analisados por eletroforese em gel de agarose 3% por 5 h a 100V. Gene ITS RFLP: A PCR do gene espaço transcrito interno (ITS) do DNAr foi conduzida com um volume final de 50 µL. Cada reação continha 50 ng de DNA molde, solução tampão (Tris - HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP, e 50 pmoles de cada primer ITS5 (5´- GGAAGTAAAAGTCGTAAC AAGG-´3) e NL4 (5´-GGTCCGTGTTTCAAGACGG-´3) e 3,0 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). A amplificação foi realizada em termociclador Verite 96, Applied Biosystens, a reação consistiu em 6 min de desnaturação inicial (94oC); 40 ciclos de 30 s de desnaturação à 94°C, 30 s de anelamento à 55°C e 1 min de extensão à 72°C; por fim foi realizada uma extensão final de 10 min à 72°C. O tamanho e a pureza dos produtos de PCR foram 34 visualizados por eletroforese em gel de agarose 0,7% corado com SybrGreen e iluminado com luz ultravioleta. Oito microlitros destes produtos de PCR foram digeridos pela enzima de restrição Ddel (10U/ µL) (New England Biolabs, Beverly, MA, USA) em incubação overnight a 37 °C. Os fragmentos de restrição foram analisados por eletroforese em gel de agarose 2%, por 3 h a 110V. Mating Types: O mating type foi determinado por PCR, que foi conduzida para um volume final de 25 µL. Os primers do tipo α-específicos foram Mat-αF (5'CTTCACTGCCATCTTCACCA-3') e Mat-αR (5'-GACACAAAGGGTC ATGCCA-3') e os primers do tipo a-específicos foram Mat-aF (5’-CGCCTTCACTGCTAC CTTCT-3’) e Mat-aR (5’-AACGCAAGAGTAAGTCGGGC-3’). A reação de PCR continha 20 ng de DNA molde, solução tampão (Tris-HCl 10 mM, pH 8,3, KCl 50 mM, MgCl 2 1,5 mM), 0,2 mM de cada dNTP e 20 ng cada primer, e 1,5 U de Taq DNA polimerase (Recombinante Invitrogen). As reações de amplificação foram realizadas de acordo com o procedimento de Chaturvedi et al. [26] modificado. Os produtos de amplificação foram analisados por eletroforese em gel de agarose 2%, por 3 h a 110 V. Características dos pacientes As informações sobre gênero, idade, infecção pelo HIV e tipo de amostra clínica de onde se isolaram os agentes microbianos, foram obtidas das requisições de exames, presentes no Laboratório de Micologia da FMT/HVD. Resultados Dos 60 isolados obtidos, 40 (66,7%) foram caracterizados como C. neoformans, 17 (28,3%) eram C. gattii e apenas 3 (5%) dos isolados não puderam ser caracterizados por nenhum dos protocolos estudados. As metodologias de PCR-Fingerprinting (Fig. 1) e PCR-RFLP URA-5 (Fig. 2) ilustram que os grupos moleculares encontrados foram VNI (39/60; 65%), VNII (1/60; 1,7%) e VGII (17/60; 28,3%). Estratificando os grupos moleculares incluídos em sua respectiva espécie, tem-se que do total de 40 isolados de C. neoformans, 39 (39/40; 97,5%) eram grupo molecular VNI e 1 (1/40; 2,5%) do VNII; e todos os 17 isolados 35 da espécie C. gattii foram grupo molecular VGII (17/17; 100%). Foi observada concordância total entre os dados de ambas as metodologias aplicadas. Conforme indicado na Tabela 1, a correlação entre os grupos moleculares dos isolados, com as características dos pacientes obtidas nas requisições de exames demonstrou a prevalência do sexo masculino (40/60; 66,7%), faixa etária de 16-30 anos (31/60; 51,7%), os isolados obtidos foram derivados principalmente do líquor (43/60; 71,7%) e a maioria do pacientes tinha infecção pelo HIV (45/60; 75%). Ainda em relação à idade, observou-se que C. gattii (VGII) acometeu todos os grupos etários, sendo que 4 (6,7%) casos da doença ocorreram em crianças de 0-15 anos. Quanto ao achado de VNII, o isolado foi obtido de hemocultura, indivíduo do sexo masculino, 36 anos, portador de HIV, autóctone. . M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV 1 2 3 4 5 M Bp 2200 738 123 Figura 1. Perfil de PCR-Fingerprinting com o minissatélite M13, das cepas de referência de Cryptococcus spp. 1, 2, 3, 4 e 5 são amostras dos isolados. pb 1000 M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV 1 2 3 4 5 6 600 500 250 50 Figura 2. Perfil de RFLP-PCR utilizando o gene URA5 e as enzimas de restrição HhaI e Sau96I. 1, 2, 3, 4, 5 e 6 são isolados. 36 O experimento que visou avaliar a capacidade de descriminar os grupos moleculares através de uma PCR-RFLP da região ITS do DNAr, resultou em três distintos perfis, um dos quais com 60, 120, 500 e 700 pares de base (pb) foi encontrado em todos os quatro grupos moleculares de C. neoformans e em dois C. gattii (VGI e VGIV). Os demais perfis foram observados nos grupos moleculares de C. gattii, sendo um com 60, 300, 400 e 490 pb em VGII e o outro com 60, 110, 150, 300 e 700 pb em VGIII (Fig. 3). M VNI VNII VNIII VNIV VGI VGII VGIII VGIV pb 1000 700 500 250 50 Figura 3. Distinção entre espécimes de Cryptococcus spp, utilizando o par de primers ITS5/NL4 e a digestão feita com a enzima de restrição Ddel. Quanto à caracterização dos mating types contatou-se que 58 eram do tipo alfa e apenas 2 do tipo a (Fig. 4). M 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 pb 1000 250 101 50 Figura 4. Mating Types dos isolados de Cryptococcus spp, utilizando o par de primers αMatF/α-MatR, onde o MATα gera um fragmento de 101 pb. 37 TABELA 1. Correlação entre os grupos moleculares dos isolados com as características dos pacientes. Espécie n/% SEXO n (%) Grupo Molecular n/% Mas C. neoformans 40 (66,7) C. gattii 17 (28,3) VNI (39/97,5) VNII 25 14 (23,3) (17/100) Indeterminado (3/5) TOTAL n (%) 0-15 - 16-30 13 3 (21,7) (5) - 12 5 4 6 (20) (8,3) (6,7) (10) 2 1 (1,7) - 4660 23 - (3,3) 31-45 2 (3,3) 1 >60 - Líquor Não 1 4 36 3 (1,7) (6,7) (60) (5) - - 1 5 7 10 (1,7) (8,3) (11,7) (16,7) 2 2 11 (5) (3,3) (3,3) (18,3) - Sim 3 3 1 * Outros (5) - (1,7) Escarro 31 - - Hemocultura (51,7) - (1,7) INFECÇÃO PELO HIV n (%) AMOSTRA BIOLÓGICA n (%) (38,3) - (1,7) VGII Fem (41,7) 1 (1/2,5) IDADE n (%) 1 (1,7) - 1 1 (1,7) (1,7) - 1 (1,7) - 1 1 2 (1,7) (1,7) (3,3) 40 20 4 31 17 6 2 43 5 2 10 45 15 (66,7) (33,3) (6,7) (51,7) (28,3) (10) (3,3) (71,7) (8,3) (3,4) (16,6) (75) (25) *Amostras como: Lavado Brônquico, Líquido Ascítico, Mielocultura e Urina. 38 Discussão Cryptococcus neoformans predominou entre os isolados (66,7%), esse agente causa doença quase que exclusivamente entre pacientes imunossuprimidos. De fato, a maioria dos isolados do presente trabalho, foram obtidos a partir de pacientes com aids. Este dado corrobora com a literatura que demonstra que esta espécie é responsável por até 82,3% dos casos de infecção.13,27 Quanto ao grupo molecular, os resultados obtidos são semelhantes aos estudos anteriores que encontraram perfis característicos de VNI, como tipo molecular predominante.13,27 Um estudo realizado com isolados Ibero-Americanos, provenientes de nove países, incluindo o Brasil, mostrou a prevalência de VNI dentre as 340 cepas de Cryptococcus neoformans.13 Especificamente, das 66 cepas brasileiras três tipos moleculares foram encontrados, sendo VNI predominante, com 82,3%, seguido por VGII (13,6%) e VNII (3,0%), não indicando de quais Estados ou regiões os isolados foram obtidos.13 Casali et al. [28], em um importante levantamento sobre Criptococose em amostras da região Sul do Brasil, demonstrou que 105 isolados clínicos e 19 ambientais foram compatíveis com C. neoformans, com predominância do grupo molecular VNI. Em 2008, Trilles et al. [27] realizaram um estudo de verificação da distribuição dos tipos moleculares oriundos de onze Estados do Brasil. Foram analisados 443 isolados, sendo 320 de C. neoformans e 123 de C. gattii. Os 12 isolados do Estado do Amazonas pertenciam aos grupos moleculares VNI e VGII. No presente estudo, apenas um isolado foi caracterizado como VNII (1,7%). Este dado está de acordo com a literatura, que vem demonstrando que este é o terceiro grupo molecular com uma frequência de 3 a 5% em análises feitas no Brasil.27 Entretanto, nenhum dos isolados do Estado do Amazonas analisados em estudos anteriores, foram caracterizados como pertencente ao referido grupo molecular.27,29 Assim sendo, esse é o primeiro relato de existência de C. neoformans do grupo molecular VNII na região Norte do Brasil. Dentre os 17 isolados de C. gattii, 10 foram obtidos a partir de pacientes sem imunocomprometimento evidente e 7 de pacientes com aids. O C. gattii é considerado um patógeno primário, no entanto, estudos recentes tem demonstrado este causando infecção em imunocomprometidos.30-33 Apenas o grupo molecular VGII (100%) foi encontrado, sendo esse resultado compatível com recentes estudos que demonstraram ser o referido grupo, o principal causador da doença em 39 imunocompetentes, em diferentes Estados das regiões Norte e Nordeste do Brasil. 27,29,34 Três isolados ficaram sem caracterização quanto ao grupo molecular. Esta situação pode ser explicada, porque a maioria dos isolados de Cryptococcus são haplóides, no entanto, alguns isolados diplóides ou aneuplóides podem levar a fenótipos instáveis, que podem interferir na genotipagem.35 Estudos são necessários para avaliar este resultado, uma vez que pode se tratar, inclusive, de outras espécies ou subespécies, ainda não classificadas. O protocolo elaborado para genotipagem (PCR-RFLP ITS1) demonstrou ser adequado somente para a distinção entre os grupos moleculares VGII e VGIII, correspondentes ao Cryptococcus gattii. Para a caracterização dos oito grupos moleculares das espécies, novos estudos precisam ser efetuados utilizando outras regiões gênicas do ITS1 e enzimas de restrição. O mating type α tem maior prevalência em amostras clínicas26,36-37, dados esses também encontrado no presente estudo. Kozel sugere que essa maior prevalência do mating type α é devida a vantagens seletivas de maior sobrevivência no meio ambiente e maior virulência.38 A sugestão tem por base, estudos de infecção em camundongos que demonstraram que o, mating type do tipo α é significativamente mais virulento que o a.39 A presente pesquisa constatou ainda que os pacientes do sexo masculino, com idade entre 16-30 anos, portadores do HIV são os principais acometidos por Criptococose no Estado do Amazonas-Brasil. A literatura descreve o gênero masculino como o mais acometido pela infecção, bem como nesta faixa etária, fato esse atribuído à epidemiologia da aids37,40 e, mais recentemente, tem-se que as mulheres obtém proteção contra a Criptococose gerada por seus próprios hormônios.36,41 O achado de C. gattii como agente de meningite em crianças de 0-15 anos não portadoras de HIV, está em de acordo com o exposto na literatura.31,34,42-43 No Brasil, estudo realizado no Estado do Amazonas, região Norte, demonstrou que a frequência da Criptococose infantil entre os anos de 1988-1998, representou uma significante fração dentre os casos reportados (33%, n=75).42 Também na região Norte, no Estado do Pará em um período de sete anos, 24% (n=78) dos pacientes com Criptococose, hospitalizados, eram crianças.43 Esta alta frequência de meningite criptocócica continuou sendo observada de 2003-2007 (8/43; 18,6%) 40 ainda no mesmo Estado.34 Já no Piauí e Maranhão, Estados da região Nordeste, 21% (n=257) eram casos de Criptococose na infância.44 A região Norte abrange uma grande área de floresta Amazônica e mais estudos sobre a etiopatogenia da Criptococose em humanos, e mais especificamente em crianças, bem como seus perfis moleculares, precisam ser executados, uma vez que os dados de infecções infantis são preocupantes.34 O líquor foi o principal material biológico de isolamento fúngico, isto pode ser explicado, porque a maioria dos pacientes (dependendo da cepa infectante, do estado imunológico do paciente e do quantidade do inóculo inalado) apresenta disseminação criptocócica e neurocriptococose. Essa advém do fato do gênero Cryptococcus produzir fenol-oxidase que converte uma grande variedade de substratos hidroxibenzóicos, incluindo as catecolaminas, em um pigmento marrom ou preto, conhecido como melanina, a qual funciona como fator de virulência do fungo para sua proliferação no organismo do hospedeiro.30,45 Como o líquor é rico em substratos fenólicos, tem-se a explicação para o neurotropismo do Cryptococcus.30 Os resultados obtidos dão suporte à literatura, pois demonstram a alta freqüência da retrovirose e alta prevalência do isolamento do agente em líquido cefalorraquidiano. Em estudo recente no Estado do Amazonas, obteve-se a alta prevalência de indivíduos infectados pelo HIV e que desenvolveram co-infecção criptocócica (29/40; 72%).29 Sendo a Criptococose umas das principais causas de morbimortalidade em pacientes com aids. Em muitos indivíduos, essa micose é a primeira indicação da evolução da infecção pelo vírus para o quadro de aids.46 Conclusivamente, a Criptococose no Estado do Amazonas mantem-se prevalente em portadores do vírus HIV, tendo o C. neoformans do grupo molecular VNI como principal agente etiológico. Entretanto, tem-se o encontro do grupo molecular VNII nunca antes relatado para a Região Norte do Brasil. Além do exposto, constatou-se que a nova metodologia sugerida para genotipagem utilizando como gene alvo a região ITS do DNAr caracterizou somente os 2 grupos moleculares de C. gattii. Agradecimentos À Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado pelo suporte, ao Instituto Nacional de Pesquisas 41 da Amazônia pela permissão e cedência do espaço para a realização dos ensaios, aos funcionários do Laboratório de Micobacteriologia (INPA) pelo pronto auxílio, ao INCQS-RJ pelo envio das cepas fúngicas de referência, à CAPES pelo apoio financeiro e à FAPEAM pelo financiamento desta pesquisa através do edital N.014/2006 PPSUS 2006. Referências 1 Kwon-Chung KJ, Hill WB, Bennett JE. New, special stain for histopathological diagnosis of cryptococcosis. J Clin Microbiol 1981; 13: 383-387. 2 Py EA, Aloé M, Burlamaqui L, Guasti S, Monerat PJT. Relato de cinco casos de meningite criptocócica em crianças com a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Arquiv Bras Pediat 1997; 4: 15-20. 3 Yamamoto Y, Kohno S, Koga H et al. 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Vigilância Eidemiológica, 2004. Disponível em: <www.aids.gov.br> Acesso em: 22.03.2009 41 Sandhu GS, Kline BC, Stockman AL, Roberts GD. Molecular probes for diagnosis of fungal infections. J Clin Microbiol 1995; 33: 2913–2919. 42 Santos LO. Criptococose no estado do Amazonas: estudo de 75 casos diagnosticados na Fundação de Medicina Tropical/FMT/IMTM, Manaus, AM (1988-1998), Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz-Fiocruz 2000: 154 pp. 43 Correa MP, Oliveira EC, Duarte RR, Pardal PP, Oliveira FM, Severo LC. Cryptococcosis in children in the state of Pará, Brazil. Rev Soc Bras Med Trop 1999; 32: 505-508. 44 Martins LMS. Epidemiologia da criptococose em crianças e adultos jovens e diversidade de Cryptococcus neoformans no Meio Norte do Brasil. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro: Instituto Oswaldo Cruz, 2003: 87 pp. 45 Kwon-Chung KJ, Bennett JE. Cryptococcosis. Med Mycol Philad 1992; 1: 397445. 46 Durden FM, Elewski B. 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TEXT Authors should aim for a concise readable style. Spelling should follow the Concise Oxford Dictionary, and The Oxford Dictionary for Writers and Editors. The Editor reserves the right to make corrections, both literary and technical, to the papers. All pages must be numbered consecutively in the upper right-hand corner of each page. Starting with the title page as p.1, the pages should be numbered in the following order: title page, summary and key words, text, acknowledgements, references, tables, figure legends. The following items should each start on a separate page. Title Page This should bear (1) the title, (2) the names of all authors, (3) the institutions of origin with brief addresses, (4) a short title of not more than 50 characters (including spaces) to be used as a running head, (5) a list of up to eight key words for indexing purposes, and (6) the name and full postal address (with phone and fax numbers and e-mail address) of the author who will be responsible for reading the proofs (the corresponding author). The corresponding author must keep the mycoses office informed of any change in details until the paper is published. Authors should keep a copy of their manuscript. 55 Summary Normally in less than 210 words, this should indicate clearly the scope and main conclusions of the paper. Original articles should have a structured abstract, comprising the five headings: Background, Objectives, Patients/Methods, Results and Conclusions. Main Text Papers should be divided into sections headed (1) introduction, (2) materials and methods (or patients and methods/subjects and methods if human patients/subjects were used), (3) results, (4) discussion and (5) acknowledgements. Avoid an excess of sub-headings - two further divisions, if necessary, should be adequate. The introduction should explain why the work was done and briefly introduce the scope and contents of the paper. Essential details should be included in materials and methods, including experimental design and statistical analysis. Results should be recorded in the past tense. The discussion should present the author's results in the broader context of other work on the subject. Acknowledgements should be as brief as possible. REFERENCES All references must be cited in numerical order in the text following the Vancouver system. The numbers of references should appear in the text in brackets e.g. [1, 21] or [1-4]. If giving the names of authors in the text the following form should be used: Brown & Smith [1] or Brown et al. [2] if there are more than two authors. Unpublished observations and personal communications may be included in the text only. The reference list should show the references in numerical order as they appear in the text. References should include the following: (1) authors (surname followed by initials), (2) year, (3) title of (a) article or (b) chapter, (4) editors (if a book), (5) title of (a) journal or (b) book, (6) volume number, (7) place of publication and name of publisher (if a book), and (8) first and last page numbers of (a) article or 56 (b) chapter. Journal titles should be abbreviated according to the system adopted in Index Medicus. The following format should be used: Journal articles (List all authors if six or fewer, list the first three then add et al. if there are seven or more). 1 Bloch B, Kretzel A. Econazole nitrate in the treatment of Candida vaginitis. S Afr Med J 1984; 58:314-472. Books 2 Weinstein L, Swartz MN. Pathogenic properties of invading microorganisms. In: Sodeman, W. A. Jr & Sodeman, W. A. (eds) Pathogenic Physiology: Mechanisms of Disease. Philadelphia: W. B. Saunders, 1974: 457-72. LETTERS TO THE EDITOR There are no keywords required. The references must be integrated into the text (Author AA et al., Journal 2002; 1: 242) or (Book author AA. Book Title, 2nd Edition, Publisher, Place, 1996). Letters to the Editor are considered for publication (subject to editing and abridgment) if they do not contain material that has been submitted or published elsewhere. • Letters in reference to a Journal article must not exceed 200 words (excluding references), and must relate to articles Mycoses published within the last three years. • A letter can have no more than five references and one figure or table. References should be incorporated into the body text. • A letter can be signed by no more than three authors. • You will be asked to include your full address and e-mail address. 57 TABLES These must be numbered consecutively with arabic numerals and typed on separate sheets carrying an appropriate legend and presented in a way that makes the table self-explanatory. Numerical results should be expressed as means with the relevant standard errors and/or statistically significant differences, quoting probability levels (P-values). Three significant figures are usually sufficient for mean values and standard errors should be quoted two or three more decimals than the mean. The only lines appearing in the table should be horizontal and all decimals should be aligned in columns. The placement of all tables should be indicated in the text, being referred to as Table 1 or Tables 2 and 3. FIGURES Figures should be numbered in sequence in Arabic numerals as they appear in the text. Labels, lettering and symbols etc. must be professionally prepared and should be uniform. Lines should be of sufficient thickness to stand reduction (no less than 4 mm wide for a 50% reduction), and letters should be a minimum of 14 pt Times New Roman or an equivalent size. Acceptable symbols for experimental points are ¡, r, o, ˜, p, ¢. The symbols + and × will not be accepted. Legends should be typed on a separate sheet and consist of a short title together with a brief explanatory paragraph. The legend must make the meaning of each figure understandable without further reference to the text. Photomicrographs should state the original magnification. The position of all figures should be indicated in the text and should be referred to as Fig. 1 or Figs 1 and 3. Figure 1 should be written out in full if at the beginning of a sentence. Colour photos can be reproduced in black and white (with a possible loss of contrast). It is the policy of Mycoses for authors to pay the full cost for the reproduction of their colour artwork. 58 Electronic Artwork Vector graphics (e.g. line artwork) should be saved in Encapsulated Postscript Format (EPS), and bitmap files (e.g. photographs) in Tagged Image File Format (TIFF). Do not use any pixel-oriented programmes. Scanned figures (only in TIFF format) should have a resolution of 300 dpi (halftone) or 600 to 1200 dpi (line drawings) in relation to the reproduction size. Colour graphics should be created using the CMYK colour palette (print colours), not RGB (monitor colours). There is a charge for alterations to figures when carried out by the publisher. If submitted as hardcopy, figures should be submitted as glossy prints in duplicate and preferably with a transparent overlay for protection. The overlay should be used to indicate masking instructions, lettering or arrows. Each figure should bear the number, author's name and an arrow to indicate the top in soft pencil on the reverse. If figures have more than one part, each part should be labelled (preferably) in the top left-hand corner with lower-case letters in parentheses e.g. a figure with two parts would be labelled (a) and (b). In the text this should be referred to as Fig. 1a or Figs 2a, b. Figures should be planned to fit the printed column, i.e. 7.9 cm wide for single column and 16.5 cm wide for double column. Photographs can be up to twice the reproduction size and must be unmounted glossy prints showing good detail and moderate contrast. UNITS, SYMBOLS and ABBREVIATIONS SI (Système International) units should be used and should conform with the lists printed Units, Symbols and Abbreviations - A Guide for Biological and Medical Editors and Authors 4th edn as published by the Royal Society of Medicine. Nomenclature of disease should follow theInternational Classification of Disease, published by the World Health Organization, as far as possible. When first mentioned, cumbersome medical names should be abbreviated for later reference in the text. Latin bi-nominals should abbreviate the genera to the initial letter after the first mention unless it begins a sentence. 59 Doses of drugs should be given as unit weight per body weight, e.g. mmol kg1. Rates should be expressed with negative indices. Concentrations should be given in terms of molarity, e.g. mmol l-1, not mM. Numerals are to be used from 10 upwards; and the 24-hour clock, e.g. 21.00 hours, should be used. MATERIALS The source of all materials used should be given stating company, city of location and country. Verification of the identity of living specimens used must take place through sequencing, or by consultation of taxonomists working at a reference centre. Specimens analyzed must remain accessible for later reference. Strains should be deposited in one of the major culture collections, and sequences in a public data bank. Collection and sequence numbers must be cited in the text. It is recommended that new taxa are deposited in MycoBank. Descriptions of new taxa must comply with the rules of the International Code of Botanical Nomenclature. PROOFS The corresponding author will receive an email alert containing a link to a web site. A working e-mail address must therefore be provided for the corresponding author. The proof can be downloaded as a PDF (portable document format) file from this site. 60 7.3 Trabalhos Enviados aos Eventos Científicos Relacionados à Dissertação 2009- 25º. Congresso Brasileiro de Microbiologia – Porto de Galinhas (PE) AVALIAÇÃO DO LIMITE DE DETECÇÃO DA PCR E ANÁLISE DE POLIMORFISMO DE FRAGMENTO DE RESTRIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DE AGENTES CAUSADORES DE FUNGEMIA EM AMOSTRA BIOLÓGICA. 1 1 2 FREIRE, Ana Karla Lima Freire ; SAMPAIO, Ivanete de Lima ; SANTOS, Mirlane Silva ; SILVA, Erica 3 1,4 Simplício ; SOUZA, João Vicente Braga 1. PPGMT/UEA-FMTAM; Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical; Av. Pedro Teixeira, 25 Dom Pedro. Manaus-AM. 2. UNINORTE; Centro Universitário do Norte; Av. Joaquim Nabuco, 1232 Centro. Manaus-AM. 3. ULBRA; Centro Universitário Luterano de Manaus; Av. Solimões, 02- Cj. Atílio Andreazza. Manaus-AM. 4. INPA; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; Av. André Araújo, 2936, Aleixo. Manaus-AM. Resumo: Introdução: As fungemias representam importante causa de morbimortalidade em pacientes imunocomprometidos. A identificação molecular tem se mostrado de grande utilidade na prática laboratorial. É uma ferramenta sensível e específica para o diagnóstico precoce das micoses oportunistas e auxilia na escolha de terapêutica eficaz. Objetivos: Avaliar o limite de detecção da reação de cadeia de polimerase e análise de polimorfismo de fragmento de restrição para identificação de agentes causadores de fungemia em amostra de sangue. Especificamente pretendeu-se: a) determinar a concentração necessária de células/mL para a PCR e b) avaliar os perfis de RFLP gerados pelos microrganismos. Metodologia: Os agentes patogênicos (Cryptoccocus neoformans FMT125, Candida albicans FMT457 e Histoplasma capsulatum FMT046) foram selecionados da coleção de fungos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Amostras de sangue foram contaminadas com diferentes concentrações de células dos microrganismos estudados 6 5 4 3 2 (10 , 10 , 10 , 10 e 10 /mL). A extração do DNA (200 µL de sangue) foi realizada utilizando-se o sistema comercial de extração DNeasy® Blood & Tissue Kit (QIAGEN Group- DU® - Beckman Instruments, Inc.). A reação de cadeia de polimerase foi feita utilizando-se o par de primers ITS5 e NL4, que foram desenhados para amplificar as regiões do espaçamento interno do rDNA, sendo esta uma região semi-conservada destes agentes etiológicos. A digestão dos produtos de PCR foi o realizada com 10U da enzima de restrição Ddel por 12 horas a 37 C. Resultados: A concentração 4 mínima para a amplificação de C. neoformans e H. capsulatum foi de 10 /mL células enquanto para 5 C. albicans foram necessárias 10 células/mL. A enzima Ddel que gerou os seguintes perfis de RFLP: 450, 400, 225 e 200 pb (C. albicans); 550, 425, 100 pb (C. neoformans) e 475, 425, 300, 100 e 50 pb (H. capsulatum). Conclusão: Estes protocolos conseguiram diferenciar as espécies patogênicas de fungos. Palavras-chaves: Fungemia, Limite de Detecção, PCR, RFLP 61 2010 - II Simpósio Internacional de Microbiologia – Costão do Santinho (SC) AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO E RAZÃO DE PUREZA DO DNA DE Cryptococcus spp. OBTIDOS POR DIFERENTES MÉTODOS DE LISE DA CÁPSULA FÚNGICA. 1 3 3 FREIRE, Ana Karla Lima ; BENTES, Amaury Santos ; SILVA, Erica Simplício ; SOUZA, João Vicente 1,3 Braga 1. PPGMT/UEA-FMTAM; Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical; Av. Pedro Teixeira, 25 Dom Pedro. Manaus-AM. 2. ULBRA; Centro Universitário Luterano de Manaus; Av. Solimões, 02- Cj. Atílio Andreazza. ManausAM. 3. INPA; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; Av. André Araújo, 2936, Aleixo. Manaus-AM Resumo: Introdução: A criptococose é uma micose de natureza sistêmica de porta de entrada inalatória causada pelos fungos Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gattii. O crescente interesse em epidemiologia molecular e biologia molecular de Cryptococcus neoformans chama para novos procedimentos capazes de extrair DNA e RNA de boa qualidade a partir de isolados clínicos e ambientais. A extração de ácidos nucléicos dessas leveduras patogênicas é normalmente dificultada por uma cápsula espessa e resistente que representa, pelo menos, 70% do volume celular total. Objetivos: Avaliar a concentração e razão de pureza do DNA de Cryptococcus spp. obtidos por diferentes métodos de lise da cápsula fúngica. Especificamente pretendeu-se: a) determinar qual o procedimento mais adequado para ruptura da cápsula do fungo e b) avaliar a metodologia que fornecia melhor capacidade de extração de DNA de boa qualidade. Metodologia: O agente patogênico (Cryptococcus neoformans FMT949) foi selecionado da coleção de fungos da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e foi cultivado em meio líquido Saboraud por 18 horas. Dois tipos de combinações para lise da levedura foram empregadas. São elas: a) Células Jovens de Meio Líquido/Lyticase/Ruptura com Sílica e b) Células Jovens de Meio Líquido/Tampão Uréia (8 M)/Ruptura com Sílica; após o rompimento celular, cada um dos experimentos passou por dois tipos distintos de extração do DNA: o sistema comercial de extração DNeasy® Blood & Tissue Kit (QIAGEN Group- DU® - Beckman Instruments, Inc.) e extração por Fenol-Clorofórmio, em seguida foi quantificado. Os experimentos foram feitos em duplicata. Resultados: A combinação que obteve resultado satisfatório quanto à qualidade do DNA extraído foi: Leveduras jovens do meio líquido/Lyticase/Ruptura com Sílica e extração com o Kit Comercial da Qiagen, sendo 1.80 a razão de pureza (Abs 260 /Abs 280 ). Porém, experimentando-se leveduras jovens do meio líquido/Tampão de Uréia/Ruptura com Sílica e extração pelo Fenol-Clorofórmio obteve-se melhores resultados quanto à concentração de DNA (33.75 ng/μL), todavia sua razão de pureza (Abs 260 /Abs 280 ) foi menor quando comparada aos outros testes (1.37). Conclusão: Estes protocolos podem ser estendidos para todas as espécies de leveduras, em especial para aquelas difíceis de lidar pela presença de cápsula. Palavras-chaves: Cryptococcus neoformans, Cápsula, Extração de DNA, Concentração de DNA, Razão de Pureza. 62 2010- II Congresso de Diversidade Microbiana da Amazônia AVALIAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE ESPÉCIES DE Cryptococcus EM ÁRVORES PRESENTES NO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA. 1 2 1 SOUZA, Isabela Ponciano ; FREIRE, Ana Karla Lima ; BENTES, Amaury Santos ; SOUZA, João 1,2 1 Vicente Braga ; SALEM, Júlia Ignez. 1. INPA; Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia; Av. André Araújo, 2936, Aleixo. Manaus-AM 2. PPGMT/UEA-FMTAM; Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical; Av. Pedro Teixeira, 25 Dom Pedro. Manaus-AM. Resumo: Introdução: A criptococose é uma micose sistêmica causada por uma levedura capsulada, do gênero Cryptococcus, que apresenta distribuição cosmopolita, sendo o mesmo encontrado em ocos de árvores ou em fezes de aves. O isolamento do agente etiológico é importante para a sua identificação, uma vez que a infecção é adquirida através da inalação de esporos ressecados da levedura, presentes no meio ambiente. Embora a porta de entrada no hospedeiro humano seja o pulmão, o fungo apresenta tropismo pelo Sistema Nervoso Central (SNC), onde causa quadro grave de meningoencefalite, após disseminação hematogênica. Objetivos: Foi realizado um estudo transversal com o objetivo de avaliar a existência de espécies de Cryptococcus em árvores presentes no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Metodologia: Foram selecionados seis ocos de espécies de grande porte, com abundante material vegetal em decomposição. As amostras foram coletadas utilizando swab, com posterior armazenamento em tubo de ensaio estéril. Inicialmente, pesou-se 1 g de cada material coletado e adicionou-se 9 mL de água destilada a cada um, realizando diluições a partir de 1:10. Em seguida, as amostras foram homogeneizadas por agitação, durante 5 minutos. Após sedimentação, foram efetuadas diluições decimais em água destilada, as quais foram plaqueadas em meio de cultura Ágar Níger, suplementado com cloranfenicol e amicacina. Ao longo de 30 dias, a observação das colônias foi realizada, a fim de verificar o isolamento de leveduras do gênero Cryptococcus, que no meio níger oxida os substratos fenólicos e produz melanina, escurecendo as colônias. Resultados: Nas amostras estudadas, foi evidenciada a ausência de isolados compatíveis com o fungo Cryptococcus spp. Deve-se ressaltar, entretanto, o desenvolvimento de um grande número de colônias de Deuteromicetos, especificamente os Gêneros: Penicillium, Aspergillus, Fusarium, Gliocladium e Paucilomyces. Conclusão: Apesar disso, deve-se continuar a busca de isolados ambientais, uma vez que são as fontes primárias de infecção para o indivíduo. Palavras-Chave: Cryptococcus; isolamento; árvores.